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Instrumentalidade e Serviço social: a dimensão técnico-operativa como práxis inerente ao reconhecimento profissional

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

JULIANA COSTA JEREMIAS

INSTRUMENTALIDADE E SERVIÇO SOCIAL: A DIMENSÃO

TÉCNICO-OPERATIVA COMO PRÁXIS INERENTE AO RECONHECIMENTO PROFISSIONAL

NATAL/RN 2019

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JULIANA COSTA JEREMIAS

INSTRUMENTALIDADE E SERVIÇO SOCIAL: A DIMENSÃO

TÉCNICO-OPERATIVA COMO PRÁXIS INERENTE AO RECONHECIMENTO PROFISSIONAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de bacharel em Serviço Social sob orientação da professora Ma. Mônica Maria Calixto

NATAL/RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Jeremias, Juliana Costa.

Instrumentalidade e Serviço Social:a dimensão

técnico-operativa como práxis inerente ao reconhecimento profissional / Juliana Costa Jeremias. - 2019.

71f.: il.

Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Serviço Social. Natal, RN, 2019. Orientadora: Profa.Me. Mônica Maria Calixto.

1. Exercício profissional - Serviço Social - Monografia. 2. Instrumentalidade - Monografia. 3. Dimensão Técnico-operativa - Monografia. I. Calixto, Mônica Maria. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/Biblioteca do CCSA CDU 364-45

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 12 2. A GÊNESE DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL E A RESSIGNIFICAÇÃO

SOCIO HISTÓRICA DA PROFISSÃO... 16 2.1 Resgate histórico da trajetória do Serviço Social: fundamentos

teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos... 16 2.2 Espaços socio ocupacionais do/a assistente social: a totalidade no cotidiano do

exercício profissional... 33 2.3 Reestruturação profissional: teoria e prática como unidade constitutiva da

práxis... 41 3. REFLEXÕES SOBRE A INSTRUMENTALIDADE NO EXERCÍCIO

PROFISSIONAL DOS (AS) ASSISTENTES SOCIAIS... 47 3.1 O Serviço social na cena contemporânea: as determinações do cotidiano para a

concretização do Projeto ético-político... 47 3.2 A categoria instrumentalidade e a caracterização da dimensão técnico-operativa:

seu significado para o campo profissional... 53 3.3 Entrevistas sociais, Estudos sociais e visitas: a operacionalização da prática crítica

para o reconhecimento do/a assistente social na sociedade... 56 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 65 5. REFERÊNCIAS... 67

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JULIANA COSTA JEREMIAS

INSTRUMENTALIDADE E SERVIÇO SOCIAL: A DIMENSÃO

TÉCNICO-OPERATIVA COMO PRÁXIS INERENTE AO RECONHECIMENTO PROFISSIONAL

Monografia apresentada ao curso de Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de bacharel em Serviço Social.

Aprovada em: ______/______/2019

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Profa.M.ª. Mônica Maria Calixto

Orientador(a)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN

______________________________________ Profa.Drª. Ilka de Lima Souza

Examinador interno

Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN

______________________________________ Prof.Esp. Fernando Gomes Teixeira

Examinador interno

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AGRADECIMENTOS

Todo final de ciclo requer o ato nobre de agradecer a todos que contribuíram e estiveram presentes no processo. Sendo assim, este momento é muito significativo e emocionante para mim, pois me faz relembrar como foi a jornada até aqui.

Aos 17 anos eu estava completamente assustada com o que estava me esperando ao entrar na graduação, mas imensamente feliz pelo degrau que estava subindo em minha vida. Segui rumos diferentes do que antes imaginava, e nesse novo caminho o curso de Serviço Social veio até mim como um presente. Inicialmente não compreendia o propósito, mas ao longo dos anos entendi a necessidade de tudo o que estava acontecendo. Mudou a minha mente, mudou a minha vida, fez-me enxergar a sociedade de uma forma nunca vista antes, com criticidade e inerente a todas as contradições do sistema massivo do capitalismo que nos atinge todos os dias.

Vivenciei uma experiência única no estágio obrigatório na unidade de Hematologia e Oncologia do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), é possível dizer que alguém se torna mais humano do que é? Sim, pois foi isso que me tornei. Venho aprendendo a agradecer pela vida depois de passar por lá, olhar para as pessoas compreendendo que todas carregam histórias e isso é incrível.

Meu muito obrigada ao curso de Serviço Social, ao HUOL e a minha turma, foram 4 anos de manhãs desafiadoras e ricas em aprendizado.

À minha mãe (Nilma Costa) e irmã (Maryana Costa). Mãe, és a grande razão da minha vida; me sustenta nos momentos difíceis e apoia os meus sonhos. Maryana, és uma inspiração para os meus estudos, sem dúvida você terá a honra de estudar em uma Universidade Pública, Federal e de qualidade; assim como eu tive a oportunidade de realizar esse sonho.

Também gostaria de agradecer ao meu companheiro de vida, melhor amigo e namorado Jhonatas. Você sempre segurou a minha mão e sei que estará comigo quando as novas primaveras se iniciarem.

Aos meus amigos/as que compreenderam as minhas ausências e me aconselharam nos dias conturbados, assim como foram sol quando precisei espairecer, meu muito obrigada.

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diariamente a nos passar a grande riqueza que é o conhecimento. Esse agradecimento é em especial a duas mulheres incríveis que se tornaram uma inspiração para mim; Profª Mônica Calixto, orientadora dessa monografia, tu és luz, me ouviu e me acolheu como uma mãe; sem toda a sua leveza e amor comigo, nada disso seria feito com tanta paz e harmonia, nunca te esquecerei. Profª Rosângela Oliveira, minha coordenadora da bolsa de iniciação científica na Incubadora de Iniciativas e empreendimentos econômicos solidários (INICIES), és um exemplo de força e sabedoria, obrigada por tanto amor, nossos caminhos não se cruzaram em vão.

Por fim, gostaria de agradecer ao dono da minha vida, da minha essência e do meu respirar: Deus. Tu foi a minha rocha e estou firmada em ti, mantenho-me à espera do que tens de novo para o meu caminho.

Seguirei novos rumos e deixo em tom de despedida, mas com gosto de saudade uma frase da canção do Cícero Rosa Lins, meu amado compositor na MPB “ O dia vai raiar pra gente se inventar de novo”.

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Produzir conhecimento, também é materializá-lo. Juliana Costa

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RESUMO

A presente monografia tem por objetivo geral analisar o Exercício Profissional do Serviço Social enfatizando a dimensão técnico-operativa dentro da categoria instrumentalidade. A pesquisa buscou compreender os aspectos históricos, sociais e políticos da práxis da profissão no Brasil em sua gênese, até a contemporaneidade. Abordando os principais aspectos que evidenciam a reconfiguração dos espaços sócio ocupacionais dos/as Assistentes Sociais junto aos rebatimentos sofridos desde o seu bojo de atuação, até o cotidiano; formulando como se expressa a essência da dimensão técnico-operativa alinhada a composição teórico-metodológica e ético-política. Discute-se, ainda, como os instrumentais, em especial, a Entrevista social, o estudo social e as visitas sociais; apresentam-se enquanto meios que não se circunscrevem a si mesmos, sendo, portanto, revestidos de historicidade e luta política que sustentam o posicionamento em prol da classe trabalhadora. O objetivo central da pesquisa constitui em contribuir na reflexão crítica sobre a dimensão técnico-operativa alinhada essencialmente a composição teórico-metodológica e ético-política no que tange a materialização da práxis profissional. Enquanto objetivos específicos a pesquisa propõe ampliar a compreensão da dimensão técnico-operativa como a “forma de aparecer” da profissão dentro dos espaços socio ocupacionais; reforçar o entendimento sobre a importância dos instrumentais, afastando-se do senso comum “policialesco”, além de fomentar veementemente a relevância do projeto ético-político do direcionamento das intervenções profissionais. O percurso metodológico está baseado na pesquisa qualitativa, sendo realizada através da pesquisa bibliográfica e documental nas obras dos principais autores que discutem a temática, assim como artigos que evidenciam os pontos almejados. Desta maneira, pretende-se que a discussão em torno do fazer profissional, assim como a percepção que se deve possuir ao direcionar intencionalidade nas ações profissionais contribuam não somente para o acervo documental do curso, mas essencialmente ao fomento da relevância social da profissão na sociedade e qualidade no trabalho desempenhado para com os/as usuários.

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ABSTRACT

This monograph aims to analyze the Professional Exercise of Social Work emphasizing the technical-operative dimension within the instrumentality category. The research sought to understand the historical, social and political aspects of the praxis of the profession in Brazil in its genesis, until contemporary times. Addressing the main aspects that show the reconfiguration of the social occupational spaces of the Social Assistants along with the rebounds suffered from their scope of action, to their daily lives; formulating how to express the essence of the technical-operative dimension aligned with the theoretical-methodological and ethical-political composition. It also discusses how the instrumentals, in particular, the social interview, the social study and the social visits; they are presented as means that do not limit themselves, and are therefore clothed with historicity and political struggle that support the position in favor of the working class. The main objective of the research is to contribute to the critical reflection on the technical-operative dimension aligned essentially with the theoretical-methodological and ethical-political composition regarding the materialization of professional praxis. As specific objectives the research proposes to broaden the understanding of the technical-operative dimension as the “way of appearing” of the profession within the occupational social spaces; to reinforce the understanding of the importance of the instrumentals, moving away from the “policescoesco” common sense, besides strongly promoting the relevance of the ethical-political project of the direction of the professional interventions. The methodological course is based on qualitative research, being carried out through bibliographic and documentary research in the works of the main authors who discuss the theme, as well as articles that highlight the desired points. Thus, it is intended that the discussion about professional doing, as well as the perception that should be had when directing intentionality in professional actions contribute not only to the course's documentary collection, but essentially to the promotion of the social relevance of the profession in society. and quality of work performed with users.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Os currículos da Escola de Serviço Social entre os anos de 1936 1944...21

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1. INTRODUÇÃO

A temática da instrumentalidade no Serviço Social é caracterizada pela objetivação das intencionalidades profissionais, articulada essencialmente as dimensões: técnico-operativa, ético-política e teórico-metodológica.

Nesse contexto, segundo Guerra (2000), a instrumentalidade não se refere simplesmente ao conjunto de instrumentos e técnicas, mas sim com uma propriedade da profissão visualizada no processo histórico. Desta forma, entende-se que materializar a proposta de ensino teórico-prático expressa nas Diretrizes profissionais necessita envolver um ampla articulação para que seja assegurado espaços para a discussão dos conhecimentos técnico-operativos.

Compreendendo tais características, este trabalho preconiza abarcar a temática da instrumentalidade no processo de trabalho do Serviço Social, tendo por objeto de análise a dimensão técnico-operativa como práxis inerente a caracterização profissional, possuindo como objetivo central contribuir na reflexão crítica acerca da dimensão técnico-operativa articulada a construção teórico-metodológico e Ético-política profissional no processo de materialização do conhecimento e da práxis do(a) assistente social

No que se refere aos objetivos específicos, pretende-se ressignificar a execução do uso dos aparatos instrumentais; abranger a compreensão da dimensão-técnico operativa como a “forma de aparecer” da profissão dentro dos espaços socio ocupacionais; reforçar o entendimento sobre a importância dos instrumentais, afastando-se do senso comum “policialesco” e meramente institucionalizado e por fim fomentar a relevância do projeto ético político no direcionamento das intervenções profissionais. Essa “forma de aparecer da profissão” se constitui

[...] no modo pelo qual a profissão é conhecida e reconhecida. Ela é o modo de ser da profissão, o modo como aparece no movimento das três dimensões. Tal característica permitiria reconhecê-la até mesmo como uma ‘síntese’ do exercício profissional, pois é composta também pelo conhecimento da categoria, pelas qualidades subjetivas dos agentes, pelas condições objetivas do trabalho, pelo projeto profissional, pela ética, pelos valores. Portanto, discuti-la significa discutir o trabalho profissional como um todo, implica discutir o trabalho profissional como resultado de tal trabalho (SANTOS; SOUZA FILHO; BACKX, 2012, p. 17).

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A premissa para idealização da pesquisa advém da experiência no nível I e II do estágio curricular obrigatório no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) na unidade de Hematologia de Oncologia, onde foi possível ter contato com os diferentes instrumentais utilizados no cotidiano profissional e identificar quais dificuldades poderiam ser revistas para abranger a qualidade do atendimento aos/as usuários/as, sendo então realizado um projeto de intervenção que consistia na revisão da Entrevista social da unidade.

Essa experiência contribuiu essencialmente no interesse pela temática da instrumentalidade, partindo da falácia que a “teoria é diferente da prática” para fomentar que a articulação das dimensões profissionais são de suma importância para materializar e direcionar a intencionalidade nas ações profissionais, estando sempre intimamente articuladas.

A linha metodológica constituiu-se pesquisa-qualitativa baseando-se em livros, artigos e demais materiais que abordam a temática da instrumentalidade observando o recorte a dimensão técnico-operativa. Dentre os/as principais autores/as utilizados estão: Yolanda Guerra(2014), José Paulo Netto(2011) e Marilda Iamamoto(2011), que contemplam a interlocução da categoria instrumentalidade inerente a configuração da problemática da questão social, apreendida como objeto sobre o qual atua o/a assistente social.

Para fins de composição do segundo capítulo da presente monografia intitulada “instrumentalidade e Serviço Social: a dimensão técnico-operativa como práxis inerente ao reconhecimento profissional” , será conceituado inicialmente um resgate da historicidade da categoria, apresentando os seus fundamentos iniciais de constituição, assim como os preceitos ético-políticos e a interlocução com os elementos técnicos-operativos utilizados na gênese da atuação profissional dada a forma de visibilidade que o Serviço Social obtinha na sociedade.

Faz-se necessário compreender a prática profissional dentro de um contexto dotado de intencionalidade nos mais diferentes espaços de atuação do/a assistente social, pois o Serviço Social apresenta uma formação veementemente articulada a um eixo político, econômico social e cultural, que corrobora o movimento real da sociedade em sua totalidade. Para isso a discussão estará intimamente articulada as proposições de atuações nos mais diversos espaços socio ocupacionais.

Pretende-se refletir e dialogar acerca da reestruturação profissional referente a intenção de ruptura com o conservadorismo, amadurecendo a articulação continua

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da teoria e prática como uma unidade constitutiva da práxis. Direcionando a constituição das três(3) dimensões da atuação profissional na integralidade das ações no cotidiano, partindo do pressuposto que toda práxis é dotada de instrumentalidade. Para isso, a dimensão técnico-operativa será apresentada como eixo central para compreender a configuração da ação profissional.

É proposto, então, que seja realizada uma explanação sobre como vem se encontrando a cena do Serviço Social na contemporaneidade, além das implicações que permeiam o fazer profissional no cotidiano, tais como: a postura fatalista, messiânica e a institucionalização.

Referente a instrumentalidade e dado o recorte central a dimensão técnico-operativa, será efetuada uma reflexão acerca da instrumentalidade compreendendo como a dimensão técnico-operativa era nos primórdios da atuação da profissão e como vem se desdobrando na contemporaneidade. Partindo do pressuposto que a forma de “aparecer” do/a assistente social na sociedade, isto é o seu reconhecimento na sociabilidade capitalista, advém das respostas as demandas que são apresentadas aos/as profissionais. Sendo estas mediações dotadas continuadamente da articulação teórica e ética do Serviço Social, a fim de contribuir na efetivação dos direitos sociais e na materialização do projeto ético-político.

Na última seção, no que tange a caracterização dos três instrumentais escolhidos: a Entrevista social, estudos sociais e visitas, pretende-se delinear de forma mais abrangente esses instrumentais na medida em que compreende-se que todos são dotados de intencionalidades, fomentando a necessidade de manter viva a discussão da dimensão técnico-operativa sob uma perspectiva emancipatória e de ação concreta que possibilita a intervenção direta na problemática da questão social e em suas expressões,considerando o risco da utilização dos instrumentais de forma pragmática. Suscitando-os como meios que intercruzam princípios, valores e uma direção social, ou seja, não se circunscrevem a si mesmos.

A escolha por esses instrumentais deu-se mediante a vivência no âmbito no estágio, em que foi possível ter um contato mais aprofundado com essas ferramentas elencadas. Isso não significa que os demais instrumentais também não sejam dotados de instrumentalidade, apenas foram captados alguns deles para servir como embasamento para viabilizar a discussão em torno da relevância de todos.

No que versa as considerações finais, pretende-se concretizar esta reflexão da análise crítica acerca da dimensão técnico-operativa articulada a construção

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teórico-metodológico e Ético-política profissional no processo de materialização da práxis do(a) assistente social. Realça-se a necessidade desta análise na complexidade oriunda do avanço da sociabilidade capitalista, a qual implica que a categoria esteja em constante retomada da consciência crítica profissional sob o “solo” da superação da imediaticidade do trabalho. Assim como, fomentar novos desdobramentos acerca da relevância profissional do/a assistente social na sociedade por uma perspectiva propositiva, ressignificando a instrumentalidade na profissão.

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2. A GÊNESE DA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL E A RESSIGNIFICAÇÃO SÓCIO HISTÓRICA DA PROFISSÃO

Pretende-se delinear a construção dos elementos essenciais para a compreensão das particularidades históricas do processo de inserção e legitimação do Serviço Social na sociedade brasileira. Sendo necessário, portanto, abarcar as especificidades da sua gênese em um contexto enraizado na matriz da igreja católica e configurando, também, os fundamentos pertinentes a ação prática do Serviço Social no decorrer dos anos.

Na própria historicidade da profissão no Brasil é visualizado o quanto a utilização de instrumentais técnicos operativos (enquanto uma dimensão da instrumentalidade), nos mais variados contextos histórico-sociais, abarca elementos que direcionam a práxis e diferentes intencionalidade nas ações. A proposta de perpassar a discussão da gênese profissional está intimamente atribuída ao fato da categoria instrumentalidade não ser algo atual, mas sim parte da constituição profissional.

No âmbito da discussão faz-se necessário adentrar a configuração dos espaços sócio ocupacionais para fins de compreender que a apropriação do materialismo histórico dialético crítico, enquanto método substancial de apreensão e análise realidade, no cotidiano profissional é de suma importância para transpor os obstáculos da razão instrumental que acaba, em muitos espaços ocupacionais, sendo direcionada pelo imediatismo do cotidiano e por práticas conservadoras institucionais, inseridas na totalidade estabelecida pela estrutura e superestrutura do modo de produção na sociabilidade capitalista.

Tais condutas podem vir a ocasionar graves impasses a qualidade do serviço ofertado a população usuária, indo na contramão ao próprio projeto ético-político profissional que apresenta uma direção social nítida: a classe trabalhadora; para assim ser compreendido a reconstrução teórica do significado social da profissão na sociedade capitalista.

2.1 Resgate histórico da trajetória do Serviço Social: Fundamentos teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos

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percorrer a gênese da atuação profissional e as suas especificidades dentro de um contexto capitalista ao longo dos séculos. Desta forma, ao analisar historicamente a profissão inserida nas relações sociais capitalistas, buscam-se elementos que subsidiam a prática profissional do/a assistente social na sua inserção na divisão sócio técnica do trabalho. O capitalismo nesse processo de caracterização sócio histórica apresenta-se como marco essencial das contradições inerentes a prática profissional do/a assistente social, já que no processo de transição do capitalismo concorrencial para o monopolista o Serviço Social surge no cenário mundial.

Sabe-se que o surgimento do Serviço Social como profissão na sociedade capitalista apresenta-se dentro de um contexto contraditório em um conjunto de processos sócio econômicos e políticos, que definem as relações entre as classes sociais na consolidação do capitalismo em sua forma monopolista de existência. Assim, a institucionalização da profissão de uma forma geral, nos países industrializados, está associada à progressiva intervenção do Estado nos processos de regulação social (YAZBECK,2009).

As particularidades desse processo no Brasil evidenciam que o Serviço Social adquire a sua forma institucionalizada e o seu caráter profissional através da reivindicação estatal e do empresariado, amparado ao suporte ideológico da Igreja Católica, em uma lógica de enfrentamento e controle da regulação da Questão Social¹1em meados dos anos 1930, com a ascensão do caráter político no campo da vida social.

A Questão Social, principalmente quando está expressa nas condições de vulnerabilidade socioeconômica2 dos indivíduos, configura-se enquanto "matéria-prima" para a viabilização do espaço do Serviço Social na divisão sócio técnica do trabalho e na construção da identidade profissional (YAZBECK,2009).

O movimento político ocorrido no Brasil em 1930 – nomeado como Revolução de 1930 – configura-se como um período de intervenção social da Igreja assíduo e significativo, pois a partir da decadência da República Velha, a Igreja busca um novo pacto com o Estado, reaproximando-se ideologicamente. No ano de 1931, a igreja católica em sua plena hierarquia na cidade do Rio de Janeiro – Capital da República

1 Pode ser compreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista,

caracterizando-se como matéria prima do trabalho do Serviço Social.

2 Vulnerabilidade social caracteriza-se como a condição dos grupos de indivíduos que estão a margem

da sociedade, tais como, indivíduos ou famílias que vivenciam o processo de exclusão social, principalmente por fatores socioeconômicos (MONTEIRO,2011,p.31)

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neste período – , realiza duas grandes demonstrações para fortalecer o seu caráter de permanência dentro das discussões políticas do Estado.

A primeira se dará em maio, a pretexto da entronização de N. S. Aparecida – proclamada pelo papa como padroeira do Brasil. Diante de uma imensa multidão, a hierarquia, na pessoa de Dom Leme, reafirmará a noção de Nação Católica e o seu direito ao exercício da influência como intérprete e guia da imensa maioria católica da população brasileira. Em outubro, na inauguração do Cristo Redentor, com a presença de quase toda a hierarquia e dos principais representantes do Estado [...] O governo multiplicará suas demonstrações de receptividade e boas intenções para com a Igreja, acenando-lhe com a volta dos antigos privilégios e o acréscimo de outros tantos (IAMAMOTO e CARVALHO, 2008, p. 156).

Neste período, o Estado assume a regulação das tensões entre os antagonismos das classes sociais mediante a ação de consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o estabelecimento do salário Mínimo e outras especificidades do campo trabalhista. Como ressalta Ianni (1990), o Estado brasileiro reformulou a questão social a uma problemática de cunho administrativo, na medida em que desenvolve políticas e agências de poder estatal nos mais diversos setores de vivência da população brasileira.

Nesta perspectiva, o perfil profissional é evidenciado na formação na Escola de Serviço Social de São Paulo que define como critério de matrículas:

-Ter 18 anos completos e menos de 40; -Comprovação de conclusão de curso secundário; -Apresentação de referências de 3 pessoas idôneas; -Submeter-se a exame médico (IAMAMOTO, 2011, p. 228).

Em 1932, é criado o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), entidade que seria fundadora da primeira Escola de Serviço Social do país. O centro origina-se após um curso intensivo de “formação social para moças”3, pelas Cônegas de Santo Agostinho de 1º de abril a 15 de maio de 1932 (YAZBECK,2009).

Simultaneamente, o CEAS criou também quatro Centros Operários ainda no ano de 1932. Com o tempo, esses Centros se constituiriam como sedes da Juventude Operária Católica e tornaram-se campos de estágio para as alunas do curso de Serviço Social.

3 O CEAS tinha por objetivo promover a formação de seus membros através do estudo da doutrina

social e ideológica da igreja, fundamentando a sua ação por uma perspectiva doutrinária e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais propondo um direcionamento a sua resolutividade. A sua abertura oficial aconteceu mediante a implantação desse curso de formação direcionado a mulheres jovens, sendo estas formadas em escolas religiosas, advindas das classes dominantes e setores com poder aquisitivo que eram aliados (IAMAMOTO E CARVALHO, 2011, p.179).

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A direção desse curso coube à Melle Adèle de Loneux, mentora da Escola Católica de Serviço Social da Bélgica, que contribuiu na programação das atividades e na construção teórica do curso. Dentre essas atividades, por exemplo, englobava-se visitas a instituições beneficentes e a sua grade de ações causou grande aceitação entre jovens católicas, que buscavam o desenvolvimento das suas potencialidades em ações de cunho social. As reuniões iniciais do grupo foram acompanhadas pela Arquidiocese de São Paulo, mediado pelo Monsenhor Gastão Liberal Pinto em 16 de setembro.

A constituição técnico-operativa neste período ( 1930-1940) incorporava ações de cunho assistencial e próprios da ação social, sendo elas: Estudo das necessidades individuais, triagem dos problemas dos clientes4, concessão de contribuição/ajuda material, inserção no campo de trabalho, triagem, visitas domiciliares, encaminhamentos, aulas de tricô e demais atividades/trabalhos manuais, além de orientações sobre preceitos morais, higienistas, dentre outros.

O desenvolvimento dessas atividades estava articulada à necessidade da formação doutrinária e social proveniente da perspectiva da igreja católica. As ações do centro eram direcionadas para uma formação técnica especializada, objetivando difundir a doutrina social da Igreja, por isso, atuava diretamente ao lado do proletariado. A intencionalidade dessas ações neste período, “configurou-se como uma das estratégias concretas de disciplinamento e controle da força de trabalho, no processo de expansão do capitalismo monopolista (FORTI, 2013, p. 99)”.

Era proposto, então, um reajustamento na formação social, moral e intelectual das famílias, em uma concepção de adequação ao comportamento moral esperado socialmente, onde culpabilizava os indivíduos pela sua realidade e propunha esses métodos para as mudanças visando uma sociedade harmoniosa.

A proposta do curso continha a influência europeia, por meio do modelo franco-belga enraizado do messianismo, e no propósito de “servir”. Como afirma Silva (1995, p.40):

O modelo franco-belga, limitou-se, portanto, a uma formação essencialmente pessoal e moral sendo, nesse período, o Serviço Social assumido como uma vocação, e a formação moral e doutrinária,

4 O termo ‘clientes’ é utilizado para referir aos indivíduos, famílias, grupos, organizações e

comunidades. Esse linguajar é característico desde período, pois compreendia o trabalho enquanto prestação de serviços a sociedade. Portanto, com a intenção de manter coerência com a ideia dos autores elencados e compreendendo o tempo histórico, optou-se por não alterar a formulação original neste momento.

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enquanto cerne da formação profissional, visou, sobretudo, formar o assistente social para enfrentar, com subjetividade, a realidade social.

O Centro de Estudos e ação social foi considerado como a ação embrionária da profissionalização do Serviço Social no Brasil. O trabalho realizado na organização se apoia em uma base social feminina de origem intimamente burguesa, havendo o respaldo de assistentes sociais belgas que ofereceram a sua carga de experiências na área para possibilitar a fundação da primeira escola católica de Serviço Social (CASTRO, 2011).

Torna-se possível visualizar, portanto, que o Serviço Social em sua fase inicial(1930-1940) apresenta como forte característica constitutiva um posicionamento moralizador.

Essa concepção conservadora ignora a estrutura societária, contribuindo para obscurecer para os Assistentes Sociais – durante um amplo lapso de tempo – os determinantes da “questão social” o que caracterizou uma cultura profissional acrítica, sem um horizonte utópico que os impulsionasse para o questionamento e às ações consequentes em prol da construção de novos e diferentes rumos em face das diretrizes sociais postas e assumidas pela profissão (FORTI, 2013, p. 99).

É necessário salientar que tratando do contexto histórico nesse período, a necessidade atribuída a profissão consistia na perspectiva mencionada acima para fins de atender essencialmente aos interesses estatais. Consequentemente, o arcabouço teórico-metodológico e ético-político da profissão ainda estava sendo construído.

No rastro de São Paulo, por iniciativa do Grupo de Ação Social – e assim como a escola paulista, alinhada com a preocupação da Igreja em acentuar a sua efetividade na sociedade que – em 1937, no Rio de Janeiro, é fundado o Instituto de Educação Familiar e Social, composto pelas Escolas de Serviço Social. As experiências de São Paulo e do Rio de Janeiro foram cruciais para o desenvolvimento do Serviço Social brasileiro e se apresentaram como forte influência no surgimento das demais escolas por todo o país.

Para compreender de forma mais abrangente a concepção teórico-metodológica dos currículos da Escolas de Serviço Social de São Paulo nessa fase, vejamos, então, as grades curriculares com as disciplinas pertinentes nestes períodos, conforme quadro 1.

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QUADRO 1

Os currículos da Escola de Serviço Social entre os anos de 1936-1944

Fonte: Organizado por Cardoso (2016), a partir dos dados de Yazbeck (1980).

Esse quadro evidencia essencialmente como se constituía os currículos das escolas de Serviço Social nos relativos períodos salientados. A inserção de áreas que compreendiam o âmbito da medicina e da psicologia, por exemplo, mostram o quão a profissão era visualizada de forma transversal e como a compreensão dos espaços de atuação da categoria ainda não perpassava por uma reflexão crítica que direciona-se o saber técnico do Serviço Social alinhado ao campo das políticas sociais compreendendo o lugar em que o/a profissional pudesse atuar.

Ao longo dos anos esses currículos foram sofrendo alterações na medida em que o período histórico incitava a necessidade da reflexão crítica sobre a perspectiva

1936 Sociologia Psicologia Higiene Anatomia Estatística Serviço Social Enfermagem Higiene Industrial 1937 Sociologia Higiene Psicologia Anatomia Direito Serviço Social Técnica Enfermagem Moral Estatística Direito do Trabalho Psicotécnica 1938 Economia Sociologia Higiene do Trabalho Psicologia Anatomia Direito Serviço Social Enfermagem Moral Estatística Direito do Trabalho Direito do Menor Higiene 1939 Economia Sociologia Higiene Psicologia Anatomia Direito Serviço Social Técnica Enfermagem Português Lógica Moral Estatística Psicologia dos Anormais Higiene do Trabalho Puericultura Direito do Menor Psicotécnica 1940 Economia Sociologia Higiene Psicologia Direito Serviço Social Moral Religião Estatística Higiene do Trabalho Puericultura Direito do Menor Psicotécnica Direito do Trabalho Psiquiatria Orientação Ética Profissional Pedagogia 1941 Economia Sociologia Higiene Psicologia Direito Serviço Social Moral Religião Estatística Puericultura Direito do Menor Psicotécnica Psiquiatria Ética Profissional Pedagogia Curso Familiar Anatomia Enfermagem Orientação Profissional 1942 Economia Sociologia Higiene Psicologia Direito Serviço Social Moral Estatística Higiene do Trabalho Puericultura Direito do Menor Psicotécnica Psiquiatria Orientação Profissional Ética Profissional Pedagogia História do Serviço Social Direito Administrativo Obstetrícia Anatomia 1943 Economia Sociologia Higiene Psicologia Direito Serviço Social Moral Estatística Puericultura Direito do Menor Psiquiatria Orientação Profissional Ética Profissional Pedagogia Psicologia do Adolescente Religião Higiene Pré-natal Serviço Social de Menores Correspondência Direito do Trabalho Contabilidade 1944 Sociologia Higiene Psicologia Direito Serviço Social Moral Estatística Puericultura Direito do Menor Psiquiatria Ética Profissional Pedagogia Religião Higiene Pré-natal Serviço Social de Menores Direito do Trabalho Economia Política Psicotécnica

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profissional, os campos de atuação e a própria postura ética. Visualizar, portanto, esses primeiros esboços da dimensão teórico-metodológica da categoria nos faz compreender melhor o por que que as intervenções profissionais nesses períodos se constituíam de maneira tão engendrada, pois os fundamentos utilizados para o desenvolvimento das ações perpassavam áreas que subsidiavam essa forma de atuação.

Em meados de 1930 e 1940, as ações voltadas a iniciativas filantrópicas se tornam insatisfatórias para responder à racionalidade exigida pelo Estado no país, pois neste período o desenvolvimento do capitalismo e a inserção da classe operária no cenário político da época cria o fundamento necessário à institucionalização da profissão, advindos dos desdobramentos do Estado-novo na era Vargas5.

A questão social era manifestada nas suas mais variadas formas de expressão nos problemas sociais da população, tais como: fome, desemprego, violência e outras, que acabavam exigindo do Estado uma ação mais efetiva. A demanda do trabalho profissional, portanto, vem no seio de uma demanda expressa pelo setor patronal e pelo Estado. As exigências provenientes da reprodução social da vida de crescentes parcelas de trabalhadores empobrecidos explicitam-se em demandas por bens e serviços, impondo o Estado a reorganizar-se para suprir os questionamentos com ações assistenciais.

Assim, o Serviço Social, começa a “estruturar (com mais consistência) os respaldos teórico-metodológicos e ético-políticos fundamentadores da profissão, bem como começa organizar um arsenal técnico que possibilita sua intervenção” (TRINDADE,2001 p.10). A organização desse rol de instrumentais técnicos alinhavam-se ao acervo técnico das práticas tradicionais da área da assistência social, havendo a necessidade de um aparato maior quanto a qualificação profissional.

Com isso, o surgimento de uma economia urbano-industrial traz à tona a necessidade de entidades assistenciais para atender às demandas postas e controlar as lutas sociais. Diante dessa necessidade, a profissão passou a incorporar a perspectiva profissional norte americana marcada pelos estímulos provenientes da sociologia conservadora norte-americana, havendo nesta linha uma perspectiva da

5 O Estado Novo foi o período em que Getúlio Vargas governou o Brasil de 1937 a 1945. Este momento

ficou marcado, no campo político, por um governo ditatorial e anticomunista, as ações tomadas interceptaram diretamente as instituições democráticas: o Congresso Nacional foi fechado, bem como as assembleias estaduais e câmaras municipais (MOLINA,1997,p.99).

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psicologia que superestimava a subjetividade e a relação interpessoal no trato das manifestações da questão social.

Essa influência norte-americana no ensino especializado do Serviço Social brasileiro teve como marco o Congresso Interamericano de Serviço Social realizado em 1941, em Atlantic City – nos Estados Unidos, Iamamoto (2011, p.234), ressalta que :

A partir desse evento se amarram os laços que irão relacionar estreitamente as principais escolas de Serviço Social brasileiras com as grandes instituições e escolas norte-americanas e os programas continentais de bem-estar social.

Inerente a esse contexto, apresenta-se o chamado Serviço Social de caso no trato com a questão social. O trabalho orientado por essa perspectiva almejava conseguir mudanças no indivíduo, por meio de novas atividades e comportamentos, tal como aconselhamentos , no sentido de ajustá-lo ao meio social. O Serviço Social de caso pode ser compreendido como “o processo que desenvolve a personalidade através de um ajustamento consciente, indivíduo por indivíduo, entre os homens e seu ambiente” (RICHMOND, 1915, apud BALBINA, 1978, p. 44).

Com relação as suas características, o Serviço Social de Caso objetiva:

fornecer serviços básicos práticos e de aconselhamento, de tal modo que seja desenvolvida a capacidade psicológica do cliente e seja levado a utilizar-se dos serviços existentes para atender a seus problemas. (HAMILTON, 1958, p.3)

A dimensão técnico-operativa nesta forma de atuação, como por exemplo nos estudos socioeconômicos ,de acordo com Nicholds (1969) apresentava como objetivo essencial realizar o ajustamento dos indivíduos a seu meio. Nesta forma de atendimento havia a prerrogativa de amenizar as demandas trazidas pelos, até então, denominados clientes. O relacionamento do/a profissional é apenas uma espécie de relacionamento interpessoal, uma tríade entre o assistente social, o cliente e o seu meio pelo qual usa-se o conhecimento da natureza humana e do sujeito enquanto indivíduo.

O cliente ao requerer uma forma de auxílio, era necessário que este passasse pela realização do estudo social de caso, esse instrumental consiste em coletar dados que delimita características do contexto em que o sujeito está inserido. Neste período o instrumental não era visualizado por uma perspectiva de totalidade social, mas sim de forma pragmática e superficial, observando basicamente os bens, as relações sociais e até mesmo a aparência física dos indivíduos como primeira etapa.

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A segunda etapa consiste no diagnóstico (compreendido pelo problema que o/a profissional conseguiu visualizar com as informações recolhidas) e por fim o tratamento (A intervenção profissional que seria utilizada para resolutividade desta demanda encontrada). No estudo social de caso, dois elementos informativos eram cruciais para consolidar o processo, sendo eles: Elementos próprios ao indivíduo (aparência física, capacidade mental, habilitações específicas) e as questões relativas ao ambiente, tais como: o tipo de casa, histórico de trabalho, companheiros/as próximos, dentre outros (HAMILTON, 1958)

Essa caracterização sobre o estudo social de caso no contexto do Serviço Social é um informativo revelador – como é apontado por inúmeros estudos entre os quais tem por destaque os de Yazbec (1993) e Iamamoto (1994) – pois apresentam a perspectiva paradigmática de orientação positivista/funcionalista partindo do pressuposto de naturalização da desigualdade social (MIOTO,2009).Portanto, a busca de solução dos problemas se concentravam essencialmente nas questões de personalidade e adaptação dos sujeitos.

Pode-se deduzir, também, que o acesso a determinados auxílios materiais e aos serviços no âmbito das instituições eram direcionados muito mais a julgamentos morais do/a assistente social sobre a personalidade e aos modos de vivência dos indivíduos do que na realidade objetiva das condições de vida dos mesmos (MIOTO,2009). Para além disso, pautava-se na ideia de que o auxílio público deveria ser feito de forma temporária e só depois de esgotadas as possibilidades da utilização dos recursos financeiros dos próprios dos indivíduos (MIOTO,2009).

Além dessa abordagem também havia o direcionamento do Serviço Social de Grupo. Em meados de 1947, as então denominadas escolas de Serviço Social, propuseram uma nova metodologia de intervenção social. Nesse contexto, o Brasil adentrava em uma fase de crescimento industrial, favorecida pelo mercado externo, de manufaturas, ampliando, dessa maneira, o mercado local e criando um solo para, consequentemente, ocorrer a emergência de uma nova burguesia industrial. Nessa perspectiva, o processo da industrialização foi favorecida com o início da Guerra Fria, intensificando-se em 1947(ANDRADE,2008).

Se de um lado a herança positivista do funcionalismo aparece como forte busca de cientificidade, de outro, a busca de suporte nas ciências sociais, reflete o vetor de configuração no estabelecimento do método e da instrumentalização do Serviço Social, adequando os conhecimentos adquiridos à nossa realidade

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institucional. Com isso, em 1947 as Escolas de Serviço Social do Brasil, passaram a incorporar um outro método de intervenção social. Assim, a partir desse ano, foi composto também aos currículos o método de Serviço Social de Grupo (ANDRADE,2008).

O Serviço Social de Grupo era utilizado em uma linha educativa, como maneira de viabilizar a personalidade individual do sujeito, através de um recorte voltado as características dos aspectos psicossociais e práticas direcionadas a construção de liderança. Sendo definido como:

Um método do SS que ajuda os indivíduos a aumentarem o seu funcionamento social, através de objetivas experiências de grupo e a enfrentarem, de modo mais eficaz os seus problemas pessoais, de grupo ou de comunidade (KONOPKA, 1979, p. 33)

Além de ser:

(...) uma prática que visa minorar o sofrimento e melhorar o funcionamento pessoal e social de seus membros, através de específica e controlada intervenção de grupo, com a ajuda de um profissional (KONOPKA, 1979, p. 45)

Dentro dessa perspectiva, pode-se afirmar que o Serviço Social de Grupo contribuía na perspectiva de fazer com que a população se desenvolvesse e se ajustasse aos valores e normas sociais vigentes neste período. Ou seja, consistia objetivamente na capacitação do indivíduo de maneira funcionalista6 as normas sociais.

A estruturação científica dessa dinâmica de trabalho estava embasada nas teorias sociológicas de Durkheim, Weber, Simmel e na fundamentação teórica da Psicologia Social e da Pedagogia, devido ao grande caráter educativo e formativo. Estando intimamente ligadas aos movimentos de “autoajuda” e, em 1936, é fundada a Associação Americana para seu estudo (ANDRADE,2008).

O caráter “terapêutico”, funcionalista e disciplinador compreendido para a dinâmica do trabalho com grupos, facilitava o processo de integração e adaptação dos indivíduos na medida em que postula uma concepção ao comportamento do homem, sem que haja um aprofundamento das questões societárias enraizadas e profundas do processo. Nesse sentido, o problema está no homem, não no seu meio.

6 Essa concepção se refere ao caráter de ajustamento social dos indivíduos, na medida em que o

profissional não atribui um questionamento com relação à estrutura do sistema que promove a desigualdade social, mas sim de culpabilização dos sujeitos a fim de torna-los funcionais as normas sociais vigentes (FALEIROS,2011).

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A organização de comunidade, posteriormente chamada de “Desenvolvimento de Comunidade”, também apresenta características semelhantes à dos dois processos anteriormente delineados. Tendo por seu objetivo o ajustamento social do indivíduo, e concomitantemente realizava um trabalho assistencial.

Ao assistente social, com o seu arcabouço de técnicas próprias, era desenvolvido um papel de líder indireto da comunidade, o/a profissional que promovia a mudança social, integrada a participação popular.

O processo do Serviço Social com Comunidades se caracteriza pelo desenvolvimento social dos indivíduos e sua orientação pela promoção das relações eficientes e úteis entre eles em busca de um desenvolvimento equilibrado e harmonioso [...] As técnicas empregadas pelo assistente social são as que estimulam e orientam os indivíduos e grupos, sem controlá-los; as medidas e providências visam à solução de determinado problema social [...] (JOHNS; DE MARCHE, 1954, p. 78 apud ANDRADE, 2008,p.285)

Apesar de compreender a configuração do Serviço Social dentro de uma ótica que recaia para práticas postuladas conservadoras, é necessário considerar que todos esses acontecimentos permeiam a construção do Serviço Social brasileiro, o qual apresenta os desdobramentos inerentes à organização da categoria, à expansão do ensino, as primeiras práticas e ao fortalecimento do reconhecimento profissional. Ou seja, não há como desconsiderar que esses períodos representam o processo de maturação profissional e foi necessário para que houvesse os novos desdobramentos para uma concepção crítica da profissão.

Assim, podemos situar que quando nos voltamos para o uso dos ‘métodos profissionais’ de Caso, Grupo e Comunidade, observa-se que a disseminação desses métodos

[...] trouxe um embasamento técnico mais consistente para a ação profissional, com a consequente utilização de um instrumental mais elaborado. No entanto, neles prevalece a centralidade formalista do método, levando o profissional a se preocupar tão somente em definir um instrumental-técnico, com maior precisão e controle. Desta maneira, encontramos uma concepção de método limitada a um conjunto de procedimentos predeterminados com a função de operacionalizar as ações através de instrumentos e técnicas que, por sua vez, são abordados apenas como atitudes e habilidades (TRINDADE, 2001,p.14).

O fortalecimento profissional do/a assistente social no final dos anos de 1940, fomentava à organização de congressos, a criação, em 1945, da Associação Brasileira das Escolas de Serviço Social (ABESS), em 1946, a Associação Brasileira

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de Assistentes Sociais (ABAS), a criação do Código de Ética (1948) e, consolidada a regulamentação do ensino (1954) e o reconhecimento do Serviço Social enquanto profissão (1956) (ANDRADE,2008,p.18).

Em 1950, período pós-guerra, o qual foi caracterizado pela busca de libertação do comunismo e de tentativas de ascensão do capitalismo internacional, exige-se que a sociedade passe por uma processo de modernização e ampliação das políticas sociais, sendo necessária a atuação do/a profissional que tivesse o arcabouço da teoria e prática para delinear as políticas sociais, para fins de responder as problemáticas de cunho social que se desenvolveram no pós-guerra, essas respostas consistiam, por exemplo, em serviços sociais básicos e programas voltados para as comunidades pauperizadas, sob a amparo da Organização das Nações Unidas – ONU (SANTOS,2011)

Todos esses acontecimentos históricos e todas essas propostas e demais conteúdos irão permear e delinear a construção do Serviço Social brasileiro, nos quais os desdobramentos são visualizados nos mais diversos setores, mais especificamente, nos que dizem a respeito à organização da categoria, à expansão do ensino e da profissão ao longo dos anos, ao discusso e à prática no denominado segundo bloco da periodização da profissão( ANDRADE,2008).

A década de 1960 é marcada pela iniciativa de programas sociais nacionais os quais eram incorporados por segmentos progressistas da sociedade. Em 1964 no Brasil, ocorre a ditadura militar, um regime político comandado por membros das Forças Armadas marcado pela perseguição política, a cassação de direito individuais, a ausência da democracia e, consequentemente, da participação da população nas decisões do Estado, além da repressão vivida por opositores a esse regime.

Esse período histórico, segundo Cardoso (2013, p. 129-130), “fez com que a influência da Reconceituação no Brasil tivesse características distintas do restante da América Latina”, pois as possibilidades concretas de participação conjunta da população brasileira nesse processo foram oprimidas. Os processos individuais das relações sociais passam a ser mais pertinentes nesse período, conforme salienta Iamamoto (2006, p.174) :

Forja-se assim uma mentalidade utilitária, que reforça o individualismo, onde cada um é chamado a ‘se virar’ no mercado. Ao lado da naturalização da sociedade – ‘ é assim mesmo, não há como mudar’-, ativa-se os apelos morais à solidariedade, na contra face da crescente degradação das condições de vida das grandes maiorias.

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Esse ambiente promove profundas alterações também no âmbito do perfil profissional do/a Serviço Social, que se vê diante de novas demandas. Ainda que as principais demandas continuem sendo de executar políticas sociais alinhadas à funcionalidade do Estado e da burguesia, uma novidade lhe é posta, a exigência de uma atuação profissional ligada ao “caráter técnico e científico, que dê conta da burocracia estatal e dos investimentos privados”, como fundamenta Cardoso (2013, p. 133).

Tendo em vista as características relativas ao período ditatorial, os/as profissionais passam a ser mais críticos quanto aos seus próprios métodos, o que deu origem ao método de Belo Horizonte (BH) que propunha uma reflexão quanto a perspectiva tradicional da profissão, como cita Netto (2008, p. 276-277):

O método que ali se elaborou foi além da crítica ideológica, da denúncia epistemológica e metodológica e da recusa das práticas próprias do tradicionalismo; envolvendo todos estes passos, ele coroou a sua ultrapassagem no desenho de um inteiro projeto profissional, abrangente oferecendo uma pauta paradigmática dedicada a dar conta inclusive do conjunto de suportes acadêmicos para a formação dos quadros técnicos e para a intervenção do Serviço Social.

Nesse período intenso dos anos de 1960, houve uma reestruturação do primeiro código de ética profissional, e em 1965 foi concebido um novo código de ética. Possuindo características mais normativas, embasadas na filosofia humanista-cristã em torno do humanismo e neotomismo. O Serviço Social passa a ascender em uma perspectiva mais técnico-científica sob influência norte americana, reconhecendo diferentes concepções dentro do caráter profissional denominado de pluralismo7. Sendo tratada como uma profissão liberal, onde suas ações decorrem da obrigação formalizada da legislação.

Netto (2001) apresenta três vertentes que se fizeram presentes no processo de renovação do Serviço Social no Brasil e instauraram o pluralismo profissional, sendo elas: a tendência modernizadora, a reatualização do conservadorismo e a intenção de ruptura. A vertente modernizadora profissional possuiu a sua ascensão até os anos

7 O pluralismo no Código de Ética Profissional de 1993, no 7º princípio fundamental, é compreendido

como às “correntes profissionais democráticas” e suas “expressões teóricas”, acrescentando o “compromisso com o constante aprimoramento intelectual”. Com isso o pluralismo não se limita a interesses individuais e corporativos, mas representa a diversidade de grupos e da sociedade civil como um todo (CFESS,1993).

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1970, iniciando-se no Seminário de Araxá8 em 1967 e tendo a sua consolidação no Seminário de Teresópolis9 em 1970.

O Serviço Social a partir da mesma razão instrumental prevalecente na profissão (neopositivismo), realiza a revisão de métodos e técnicas para adequar-se às novas exigências demandadas pelo contexto no qual o/a profissional é tido como elemento dinamizador e integrador do processo de desenvolvimento social.

Na década de 1970, esse teor de questionamento dentro da própria categoria passa a ser mais acentuado , na medida em que uma das características latentes do período ditatorial é a consolidação do capitalismo monopolista no Brasil. Segundo Yazbek (2009), é nesse momento que os/as assistentes assumem maiores questionamentos quanto as problemáticas pertinentes na sociedade decorrentes do processo do capitalismo mundial que estabelecia um processo excludente e de subordinação das classes.

Essas inquietações marcaram um processo de revisão nos níveis teórico, metodológicos, operativos e políticos, em que surge um comprometimento com um projeto voltado as classes subalternas da sociedade, e consequentemente a apropriação da teoria social de Karl Marx , afastando-se da perspectiva positivista10 (SANTOS,2011).

Em meados dos anos 1970 a discussão em torno da temática política e de luta pela redemocratização do país11 vem a favorecer a dimensão crítica assumida pelos setores profissionais, ligados com a intenção de ruptura12.

A década de 1970-1980 foi um momento histórico marcado pela luta contra o autoritarismo do Estado e dos seus reflexos sociais na sociedade enraizados em um processo latente de miséria nas classes subalternas, e anseio pela redemocratização

8 O Documento de Araxá foi composto durante o I Seminário de Teorização do Serviço Social, em

Minas Gerais (Araxá) realizado no período de 19 a 26 de março de 1967. Esse documento foi um marco, pois apresentou as primeiras iniciativas de teorização do Serviço Social e a novas proposições sobre a sua práxis (CBCISS,1986).

9 Já o Documento de Teresópolis teve como dimensão central o estudo acerca da metodologia do

Serviço Social inserido na realidade Brasileira(CBCISS,1986).

10 O saber positivo naturaliza a questão social afastando da perspectiva de totalidade adotada para

caracterizar a problemática do sistema capitalista na realidade dos sujeitos. A preocupação aqui contida é a manutenção e defesa da ordem burguesa (CHAGAS,2015).

11 O período de Redemocratização brasileira foi o processo de reintegração das instituições

democráticas anuladas pelo Regime Militar iniciado em 1964.

12 O amadurecimento teórico-metodológico do Serviço Social deu-se a partir do período da pós-ditadura

e sendo fortalecido na década de 1970 com o movimento de reconceituação profissional na perspectiva da intenção de ruptura com o conservadorismo que vigorou por décadas na profissão. Propõe-se agora uma linha ideológica mais crítica e articulada a defesa da classe trabalhadora.

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do Estado e da sociedade que perpassava um contexto ditatorial que chegou ao fim somente em 1985.

Com o governo Sarney13, em 1985 é instaurado no país a Nova República, marcada pelo aprofundamento do capitalismo monopolista, e medidas estratégicas voltadas ao enfrentamento da pobreza mas, que ao mesmo tempo, buscava não fornecer caminhos para que houvesse um engajamento na organização popular da sociedade nesta época. Diante deste contexto há uma discussão dos códigos profissionais anteriores, e uma busca do seu aprimoramento. Emerge, então, em um contexto de debate intensificado sobre as políticas no campo social no ano de 1886, o quarto código; que de acordo com Simões (2009,p.520):

[...] Nasceu do movimento de reconceitualização do Serviço Social, contraposto ao conservadorismo e ao assistencialismo, gestado a partir dos anos 1970, explicitando a dimensão necessariamente político-institucional do exercício profissional.

Mesmo com esses avanços no campo ideológico , mostrou-se insuficiente do ponto de vista teórico e filosófico, assim como na operacionalização do cotidiano profissional, pois segundo Barroco (2008) o código de ética de 1986 teve sua relevância, mas não acompanhou os avanços teórico-metodológicos e as políticas resultantes deste período, pois estes avanços não proporcionaram um debate ético mais amplo, já que não se sustentava em uma teoria que trouxesse contribuição para a compreensão dos fundamentos da profissão (SANTOS,2011).

Todo este contexto, vem contribuindo de forma estratégica para a manutenção do capital, já que a categoria profissional, como mencionado pela autora, não compreendia veemente os seus fundamentos. Então, como trabalhar em uma linha emancipatória dos sujeitos e de efetivação dos direitos sociais? Analisando esses fatos, principalmente em meados de 1990, em que se constituía um processo de reestruturação produtiva14, a contra-reforma15 e a flexibilização do mercado de

13 O Governo Sarney, também chamado de Governo José Sarney foi um período da história política

brasileira que corresponde à posse de José Ribamar Ferreira Araújo da Costa Sarney na Presidência da República(PEREIRA,2003)

14 “(...) a reestruturação produtiva é uma iniciativa inerente ao estabelecimento de um novo equilíbrio

instável que tem, como exigência básica, a reorganização do papel das forças produtivas na recomposição do ciclo de reprodução do papel das do capital, tanto na esfera da produção como das relações sociais.” (MOTTA, 2000, p.65).

15 “Esta concretiza-se em alguns aspectos: na perda de soberania – com aprofundamento da

heteronomia e da vulnerabilidade externa; no reforço deliberado da incapacidade do Estado para impulsionar uma política econômica que tenha em perspectiva a retomada do emprego e do crescimento, em função da destruição dos seus mecanismos de intervenção neste sentido, o que

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trabalho, realiza-se um aprofundamento das discussões referentes ao campo social, na medida em que a expansão do capitalismo, principalmente nos países de terceiro mundo como o Brasil, apresentam as refrações da questão social cada vez mais latentes (SANTOS,2011).

Conforme delineado por Simões (2009), para revisão do código de 1986 foi necessário um envolvimento das entidades representativas da categoria profissional, ou seja, uma vasta participação dos/a assistentes sociais, o que culminou no código de ética de1993 em face das transformações macro societárias.

Este atribuiu maior amplitude política à atuação profissional, segundo seus considerados, por meio da criação de novos valores éticos fundamentos na definição mais abrangente de compromisso com os usuários, com base na liberdade, democracia, cidadania, justiça e igualdade social (SIMÕES, 2009, p.521).

A revogação do código de ética de 1993, concomitante a lei de regulamentação profissional no mesmo ano, além das diretrizes curriculares da Associação Brasileira de Ensino e Serviço Social – ABESS em 1982, configuram a dimensão normativa do projeto ético-político profissional.

O projeto profissional deve ser compreendido por:

apresentar a auto-imagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem balizas da sua relação com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas. (NETTO, 2008, p. 95)

O Projeto Ético Político do Serviço Social tem como base um projeto societário nítido e democrático, tendo como eixo a classe trabalhadora. É necessário, também, compreendê-lo a partir de uma dimensão dupla: uma que permeia pelo modo como o/a assistente social entende e circula por ele. A outra estando relacionada à organização da categoria em torno do projeto de modo a dá-lo visibilidade e fazê-lo ser factível.

Na construção histórica desse período percebemos que nessas novas propostas, a percepção atribuída ao instrumental técnico-operativo da profissão assume um outro rumo. De forma que as práticas institucionais tradicionais e

implica uma profunda desestruturação produtiva no desemprego (Mattoso, 1999); e, em especial, na parca vontade política e econômica de realizar uma ação efetiva sobre iniquidade social, no sentido de sua reversão, condição para uma sociabilidade democrática” ( BEHRING,2003, p. 213).

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modernizadoras são postas em questão, havendo uma tendência de discordância do instrumental que lhes dava suporte outrora - aqueles próprios ao Serviço Social de Caso, de Grupo e de Comunidade. Os instrumentais burocráticos e organizacionais dos serviços institucionais, além das técnicas de abordagem individual sob um olhar da subjetividade do indivíduo (psicologizante) e de grupo (terapêuticas),portanto, não são inclusos nessas concepções de ruptura (TRINDADE,2001)

O que pode ser visualizado nessa nova perspectiva é uma direção dos instrumentais voltada a uma perspectiva societária que possibilitasse a participação conjunta da população. Destacam-se, como ações nesse campo, as atividades grupais que promovessem, por exemplo, um debate assíduo sobre a conjuntura ; ou instrumentos de mobilização social, tais como assembleias, e/ou realização de abaixo-assinados, grupos de trabalho e etc. As ferramentas de planejamento e a programação para o desenvolvimento de atividades aparecem nessas propostas, tendo como diferencial o envolvimento da população nelas (TRINDADE,2001).

Vem ocorrendo um aumento na diferenciação dos espaços sócio ocupacionais da profissão, no ritmo da reestruturação dos espaços institucionais públicos e privados. As requisições que são direcionadas ao Serviço Social sofrem mudanças, com a redução e/ou reconfiguração de demandas tradicionais, como também novos perfis socioeconômicos16 adentram a essa realidade (TRINDADE,2001).

Ao compreender essas especificidades que permeiam a construção sócio histórica da profissão, é possível visualizar que o instrumental técnico-operativo do Serviço Social sofreu significativas construções e desconstruções para que este fosse atribuído a uma conduta voltada aos preceitos inerentes a caracterização profissional, embasado por fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos diferentes. Porém característicos do contexto em que emergiram.

É necessário reafirmar que as requisições postas aos/ as profissionais são dotadas de diferentes circunstâncias e fazem parte de um contexto em que se produzem as necessidades sociais. A ação interventiva deve ser proposta de forma a enfrentar as manifestações intrínsecas a problemática da questão social, na medida

16Todo esse desenvolvimento no cerne das forças produtivas resultam em uma enorme redução do

trabalho vivo e ascensão da flexibilização das relações trabalhistas. Com isso,” (...) o que diz respeito aos usuários dos serviços, faz-se necessário que este projeto profissional priorize uma nova relação de compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população, bem como a publicização, democratização e universalização dos recursos institucionais a ela direcionados” (PIANA,2009,p.107)

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em que apreende que as ações postas mediante a utilização dos instrumentais devem ser dotadas de intencionalidades,

Fomentando, portanto, a necessidade de manter viva a discussão da dimensão técnico- operativa sob uma perspectiva emancipatória e de ação concreta que possibilita a intervenção prática na problemática da questão social. Suscitando-os como meiSuscitando-os que intercruzam princípiSuscitando-os, valores e uma direção social, ou seja, não se circunscrevem a si mesmos. Para isso, será delineado a perspectiva da totalidade na práxis profissional nos espaços socio ocupacionais, direcionando a formação do/a assistente social nas múltiplas formas de expressão da questão social nos principais campos de atuação.

2.2 Espaços socio ocupacionais do/a assistente social: a totalidade no cotidiano do exercício profissional

O Serviço Social perpassou amplas concepções teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas até que se alinhasse a um posicionamento crítico e reflexivo em prol da classe trabalhadora e em defesa dela. Partindo desse entendimento, pretende-se delinear como que essa ressignificação profissional reflete nos principais espaços de atuação profissional, compreendendo a totalidade dentro de um contexto capitalista.

Netto afirma que “o espaço determinado que [...] propicia a profissionalização do Serviço Social tem sua base nas modalidades através das quais o Estado burguês se enfrenta com a ‘questão social’, tipificadas nas políticas sociais” .(NETTO,2001,p. 74). Tais políticas se constituem como um conjunto articulado de procedimentos técnico-operativos que requer agentes técnicos para sua formulação e efetivação. Dentre estes agentes, apresentam-se os/as assistentes sociais considerando procedimentos diferenciados, tendo em vista a via administrativa macroscópica de recursos à implementação de “serviços” (NETTO, 2011).

Para isso destacou-se brevemente duas pesquisas referentes as especificidades dos espaços socio ocupacionais, sendo uma do próprio Conselho Federal de Serviço Social com dados de 2004, porém publicada em 2005 e outra por discentes da Universidade Estadual de Londrina(UEL) em 2015.

Na pesquisa realizada acerca do perfil dos assistentes sociais no Brasil pelo Conselho Federal de Serviço Social embasada por dados de 2004, pode ser

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