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Ocupação e renda nos domicílios rurais e agrícolas do estado de São Paulo: efeitos da urbanização

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Ocupação e renda nos domicílios rurais e agrícolas do estado de São Paulo:

efeitos da urbanização

*

Angela Kageyama

Palavras-chaves: ocupação; renda; rural; densidade demográfica.

Resumo

Partindo de duas relações observadas, quais sejam: a) a relação entre espaço (rural, urbano, grau de urbanização) e desenvolvimento local e b) a relação entre ocupação (agrícola e não-agrícola) e renda das famílias, o artigo propõe a investigação de algumas características do universo composto pelos domicílios rurais e pelos domicílios urbanos em que haja pessoas ocupadas na agricultura no Estado de São Paulo em 2.000, de acordo com a densidade demográfica dos municípios onde se localizam. Utilizando os microdados do Censo Demográfico de 2000, foram selecionados os domicílios rurais (separados em agrícolas e não-agrícolas) e os domicílios urbanos com pessoas ocupadas em atividades agrícolas. Esses 3 tipos de domicílios foram classificados em 6 faixas, segundo a densidade demográfica dos municípios em que se encontram, e descritos em termos do nível e composição da renda, escolaridade e rendimentos do trabalho para as pessoas ocupadas.

* Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

Professora do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas. Caixa Postal 6135, Campinas, São Paulo.

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Ocupação e renda nos domicílios rurais e agrícolas do estado de São Paulo:

efeitos da urbanização

Angela Kageyama

Introdução

Segundo o Censo Demográfico de 2000, cerca de 64% das pessoas ocupadas que vivem na zona rural do Estado de São Paulo possuem ocupações não-agrícolas; e, do conjunto dos ocupados em atividades agrícolas, 57% residem na zona urbana. A interseção entre o conjunto dos rurais e o dos agrícolas equivale, portanto, a uma fração menor que a sua metade.

O tipo de atividade não-agrícola presente nas áreas rurais ou os empregos que os membros das famílias rurais exercem nas áreas urbanas próximas podem ser bastante diversificados, dependendo principalmente do tipo de desenvolvimento local ou regional. No Brasil, a maioria das ocupações complementares das famílias agrícolas exige baixa qualificação, o turismo rural ainda é incipiente, e a produção de bens públicos como paisagem e áreas de preservação ambiental bastante limitada. Para São Paulo, especificamente, o trabalho de Basaldi (2000) mostrou que as principais ocupações da PEA rural não-agrícola no período 1992-1998 foram serviço doméstico, motorista, pedreiro, balconista-atendente, serviço por conta própria, diarista doméstica, servente-faxineiro e ajudante de pedreiro. Praticamente são todas ocupações de baixa qualificação, porém com condições de trabalho melhores que o agrícola, exceto nos serviços domésticos no caso das mulheres, em que a qualidade do emprego mostrou-se inferior à do trabalho agrícola. Kageyama (2003), usando dados do Censo Demográfico de 2000, também conclui que o aspecto marcante do emprego rural não-agrícola, diversamente do que relata a literatura para os países desenvolvidos, é a baixa escolaridade exigida e a precariedade das ocupações, concentrando-se no serviço doméstico remunerado e no trabalho na construção civil (pedreiro). Só na faixa de maior renda (20% mais ricos), que reflete o grupo de maior escolaridade e melhores condições de vida, observa-se maior diversidade e melhor qualificação das ocupações, como gerentes, vendedores e escriturários, com menor peso do serviço doméstico e da construção civil.

Ainda que a agricultura continue a ser o “coração da economia rural”, o desenvolvimento rural depende cada vez mais de outras atividades, algumas apenas indiretamente relacionadas com a agricultura, como o turismo rural e outras totalmente dela desvinculadas, e sim dependentes de mercados de trabalho urbanos locais e regionais (Van Depoele, 2000). Segundo Kinsella et al. (2000), as áreas rurais são multifuncionais, sendo necessário um enfoque multissetorial para captar seu desenvolvimento. Esse enfoque deve abranger a atividade central do meio rural (a agricultura), atividades não-agrícolas ligadas ao

Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

Professora do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas. Caixa Postal 6135, Campinas, São Paulo.

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empreendimento agrícola (farm-based), como o turismo rural, e as ocupações e serviços desenvolvidos nas vilas e localidades próximas (off-farm), destacadamente a pluriatividade. Ainda de acordo com os autores, é esse enfoque que fundamenta os três princípios da política rural da Comissão Européia: “Não há desenvolvimento rural sem agricultura; não há agricultura nem agricultores sem outras atividades; não há outras atividades sem o desenvolvimento de vilas e cidades de pequeno e médio porte.” (Kinsella et al., 2000, p.484). Essa citação capta exatamente a idéia que se pretende explorar neste trabalho, ou seja, a da relação intrínseca entre tipos de ocupações (agrícolas e não-agrícolas) nos domicílios rurais, o tipo de contexto urbano em que se localizam e o resultado econômico obtido (renda).

O papel da agricultura e das ocupações agrícolas nem sempre é o mais importante na determinação do desenvolvimento rural, como aponta Terluin (2003), para quem “a agricultura não pode ser mais considerada a espinha dorsal da economia rural” (p.327) na Europa, sendo o desenvolvimento das áreas rurais o resultado de três dinâmicas, a territorial, a populacional e a dinâmica global. Em 18 estudos de caso realizados em áreas rurais de 9 países membros da EU, a autora concluiu que o fator essencial e decisivo na determinação da dinâmica regional rural foi o grau de mobilização e organização dos atores locais, públicos e privados, de forma a direcionar suas capacidades (habilitações, conhecimentos e atitudes) e as redes em que estão envolvidos para as prioridades e necessidades da região. Outros fatores que revelaram forte influência no crescimento do produto e do emprego nas regiões rurais foram a disponibilidade de uma boa infra-estrutura de transporte e a presença de atividades em setores manufatureiros e da construção. A participação relativa da agricultura na atividade econômica não foi um fator explicativo importante para a dinâmica das áreas rurais estudadas.

A simples presença de atividades e ocupações diversificadas numa região não constitui, no entanto, garantia de maior dinamismo. Como apontam van der Ploeg et al. (2000), o importante para o desenvolvimento rural são as fontes de sinergias que tais atividades podem representar:

“É notável que em muitas experiências de desenvolvimento rural a criação de coesão entre atividades, não apenas no interior da empresa agrícola, mas também entre diferentes empresas agrícolas e entre empresas agrícolas e outras atividades rurais [não-agrícolas], aparece como um elemento crucial, estratégico”. (van der Ploeg et al., 2000, p. 392)

Particularmente importantes são as (potenciais) sinergias entre ecossistemas locais e regionais, ou entre bens e serviços específicos, cadeias alimentares, movimentos sociais, bem como entre a alocação do trabalho familiar rural para atividades agrícolas ou para atividades não-agrícolas (pluriatividade).

A análise do desenvolvimento rural deve contemplar, portanto, o desenvolvimento agrícola e o desenvolvimento da rede urbana local e regional, pois é nesse espaço que muitos membros das famílias agrícolas encontrarão fontes de renda complementares, vitais para a preservação da própria atividade agrícola. Nesse sentido, pode-se considerar que Estado de São Paulo é uma área privilegiada para entender os novos rumos do desenvolvimento rural, por contar com uma agricultura dinâmica e com uma rede urbana densa e difundida por todo o Estado, que permite que a integração rural-urbana se manifeste em sua plenitude.

Para Epstein e Jezeph (2001), o desenvolvimento rural depende de ampliar as oportunidades de obtenção de renda nas áreas rurais, tornando-as mais atrativas em termos de economia e de infra-estrutura, o que só poderia ser alcançado pelo estabelecimento de um “paradigma de desenvolvimento rural-urbano”, em que o desenvolvimento urbano e o rural sejam processos complementares.

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Figueroa (1997) argumenta que a economia rural está sempre integrada a uma cidade, e a economia regional, combinação de uma cidade e seu entorno rural, é o contexto adequado para compreender o desenvolvimento rural. Os mercados são regionais (e não rurais) e quanto maior o tamanho da cidade em relação a seu entorno rural, maior será o peso das transações efetuadas em mercados no total das transações da região. Quanto maior a cidade, mais a economia se baseará nas regras de mercado, mais impessoais serão as relações e mais isso se transmitirá ao meio rural:

Um país com áreas urbanas compostas de poucas megalópoles, ou de muitas cidades pequenas, não permitiria o desenvolvimento generalizado dos mercados regionais. Ao contrário, um país com áreas urbanas compostas de muitas cidades de tamanho médio geraria condições favoráveis para o desenvolvimento dos mercados e, portanto, para o desenvolvimento rural. Certamente a urbanização ajudaria o desenvolvimento rural, mas não qualquer urbanização e sim aquela geograficamente descentralizada. (Figueroa, 1997, p.13).

É nesse sentido que o Estado de São Paulo pode ser considerado um locus de estudo privilegiado, pois apresenta a mais densa rede urbana e de estradas do país, incluindo muitos casos de “conurbação”, em que duas ou mais cidades ficam praticamente ligadas devido ao encontro de seus limites suburbanos, formando verdadeiras cadeias ao longo das rodovias.

Em quase todo o mundo as estatísticas nacionais definem o rural como oposição, complemento ou resíduo do urbano. Segundo Veiga (2002), os critérios que influenciaram as divisões territoriais existentes hoje nos diversos países são em sua maioria anacrônicos e não resultaram de nenhuma necessidade relacionada com o que hoje se denomina desenvolvimento territorial. No caso do Brasil o problema de classificação do que é rural é mais grave, dado que se baseia numa definição de “cidade” ― sede de município ― de 1938, que vem sendo carregada ao longo do tempo, apesar das adaptações feitas pelo IBGE por ocasião dos Censos Demográficos. O autor mostra que esse critério exagera o grau de urbanização, ao considerar urbana toda sede de município (cidade) e de distrito (vila), “sejam quais forem suas características”. Propõe que, para efeitos analíticos, não deveriam ser considerados urbanos os habitantes de municípios muito pequenos (com menos de 20 mil habitantes), um critério bastante simples, mas que tem a desvantagem de abarcar os pequenos municípios com alta densidade demográfica, pertencentes a regiões metropolitanas, por exemplo. Por esse critério, 4.024 municípios brasileiros, do total de 5.507, seriam considerados rurais. O ideal seria combinar os critérios de população e densidade demográfica, o que foi de fato feito numa pesquisa conjunta entre IBGE, IPEA e UNICAMP. A partir do mapeamento da rede urbana brasileira feito nessa pesquisa, Veiga classifica como “inequivocamente urbanos” os 455 municípios brasileiros identificados como aglomerações metropolitanas, outras aglomerações e centros urbanos; classifica como municípios de pequeno porte os que têm simultaneamente menos de 50 mil habitantes e menos de 80 habitantes por quilômetro quadrado; e de médio porte aqueles que têm população entre 50 e 100 mil habitantes ou cuja densidade supere 80 hab/km2. Esses dois grupos têm 567 municípios, que somados aos 455 anteriores perfazem 1.022 municípios que poderiam ser realmente chamados de urbanos.

A tabela 1 traz alguns dados sobre população e municípios de São Paulo. Mesmo utilizando os critérios propostos por Veiga, vemos que apenas 36,6% dos municípios paulistas possuem mais de 20 mil habitantes, 27,6% têm densidade maior que 80 hab/km2 e cerca de 40% atendem a um dos dois critérios. Metade dos municípios paulistas tem menos de 11.550 habitantes e metade tem densidade demográfica abaixo de 35 pessoas por km2. Um ‘benchmark’ quase universal entre os censos de população internacionais para definir áreas urbanas é uma densidade de 400 ou mais habitantes por km2 (Qadeer, 2000). Se fosse utilizado esse critério, somente 59 municípios de São Paulo (menos de 10%) seriam

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considerados propriamente urbanos, mas esse pequeno conjunto de municípios concentra 66,9% da população urbana do Estado.

Tabela 1

Alguns dados sobre população no Estado de São Paulo em 2000.

Indicador Valor

População total 37.032.043 residentes

Área total 248.176,7 km2

Número de municípios 645 municípios

Média de residentes por município 57.415 pessoas

Mediana de residentes por município 11.550 pessoas

Densidade demográfica média 149,2 hab/km2

Densidade demográfica mediana 35,1 hab/km2

Municípios com 20 mil habitantes ou mais 236 (36,6%)

Municípios com densidade de 80 ou mais hab/km2 178 (27,6%)

Municípios com 20 mil habitantes ou mais ou com

densidade de 80 ou mais hab/km2 257 (39,8%)

Fonte: IBGE (2002)

Os efeitos do tipo e do grau de urbanização sobre o desenvolvimento rural não advêm simplesmente da concentração populacional em si, mas dos fenômenos econômicos que podem estar refletidos, por exemplo, na densidade demográfica. Os efeitos de aglomeração, especialização e diversificação de mercados, o tamanho e a proximidade dos mercados de insumos, as redes de informação e transporte, as economias externas de escala, são alguns dos elementos que favorecem o desenvolvimento local e, por extensão, o desenvolvimento rural do entorno. Segundo Combes (2000, p.332), “as economias de localização implicam que firmas se beneficiam da aglomeração com outras firmas do mesmo setor, enquanto as externalidades da urbanização implicam efeitos positivos de aglomeração intersetoriais”.

Ainda de acordo com esse autor, se as áreas rurais e urbanas são consideradas, o próprio tamanho da economia local influencia a intensidade das forças de aglomeração, pois somente a partir de um certo número grande de empresas operando num mesmo espaço os “spillovers” em termos de informações e inovações, as escolhas locacionais de mercados de insumos e produtos e as diversas complementaridades podem atuar de forma visível. Propõe que, para mensurar o tamanho dessas economias locais, um indicador síntese seria a

densidade do emprego total, medida pela relação entre o número total de empregados numa

região e sua área. Esse indicador foi utilizado como variável explanatória, entre outras, para estimar modelos de regressão tendo como variável dependente o crescimento relativo do emprego em 341 unidades geográficas na França entre 1984 e 1993. Seu efeito mostrou-se negativo para os setores industriais e positivo para os setores de serviços. No primeiro caso, a possível explicação são as externalidades negativas geradas pela aglomeração, como elevação do valor da terra, congestionamento da infra-estrutura local e poluição; no caso dos serviços, que interessam mais de perto para os estudos de desenvolvimento rural, dado que essa tem sido a principal fonte de emprego para seus habitantes, os efeitos positivos da densidade foram dominantes em alguns setores, principalmente os relacionados com comércio, hotelaria e transporte. A explicação dada pelo autor é que em áreas com alta densidade de emprego o tamanho dos mercados onde os bens são transacionados, o número de transações exigidas e necessidade de superar a imperfeição de informação são maiores, e assim as redes mais densas de contatos diretos favorecem a expansão desses setores. Em resumo, o estudo

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mostrou que a estrutura da economia local afeta o crescimento do emprego e que, entre outros fatores, a densidade (do emprego)1 favorece o desenvolvimento dos setores de serviços, que se beneficiam de muitas das “economias de urbanização”.

Com o avanço do desenvolvimento econômico, em todas as nações desenvolvidas e em desenvolvimento observa-se um esbatimento dos limites entre o espaço rural e as atividades não-agrícolas, antes típicas das áreas urbanas, bem como entre as atividades agrícolas e as zonas urbanas. São comuns, hoje, expressões como “rural não-agrícola”, “rurbano” e “agricultura urbana”. Mas essa idéia pode ser refinada, em termos de pesquisa, introduzindo os possíveis efeitos do grau de urbanização (medido pela densidade) nas interseções rural-agrícola e agrícola-urbano.

Para a OECD (ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT), o conceito de desenvolvimento rural é complexo e multissetorial, e só pode ser descrito utilizando um conjunto relativamente grande de indicadores. Propõe quatro blocos de indicadores: a) população e migração (incluindo indicadores de densidade, mudança, estrutura, domicílios, comunidades); b) estrutura e desempenho econômico (força de trabalho, emprego, produtividade, participação setorial, investimentos); c) bem-estar social e eqüidade (renda, condições dos domicílios, educação, saúde, segurança); d) ambiente e sustentabilidade (topografia e clima, uso da terra, habitats e espécies, água e solo, qualidade do ar).

Objetivos e metodologia

O objetivo deste trabalho é comparar algumas características das ocupações rurais e agrícolas no estado de São Paulo, levando em conta um indicador síntese de urbanização, a densidade populacional dos municípios.

Os principais indicadores quantitativos utilizados na pesquisa são a densidade demográfica, a localização (rural ou urbana), a renda e sua composição, o tipo de ocupação e a escolaridade. Comparando com a proposta da OECD indicada anteriormente, tem-se pelo menos três dos “blocos” de indicadores representados: o econômico, o populacional e o social.

A fonte de dados é o Censo Demográfico de 2000 (microdados) para o estado de São Paulo, a unidade de observação é o domicílio e o universo é composto por todos os domicílios rurais (com atividades agrícolas e não-agrícolas) e mais os domicílios urbanos em que existem pessoas ocupadas em atividades agrícolas como ocupação principal.

Os municípios paulistas foram classificados em seis faixas de densidade demográfica, de menos de 20 habitantes por quilômetro quadrado até 2000 habitantes e mais.2 O mapa anexado a este trabalho mostra as seis faixas e a classificação dos municípios. Uma observação importante é que, excetuando a parte Sul do estado, podem ser encontrados municípios com densidade relativamente elevada (de 100 a 500 hab/km2) espalhados por todo o estado. A urbanização dispersa, como se viu antes, é um importante fator para o desenvolvimento rural, com as cidades servindo de pólos para os mercados locais, principalmente do setor de serviços e de insumos produtivos. Os municípios com densidade

1 À falta de um indicador de densidade de emprego, será usada como proxy a densidade populacional mas, como se verá mais adiante, a taxa de ocupação (pessoas ocupadas/total de pessoas) mostra-se bastante estável entre as regiões com diferentes densidades demográficas em São Paulo, com exceção da de mais alta densidade, cuja taxa é um pouco menor que a média.

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de 2000 e mais hab/km2 concentram-se nas regiões metropolitanas em torno da capital3 e, como se verá mais adiante, é possível que as externalidades negativas favoreçam menos o desenvolvimento rural nessas áreas em comparação com faixas de densidade um pouco mais baixas.

Combinando a situação rural-urbana e a presença de atividade agrícola, foram definidos três tipos de domicílios: os domicílios rurais agrícolas (em que pelo um membro da família tem ocupação principal na agricultura), os domicílios rurais não-agrícolas (localizados na zona rural e sem nenhum membro ocupado em atividade agrícola) e os domicílios agrícolas urbanos (localizados em área urbana e contando com pelo menos um membro ocupado em atividade agrícola). A lógica dessa classificação é separar o conjunto de domicílios que estão mais diretamente relacionados com o desenvolvimento rural. O desenvolvimento rural refere-se a uma barefere-se territorial na qual interagem diversos refere-setores produtivos e de apoio. A função produtiva, antes restrita à agricultura, passa a abranger diversas atividades, desde o artesanato e o processamento de produtos naturais até aquelas ligadas ao turismo rural e à conservação ambiental, daí a necessidade de contemplar os rurais não-agrícolas; por outro lado, a agricultura sai dos limites do rural, ou pela implantação de atividades como hortifruticultura no cinturão urbano, ou pela residência urbana de famílias que ainda trabalham na agricultura fora das cidades, daí a inclusão dos domicílios agrícolas urbanos.

Com essa seleção, o universo de pesquisa ficou formado por 977.172 domicílios, 3.858.117 moradores e 782.441 pessoas ocupadas em atividade agrícola.

Espaço, ocupação e renda

Variáveis relativas ao espaço ― situação rural e urbana, densidade demográfica ― e ao setor de ocupação ― agrícola e não-agrícola ― mostram-se associadas aos rendimentos familiares e rendimentos do trabalho, porque refletem, respectivamente, características do desenvolvimento local e dos mercados de trabalho.

Nesta seção apresentam-se evidências que confirmam essas associações para o universo de domicílios pesquisados no estado de São Paulo, a partir de um teste para diferença de médias (teste t) e de um modelo de regressão múltipla.

As tabelas 2 e 3 evidenciam que as principais variáveis relacionadas com rendimento, ocupação e escolaridade apresentam diferenças significativas segundo o tipo e a localização do domicílio.

Pela tabela 2, que compara as variáveis entre domicílios situados em duas faixas de densidade demográfica (acima e abaixo de 100 pessoas por km2), observa-se que os rendimentos total per capita e do trabalho, bem como a escolaridade, são significativamente maiores nos domicílios localizados em municípios com maior densidade demográfica, enquanto a proporção das aposentadorias na renda domiciliar, a proporção de pessoas ocupadas e a proporção das ocupadas em atividade agrícola são menores nesses domicílios.

3 São os municípios de Barueri, Carapicuíba, Diadema, Embu, Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Guarulhos, Hortolândia, Itaquaquecetuba, Jandira, Mauá, Osasco, Poá, Santo André, São Caetano do Sul, São Paulo, São Vicente, Taboão da Serra e Várzea Paulista.

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Tabela 2

Testes t para diferença de médias entre domicílios situados em municípios acima e abaixo de 100 habitantes por km2 no estado de São Paulo em 2000.

Variáveis Média nos

domicílios em municípios com densidade de 100 ou mais Média nos domicílios em municípios com densidade menor que 100

Teste t Prob. caudal do teste (p-valor)

Rendimento total per capita 2,14 S.M. 1,62 S.M. 41,2 0,000

Rendim trabalho/ pessoa ocupada 3,91 S.M. 2,90 S.M. 39,3 0,000

Anos de estudo (média) 5,33 4,55 140,9 0,000

Proporção do rendimento trabalho

principal 0,847 0,834 23,3 0,000 Proporção do rendimento de aposentadorias 0,110 0,126 -32,7 0,000 Ocupados/moradores de 7 anos e mais 0,455 0,470 -28,1 0,000 Ocupados agrícolas/total de ocupados 0,301 0,620 -381,6 0,000

Na tabela 3 foram testadas as mesmas variáveis contrapondo os domicílios rurais agrícolas aos demais tipos presentes no universo pesquisado (rurais não-agrícolas e agrícolas urbanos), constatando-se diferenças significativas para todas elas. Os níveis de renda, a escolaridade e a presença de aposentadorias são menores nos domicílios rurais agrícolas; esse tipo de domicílio também apresentou maior proporção do trabalho principal no rendimento da família, maiores taxas de ocupação e, como era de se esperar, maior porcentagem de ocupados em atividades agrícolas.

Tabela 3

Testes t para diferença de médias entre domicílios rurais agrícolas versus domicílios rurais não-agrícolas e agrícolas urbanos no estado de São Paulo em 2000.

Variáveis Média nos

domicílios rurais agrícolas Média nos domicílios rurais não-agrícolas e agrícolas urbanos

Teste t Prob. caudal do teste (p-valor)

Rendimento total per capita 1,76 S.M. 1,89 S.M. -9,2 0,000

Rendim trabalho/ pessoa ocupada 3,00 S.M. 3,52 S.M. -19,4 0,000

Anos de estudo (média) 4,71 4,98 -45,1 0,000

Proporção rendimento trabalho

principal 0,883 0,824 108,0 0,000 Proporção rendimento de aposentadorias 0,084 0,132 -98,4 0,000 Ocupados/moradores de 7 anos e mais 0,511 0,445 114,2 0,000 Ocupados agrícolas/total de ocupados 0,697 0,381 344,4 0,000

As tabelas 4 e 5 mostram os resultados das regressões, confirmando, com mais detalhe, essas conclusões.

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Na tabela 4 a regressão foi feita tendo como variável dependente o logaritmo natural da renda per capita nos domicílios. Todas as variáveis explanatórias incluídas no modelo foram significativas, destacando-se, para nosso interesse imediato, que as cinco faixas de densidade demográfica (sob a forma de variáveis binárias, tendo a primeira faixa de menos de 20 habitantes/km2 como referência) mostraram efeitos positivos sobre a renda, o mesmo ocorrendo com os dois tipos de domicílio comparados (também por meio de variáveis binárias) com o rural agrícola. Assim, por exemplo, o fato de um domicílio estar localizado num município de alta densidade (de 500 a 2.000 pessoas/km2) tem um efeito positivo de elevação da renda per capita em 42,9%; e num domicílio agrícola urbano a renda per capita é em média 7,1% maior do que num domicílio agrícola rural, controlados os efeitos das demais variáveis.4

Tabela 4

Resultados da regressão tendo o logaritmo natural da renda per capita como variável dependente. (n = 948.597 domicílios)

Variáveis no modelo Coeficientes

estimados

Teste t Prob. caudal do teste (p-valor)

(constante) -1,586 -427,5 0,000

Anos de estudo (média) 0,137 517,8 0,000

Proporção rend. de aposentadorias 0,864 220,5 0,000

Ocupados/moradores de 7 anos e mais 1,540 534,2 0,000

Ocupados agrícolas/total de ocupados -0,114 -42,7 0,000

Densidade de 20 a 50 0,064 26,9 0,000

Densidade de 50 a 100 0,173 67,8 0,000

Densidade de 100 a 500 0,239 100,0 0,000

Densidade de 500 a 2000 0,357 101,9 0,000

Densidade 2000 e mais 0,247 87,5 0,000

Domicílio agrícola urbano 0,068 39,3 0,000

Domicílio rural não-agrícola 0,037 14,0 0,000

R2 = 0,449; F= 70.138,9 com probabilidade caudal p = 0,000

Na tabela 5 o mesmo modelo foi ajustado tendo o logaritmo natural da renda do trabalho por pessoa ocupada como variável dependente. Os efeitos da variáveis explicativas são semelhantes aos do modelo anterior (por exemplo, em municípios de 500 a 2000 hab/km2 o rendimento do trabalho é em média 42,8% maior do que nos municípios com densidade abaixo de 20 hab/km2), com a importante exceção da proporção das aposentadorias no rendimento domiciliar. Quando se considera a renda per capita, as aposentadorias têm um efeito positivo, o inverso ocorrendo quando a variável dependente é o rendimento do trabalho. Descontando o efeito de todas as outras variáveis, 0,1 a mais na proporção das aposentadorias está associada com rendimento per capita 9,0% maior; já uma elevação de 0,1 na proporção das aposentadorias se associa a uma redução de 5,8% no rendimento do trabalho das pessoas ocupadas no universo estudado.

4 Os coeficientes de regressão, nesse tipo de modelo, medem a mudança relativa na renda dada uma variação absoluta nas variáveis explicativas (Xi). Assim, por exemplo, para uma estimativa b de um coeficiente,

100[eb−1] dará a variação percentual esperada em Y dada uma variação de 1 unidade em X, descontados os

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Tabela 5

Resultados da regressão tendo o logaritmo natural da renda de todos os trabalhos por pessoa ocupada como variável dependente. (n = 940.879 domicílios)

Variáveis no modelo Coeficientes

estimados

Teste t Prob. caudal do teste (p-valor)

(constante) 0,173 47,4 0,000

Anos de estudo (média) 0,129 494,8 0,000

Proporção rend. de aposentadorias -0,593 -143,0 0,000

Ocupados/moradores de 7 anos e mais -0,383 -135,3 0,000

Ocupados agrícolas/total de ocupados -0,054 -20,6 0,000

Densidade de 20 a 50 0,061 26,3 0,000

Densidade de 50 a 100 0,171 68,3 0,000

Densidade de 100 a 500 0,239 102,0 0,000

Densidade de 500 a 2000 0,356 103,5 0,000

Densidade 2000 e mais 0,265 95,5 0,000

Domicílio agrícola urbano 0,044 25,9 0,000

Domicílio rural não-agrícola 0,088 34,1 0,000

R2 = 0,291; F= 35.185,1 com probabilidade caudal p = 0,000

Características dos domicílios segundo a densidade demográfica

A tabela 6 mostra como ficou a classificação dos 645 municípios de São Paulo segundo as faixas de densidade demográfica definidas. Mais de 60% dos municípios estão nas duas primeiras faixas, entre menos de 20 e 50 hab/km2, mas os domicílios selecionados (rurais e agrícolas urbanos) e seus moradores distribuem-se equilibradamente nos municípios, de acordo com sua densidade demográfica, com peso menor da faixa de 500 a 2.000 hab/km2 , conforme a tabela 7. Note-se o peso mais que proporcional dos ocupados agrícolas nas 3 faixas de densidade mais baixas, em comparação com os moradores, e sua pequena presença nas duas faixas de maior densidade.

Tabela 6

Distribuição dos municípios no estado de São Paulo em 2000. segundo a classe de densidade demográfica.

Classes de densidade (pessoas/km2) Municípios % acum.

Menos de 20 184 28,5 de 20 a 50 208 60,7 de 50 a 100 95 75,4 de 100 a 500 110 92,5 de 500 a 2000 29 97,0 2000 e mais 19 100,0 Total 645 100,0 Fonte: IBGE,2002

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Tabela 7

Domicílios rurais e agrícolas urbanos, moradores e pessoas ocupadas na agricultura, segundo a classe de densidade demográfica dos municípios no estado de São Paulo em 2000.

Classes de densidade (pessoas/km2) Domicílios % Moradores % Ocupados na agricultura % Menos de 20 138.121 13,4 531.530 13,1 140.311 18,0 de 20 a 50 241.176 23,4 939.661 23,1 245.242 31,4 de 50 a 100 171.549 16,7 688.590 16,9 160.623 20,6 de 100 a 500 236.673 23,0 952.531 23,4 185.923 23,8 de 500 a 2000 56.094 5,4 222.233 5,5 31.095 4,0 2000 e mais 185.922 18,1 731.471 18,0 16.828 2,2 Total 1.029.735 100,0 4.066.016 100,0 780.022 100,0 Fonte: IBGE,2002

Na tabela 8 são apresentados os indicadores de renda, escolaridade e ocupação agrícola nas 6 faixas de densidade.

Quanto mais baixa a densidade demográfica, maior a proporção de ocupações agrícolas no total das ocupações, enquanto a proporção total de ocupados entre os moradores (“taxa de ocupação”) é bastante estável nos diferentes tipos de município. Apenas nos de 2.000 e mais hab/km2, que se concentram na região metropolitana de São Paulo, a taxa está mais abaixo da média. Outro indicador bastante homogêneo entre os municípios é o peso do trabalho principal no rendimento total das famílias, que oscila entre 82% e 84%, crescendo para 86% apenas na última faixa.

A escolaridade e as rendas, tanto a geral como a do trabalho, tendem a crescer conforme aumenta a densidade demográfica. A renda per capita, por exemplo, é mínima na faixa de menos de 20 hab/km2, com o valor de 1,17 salário mínimo per capita, e máxima na faixa de 500 a 2.000 hab/km2, atingindo 2,47 salários mínimos per capita. Note-se também o maior peso das aposentadorias na renda domiciliar nos municípios menos densos, refletindo provavelmente a importância das aposentadorias rurais.

Tabela 8

Características de renda e ocupação nos domicílios rurais e agrícolas urbanos, segundo a classe de densidade demográfica dos municípios no estado de São Paulo em 2000.

Fonte: IBGE,2002 Classes de densidade (pessoas/km2) Ocupados agrícolas/ total de pessoas ocupadas (%) Pessoas ocupadas/mora dores de 7 anos e mais Média de anos de estudo por pessoa de 7 anos e mais Rendimento do trabalho principal/ total dos rendimentos (%) Rendimento das aposentadori as/ total dos rendimentos (%) Rendimento per capita, em salários mínimos Rendimento de todos os trabalhos/ pessoa ocupada, em salários mínimos Menos de 20 62,5 48,6 4,49 82,3 11,4 1,17 2,33 de 20 a 50 59,8 50,2 4,60 82,2 10,9 1,35 2,61 de 50 a 100 53,1 50,8 4,58 84,2 10,0 1,52 2,95 de 100 a 500 43,5 51,7 4,92 82,8 10,1 1,87 3,52 de 500 a 2000 31,0 51,7 5,56 82,3 9,3 2,47 4,58 2000 e mais 6,3 44,0 5,55 86,3 8,0 1,57 3,75 Total 45,0 49,4 4,88 83,5 9,9 1,58 3,15

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Características dos domicílios segundo a situação e a ocupação da família

Considerando os três tipos de domicílios selecionados, apresentam-se a seguir os mesmos indicadores da seção anterior.

Inicialmente, a tabela 9 dá a distribuição do universo pesquisado entre os três tipos de domicílio, chamando a atenção o fato de que 57,2% das pessoas ocupadas na agricultura paulista residem em zonas urbanas, e que 62% dos moradores da área rural estão em domicílios em que não há ocupados agrícolas. Na tabela 10, pode-se observar que, dos moradores em domicílios urbanos com ocupações agrícolas, 63,2% dos ocupados estão nesse tipo de atividade.

Tabela 9

Domicílios rurais e agrícolas urbanos, moradores e pessoas ocupadas na agricultura, segundo o tipo de domicílio no estado de São Paulo em 2000.

Tipo de domicílio Domicílios % Moradores % Ocupados na agricultura % Rural agrícola 223.052 22,8 909.999 23,6 335.197 42,8 Rural não-agrícola 402.883 41,2 1.482.683 38,4 0 0 Agrícola urbano 351.237 35,9 1.465.435 38,0 447.244 57,2 Total 977.172 100,0 3.858.117 100,0 782.441 100,0 Fonte: IBGE,2002

Os domicílios com maior escolaridade média, maior rendimento do trabalho (3,52 S.M. por pessoa ocupada) e maior participação das aposentadorias na renda são os rurais não-agrícolas, confirmando a associação, verificada em outros trabalhos, entre atividades não-agrícolas (a chamada pluriatividade), maior escolaridade e maior renda. Já a renda total per capita é maior nos domicílios urbanos (1,77 S.M. per capita).

Tabela 10

Características de renda e ocupação nos domicílios rurais e agrícolas urbanos, segundo o tipo de domicílio no estado de São Paulo em 2000.

Tipo de domicílio Ocupados agrícolas/ total de pessoas ocupadas (%) Média de anos de estudo por pessoa de 7 anos e mais Rendimento do trabalho principal/ total dos rendimentos (%) Rendimento das aposentadorias / total dos rendimentos (%) Rendimento per capita, em salários mínimos Rendimentos de todos os trabalhos/ pessoa ocupada, em salários mínimos Rural agrícola 80,7 4,29 86,1 8,1 1,26 2,42 Rural não-agrícola 0 5,07 80,6 12,2 1,47 3,52 Agrícola urbano 63,2 4,83 84,6 9,0 1,77 3,15 Total 48,0 4,79 83,4 10,0 1,53 3,08 Fonte: IBGE,2002

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Pela tabela 11, os três tipos de domicílios aparecem com alta representatividade em todas as faixas de densidade demográfica, com exceção da última, mas a proporção dos rurais não-agrícolas cresce continuamente da primeira até a quinta classe de densidade (de 20% para 46%). É notável que os domicílios urbanos em que há ocupados agrícolas (“agrícolas urbanos”) apareçam praticamente com a mesma importância nas cinco primeiras classes de densidade (variando entre 40% e 49%), sugerindo que mesmo nas regiões menos densas ou mais afastadas dos grandes centros urbanos muitas pessoas ocupadas na agricultura preferem residir na cidade. De um lado, isto pode estar refletindo um fenômeno real de presença ainda grande dos trabalhadores volantes ou bóias-frias na agricultura paulista, os quais geralmente moram nas periferias das cidades; de outro lado, a definição de cidade no Brasil, sem limites de densidade demográfica ou de outras características, pode dar uma falsa impressão sobre os locais de moradia desses trabalhadores. Muitos vilarejos no interior, sem infra-estrutura, serviços e facilidades próprios de uma verdadeira cidade, são classificados pelo IBGE como áreas urbanas, como mostrou Veiga (2002). Na classe de mais de 2.000 hab/km2, 91% dos domicílios selecionados foram classificados como rurais não-agrícolas, indicando que nessas áreas metropolitanas o rural é uma extensão das atividades urbanas, pouco dependendo da agricultura.

Tabela 11

Distribuição dos moradores por tipo de domicílio nas classes de densidade demográfica dos municípios no estado de São Paulo em 2000. (% de moradores)

Classes de densidade (pessoas/km2)

Rural agrícola Rural não-agrícola Agrícola urbano Total

Menos de 20 39,3 20,5 40,2 100,0 de 20 a 50 33,5 21,6 44,9 100,0 de 50 a 100 26,2 25,1 48,7 100,0 de 100 a 500 22,3 32,8 45,0 100,0 de 500 a 2000 13,0 45,7 41,3 100,0 2000 e mais 0,9 91,0 8,1 100,0 Fonte: IBGE,2002

Conclusões

Vários autores apontam, em diferentes países, a complementaridade entre o desenvolvimento rural e o urbano, tendo em vista, entre outros, os seguintes fatores: a) as externalidades negativas geradas pelo crescimento urbano, que impelem empresas e moradores urbanos a buscar melhores condições de atividade e de vida nas áreas rurais; b) os limites do crescimento do emprego na agricultura, que geram os fenômenos de agricultura em tempo parcial e pluriatividade, trazendo ocupações não-agrícolas para as famílias rurais; c) as políticas de desenvolvimento rural, sobretudo na Europa, que passam a ter um enfoque territorial, de valorização do meio ambiente e de outras funções para o meio rural (a construção e preservação da paisagem, por exemplo).

Neste trabalho procuramos relacionar a urbanização do estado de São Paulo, a partir de uma medida-síntese expressa na densidade demográfica, com algumas características dos domicílios rurais e dos domicílios agrícolas urbanos, como a renda e as ocupações agrícolas.

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A análise mostrou, por exemplo, que as rendas per capita e do trabalho e a escolaridade crescem com a densidade populacional, mas somente até um certo ponto; nos municípios com densidade acima de 2.000 hab/km2 a renda é menor que em outras faixas de densidade; nesse tipo de município constatou-se que 91% dos domicílios selecionados são rurais sem nenhuma atividade agrícola.

Esse crescimento da renda e da escolaridade permite concluir que a urbanização favoreceu o desenvolvimento rural em São Paulo, embora a metropolização coloque um limite a essa relação positiva.

Os domicílios com menor renda e menor escolaridade são os que ficaram no “rural-agrícola”, menos afetados, portanto, pelos efeitos diretos da urbanização. O maior peso das ocupações agrícolas, às quais se associam em média menores rendimentos, por sua vez, aparece nos municípios de menor densidade demográfica, que tendem, como se sabe, a ser mais “rurais”.

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Referências

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