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Quanto custa o trabalho invisível das mulheres? Uma análise atuarial do valor do benefício previdenciário que elas teriam direito

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Academic year: 2021

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Resumo

Este trabalho tem como objetivo verificar qual o custo do trabalho realizado a mais pelas mulheres ao longo da sua vida laborativa e estimar o valor do benefício previdenciário que a elas teriam direito, pelo tempo de 5 anos, 20 anos e pela vida toda, sob a condição de que esse trabalho a mais representa uma prestação de serviço à sociedade brasileira. Para tanto, utilizou-se os dados da dissertação de mestrado de Felix (2017), da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2014 e do Infologo do Ministério da Previdência para o ano de 2014. Inicialmente, estimou-se o custo do trabalho extra feminino, multiplicando o valor da hora trabalhada de uma empregada doméstica formal, no ano de 2014, pelo tempo de trabalho excedente das mulheres em 2014, calculado por Felix (2017). Cabe ressaltar que esse tempo excedente corresponde à diferença entre o tempo médio total de trabalho (tempo no trabalho remunerado mais o tempo com afazeres domésticos) das mulheres em relação ao dos homens. Por meio do cálculo do valor presente atuarial, estimou-se o valor desse trabalho extra realizado por uma mulher dos seus 20 anos aos 60 anos. Em seguida, estimou-se qual benefício essa mulher teria direito a partir dos 60 anos por 5 anos, 20 anos e vitalício. Além disso, esses benefícios foram comparados com o valor do benefício médio pago pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) às mulheres no ano de 2014. Os resultados demonstram que o trabalho dedicado a mais pelas mulheres que realizam dupla-jornada lhes garante um benefício por 20 anos bem próximo do valor médio do benefício do RGPS pago às mulheres no ano de 2014. Esse resultado evidencia que o bônus 5 anos previdenciário das mulheres é bastante inferior ao que lhe poderia ser proporcionado, caso o trabalho prestado por elas à sociedade brasileira fosse reconhecido pelo Estado e remunerado como um benefício na velhice.

Palavras-chave: Afazeres Domésticos; Contribuição; Benefícios; Previdência; Bônus Previdenciário.

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INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, as relações de gênero tem sido pauta de discussões em diversos países do mundo, inclusive no Brasil. De acordo com Silva et al (2014), historicamente as mulheres tiveram as suas capacidades subjugadas, as atividades femininas se resumiam principalmente em serviços dentro do espaço privado, com o cuidado do domicílio e da família. Já as atividades masculinas se expandiam ao espaço público e os homens eram responsáveis por trazer rendimentos para dentro de suas casas.

Antes mesmo da revolução industrial as mulheres passaram a se inserir no mercado de trabalho, mas após esse período, a quantidade de mulheres no mercado de trabalho aumentou consideravelmente, conforme foi mudando as necessidades sociais das famílias (BAYLÃO; SCHETTINO, 2014). Entretanto, o trabalho remunerado adequado para as mulheres, na visão da sociedade, da família e da escola, era aquele que permitia conciliar a carreira com os cuidados da família e do domicílio (BRUSCHINI, 1994). Consequentemente, as mulheres buscavam trabalhos que exigiam menor instrução e, por isso, pagavam menores salários e a maioria era informal. Essa realidade vem mudando com o passar dos tempos, as mulheres vêm aumentando a sua escolaridade, adentrando cada vez mais no mercado de trabalho formal e adquirindo uma carga horária de trabalho remunerado tal qual a dos homens (BRUSCHINI, 1994).

A conciliação do trabalho dentro e fora de casa faz com que as mulheres tenham uma jornada de trabalho maior que a dos homens. O trabalho dentro de casa geralmente é invisível para grande parte da sociedade, mas é de grande importância, visto que, o cuidado com crianças e idosos de acordo com a nossa Consituicão de 1988 deveria ser assumido, em partes, pelo Estado. Por exemplo, o Estado deveria oferecer creches para todas as crianças entre 0 e 6 anos. Contudo, essa realidade ainda está distante no Brasil e as mulheres são as que assumem a maior parte desse trabalho. Consequentemente, elas saem com maior frequência do mercado de trabalho e/ou se sujeitam a relações de trabalhos mais precárias, por isso, os salários delas geralmente são menores e/ou o tempo de contribuição é reduzido. Essa realidade penaliza as mulheres tanto na sua vida laborativa, com menores rendimentos, como na sua velhice, com baixos benefícios ou ausência dele.

Segundo Marri (2009), a diferença de gênero dentro do mercado de trabalho não se restringe apenas às ocupações, mas estão presentes também nas

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remunerações. Como os serviços com afazeres domésticos não entram na contabilização das contribuições previdenciárias, as mulheres deixam de acumular um valor significativo que poderia acrescentar no seu benefício futuro de aposentadoria. Ampliando as diferenças de gênero nos quesitos salários e contribuições, dando maior poder a quem ganha mais, nesse caso, os homens.

Sendo assim, o que impulsionou a realização deste trabalho foi a seguinte questão: se o tempo excedente de trabalho das mulheres, devido a dupla jornada, fosse revertido pelo Estado em benefícios previdenciários, quanto em valor de benefício elas teriam direito e por quanto tempo?

Para alcançar objetivo deste estudo, apresentamos um breve histórico dos diferenciais de gênero observados no mercado de trabalho e nos afazeres domésticos. Além disso, pretende-se apresentar os resultados de Felix (2017) sobre o total de horas trabalhadas a mais pelas mulheres ao longo da vida por idade, como consequência dos cuidados domésticos e precificá-las. O custo do trabalho excedente foi precificado conforme o custo do trabalho doméstico remunerado. Por último, estiou-se o valor preestiou-sente atuarial do trabalho excedente realizado por uma mulher média dos seus 20 aos 60 anos e o benefício futuro que essa mulher média teria direito por 5 anos, 20 anos e por toda a vida. De posse desses resultados, realizamos uma breve discussão na tentativa de avaliar se as vantagens nas regras previdenciárias para mulheres são capazes de compensar a dupla-jornada de trabalho vivenciada por elas ao longo da vida.

Histórico

No Brasil, de acordo com Dedecca (2005), entre 1940 e 1950, a regulamentação das relações e do mercado de trabalho foi estabelecida, sendo mais conhecida como CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) e, a partir de então, houve a implantação de salário mínimo e leis de regulação do trabalho.

Tais leis, naquele período em que se predominava o trabalho agrícola, proporcionou aos trabalhadores brasileiros um leque de benefícios sociais. Porém, ao mesmo tempo, Vargas, com a tutela dos sindicatos, fazia com que as negociações se tornassem extremamente burocráticas, reconhecendo assim, os direitos das empresas privadas, como explica DEDECCA (pág. 100, 2005):

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"O peso limitado dos trabalhadores urbanos organizados naquele mercado de trabalho favoreceu a ação repressiva e de manipulação política da Era Vargas, garantindo que a posição contraditória do modelo de regulação não se constituísse em entrave ao seu projeto político. Ao contrário, ele se aproveitou dessa contradição para vender a imagem de pai dos pobres‟. (DEDECCA, pág. 100, 2005).

Até o período de 1980, grande parte dos trabalhadores não tinha acesso ao sistema previdenciário. Após o período da Era Vargas, o país teve governos autoritários que não permitiam movimentações dos sindicatos para ampliar as vantagens dos trabalhadores. Passada a fase em que o país estava sob o comando desses regimes autoritários entre as décadas de 60 e 80, já no período de redemocratização, viu-se a necessidade da implantação de uma nova Constituição Nacional, a fim de promover um desenvolvimento econômico e social para o Brasil (DEDECCA, 2005).

Durante a última década desses regimes autoritários, começaram a surgir movimentos feministas em busca de melhores oportunidades de empregos e igualdades entre os gêneros. Por conseguinte, analisando diversos textos sobre esses estudos, como o de Phobst (2003), Baylão e Schettino (2014) e Barbosa (2014), percebe-se que as mulheres vêm conseguindo, nas últimas décadas, ampliar seus espaços no mercado de trabalho remunerado. Na década de 1990, a mulher brasileira deixou de ser apenas dona de casa para se tornar responsável também pela renda da família. Segundo dados de uma pesquisa da PNAD (Pesquisa nacional por Amostra de Domicílios) no ano de 1999 as mulheres já representavam 41,1% da população que trabalhava (PROBST, 2003). Segundo Lavinas (2005), de acordo com o histórico da taxa de atividade feminina e masculina, através dos dados da PNAD de 1981 e 2013, as mulheres saírem de 26,6% no início da década de 80 para 54,6% em 2013, ao passo que a taxa de atividade dos homens teve um aumento de 72,4% em 1981 para 77,3% em 2013. Apesar dessa inserção no mercado de trabalho, as mulheres continuam com a responsabilidade dos cuidados com a família e o domicílio, segundo a pesquisa de Probst (2003), 90% dos casos dessas mulheres que trabalham fora de casa também realizam o trabalho no interior de suas casas, os afazeres domésticos.

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ampla e diversificada, com um leque de tarefas classificadas como manuais, como por exemplo, limpar a casa, lavar e passar roupa, cozinhar, entre outras, e tarefas não manuais como o cuidado com filhos, com os idosos e os doentes, além de administrar a casa e o cotidiano doméstico e familiar.

Ao longo da história da sociedade as mulheres tiveram seus papeis definidos com base na maternidade e na realização de afazeres domésticos. Em contrapartida, os homens ficaram responsáveis por exercer seu papel no âmbito do poder econômico e na esfera pública. Tal fundamentação acarretou ao longo dos séculos, uma divisão sexual do trabalho e que vem mudando com o passar dos tempos (MELO, CONSIDERA E SABBATO, 2007).

Diversos fatores contribuem para a divisão do tempo e do trabalho, como os sociais, econômicos e demográficos. No Brasil, um fator de grande importância é o envelhecimento populacional, havendo um aumento no número absoluto e proporcional de idosos, porém, sem haver nenhum investimento em políticas públicas que proporcionem cuidados com eles. Nisso, as mulheres da família ficam encarregadas desses cuidados, ampliando ainda mais o trabalho realizado por elas no âmbito de suas casas (SOARES e SABOIA, 2007).

Nas últimas décadas do século XX e com o aumento do acesso à educação por parte das mulheres, elas passaram a questionar velhos estereótipos. O que acarretou no aumento do número de mulheres no mercado de trabalho e na representação política do Brasil, de acordo com Melo, Considera e Sabbato (2007). Entretanto, mesmo com toda essa participação, a mulher ainda continua tendo que se dividir entre o ambiente dentro e fora de suas casas.

Com essas mudanças ocorrendo entre as mulheres, deveria haver uma mudança histórica também entre os homens. Porém isso não aconteceu na mesma proporção. As mulheres apenas mantiveram as horas dedicadas ao trabalho reprodutivo e acrescentaram as horas de trabalho dedicadas ao trabalho produtivo. Adquirindo assim, uma grande carga de trabalho, às vezes por necessidade financeira e em outras o desejo de mudar o papel das mulheres na sociedade.

A entrada da mulher no mercado de trabalho não significa que elas vão abandonar os afazeres domésticos. De acordo com uma pesquisa feita por Soares e Saboia (2007) através dos dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD) de 2001 e 2005, entre as mulheres ocupadas, 92% cuida dos afazeres domésticos e os homens na mesma classe tem o percentual de apenas 51,6%, e as

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mulheres chegam a dedicar mais que o dobro do tempo dos homens aos afazeres domésticos. Ainda sobre a pesquisa de Soares e Saboia (2007), mostra que no mercado de trabalho a jornada delas chega a ser menor, 34,7 contra 42,9 horas semanais dos homens. Entretanto, verificou-se também que, se for considerar o tempo gasto por dia somando o trabalho doméstico e o trabalho produtivo, as mulheres trabalham em média 11,5 contra 10,6 horas por dia para os homens.

Essa desigualdade no tempo de trabalho diário entre homens e mulheres, visto através da pesquisa de Soares e Saboia (2007), acentua ainda mais as desigualdades. De acordo com o relatório divulgado pela ONU em 2015, “O Progresso das mulheres no Mundo”, as mulheres recebem uma remuneração menor que a dos homens até mesmo quando desempenham o mesmo tipo de trabalho e a mesma escolaridade, e isto para todas as partes do planeta: a média mundial é que os salários das mulheres sejam em torno de 24% menor que ao salário dos homens (FÉLIX, 2017). Além disso, pelos afazeres domésticos elas não recebem remuneração e não possuem benefícios trabalhistas garantidos.

Félix (2017), na sua dissertação, calculou o tempo total do trabalho, como sendo o somatório das horas dedicadas ao trabalho remunerado com o tempo dedicado aos afazeres domésticos, para homens e mulheres brasileiras, por faixas etárias decenais, no ano de 2014. Esse cálculo foi obtido através dos Microdados da PNAD. Todas as faixas etárias demonstraram que mesmo descontando o tempo a mais que os homens se dedicam ao trabalho remunerado, o tempo de trabalho total da mulher é mais do que o dobro do tempo dos homens. E essa realidade mais do que compensa o excedente do tempo dedicado por eles no trabalho remunerado. Sendo esse tempo extra advindo dos afazeres domésticos.

A autora chegou aos resultados apresentados na Tabela 01 dos anexos. Na primeira faixa etária analisada, dos 10 aos 19 anos, o valor total das horas trabalhadas durante a semana nos afazeres domésticos e no trabalho remunerado para os homens foi de 39,57 horas e para as mulheres, 45,48 horas, uma diferença semana de 5,91 horas trabalhadas a mais pelas mulheres. Tempo esse que chega a 283,68 horas anuais de trabalho a mais pelas mulheres.

Para a faixa dos 20 aos 29 anos, Félix (2017) observou 51,06 horas de trabalho total para homens e para as mulheres, 55,11 horas semanais. A diferença entre essas horas é de 4,05 horas por semana e 194 horas anuais de trabalho realizado pelas mulheres a mais do que os homens. Já na faixa seguinte, 30 a 39

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anos, os homens trabalharam em média 52,68 horas totais por semana, enquanto as mulheres trabalharam 58,10 horas totais, o que mostra uma divergência de 5,42 horas na semana e 260,16 horas anuais.

Já dos 40 até os 49 anos, as mulheres tiveram 58,17 horas semanais de trabalho total, uma diferença de 5,06 horas considerando o tempo semanal de 53,11 horas trabalhadas pelos homens, o que equivale a 242,88 horas anuais a mais para elas. Felix (2017) também concluiu que para as idades dos 50 aos 59 anos, os homens trabalharam no total 52,38 horas semanais, 5,71 horas a menos contando às 58,09 horas trabalhadas pelas mulheres. Nas faixas etárias 60 a 69 anos e 70 anos ou mais essa diferença foi de 218,88 e 220,80 horas anuais a mais para as mulheres, respectivamente.

Toda essa diferença do tempo total anual foi de extrema importância para a efetivação deste trabalho, já que esse tempo extra trabalhado pelas mulheres durante toda a sua vida equivale ao tempo a mais que elas dedicam aos afazeres domésticos, e grande parte deste serviço pode ser considerado como benefícios à sociedade brasileira. Esse tempo deve ser reconhecido nas políticas sociais, principalmente aquelas dedicadas aos idosos, uma vez que não seria justo desamparar as mulheres, que tanto se dedicam aos cuidados da população brasileira, no momento de sua velhice, quando mais necessitam do amparo da sociedade.

Trabalho doméstico vale remuneração?

Durante as últimas décadas do século XX os indicadores das pesquisas não representavam a real contribuição da mulher para o país. Nas décadas de 70 e 80 o levantamento do Censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Demografia e Estatísticas) considerava os trabalhos domésticos como inatividade econômica. As pessoas que realizavam essas atividades, em sua grande maioria mulheres, eram colocadas no mesmo patamar de estudantes, aposentados, inválidos e quem vive de renda (BRUSCHINI, 2006).

Mesmo com a quantidade expressiva de trabalho realizado por mulheres de todas as classes sociais dentro da categoria afazeres domésticos, esse trabalho ainda ser considerado como inatividade é mais um fator que torna invisível esse serviço tão essencial para a sociedade como um todo. Por conta disso, é de extrema necessidade a ampliação de pesquisas sobre essas horas gastas nos serviços domésticos pelas mulheres.

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Um passo importante no avanço da análise desses números foi o acréscimo na pesquisa da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2001, de duas novas perguntas ao questionário: A questão 121 “Na semana de 23 a 29 de setembro de 2001, cuidava dos afazeres domésticos?” e a questão 121-a (Para quem respondeu sim na questão 121) “Quantas horas dedicava normalmente por semana aos afazeres domésticos?” (BRUSCHINI, 2007).

O registro desses dados se tornou útil para mostrar que as tarefas domésticas se caracterizam pela simultaneidade, multiplicidade e fragmentação além de consumir grande parte do tempo feminino (BRUSCHINI, 2007). Porém, apesar da grande importância de se estudar sobre o tema, a dificuldade em obtenção de métodos para precificar esse tempo gasto nos afazeres doméstico não teve avanço significativo.

De acordo com o relatório criado em 1995 para a IV Conferência da mulher em Pequim, "não há nenhuma razão para que atividades como criar os filhos, cozinhar, cuidar da casa e outras não sejam valorizadas." (BRUSCHINI, 2007). Com isso é feita uma análise para verificar a estimativa de uma possível contribuição invisível do tempo gasto por homens e mulheres aos serviços domésticos. O relatório propõe que a categoria trabalho passe a considerar o tempo gasto em horas por homens e mulheres no mercado de trabalho, ao invés de contar apenas o número de participantes desse mercado.

Os estudos sobre a divisão de homens e mulheres no trabalho não obtiveram dificuldades para mostrar a ligação do trabalho remunerado e o não remunerado (BRUSCHINI, 2007). Essa análise, juntando a esfera da produção econômica e da reprodução social, permitiu ver as consequências para as mulheres das obrigações domésticas que recaem sobre elas. Limitando a sua vida profissional, com carreiras descontinuas, salários mais baixos e empregos de menor qualidade para poderem, assim, conseguir dividir seu tempo entre o trabalho produtivo e o reprodutivo.

Essa divisão de trabalho consiste em serviços mercantis e não mercantis, o primeiro deles tem por objetivo a venda no mercado por um preço que cubra os custos de sua fabricação. Já os não mercantis são os fornecidos ao coletivo de forma gratuita ou por um preço simbólico. Os afazeres domésticos são classificados como serviços não mercantis. E os trabalhadores que exercem esses serviços têm seu valor medido por base nas remunerações dos autônomos encarregados dessas atividades, excluindo o serviço doméstico sem remuneração das contas nacionais que medem os bens e serviços, o que é dito por MELO, CONSIDERA e SABBATO (pág. 445, 2007):

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"No caso do trabalho doméstico observa-se que, quando exercido por terceiros, seu valor equivale ao valor de sua remuneração. Entretanto, quando exercido por alguém da própria família ele não é computado nas contas nacionais. (...) Adicionalmente, do ponto de vista do mercado de trabalho, as pessoas que exercem apenas afazeres domésticos – as donas- de-casa, sequer são consideradas como força de trabalho (PEA) – são classificadas como população inativa." (MELO, CONSIDERA e SABBATO pág. 445, 2007).

O autor da citação acima, conclui dizendo que se os afazeres domésticos fossem considerados nas contas nacionais deveriam ser tratados como produção de serviços não mercantis produzidas pelas famílias. Cujo valor da produção deveria ser medido de forma idêntica aos serviços domésticos remunerados.

Contabilizar o valor dos afazeres domésticos traria uma maior visibilidade à importância desse serviço, realizado em sua grande maioria por mulheres, já que as mesmas prestam para o país uma economia nos serviços ofertados às crianças e aos idosos.

De acordo com Melo, Considera e Sabbato, (2007) se o trabalho doméstico fosse contabilizado financeiramente como renda gerada para o setor de serviços para serem somados ao PIB (Produto Interno Bruto), a participação dos afazeres domésticos no PIB corresponderia a uma média de 10%, de acordo com as pesquisas realizadas a partir da PNAD de 2001, O que, em valores, aumentaria o PIB de 2001 em R$ 148,7 bilhões.

Caso esse crescimento do PIB se mantivesse constante e como as horas ocupadas pelas mulheres correspondem à 82% do valor do mesmo, então o valor que as mulheres teriam acumulados para o PIB de 2006 era de R$ 213 bilhões (MELO, CONSIDERA e SABBATO, 2007). Após essa constatação de valores, cabe a pergunta: os benefícios que as mulheres possuem a mais no sistema previdenciário já não suficientes para compensar a dupla jornada de trabalho exercida por elas?

MATERIAIS E MÉTODOS

Para poder averiguar o custo do trabalho doméstico realizado a mais pelas mulheres durante sua vida laborativa é necessário estimar o tempo a mais de trabalho

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realizado por elas e o valor desse tempo. O tempo a mais trabalhado por elas foi estimado por Félix (2017) conforme descrito na revisão da literatura. Para essa estimação ela usou como fonte de dados a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2014 (PNAD). A pesquisa amostral é realizada com o objetivo de obter informações referentes às características socioeconômicas e demográficas da população brasileira, dos seus estados e das nove regiões metropolitanas.

Félix (2017) considera em sua pesquisa as pessoas acima de 10 anos que estavam trabalhando na semana de referência, que cuidavam de afazeres domésticos. Além disso, a autora elaborou uma Tabela que mostra a média das horas trabalhadas por semana e anos com as diferenças por tempo, sexo e faixas etárias, considerando o trabalho remunerado e os afazeres domésticos. Sendo essa Tabela de fundamental importância para a elaboração desse trabalho, já que visamos estimar a remuneração das horas trabalhadas a mais pelas mulheres no trabalho total.

Para chegar ao custo da hora excedente total trabalhada pelas mulheres nos afazeres domésticos também foram usados os microdados da PNAD 2014, referentes aos salários mensais das empregadas domésticas, por faixa etária, que contribuíram para o sistema previdenciário naquele ano.

Para a estimação do valor presente atuarial do montante advindo do trabalho a mais realizado por uma mulher a partir dos seus 20 anos até os 60 anos, do valor presente do benefício que ela teria direito em 5 anos, em 20 anos e em toda sua vida, utilizou-se a Tabua de Sobrevivência do IBGE 2010 Feminina e a suposição de uma taxa de crescimento de 4%, i = 0,04, valor esse que é utilizado nas previdências complementares.

Por último, utilizou-se os dados do Infologo do Ministério da previdência (2017) para estimar o benefício médio de aposentadoria para homens e mulheres em 2014, para servir de comparação aos resultados gerados neste estudo.

Após a obtenção dos dados necessários para o desenvolvimento deste trabalho, a primeira coisa a ser feita foi estimar o custo da hora excedente do tempo de trabalho total. Para isso, foram utilizados os dados obtidos na tabela elaborada por Félix (2017), na qual ela encontrou o número das horas semanais e anuais excedentes realizadas pelas mulheres no trabalho total, que corresponde à soma do tempo do trabalho remunerado com o tempo gasto com os afazeres domésticos. Em seguida, com os dados da PNAD 2014, e realizando analises descritivas, através do Software Estatístico IBM SPSS, obteve-se o valor mensal médio dos salários de mulheres,

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empregadas domésticas e contribuintes, por faixas de idades. Essa forma de precificação do afazer doméstico foi proposta por Melo, Considera e Sabbato, (2007). Cabe destacar que o tempo de trabalho semanal era necessário para se chegar ao custo da hora trabalhada, por esse motivo, optou-se por domésticas formais, pois elas precisam cumprir uma jornada de trabalho de 44 horas semanais.

I – Estimou-se o salário médio semanal das empregadas domésticas: EQ 01:

𝑆𝑀𝑆 =𝑆𝑀𝑀 4 Em que:

SMS = Salário Médio Semanal SMM = Salário Médio Mensal

II – Estimou-se o salário médio por hora das empregadas domésticas, considerando que elas trabalham 44 horas semanais:

EQ 02:

𝑆𝑀𝐻 =𝑆𝑀𝑆 44 Em que:

SMH = Salário Médio por Hora SMS = Salário Médio Semanal

Após a obtenção dessas duas estimativas para cada faixa de idade, e fazendo uso da diferença das horas trabalhadas a mais para as mulheres no âmbito semanal e mensal, para cada faixa etária, foi possível chegar à precificação desse serviço excedente realizado pelas mulheres no trabalho total semanal, mensal e anual. III - Calculou-se o custo extra semanal para o total de horas excedentes: EQ 03:

𝐶𝐸𝑆 = 𝑆𝑀𝐻 × 𝑇𝐸𝑆 Em que:

CES = Custo Extra Semanal SMH = Salário Médio por Hora TES = Tempo Excedente Semanal

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EQ 04:

𝐶𝐸𝑀 = 𝐶𝐸𝑆 × 4 Em que:

CEM = Custo Extra Mensal CES = Custo Extra Semanal

V - Calculou-se o custo extra anual para o total de horas excedentes: EQ 05:

𝐶𝐸𝐴 = 𝐶𝐸𝑀 × 12 Em que:

CEA = Custo Extra Anual CEM = Custo Extra Mensal

De acordo com esses resultados disponíveis conseguiu-se chegar no ponto desejado: precificar, com base no trabalho de domésticas contribuintes, em cada faixa etária, o valor da hora dedicada aos afazeres domésticos. Através dos dados obtidos pelo trabalho de Félix (2017) e juntamente com a média mensal do salário das empregadas domésticas de cada faixa etária, chegou-se ao custo do trabalho excedente das mulheres em 2014. O passo seguinte desse projeto foi estimar o valor presente atuarial do trabalho prestado por uma mulher de 20 anos até os seus 60 anos para a sociedade brasileira. Para esse cálculo, utilizou-se o modelo de capitalização que permite esse tipo de estimação, diferentemente do modelo de repartição simples.

Após chegarmos a esse valor contribuído durante 40 anos, referentes às horas excedentes de trabalho doméstico de uma mulher, o passo seguinte foi obter, também através de cálculos atuariais, o valor presente atuarial de um benefício de aposentadoria por 5 anos, 20 anos e pela vida toda.

Para focar ainda mais na importância desses serviços realizados pelas mulheres em benefício da sociedade, fez-se uma projeção através de cálculos atuariais das anuidades temporárias, que são pagamentos realizados por determinado tempo e tragos a valor presente, de cada faixa etária para a obtenção do valor das contribuições que seriam feitas por uma mulher ao sistema de previdência durante a simulação de 40 anos realizando esse trabalho total extra.

VI – O cálculo do valor presente atuarial dessa contribuição à sociedade se deu através da equação:

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EQ 06:

𝐶 = (𝑎20:10× 𝑇𝐸𝐴 × 𝐶𝐻) + (𝑉10× 𝑃2010× 𝑎30:10× 𝑇𝐸𝐴 × 𝐶𝐻)

+ (𝑉20× 𝑃2020× 𝑎40:10× 𝑇𝐸𝐴 × 𝐶𝐻) + (𝑉30× 𝑃2030× 𝑎50:10× 𝑇𝐸𝐴 × 𝐶𝐻) Em que:

C = Valor Presente das Contribuições Futuras a = Anuidade Temporária

TEA = Tempo Extra Anual CH = Custo Hora

V = Taxa de desconto

P = Probabilidade de Sobrevivência

Depois de chegar ao valor da contribuição, nessa simulação, chegamos ao objetivo final desse projeto, o valor de um benefício previdenciário para o tempo de 5 anos, 20 anos e vitalício. No qual, o valor desse benefício vem para mostrar se o bônus previdenciário de 5 anos a menos de contribuição "dado" às mulheres é justo ou não.

VII – O cálculo do valor presente atuarial do benefício é:

EQ 07:

𝐵 = 𝐶

(𝑉40× 𝑃2040× 𝑎60:5) Em que:

C = Valor Presente das Contribuições Futuras (Obtido na formula anterior) B = Valor do Benefício

V = Taxa de desconto

P = Probabilidade de Sobrevivência a = Anuidade Temporal

No capítulo a seguir, pretende-se mostrar os resultados de cada estimação e de cada cálculo a ponto de explicar cada um dos resultados observados e que sustentam os argumentos da importância dos benefícios previdenciários que as mulheres possuem. Na tentativa de avaliar se tais benefícios se justificam pelo tempo extra do trabalho total que as mulheres dedicam aos serviços domésticos dentro da sociedade brasileira.

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RESULTADOS

Para chegarmos até essa etapa fez-se uso de diversas informações e dados. A partir deles chegamos ao primeiro ponto, saber o valor médio do custo de 1 hora trabalhada em serviço doméstico, realizado por domésticas para cada faixa decenal, no Brasil, em 2014.

De acordo com a Tabela 1, para a faixa de 10 a 19 anos, o salário médio da hora dedicada a serviços domésticos custava em 2014, R$ 4,49 para as mulheres. Com relação às mulheres de 20 a 29 anos, esse valor hora era de R$ 4,94 e para as de 30 a 39 anos, esse valor chegava à R$ 5,04. O custo da hora aumenta com a idade chegando a R$ 6,46 para as mulheres de 60 anos ou mais.

Tabela 01: Média do salário mensal, semanal e por hora das empregadas domésticas, contribuintes, por faixas etárias, Brasil, 2014.

FAIXA ETÁRIA Salário Médio Mensal Salário Médio Semanal Salário Médio por Hora 10 a 19 anos R$ 790,25 R$ 197,56 R$ 4,49 20 a 29 anos R$ 869,42 R$ 217,36 R$ 4,94 30 a 39 anos R$ 887,50 R$ 221,88 R$ 5,04 40 a 49 anos R$ 968,76 R$ 242,19 R$ 5,50 50 a 59 anos R$ 996,90 R$ 249,23 R$ 5,66 60 anos ou mais R$ 1.136,74 R$ 284,19 R$ 6,46 Fonte dos dados básicos: PNAD 2014, IBGE

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juntamente com as horas extras totais anuais dedicadas pelas mulheres aos afazeres domésticos no âmbito de suas casas, calcular o valor do custo médio anual desse serviço realizado a mais por elas, considerando uma faixa etária a cada 10 anos.

O resultado desse valor do custo médio anual das horas extras trabalhadas pelas mulheres está explicitado no Gráfico I, no qual, para a faixa dos 10 aos 19 anos o valor anual de custo dessas horas trabalhadas a mais chega a R$ 1.273,74 para cada ano. Esse valor cai para R$ 960,31 nas faixas de 20 a 29 anos e volta a crescer na faixa dos 30 aos 39 anos, no qual o valor anual desse custo é R$ 1.311,89. Já para a faixa dos 40 aos 49 anos esse valor se mantém quase que igual ao valor da faixa etária anterior, sendo agora no valor de R$ 1.336,89, que fica abaixo do valor do custo extra das mulheres com idades de 50 a 59 anos, que é R$ 1.552,45. Valor esse que cai para R$ 1.413,69 nas idades de 60 anos ou mais. Lembrando que para a obtenção desses valores, foi considerado um valor fixo de custo da hora dedicada aos serviços domésticos e do tempo total extra dedicado aos afazeres domésticos calculado por Felix (2017), expondo no eixo y do gráfico o valor equivalente as horas extras trabalhadas pelas mulheres com relação ao tempo trabalhado pelos homens. Tudo isso, levando em conta os dados do ano de 2014.

Gráfico I: Média do custo extra anual das horas totais trabalhadas, por faixas etárias decenais, mulheres, Brasil, 2014.

Fonte dos dados básicos: PNAD 2014, IBGE

A partir da obtenção desses valores, ligação do custo da hora com a 1.552,45 1.413,69 1.273,74 1.311,89 1.336,89 960,31 10 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 + Faixa Etária

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quantidade de horas extras anuais dedicadas aos afazeres domésticos, e com as informações da tábua de sobrevivência do IBGE 2010, foi possível calcular o valor presente atuarial total das contribuições de uma mulher no período dos seus 20 aos 40 anos para a sociedade brasileira, que se refere ao seu trabalho excedente, derivado exclusivamente dos afazeres domésticos. O que se pretende com essa análise é verificar qual seria o benefício previdenciário que as mulheres teriam direito, se esse trabalho excedente fosse considerado como uma contribuição para o Estado, uma vez que ele não é remunerado nem mesmo reconhecido nas diversas esferas. Inclusive essa análise pode ajudar no debate sobre a proposta da reforma da previdência, que quer desconsiderar a dupla jornada das mulheres como uma justificativa para o seu bônus de 5 anos na aposentadoria por idade e tempo de contribuição.

O valor presente atuarial do montante advindo do trabalho excedente de uma mulher de 20 anos até os seus 60 anos para a sociedade brasileira é de R$ 24.226,48. Esse montante gera benefícios diferenciados, dependendo do tempo previsto para esse benefício.

O Gráfico 2 demonstra como se comporta esse benefício para 5 anos, 20 anos e toda a vida. Além disso, apresenta o benefício médio previdenciário para as mulheres brasileiras em 2014 para a comparação. O resultado do benefício temporário por 5 anos de R$2.393,83 evidencia que o trabalho prestado gratuitamente pela mulher à sociedade brasileira, dos seus 20 aos 60 anos, lhe daria direito a receber um benefício quase 3 vezes maior que o benefício médio previdenciário recebido por elas no ano de 2014. Ou seja, o bônus previdenciário de 5 anos no tempo de contribuição ou na idade de aposentadoria não são suficientes para cobrir o que o seu trabalho não remunerado excedente vale em termos de remuneração do serviço doméstico. Já o benefício temporário por 20 anos de R$ 856,97 se aproxima bastante do benefício médio previdenciário recebido pelas mulheres no ano de 2014 de R$878,47, sugerindo que o trabalho excedente não remunerado realizado pela mulher para a sociedade brasileira lhe daria o direito de um “bônus” de 20 anos. Por fim, o benefício vitalício de R$739,57 pode ser considerado como um benefício assistencial de direito para qualquer mulher que vivencia a dupla-jornada de trabalho, como uma forma de remuneração e reconhecimento de seu trabalho prestado à sociedade. Esse valor é devido, independente de quaisquer contribuições previdenciárias.

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Gráfico II: Benefícios gerados pela contribuição de uma mulher, dos seus 20 aos 60 anos de idade, à sociedade brasileira e o benefício médio previdenciário

das mulheres em 2014.

Fonte dos dados básicos: PNAD 2014, IBGE.

DISCUSSÃO

Este trabalho teve como objetivo estimar o valor de benefício que as mulheres teriam direito e por quanto tempo, se o excedente de trabalho das mulheres, devido a dupla jornada, fosse revertido pelo Estado em benefícios previdenciários. Para tanto, precificou-se as horas totais extras dedicadas pelas mulheres à sociedade, a fim de se chegar a um valor de contribuição e de benefício definido para 5 anos, 20 anos e vitalício.

Os resultados para os benefícios previdenciários mostram que, o trabalho extra realizado por uma mulher média dos seus 20 anos aos 60 anos seria suficiente para arcar com um benefício quase 3 vezes maior do que o benefício médio pago pelo Regime Geral para as mulheres em 2014, por 5 anos. E levando esse montante acumulado para um benefício por 20 anos, o valor fica bem próximo ao benefício pago pelo RGPS. Portanto, se o trabalho extra da mulher fosse reconhecido como uma contribuição para sociedade e, por isso, revertido em remuneração na velhice o bônus previdenciário que a mulher teria direto é de quase 20 anos ao invés dos 5 anos que

2500,00 2.393,83 2000,00 1500,00 1000,00 856,97 878,47 739,57 500,00 0,00

Benefício mensal Benefício mensal Benefício mensal

temporário por 5 anos temporário por 20 anos vitalício

Benefício médio previdenciário para as

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lhes é dado.

É importante reconhecer que a previdência social no Brasil tem caráter contributivo, ou seja, somente aqueles que contribuem tem direito a uma aposentadoria, mesmo que o montante acumulado não tenha sido suficiente para arcar com os benefícios futuros. Isso somente acontece porque não são apenas as contribuições dos trabalhadores e empresas que sustentam a previdência. O trabalho invisível realizado pelas mulheres não gera uma contribuição financeira para o regime de previdência, mas gera para a sociedade como um todo e para o próprio Estado. Nesse sentido, como o Estado, a sociedade e os contribuintes são os financiadores da previdência, não parece injusto permitir que esse trabalho invisível seja reconhecido exatamente no momento da velhice, quando elas mais precisam. Esse reconhecimento ainda é feito em alguma medida, por meio do bônus de 5 anos a menos no tempo de aposentadoria para as mulheres. Contudo, a recente proposta da reforma da previdência tem como um dos objetivos igualar as regras para homens e mulheres, e este trabalho tenta evidenciar que essa proposição desconsidera todas as desigualdades que as mulheres ainda vivenciam ao longo da vida e que o trabalho prestado à sociedade deve ser reconhecido.

Para a realização deste estudo foram utilizados dados de médias, o que para os cálculos é uma limitação, já que elas são medidas que sofrem grande influência de valores extremos. Podendo assim, interferir nos resultados para mais ou para menos, sendo necessário uma base de dados mais completa para poder analisar melhor resultados de pesquisas nessa área.

Portanto, o bônus de tempo para aposentadoria não é dado de “graça” para elas, inclusive esse tempo é bastante inferior ao que lhes caberia, conforme demostra os resultados deste trabalho. Esse resultado suscita questionamentos sobre os próprios direitos das mulheres na sociedade brasileira, colocando em questão a proposta de igualdade de tempo e idade para homens e mulheres nas regras previdenciárias já que, o serviço a mais realizado por elas supre essa diferença de tempo e idade que já existe na atual previdência brasileira.

Uma indicação para trabalhos futuros sobre o tema é a discussão do espaço da mulher e os serviços ofertados por elas para a sociedade fazendo com que sejam mais valorizadas e obtenham mais espaço e voz, sem perder direitos. Além da

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fundamentação e criação de um banco de dados capaz de proporcionar valores completos para a análise dos dados populacionais capazes de traduzir em valores o quanto a dupla jornada acarreta para a vida das mulheres a título de previdência, saúde e bem estar social.

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