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Perceção do suporte familiar e desempenho escolar: estudo comparativo entre adolescentes institucionalizados e adolescentes que vivem com as suas famílias

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Academic year: 2021

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Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Perceção do suporte familiar e desempenho escolar: Estudo comparativo entre adolescentes institucionalizados e adolescentes que vivem com as suas famílias.

SILVANA VIEIRA TEIXEIRA

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Perceção do suporte familiar e desempenho escolar: Estudo comparativo entre adolescentes institucionalizados e adolescentes que vivem com as suas famílias.

SILVANA VIEIRA TEIXEIRA

Dissertação apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para efeitos de obtenção do Grau de Mestre em Psicologia Clínica sob a orientação do Professor Doutor José Carlos Gomes da Costa e a coorientação da Professora Doutora Maria Cristina Quintas Antunes.

Constituição do Júri:

Professora Doutora Ana Paula Vale Professor Doutor Ricardo Barroso Professora Doutora Cristina Antunes

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Índice

Introdução………...5

1. Estudo I: Adaptação do Inventário de Perceção de Suporte Familiar (IPSF) numa amostra de adolescentes portugueses: Estudo da validade fatorial e consistência interna……….…….7

1.1. Resumo………8 1.2. Abstract……….…...9 1.3. Introdução…...……….. 10 1.4. Método………...15 1.4.1. Participantes………15 1.4.2. Instrumento………...16 1.4.3. Procedimentos……….18 1.4.4. Análise Estatística………...19 1.5. Resultados………..20 1.6. Discussão………...22 1.7. Referências………28

2. Estudo II: Perceção do suporte familiar e desempenho escolar: Estudo comparativo entre adolescentes institucionalizados e adolescentes que vivem com as suas famílias.……...34

2.1. Resumo………..35 2.2. Abstract………..36 2.3. Introdução………..37 2.4. Método……….……..43 2.4.1. Participantes………43 2.4.2. Instrumentos……….………...43 2.4.3. Procedimentos……….44 2.4.4. Análise Estatística………...45

(4)

2.5. Resultados……….46

2.6. Discussão………...51

2.7. Referências………57

Considerações Finais………66 Anexos

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Introdução

O suporte social apresenta significativas repercussões ao nível do processo

desenvolvimental de todos os seres humanos no decurso de todo o seu ciclo vital. Segundo Cobb (1976, citado por Cobb & Jones, 1984) a perceção de suporte social consiste na crença que o sujeito possui de que é amado, estimado e aceite pelos que o rodeiam. Esta perceção construída potencializa sentimentos de afeição, valorização, reconhecimento, compreensão, cuidado e proteção (Campos, 2004) pelo que opera como um amortecedor face aos eventos

stressores que permeiam o contexto vivencial do sujeito (Baptista, 2005; Folger & Wright,

2013; Gage, 2013), permitindo desta forma a manutenção do seu ajustamento emocional e comportamental (Baptista, 2007).

O suporte social pode ser outorgado por todos os elementos que interagem com o sujeito nomeadamente familiares, amigos, vizinhos, colegas e professores (Antunes & Fontaine, 2005; Haber, 2010). Estudos na área têm demonstrado que o suporte familiar é o tipo de suporte social mais estável, sendo também o que fomenta maiores benefícios para o salutar desenvolvimento dos sujeitos (Antunes & Fontaine, 2000, 2005; Gülaçti, 2010).

Tendo em conta que a adolescência é uma fase desenvolvimental que se carateriza por um período de vulnerabilidade a nível psicossocial motivado pelas constantes transformações físicas e cognitivas que ocorrem no sujeito (Eccles, 1999; Shaffer & Kip, 2010, 2014), o suporte familiar pode apresentar maior relevância nesta fase. Assim, quando o adolescente se sente amado, estimado e reconhecido no seio familiar revela maiores índices de ajustamento psicossocial (Antunes, 2006; Antunes & Fontaine, 2005) o que facilita a sua socialização e edificação da identidade (Antunes, 2006). Do mesmo modo o suporte social, particularmente o familiar, tem sido comummente associado com o percurso escolar dos jovens, com especial enfoque para o seu desempenho escolar (Carrilho, 2012; Gordon & Cui, 2012; Hopson & Lee, 2011; Oliveira 2010; Witkow & Fuligni, 2011).

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Estudos recentes também têm evidenciado a influência do contexto de desenvolvimento na perceção do suporte familiar e no desempenho escolar dos estudantes. Face ao exposto, a presente investigação baseia-se na Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner (1977) pretendendo um conhecimento mais aprofundado dos principiais microssistemas dos adolescentes — a família, ou na sua ausência a instituição de

acolhimento, e a escola — uma vez que estes contribuem em larga escala para o

desenvolvimento psicológico, comportamental e académico, bem como para a formação da identidade do sujeito, influenciando não apenas o seu percurso vivencial presente mas também futuro.

Assim e tendo em conta as evidências empíricas apontadas pela principal literatura sobre o assunto, o objetivo central da presente investigação é analisar se a perceção do suporte familiar e o desempenho escolar dos adolescentes se encontram relacionados. Para dar resposta a este objetivo inicialmente apresenta-se um estudo de adaptação do Inventário de Perceção de Suporte Familiar de Baptista (2009), a adolescentes portugueses do 6º ao 12º ano de escolaridade, através da análise das suas propriedades psicométricas como sendo a

consistência interna e a estrutura fatorial (estudo I). De seguida procede-se à análise da relação entre a perceção do suporte familiar e o desempenho escolar dos adolescentes, controlando a variável institucionalização, e realiza-se posteriormente a comparação destas duas variáveis em função do contexto de desenvolvimento do adolescente — família ou instituição (estudo II). Importa destacar a existência de uma base de dados comum para os dois estudos pelo que quando necessário procede-se à seleção dos casos e dados a analisar.

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ESTUDO I

ADAPTAÇÃO DO INVENTÁRIO DE PERCEÇÃO DE SUPORTE FAMILIAR (IPSF) NUMA AMOSTRA DE ADOLESCENTES PORTUGUESES: ESTUDO DA VALIDADE

FATORIAL E CONSISTÊNCIA INTERNA.

ADAPTATION OF THE FAMILY SUPPORT PERCEPTION INVENTORY IN SAMPLE OF PORTUGUESE ADOLESCENTS: STUDY OF VALIDITY FACTOR AND

INTERNAL CONSISTENCY.

Silvana Vieira Teixeira José Carlos Gomes da Costa Maria Cristina Quintas Antunes

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Resumo

O suporte familiar tem sido usualmente apontado pela literatura da área como um importante elemento que contribui para o desenvolvimento humano na medida em que condiciona diversas áreas do funcionamento físico e mental dos indivíduos. Este constructo pode ser ainda mais significativo na adolescência devido à grande vulnerabilidade que acomete esta fase desenvolvimental, facilitando o saudável ajustamento biopsicossocial dos jovens. Desta forma, o presente artigo teve como objetivo determinar algumas propriedades psicométricas de um instrumento desenvolvido por Baptista (2009) para avaliar a perceção do suporte familiar, o Inventário de Perceção de Suporte Familiar (IPSF). Para o efeito, procedeu-se ao estudo da sua consistência interna e estrutura fatorial através da análise em componentes principais numa amostra populacional de 350 adolescentes portugueses do 6º ao 12º ano de escolaridade, de ambos os géneros. Os resultados apontam para uma consistência interna bastante satisfatória (α total=.91) do IPSF e, após se ter pedido a extração das três dimensões, a estrutura fatorial revelou-se muito semelhante à original. Conclui-se que esta versão do IPSF parece apresentar qualidades psicométricas satisfatórias quando utilizada em amostras semelhantes à do presente estudo.

Palavras-chave: perceção de suporte familiar, adolescência, consistência interna, análise fatorial.

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Abstract

Family support has usually been pointed out by the referred literature as an important process that contributes to human development affecting several areas of individuals’ physical and mental functioning. Family social support can be even more significant in adolescence due to the high vulnerability of this developmental phase, facilitating healthy psychosocial

adjustment of youngsters. Thus, this study aimed to determine the psychometric properties of an instrument developed by Baptista (2009) to assess the perception of family support, which is the Family Support Perception Inventory (IPSF). To this aim, we proceeded to study its internal consistency and factorial structure throughout principal component analysis in a sample of 350 Portuguese adolescents attending 6th to 12th grade, of both genders. The results indicated that the IPSF had quite satisfactory internal consistency (α = .91) and its factor structure in three dimensions proved to be very similar to the original. It is concluded that this version of IPSF appears to have satisfactory psychometric properties when used on samples similar to the one used in the present study.

(10)

O constructo suporte social tem sido amplamente estudado ao longo dos últimos anos pela importância que acarreta no desenvolvimento físico e mental de todos os sujeitos. Um dos pioneiros no estudo deste conceito foi Cobb (1976, citado por Cobb & Jones, 1984) que definiu a perceção de suporte social como sendo a convicção, por parte do sujeito, de que é amado, estimado e pertencente a redes sociais. Desde então, muitos outros autores se têm debruçado sobre o estudo desta temática e várias aceções tem surgido referentes ao termo suporte social. Para Antunes e Fontaine (2005), o suporte social refere-se ao conjunto de funções que a rede de relações sociais do sujeito executa no sentido de o coadjuvar perante determinados eventos do seu quotidiano e segundo Campos (2004) este resulta da presença de relacionamentos e interações sociais capazes de fomentar no sujeito um sentimento de bem-estar psicológico. Assim, o suporte social pode ser caracterizado como a existência de contactos constantes, próximos e compensadores (Kerr, Preuss, & King, 2006) entre o sujeito e os elementos sociais circundantes, que fortalecem a dinâmica psicológica e contribuem para o desenvolvimento afetivo, físico e cognitivo do sujeito (Gülaçti, 2010). Por sua vez,

Matsuda, Tsuda, Kim, e Deng (2014) defendem que este conceito diz respeito aos recursos materiais e psicológicos de natureza social que dotam o sujeito de estratégias de coping.

Existem três tipos fundamentais de suporte social: o suporte emocional que proporciona aos sujeitos sentimentos de amor, segurança, pertença, compreensão e valorização,

fomentando a sua autoestima; o suporte informacional, que se baseia no aconselhamento, atribuição de feedback e sugestões com vista à resolução dos problemas que o sujeito possui; e finalmente o suporte instrumental, que se configura pelo fornecimento de auxílio e serviços no âmbito das necessidades do sujeito, promovendo assim um decréscimo da sua ansiedade emocional e psicossomática (Haber, 2010). Segundo Oliveira, Mendonça, Coimbra, e Fontaine (2014) é neste último que é incluída a assistência material e financeira.

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Desta forma, o suporte social representa uma “fonte de assistência emocional, informativa e instrumental” (Gage, 2013, p. 406) que pode advir de familiares, amigos, vizinhos, colegas, professores e outros elementos circundantes do contexto do indivíduo (Antunes & Fontaine, 2005; Haber, 2010). Estas interações sociais refletem reciprocidade e afetividade entre as partes envolvidas (Gottlieb & Bergen, 2010), sendo que a quantidade e os efeitos que o suporte acarreta no sujeito difere do interveniente que o fornece (Wang & Eccles, 2012).

Do mesmo modo, o suporte social que é percebido pode divergir do suporte social recebido na medida em que o suporte recebido compreende as ações que os outros executam no sentido de prestar assistência ao sujeito (Barrera, 1986), enquanto o suporte percebido consiste na avaliação cognitiva e subjetiva que este executa com base nos recursos e nas relações que tem disponíveis (Graça, 2008). Embora a principal literatura sobre o assunto evidencie consequências mais significativas referentes ao suporte social percebido em detrimento do suporte social recebido (Goodwin, Costa, & Adonu, 2004), Pierce, Sarason, Sarason, Joseph, e Henderson (1996) argumentam que as duas formas de suporte social se encontram altamente relacionadas uma vez que a perceção construída pelo indivíduo estará sujeita às interações estabelecidas com os outros.

O suporte social assume uma ampla importância no desenvolvimento do ser humano ao longo de todo o ciclo vital. Nesta perspetiva, são vários os estudos que evidenciam a

relevância deste constructo em várias áreas do funcionamento físico e mental dos indivíduos. No que concerne à saúde física, a literatura existente tem demostrado que a presença de suporte social principalmente proveniente das pessoas significativas para o sujeito é um recurso profícuo que promove o ajustamento perante o diagnóstico de doenças crónicas (Alonso, Muszkat, Yacubian, & Caboclo, 2010; Baker, Owens, Stern, & Willmot, 2009) pois facilita o processo de readaptação face as circunstâncias de vida emergentes (Rigotto, 2006) e

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mitiga os índices de ansiedade a elas associados (Wodka & Barakat, 2007). Simultaneamente o suporte social apresenta inúmeros benefícios na saúde psicológica do sujeito, uma vez que contribui para o incremento de sentimentos positivos sobre si, nomeadamente ao nível do autoconceito e da autoestima (Antunes, 2006; Antunes & Fontaine, 2005; Arslan, 2009; Rueger, Malecki, & Demaray, 2010). De igual modo, o suporte social promove a redução de sintomas depressivos (Rueger et al., 2010) e de stress (Campos, 2004), a satisfação com a vida (Matsuda et al., 2014; Siedlecki, Salthouse, Oishi, & Jeswani, 2013) e o bem-estar subjetivo (Campos, 2004; Siedlecki et al., 2013), o que estimula uma maior significação e valorização perante a vida (Aragão, Vieira, Alves, & Santos, 2009). Neste sentido, o sentimento de proteção e auxílio que advém da experiência subjetiva de suporte social (Campos, 2004) influencia os comportamentos adotados (Aragão et al., 2009) e ameniza o impacto dos eventos stressores (Aragão et al., 2009; Folger & Wright, 2013; Gage, 2013).

No período da adolescência, o suporte social apresenta um papel crucial na socialização e edificação da identidade (Antunes, 2006) bem como no processo de ajustamento psicossocial (Antunes, 2006; Antunes & Fontaine, 2005). Estudos nesta área têm ainda encontrado

evidências que sustentam que o suporte social está relacionado com a realização escolar. Assim, Rueger et al. (2010) ao analisarem o ajustamento académico dos adolescentes em função dos vários tipos de suporte social perceberam que todas as fontes de suporte (pais, professores, colegas, amigos e escola) se encontram relacionadas com a atitude perante a escola. Ahmed, Minnaert, Werf, e Kuyper (2010) verificaram que a perceção do suporte social acarreta consequências ao nível da realização escolar na disciplina de matemática, ao contribuir para o incremento de crenças motivacionais e das experiências emocionais adaptativas dos alunos. Igualmente, outros estudos têm revelado que o suporte social se encontra correlacionado com a adesão à escola, a participação em atividades

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(Wang & Eccles, 2012) e o envolvimento comportamental e emocional no contexto escolar (Estell & Perdue, 2013).

Através da análise da literatura atual tem-se verificado que o suporte social da família é o que apresenta benefícios mais acentuados para o salutar desenvolvimento dos sujeitos,

apresentando substancialmente maior relevância na fase da adolescência (Antunes & Fontaine, 2005) pela grande vulnerabilidade que esta apresenta, pautada por mudanças biológicas e cognitivas que, inevitavelmente, acarretam impacto a nível psicossocial (Eccles, 1999; Shaffer & Kip, 2010, 2014). Neste estágio desenvolvimental, ocorre uma modificação na importância atribuída aos relacionamentos, nomeadamente no que respeita às fontes de suporte (Hombrados-Mendieta, Gomez-Jacinto, Dominguez-Fuentes, Garcia-Leiva, & Castro-Travé, 2012) e à perceção que se possui do mundo envolvente (Arslan, 2009). Neste sentido Gülaçti (2010) refere que a família é a primeira e principal fonte de interação social, sendo que com o início da adolescência o sujeito começa a desenvolver novas relações e interações com o seu ambiente próximo. Também Antunes (2006) ressalta que este período desenvolvimental é marcado por alterações na forma como o sujeito se relaciona com os outros, uma vez que o adolescente passa a atribuir mais valor ao grupo de pares, estabelecendo assim novas redes de suporte social, processo que se deve sobretudo à necessidade psicológica do adolescente se tornar progressivamente mais autónomo dos seus progenitores (Eccles, 1999; Sapienza & Pedromônico, 2005). Porém, observa-se que o desenvolvimento de novas relações e interações sociais não anula a importância dos pais (Antunes & Fontaine, 2000; Wang & Eccles, 2012) que continuam a ser a mais importante fonte de suporte instrumental ao longo de toda a adolescência (Hombrados-Mendieta et al., 2012; Valle, Bravo, & López, 2010).

Gülaçti (2010) corroborou estes resultados ao mostrar com a realização do seu estudo, que apenas a perceção do suporte social da família é preditora de bem-estar subjetivo, visto a

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perceção do suporte social recebido dos amigos ou outras figuras significativas não o ser. Da mesma forma, Rueger et al. (2010) encontraram evidências de que o suporte dos pais é o único capaz de prever médias elevadas nas notas académicas, ilustrando assim a importância do suporte parental no sadio ajustamento dos adolescentes.

Neste sentido conclui-se que embora durante a adolescência emerjam novas e

importantes redes de suporte social, nomeadamente dos pares, dos professores e dos colegas, o suporte outorgado pela família prevalece como o mais importante e estável tipo de suporte percebido pelos adolescentes (Antunes & Fontaine, 2000).

Na esfera familiar, os relacionamentos afetivos particularmente os que oferecem proteção e afeto assumem-se como cruciais (Leandro, 2001). Nesta perspetiva, Olson, Russell, e Sprenkle (2014) descreveram três dimensões essenciais que possibilitam a manutenção de uma saudável dinâmica familiar, sendo elas a coesão familiar, a adaptabilidade e a

comunicação. A coesão familiar diz respeito aos vínculos emocionais entre os membros da família; a adaptabilidade consiste na flexibilidade que a família mostra para lidar com

situações emergentes e se transformar; e a comunicação abrange os estilos comunicativos que possibilitam a partilha de sentimentos e de necessidades entre os vários membros da família. Leandro (2001) acrescenta que nas relações intrafamiliares ocorre um investimento afetivo que reflete a existência simultânea de intimidade entre os familiares e de autonomia pautada pelo estabelecimento de fronteiras pessoais.

Posto isto, o suporte social da família comummente denominado de suporte familiar pode ser entendido como um constructo multidimensional que abarca um conjunto de características psicológicas existentes entre os membros integrantes do seio familiar (Baptista, 2005). Assim, as famílias que fornecem suporte são aquelas em que se verifica expressividade dos sentimentos afetivos, interesse pelo outro, proximidade afetiva, acolhimento, respeito e empatia, diálogo e interações positivas, bem como relações de

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confiança, autonomia e privacidade entre os membros. Estas famílias tendem ainda a exibir consistência e adaptação aos papéis e regras estabelecidas no âmbito familiar, bem como estratégias adaptativas de resolução dos problemas (Baptista, 2007).

Baseando-se nestes pressupostos teóricos sobre os critérios que sustentam a dinâmica familiar e tendo em conta a escassez de instrumentos psicométricos apropriados para medir o suporte familiar, Baptista (2005) desenvolveu um instrumento para a avaliação deste

constructo no Brasil, a que deu o nome de Inventário de Perceção de Suporte Familiar (IPSF). Conhecendo a pertinência incontestável que a perceção do suporte familiar acarreta para a manutenção do saudável desenvolvimento pessoal dos membros da família e consequente funcionamento familiar, torna-se fundamental a construção, adaptação e validação de instrumentos proficientes na medição específica deste constructo. Desta forma, o presente artigo tem como objetivo geral analisar as propriedades psicométricas do Inventário de Perceção de Suporte Familiar de Baptista (2009), aplicado a estudantes portugueses,

perspetivando a sua futura utilização no contexto de atuação do profissional de Psicologia e, particularmente, a sua adaptação a adolescentes portugueses do 6º ao 12º ano de escolaridade. Para dar resposta a este objetivo, torna-se pertinente a formulação de objetivos específicos os quais se referem à análise da fidelidade/consistência interna e à identificação/confirmação da estrutura fatorial do instrumento supracitado através da análise em componentes principais.

Método

Participantes

O estudo das características psicométricas do IPSF foi realizado numa amostra de conveniência constituída por 350 adolescentes, de ambos os géneros, sendo que 57.1% (n=200) da amostra era do género masculino e 42.9% (n=150) do género feminino. Os participantes deste estudo frequentavam o 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico (84%, n= 294) e o

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Ensino Secundário (16%, n= 56) de escolas públicas pertencentes à zona norte de Portugal. Os critérios de inclusão previamente definidos fundamentaram-se no facto de os inquiridos e respetivos encarregados de educação anuírem a participação no estudo, os adolescentes residirem com a sua família (nuclear, alargada ou de acolhimento) e possuírem idade igual ou superior a 11 anos, requisito estipulado de acordo com os critérios do Inventário de Perceção de Suporte Familiar. Assim, a amostra foi constituída por estudantes com idades

compreendidas entre os 11 e os 20 anos, com uma média de idades de 13.64 anos (e desvio-padrão de 1.88 anos), dos quais 92.9% residiam com a sua família nuclear, 6.9% com a família alargada e 0.3% com uma família de acolhimento.

Importa salientar que no âmbito da realização da análise fatorial, a literatura define que o tamanho da amostra deve ser estabelecido tendo em conta o número de itens que o

instrumento comporta. Assim, as investigações realizadas nesta área reiteram a norma de utilizar como requisito mínimo o número de cinco indivíduos por item sendo que idealmente a proporção deveria ser de dez sujeitos por cada variável do instrumento (Hair, Black, Babin, Anderson, & Tatham, 2006). No presente estudo foi realizada uma tentativa de cumprir o critério de dez sujeitos por item. Porém a não-devolução e invalidação de alguns

questionários impossibilitou esse feito. Não obstante, este estudo satisfaz o requisito mínimo de cinco participantes por item (itens do IPSF=41; n=350) perfazendo um número superior a oito sujeitos por cada variável estudada.

Instrumento

Foi utilizado o Inventário de Perceção de Suporte Familiar desenvolvido por Baptista (2009) para avaliar a perceção de suporte familiar no Brasil, em sujeitos com idades

compreendidas entre os 11 e os 60 anos. Para a sua execução, Baptista (2009) baseou-se nos instrumentos internacionais pré-existentes que mediam constructos análogos e procedeu à concretização de um estudo, com uma amostra de 100 alunos universitários da área de

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Psicologia, através do qual procurava conceções sobre as características de uma família ideal. Para chegar à versão final do IPSF o autor realizou várias versões, sendo a definitiva

constituída por 42 itens ordenados em três dimensões designadas pelo autor por: afetivo-consistente (21 itens), adaptação familiar (13 itens) e autonomia familiar (oito itens). Os itens do instrumento são de resposta tipo Likert em três níveis (“quase nunca ou nunca”, “às vezes”, e “quase sempre ou sempre”), verificando-se que quanto maior o valor do somatório total no instrumento, mais elevada é a perceção do suporte familiar do sujeito. Salienta-se que na dimensão adaptação familiar é necessário proceder à inversão da cotação dos itens.

A versão portuguesa do IPSF foi traduzida e aplicada preliminarmente por Baptista, Gonçalves, Carneiro, e Silva (2013). Para o presente artigo, foi utilizada uma versão alternativa facultada por Baptista (anexo A), o autor original do inventário, com base nos estudos que o mesmo estava a realizar em Portugal, tendo o autor eliminado um item da versão original, visto apresentar reduzida carga fatorial e substituído alguns itens por outros com maior adequação ao contexto português. Não obstante a ausência de uma adaptação/ validação desta versão do IPSF para a população portuguesa, publicada no decurso da

realização deste estudo, levantou a necessidade de se proceder à adaptação do IPSF utilizando a já referida amostra de adolescentes portugueses do 6º ao 12º ano de escolaridade.

Assim, esta versão portuguesa inclui 41 itens que permitem avaliar e compreender a perceção que o sujeito constrói sobre o suporte familiar que lhe é proporcionado. À semelhança do que acontece com o IPSF na versão do Brasil, o inventário encontra-se subdividido em três dimensões. A primeira dimensão, denominada afetivo-consistente, é constituída por 22 itens (3, 5, 6, 8, 10, 14, 17, 18, 19, 20, 21, 23, 24, 25, 26, 27, 31, 35, 36, 38, 40, 41) relacionados com a expressão de afetividade e consistência na família,

nomeadamente, interesse, proximidade, comunicação, interações adequadas, respeito e empatia, consistência nas regras, comportamentos e diálogos, bem como a resolução de

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problemas. A segunda dimensão, designada adaptação familiar, comporta 11 itens (12, 13, 15, 16, 22, 29, 32, 33, 34, 37, 39) sobre sentimentos e condutas negativas e desajustadas em relação à família, como sendo sentimentos de raiva, isolamento, exclusão, vergonha,

agressividade, conflitos, entre outros, sendo de ressaltar que estes itens irão ser invertidos para se efetuar a pontuação total. Finalmente, a terceira dimensão, nomeada autonomia, abarca oito itens (1, 2, 4, 7, 9, 11, 28, 30) que se prendem com o estabelecimento de relações de confiança, independência e privacidade entre os membros da família. Nesta versão do instrumento construída para Portugal, os itens têm resposta tipo Likert em quatro níveis: “nunca”, “poucas vezes”, “muitas vezes” ou “sempre”, com pontuação de zero a três. Sendo assim, quanto mais elevada for a pontuação do sujeito, mais elevado é o nível de suporte familiar por ele percebido.

Paralelamente a este instrumento foi também administrado um questionário

sociodemográfico, pretendendo recolher alguns dados de identificação dos sujeitos inquiridos nomeadamente o género, a idade, a escolaridade e com quem residiam (anexo B).

Procedimentos

Num primeiro momento foi realizada uma pesquisa sobre a variável em estudo (perceção do suporte familiar) e instrumentos existentes para a sua avaliação. Assim, foi solicitada ao autor do Inventário de Perceção de Suporte Familiar a sua autorização para efetuar uma adaptação deste instrumento a uma amostra de adolescentes portugueses do 6º ao 12º ano de escolaridade, unicamente para propósitos de investigação. A escolha por este instrumento deveu-se ao facto de o mesmo ter sido desenvolvido exclusivamente para medir a variável da perceção do suporte familiar e apresentar índices satisfatórios de validade de constructo e confiabilidade (Baptista, 2005). Este instrumento de avaliação apresenta ainda as vantagens de ser de autorrelato, de fácil aplicação e interpretação e parcimonioso visto apenas ser

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necessário o protocolo de resposta, podendo ser aplicado quer individual, quer coletivamente, desde que a dimensão da amostra não seja muito numerosa.

Após o autor do instrumento ter autorizado a sua utilização para fins da presente adaptação e ter informado acerca da execução de alguns estudos conduzidos por si, em colaboração com outros investigadores no contexto português, facultou uma versão

alternativa do IPSF que foi construída baseada nos resultados obtidos através desses estudos e que englobava a substituição/ reformulação de alguns itens que seriam mais ajustados à conjuntura portuguesa. Foi nesta versão que nos baseamos para a realização do presente estudo.

Posto isto, o primeiro passo na recolha dos dados prendeu-se com o estabelecimento de contactos com as instituições envolvidas, neste caso as escolas nas quais se realizou a colheita. Neste sentido, procedeu-se ao agendamento de reuniões com a direção das escolas, nas quais foram entregues os respetivos ofícios (anexo C) e facultadas todas as informações respeitantes ao decorrente estudo. Após ter sido proferido despacho favorável à realização do estudo nas escolas contactadas, foi necessário solicitar a autorização aos respetivos

encarregados de educação, pelo que foram entregues aos adolescentes que iriam ser inquiridos, por meio dos diretores de turma, pedidos de autorização por escrito nos quais constavam os objetivos da investigação e a garantia de anonimato, bem como da

confidencialidade dos dados (anexo D). Num segundo momento, após a comunicação das autorizações por parte dos encarregados de educação, os dados foram recolhidos através de questionários aplicados coletivamente no contexto sala de aula pelos respetivos diretores de turma, exigência estabelecida pelas escolas.

Análise Estatística

No seguimento da recolha, procedeu-se à análise e tratamento dos dados, recorrendo-se ao programa informático Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 20.0.

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Primeiramente foi necessário recodificar todos os itens da dimensão dois (adaptação familiar), invertendo-os, e de seguida agruparam-se os itens do IPSF de acordo com as dimensões nas quais se encontram. No âmbito dos procedimentos estatísticos, recorremos inicialmente à estatística descritiva, para determinar as frequências, médias e desvios-padrão dos dados sociodemográficos, apresentados na caracterização da amostra. Para dar resposta ao objetivo orientado para a adaptação deste instrumento a uma amostra de adolescentes portugueses do 6º ao 12º ano de escolaridade foram analisadas algumas características do IPSF nomeadamente a fidelidade, com recurso ao método alfa de Cronbach e a validade fatorial através da análise em componentes principais, com rotação varimax atendendo ao facto de se pressupor que os três fatores do IPSF (afetivo-consistente, adaptação familiar e autonomia) não estão correlacionados entre si (Hair et al., 2006; Pestana & Gageiro, 2005). Antes de se concretizarem estas análises foi realizado o teste Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e o teste de esfericidade de Bartlett, pretendendo averiguar a qualidade das correlações entre as variáveis, o que sustenta o processo de análise fatorial (Pestana & Gageiro, 2005).

Resultados

Para aferir a validade da matriz dos dados, inicialmente foi realizado o teste

Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e o teste de esfericidade de Bartlett. Assim, estes testes revelaram a

presença de correlação entre as variáveis (Teste de Bartlett p≤.001), podendo esta ser considerada muito boa (KMO=.90). Estes resultados indicam que se pode prosseguir com a análise fatorial.

Foi executada uma análise fatorial exploratória obtida com recurso ao método de extração das componentes principais, seguida de uma rotação varimax que convergiu em cinco iterações. De acordo com o critério de Kaiser ficam retidos os fatores que apresentam saturação ou valor próprio superior a [1] pelo que no presente estudo ficariam retidos nove fatores que explicavam 57.86% da variância total. No entanto, esta solução é bastante díspar

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da encontrada pelo autor do IPSF (Baptista, 2009) que apontava três dimensões. Desta forma, realizou-se nova análise fatorial especificando a extração de três fatores. Com esta solução fatorial pedida, os três fatores retidos explicam 39.80% da variância total, observando-se que a primeira dimensão explica 25.77%, a segunda dimensão explica 8.31% e a terceira

dimensão explica 5.71% da variância. A análise dos resultados mostra que na presente amostra a maioria das comunalidades das variáveis se encontra abaixo do requisito mínimo de .50 com exceção dos itens 1, 2, 21, 29, 33, 34, 37 e 39 (anexo E).

Com base nos resultados obtidos pela matriz de componentes rodada (anexo E), a

primeira dimensão denominada afetivo-consistente comporta 22 itens do instrumento (3, 6, 8, 9, 10, 14, 17, 18, 10, 20, 21, 23, 24, 25, 26, 27, 31, 35, 36, 38, 40, 41), a segunda dimensão nomeada adaptação familiar agrupa 12 itens (4, 12, 13, 15, 16, 22, 29, 32, 33, 34, 37, 39) e a terceira engloba sete itens relacionados com a autonomia do sujeito no âmbito familiar (1, 2, 5, 7, 11, 28, 30).

A fim de avaliar a consistência interna de cada fator do Inventário de Perceção de Suporte Familiar e da escala total na presente amostra, recorreu-se ao coeficiente alfa de

Cronbach que permitiu observar valores bastante satisfatórios na maioria das escalas. Os

resultados obtidos demonstraram para a dimensão afetivo-consistente α=.91; para a dimensão adaptação familiar α=.87 e na dimensão autonomia α= .62. Relativamente a todos os itens que constituem o instrumento, ou seja ao IPSF total, foi encontrado um α=.91 constatando-se que no geral este instrumento possui boa consistência interna.

No que respeita aos valores de alfa de Cronbach encontrados para os dois géneros, tal como é possível observar na tabela 1, a amostra feminina apresenta um α ligeiramente superior nas dimensões afetivo-consistente, autonomia e no IPSF total e a amostra masculina apresenta um alfa de Cronbach um pouco mais elevado no fator da adaptação familiar.

(22)

Tabela 1.

Comparação do Alfa de Cronbach por Fatores do IPSF e Estratos da Amostra.

Discussão

Tendo em consideração os objetivos definidos no presente estudo, foram investigadas algumas características psicométricas do Inventário de Perceção de Suporte Familiar desenvolvido por Baptista (2009). Foi empregue neste estudo uma versão alternativa fornecida pelo referido autor, a qual integrava itens próprios para o contexto português. No decurso deste artigo, estudou-se a fidelidade e a validade fatorial desta versão alternativa do IPSF, com recurso a uma amostra de 350 adolescentes que frequentavam a escolaridade compreendida entre o 6º e o 12º ano.

No que respeita aos objetivos do estudo, em primeiro lugar foram efetuados testes de validade fatorial para determinar a presença dos fatores teóricos propostos pelo autor da escala e de correlações entre esses fatores. De acordo com Pestana e Gageiro (2005) o modelo fatorial apenas pode ser empregue quando este critério está preenchido pois, caso contrário, existe a possibilidade das variáveis não partilharem dimensões comuns,

inviabilizando a utilidade do instrumento na estimação das mesmas. Assim, foram utilizados

Alfa de Cronbach (α) Fatores Amostra Total (n=350) Género Masculino (n=200) Género Feminino (n=150) Afetivo- Consistente .91 .90 .91 Adaptação .87 .88 .85 Autonomia .62 .54 .75 IPSF Total .91 .89 .94

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os testes de aderência Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e Bartlett que verificaram a matriz de correlação entre as variáveis do IPSF e encontraram, para a amostra estudada, um valor de .90 no KMO e p≤.001 no teste de esfericidade de Bartlett. Field (2009) recomenda que o valor obtido através do teste KMO seja superior a .50 e que o valor do teste de esfericidade se apresente como significativo, ou seja p <.05, o que pressupõe a rejeição da hipótese nula de que a matriz de correlações corresponde a uma matriz de identidade. Os resultados obtidos no presente estudo (KMO=.90, p≤.001) sugerem correlações muito boas entre as variáveis estudadas (Pereira, 2006; Pestana & Gageiro, 2005) o que suporta o processo de análise fatorial.

Baseando-nos no critério de Kaiser que postula que os fatores retidos são aqueles com valor próprio superior a um (Pestana & Gageiro, 2005), os resultados do presente estudo encontraram uma estrutura fatorial discordante do modelo original visto os 41 itens serem agrupados em nove fatores sugerindo uma superestimação dos fatores. No entanto, tendo em conta que a extensão desta solução não é de todo compatível com a original, exigiu-se uma solução fatorial que convergisse em três fatores como a enunciada por Baptista (2009). Esta solução fatorial parece pouco satisfatória no que respeita às comunalidades uma vez que a maioria dos itens não alcançou valores aceitáveis ou seja superiores a .50 (Hair et al., 2006; Pasquali et al., 2010) excecionando os itens 1, 2, 21, 29, 33, 34, 37 e 39 o que sugere que nestes a solução fatorial obtida representa boa parte da sua variância (Hair et al., 2006; Pestana & Gageiro, 2005). Importa referir que estamos perante uma versão muito

exploratória do IPSF sendo de ressalvar os reduzidos valores de comunalidades encontrados nesta amostra.

Na presente análise, após se especificar a extração de três componentes, encontrou-se uma estrutura fatorial muito semelhante com a obtida por Baptista (2009). Não obstante, ocorreram algumas variações como sendo nos itens cinco e nove inicialmente pertencentes ao

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fator um e três respetivamente, que foram invertidos. Assim no presente estudo o item cinco satura melhor no último fator e o item nove no primeiro fator. Tendo em conta a significação do item cinco “a minha família sente-se mais próxima entre si do que com pessoas de fora” os resultados podem destacar uma maior autonomia dos elementos para se relacionarem com o contexto extrafamiliar em detrimento de uma maior afetividade e consistência na família. Por sua vez o item nove “a minha família faz-me sentir capaz de cuidar de mim, mesmo quando estou sozinho” pode relacionar-se mais com o contexto de proximidade afetiva e acolhimento na família do que propriamente com a autonomia do sujeito. Verificou-se também que o item quatro “a minha família aceita-me como sou”, inicialmente da terceira dimensão, emergiu na segunda dimensão do IPSF sugerindo que o facto de a família aceitar a maneira de ser dos adolescentes se encontra menos relacionada com a sua autonomia e mais com o esforço realizado pela família para se adaptar ao modo de vida dos seus elementos.

Sublinha-se ainda a presença de dois itens da primeira dimensão (três e dez) que saturam em duas dimensões apresentando cargas fatoriais muito semelhantes. Estes dados evidenciam a existência de características comuns que possibilitam que estas variáveis avaliem duas dimensões do IPSF.

Relativamente à variância total os três fatores explicam 39.80% do constructo perceção de suporte familiar. Segundo Hair et al. (2006) a variância deve ser igual ou superior a 50%. Assim, podemos afirmar que na presente amostra as dimensões afetivo-consistente, adaptação familiar e autonomia não representam grande parte da variável perceção de suporte familiar, encontrando-se ainda muita coisa por explicar. Convém, contudo, referir que tal como mencionado por O’Grady (1982, citado por Damásio, 2012) os constructos psicológicos são bastante difíceis de serem compreendidos e explanados pelo que a variância explicada nunca será muito elevada. De igual modo, as escalas de Likert incitam a inexatidão da avaliação quando se pretende compreender o comportamento humano.

(25)

A consistência interna diz respeito à homogeneidade/uniformidade que deve estar patente entre todos os enunciados que formam o instrumento de avaliação, apresentando-se como uma forma de avaliar a sua fidelidade. Assim, embora o instrumento possa estar fragmentado em várias dimensões que pretendem medir diferentes aspetos do mesmo constructo, todas elas se encontram relacionadas entre si, sendo que quanto maior é a correlação entre todos os enunciados do instrumento de medida, maior é a consistência interna do mesmo (Fortin, Côté, & Filion, 2009).

Para determinar a consistência interna do IPSF, foi utilizado o coeficiente alfa de

Cronbach (α) que revelou que o instrumento possui valores bastante aceitáveis de fidelidade

na maioria das escalas (afetivo-consistente α=.91; adaptação familiar α=.87; autonomia α=.62; IPSF total α=.91). Segundo Maroco e Garcia-Marques (2006), o valor do alfa de

Cronbach deve variar numa escala de zero a um, sendo que uma maior aproximação com o

um reflete índices mais elevados de consistência e fiabilidade do instrumento.

Do ponto de vista estatístico, o presente instrumento assinalou consistência interna muito boa (α > .9) no fator afetivo-consistente e na escala total; boa (α= .8-.9) no fator adaptação familiar; e fraca (α=.6-.7) no terceiro fator respeitante à autonomia (Pestana & Gageiro, 2005). Os resultados obtidos neste último fator podem dever-se à heterogeneidade da amostra que apresenta idades muito díspares visto serem compreendidas entre os 11 e os 20 anos e por conseguinte refletirem diferentes estádios desenvolvimentais em que os adolescentes

participantes se encontram. Nesta perspetiva, é expectável que os adolescentes com mais idade detenham maior autonomia deferida pela família comparativamente com os

adolescentes mais novos, o que explica a reduzida consistência que o instrumento espelha nesta dimensão. Importa ressaltar que foi neste fator que se encontraram diferenças mais acentuadas no que respeita ao alfa de Cronbach nos géneros o que também pode ter contribuído para uma mais baixa fidelidade nesta dimensão do IPSF. Considerando a

(26)

classificação de Pestana e Gageiro (2005) neste fator o instrumento possui, para o género feminino um alfa razoável (α=.75) enquanto para o género masculino apresenta um α de .54 considerado inadmissível.

Ainda em relação à consistência interna, verifica-se a existência de um item

“problemático” nesta dimensão do IPSF. O item 11 “a minha família concorda com o meu estilo de vida”, englobado neste fator, apresenta um desvio-padrão muito elevado (DP=1.84), baixa correlação com três itens da mesma dimensão (1, 28 e 30) e a sua eliminação aumenta a consistência interna do fator passando de .62 para .71.

Tendo em conta os resultados obtidos, esta versão do Inventário de Perceção de Suporte Familiar parece apresentar características psicométricas satisfatórias no que se refere à consistência interna, sendo um instrumento fiável e consistente quando aplicada a amostras similares à utilizada no presente estudo. De igual modo a estrutura fatorial encontrada apresenta-se concordante com a sugerida pelo autor do instrumento pelo que se pode

pressupor que esta versão do IPSF apresenta validade fatorial. Observa-se porém a existência de um item problemático (11). Assim, este item para além de diminuir a consistência interna do instrumento também apresenta pouca validade fatorial dado apresentar um limitado valor nas comunalidades (.088) e de carga fatorial (.238) sendo, de todos os itens, o que apresenta os valores mais reduzidos. Alguns autores defendem que as cargas fatoriais devem ser superiores a .30 para serem consideradas como proeminentes (Brown, 2006; Worthington & Whittaker, 2006) pelo que o item 11 seria um item a eventualmente retirar ou a reformular numa versão definitiva deste instrumento caso se verifique a obtenção de resultados análogos em estudos de análise fatorial confirmatória.

Com a concretização deste estudo, espera-se contribuir para melhorar a qualidade de um instrumento que pode servir como um recurso de avaliação psicológica complementar, particularmente para os psicólogos que operam no contexto das famílias, possibilitando uma

(27)

mais abrangente compreensão das realidades familiares e dos padrões de funcionamento das famílias. A avaliação da perceção do suporte familiar poderá permitir o desenvolvimento de intervenções mais focalizadas e eficazes para trabalhar com todas as formas de família e especialmente com as famílias disfuncionais, conhecendo assim as suas particularidades e as suas vicissitudes através da perceção que as crianças e adolescentes têm do suporte que lhes é proporcionado. Este questionário apresenta vantagens pois é um instrumento acessível, parcimonioso e o formato de autorrelato permite uma maior proximidade com as realidades vivenciadas pelos sujeitos.

Importa ressaltar algumas limitações da presente investigação como sendo a utilização de uma versão alternativa e não-publicada do IPSF e de uma amostra de conveniência específica (idades entre 11 e 20 anos), inviabilizando os dados de serem generalizados. Assim, embora a estrutura fatorial deste instrumento tenha identificado boas propriedades psicométricas e revelado índices aceitáveis de fidelidade e validade fatorial, novas investigações devem ser levadas a cabo para clarificar estes resultados, nomeadamente por meio de análises fatoriais confirmatórias e recorrendo a amostras probabilísticas estratificadas aleatórias, bem como a diversos contextos/populações, como sendo amostras clínicas.

(28)

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(34)

ESTUDO II

PERCEÇÃO DO SUPORTE FAMILIAR E DESEMPENHO ESCOLAR: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE ADOLESCENTES INSTITUCIONALIZADOS E

ADOLESCENTES QUE VIVEM COM AS SUAS FAMÍLIAS.

PERCEPTION OF FAMILY SUPPORT AND ACADEMIC ACHIEVEMENT: A COMPARATIVE STUDY AMONG INSTITUTIONALIZED ADOLESCENTS AND

ADOLESCENTS LIVING WITH THEIR FAMILIES.

Silvana Vieira Teixeira José Carlos Gomes da Costa Maria Cristina Quintas Antunes

(35)

Resumo

A perceção de suporte familiar parece estar relacionada com o desempenho escolar dos estudantes na adolescência. Neste sentido, o presente artigo teve como objetivo analisar a relação entre estes dois constructos, procedendo também à comparação da perceção de

suporte familiar e do desempenho escolar em função de dois contextos desenvolvimentais dos adolescentes, ou seja, a família ou instituição de acolhimento. A amostra foi constituída por 402 estudantes de ambos os géneros que frequentavam a escolaridade compreendida entre o 6º e o 12º ano, residindo em contexto familiar ou institucional. Para a recolha dos dados foi utilizado um questionário com questões sociodemográficas, questões relacionadas com o contexto escolar, nomeadamente o desempenho escolar dos alunos nas disciplinas de português e matemática, e o Inventário de Perceção de Suporte Familiar (IPSF). Os

resultados apuraram que os adolescentes não-institucionalizados apresentam maior adaptação familiar (p≤.001) e melhor desempenho escolar nas disciplinas de português (p≤.01) e

matemática (p≤.05) quer se encontrem a frequentar o ensino básico ou secundário, o que permite concluir que o contexto familiar pode influenciar o desenvolvimento escolar na adolescência.

Palavras-chave: perceção de suporte familiar, desempenho escolar, adolescência, institucionalização.

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Abstract

The family support perception seems to be related to the academic performance of students during adolescence. In this sense, this article aims to analyze the relationship between these two variables and comparing its relation between adolescents living in two different familial contexts: family or institution. The sample consisted of 402 students of both gender who attended 6th to 12th grades, living in family or institutional context. For data collection it was used a questionnaire with sociodemographic questions, questions related to the school context including the academic performance on Portuguese and mathematics, and the Family Support Perception Inventory (IPSF). The results evidenced that non-institutionalized adolescents have higher perceptions of family adaptation (p≤.001) and better school performance in Portuguese (p≤.01) and mathematics (p≤.05) whether they are attending elementary or secondary education. Results are discussed on the importance of familial environment for the development of adolescents’, particularly in school context.

Keywords: family support perception, academic achievement, adolescence, institutionalization.

(37)

Na adolescência ocorre um processo desenvolvimental que, segundo a Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner (1977) resulta da interação constante entre o sujeito e o seu meio ambiente. Nesta fase, a família e a escola configuram os ambientes mais imediatos, ou microssistemas, dos jovens, pelo que ocupam um papel central na sua formação (Bronfenbrenner, 1994/2002). No decorrer deste período, a escola representa o contexto vivencial onde os adolescentes despendem mais quantidade de tempo, sendo por isso o meio privilegiado para que desenvolvam a sua identidade e projetem o seu futuro (Eccles & Roeser, 2011).

De acordo com Serbin, Stack, e Kingdon (2013), o sucesso escolar durante a

adolescência é crucial para o desenvolvimento dos sujeitos uma vez que precede a existência de trajetórias profissionais e sociais de êxito no decorrer da vida futura, conjeturando

resultados de saúde mental mais benéficos, nomeadamente ao nível da redução dos sintomas depressivos e de uma melhoria na satisfação com a vida (Liem, Lustig, & Dillon, 2009; Maurizi, Grogan-Kaylor, Granillo, & Delva, 2013). Perante estes dados, constata-se a necessidade de promover o desenvolvimento de competências nos mais diversos contextos académicos (Denissen, Zarrett, & Eccles, 2007).

Ao longo das últimas décadas, vários estudos têm tentado compreender e explicar os determinantes associados ao desempenho escolar e ao consequente sucesso ou insucesso escolar dos alunos. Segundo Diniz, Piccolo, Couto, Salles, e Koller (2013) o desempenho escolar assenta em três competências básicas como sendo a leitura, a escrita e a aritmética. Há evidências de que o rendimento académico dos adolescentes pode ser influenciado por fatores pessoais do sujeito, bem como por fatores contextuais dos quais se destacam os familiares (Li, Lerner, & Lerner, 2010; Miranda, Almeida, Boruchovitch, Almeida, & Abreu, 2012). Os principais fatores pessoais que se encontram associados ao rendimento académico prendem-se sobretudo com a capacidade cognitiva (Karbach, Gottschling, Spengler,

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Hegewald, & Spinath, 2013; Machado, 2011a; Miranda et al., 2012) e com a autoeficácia do sujeito (Alivernini & Lucidi, 2011). No que respeita aos fatores familiares, vários estudos têm associado o funcionamento e ajustamento escolar com inúmeras variáveis do contexto

familiar, nomeadamente o nível educativo dos pais (Gordon & Cui, 2012; Machado, 2011a; Miranda et al., 2012; Potter & Roksa, 2013), as expetativas dos pais referentes à escola (Bowen, Hopson, Rose, & Glennie, 2012; Eccles, 2005; Gordon & Cui, 2012) e o

envolvimento parental nas vivências quotidianas, particularmente as escolares, dos seus filhos (Chase, Hilliard, Geldhof, Warren, & Lerner, 2014; Cia, Pamplin, & Williams, 2008; Gordon & Cui, 2012; Li et al., 2010), constatando-se que este último se encontra positivamente relacionado com o rendimento académico dos adolescentes (Wang & Eccles, 2011).

Segundo Cheng, Ickes, e Verhofstadt (2012), também o suporte familiar se afigura como uma componente crucial para o desempenho académico pois facilita o ajustamento positivo do adolescente ao meio escolar, operando como um preditor das notas académicas dos sujeitos (Rueger, Malecki, & Demaray, 2010).

Entende-se por suporte familiar o conjunto de características psicológicas existentes entre os elementos do seio familiar (Baptista, 2005) que se manifesta pela expressividade dos sentimentos afetivos, interesse pelo outro, proximidade afetiva, acolhimento, respeito e empatia, diálogo e interações positivas, bem como relações de confiança, autonomia e privacidade entre os membros e que compreende a adaptação aos papéis e regras estabelecidas no âmbito familiar, bem como estratégias adaptativas de resolução dos

problemas (Baptista, 2007). Importa destacar que a perceção que o sujeito constrói do suporte que recebe por parte da sua família pode, por vezes, ser distinta do suporte familiar que efetivamente lhe é oferecido, uma vez que o sujeito concretiza uma avaliação subjetiva que pode ser enviesada por erros de interpretação (Baptista, 2009).

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Segundo Campos (2004), quando o sujeito possui uma perceção satisfatória do suporte que lhe é fornecido, evidencia maiores sentimentos de afeição, valorização, reconhecimento, compreensão, cuidado e proteção por parte dos que o rodeiam, integrando informações e recursos partilhados que lhe permitem lidar de forma mais adaptativa com o contexto circundante. Este tipo de suporte é o mais significativo para o desenvolvimento do ser humano, visto apresentar um efeito moderador perante os acontecimentos stressores que podem surgir no quotidiano dos sujeitos (Baptista, 2005; Mombelli, Costa, Marcon, & Moura, 2011), permitindo a manutenção do seu ajustamento emocional e comportamental (Baptista, 2007).

Destarte, uma quantidade significativa de investigações internacionais têm pesquisado o efeito que o suporte outorgado pelos membros da família suscita no aproveitamento escolar dos estudantes. O suporte familiar percebido pelo sujeito constitui-se como um preditor positivo do desempenho académico uma vez que perceções mais elevadas do suporte social familiar têm sido correlacionadas positivamente com pontuações mais elevadas nas notas médias dos estudantes (Cheng et al., 2012; Dumont et al., 2012; Gordon & Cui, 2012; Hopson & Lee, 2011; Serbin et al., 2013; Witkow & Fuligni, 2011). Outros estudos têm encontrado efeitos indiretos do suporte familiar no rendimento escolar, mediados pelos processos envolvidos na aprendizagem. Neste sentido, Román, Cuestas, e Fenollar (2008) verificaram que o suporte familiar influencia as abordagens da aprendizagem, incrementando o processamento profundo, o esforço e a autoestima dos estudantes. Também Alivernini e Lucidi (2011) constataram que a perceção do suporte orientado para a autonomia por parte do contexto circundante favorece no indivíduo o aumento da competência percebida e da

autoeficácia académica que se correlacionam de forma positiva com o rendimento escolar dos adolescentes.

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Em Portugal, a literatura existente também tem evidenciado associações positivas entre as variáveis familiares nomeadamente a interação e o suporte familiar com o desempenho académico (Carrilho, 2012; Oliveira, 2010) verificando-se que, quando os adolescentes possuem uma rede de suporte familiar de qualidade, demonstram níveis superiores de competência académica (Oliveira, 2010). Contrariamente, quando as relações familiares dos jovens são pautadas por dificuldades de relacionamento com os pais, observa-se a existência de problemas de comportamento, bem como baixo rendimento académico (Feitosa, Matos, Del Prette, & Del Prette, 2005).

Estes resultados destacam a importância que a família e em especial os progenitores acarretam para a vida dos adolescentes ao promover o saudável desenvolvimento e ajustamento psicossocial, a longo prazo, dos estudantes (Demaray, Malecki, Davidson, Hodgson, & Rebus, 2005).

No entanto, alguns estudos têm encontrado evidências contraditórias que não corroboram a existência de associações entre o suporte social familiar e o desempenho académico.

Murray (2009) verificou que a influência dos relacionamentos de suporte com os progenitores se assemelha à influência que as outras relações estabelecidas exercem sobre a competência escolar percebida pelos alunos. Também Hogan et al. (2010) e Bowen et al. (2012)

constataram com os seus estudos que o suporte social da família não se revelou um preditor significativo do rendimento académico dos estudantes.

Sabendo que a família pode influenciar o percurso escolar dos adolescentes e as suas perceções e expetativas relativas ao contexto escolar (Costa, 2013) pode-se postular que diferentes contextos desenvolvimentais culminam em diferentes resultados académicos obtidos. Neste sentido, Salvador (2007) concluiu através do seu estudo que os jovens pertencentes a contextos familiares saudáveis revelam um desempenho académico

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de risco. Segundo Delgado (2006), quando as vivências familiares são permeadas por risco ocorre um comprometimento no desenvolvimento físico, afetivo e psíquico que afeta na íntegra o bem-estar dos adolescentes. Perante consideráveis graus de risco, verifica-se a intervenção de redes formais que segundo o decreto-lei nº 147/99 de 1 de Setembro (Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo) pretendem minimizar as situações de risco em que as crianças e jovens se encontram (Diário da República, 1999), culminando na sua retirada do ambiente natural e na colocação ao abrigo de medidas de promoção e proteção, como sendo o acolhimento institucional (Guibord, Bell, Romano, & Rouillard, 2011). Assim, a

institucionalização é uma resposta social que visa acolher crianças e jovens que se encontram inseridos em contextos de vida desfavoráveis ou situações de risco resultantes da

incapacidade que os progenitores revelam para exercer as suas responsabilidades parentais (Segurança Social, 2014). Estas crianças e jovens são desprovidos de condições familiares estáveis, capazes de garantir o seu saudável desenvolvimento biopsicossocial, sendo por isso afastadas do seu seio familiar e integradas em instituições (Segurança Social, 2014) que passam a ser o seu microssistema mais próximo (Bronfenbrenner, 1994/2002).

Tendo em conta que as crianças e jovens inseridas neste contexto revelam contactos mais esporádicos ou até mesmo inexistentes com o núcleo familiar (Mota & Matos, 2010), as perceções de suporte social familiar tendem a ser menores (Arteaga & Valle, 2003; Brandão, 2011).

Os estudos sobre o desempenho escolar elaborados neste contexto denotam que os adolescentes institucionalizados, em comparação com os adolescentes

não-institucionalizados, apresentam maiores índices de retenção escolar (Diniz et al., 2013; Ferreira, 2013; Machado, 2011b) e classificações mais baixas, refletindo assim piores desempenhos escolares (Dell’Aglio & Hutz, 2004; Machado, 2011b), nomeadamente nas disciplinas de Português e Matemática (Ferreira, 2013). Sublinha-se que estas diferenças

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