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Breve estudo sobre as applicações do leite ao tratamento de algumas doenças

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3-

J?4.

BREVE ESTÏÏDO

SOBRE

AS APPLICAÇOES DO LEITE

10 THiTAMEHTD I ALGUMAS 0 É [ 1 S

Á

DEFENDIDA SOB A PRESIDÊNCIA DO E X C .m o SNB.

AUGUSTO HENRIQUE DE ALMEIDA BRANDÃO FOB

ANTONIO HENRIQUES DO VALLE

POETO

Xi&CPXKBCTS.A. C I V I L I S A Ç Ã O DE

SANTOS S LEMOS 8—Rna de Santo Ildefonso—10

X 8 9 9

(2)

DIRECTOR

O EXC.«"> SER. CONSELHEIRO, MANOEL MARIA DA GOSTA LEITE

S E C R E T A R I O

O E X O ° SNR. ANTONIO DE AZEVEDO MAIA

P R O F E S S O R E S

Os Exc.">M Snrs.:

l.a Cadeira—Anatomia descriptiva e geral João Pereira Dias Lebre.

2.a , —Physiologia Dr. José Carlos Lopes Junior.

3.a » —Materiamedica João XavierdOliveira Barros.

4.» » — Pathologia externa A. J. de Moraes Caldas. 5.d > —Medicina operatória Pedro Augusto Dias.

6.a » —Partos, doenças das

puerpe-ras e dos recem-nascidos... Dr. Agostinho Antonio do Souto. 7.a • —Pathologia interna Antonio d'Oliveira Monteiro.

8.a > —Clinica medica Manoel Rodrigues da Silva Pinto.

9.a » —Clinica cirúrgica Eduardo Pereira Pimenta.

10." » —Anatomia pathologica Manoel de Jesus Antunes Lemos. 11.a » —Medicina legal, hygiene

pri-vada e publica e toxicologia

. . . Sf?1 -, • • : Dr. J. F. Ayres de Gouveia Osório.

12.a » —Pathologia geral Illydio Ayres P. do Valle.

Pharmacia Felix da Fonseca Moura.

S U B S T I T U T O S

Secção medica í Antonio d'Azevedo Maia. ( Vicente Urbino de Freitas. „ . . l Augusto Henrique d'Almeida Bran-Secçao cirúrgica ! dão.

D B M O N S T K A D O B

Secção cirúrgica - Vaga.

A Escola não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e enunciadas nas proposições.

(3)

Á

M

EMORIA

M I N H A M A E

(4)

'eca-une aue accewe ed/e /tceéa-w, naa cawia ie^nuneiacaa aad àa-cètjfiictaj a aue a /en-na aé^^tçac/a. *m-ad catna /Uava teat cte a£a/a

<Á-a.

Vosso filho,

(5)

A MEUS IRMÃOS E IRMÃS

A MEUS CUNHADOS E CUNHADA

AMISADE FRATERNAL

A TODOS OS MEUS PATENTES

OFF.

(6)

1 1 1 BORGES « I A H CIPOS

OXT.

(7)

AO MEU PRESIDENTE

O H,L.mo B BXC.m° SNB.

AUGUSTO m m D'AUBIDA MAMO

EM TESTEMUNHO

ELEVADA CONSIDERAÇÃO E INDELÉVEL RECONHECIMENTO

OFFEREOE

(8)

JJESDE epochas remotas tem o leite sido

empre-gado em medicina.

Hyppocrates, no quarto volume dos seus

Aphorys-mos, aponta os casos em que o seu emprego é util e

aquelles em que o não é. Diz elle que é mau dar leite aos cephalalgias, aos febricitantes, aquelles cujos hypo-chondros se acham tumefactos, etc., convindo aliás dal-o aos tísicos que apresentam uma febre pouco in-tensa. Aconselhava-o também, misturado com agua, nas hemorrhagias abundantes, contra as dores dos ouvidos, contra a hydropisia e dysenteria. Mais tarde, Galeno e em seguida Hoffeman e Hufeland faliam d'elle nos seus

escriptos. Depois, passaram muitos annos durante os

quaes a therapeutica do leite foi votada a um completo esquecimento. Durante a idade média, o leite foi remet-tido para a classe dos agentes preconisados pelas cu-randeiras. Finalmente, ha cincoenta annos, Bertrand e

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— d2 —

Orfila resgataram a therapentica do leite, aconselhan-do-o em certos envenenamentos. Depois, muitos medicos modernos, entre elles Cruveilhier, publicaram memorias

sobre o emprego do leite n'um grande numero de doen-ças.

Impressionado pela generalisação actual do seu em-prego e pelos bons successos que os práticos dizem ter obtido, determinei-me escolher para assumpto do meu trabalho final a dieta láctea. N'este trabalho não fare-mos mais que mendigar alguns documentos, reunil-os, tornal-os patentes e fazer ver no decurso d'esté traba-lho que o leite é não só o mais precioso de todos os alimentos, mas ainda um excellente medicamento, cuja voga vae crescendo de dia para dia.

Antes de entrar directamente no assumpto que emprehendemos. apresentaremos a composição do leite d'alguns mamíferos. Depois daremos uma ideia geral do modo de acção da dieta láctea e das condicções da sua administração.

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I PARTE

Composição do leite

O leite é um liquido branco, d'uni cheiro

sui-ge-neris, variável segundo as espécies, d'uni sabor

agra-dável, doce e assucarado e d'uma reacção alcalina. E' um humor muito complexo e que, em repou-so e em contacto do ar, se separa em três partes.

l.° Uma materia gorda, espessa, d'um branco amarellado que se eleva á superfície do liquido e que se chama creme da qual se extrahe manteiga.

2.° Uma substancia coagulavel branca chamada

caseína que constitue o queijo.

3.° Um liquido amarello, esverdeado e ligeira-mente assucarado que é o soro ou pequeno leite, de-vendo o seu sabor a uma substancia particular, assucar de leite. As proporções de manteiga, caseina, assucar e agua variam muito, segundo as espécies e os indiví-duos, e dão caracteres especiaes a cada leite. Sobre a composição do leite, numerosas analyses se têem feito. Apresentaremos as que foram feitas par Vernois e Be-cquerel.

Analyse do leite da mulher, segundo Vernois e Becquerel.

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— 14 —

No estado normal, o leite da mulher dá para 1.000 grammas:

Agua 889.08 Partea aolidas 110,92

Assucar 43,64 Caaeina e materiaa extractivas 39,24

A densidade é de . . . . 1032,67

Manteiga 26,66 1,38

Analyse do leite dos animaes

Densidade do leite

VACCA JUMENTA CABRA EGOA CADELLA OVELHA

Densidade do leite 1033,38 854,06 135,94 51,38 38,03 3,67 36,12 6,64 1034,57 890,12 109,88 29,39 50,64 6,26 18,53 5,24 1033,53 844,90 155,10 47,86 36,91 7,28 56,87 6,18 1033,53 904,30 95,70 33,35 32,76 não isolada 24,36 1,80 1041,62 772,08 227,92 110,88 87,96 não isolada 15,29 5,23 1040,98 832,32 167,68 69,78 39,43 não isolada 51,31 7,16 Partes solidas Gaseinae matérias 1033,38 854,06 135,94 51,38 38,03 3,67 36,12 6,64 1034,57 890,12 109,88 29,39 50,64 6,26 18,53 5,24 1033,53 844,90 155,10 47,86 36,91 7,28 56,87 6,18 1033,53 904,30 95,70 33,35 32,76 não isolada 24,36 1,80 1041,62 772,08 227,92 110,88 87,96 não isolada 15,29 5,23 1040,98 832,32 167,68 69,78 39,43 não isolada 51,31 7,16 1033,38 854,06 135,94 51,38 38,03 3,67 36,12 6,64 1034,57 890,12 109,88 29,39 50,64 6,26 18,53 5,24 1033,53 844,90 155,10 47,86 36,91 7,28 56,87 6,18 1033,53 904,30 95,70 33,35 32,76 não isolada 24,36 1,80 1041,62 772,08 227,92 110,88 87,96 não isolada 15,29 5,23 1040,98 832,32 167,68 69,78 39,43 não isolada 51,31 7,16 1033,38 854,06 135,94 51,38 38,03 3,67 36,12 6,64 1034,57 890,12 109,88 29,39 50,64 6,26 18,53 5,24 1033,53 844,90 155,10 47,86 36,91 7,28 56,87 6,18 1033,53 904,30 95,70 33,35 32,76 não isolada 24,36 1,80 1041,62 772,08 227,92 110,88 87,96 não isolada 15,29 5,23 1040,98 832,32 167,68 69,78 39,43 não isolada 51,31 7,16 1033,38 854,06 135,94 51,38 38,03 3,67 36,12 6,64 1034,57 890,12 109,88 29,39 50,64 6,26 18,53 5,24 1033,53 844,90 155,10 47,86 36,91 7,28 56,87 6,18 1033,53 904,30 95,70 33,35 32,76 não isolada 24,36 1,80 1041,62 772,08 227,92 110,88 87,96 não isolada 15,29 5,23 1040,98 832,32 167,68 69,78 39,43 não isolada 51,31 7,16 1033,38 854,06 135,94 51,38 38,03 3,67 36,12 6,64 1034,57 890,12 109,88 29,39 50,64 6,26 18,53 5,24 1033,53 844,90 155,10 47,86 36,91 7,28 56,87 6,18 1033,53 904,30 95,70 33,35 32,76 não isolada 24,36 1,80 1041,62 772,08 227,92 110,88 87,96 não isolada 15,29 5,23 1040,98 832,32 167,68 69,78 39,43 não isolada 51,31 7,16

Ordem de importância dos alimentos do leite

MULHER VACOA

Caseína Asaucar Manteiga Saea

JUMENTA CABBA OVELHA

Aaaucar Caaeina Manteiga Saea VACOA Caseína Asaucar Manteiga Saea Asaucar Caaeina Manteiga Saea Albumina Manteiga Caaeina Aasucar Saea Caaeina Manteiga Aasucar Saea

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Podemos classificar estes animaes, segundo a im-portância de cada elemento, da seguinte maneira:

PESO DO ASSUCAR PESO DA CASEÍNA PESO DA MANTEIGA PESO DA ALBUMINA PESO DOS SAES Jumenta Mulher Ovelha Vacca Cabra Ovelha Vacca Cabra Mulher Jumenta Cabra Ovelha Vacca Mulher Jumenta Cabra. Vacca Mulher Ovelha Vac a Cabra Jumenta Mulher

A utilidade d'estes quadros é evidente, quando o medico deseja aconselhar o uso de qualquer d'es-tes leid'es-tes. Na sua composição ha realmente verdadei-ras affinidades chimicas. E' assim que o leite de jumen-ta muito se approxima do da mulher, abunda muito em assucar e pouco em caseina e manteiga. O leite de ca-bra é principalmente rico em manteiga. Contém muita albumina. Quando se escolhe de preferencia um ou ou-tro leite, devemos attender principalmente á quantida-de dos alimentos e aos fins que temos em vista preen-cher.

Propriedades do leite

E' um alimento completo, concorrendo pela sua ca-seina para a nutrição e augmento dos tecidos; ás

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necessi-— 16 necessi-—

dades da respiração pela gordura e assucar que contém; pelos saes mineraes para a formação das partes duras; finalmente, a sua agua dá aos tecidos a necessária hu-midade para o duplo movimento de composição e de-composição.

Precauções a tomar na administração do leite

Podemos administrar o leite de jumenta, de ca-bra ou de mulher, sem addição de quaesquer outras substancias alimentares, aos doentes mais fracos.

O doente faz uso d'elle de manhã ou de tarde, quando o estômago se ache completamente livre. Se a digestão é muito lenta, aromatisa-se; se ha regurgita-ções ou acidez, addiciona-se ao leite uma colher de agua de cal ou magnesia calcinada. Se o leite produz diarrhea, devemos alternar a sua administração com a d'uma preparação ferruginosa; se ha constipação, como depende de uma falta de contractibilidade do intestino, devemos tomar o leite frio, ou então administrar um tónico que vá augmentar as contracções musculares do mesmo intestino.

Se os accidentes persistem, suspende-se o empre-go do leite. Nos casos em que o leite deve constituir o único alimento do doente (regimen lácteo exclusi-vo) devemos dal-o muitas vezes por dia, tendo o cui-dado de esperar que a primeira dose seja digerida, pa-ra fazer tomar a segunda; depois vae-se augmentando suecessivamente a quantidade do liquido, conforme as exigências do tratamento. Deste modo evita-se a indi-gestão e a diarrhea.

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Modo de acção do leite e da dieta láctea; condições

da sua administração

Antes de tratar das applicações do leite nas dif-férentes doenças, daremos uma ideia geral da acção do leite e da dieta láctea, bem como das condições da sua administração. Um grande numero de causas fazem variar os effeitos do leite; a primeira refere-se á espé-cie de leite e á sua qualidade, porque as proporções dos seus princípios differem, segundo o animal que o fornece, o logar onde vive, a maneira como se nutre, assim como as suas qualidades differem egualmente segundo a epocha mais ou menos afastada da parturição, no começo ou no fim do aleitamento. No começo ha pouca manteiga e o leite é azulado,* no fim, pelo contrario, abunda muito a manteiga. As qualidades do leite devem ainda variar, segundo o vi-gor e o estado de saúde do animal que o fornece. To-das estás circumstancias offerecem grande valor nas ap-plicações therapeuticas d'esté precioso alimento. O lei-te, typo completo da alimentação por excellencia, é

sempre uma substancia reparadora e assucarada ao mesmo tempo, mas em graus muito différentes.

Diz-nos a experiência que, quando sáe da mama» é mais reparador e mais assucarado do que quando ar-refece e data d'algum tempo. D'outro lado, o leite frio impressiona-nos, de maneira a retrahir os tecidos do estômago e augmentar o seu tom. Esta particularidade, ainda que em nada altere as suas qualidades alimenta-res, influe sobre a sua assimilação. O leite fervido é de mais difflcil digestão. As condicções em que se

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18 —

tram os doentes, devem também fazer variar os seus effeitos. Effectivamente ha individuos d'um tempe-ramento sanguíneo ou nervoso que se dão melhor com o uso do leite, quando elle está indicado, do que aquelles que são lymphaticos.

A idiosyncrasia de cada um faz também variar os effeitos do leite. Ha individuos a quem o leite sem-pre constipa, outros ha que não supportam senão o leite.

A primeira condicção a attender, para que a dieta láctea seja possível, é que o individuo que a ella tem de se submetter não tenha repugnância para este ali-mento; a segunda é que o leite seja escolhido conve-nientemente; a terceira, que não seja ingerido senão pouco a pouco ou em pequenas quantidades ao mesmo tempo, de maneira a não sobrecarregar o estômago e não provocar a diarrhea, excepto se tal effeito se pre-tende obter. Satisfeitas estas condicções, ordinariamen-te obordinariamen-tem-se a tolerância com facilidade.

Posto isto, que leite devemos escolher? Os que as mais das vezes se tem utilisado são o de mulher, de jumenta, de cabra, ou de vacca.

O leite da mulher deve ser preferido a qualquer outro no estado de frouxidão em que cahem as crean-ças privadas do beneficio de aleitamento materno e n'aquellas que se desmamam prematuramente. O leite de jumenta tem sido empregado na therapeutica das doen-ças chronicas do peito. O verdadeiro leite medicinal, aquelle que deve constituir a base da dieta láctea, é o leite de vacca ou cabra, não só pelo motivo do seu bai-xo preço, como pela facilidade que ha em se obter em todos os paizes. A possibilidade de obter d'estes ani-maes uma quantidade de leite sufficiente para que o

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doente tenha sempre a mesma leiteira; a facilidade com que podemos regular ou mesmo dirigir á nossa von-tade a alimentação d'uma cabra, de maneira a commu-nicar esta ou aquella propriedade ao seu leite, taes são as vantagens que o fazem preferir aos outros em cer-tas condicções.

As indicações do regimen lácteo, segundo al-guns auctores, podem reduzir-se aos cinco pontos seguintes:

1.° Alimentar os doentes sem lhes fatigar o estô-mago.

2.° Provocar uma diurese ou fluxo diarrheico de maneira a actuar sobre os derramamentos serosos, in-tersticiaes ou sobre os das cavidades.

3.° Modificar profundamente a natureza do plas-ma no seio do qual se geram tecidos anorplas-maes, de maneira a restabelecer a regularidade das formações or-gânicas.

4.° Diminuir ou suspender a marcha da consum-pção pulmonar.

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— 20 —

II PARTE

Da dieta láctea nas aflecçocs dos órgãos digestivos

Todas as vezes que um órgão se acha doente, de-vemos em geral dar-lhe repouso, supprimindo ou limi-tando as suas funcções.

Mas sendo absolutamente indispensáveis á vida as funcções do estômago e do intestino, é claro que não devemos supprimil-as.

Nas affecções agudas, de symptomas bem accentua-dos, de marcha rápida, de curta duração, podemos submetter ainda o doente a uma dieta absoluta, isto dentro de certos limites; mas j i o não podemos fazer nas affecções chronicas que podem contar semanas, mezes e annos de duração. N'estas circumstancias é preciso alimentar os doentes, mas sem lhes irritar as vias digestivas, sem lhes impor um trabalho de que são incapazes e sem influenciar a gensse e acção dos líqui-dos que ellas segregam.

Devemos fornecer-lhes substancias que possuam um grande poder nutritivo, que não tenham acção tó-pica irritante, que não exijam esforços mecânicos pro-longados, que sejam facilmente digeridos e rapidamente absorvidos.

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Ora o leite réalisa estas condicções, como muito nutritivo e bastante digerivel; como alimento dá força e facilidade á reparação do organismo, incommoda menos que qualquer outro o órgão digestivo e suas funcções, e, além d'isso, actua como medicamento, podendo exercer benéfica influencia sobre o estado local e geral.

O regimen lácteo pôde pois pela sua fácil digestibi-lidade representar um papel util na gastrite chronica, por isso que a sua duração ra clama uma alimentação particular e a ausência continua da febre e de sym-ptomas agudos torna impossível a abstinência.

Devemos evitar a ingestão de matérias solidas, que tenham acção mais ou menos irritante, de difficil digestão e pouco nutritivas; temos pois no leite uma fon-te precioza, um alimento medicamentoso, cuja efficacida-de, em taes casos, se tem reconhecido. Devemos dal-o methdal-odicamente, pdal-or pequenas ddal-oses, muitas vezes renovadas, podendo ajuntar-lhe aguas alcalinas, agua de cal, bicarbonato de soda, de Vichy, etc.

Ainda se aconselha o leite com immenso proveito no amolleeimento do estômago que acompanha algu-mas vezes a gastrite chronica. A sua digestão e fácil assimilação dispensam aquelle órgão de enérgicos esfor-ços musculares.

O regimen lácteo, nas inflamações chronicas do estômago, muitas vezes produzirá effeitos desejados no ponto de vista alimentar, palliativo e mesmo curativo. Geralmente, n'estes casos, o estômago irritado torna-se intolerante, manifestam-se vómitos que fatigam o doen-te e comprometdoen-tem a sua nutrição, vómitos que au-gmentai» pela ingestão dos alimentos e medicamentos.

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pro-22 —

duzindo frequentemente notáveis melhoras. Exerce uma acção sedativa sobre o estômago e acalma os vómitos. Tem-se ainda empregado o leite com proveito nos aper-tos do esophago, cardia, pyloro e duodeno. Estes apertos, qualquer que seja a causa que os determine, quando attingem um certo grau, servem de barreira insuperável ás matérias alimentares; o leite como sub-stancia liquida, pode passar mais facilmente; como doce, não irritante, sedante, é melhor tolerado que os outros; e por sua presença e acção emolliente, pode afrouxar um pouco os obstáculos, facilitar a passagem, acalmar e melhorar as dores, podendo até favorecer a reabsorpção dos productos plásticos que formavam o obstaculo,quan-do a sua existência não seja muito antiga e sua organi-sação muito adiantada.

}.;>- Nos apertos do esophago, a nutrição é muito com-promettida, porque os alimentos e o leite pouco ou na-da chegam ao estômago, em quanto que a nutrição é possível nos apertos do pyloro e intestino; a digestão e absorpção limita-se mais ou menos ao estômago, o leite n'este caso é tanto mais indicado quanto ô certo que elle se digere e absorve quasi completamente n'esta viscera; d'esta maneira não tem obstáculo a atravessar, e, demais, não deixa resíduo que se demore ou que de-va atravessal-o. Mas pode ser também util administrar substancias que devam atravessar, no caso possível, o ponto estreitecido para o dilatar e não o deixar oblite-rar, e também para impedir que as funcções do intes-tino sejam abolidas por um continuo repouso.

O aperto pylorico sendo um obstáculo á livre cir-culação do leite, resulta d'aqui a sua demora, impor-tando a dilatação do estômago.

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Esta dilatação pode depender também de outras cauzas e persistir muito tempo antes de ser reconheci-da, mas observações bem attentas têem mostrado que ella é muitas -vezes influenciada pela administração do leite que se dá associado ao gelo. Petrequin cita o caso ad'um individuo, de idade quarenta e três annos,

doente ha doze annos (cujo pae tinha succutnbido a uma affecção de pyloro) tractado por elle e por Rayer co-mo atacado de dilatação de estômago com aperto py-lorico, melhorado muitas vezes pela dieta láctea, jun-ta ao emprego do gelo, com persistência do seu es-tado satis factorio.»

Pecholier refere também um caso de aperto

py-lorico curado pela dieta láctea. Estas observações

vêem amplamente expostas no «Buletim de Thera-peutica» de 1836, mas não se indica as causas a que andavam ligados. Se elles reconhecem por causa uma lesão orgânica, as melhoras são difficeis de obter. Pelo contrario, se dependem d'um erethismo nervoso concebe-se que o repouso do doente, a diminui-ção da quantidade dos alimentos e o leite gelado, possam acalmar o estado de erethismo nervoso que pro-duz o aperto e consecutivamente a dilatação.

Ainda o leite gelado se acha indicado na atonia das paredes do estômago como despertador da tonicida-de e contractibilidatonicida-de das suas paretonicida-des.

Do emprego do leite na gasfralgia chronica

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resulta-— 24 resulta-—

dos. Leclere cita o caso d'uma mulher de 48 annos

atacada da gastralgia, curada da ãôr e vómitos, pelo leite. Havia recahida, se se desviava do regimen, e cu-ra pela volta ao leite .

Saláchas cita egualmente o caso d'um homem, de

57 annos de idade, atacado de gastralgia com vómitos, curado somente pelo leite. Mas, como a experiência o

demonstra, os benefícios do regimern lácteo nas gas-tralgias não são constantes, e muitas vezes o leite não é supportado ou é nocivo.

Fonssagrives repelle ouso do leite na dyspepsia e gastralgia.

Nas gastrites e gastro enterites toxicas, acompanha-das de gastralgia, depois da ingestão d'um veneno irri-tante ou corrosivo, Jaccoud recommenda com o máximo ardor o emprego do leite, e louva-se pelos effeitos fe-lizes que tem obtido. Emconsequencia da ingestão d'um veneno, sobrevoem vómitos incessantes durante vinte quatro horas, depois param, mas deixam dores atrozes e uma grande irritabilidade que expulsa todos os ali-mentos. O único meio, diz elle, de acalmar estes acci-dentes, é o leite gelado, e se a principio é expulso, era seguida é tolerado, e desde então o doente pode ser alimentado durante o tempo necessário para a repara -ção das lesões.

Do emprego do leite na ulcera simples do estômago

O leite, pela tríplice propriedade de tónico, ado-çante e calmante acha-se indicado n'um grande niime-mero de doenças chronicas do estômago.

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A experiência tinha já mostrado a Cruveilhier que a fraqueza ou erethismo das paredes estomacaes, a irri-tação commuai, uma ulcera, uma lesão orgânica, quan-do qualquer outra alimentação não podia senão favo-recer o seu desenvolvimento, cediam á acção do leite. Guiado pela observação d'estes factos, Cruveilhier en-controu uma maravilhosa applicação do leite na ulcera simples do estômago. Este imminente professor, con -sidera esta doença como uma flegmazia ulcerosa, uma lesão local entretida por uma irritação que de-via tender necessariameete para a cura, se se podesse collocar o órgão em condições apropriadas ao repou-so. Era preciso pois procurar um alimento reparador, que fosse bem supportado pelo estômago, de fácil di-gestão, e podendo quasi passar desapercebido.

Deparou-se-lhe o leite como offerecendo as melho-res vantagens.

Numerosas experiências se fizeram e foram todas coroadas do melhor successo. O regimen lácteo é o grande meio de cura na ulcera simples do estômago, é o único alimento que o estômago pôde supportar sem se insurgir contra a- sua presença, o único tópico que lhe convém. Na ulcera simples do estômago, o leite parece actuar á maneira d'um especifico, e sua espe-cificidade provem da sua innocuidade. Tal é o elogio que lhe tece Cruveilhier.

Eis o modo como elle manda que se administre. Depois de ter deixado descançar o estômago do doente durante vinte e quatro horas, submette-o então á dieta láctea. Quer que o leite seja tomado immediatamente, quando acaba de se mulgir, na dose de algumas colhe-res, todas as quatro horas ou em intervallos mais

(23)

consi-— 26 consi-—

deraveis, se o estômago assim o exige. Se o leite é bem digerido, diz Gruveilhier, surte o seu efeito como por encanto; e se não é bem digerido, é preciso mis-tural-o com uma pouca de agua de cal ou assucaral-o ligeiramente.

Muitas vezes o leite fervido é melhor digerido que o natural; o frio melhor que o quente; o muito quente melhor que o morno. Mas se fatigar o estôma-go, devemos renuncial-o por algum tempo.

Cruveilhier recommenda continuar por muito tem-po o regimen lácteo augmentando a quantidade do lei-te todo o lei-tempo que for bem supportado pelo estôma-go; depois, pouco a pouco vae-se-lhe addicionando pão, arroz, etc. Chega o momento em que o leite começa a ser menos agradável ao gosto e menos supportado pelo estômago; é então que se permitte ao doente uma

re-feição de frango ao meio dia, conservando-se o leite para outra refeição; d'esté modo chega-se assim por transição insensível a um regimen mais substancial. Cruveilhier faz-nos vêr mais que ao passo que o regi-men lácteo é essencialregi-mente favorável ás melhoras e

cura da ulcera simples do estômago, o contrario suc-cède no carcinoma d'esté órgão. Este facto impor-tante foi aproveitado por Cruveilhier servindo-se d'elle como pedra de toque para diferenciar as duas doen-ças e firmar solidamente o seu diagnostico. Efectiva-mente ha casos em que a ulcera simples do estômago oferece as maiores analogias na sua symptomatologia comocarcinoma; oraé n'estes casos duvidosos que a die-ta láctea pôde resolver a duvida. Este imminente pro-fessor cita na sua memoria o seguinte exemplo:

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Tra-cta-sed'uma mulher de sessenta annos, na qual se ti-nha diagnosticado um carcinoma do estômago chegado ao seu ultimo período; esta mulher experimentava ha cinco mezes, vómitos negros quasi contínuos, dores muito intensas na região epigastrica, horror para toda a espécie de alimentos e bebidas, emmagrecimento rá-pido, côr d'um amarello-palha na face. Tudo isto le-vava a crer que havia um carcinoma do estômago. Tal era o diagnostico de todos os medicos que iam sendo successivamente chamados. Gruveilhier fundado sobre a ausência d'alguns dos signaes positivos do carcinoma, fez o seguinte diagnostico: Cancer de l'estomac, si

toutefois ilriy a pas ulcere simple. O estômago não

po-dia supportar nem alimentos nem bebidas. Perguntou ca-sualmente ao doente, se gostava d'ostras, respondeu-lhe que era o seu manjar favorito no estado de saúde; engulia a agua d'ostras com prazer. Submettido á dieta láctea, a cura foi completa, succumbindo cinco annos depois a uma nova ulcera que terminou por uma perfuração do estômago. Tudo isto prova a grande utilidade que nos offerece o regimen lácteo na ulcera do estômago. A exemplo de Gruveilhier, muitos outros pathologistasotem empregado na ulcera do estômago com bom successo. Segundo Jaccoud, a sua efficacida-de tem sido verificada em todos os paizes, e ne-nhum outro methodo se lhe pode comparar. Alimento reparador, não irritante, exigindo um pequeno traba-lho mechanico para ser digerido, presta-se metraba-lhor que qualquer outro medicamento á cicatrisação da ulcera simples do estômago.

O regimen lácteo ainda se tem empregado no car-cinoma do estômago, mas somente como palliativo e

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como meio de sustentar as forças e prolongar portanto a vida por mais tempo.

Do regimen lácteo na diarrhea das crianças

A única alimentação da criança nos primeiros tem-pos da sua existência, é o leite materno, alimento muito accommodado á fraqueza dos seus órgãos e ás exigên-cias da sua nutrição e do seu desenvolvimento. Quan-do se administram á criança outras substancias, succède que, quasi sempre, ha intolerância dos seus órgãos di-gestivos, observando-se com frequência a diarrhea. De todos os meios a empregar para curar este estado, a volta ao seio materno é sem duvida o melhor. Mas, se o leite materno, por motivo de regimen exclusivo, actua com efficacidade contra a diarrhea, o leite proveniente de outra fonte tem sido empregado nos mesmos casos, e os successos obtidos tornaram este meio importante. Quando a criança é de mama, o leite que melhor lhe convém, é o d'uma ama que se ache em boas condições. Na epocha de dentição, as crianças tem a atravessar um período durante o qual são muitas vezes atacadas de diarrhea. N'este caso, a dieta láctea é um meio mui-to util.

Pecholier refere alguns cazos de cura de crianças atacadas de diarrhea incoercível contra a qual todos os outros meios se tinham tornado totalmente impoten-tes. Pecholier prescreve uma chávena de leite, de duas

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em duas horas, misturado com metade d'agua e addi-cionado d'algumas goitas de agua de cal. Aconselha egualmente que se continue o regimen lácteo; e quando a melhora se estabelece, permitte ajuntar ao leite pão para chegar gradualmente ao regimen ordinário. Sendo a má qualidade do leite da ama ou uma alimentação precoce e intempestiva a causa ordinária da diarrhea das crianças, a dieta láctea está perfeitamente indica-da. O leite, com tanto que seja de boa qualidade, acom-moda-se aos órgãos digestivos das crianças, nutre-as sem irritar, é mesmo sedativo, e além d'isso o seu uso exclusivo, supprimindo toda a alimentação estranha, combate a propria causa da doença.

Diarrhea chronica dos adultos

A efHcacidade do leite e do regimen lácteo na diarrhea das crianças conduziu naturalmente, por analo-gia, os medicos a tentar o mesmo meio na diarrhea chronica dos adultos.

Todos os auctores que têem empregado este tra-ctamento, louvam os seus efeitos e confessam ter obti-do verdadeiros milagres. As seguintes observações tendem a demonstral-o.

Karell refere o caso d'uma rapariga cachetica em consequência d'uma diarrhea inveterada que datava desde a sua infância, curada pelo regimen lácteo; mas sempre que se suspendia o tractamento, os accidentes voltavam; em virtude d'isto, achou conveniente não interromper o tractamento, e ha muitos annos goza, graças á sua perseverança, saúde regular.

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Auphan assignala um feliz successo n'uma diar-rhea contra a qual todos os meios enérgicos foram impotentes, e que datava de seis mezes. Dava ao seu doente dois decilitros de leite de vacca assucarado, trez vezes por dia, e augmentava gradualmente a dose. Ordenava absoluta abstinência de qualquer outra bebi-da. No «Diccionario de Medicina e Cirurgia Prático», artigo Diarrhea, vem. citadas algumas observações de cu-ra de diarrhea chronica, tendo cedido apenas ao em-prego da di eta láctea.

Gomo actua o regimen lácteo nas diarrheas e doen-ças intestinaes?

A sua acção têem sido interpretada de diversos modos. Auphan considera a diarrhea como consequên-cia d'um edema sub-mucoso, d'uma hydropisia do intestino, e o leite actua então com a mesma efficacida-de que nas outras hydropisias.

Contra este modo de vêr, insurge-se Pecholier; appella para o campo da anatomia pathologica, e diz que esta nunca lhe demonstrara a existência de tal edema. Segundo elle, o leite é util, em consequência das suas qualidades nutritivas, da sua fácil digestibilidade, da sua acção tempérante e antiphologistica local. Fons-sa grives approxima o emprego do leite dos purgantes

salinos, em certas diarrheas chronicas, actuando como modificadores da natureza das secreções intestinaes, dando portanto aos fluxos díarrheicos antigos uma im-pulsão para a cura.

Ingerido em pequenas doses, todas as horas ou de duas em duas horas, o leite não produz diarrhea; é fa-cilmente dígerivel e assimilável, e quando existe a diarrhea, e se administra ao doente, representa

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d'aigu-ma d'aigu-maneira o papel de cataplasd'aigu-ma interna contra a inflammação gastro-intestinal, exerce uma acção sedan-te sobre as mucosas irritadas e inflammadas, exige fracos movimentos mechanicos para ser digerido, collocando para assim dizer o intestino n'um repouso relativo e nu-trindo sufficientemente o doente; demais, facilmente absorbivel demora-se pouco tempo nas vias digestivas, não deixa resíduo que deva percorrel-as e actuar como irritante ou corpo estranho. Gomo se vê, existe no leite uma multiplicidade de condições favoráveis á cura da diarrhea. O leite, desde que é ingerido, actua topicamente sobre a mucosa do estômago e do intes-tino congestionado, irritado e inflammado. Da mesma ma-neira que uma cataplasma applicada sobre uma dada extensão da pelle, quando existe uma inflammação mais ou menos superficial em via de desenvolvimento ou já desenvolvida, actua efflcazmcnte diminuindo a conges-tão e inflammação, assim o leite posto em contacto so-bre a mucosa gastro-intestinal, deve diminuir a conges-tão e a inflammação d'esta membrana. Afrouxando a cir-culação geral do sangue, como dizem os auctores, e portanto a circulação intestinal, o leite ainda diminue a congestão e a inflammação que ahi se encontra. Pôde além d'isso produzir este mesmo effeito exigindo fra-cos movimentos para ser digerido e apresentando uma digestão e absorpção fácil, de modo que, no momento da digestão, o estômago e o intestino congestionam-se menos pelo leite do que por qualquer outro alimento. Demais.o intestino inflammado não soffre a acção irritante dos resíduos da digestão, acha-se para assim dizer em repouso, por isso que o leite se digere e absorve prin-cipalmente no estômago e parte superior do intestino

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delgado. Embora o espirito do medico se não satisfaça por falta de uma explicação scientific^ exacta, o facto prático da sua efficacidade è incontestável e o doente não gosa menos o beneficio do emprego d'esté remédio essencialmente benéfico para elle, e que tem por fim

collocar o intestino em repouso, não o irritar, nutril-o>

e finalmente assegurar-lhe muitas vezes a cura.

Do regimen lacleo na dysenteria chronica

Um grande numero de medicamentos se têem em-pregado no tractamento da dysenteria chronica, mas infelizmente todos inefficazes na grande maioria dos casos. A affecção continua progredindo de um modo cada vez mais inquietante, o doente emmagrece insensi-velmente todos os dias por falta de digestão d'alimen-tos, nutrindo-se por isso á custa da sua propria sub-stancia. Que convém fazer? Diz Fleury que é preciso ter presentes ao espirito as duas seguintes indicações:

i.° Combater a lezão do intestino. 2.° Combater a ane-mia, a emaciação e o enfraquecimento que brevemente trazem comsigo perturbações de digestão e assimilação. Poderemos pela dieta láctea exclusiva preencher estas duas indicações? Os benefícios que d'ella se podem co-lher não tinham escapado aos antigos.

Hyppocrates aconselhava o leite aos dysentericos, e em muitos casos, considerava-o como meio mais im-portante de cura. Recommenda-o em muitas doenças taes como icterícia, febres biliosas, erysipela, epilepsia,

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na hydropisia causada por lesão do baço e do figado, nas inflammações, cholera, etc.

Entre estas doenças aquella em que Hyppocrates reconhecem de melhor proveito o regimen lácteo foi a disenteria. Para elle todos os leites eram bons. Attri-buia-lhe a propriedade de suspender e modificar as eva-cuações; dava no principio o leite misturado d'agua; em seguida diminuía a proporção d'agua, até que che-gava a prescrever o leite puro. Depois de Hyppocrates, muito outros medicos o têem empregado; Sydenhan dava-o aos dysentericos, como bebida, fervido com três vezes o seu pezo d'agua.

Delioux de Savignac regeita o seu emprego na dy-senteria, porque elle não faz senão aggravar a doença e causar cólicas violentas. Não vê pois senão inconveniente, em o dar como bebida mesmo misturado com agua, acres-centando que se o capricho de algum doente Ih'o exi-gisse, dar-lh'o-ia misturado com agua de cal pelo mo-tivo de que o leite puro determina cólicas, emquanto que é tolerado com agua de cal.

Não deve pois entrar na alimentação habitual dos dysentericos. Contrariamente a este modo de ver, se pronuncia Pecholier, fallando da dita latea em geral.

O elogio que este auclor tece á applicação da die-ta láctea no tradie-tamento da dysenteria chronica, denun-cia-se nas seguintes palavras que reproduzimos. «Je af-firme qu'après la quinquine e le mercure, c'est peut-être le remède qui lui a donné les plus beaux résultats et que lui a inspiré, au plus haut degré, cette confian-ce inébranlable en la puissanconfian-ce de la thérapeutique, sans laquelle, dit-il aucum médecin ne peut réussir dans son art.» Esteauctor empregou egualmente a dieta

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láctea no tratamento de muitas doenças, especialmente nas doenças do coração, hydropisia e diarrhea; diz elle que apenas se lhe proporcionou occasião de a empregar uma só vez na dysenteria chronica, o bom resultado, po-rem, que obteve foi tão completo que bastou para o con-vencer da efficacia do regimen lácteo exclusivo n'esta afecção.

Como actua o leite n'esta doença?

A tal respeito Philippe Karell exprime-se do se-guinte modo. «Se se me perguntasse entre os elementos de que o leite se compõe, qual é aquelle a que deve-mos attribuir a virtude curativa: á caseína, ao assu-car do leite, aos saes, á gordura ou á proporção par-ticular que existe entre estes diversos elementos; se mesmo me perguntassem o nome que deveria dar a esta cura, diaphoretica, diurética, resolvente ou tóni-ca, confesso que me veria assas embaraçado para res-ponder.»

Segundo Bouchardat, o leite actuaria de duas ma-neiras: 1.° pelo próprio leite; 2.° pelo regimen que im-põe.

Effectivamente o leite contem todos os princípios que são úteis, como elementos reparadores de toda a economia animal. E' necessário nutrir o doente sem lhe irritar o intestino.

Supprimir-lhe toda alimentação, seria expôl-o aos perigos da inanição, dar-lhe alimentos, mesmo em-quantidade moderada, irritar-lhe-iam o intestino, entre-ter-lhe-iam a inflammação e portanto o mal jamais ten-deria para a cura. Ora com o regimen lacteo.estas difi-culdades podem ser vencidas; o leite é um alimento de

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fácil digestão, pois, á excepção da materia gorda, todos os seus elementos são susceptíveis de serem assimiláveis sem intervenção activa dos órgãos debilitados. Demais a caseína é, de todas as matérias albuminóides, aquella que soffre a transformação mais profunda no estômago e parte superior do intestino delgado; geralmente es­ tas partes do tubo digestivo, na doença em questão, não offerecem lesão alguma. Os bons effeitos que pela dieta láctea se devem obter, comprehendem­se facilmente, todas as vezes que tal regimen se observe fielmente. Ora a observação attenta dos practicos leva­nos a dizer que, sempre que ba um desvio de regimen, não só se perdem os benefícios anteriormente colhidos, mas tam­ bém se aggrava consideravelmente a affecção. A repu­ gnância quasi invencível que têem para o leite os infe­ lizes condemnados, durante annos, a não fazerem uso se não d'esté alimento, justifica até certo ponto o modo de vêr de Delioux, mas em nada invalida a efficacia da dieta láctea no tractamento dos dysentericos; estes atormen­ tados pela fome, não podendo submetterem­se a um regimen tão monótono, apesar dos perigos que os amea­ çam, commettem desvios de regimen que podem acarre­ tar ou apressar uma terminação funesta. Eis pois a ver­ dadeira causa da variabilidade dos resultados da dieta láctea. Como já fizemos sentir, o leite possue proprie­ dades altamente nutritivas, podendo por isso combater poderosamente nos dysentericos o enfraquecimento, a anemia e a emaciação; pode egualmente combater as lesões do intestino, deixando este órgão em descanço e favorecendo a sua reparação. Todos os elementos do leite não deixando residuos, servem, segundo Gubler, para reforçar as forças, aquecer o corpo e restaurar a

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substancia orgânica; isto junto á sua ontiiosidade, flui-dez e reacção alcalina, pode explicar o duplo papel que representa, actuando ao mesmo tempo como medica-mento tónico e como agente nutritivo.

Para se poder apreciar com alguma exactidão a proporção de curas de dysentericos pela dieta láctea e julgar dos seus bons effeitos, basta citar os dados esta-tísticos que nos são fornecidos pela memoria de Barret. No Hospital de Brest, abriu-se uma enfermaria consa-grada exclusivamente aos dysentericos. Era seu director M. Gestin que, ávido de affirmar a exactidão do regimen lácteo, observou a mais stricta vigilância. A enfermaria abriu-se no dia 6 de julho, entraram 16 doentes durante 0 resto do mez. Todos tinham á sua entrada evacuações liquidas. No 1.° de agosto os resultados foram os

se-guintes:

4 doentes têem evacuações moldadas duras e nor-ma es.

5 têem evacuações moldadas, mas ainda um pou-co molles.

2 têem evacuções viscosas.

5 têem ainda evacuações liquidas; acham-se ha pouco no hospital.

A balança dá os seguintes resultados; 8 augmen-taram d'um pezo que varia entre 2 e 8 kilogrammas; 3 não ganharam nem perderam pezo, 4 perderam cada um

1 kilogramma.

Finalmente, um d'elles não tinha senão 24 horas de demora no hospital no momento do pezo.

A diminuição do pezo observa-se n'aquelles que têem evacuações liquidas e cuja demora no hospital

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da-tava de pouco tempo, para que a dysenteria se fizesse acompanhar de resultados apreciáveis.

Do regimen lácteo na tisica pulmonar

Em todos os tempos tem a dieta láctea sido em-pregada como um dos meios mais poderosos contra os tísicos.

Já Hyppocrates empregava o leite na tisica, recom-mendava-o de manhã e de tarde depois da exacerbação febril; se porém a febre era continua, proscrevia-o. Au-ctores, como Hoffman e Gullen, attribuiram-lhe uma acção curativa no tratamento da tisica pulmonar. Bau-mes consagrou longos desenvolvimentos ao tratamento da tisica pulmonar pelo regimen lácteo; insiste so-bre a escolha do leite e soso-bre a quantidade que se de-ve administrar. Refere na sua obra que um inglez, no ultimo período d'esta doença, depois de ter feito uso d'um grande numero de medicamentos,tomou successiva-mente duas amas e chegou em quatro mezes e meio a uma cura completa. Cita egualmente o facto d'um tísi-co que recuperou a saúde, graças ao leite de sua mulher que acabava de perder o filho.

O leite, diz Baumes, produz feliz resultado, quan-do o appetite ainda é bom, quanquan-do a digestão se faz bem, quando as forças não estão muito abatidas e quan-do os suores nocturnos são pouco abundantes.

Todas as espécies de leite se podem administrar com tanto que sejam de boa qualidade. O leite de vac-ca ê o mais usual, mas, n'este vac-caso, pouvac-cas vezes se

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emprega em consequência da sua generalisação eco-nómica e da dificuldade que se apresenta ao espirito em reconhecer um modificador medicamentoso n'uma substancia essencialmente alimentar e de que nos servi-mos diariamente. O leite de jumenta, cabra, égua e mais raramente o de mulher, são d'um uso tradiccional no tratamento da tisica.

A escolha que geralmente se faz entre as espécies do leite, é uma questão de abastecimento. Por esta ra-zão, o leite de vacca devia ser preferido. O leite de ju-menta que se distingue de todos os outros pelo augmen-te de assucar que conaugmen-tem, é aquelle que mais se em-prega no tractamento da tisica. O leite de mulher se-ria sem duvida o melhor, mas é sempre regeitado pela difficuldade do seu emprego e pela sua variada compo-sição segundo a alimentação e as différentes condições physiologicas em que a mulher se encontra. O melhor leite deve ser pois aquelle que os doentes mais facilmente supportarem, e para o qual tiverem melhor appetite. Todavia o leite de jumenta é aquelle que com melhores resultados se tem empregado.

Mas realisará elle as virtudes curativas que se lhe attribuem? As observações citadas não deixarão no es-pirito do pratico duvida alguma? Tractar-se-hia de ver-dadeiras tisicas? Qual é a razão, porque quasi todos os auctores que tèem empregado o mesmo tractamento em doentes collocados em igualdade de circumstancias, não teem sido tão felizes? Concluiremos esta parte com as seguintes palavras de Fonssagrives: «La diète lactée a «été considérée pandantlongtemps comme um des moy-«ens les plus efficaces contre les phthisiques, mais au «lieu de n'y voir antre chose qu'une allimentation

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ana-«leptique grosse, de tolérance facile, on l'atransformée «en une sorte de spécifique de cette cruelle affection... «Ce n'est pour nons qu'un aliment susceptible, en rai-«son de son assimilation facile et de sa riche se en «principes gras, de réparer les pertes incessants que «fait l'économie e de retarder les progrés du marasme.»

Julgamos que vem agora a propósito dizer duas palavras acerca da. medicação lacto-clorurada ins-tituída e preconisada por Amadeu Latour, como meio de tractamento da tisica pulmonar. Reduz-se ella a ad-ministrar ao doente leite d'uma cabra submettida á in-gestão de doses diárias de sal marinho. O modo como procede Amadeu Latour é o seguinte: Toma uma cabra nova, forte, boa leiteira e collocada em boas condições de arejação, habitação e exercício.

A sua alimentação consta d'um terço d'hervas verdes e raizes sêccas e dois terços de farelos addiciona-dos de 12 a 15 grammas de sal marinho, quantidade que se pode elevar até 30 grammas. Esta alimentação, que a poucas cabras repugna, é compatível com o per-feito estado de saúde. E' assim o leite clorurado que o doente tomará. A dose a tomar varia segundo os indi-víduos. Como regra geral, diz Herard e Cornil que quanto mais leite o doente poder digerir, tanto mais rápida será a cura, com tanto que o leite seja digerido e assimilado. A dose ordinária é d'um litro por dia. O doente tomará pequenas quantidades de leite, mas com curtos intervallos. Para este fim, o doente deverá tra-zer constantemente uma garrafa de leite com elle, de maneira a equilibrar a sua temperatura com a do corpo, e de três em três minutos, engole um trago de leite. Este tractamento deve durar pelo menos três mezes,

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gumas vezes nm anno e mesmo mais. Convém, segundo Amadeu Latour, no primeiro periodo da tísica, pode ser ainda tentado no segundo, mas sem resultado, como todos os outros meios, no terceiro periodo. A alimenta-ção dos doentes exige também recommendações espe-ciaes; a carne do carneiro ou de boi assada, deverá con-stituir a base da sua alimentação. Gomo era natural, a exemplo de Amadeu Latour, muitos outros emprega-ram o sal marinho junto ao leite no tractamento da tí-sica pulmunar; os bons effeitos que Pietra Santa colheu vieram confirmar os resultados de Amadeu Latour. («União Medica» de 1860.)

Diz-nos Mignéres, que, na Algeria, tinha observado que o sal marinho predominava na alimentação dos indígenas e que n'estes as affecções chronicas do peito eram menos frequentes que nos europeos. O conheci-mento d'estes factos levou-o a proceder da seguinte ma-neira: De manhã e de tarde, recommendava aos seus doentes que bebessem um copo grande de leite de ca-bra, ao qual se ajuntava uma porção de sal marinho; demais, a cabra só devia ser nutrida com alimentos sal-gados. Mignéres confessa ter obtido por este processo óptimos resultados.

A melhor interpretação que se tem dado do modo d'acção d'esté tractamento, é que o chlorureto do sódio limita os seus effeitos a conservar o appetite e a fazer supportar aos doentes quantidades mais consideráveis de leite. Do que precede, facilmente se pôde concluir que, coma dieta láctea, não nos propomos curar a tí-sica pulmonar, resultado excepcional, senão impossível, mas sim como um meio de prolongar a vida dos tísi-cos; ora o regimen lácteo chlorurado, despertando a

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nutrição e excitando o appetite, parece-nos poder pre-encher o importante papel de deter a consumpção nu-tritiva e o progresso do marasmo.

Em virtude d'isto, devemos aconselhar o regimen lácteo chlorurado nos dois primeiros períodos da tisica, principalmente no primeiro, quando o appetite ainda se conserve e que as funções digestivas se exerçam re-gularmente. Pelo contrario, o seu emprego acha-se contraindicado n'aquelles que são profundamente lym-phaticos, excessivamente fracos, e consumidos pela fe-bre hectica do terceiro periodo d'esta doença.

Do soro do leite na tisica

O soro do leite ha muito empregado em medicina, porque Kyppocrates, Hoffman, etc., faliam d'elle nos seus escriptos, foi completamente esquecido pelos me-dicos, atè que o Dr. Carrière, em 1860, publicou um trabalho sobre as curas que por este meio obtivera na Suissa e Allemanha, no tratamento das doenças chroni-cas das vias digestivas. Apesar da judiciosa critica que lhe foi feita pelos medicos d'aquella epocha, Fonssagri-ves confessa que esta medicação, mais poderosa do que parece á primeira vista, pode prestar muitos serviços na tisica pulmonar. A que elementos attribuir, diz Car-rière, os seus benefícios na tisica? O soro do leite é o leite privado da sua caseina, da manteiga e algumas ve-zes da albumina, do sorte que não encerra senão os saes que o compõem ou pelo menos não perde senão uma pequena porção pela coagulação.

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Vê-se pois que é só n'elles que devem residir infal-ivelmente as suas virtudes therapeuticas, porque não se poderá comprehender a sua actividade fora d'estes compostos salinos. Effectivamente, encontram-se n'elle os seguintes saes; chlorureto do sodio, sulphato de so-da, phosphato de cal, carbonato de cal, etc. Conservando pois todos os saes do leite e abandonando as matérias gordas para se approximar da densidade da agua, pôde considerar-se como uma espécie d'agua mineral, po-dendo ser comparada a typos diversos, porque encerra uma quantidade sufficiente de cada um d'estes saes. Ora se é a estes mesmos saes que modernamente se at-tribue uma acção favorável sobre a tisica, não deve sur-prehender-nos os resultados benéficos que da sua ap-plicação teem obtido muitos práticos.

Segundo Herard e Cornil, a medicação láctea, tem-pérante e antiphologistica, acha-se indicada nos casos agudos e sub-agudos, nos indivíduos nervosos, hemo-ptycos, e formalmente contra-indicada nos doentes fra-cos, lymphatifra-cos, que carecem d'um regimen substan-cial e reparador. E' com estas restricções que a cura pelo soro do leite deve entrar no traclamento da tisica pulmonar. Emprega-se de preferencia o de leite de ove-lha, por se reconhecer n'elle maior actividade, o que depende talvez da abundância de compostos salinos.

Modo d'administraçao.

O soro de leite bebe-se por um copo que levelâO a 130 grammas.

Tomam-se geralmente dous copos de manhã, com um intervallo d'um quarto d'hora e um terceiro depois do meio dia. Esta dose é muitas vezes excedida, mas

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o bom resultado depende antes da persistência do que do exagero da dose. (Fonssagrives).

O tractamento deve durar um mez e meio a três mezes, devendo ser favorecido por uma alimentação substancial. Podemos-lhe misturar e com vantagem as aguas mineraes e as sulphurosas. Externamente tem-se empregado em banhos nas névroses, particularmente, na histeria e hypocondria mas, sem proveito.

Da dieta láctea nas hydropisias

E' no tractamento da ascite que o regimen lácteo tem sido empregado mais particularmente.

- Bontius e Mauriceau foram os primeiros que tor-naram este meio do domínio da practica vulgar no da medicina racional. Todavia os factos observados, não obstante o seu valor, foram passando a um esqueci-mento quasi profundo, quando em 1831 Christien res-gatou este meio e provou que, n'um grande numero de casos, havia uma incontestável utilidade.

Muitas observações, todas notáveis pelos seus bons resultados, foram apresentados por Christien, embora deixem muito a desejar debaixo do ponto de vista do diagnostico, por isso que não nos diz quaes as causas que provocaram a hydropisia e quaes as variedades em que mais particularmente se acha indicada.

Depois de Christien os ensaios multiplicaram-se, os resultados felizes confirmáram-se, o campo da sua appli-cação foi alargando, as condições da sua administração

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foram melhor determinadas e a medicação ficou occu-pando um importante lugar na therapeutica. Ghrestien com um completo resultado empregou contra a ascite a dieta láctea como alimentação quasi exclusiva e sem outro auxiliar que a paracentèse n'um pequeno numero de casos. A diurese representa um grande papel na me-lhora da ascite, e nas suas observações, quasi sempre se nota o augmente da quantidade das urinas. Este au-ctor dá leite na dose de um litro e meio até quatro ou cinco por dia; e notou que, quando os doentes faziam uso de alimentos sólidos, dava-se muitas vezes um ag-gravo no estado da doença, com diminuição da urina e augmento do derrame. Aconselha que se suspenda ou mesmo abandone o regimen lácteo depois de oito ou dez dias da sua applicação, quando se não tenham obtido melhoras; mas é sempre preciso tental-o de pre-ferencia a qualquer outra medicação. Para se vêr a ce-ga confiança que Ghrestien põe n'este meio, basta citar-mos o seguinte caso que refere na sua memoria.

Tractando de um doente atacado de ascite que não queria submetter-se ao regimen lácteo, sentenciou-o assim:—a vida ou a morte. O doente vencido por este terrível prognostico, submetteu-se e curou-se comple-tamente em quatro mezes.

Pecholier curou uma ascite, consequência de uma hypertrophia do fígado pelo regimen lácteo; o doente desviando-se d'esté remédio, o derramamento augmen-tava, e voltando ao leite, melhorava. Sue, medico de Marselha, affirma que o regimen lácteo é o tractamento que mais felizes resultados lhe deu nos derrames abdo-minaes. Os seus doentes só tomavam leite. Dava-o na dose de um a dous litros por dia. Karell affirma a

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uti-lidade do regimen lácteo nas ascites e refere um grande numero de casos de cura.

Como se vê, todos os auctores são unanimes em re-conhecer a efficacia do leite n'aquellas doenças, sendo para notar que a medicação láctea offerece um caracter da contingência inhérente á idiosyncrasia do individuo, á re-acção do organismo vivo e bem assim ás causas e circu-mstancias diversas que muito devem influenciar o seu emprego e resultados. Mas a dieta láctea produzirá bom effeito em todas as ascites, em todas as hydropisias, qual-quer que seja a causa que as provoque? Certamente que não. A dieta láctea assim como nenhum outro methodo de tractamento pôde curar as hydropisias, as ascites que teem por origem uma alteração orgânica avançada do co-ração, do fígado ou do baço. Todavia se ella não pôde cu-rar, numerosas observações provam que ella pode ainda alliviar. A dieta láctea convém ainda ás hydropisias que sobrevem na convalescença de uma doença grave ou em consequência de um sarampo, d'uma escarlatina; las que andam ligadas a uma alteração do sangue; áquel-las que tem por origem a impressão do frio, a supres-são de suores ou de hemorrhagias habituaes, áquellas que tem por causa o abuso das bebidas alcoólicas. Fi-nalmente convém ainda áquellas que andam ligadas a uma irritação qualquer do peritoneo. As conclusões que Jaccoud tira da observação dos factos, são as seguintes: Nas hydropisias essenciaes e nas h ydropisias escar-latinosas, a medicação láctea tem uma acção curativa; nas hydropisias symptomaticas das doenças do cora-ção, dos pulmões e órgãos abdominaes, não tem senão uma acção palliativa.

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ga-se que o leite actua aqui como um poderoso diu-rético. A qual dos elementos do leite devemos attribuir a diurese? Questão bem difflcil de resolver. Biot na re-vista mensal de Medicina e Cirurgia exprime-se a este respeito da seguinte maneira: «Le lait est diurétique, «cela est incontestable et ne saurait être nié par les me-«decins qui ont employé cet agent thérapeutique; mais «il est bien difficile de ratacher cette action à l'un «quelconque de ses principes. Ce n'est pas á l'eau seule «qu'il la doit, sans quai le même effet diurétique «s'observerait avec l'eau pure; on l'a attribuée à ses «sels, mas ils existent en quantité trop peu considera-ble pourqu'on puisse l'admettre, ainsi que ceci res-«sort du tableau suivant, emprante au Cours de chimie «de M. Regnault.»

Mil grammas de leite contem:

Phosphato de cal 1,805 » de magnesia 0,170 » de ferro 0,032 » de aoda 0,025 Clorureto de sodio. 1,350 Carbonato de soda 0,115

E' pois provável que a acção diurética do leite seja devida a causas múltiplas não podendo porisso attribuil-a isoladamente nem á agua nem aos saes que contem. Na impossibilidade de darmos explicações po-sitivas, julgamos que a ascite é melhorada e curada por uma acção complexa do regimen lácteo actuando ao mesmo tempo sobre a causa e sobre o obstáculo, so-bre a exhalação e soso-bre a absorpção, pela circulação e nutrição geral. Na memoria de Christien

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acham-seexpos-tas muiacham-seexpos-tas observações que provam exuberantemente a efficacia do leite na ascite.

Por nos parecerem curiosas, reproduzimos as duas, seguintes:

i.a—Tracta-se de um individuo atacado de ascite,

de idade de 66 annos. Pela historia da doença, attribuia Christien a ascite ao abuso das bebidas alcoólicas. As urinas eram raras e ardentes. O ventre inerte e a sede intensa. Tudo concorria para lhe fazer esperar um bom resultado da dieta láctea e prescreveu-lh'a com confian-ça. Passados 25 dias, o doente faz-lhe saber que tinha começado o tractamento, que experimentava melhoras muito sensiveis, que urinava muito, que as suas urinas não eram tão carregadas,que o ventre tinha diminuido de volume, que as evacuações se restabeleciam, mas que se achava enojado com a bebida exclusiva do leite, pe-dindo-lhe com a maior instancia que lhe modificasse o tractamento. A sua resposta foi a seguinte: O leite ou a morte. O doente submetteu-se á dieta láctea que conti-nuou rigorosamente durante quatro mezes, restituindo-o a uma saúde regular que se conservou 6 annos. Mor-reu de uma pneumonia.

s.a—Tracta-se de Um inglez, de 20 annos, atacado

de uma hypertrophia considerável do fígado á qual suc-cedeuuma ascite, que em pouco tempo se tornou enorme. Paracentèse, novo derrame. Foi n'esta condição que a dieta láctea foi prescripta como alimento e medicamento. O doente tomava um litro e meio por dia, e ia augmen-tando successivamente a dose até três litros em 24 ho-ras. Tendo permittido ao doente alguns alimentos

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soli-— 48 soli-—

dos. deu-se em seguida uma diminuição da urina e aug-menta do derrame. Severidade no emprego da dieta lá-ctea, melhoras consideráveis. No fim de um mez, nova concessão de alimentos sólidos que produziram resul-tados tão terriveis como pela primeira vez. Nova seve-ridade no uso exclusivo do leite. Novas melhoras. Ter-ceira alimentação. Ainda prejudicial. Volta á dieta lá-ctea, cura completa da hypertrophia e da ascite.

Estas observações, principalmente a ultima, são interessantes, por isso que nos fazem vèr as alternativas de melhora e recrudescência no estado do doente, á me-dida que a quantidade de leite augmentava ou diminuía com ou sem alimentos sólidos. Além d'isso, esta obser-vação mostra-nos não só os effeitos do leite como diuré-tico, mas ainda a sua acção sobre o fígado que voltou ás dimensões normaes.

Do leite na anasarca

O professor Christien tendo dado impulso ás ex-perimentações e aos estudos sobre o emprego thera-peutico do leite na ascite, os práticos tentaram este meio em outras classes de hydropisias, e seus esforços foram coroados dos melhores resultados. Serres não tendo obtido resultados favoráveis pelos melhodos ordinários (purgantes diuréticos e outras substancias) no tractamento da anasarca, qualquer que fosse a sua causa, (suppressão de transpiração, escarlatina, doença cie Brigth, obstáculo á circulação venosa, etc.), teve a ideia de procurar o effeito diurético no uso simultâneo

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do leite, do pão e cebola. Conta que obtivera bons re-sultados, em mais de 20 doentes, atacados d'anasarca aguda ou chronica, pelo uso de três sopas de leite por dia e uma pouca de cebola que devia ser comida crua com sal e pão em quantidade moderada. N'estes casos sobrevinha uma diurese abundante. Serres propunha-se pelo seu tractamento preencher três fins:

1.° Gollocar o órgão excretor das urinas em dieta pela ausência de bebidas.

2.0 Excital-o ligeiramente com a cebola.

3.° Nutrir o corpo com o leite e porisso sem o irritar.

Por este meio obtinha, em regra, a cura da doença, e assevera que, sempre que o doente resiste á necessi-dade de beber e de tomar outros alimentos, qualquer que seja a causa da anasarca ou edema e grau de anemia, a efficacia d'esté meio é sempre garantida. Em casos de mau resultado d'esté tratamento, acrescenta elle, seguido religiosamente durante um mez, podemos affoutamente prognosticar uma terminação má. Pecho-lier não é partidário da addição de cebola ao regimen lácteo, já porque muitos casos lhe fizeram vêr que, se era util, não era indispensável, já porque a cebola re-pugna a muitos indivíduos, é indigesta, podendo as suas virtudes diuréticas serem substituídas por productos do-tados de maior actividade.

Do leite nas anasarcas essenciaes

Nas anasarcas essenciaes, ou a frigore, assim cha-madas, porque se não tem èonseguido achar-lhes uma

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lezSo anatómica nem referil-as a lesões d'orgâos ou a qualquer desordem prévia, a medicação láctea é util. Estas doenças ordinariamente principiam por um movi-mento febril, que poucas vezes se prolonga além de três ou quatro dias.

Desde o momento em que passa o movimento fe-bril, a medicação láctea acha-se formalmente indicada. A partir do segundo ou terceiro dia estabelece-se uma diurese abundante, e a anasarca desapparece rapida-mente. «Diz Jaccoud, que, em certos casos, a anasarca a frigore é seguida, no fim d'um tempo mais ou menos variável, d'uma albuminuria, quer persistente, quer temporária; mas, quando a relação chronologica dos dous phenomenos não pode ser devidamente estabele-cida, quando o intervallo decorrido entre o começo da anasarca e a apparição da albuminuria, comprehende se-manas e mezes, a anasarca não perde o caracter e a si-gnificação d'uma anasarca essencial; a albuminuria, qualquer que seja a sua importância ulterior, não é se-não um phenomeno secundário, e porisso a anasarca deve ser combatida pelo regimen lácteo, embora coexis-ta com a albuminuria.

Pecholier considera ashydropisias essenciaes, como dependentes d'um desiquilibrio entre as funcções de exhalação e absorpção, a exhalação sendo superior á absorpção, dá-se a infiltração ou o derrame do liquido. Confirma os effeitos da dieta láctea n'estas circumstan-cias. Em favor da medicação láctea no tratamento da hydropisia essencial, reproduziremos a seguinte obser-vação do eminente professor Jaccoud.

Trata-se d'uma mulher, de idade trinta e quatro

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fraca, atacada de anasarca e de ascite, sem outra causa apreciável que a impressão repetida do frio húmido ; que depois de uma demora de quatro mezes n'um outro hospital em que foi tratada, sem resultado algum, por meio da Digital, xarope de iodureto de ferro e de vinho quinado, veio consultal-o n'um estado verdadeiramente grave. O inchamento era geral, a distensão dos tegu-mentos tinha determinado sobre as pernas largas placas erythema tosas, havia no peritoneo um derrame, a parede do ventre achava-se infiltrada assim como o dorso e o peito, mas não havia hydrothorax. A urina, devidamente examinada, era desprovida de albumina, a exploração dos órgãos não revelava alteração alguma. A medicação láctea exclusida foi instituida, e o successo excedeu toda a esperança ; mas vinte e quatro horas que precederam o começo do tratamento a quantidade de urina era de 900 grammas com uma densidade de 1:014; nos dias seguintes, a diurese apresentou as modificações que va-mos expor. PIAS DE IBATAMENIO QUANTIDADE DE UEiNA EM OBSERVAÇÕES CENTIG. CÚBICOS Densidade

Segundo 3100 1006=As pernas aeham-se um pou-Terceiro 5000 1006 co menos duras, o ventre Quarto 4200 1006 um pouco mais flexível. Quinto 4500 1006=0 Edema das pernas desap-Sexto 2400 1011 pareceu completamente. Sétimo 5650 1010 Persistência da ascite e Oitavo 4600 1009 da infiltração do tronco, Nono 4150 1009 da face e dos membros

superiores.

Decimo 2200 1012=A anasarca e a ascite desap-Duodecimo . . . 2100 1011 pareceram completamente.

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O regimen mixto foi então substituído ao re-gimen lácteo puro, e, passados vinte e quatro dias,

a cura da hydropisia subsiste; mas dois dias depois da instituição do regimen mixto, a urina, pela primeira vez mostrou albumina; esta albuminuria persiste desde então com oscillações quotidianas muito notáveis; o exa-me microscópico nada de característico revelou, não podendo Jaccoud pronunciar-se ainda sobre a signifi-cação d'esté phenomeno; nm o que é certo, é que so-breveio muitas vezes depois do começo da anazarca, e que a medicação láctea debellou em alguns dias a hy-dropisia datando de cinco mezss, e apresentando to-dos os caracteres da hydropisia essencial. (Jaccoud— Clinica Lanboisière.)

Na anazarca escarlatinosa a medicação láctea é a melhor. Passados poucos dias a hydropisia desapparece, os perigos das hydrocephalia são conjurados, e se a albuminuria depende de um estado catarrhal, cessa rapidamente; mas, se ella resulta de um estado patho-logico mais adiantado, a anazarca desapparece e a albu-minuria pode persistir.

Pecholier cita o caso de uma anazarca escarlati-nosa, curada pela dieta láctea absoluta, auxiliada d'um pouco de xarope de quina. Jaccoud refere egualmente o facto d'uma rapariga de seis annos, a qual depois de curada d'uma febre typboide grave, se expoz ao frio e foi atacada de uma anazarca. Instituído o regimen lácteo, estabeleceu-se uma diurese abundante e a cura foi com-pleta.

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Do regimcm lácteo no mal de Bright

Muitos practicos teem empregado o leite com bom resultado nas anarzarcas symptomaticas do mal de Brigth. Já antecedentemente mostramos o tratamento

que Serres empregava nos doentes atacados de anazar-ca, qualquer que fosse a sua causa, e os resultados favo-ráveis que obtivera, e a alta confiança que lhe inspira-va o seu methodo, com o qual, segundo elle, operainspira-va verdadeiros milagres. Peter e Gordier apontam nume-rosas observações de cura de anazarca Brigthica pelo regimen lácteo, mas geralmente a albumina persistia. Jaccoud refere diversos cazos de cura d'albuminuria pelo regimen lácteo, nas nephrites catarrhaes, escarlati-nosas ou não, de começo agudo ou lento. Na albuminu-ria symptomatica de doença de coração, o regimen lá-cteo debella e melhora a albuminuria: mas a sua acção sendo pouco poderosa sobre a alteração do coração, que persiste e reproduz os mesmos phenomenos, o bom re-sultado do leite, ainda que constante, não é senão tem-porário. Favorecendo a diurese e a depleção do syste-ma circulatório, pode muitas vezes exercer usyste-ma influen-cia feliz; mas como a causa permanece, a volta dos ac-cidentes é certa, embora muitas vezes retardada. Na ne-phrite parenchymatosa aguda, que se manifesta por fe-bre, dores lombares, hematuria ou albuminuria sangui-nolenta, quando tratada pela dieta láctea a diurese es-tabelece-se, a febre e as dores cessam e a albumina des-apparece das urinas. Muitas observações são citadas por Jaccoud, que affirma ter obtido curas completas.

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influencia favorável da dieta láctea nos doentes ataca-dos de anazarca Brigthica. Addicionam ao regimem lá-cteo duas grammas de iodureto de potássio e duas colhe-res de xarope de iodureto de ferro. Referem egualmente curas completas obtidas pelo regimem lácteo na albu-minuria aguda. Mas, á medida que a doença se aggrava e as lesões renaes se vão tornando cada vez mais accen-tuadas, o regimem lácteo não produz o mesmo resul-tado. Diz Jaceoud que, no periodo de transição do es-tado agudo para o chronico, o leite é ainda o mais po-deroso meio therapeutico, mas que os seus effeitos es-tão longe: de ser constantes. Se a urina contém apenas cylindros epitheliaes ou colloïdes, a cura é possível e tem-se obtido. Se as lesões avançadas apresentam os ca-racteres da chronicidade, em regra nada aproveita a medicação láctea. Mas esta medicação, acrescenta

Jac-cond, não é inutil, faz desapparecer a hydropisia, res> taura as funções, nutre o doente, reduz ao minimo as perdas de albumina, e, pela diurese abundante, previne os accidentes da obstrucção renal e da anuria. Gomo se vê,, com o leite só podemos esperar effeitos palliati-vos no mal do Brigth chronico.

Pelo contrario, no periodo aguda ou de transição, os seus effeitos são assaz reconhecidos. A seguinte com-municação oral que me foi feita pelo meu velho ami-go, o snr. Antonio Ferreira dos Santos e Vasconcellos, confirma o modo de vêr de Jaceoud. «Um individuo de constituição regular, d'idade approximadamente 40 an-nos, veio consultal-o. Este doente queixava-se de dores intensas na região lombar, apresentava edema no terço inferior da perna esquerda e nas pálpebras. O exame das urinas denunciou a existência de albumina em gran-de quantidagran-de.

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Da diecta láctea nas doenças do coração

Gomo temos feito notar por mais d'uma vez, Ser-res empregava indiferentemente o seu methodo em

todas as espécies de anasarcas, qualquer que fosse a sua causa.

No contingente notável de resultados felizes que re-latou, entram as hydropisias consecutivas a lesões de co-ração. Este auctor assignala casos de cura de anasarca cardíaca pelo leite e cebola crua. Pecholier diz-nos, na sua memoria, que n'uma anasarca consecutiva a uma le-são orgânica do coração, empregou com feliz êxito a die-ta láctea. De duas em duas horas, mandava tomar uma chávena de leite misturado com um terço d'agua, e, de manhã e de tarde, juntava-lhe cinco gottas d'uma mis--tura em partes eguaes de tinmis--tura de digital, scilla e col-chico. Augmentava gradualmente o leite até três litros por dia, e a mistura das três tinturas era elevada até á dose de trinta gottas por dia. Muitos outros apresen-tam resultados notáveis, por este methodo de traapresen-tamen- tratamen-to, em doentes atacados de anasarca devida a lesões do coração. Nunca observaram que tal regimen influen-ciasse directamente a lesão cordiaca, mas os seus effei-tos attenuavam-se consideravelmente; assim a anasarca desapparece, a albumina existente na urina diminue, e os doentes offerecem melhoras consideráveis; mas o doente fica exposto a todos os perigos da doença

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