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O EDUCADOR E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS: INCLUSÃO, DIVERSIDADE E IGUALDADE

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Academic year: 2022

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O EDUCADOR E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS:

INCLUSÃO, DIVERSIDADE E IGUALDADE

Kizzy Morejón1 Luci Riston Garcia2 Cristiane Camargo Aita3 Vitor Cleton Viegas de Lima4

RESUMO

Vivemos em uma sociedade que, atualmente está voltada à tecnologia e ao desenvolvimento, sendo por isso de extrema importância que se debata a justiça social, a educação e o trabalho como fatores capazes de nortear as políticas públicas, tanto para a educação, quanto para o meio social em geral. O Eixo VI do Documento-Referência da Conferência Nacional de Educação – CONAE 2010, além de falar nestes temas também mostra o vínculo destes com as concepções de inclusão, diversidade e igualdade consideradas como uma necessidade vigente na atualidade. Contudo o texto ainda aborda as questões históricas e culturais dos movimentos sociais e sua contribuição para a concretização de políticas públicas e ações afirmativas em vista de garantias para grupos sociais tais como: étnico- racial, indígena, do campo, das pessoas com deficiência, educação ambiental, crianças, adolescentes e jovens em situação de risco, educação de jovens e adultos e educação profissional.

Palavras-chave: diversidade, educação, políticas públicas.

INTRODUÇÃO

O Eixo VI do Documento-Referência da Conferência Nacional de Educação - CONAE 2010 tem como base as implicações de políticas educacionais voltadas para a justiça social, ligadas à educação e ao trabalho, ainda levando em consideração o respeito à concepção de inclusão, diversidade e igualdade. Sendo a sociedade brasileira caracterizada por uma acentuada divisão de classes, na qual uma minoria rica domina e submete à opressão a maioria pobre, torna-se importantíssimo o ato inclusivo, a tolerância à diversidade e à implantação da igualdade como referenciais de e para uma prática social vinculada à cidadania.

O crescimento da consciência social, dos direitos e dos deveres dos habitantes vem tornando as sociedades cada vez mais responsabilizadas por seus atos e consequência destes

1 Professora do Curso de Pedagogia da ULBRA/Guaíba. Doutora em Psicologia/USP

2 Pedagoga. Professora da rede de ensino pública de Tapes/RS. Mestranda em Educação e Políticas Públicas/UNTREF/Buenos Aires/Argentina

3 Pedagoga, formada pela ULBRA/Guaiba

4 Pedagogo, formado pela ULBRA/Guaiba

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no mundo, sendo assim, a educação se torna essencial no processo de construção das condições dignas da existência humana.

Os movimentos sociais se tornaram as bases de uma política pública de educação, assim como as ações afirmativas, que fazem valer a responsabilidade do poder público com a população diversa, enquanto sujeitos de direitos, num espaço sócio-político em constante metamorfose.

Desta forma, serão tratados neste artigo os temas discutidos no Eixo VI da CONAE 2010, bem como suas possíveis políticas publicas com relação às questões étnico-racial, indígena, do campo, das pessoas com deficiência, educação ambiental, crianças, adolescentes e jovens em situação de risco, educação de jovens e adultos e educação profissional.

Ainda durante as explanações sobre este Eixo será ponderado o quadro de desigualdades historicamente construído no Brasil durante muitos anos de dominação e falta de políticas sociais.

JUSTIÇA SOCIAL, EDUCAÇÃO E TRABALHO

Com as transformações sociais que ocorrem a cada década, para não se dizer a cada ano, surgem mudanças nas políticas públicas fundamentais para a manutenção da sociedade, grande parte delas voltadas para justiça social, para a tão almejada educação universal e trabalho justo.

Outra questão do terceiro milênio é a ação inclusiva que valoriza a diversidade de cultura, raça ou condição especial, caracterizando movimentos sociais de cunho educacional, político, jurídico e, até mesmo assunto para mídia. Ainda que, tais questões sempre fizessem parte do desenvolvimento da educação brasileira, não eram devidamente conhecidas pelo poder público como merecedoras de legislações e políticas de apoio.

As modificações nas estruturas sociais que se observa atualmente são fruto e mérito da ação política e manifestante dos movimentos sociais, que estão sempre em busca da justiça social, da educação e dignidade.

Os movimentos sociais conseguiram introduzir tais questões na agenda das políticas educacionais, transformando-as em leis, políticas e atividades voltadas para o contexto educacional, porém não é o que se retrata em outras dimensões sociais.

Contudo, Gohn (2001) diz que:

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O cidadão coletivo presente nos movimentos sociais reivindica baseado em interesses de coletividade de diversas naturezas. Assim, temos grupos de mulheres que lutam por creches, grupos de favelados que lutam pela posse da terra, grupos de moradores pobres que lutam pelo acesso a algum tipo de moradia etc. Junto com as demandas populares – [...] –, encontramos demandas advindas de grupos não tão explorados no plano de produção ou dos direitos humanos, vida, saúde, educação e moradia, mas igualmente expropriados no plano de seus direitos civis de liberdade, igualdade, justiça e legislação. Temos assim os grupos que lutam pelo exercício da cidadania dos negros, homossexuais, mulheres, pela paz, em defesa da ecologia etc. (p.

16).

Como não poderia deixar de ser, a forma desigual como cada um dos movimentos sociais avança na luta pela construção de uma sociedade analógica é reprodução do modelo socioeconômico de uma nação onde, poucos têm acesso ao ensino de qualidade e ao conhecimento, haja vista que os mesmos são monopolizados pelas classes mais abastadas, presente na configuração social no decorrer do processo histórico, político e cultural do Brasil.

A articulação entre justiça social, educação e trabalho - que leve em consideração a inclusão, a diversidade e a igualdade - precisa ser mais do que uma frase retórica. Em uma sociedade democrática, ela se cumpre por meio da vivência cotidiana da democracia, do exercício da cidadania e representa a participação de um número cada vez maior de pessoas, de forma equânime, da garantia dos direitos sociais (dentre eles, a educação), da justa distribuição de renda ou riqueza (CONAE, 2009).

Perante o trecho do Documento-Referência da Conferência Nacional de Educação, tem-se uma crítica ao não cumprimento da democracia como direito de todos, havendo ainda um destaque sobre os temas tratados, tais como justiça social, educação e trabalho, sendo que estes devem realmente ser aplicados no contexto nacional e não ser apenas conteúdo de debates repetitivos em fóruns e conferências, superando o trato desigual dado à diversidade ao longo da história social e econômica de nosso país.

Ao se falar em trabalho e sua ligação com as relações sociais, pode-se dizer que o trabalho deve ser mais do que uma mera atividade capitalista em vista de lucro e capital, pois a sociedade precisa se inspirar em relações de trabalho que vão, além disso. É preciso reinventar o trabalho, principalmente em um mundo onde a sustentabilidade e as matrizes de consumo precisam ser repensadas. Neste contexto, as relações de trabalho são estruturadas em bases sólidas democráticas, sem trabalhos desonestos e/ou insalubres e sem prejudicar o capital financeiro.

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Quando se fala em políticas públicas voltadas para o trabalho, deve-se levar em consideração a criação de redes empregatícias com salários justos, trabalho como direito do cidadão e trabalho como um princípio educacional, vinculando à concepção de formação cidadã e profissional. Quando estas atitudes forem colocadas em prática pela sociedade em um todo, pode-se dizer que a perspectiva de justiça social trabalhista foi vencida.

Em vista disso, Machado (2001) fala sobre o novo significado da palavra trabalho:

O próprio significado do trabalho para cada indivíduo está se deslocando daquele associado a uma carreira fixa, com progressões funcionais sucessivas, para o que corresponde ao desempenho de tarefas diversificadas, em diferentes projetos, com alterações inclusive nas formas de remuneração.

Estar trabalhando significa, cada vez mais, estar participando de um ou mais projetos, com durações diferenciadas, e exercendo, possivelmente, diferentes funções. [...] (p. 32).

Um Estado comprometido com a democracia precisa ter como principal linha de atuação a justiça social, reconhecendo o cidadão como um indivíduo digno de direitos e deveres, isto é, fazendo parte da ordem política, econômica, social e cultural. Uma democracia que supere as desigualdades sociais, raciais e de gênero, tudo isso a partir de políticas públicas veiculadas pelo Estado.

As Ações Afirmativas

Pode-se afirmar segundo CONAE (2010) que: “as ações afirmativas são políticas e práticas públicas e privadas que visam a correção de desigualdades e injustiças históricas face a determinados grupos sociais (mulheres, homossexuais, negros, indígenas, pessoas com deficiência)”. De acordo com essa afirmativa, pode-se considerar que são propostas que visam diminuir as injustiças sociais e diferenciadas, são políticas de caráter emergencial e que pode sofrer modificações necessárias, assim como podem ser suspendidas quando avaliada a necessidade, pois a desigualdade a qual a originava foi superada.

Entende-se que as ações afirmativas podem intervir cultural, pedagógica ou politicamente e ser implantada por força de lei, programas, metas ou reservas, por exemplo, a cota para negros e indígenas em Universidades. Parte das discussões sobre a viabilidade de se implantar políticas afirmativas vem de movimentos sociais organizados, os quais posteriormente são vinculados ao Estado.

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Diversidade, Igualdade e Inclusão

A sociedade atual tem dado muita importância para a inclusão social, para diversidade e igualdade, atualmente vê-se a grande mobilização de escolas, empresas e outros segmentos sociais e políticos frente a um novo modelo de sistema social, o inclusivo. Neste contexto, a diversidade se apresenta como uma forma de se valorizar as diferenças e não tratá-las de forma discriminatória. Aumentando ainda mais a desigualdade, que se propaga via conjugação de relações assimétricas de classe, étnico-raciais, de gênero, diversidade religiosa, idade, orientação sexual e cidade-campo.

Os direitos humanos conferem total igualdade para todas as pessoas, porém é preciso ainda que se desmistifique o conceito abstrato de humano, e se problematize os discursos políticos que dão valor apenas aos seres humanos inseridos num padrão de “normalidade”

social. A diversidade deve ser considerada como direito, em virtude da construção histórica, cultural, social e política das diferenças.

Nos questionamentos sobre diversidade, em se falando do trato ético e democrático encontram-se escolas, universidades, enfim, todas as instituições de ensino que, cada vez mais, estão engajadas na luta pela diversidade, uma luta pela inclusão e igualdade de direitos constituídos por identidades coletivas e movimentos sociais, pois, somente aceitando que a diversidade é uma das características da sociedade é que se pode incluir e torná-la mais igualitária.

POLÍTICAS PÚBLICAS

Políticas públicas são ações voltadas à resolução de problemas políticos, da coletividade, articuladas entre sociedade civil e Estado. Nesse sentido, as políticas públicas servem para reconhecer, criar e manter formas de viabilizar a participação da sociedade civil nas diversas linhas de pensamento democrático, ampliando o exercício da cidadania.

Assim, ao pensar em políticas públicas que contribuam para a justiça social, educação e trabalho, considerando a inclusão, a diversidade e a igualdade de forma verdadeira e essencial para a concretização de ações afirmativas, no contexto descrito ao longo do artigo é necessário que se pense em garantias para toda a pessoa, independente de suas condições

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sociais, fazendo valer a justiça social tão abnegada durante a história nacional. Neste sentido, se torna essencial a concretização de políticas públicas educacionais, que garantam em principal:

a) quanto às relações étnico-raciais: no que diz respeito ao cumprimento das legislações vigentes para este grupo social e criação de ações afirmativas para permanência nas escolas e universidades;

b) quanto à educação especial: garantir a transformação dos sistemas educacionais em sistemas educacionais inclusivos e a afirmação da escola como espaço fundamental na valorização da diversidade e garantia de cidadania, assim como a participação da família neste processo, garantindo atendimento educacional especializado e material didático coerente;

c) quanto à educação do campo: superar as discordâncias e desigualdades educacionais entre o urbano e o campo, mediante políticas educacionais de caráter afirmativo, criar e manter escolas no campo em suas modalidades e a criação medidas de incentivos para professores e alunos do campo;

d) quanto à educação indígena: assim como na educação do campo, superar as diferenças educacionais para garantir ensino de qualidade e intercultural nas escolas indígenas, garantir a implementação de legislações e valorização da língua materna indígena em materiais didáticos.

e) quanto à educação ambiental: garantir programas de educação ambiental nas instituições de educação em geral, estimular a participação da comunidade escolar nos projetos pedagógicos e nos planos de desenvolvimento institucionais, que contemplem as diretrizes da educação ambiental, assim como implementar a legislação para Educação Ambiental. Para complementar, temos as palavras de Gohn (2001, p. 61) sobre o assunto:

“a educação ambiental traz em seu bojo, além do aprendizado de novos modos e formas de conviver com a natureza, o aprendizado e a reflexão sobre o próprio homem e seu papel na sociedade.”

f) quanto ao gênero e diversidade social: introduzir a discussão de gênero e diversidade sexual na política de valorização e formação dos profissionais da educação, bem como ampliar estudos de gênero e diversidade sexual no âmbito das licenciaturas;

g) quanto às crianças, adolescentes e jovens em situação de risco: em principal é necessário garantir políticas públicas de inclusão e permanência, em escolas, de adolescentes que se encontram em regime de liberdade assistida e em situação de rua, assegurando o cumprimento dos princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no respeito aos direitos do adolescente, como pessoa em um período peculiar de seu desenvolvimento;

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h) quanto à formação cidadã e profissional: garantir a formação cidadã e profissional com enfoque nos adolescentes e jovens, reforçar a educação profissional de qualidade, assegurar maior oferta de nível médio integrado ao profissional;

i) e por fim, quanto à educação de jovens e adultos: em principal é necessário que se consolide uma política de Educação de Jovens e Adultos (EJA), concretizada na garantia de formação integral, da alfabetização e das demais etapas de escolarização, ao longo da vida, inclusive àqueles em situação de privação de liberdade, assim como construir uma política de EJA pautada pela inclusão e qualidade social.

CONCLUSÃO

Conclui-se então que ao falar-se em Educação e Sociedade é impossível não relacionar os temas justiça social, educação e trabalho, tendo como essência a inclusão, a diversidade e igualdade permeando o processo de criação de políticas educacionais e reflexões acerca das dificuldades e novas perspectivas perante as pessoas.

Ao longo do artigo, viu-se que a criação de movimentos sociais, ações afirmativas e políticas públicas para a sociedade, em principal para a educação, é que fizeram do Brasil um país mais próximo da igualdade, preocupado com a justiça social e com a democracia. Assim como a diversidade foi tomada como premissa de que o sujeito se auto-define por suas particularidades devendo ser aceito e incluído por elas.

REFERÊNCIAS

MACHADO, Nilson José. Cidadania e Educação. 3. ed. São Paulo: Escrituras Editora, 2001.

GOHN, Maria da Glória Marcondes. Movimentos sociais e educação – Coleção Questões da Nossa Época. V. 5. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

BRASIL. Documento-Referência da Conferência Nacional de Educação – CONAE 2010.

Escrito em 2009. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/conae/documento_referencia.pdf. Acesso em: 16 abr.

2010.

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