a sua saúde
mental
“…É um estado de razoável harmonia entre o sujeito e a sua própria reali- dade”
(M. Segre)
“…Um sentimento, uma subjetividade, um estado interior. A pessoa transpor- ta esse sentimento consigo, por den- tro, no seu conjunto formatado. Vive-o numa dinâmica interna, constante- mente apreciada por uma instância julgadora que também faz parte de si:
estará bem ou mal conforme o mo- mento, conforme o tempo psicológico, conforme a relação, conforme o que pensa, sempre na expectativa dum rebatimento possível e dum regres- so. Não se encontra fixado, como na situação de doença”
(J. Milheiro)
No âmbito do “Cuidar de Si”, espe- cificamente no que concerne aos Estilos de Vida Saudáveis que cada um pode tentar adoptar no seu “dia- -a-dia”, é incontornável uma refle- xão acerca da saúde mental, quer em termos do Bem-estar individual, como do Bem-estar social e colec- tivo. Pensar sobre a saúde mental implica refletir sobre o Bem vs Mau Estar psicológico, contextualizado nas circunstâncias socioculturais da actual sociedade ocidental.
Neste sentido, propõe-se uma bre- ve reflexão sobre, primeiramente a história e definição de saúde mental e a sua pertinência no cuidado indi- vidual e social. Finalmente, e com o propósito de capacitar o leitor de ferramentas de auto-ajuda, enun- ciam-se alguns sinais indicadores de depressão ou ansiedade e apre- sentam-se algumas alternativas e soluções, considerando-se, sempre, como melhor opção recorrer a um especialista da área, ou seja um Psi- cólogo Clínico.
Historicamente, e a par com a evolu- ção da investigação e conhecimento científico, a noção de Saúde Mental foi evoluindo e complexificando-se.
Assim, e no século XVIII, a aborda- gem e intervenção nos fenómenos mentais, nomeadamente naqueles que sofriam de doença mental, era o isolamento, a segregação, e a ex- clusão. Nalguns casos, o emprego de meios próximos à tortura, como forma de impedir a expressão de sentimentos e, muitas vezes, ver- dades indesejadas pela maioria das pessoas. Nesta altura, criavam-se espaços de exclusão, fundamenta- dos na ideia de que o isolar permitia conhecer e tratar. Em meados do sé- culo XX, e com a evolução da ciência e da investigação clínica, abandona- ram-se estes meios por serem ine- ficazes e desumanos.
Entretanto, e segundo Milheiro (2003), nesta altura ocorrem pro- fundas transformações, nomeada- mente a nível: cultural; científico (aquisição de conhecimentos sobre as bases psicológicas, biológicas e sociológicas das perturbações psicológicas); assistencial (reor- ganização dos sistemas de cuida- dos de saúde, supondo prevenção, tratamento e reabilitação); politico (formulações teóricas e práticas de novas políticas de saúde mental); e mudanças terapêuticas (psicofar-
macológicas, psicoterapias, terapias sociais, terapias ocupacionais). Des- tas transformações resultam três grandes mudanças: i) a separação dos doentes mentais dos possessos e criminosos; ii) a introdução dos psicofármacos e a medicalização da doença psiquiátrica; iii) integração do conceito psicossocial na doença.
Acresce referir que a cultura dos direitos do homem também ajudou a produzir efeitos nesta área, per- mitindo recuperar a cidadania dos doentes mentais.
Em Portugal como no resto da Eu- ropa, percebeu-se que o problema da saúde mental é um problema de saúde pública, uma vez que as perturbações psiquiátricas depen- dem do contexto psicossocial. Deste modo, desenvolveram-se conside- rações em disposições legislativas nos estados membros da União eu- ropeia. As quais se procuraram con- cretizar em Portugal nos últimos anos do século XX. São elas: i) prote- ger o cidadão, evitando-lhe a doen- ça; ii) proteger a pessoa doente; iii) proteger a sociedade contra o even- tual perigo da doença mental, esta- belecendo regras clínicas e jurídicas incontornáveis quanto à cidadania.
Relativamente à definição “oficial”
de saúde mental, a Organização Mundial de Saúde afirma não existir consenso, uma vez que há diversas teorias concorrentes, influenciadas por diferenças culturais e julgamen- tos subjectivos. No entanto, pode-se pensar a saúde mental (ou sanidade mental) como um termo usado para descrever um nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional, ou a ausência de uma doença mental. A saúde mental pode incluir a capaci- dade de um indivíduo apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as actividades e os esforços para atin- gir a resiliência psicológica.
Segundo a Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares, a Saúde mental define-se como o
“sentirmo-nos bem connosco pró- prios e na relação com os outros.
É sermos capazes de lidar de for- ma positiva com as adversidades. É termos confiança e não temermos o futuro”.
Numa prespetiva mais psicodinâ- mica, e segundo Milheiro (2003), entende-se a saúde mental como
“um sentimento, uma subjetividade, um estado interior. A pessoa trans- porta esse sentimento consigo, por dentro, no seu conjunto formata- do. Vive-o numa dinâmica interna, constantemente apreciada por uma instância julgadora que também faz
parte de si: estará bem ou mal con- forme o momento, conforme o tem- po psicológico, conforme a relação, conforme o que pensa, sempre na expectativa dum rebatimento possí- vel e dum regresso. Não se encontra fixado, como na situação de doença”
(p.153). Deste modo, a pessoa sã olha para si de forma satisfatória, não depende excessivamente dos outros nem da opinião deles, não receia a crítica nem a autoridade para além do seu valor real, não se culpabiliza nem deprime por voca- ção. Prevalece a parte positiva, em detrimento da parte negativa e frágil que existe em toda a gente. A pes- soa com saúde mental não cultiva o sofrimento, pelo contrário, quando este aparece, ela tolera, relativiza, suporta, defende, projetando pouco sobre os outros. Estabelece “rela- ções livres e fluídas, sem grandes preconceitos, sem medos fantasmá- ticos de as perder, com autoestima suficiente, referenciada na consi- deração da autoestima dos outros”
(p.153). Há na saúde mental uma condição psicológica primordial, impossível de contabilizar, até por- que as pessoas são organicamente iguais, mas mentalmente todas di- ferentes.
Concluindo, e segundo o autor, a saúde mental pressupõe a capaci- dade de a pessoa se situar fluente-
mente em três vertentes: na relação interna consigo próprio, na relação com os outros e na relação prática com a vida. Dependendo de fatores constitucionais somados a fatores psicológicos internos organizados no desenvolvimento da pessoa e, conjugados com fatores de agressão do ambiente.
Numa outra perspetiva, mais inte- grativa, considera-se a Saúde men- tal como “um estado de razoável harmonia entre o sujeito e a sua pró- pria realidade” (Segre, 1997), uma vez que uma perfeita e constante felicidade é algo ilusório, e o Bem vs Mau estar varia internamente e de acordo com as condições exter- nas da vida de cada pessoa. Deste prisma, a pessoa é encarada como uma unidade “sóciopsicossomática”
onde há a integração das várias re- lações e complementaridades mú- tuas entre o corpo (soma), o psico- lógico (psique) e o meio circundante.
Distinguindo-se do modelo positi- vista e salientando uma visão mais humanista e subjetiva da realidade psicológica.
No que concerne ao que é normal ou não, esta é uma longa discussão da qual se salientam apenas alguns aspectos aqui pertinentes, designa-
tístico, social, e clínico. Salienta-se o critério clínico por se basear no sofrimento, considerando-se nor- mal aquele que se sente bem e não provoca sofrimento nem ao próprio, nem ao outro.
Por outro lado, é importante perce- ber a diferença entre Ser ou Estar doente mentalmente, uma vez que, no primeiro caso a hipótese de cura é maior, mas no segundo caso se vive melhor com a ajuda da psiquia- tria e psicoterapia para controlar a doença.
A Saúde mental, tal como foi defini- da anteriormente, é, também, mas não só, condicionada pela realida- de externa, pelo que é fundamen- tal pensar acerca da atual socieda- de ocidental. Hoje em dia vivem-se tempos de acelerado ritmo de vida, consumismo material e mediático, a par com uma crise política, econó- mica e social geradora de elevada ansiedade decorrente da incerteza face ao futuro. Esta crise contextua- lizada numa sociedade capitalista e consumista começa a gerar senti- mentos de incontrolabilidade e de instabilidade no presente e medo do futuro. Vive-se, neste momento, uma constante insatisfação pessoal e social com o presente, e receio face ao futuro, aumentando os sen- timentos de frustração, ansiedade, depressividade, e, naturalmente, contribuindo para um menor Bem- -estar, e logo maior risco de perda de saúde mental, individual e cole- tivo.
Especificamente no que diz respeito ao trabalho ou ausência dele - note- -se o aumento do desemprego – há algumas situações potenciadoras do aumento de Stress e de Mau Estar, como os conflitos no local de tra- balho, problemas de comunicação, não reconhecimento e desvaloriza- ção do trabalhador pelas chefias ou colegas. Com o objetivo de promover
a auto reflexão e a capacidade de mudar, seguem-se algumas suges- tões de consulta: “Curso gestão de stress”, “Gestão do tempo” e “Ges- tão de conflitos” na UPorto; consulta nesta plataforma de: “Liderança e gestão do Stress no trabalho”; “Ne- gociação” e “Resiliência”
Considerando, e primando pela ca- pacitação individual do auto cuidado, relembra-se a importância do Bem- -estar na promoção e manutenção da saúde mental, podendo a pessoa ser ativa na promoção do seu bem- -estar psicológico e físico. Destaca- -se a dimensão do auto cuidado, como forma da pessoa cuidar de si e evitar estados de Stress excessivos e nocivos. Neste sentido sugere-se o teste o seu stress como um exercício de auto conhecimento e autoavalia- ção.
Seguem-se alguns sinais de alerta, constituindo-se como sintomas co- muns de depressão (com maior ex- pressão na população), no entanto alguns destes sintomas podem ser sentidos por outras razões. Para saber mais sobre depressão e an- siedade consulte o Portal da saúde na U.Porto (http://sigarra.up.pt/up/
pt/web_base.gera_pagina?P_pagi- na=122301)
SINAIS DE ALERTA:
• Perturbação do sono (insónia ou sono- lência)
• Alteração (falta ou excesso) do apetite
• Sintomas físicos e dores (musculares, abdominal,…) inexplicáveis.
• Cansaço e/ ou Perda de energia
• Desinteresse, desmotivação, descon- centração
• Apatia
• Tristeza
• Irritabilidade
• Alteração do desejo sexual
• Sentimentos de inutilidade, baixa auto estima, culpa, desesperança
• Pensamentos suicidas e questiona- mento sobre sentido da vida.
10 “DICAS” PARA VIVER BEM 1 - Ligue-se aos outros: combata o stress com a amizade. Aprenda a manter ou reforçar antigas relações e a construir novas.
2 - Procure acalentar uma perspeti- va positiva: mudar o seu pensamen- to pode melhorar a sua vida. Dê pas- sos no sentido de aumentar o seu otimismo.
3 - Siga um estilo de vida saudável:
alimentar-se de forma adequada, ser fisicamente ativo e descansar o suficiente, são algumas das ma- neiras que podem ajudar a torná-lo mais saudável e feliz.
4 - Desfrute a vida e procure obter satisfação naquilo que faz: conse- guir realizar-se através de diferen- tes atividades contribui para o seu bem-estar.
5 - A dimensão espiritual é igual- mente importante: rezar, meditar ou estar atento ao seu interior pode enriquecer a sua vida.
6 - Aprenda a gerir as dificuldades ou problemas: contrarie os pensa- mento negativos, partilhe o que sen- te com outra (s) pessoa(s) ou escre- va, procure os suportes disponíveis…
7 - Recorra a uma ajuda profissional sempre que se vir afetado por um problema com o qual não consegue lidar ou resolver, seja em contexto de trabalho ou familiar.
8 - Cuide de si e dos outros: seja so- lidário e altruísta.
Serviço de Consultas de Psicologia da FPCEUP
PARA SABER MAIS:
Cursos de gestão de stress:
https://sigarra.up.pt/reitoria/pt/G_FORMACAO.detalhe_accao?p_id=2505&p_plano_id=1023
Portal da Saúde – Enciclopédia da Saúde:
http://www.min-saude.pt/portal/conteudos/enciclopedia+da+saude/
Portal da Saúde Pública da UE – Saúde Mental
http://ec.europa.eu/health-eu/health_problems/mental_health/index_pt.htm
Agência Europeia para a Saúde e Segurança no Trabalho – Stress e riscos psicossociais
https://osha.europa.eu/pt/topics/stress
Campanha europeia de avaliação de riscos psicossociais
http://www.act.gov.pt/(ptPT)/CentroInformacao/campanhas/Paginas/default.aspx
Mental Health Europe
http://www.mhe-sme.org/
Mental Health América
http://www.nmha.org/
Health Canada – Mental Health
http://www.hc-sc.gc.ca/hl-vs/mental/index-eng.php
World Federation for Mental Health
http://www.wfmh.org/
GPS 2012