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1. Separar palavras ou orações de mesma função sintática, como em uma lista: Meu carro tem alarme, travas elétricas, desembaçador e GPS.

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Academic year: 2022

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GRAMÁTICA

Uso da vírgula

A vírgula é um sinal de pontuação (“,”) e indica uma pequena pausa entre os termos de uma oração. Muitas pessoas associam o emprego da vírgula a uma “respiração” do texto, mas nem sempre isso é verdade: há casos em que seu uso é obrigatório, apenas indicado ou vedado.

Veremos, a seguir, os casos principais que envolvem o uso da vírgula.

1. Separar palavras ou orações de mesma função sintática, como em uma lista:

Meu carro tem alarme, travas elétricas, desembaçador e GPS.

Note que, aqui, temos uma lista dos itens que o carro possui, sendo que todos exercem a mesma função sintática (no caso, complemento do verbo tem). Assim, ao citá-los um após o outro, devemos separá-los por vírgula (exceto no último item, precedido da conjunção e). Em casos como este, não utilizamos vírgula antes do e que precede o item final da relação. A vírgula, assim, separa itens que complementam um mesmo verbo. Neste caso, a operação cognitiva (lógica) é idêntica à disposta abaixo:

Meu carro tem:

(a) alarme,

(b) travas elétricas, (c) desembaçador e (d) GPS.

Tecnicamente, não há obrigatoriedade do uso de e antes do último item, mas, por questões de costume e clareza, é o mais aconselhável, pois ao leitor ficará claro que a relação de itens chegou ao fim.

2. Separar o vocativo

A palavra vocativo deriva do verbo latino vocare (chamar) e, portanto, o vocativo é o termo que interpela (chama) diretamente o interlocutor.

Meus amigos, estou aqui para explicar o que aconteceu.

Observe que meus amigos interpela as pessoas às quais o interlocutor deseja dirigir sua mensagem, sendo, assim, um vocativo. O uso da vírgula é obrigatório após o vocativo. Por

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razões estilísticas e de estratégia de discursos, podemos deslocar o vocativo para dentro da frase – nesse caso, ele deverá ficar entre vírgulas:

Estou aqui, meus amigos, para explicar o que aconteceu.

3. Separar o aposto

Aposto é o termo que amplia, resume, explica ou desenvolve o conteúdo de outro termo da oração e possui, por isso, independência sintática dentro das orações e dos períodos. Vejamos alguns exemplos:

O rio Amazonas, o mais caudaloso do mundo, tem diversos afluentes.

O aposto o mais caudaloso do mundo acrescenta informações ao termo anterior (o rio Amazonas), caracterizando-o de modo mais detalhado, ou seja, tem função explicativa. Quando indicamos, acima, que o aposto possui independência sintática, queremos dizer que ele pode ser retirado ou deslocado da oração sem lhe alterar o sentido: repare como ficaria a oração sem o aposto:

O rio Amazonas tem diversos afluentes.

A oração acima tem basicamente o mesmo sentido do exemplo anterior, com a exceção de que não conta com as informações extras do aposto (o fato de que o rio Amazonas é o mais caudaloso do mundo).

As vírgulas entre as quais se insere o aposto delimitam essas informações e servem como um verdadeiro “truque de verificação” quando temos dúvidas sobre empregar ou não as vírgulas. Em outras palavras, colocar as vírgulas antes e depois do aposto nos indica, por meio de um artifício mental, que podemos “pinçar” o que está entre elas sem alterar o sentido da mensagem original.

Isso também vale quando o aposto tem a função de comparar o termo anterior a uma outra ideia, por questões estilísticas ou retóricas. Veja o exemplo abaixo:

O rio Amazonas, gigantesca serpente ondulada, tem diversos afluentes.

Como na explicação anterior, vemos que gigantesca serpente ondulada não é essencial à informação básica na oração: apenas compara o rio a uma grande serpente ondulada para imprimir efeito de estilo (trata-se de um aposto comparativo).

O aposto, quando explicativo ou comparativo, deve vir sempre expresso entre vírgulas.

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4. Dar ênfase ao adjunto adverbial deslocado

Adjunto adverbial é um termo acessório (não fundamental) da oração. Pode ocorrer na forma de advérbio ou locução adverbial, em associação a um verbo, a um adjetivo ou a um outro advérbio para acrescentar-lhes circunstâncias específicas ou intensificar-lhes o sentido (como, por exemplo, lugar, tempo, modo, dúvida, instrumento, intensidade etc.).

Algumas vezes, por razões estilísticas e estratégicas em nosso texto, julgamos interessante dar ênfase aos adjuntos adverbiais. Para isso, podemos deslocá-los para o início da oração e utilizar a vírgula. Veja as orações abaixo:

Os antigos navegadores foram estabelecendo feitorias ao longo do litoral brasileiro.

É comum haver congestionamento de bicicletas nos parques nos finais de semana.

Boatos financeiros geralmente afetam a cotação das bolsas de valores.

Se quiséssemos destacar e dar ênfase aos termos sublinhados, bastaria deslocá-los para o início da oração e separá-los dos demais termos por meio de uma vírgula:

Ao longo do litoral brasileiro, os antigos navegadores foram estabelecendo feitorias. (lugar) Nos finais de semana, é comum haver congestionamento de bicicletas nos parques. (tempo)

Geralmente, boatos financeiros afetam a cotação das bolsas de valores. (modo)

Importante notar que, se o adjunto adverbial for somente uma palavra, o uso da vírgula é opcional.

Assim, você poderia escrever:

Geralmente, boatos financeiros afetam a cotação das bolsas de valores.

ou

Geralmente boatos financeiros afetam a cotação das bolsas de valores.

5. Separar orações coordenadas Observe a sequência de orações abaixo:

Pegamos o ônibus, apreciamos a paisagem, sentimos a liberdade, vivemos nossa aventura.

É fácil reparar que se trata de orações com sentido próprio, independentes, interligadas apenas por um sentido mais amplo expresso pelo todo da mensagem. A gramática tradicional classifica essas orações como coordenadas (independentes) assindéticas (sem conjunção que as conecte).

Como numa lista de itens (e seguindo a mesma lógica do item 1 acima), utilizamos a vírgula para separar tais orações independentes.

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Uma questão: seria possível usar e precedido de vírgula antes da última oração, já que se trata do último “item da lista”? A resposta é: não! O uso de vírgula antes de e só é possível quando as orações têm sujeitos diferentes. No nosso exemplo, o sujeito é o mesmo para todas as orações (nós). Já no exemplo abaixo,

Pegamos o ônibus, apreciamos a paisagem, sentimos a liberdade, e nasceu nossa aventura.

o sujeito da última oração é nossa aventura (e não nós, como nas demais orações anteriores) e, por isso, utilizamos a vírgula antes de e.

6. Antes de conjunções coordenativas

Vimos, acima, que as orações independentes podem ser separadas apenas por vírgulas. Há casos, porém, em que elas podem conectar-se por conjunções como mas, contudo, todavia, entretanto, portanto, pois etc. Nesses casos, devemos utilizar a vírgula antes das conjunções. Exemplos:

Já é tarde, entretanto não tenho a mínima vontade de voltar para casa.

O fornecimento de eletricidade foi interrompido, portanto não podemos trabalhar.

Não reclame, pois pode ser pior.

Isso também vale quando a conjunção não está escrita, mas permanece implícita. Veja o exemplo abaixo:

Sua dieta parece ser rica em carboidratos, não proteínas. (equivalente a: ..., mas não proteínas)

7. Separar orações subordinadas deslocadas

Ao contrário das orações coordenadas, as orações subordinadas não são independentes: dependem de outra à qual estão ligadas (a oração principal) para completar o sentido.

Perguntei a que horas voltariam do almoço.

No exemplo acima, as orações perguntei e a que horas voltariam do almoço completam-se uma à outra para que se obtenha um sentido pleno da mensagem (a segunda oração funciona como objeto direto da primeira). Já no exemplo abaixo, a oração subordinada expressa um fato contrário ao da oração principal:

Acompanho as notícias em diversas mídias, embora as informações nem sempre sejam iguais.

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É possível, ainda, inverter a ordem e deslocar a oração subordinada para o início do período por razões estilísticas e de mudança de foco:

Embora as informações nem sempre sejam iguais, acompanho as notícias em diversas mídias.

Note que, em ambos os casos, o uso da vírgula é obrigatório.

8. Separar locais e datas

São Paulo, 19 de setembro de 2020.

9. Separar o tópico da oração principal

Muitas vezes, o tópico da oração é introduzido já no início do período em caráter quase independente. É como se apresentássemos o assunto do qual trataremos antes de partirmos para a sua efetiva utilização no texto produzido. Por exemplo, em vez de escrevermos:

“Você já se deu conta do aumento dos assaltos na cidade?”,

podemos introduzir o tópico que nos interessa desenvolver (no caso, os assaltos), explicitando-o inicialmente no período:

Os assaltos, você já se deu conta de como aumentaram na cidade? (= Estou interessado em falar dos assaltos na cidade. Você já se deu conta de como aumentaram?).

Nesse caso de introdução de tópico, e necessário utilizar a vírgula como no exemplo.

10. Separar orações reduzidas

Chegando lá, avise-me imediatamente. (oração reduzida de gerúndio)

Terminada a reunião, todos saíram com pressa. (oração reduzida de particípio) Ao falar comigo, baixe o tom de voz. (oração reduzida de infinitivo)

Regra infalível: use vírgula para separar termos que interrompem o fluxo natural da frase Muitas vezes introduzimos na frase palavras ou expressões com o intuito de explicar, retificar ou complementar alguma ideia. Embora esse procedimento auxilie na composição do sentido da mensagem e sua melhor compreensão, ele pode, por vezes, interromper aquilo que seria o fluxo natural da frase.

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Veja os seguintes exemplos:

Começamos a trabalhar somente depois do almoço, ou seja, bem depois do planejado.

Fica claro, assim, que nunca mais tornarei a discutir esta questão.

A produção de leite, ou melhor, de todos os laticínios, implica altos gastos.

Repare como é fácil saber como utilizar as vírgulas: basta utilizar o truque do “pinçar” as ideias à parte conforme explicado no item 3. Utilize uma “pinça mental” em cada vírgula e experimente retirar das frases os termos que ficam entre elas. Se a frase mantiver seu sentido, isso indica que os termos “pinçados” são explicativos ou de qualquer outra forma estão incluídos no fluxo natural da frase, devendo, dessa forma, estar entre vírgulas.

Cuidado: não utilize vírgula...

... para separar sujeito e predicado.

Motoristas e cobradores, ameaçaram entrar em greve caso não recebessem reajuste salarial.

A vírgula acima está utilizada indevidamente porque motoristas e cobradores ó sujeito de ameaçaram.

Cuidado maior deve ser tomado quando as orações apresentam sujeitos longos, o que pode nos confundir. Observe:

Tecnologias cada vez mais sofisticadas são utilizadas para monitorar o desmatamento.

nunca:

Tecnologias cada vez mais sofisticadas, são utilizadas para monitorar o desmatamento.

Tome muito cuidado com a estrutura geral do período. Repare que a ideia acima poderia ser expressa de forma diferente como abaixo:

As tecnologias, cada vez mais sofisticadas, são utilizadas para monitorar o desmatamento.

Nesse caso, o uso das vírgulas está correto, pois os termos entre elas são explicativos e podem ser

“pinçados” para fora da frase.

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A regra popular de que a vírgula é uma “respiração necessária ao texto” é perigosa, pois pode acabar por incorrer no erro da separação do sujeito do predicado nos casos em que o sujeito é longo e falsamente exige “uma respiração”. Veja os casos abaixo:

(a) Tecnologias cada vez mais sofisticadas e desenvolvidas em velocidade crescente por diversas nações em diferentes continentes são utilizadas para monitorar o

desmatamento.

(b) Tecnologias cada vez mais sofisticadas e desenvolvidas em velocidade crescente por diversas nações em diferentes continentes, são utilizadas para monitorar o

desmatamento.

Aqui, o sujeito da oração é longo (tecnologias cada vez mais sofisticadas e desenvolvidas em velocidade crescente por diversas nações em diferentes continentes), mas de maneira alguma deve ser separado do predicado como em (b). A forma correta é (a).

Uma dica prática!

A melhor maneira de naturalizar o uso da vírgula é prestar atenção quando você lê um livro.

Livros publicados por boas editoras passam por processos rígidos e profissionais de revisão antes de sua publicação e, portanto, muito raramente contêm erros quanto ao uso da vírgula. Ao ler um livro, não aceite passivamente esta ou aquela vírgula – pare por um momento e questione o porquê de determinada vírgula ter sido utilizada em uma determinada construção linguística e naquele contexto específico.

Esse é um excelente método de aprendizagem, não raro de inquestionável eficácia quando comparado à leitura árida e enfadonha de uma longa série de regras. Lembre-se de que tudo na língua tem uma lógica. Ao debruçar-se sobre exemplos práticos e analisá-los criticamente, você fixará a lógica da regra partindo de um exemplo, o que, com certeza, lhe trará resultados bem melhores e mais sólidos. Uma dica? Releia este texto desde o começo e questione o uso de cada vírgula utilizada aqui. Com certeza, ao final da leitura as regras lhe parecerão bem mais lógicas e simples de aplicar.

Professor Sérgio Duarte Julião da Silva

Referências

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