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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação do Porto Processo nº

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0856255

Relator: SOUSA LAMEIRA Sessão: 12 Novembro 2008 Número: RP200811120856255 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: AGRAVO.

Decisão: PROVIDO.

TRIBUNAL MARÍTIMO COMPETÊNCIA

Sumário

É competente o Tribunal Marítimo para a acção em que se discute o incumprimento ou cumprimento defeituoso de um contrato de transporte marítimo e respectivo contrato de seguro.

Texto Integral

RECURSO DE AGRAVO Nº 08/6255

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

I-RELATÓRIO

A) No Tribunal Judicial de Vila Nova de Famalicão inconformada com o despacho de Fls. 169 e 170, proferido na acção ordinária (processo n.º

…./06.6TJVNF) que B………. intentou contra Companhia de Seguros C………., SA e que indeferiu a excepção dilatória de incompetência material do tribunal veio a Ré Companhia de Seguros C………, SA interpor recurso de agravo, terminando as suas alegações com as seguintes conclusões:

1ª- O contrato de seguro de transporte (de mercadorias) e o contrato de seguro de mercadorias ou faculdades (transportadas) constitui uma única realidade jurídica.

2ª- O objecto deste contrato de seguro comporta a cobertura dos riscos

corridos pelas mercadorias durante o transporte das mesmas, riscos estes que no caso concreto de uma expedição marítima, constituem riscos de mar ou riscos do transporte marítimo, os quais podem dar lugar a perdas ou avarias

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marítimas.

3ª- A causa de pedir invocada pela A., ora Agravada, consiste no alegado incumprimento de obrigações emergentes de um contrato de seguro, que tinha por objecto mercadorias transportadas por via marítima, a bordo do navio “D……….”, em viagem do porto de ………. - Moçambique para o porto de

………. - Portugal, com transbordo em ………. - Tanzânia.

4ª- O contrato de seguro celebrado entre a R. Agravante e a A. Agravada tinha como objecto a cobertura dos riscos corridos por essas mercadorias no

decurso do referido transporte marítimo, constituindo, assim, um “contrato de seguro marítimo de mercadorias transportadas” ou “contrato de seguro contra riscos de mar”.

5ª- Esta modalidade de seguro consagra um regime especial diferente do regime geral do seguro estabelecido no artigo 425° e ss. do Código Comercial, apresentando institutos e regras específicos.

6ª- O seguro marítimo abarca todas as fortunas de mar, ou seja, todos os riscos ocorridos por causa do mar, no mar ou com o mar como pano de fundo (cfr. artigo 604° do Código Comercial).

7ª- No presente caso, as mercadorias terão perecido por naufrágio do navio

“D……….”, portanto, devido a um perigo de mar.

8ª- Os Tribunais Marítimos tem competência exclusiva para a apreciação das questões relativas a contratos de transporte por via marítima e contratos de seguro de navios e suas cargas — alíneas c) e f) do artigo 4° da Lei n.º 35/86, de 4 de Setembro e, alíneas c) e f) do artigo 90° da Lei 3/99, de 13 de Janeiro (L.O.F.T.J.)

9ª- A interpretação que se afigura como correcta das referidas alíneas f) do 4°

da Lei n° 35/86, e do artigo 90° da Lei 3/99 é “contratos de seguro de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes destinados ao uso marítimo” e, (além desses) “contratos de seguro das suas cargas”.

10ª- Na presente causa estamos perante um contrato de seguro relativo a mercadorias transportadas por meio marítimo, de indiscutível natureza comercial (cfr. artigo 2°, 366° e ss. e 425° e ss. e 595° e ss. todos do Código Comercial), pelo que sempre estaríamos perante uma questão de direito comercial marítimo, da exclusiva competência do Tribunal Marítimo (cfr.

artigo 4°, alínea t) da Lei n.º 35/86, de 4 de Setembro e artigo 90°, alínea t) da Lei 3/99, de 13 de Janeiro (L.O.F.T.J.)).

11ª- O Despacho recorrido devia ter declarado a incompetência absoluta do Tribunal, e absolvido da instância a R., ora Agravante (cfr. artigo 1010, 105° e 288° n.º 1, alínea a) do Código de Processo Civil).

Conclui pedindo que seja dado provimento ao presente recurso de agravo e, em consequência, se proceda à revogação do despacho recorrido,

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substituindo-o por outro que declare a incompetência absoluta em razão da matéria do Tribunal “a quo”.

B) A recorrida não ofereceu contra alegações.

II – FACTUALIDADE PROVADA

Encontram-se provados os seguintes factos:

1º- A Autora alegou que:

A) Autora e Ré celebraram um contrato de seguro de transporte de

mercadorias, titulado pela apólice n.º ………., o qual teve início nessa mesma data, sendo o objecto seguro a mercadoria conforme factura n°2005/…… e o capital seguro de € 132.000,00, correspondente ao valor da factura - €

103.218,45 - acrescido de 27% de lucros esperados.

B) De acordo com o estipulado no artigo 2° das Condições Gerais da Apólice, este contrato cobre o risco de perda total, material ou absoluta, dos objectos seguros quando ocorrida conjuntamente com a perda total, pela fortuna de mar, do navio ou embarcação em que são transportados.

C) O risco seguro, de acordo com a nomenclatura dos riscos seguráveis, é o seguro 8, por via marítima, cobrindo todos os riscos de perda ou dano sofridos pelo objecto seguro, com excepção dos casos referidos nas exclusões;

contribuição de avaria grossa; responsabilidade mútua em caso de colisão.

D) O meio de transporte é marítimo, mais concretamente o navio “D……….” e a viagem seria do porto de ………. - Moçambique para o porto de ………. — Portugal, com transbordo em ………. - Tanzânia.

2º- È do seguinte teor, na parte que importa, o despacho recorrido:

“Da excepção dilatória invocada pela ré.: Vem a ré arguir a incompetência material deste tribunal por entender que é competente para conhecer desta acção o tribunal marítimo.

A autora pugnou pelo indeferimento da invocada excepção.

Dispõe os artigos 66.° e 67.° do Código de Processo Civil que “São da

competência dos tribunais judiciais as causas que não sejam atribuídas a outra ordem jurisdicional’, sendo que “As leis de organização judiciária determinam quais as causas que, em razão da matéria, são da competência dos tribunais judiciais dotados de competência especializada”.

A competência em razão da matéria do tribunal afere-se pela natureza da relação jurídica tal como é apresentada pelo autor na petição inicial, isto é, no confronto entre o respectivo pedido e a causa de pedir.

A causa de pedir desta acção é o contrato de seguro de transporte de mercadorias celebrado entre autora e ré, em virtude do qual a autora

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pretende ser indemnizada face à perda da mercadoria segura que era transportada num navio que afundou.

O tribunal marítimo tem competência especial definida quer na LOTJ, quer na Lei n.º 35/86, de 4 de Setembro.

Está este tribunal fundamentalmente virado para tudo quanto diga respeito a questões de direito marítimo, não tendo sido adoptado um critério pautado pelo estabelecimento de uma cláusula geral, mas antes um critério casuístico que só deixou em aberto o preenchimento da expressão “questões de direito comercial marítimo’.

Não se tratando, manifestamente, de uma questão de direito comercial

marítimo, resta a hipótese - defendida pela ré - de que a situação dos autos se enquadra na previsão da al. O do artigo 90.° da Lei n.º 3/99, de 13/01 (LOFTJ) que prevê como sendo da competência do tribunal marítimo conhecer de questões relativas a “contratos de seguro L5 de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes destinados ao uso marítimo e suas cargas”.

Ora, como atrás se disse, o contrato em causa nestes autos é um contrato de seguro de transporte e, não obstante, incidir sobre mercadoria que circulava por via marítima isso não faz dele um contrato de seguro contra riscos de mar, previsto no artigo 595.° e seguintes do Código Comercial, contrato este a que, pensa—se, se reporta a aludida ai. O na parte a que se refere “... e suas

cargas...”.

Na verdade, o seguro de mercadorias “tem o nome clássico de «seguro de faculdades» e é feito pelo proprietário delas ou por conta de quem pertencer.

A este seguro de carga, fazendas de toda a espécie, objecto de transporte marítimo assimila-se o de pescado e o de bagagens” - cfr. Abílio Neto, “Código Comercial, Código das Sociedades e Legislação Complementar Anotados”, . edição, pág. 380.

É a este tipo de seguro - verdadeiramente de risco de mar - que se reporta a citada disposição, não abrangendo a mesma, a meu ver, um contrato de seguro de transporte cuja única conexão com o “tribunal marítimo” é o facto de se reportar a mercadoria que era transportada por mar.

Pelo exposto, não se tratando in casu de matéria da competência do tribunal marítimo, nomeadamente por a situação não caber na previsão da ai. f) do artigo 90.° da LOTJF, indefiro a invocada excepção”.

III – DA SUBSUNÇÃO – APRECIAÇÃO

Verificados que estão os pressupostos de actuação deste tribunal, corridos os vistos, cumpre decidir.

A Recorrente levanta apenas a seguinte questão:

1. O tribunal marítimo é o competente para julgar a presente acção, pelo que

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o despacho recorrido deve ser revogado?

Vejamos

Dispõe o artigo 66 do Código de Processo Civil que “São da competência dos tribunais judiciais as causas que não sejam atribuídas a outra ordem

jurisdicional”.

Nos termos do artigo 67 do Código de Processo Civil “As leis de organização judiciária determinam quais as causas que, em razão da matéria, são da competência dos tribunais judiciais dotados de competência especializada”.

Estatui o artigo 4.º da Lei n.º 35/86 de 4 de Setembro que instituiu os Tribunais Marítimos que Compete aos tribunais marítimos conhecer, em matéria cível, das questões relativas a:

a) Indemnizações devidas por danos causados ou sofridos por navios,

embarcações e outros engenhos flutuantes, ou resultantes da sua utilização marítima, nos termos gerais de direito;

b) Contratos de construção, reparação, compra e venda de navios,

embarcações e outros engenhos flutuantes, desde que destinados ao uso marítimo;

c) Contratos de transporte por via marítima ou contratos de transporte combinado ou multimodal;

d) Contratos de transporte por via fluvial ou por canais, nos limites do quadro I anexo ao Regulamento Geral das Capitanias;

e) Contratos de utilização marítima de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes, designadamente os de fretamento e os de locação financeira;

f) Contratos de seguro de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes destinados ao uso marítimo e suas cargas;

g) Hipotecas e privilégios sobre navios e embarcações, bem como quaisquer garantias reais sobre engenhos flutuantes e suas cargas;

h) Processos especiais relativos a navios, embarcações, outros engenhos flutuantes e suas cargas;

i) Decretamento de providências cautelares sobre navios, embarcações e outros engenhos flutuantes, respectiva carga e bancas e outros valores

pertinentes aos navios, embarcações e outros engenhos flutuantes, bem como solicitação preliminar à capitania para suster a saída das coisas que

constituam objecto de tais providências;

j) Avarias comuns ou avarias particulares, incluindo as que digam respeito a outros engenhos flutuantes destinados ao uso marítimo;

l) Assistência e salvação marítimas;

m) Contratos de reboque e contratos de pilotagem;

n) Remoção de destroços;

o) Responsabilidade civil emergente de poluição do mar e outras águas sob a

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sua jurisdição;

p) Utilização, perda, achado ou apropriação de aparelhos ou artes de pesca ou de apanhar mariscos, moluscos e plantas marinhas, ferros, aprestos, armas, provisões e mais objectos destinados à navegação ou à pesca, bem como danos produzidos ou sofridos pelo mesmo material;

q) Danos causados nos bens do domínio público marítimo;

r) Propriedade e posse de arrojos e de coisas provenientes ou resultantes das águas do mar ou nestas existentes, que jazem nos respectivos solo ou subsolo ou que provenham ou existam nas águas interiores, se concorrer interesse marítimo;

s) Presas;

t) Todas as questões em geral sobre matérias de direito comercial marítimo.

Por último, o artigo 90.º da Lei n.º 3/99, que aprovou a Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais (e que altera a Lei n.º 38/87, de 23 de Dezembro), relativo à competência dos tribunais marítimos, dispõe compete aos tribunais marítimos conhecer das questões relativas a:

a) Indemnizações devidas por danos causados ou sofridos por navios,

embarcações e outros engenhos flutuantes, ou resultantes da sua utilização marítima, nos termos gerais de direito;

b) Contratos de construção, reparação, compra e venda de navios,

embarcações e outros engenhos flutuantes, desde que destinados ao uso marítimo;

c) Contratos de transporte por via marítima ou contrato de transporte combinado ou multimodal;

d) Contratos de transporte por via fluvial ou por canais, nos limites do quadro I anexo ao Regulamento Geral das Capitanias;

e) Contratos de utilização marítima de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes, designadamente os de fretamento e os de locação financeira;

f) Contratos de seguro de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes destinados ao uso marítimo e suas cargas;

g) Hipotecas e privilégios sobre navios e embarcações, bem como quaisquer garantias reais sobre engenhos flutuantes e suas cargas;

h) Processos especiais relativos a navios, embarcações, outros engenhos flutuantes e suas cargas;

i) Procedimentos cautelares sobre navios, embarcações e outros engenhos flutuantes, respectiva carga e bancas e outros valores pertinentes aos navios, embarcações e outros engenhos flutuantes, bem como solicitação preliminar à capitania para suster a saída das coisas que constituam objecto de tais

procedimentos;

j) Avarias comuns ou avarias particulares, incluindo as que digam respeito a

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outros engenhos flutuantes destinados ao uso marítimo;

l) Assistência e salvação marítimas;

m) Contratos de reboque e contratos de pilotagem;

n) Remoção de destroços;

o) Responsabilidade civil emergente de poluição do mar e outras águas sob a sua jurisdição;

p) Utilização, perda, achado ou apropriação de aparelhos ou artes de pesca ou de apanhar mariscos, moluscos e plantas marinhas, ferros, aprestos, armas, provisões e mais objectos destinados à navegação ou à pesca, bem como danos produzidos ou sofridos pelo mesmo material;

q) Danos causados nos bens do domínio público marítimo;

r) Propriedade e posse de arrojos e de coisas provenientes ou resultantes das águas do mar ou restos existentes, que jazem nos respectivos solo ou subsolo ou que provenham ou existam nas águas interiores, se concorrer interesse marítimo;

s) Presas;

t) Todas as questões em geral sobre matérias de direito comercial marítimo;

u) Recursos das decisões do capitão do porto proferidas em processo de contra-ordenação marítima.

Estatui o artigo 595 do Código Comercial que “ao contrato de seguro contra riscos de mar são aplicáveis as regras estabelecidas no capítulo I e na secção I do capítulo II do Título XV livro II, que não forem incompatíveis com a

natureza especial dos seguros marítimos ou alteradas pelas disposições deste título”.

Dever-se-á ter em atenção os artigos 635, 636 e 637 do Código Comercial que definem os riscos marítimos, as avarias (grossas ou comuns e simples ou particulares).

Vejamos

Perante a factualidade supra enunciada e face aos presentes princípios legais, sumariamente enunciados, será que assiste razão à Recorrente em pretender ver declarada a competência dos tribunais marítimos para julgar a presente causa?

Os Tribunais encontram-se divididos internamente por categorias em função das matérias que devem apreciar.

Estes tribunais situam-se no mesmo plano horizontal apenas se distinguindo pela natureza das matérias que lhes são submetidas.

“Na base da competência em razão da matéria está o princípio da

especialização, com o reconhecimento da vantagem de reservar para certos órgãos judiciários diferenciados o conhecimento de certos sectores do Direito, pela vastidão e pela especificidade das normas que os integram”, A. Varela, J.

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M. Bezerra e Sampaio e Nora, Manual de Processo Civil, pag. 197

A competência em razão da matéria do tribunal afere-se pela natureza da relação jurídica tal como é apresentada pelo autor na petição inicial, isto é, no confronto entre o respectivo pedido e a causa de pedir.

A competência em razão da matéria de um tribunal é a medida do objecto material da sua jurisdição.

A Autora invocou a existência de um contrato de seguro de transporte de mercadorias celebrado com a Ré/recorrente.

Não restam dúvidas que foi celebrado um contrato de seguro de “transporte de mercadorias”, sendo o objecto seguro a mercadoria (a carga) e o capital seguro, correspondente ao valor da factura acrescido dos lucros esperados.

O meio de transporte definido foi o marítimo.

Nos termos deste contrato encontravam-se cobertos o risco de perda total, material ou absoluta, dos objectos seguros quando ocorrida conjuntamente com a perda total, pela fortuna de mar, do navio ou embarcação em que são transportados.

O risco seguro, de acordo com a nomenclatura dos riscos seguráveis, é o

seguro 8, por via marítima, cobrindo todos os riscos de perda ou dano sofridos pelo objecto seguro, com excepção dos casos referidos nas exclusões;

contribuição de avaria grossa; responsabilidade mútua em caso de colisão.

“O seguro marítimo é, na definição de René Rodiére (Droit Maritime, 1971, pág. 429) «o contrato pelo qual o segurador se compromete, mediante o pagamento de um prémio a indemnizar o segurado do prejuízo sofrido por bens determinados expostos aos perigos de uma expedição marítima, pelo facto da superveniência de certos riscos))” (cfr. ABÍLIO NETO, in Código Comercial, Código das Sociedades e Legislação Complementar Anotados, 14ª edição, página 474).

CUNHA GONÇALVES, in Comentário ao Código Comercial Portugês, Volume III, 1918, Lisboa, no comentário ao artigo 604° do Código Comercial (página 343, ponto 892) refere:

“(...) o seguro marítimo abrange «todos os riscos do mar», ou todas as

«fortunas do mar», ... qualquer sinistro ocorrido no mar ou por causa do mar, previsto ou imprevisto, sólito ou insólito, vulgar ou extraordinário, devido a uma força maior ou a um caso fortuito»

Sobre o Seguro Marítimo veja-se ainda Júlio de Almeida Costa, Guia do

Exportador e Importador, pag. 97 e ss e sobre a História e evolução do Seguro Marítimo, cfr. João Nunes de Almeida da Mata, Seguro Marítimo, Mercadorias, pag. 9 e ss.

Face aos supra citados preceitos entendemos que o despacho recorrido não se pode manter, assistindo razão à Recorrente em pretender ver declarada a

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competência do Tribunal marítimo para conhecer dos presentes autos.

Estamos claramente perante um contrato de seguro de mercadorias transportadas por via marítima, cujo conhecimento é da competência dos Tribunais Marítimos.

O contrato de seguro dos autos refere-se a mercadorias transportada por mar, as quais se terão perdido por naufrágio do navio em que eram transportadas, portanto, devido a um perigo de mar.

O presente contrato de seguro cabe, em nossa opinião, no âmbito quer do artigo 4.º al. f) da Lei n.º 35/86 de 4 de Setembro - Contratos de seguro de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes destinados ao uso marítimo e suas cargas - quer no artigo 90.º al. f) da Lei n.º 3/99, que aprovou a Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais (e que altera a Lei n.º 38/87, de 23 de Dezembro) - Contratos de seguro de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes destinados ao uso marítimo e suas cargas – não havendo razões sérias e válidas para não abranger nestes normativos os contratos de seguro das cargas dos navios nos termos em que o fez a decisão recorrida.

O transporte e o seguro marítimo obedecem a regras específicas que só a eles se aplicam, e que por vezes se revestem de grande complexidade técnica e jurídica que tem como fundamento a peculiaridade da actividade de

navegação e a consequente qualidade dos riscos (riscos da navegação) a que os bens envolvidos na viagem estão expostos.

Acresce que a presente acção envolve um seguro de mercadorias (carga) transportada por mar pelo que sempre estaríamos essencialmente perante matéria comercial marítima de transporte em cuja órbita se situa o contrato invocado.

Deste modo, o Tribunal recorrido é incompetente – incompetência absoluta em razão da matéria – uma vez que a competência para o conhecimento da

matéria em causa está atribuída ao Tribunal Marítimo de Lisboa (art. 101 do CPC).

Esta incompetência absoluta implica a absolvição da Ré da instância (art. 105 n.º 1 do CPC e art. 288° n.º 1, alínea a) do CPC).

Deste modo entendemos que se impõe a procedência do recurso e a consequente revogação da decisão recorrida.

Em suma, impõe-se a procedência das conclusões da Agravante e

consequentemente o presente agravo, devendo o despacho que indeferiu a invocada excepção ser substituído por outro que julgue e declare o Tribunal incompetente em razão da matéria, com a consequente absolvição da instância da Ré.

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VI – Decisão

Por tudo o que se deixou exposto, acorda-se em dar provimento ao recurso de agravo interposto pela Recorrente devendo o despacho que indeferiu a

invocada excepção ser substituído por outro que julgue e declare o Tribunal incompetente em razão da matéria, com a consequente absolvição da instância da Ré.

Sem custas.

Porto, 2008/11/12

José António Sousa Lameira

António Eleutério Brandão Valente de Almeida José Rafael dos Santos Arranja

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