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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

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Academic year: 2022

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Júlio César D`Oliveira

Elementos para uma reflexão filosófica sobre a Teoria da Percepção de C. S. Peirce

MESTRADO EM FILOSOFIA

São Paulo 2018

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Júlio César D`Oliveira

Elementos para uma reflexão filosófica sobre a Teoria da Percepção de C. S. Peirce

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Filosofia, sob a orientação do Prof.

Dr. Ivo Assad Ibri.

São Paulo 2018

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Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação de mestrado por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura: _______________________________________________

Data: __________________

e-mail: __________________________________________________

Ficha Catalográfica D’OLIVEIRA, Júlio César

Elementos para uma reflexão filosófica sobre a Teoria da Percepção de C. S. Peirce. Júlio César D´Oliveira; orientador Prof. Dr. Ivo Assad Ibri.

São Paulo: PUC-SP, 2018. 122 p.

Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

1. Charles Sanders Peirce. 2. Percepção. 3. Realismo. 4 Fenomenologia. 5. Semiótica.

6. Pragmatismo. 7. Falibilidade. 8. Retrodução.

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Elementos para uma reflexão filosófica sobre a Teoria da Percepção de C. S. Peirce

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Filosofia, sob a orientação do Prof.

Dr. Ivo Assad Ibri.

Aprovado em:____/____/_______

BANCA EXAMINADORA

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Às estrelas que vivem em mim.

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(CAPES), haja vista que a maior parte dos custos desta pesquisa foi coberta por bolsa, na modalidade taxa, honrosamente recebida desta Fundação, por meio do Programa de Suporte à Pós-graduação de Instituições de Ensino Particulares (PROSUP).

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Antes de tudo, a Deus.

Agradeço à estrela mais brilhante de todas, que iluminou meus pensamentos, meu filho Lorenzo.

Em especial, agradeço à minha esposa Alexandra Montezel Frigério pela essencial compreensão e apoio em todos os momentos em que estive em função deste trabalho.

Não haveria esta realização, aliás, se não fosse o apoio do meu orientador, Professor Doutor Ivo Assad Ibri, um dos maiores estudiosos e conhecedores da obra de Charles Sanders Peirce, que confiou e avalizou meu projeto de modo a agora se materializar na presente dissertação. Nos conhecemos ainda na gloriosa Faculdade de São Bento, onde o reconhecido Professor Ivo leciona brilhantemente e com a mais alta competência e honestidade as lições peircianas, difundindo suas ideias e pensamentos àqueles que ainda iniciam no caminho da Filosofia. Deveras, tê-lo como orientador foi o melhor dentre todos os mundos possíveis.

Agradeço também aos Professores, Dr. Marcelo Perine, Dra. Clarice von Oertzen de Araujo, Dra. Jeanne Marie Gagnebin, Dra. Yolanda Glória Gambôa Muñoz, além do prezado Dr. Rodrigo Vieira de Almeida, que estiveram comigo nesta jornada, cedendo cada um pouco de si para minha formação e aprimoramento.

Agradeço à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo pela honra em me proporcionar a vaga no curso de mestrado, assim como estendo estes agradecimentos a todos os funcionários, em especial à Dna. Vera Soares, assistente de coordenação do Curso do Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia, bem como aos amigos que aqui fiz.

Relevante o agradecimento, igualmente, aos Professores Doutores que aceitaram fazer parte da Banca de Defesa magistralmente composta pelo Professor Doutor Ivo Assad Ibri, Professor Dr. Antonio José Romera Valverde e Professor Dr. Edélcio Gonçalves de Souza, além do Professor Dr. Rodrigo Vieira de Almeida, que compôs a Banca de Qualificação, todos que enriqueceram demais este trabalho.

Por fim, confesso o quão agradecido estou em relação ao próprio Peirce, que teceu de modo tão próprio e sábio seus pensamentos, que provocaram meu amadurecimento e motivaram minha evolução em busca de um entendimento que foge da mera fantasia.

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D’OLIVEIRA, Júlio César. Elementos para uma reflexão filosófica sobre a Teoria da Percepção de C. S. Peirce. 2018. 122 f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2018.

A Teoria da Percepção desenvolvida pelo filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce (1839-1914), representa grande base fundacional e avanço para os estudiosos sobre o tema, vez que detecta e expõe os elementos que constituem este comportamento que ocorre no interior da mente através da atuação dos sentidos. Para Peirce, a percepção é a ponte que liga o interno ao externo, buscando estabelecer, sob o método semiótico, como se comportam os signos e os pensamentos deles decorrentes, de modo que possibilite à inteligência o aprendizado com base na experiência, imprescindível para o crescimento do repertório intelectual, que, por sua vez, possibilitará a movimentação da engrenagem cíclica com fins à evolução. Aliás, o que caracteriza a percepção é exatamente o senso de externalidade que acompanha o percepto, sendo que a interpretação dos elementos externos já são previstos pelos nossos esquemas mentais, que estão preparados para o recebimento das informações, dando azo ao exercício dinâmico do denominado juízo perceptivo, que representa o primeiro julgamento que o interpretante faz em relação àquilo que está perante seus sentidos, os fenômenos. Para a filosofia peirciana, a percepção decorre da experiência, onde há signos que são percebidos pelos sentidos e outros que simplesmente não são, mas que existem autonomamente, sendo, porém, representáveis. Neste intento, Peirce utiliza as ferramentas também por si desenvolvidas consistentes na tríade categorial (primeiridade, segundidade e terceiridade), que tem por base fenomenológica a experiência e propicia a análise dos fenômenos, bem como da leitura destes pelas três formas de raciocínio (abdução, dedução e indução), que dão base ao pragmatismo, além de compor sua arquitetura doutrinária também com a ideia do falibilismo, onde explica que nossos julgamentos perceptivos são passíveis de erro. Por fim, daremos ênfase ao tema relativo à retrodução sob a ótica peirciana, termo este que representa o ato de adoção provisória de uma hipótese verificável por experimentação, não comprometido com qualquer método rigoroso, mas que eclode durante o primeiro estágio de uma investigação. É ela própria uma experiência, uma pesquisa experimental, necessária para a viabilização da evolução científica e humana de modo geral.

Palavras-chave: Charles Sanders Peirce. Percepção. Realismo. Idealismo objetivo.

Fenomenologia. Semiótica. Pragmatismo. Falibilidade. Retrodução.

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D’OLIVEIRA, Júlio César. Elementos para uma reflexão filosófica sobre a Teoria da Percepção de C. S. Peirce. 122 p. Dissertation (Master’s Degree in Philosophy) - Graduated Program inPhilosophy, Pontifical Catholic University of São Paulo, 2018.

The Theory of Perception was created by the American philosopher, Charles Sanders Peirce (1839-1914), represents a great foundational base and advanced for scholars on the subject, which detects and exposes the elements that the organization model occurs within the mind through the senses. For Peirce, perception is a bridge connecting the internal to the exterior, seeking to establish, under the semiotic method, how they behave as the values and thoughts of their respective actions, so that intelligence can enable learning based on experience, essential for the growth of the intellectual repertoire, which, in turn, enables the movement of the cyclical gear for purposes of evolution. Moreover, what is perception is the exact sense of the externality that accompanies the perception, and a programming is capable of transporting us mentally, which is being prepared for receiving information, giving rise to the dynamic exercise of so-called perceptive judgment, which represents the first judgment that interprets the relation that is in its senses, the phenomena. For Peirce's philosophy, the perception of experience, where there are perceived signs and others that simply are not, but that exist autonomously, yet are representable. At this point, Peirce uses hand tools that are also experienced in categorial screening (firstness, secondness and thirdness), which are based on phenomenological experience and properly an analysis of formats as well as forms of reasoning. deduction and induction), which give basis to pragmatism, in addition to compose their own doctrine with the idea of fallibilism, where they are made explicit our perceptions are liable to error. Finally, to emphasize the topic of retroduction from a puercane perspective, this term represents an assertion of a testable hypothesis by experimentation, not compromised by some rigorous method, but which broke out during the first stage of an investigation. It is a personal experience, an experimental research, necessary for the viability of scientific and human evolution in general.

Keywords: Charles Sanders Peirce. Perception. Realism. Phenomenology. Semiotics.

Pragmatism. Fallibility. Retroduction.

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CP Collected Papers of Charles Sanders Peirce. Citado CP, sendo que o primeiro número designa o volume e, o segundo, o parágrafo.

CN Charles Sanders Peirce: Contributions to the Nation. Citado CN, seguido do número do volume e do número da página.

W

SS

NEM

Writing of Charles Sanders Peirce. Citado W, seguido do número do volume e do número da página.

Semiotic and Significs: The Correspondence between Charles S. Peirce and Victoria Lady Welby. Editado por Charles Hardwick. Bloomington e London: Indiana University Press, 1977. Citado SS, seguido do número da página.

The New Elements of Mathematics by Charles S. Peirce.

Edited by Carolyn Eisele. The Hague, Mouton Publishers, 1976, vol. 4. Citado NEM, seguido do número do volume e da página correspondente.

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INTRODUÇÃO ... 21

CAPÍTULO I FUNDAMENTOS DA TEORIA DA PERCEPÇÃO...27

1.1 A percepção e as três categorias da experiência ... 29

1.1.1 A primeiridade e a percepção ... 31

1.1.2 A segundidade e a percepção... 33

1.1.3 A terceiridade e a percepção ... 36

1.1.4 Conclusão em relação à percepção e as categorias peircianas ... 39

1.2 Percepção e semiótica ... 41

1.2.1 O Representamen ... 45

1.3 Percepção e pragmatismo ... 47

1.3.1 O papel do autocontrole na percepção ... 52

1.3.2 A influência da percepção no processamento das formas de raciocínio ... 54

1.4 Uma visão falibilística da percepção ... 57

CAPÍTULO II ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO SENTIMENTO PERCEPTIVO...61

2.1 Hermenêutica dos elementos que constituem a Teoria da Percepção peirciana ... 61

2.1.1 Algumas notas específicas a respeito dos objetos dinâmico e imediato... 62

2.1.2 O Percipuum ... 64

2.2 Algumas notas a respeito do exercício da consciência ... 71

2.2.1 A percepção é uma inferência inconsciente? ... 74

2.2.2 O ego e o não-ego ... 77

2.3 Hábitos de pensamento e percepção da experiência ... 80

2.3.1 A experiência e a percepção ... 82

2.3.2 O percepto e a memória ... 84

2.3.3 Do julgamento perceptivo ... 86

2.3.4 O raciocínio e a percepção... 92

2.3.5 Operações mentais e a percepção ... 95

CAPÍTULO III BREVES APONTAMENTOS SOBRE A RETRODUÇÃO ... 99

CONCLUSÃO ... 111

REFERÊNCIAS ... 119

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INTRODUÇÃO

Datam mais de cem anos da morte do filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce (1839-1914) e não é incomum nos depararmos com questões por ele propostas que começam a ser compreendidas apenas neste momento da História. Seu avanço e elaborações sofisticadas a respeito do mundo nos incita à dedicação aos seus escritos.

Uma de suas propostas é a Teoria da Percepção e encanta saber que possuímos um aparelho biológico sensorial que permite, mesmo sem ser notado a priori, a leitura e o reconhecimento do mundo, o que possibilita a decodificação, o quanto possível, dos fenômenos a partir de seu exterior, ou seja, de como ele aparece, bem como que o funcionamento deste aparelho sensorial se dá pelo fluxo de experiências percebidas.

Assim, a presente dissertação de mestrado pretende propor uma reflexão acerca da Teoria da Percepção e expor sua dinâmica, seus elementos e sua intercomunicação semiótica com outros temas que compõem a arquitetura filosófica desenvolvida por Peirce.

Mesmo não plenamente concluída, pois o filósofo em comento também se dedicava a outros inúmeros projetos, esta teoria denota um grau avançado de análise, vez que expõe elementos lógicos e proporciona métodos de compreensão da realidade, dispondo de ferramentas eficazes de cognição, sem, contudo, desprezar a possibilidade do erro interpretativo, na medida em que admite que a nossa percepção seja passível de erros, confirmando, de certo modo, a Teoria Falibilista.

Frise-se que o desenvolvimento da Teoria da Percepção auxiliou Peirce a solucionar questões relativas à sua Teoria dos Signos, concernente às ligações da linguagem com a realidade, viabilizando a compreensão do mundo cognoscível.

A percepção corresponde, pois, ao lado mais ontológico e também psicológico da semiótica e interessava a Peirce compreender como se dá e se processa a cognição, de modo que fosse viável a possibilidade de se desvendar o Cosmos.1

Aliás, a percepção tem o papel de fazer a ponte entre o mundo da linguagem e o mundo interior, buscando estabelecer, através do método semiótico, como se comportam os signos e os pensamentos deles decorrentes, de modo que possibilite o aprendizado com base na experiência, imprescindível para o crescimento do repertório da mente.

1 Cf. SANTAELLA, Lucia. A Percepção, uma teoria semiótica. São Paulo. Ed. Experimento, 1993, p. 16.

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Portanto, para a filosofia peirciana, a percepção decorre da experiência, onde alguns fenômenos são percebidos pelos sentidos e outros simplesmente não são, mas que existem autonomamente, sendo, porém, representáveis.

Ganha relevância, portanto, a compreensão a respeito das categorias fenomenológicas peircianas (primeiridade, segundidade2 e terceiridade), que viabilizarão o entendimento do diálogo semiótico.

Frise-se, tal como ensinado por Ibri, que o diálogo semiótico entre signo e objeto, entre linguagem e realidade, será facultado por uma conaturalidade entre ambos, que se consuma na doutrina do idealismo objetivo3 de Peirce, fundante do reconhecimento de que tanto o objeto quanto o signo compartilham da idealidade.4

O idealismo objetivo de Peirce fundamenta-se na tendência de generalização das coisas, ou seja, num procedimento que consiste na aptidão de aquisição de hábitos, sendo esta a grande lei da mente.

Ibri, neste sentido, ensina que:

[...] A aquisição de um hábito, não obstante, traduz-se numa tendência típica do universo mental, cujo tecido lógico é da natureza da generalização. Ora, a concepção de lei como hábito de conduta, como matriz de seu substrato eidético5, harmoniza-se cabalmente com sua inteligibilidade. A inteligência exerce sua função intelectual sobre algo de sua natureza. Porém, a chave da relação entre mente e matéria está na admissão de que se o universo material é provido de hábitos de conduta na forma de leis naturais, há que o conceber como uma forma de mente. Este é o argumento central para a doutrina que Peirce denomina Idealismo Objetivo, concebendo um universo cujo pano de fundo é eidético.6

Ainda, Ibri frisa que:

O Idealismo Objetivo configura-se, assim, como uma doutrina que remove uma descontinuidade entre mente e matéria preparando um espaço de

2 Adotaremos nesta dissertação o termo segundidade e não secundidade. Apesar de representarem exatamente a mesma coisa, preferimos o primeiro por também ser adotado pelo orientador deste trabalhado em suas obras.

3 Cf. CP 6,25: “A única teoria inteligível do universo é a do idealismo objetivo, na qual a matéria é uma mente esgotada e os hábitos são inveterados, tornando-se leis físicas. Mas, antes que isso possa ser aceito, deve mostrar-se capaz de explicar a tridimensionalidade do espaço, as leis do movimento e as características gerais do universo, com clareza matemática e precisão”.

4 Cf. IBRI, Ivo Assad. Um Mito da Interioridade na Filosofia do Jovem Peirce. Cognitio, São Paulo, v. 11, n. 2, jul./dez., p. 190-200, 2014, p. 193.

5 Eidético: Indica tudo que se refere às essências, que são objeto da investigação fenomenológica.

(ABABGNANO, 2015, p. 178).

6 IBRI (2015, p. 91).

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reflexão sobre um conceito também chave na Metafísica peirciana – o da continuidade. 7

Daí a importância do juízo perceptivo que processará as formas lógicas, já que a mente humana é preparada para compreender tais signos, decorrentes de um continuum evolutivo através dos tempos.

Para tanto, este estudo utilizou como viga mestra, principalmente e sobretudo, os textos dispostos em Collected Papers8, que reuniu sistematicamente os escritos de Charles Sanders Peirce, onde o texto original, em inglês, foi traduzido e disposto com insersões localizadas em outros textos de sua autoria e de estudiosos sobre a matéria. Vale mencionar que nos Collected Papers, há referência ao termo percepção (perception), nominalmente, por aproximadamente 238 vezes. Isso nos dá pleno vigor para discorrer sobre o tema, vez que somos tomados pela certeza de que o filósofo em comento concebe grande importância ao assunto.

Desta forma, com a ideia de que Peirce defendia que só percebemos o que estamos preparados para interpretar9, a teoria em questão necessariamente constrói relação com ciências ou doutrinas originais de sua filosofia, tais como a semiótica, o pragmatismo, o falibilismo, as formas de raciocínio, a tríade categorial, dentre outros.

Assim, é função deste trabalho compor uma apresentação estruturada em três movimentos que terão como meta viabilizar, sem, claro, a pretensão de esgotar, a compreensão acerca do tema, tanto em seu sentido horizontal, que denotará a extensão das relações com as diversas questões epistemológicas em que o sentido da percepção é tratada na obra de Peirce, quanto em seu sentido vertical, onde pretenderá aprofundar tal conhecimento de modo ontológico, expondo alguns dos elementos que formam o ato perceptivo.

Portanto, no primeiro capítulo intitulado Fundamentos da Teoria da Percepção, pretendemos elencar as bases doutrinárias nas quais se organizam os pensamentos inerentes à percepção, apontando a relação entre a percepção e as três categorias da experiência (primeiridade, segundidade e terceiridade), dispondo separadamente de cada uma delas em momentos de intercecção com a percepção, com breve conclusão final sobre o tema.

7 IBRI (2015, p. 96).

8 Collected Papers of Charles Sanders Peirce reune a seleção de textos coligidos, dispostos em oito volumes, publicados por The Belknap Press of Harvard University. (Cf. PEIRCE, Charles Sanders Peirce. Collected Papers of Charles Sanders Peirce. Editado por Charles Hartshorne, Paul Weiss e Arthur W. Burks. 8 volumes.

Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 1931-35 e 1958).

9 CP 5,185: “[...] we realize what we are adjusted for interpretation […]”. Preferimos traduzir o termos

“ajustados” por “preparados”.

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Abordaremos também a relação da percepção com a semiótica, onde veremos que a linguagem não se esgota nela mesma e que é necessário conhecer o papel exercido pela percepção na semiótica e vice-versa, dado o caráter interativo entre o mundo do objeto real, dos signos que buscam representá-lo e da história evolutiva das interpretações de tais representações.

Também discutiremos acerca do elemento denominado representamen, sendo este estabelecido como um primeiro na relação triádica com um segundo, este por sua vez denominado como seu objeto, e que ainda pode determinar um terceiro, chamado de seu interpretante.10

Além disso, trataremos brevemente do tema relativo ao pragmatismo, do papel do autocontrole, sem deixar de lado a importante noção das formas de raciocínio (abdução, dedução e indução) no processamento da percepção, levando em consideração a possibilidade de falha no ato perceptivo, momento em que este capítulo tratará brevemente da visão falibilística da percepção.

No segundo capítulo, pretendemos expor os elementos que formam a Teoria da Percepção peirciana, abordando algumas notas acerca de sua interpretação. Buscaremos formular reflexões específicas a respeito do objeto dinâmico, apresentaremos o elemento denominado percipuum, discorreremos quanto a relação da percepção e o problema da consciência, bem como ensejaremos uma questão elaborada pelo próprio Peirce, qual seja: “A percepção é uma inferência inconsciente?”, além de expormos a questão da possível relação de ego e não-ego inserida nesta teoria peirciana.

Falaremos também a respeito dos hábitos de pensamento, bem como do elemento da experiência, essencial na percepção. Finalizando este capítulo, desenvolveremos alguns dos elementos do universo perceptivo inerentes à memória, ao julgamento perceptivo propriamente dito, bem como sobre o raciocínio e as operações mentais que aglutinam, organizam e promovem o processo cognitivo derivado da percepção.

Por fim, no terceiro capítulo, procuraremos destacar uma visão geral sobre a denominada retrodução, que representa a adoção provisória de uma hipótese verificável por experimentação, que Peirce qualifica como elemento compatível entre o raciocínio da mente e da natureza, de modo que cada suposição possa ser verificada por comparação com a observação do fenômeno que se apresenta. Tal elemento é, pois, o elo entre a compreensão da percepção e da falibilidade, vez que o único tipo de raciocínio através do qual algumas

10 Cf. SS, 193.

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conclusões por ora ainda inexplicáveis poderiam eventualmente ser alcançadas é a retrodução.

E, como bem diz Ibri, “o fato de errarmos e procedermos à correção do erro é um dos focos centrais da atuação da mente”.11

São esses, basicamente, os principais termos em que a Teoria da Percepção se desenvolve e pode ser explicada, segundo os ensinamentos peircianos, os quais são essencialmente úteis para uma leitura filosoficamente compreensível do mundo.

11 IBRI, Ivo Assad. Kósmos Noetós: A arquitetura metafísica de Charles Sanders Peirce. (CP 1,284). São Paulo:

Editora Paulus, 1. ed., 2015, p. 93.

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CAPÍTULO I FUNDAMENTOS DA TEORIA DA PERCEPÇÃO

“Toda pessoa sã vive em um mundo duplo, o mundo interior e o exterior, mundo de percepções e o mundo de fantasias”.12 Inicialmente, neste capítulo, buscaremos apresentar as bases pelas quais está erigida a Teoria da Percepção peirciana.

A abordagem de Peirce trazida nos Collected Papers a respeito da percepção, visa, a princípio, refutar, de plano, o argumento da filosofia idealista, apontando que este se resguarda na suposição de que certas coisas são absolutamente presentes, ou seja, o que temos em mente no momento, é aquilo que nenhum outro ser pode ter imediatamente, isto é, aquilo que é inferencialmente conhecido. Peirce assevera que alguns dos argumentos usados para esse fim são de pouco valor, porque eles só mostram que o nosso conhecimento de um mundo externo é falível13, e pondera a respeito de que existem situações que propiciam nosso saber imediato a respeito do que é presente na mente, sustentando que os idealistas geralmente tratam isso como auto-evidente, mas não conseguem provar tais fatos14.

Tal afirmação, aliás, comunga com o pensamento de que “uma coisa não pode agir onde não está”15, ou seja, é uma indução de experiência ordinária, que não mostra forças, a não ser que atue através de uma resistência material.

Assim, a ideia de que podemos perceber imediatamente apenas o que é presente, parece fundar-se na experiência comum16. Neste sentido, propõe Peirce:

Obviamente, então, o primeiro passo para superar o idealismo por si só é observar que apreendemos nossas próprias ideias apenas como fluindo no tempo, e nem o futuro, nem o passado, por mais próximos que estejam, estão presentes, há muita dificuldade em conceber a percepção do que se passa dentro de nós, como na concepção da percepção externa.17

Peirce propõe que a mera imaginação do tempo18 é uma clara percepção do passado, e acrescenta que “a consciência do tempo existe claramente onde quer que o tempo

12 CP 5,487.

13 Cf. CP 1,37.

14 Cf. CP 1,38.

15 CP 1,38.

16 Ideoscopia. Neste sentido, Peirce designou “a descrição e a classificação das ideias que pertencem à experiência comum ou surgem naturalmente em conexão com a vida comum, independentemente de sua validade ou não-validade, ou de sua psicologia”. (CP 8,328). (apud ABBAGNANO, 2015, p. 616/617).

17 CP 1,38.

18 PEIRCE (CN 3,84) diz o seguinte: “[...] ‘tempo’, uma doutrina que, na medida em que foi realmente colocada além da dúvida importante, equivale a pouco mais do que a nossa imagem dos eventos dos poucos segundos passados. O último passado é, ou é muito parecido, a uma percepção direta, e a representação de que mais ou

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exista”19 e também aborda algo sobre o qual denomina “intervalo de tempo”, sendo algo muito parecido com uma percepção direta de duração ou, pelo menos, do movimento.

Importante a distinção necessária entre o lapso de tempo durante o ato da percepção e o lapso de tempo representado no percepto. Mas existem questões incertas, tais como, se há alguma consciência em um instante de tempo, ou se o tempo é percebido diretamente no presente ou não20. Questiona-se também se o passado é quase ou completamente da natureza de um percepto, enquanto o presente e o futuro são representados de forma mediada.

Importante aqui realçar a posição de Peirce a respeito da possibilidade de um processo, no sentido de que este não ocorre antes da formação do percepto, ou seja, daquilo que tem realidade própria no mundo e que está fora de nossa consciência, além do que é apreendido pela consciência no ato perceptivo.

Assim, o que caracteriza a percepção é o senso de externalidade que acompanha o percepto, sendo que a interpretação destes elementos externos já são previstos pelos nossos esquemas mentais, preparados para estes confrontos de informação. A isto se chama de julgamentos de percepção.

Aliás, a origem do termo percepto refere-se a algo que não pertence ao eu, é algo fora, verdadeiramente pertencente à segundidade. Portanto, é algo compulsivo, teimoso, persistente, que chama nossa atenção, que se apresenta por conta própria e, desta forma, imperioso ter também força própria.21

Frise-se, então, tal conceito: percepto é algo exterior a nós. Perceber é se dar conta de algo externo a nós, justamente o percepto.

menos um minuto seja relativamente algo mediano. Este fenômeno já havia sido utilizado por vários escritores idealistas como uma refutação do dualismo. Mas não há melhor maneira de apreciar o grande calibre do pensamento de Royce do que comparando seus estilos de colocar essa ideia ao serviço da metafísica com a dele. Ele imagina que o maior fato é que, naturalmente, temos muito mais tempo do que os Eu menores.

Agora, uma consciência cujo intervalo de tempo, ou "presente especioso", ou "presente empírico", como é chamado de forma variada, era um milésimo de um segundo, ou, mil anos, normalmente não seria reconhecido como uma consciência por um observador humano através de suas manifestações externas [...]. E isso dá suporte para a imaginação se desejamos reconciliar a presciência e o livre arbítrio, segundo a maneira de Boécio, Santo Agostinho e outros.”

GAGNEBIN, diz que: “O tempo nos escapa e, por ele, como que escapamos a nós mesmos; mas a retomada desta fuga na matéria frágil das palavras permite uma apreensão nova, diferente da queixa costumeira sobre a vanidade do tempo e da vida. Uma nova apreensão que, ao criar sentidos, fugazes eles também, permite jogos ativos com o (s) tempo (s) e no (s) tempo (s), isto é, uma inter-ação com ele (s) (o plural quer assinalar um dos efeitos dessa interação: a descoberta de várias espessuras do tempo, de ritmos diferenciados, de tempos distintos ou entremesclados)”. (GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar, escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2. ed., 1. reimpressão, 2009, p. 173).

19 CP 1,38.

20 Cf. CP 8,123.

21 Cf. SANTAELLA (1993, p. 96).

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Santaella frisa, neste sentido, que existe algo que é puramente físico e pode ser verificado por instrumentos tão físicos quanto outros objetos físicos ao nosso redor que também podemos ver. Existe uma dimensão do real que não depende de nós. E nós mesmos, embora sejamos seres cognitivos, também interagimos com corpos físicos no mundo22. Isso manifesta com força a tese realista de Peirce.

A percepção eclode como uma espécie de operação quase incontrolável, pois este juízo consiste no ato de formar uma proposição mental combinada com sua adoção ou assentimento. Destarte, o Juízo perceptivo é o primeiro julgamento que a pessoa faz em relação àquilo que está perante seus sentidos23, o percepto.

Mas note que o percepto não é uma imagem ou qualquer coisa desse tipo, a partir da qual inferimos a natureza de alguma outra coisa. Oras, num ato de percepção notamos algo que aparece de um certo modo, é insistente, impositivo, mudo, não é aquilo que nossa mente cria24. Para melhor compreensão deste sentimento, Peirce criou o termo percipuum, o qual abordaremos em momento oportuno, mas já adiantamos que corresponde ao que seria considerado como o lado mental do percepto.

O percepto é, pois, apenas um dos componentes do processo cognitivo. Mas também é importante frisar que dentro do próprio texto peirciano, assim como em seus comentadores25, não há unicidade em relação ao conceito descritivo do percepto.

Segundo Peirce, todos os nossos conhecimentos partem da percepção e, por isso, este sentimento nunca deveria ser posto em dúvida. Ou seja, não se pode duvidar do que realmente parece ser.26 Por isso a carga de experiência é tão importante, pois perfaz nosso repertório com elementos que possam ser necessários para desvendar os fenômenos vindouros, de modo que viabilize maior suavidade e segurança à continuidade existencial.

1.1 A percepção e as três categorias da experiência

Peirce desenvolveu uma filosofia de compreensão do cosmos representada por uma estrutura de entendimentos, cujas vigas mestras são verificadas através de suas três categorias, denominadas: primeiridade, segundidade e terceiridade, que têm por base fenomenológica, a experiência.

22 Cf. SANTAELLA (1993, p. 90).

23 Cf. CP 5,115

24 Cf. SANTAELLA (1993, p. 57).

25 Cf. SANTAELLA (1993, p. 57).

26 Cf. CP 7,36; Fn 13 p. 27.

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Ibri, viabiliza o entendimento, no melhor nível, quanto ao significado das categorias observadas através de um realismo e concepção categorial do mundo, acrescentando que o inventário da experiência evidenciou três modos de ser do fenômeno que constituem as categorias de Peirce, senão vejamos:

A primeira categoria desenhou-se através daquele elemento do fenômeno constituído pelas qualidades de sentimento, ao nível interior, e pela diversidade e variedade das qualidades no mundo. A segundidade, por sua vez, trouxe em si a experiência da alteridade, ideia de outro, de força bruta, caracterizada pela reação do individual contra uma consciência primeira, tornando-se o pivô de todo pensamento. No pensamento configura-se a experiência da mediação entre um primeiro e um segundo, extensa no tempo por ser geral e por manter um vínculo entre passado e futuro. As regularidades observadas no mundo traduzem-se como fenômenos de terceiridade, ao requererem uma consciência que estão sob a imediatidade da primeira e segunda categorias.27

Nesta esteira, em síntese, a primeiridade representa o elemento do fenômeno constituído pelas qualidades de sentimento, ao nível interior, e pela diversidade e variedade das qualidades do mundo, no nível exterior. É, portanto, algo livre, criativo, solto. Já a segundidade denota a experiência de alteridade, é a ideia do outro, é força bruta caracterizada pela reação do individual contra uma consciência primeira. E, por fim, a terceiridade é observada através das regularidades, das leis que se pode perceber existentes na natureza, bem como pela mediação que esta categoria proporciona entre a primeiridade e a segundidade.

Com tais breves observações, é autorizado afirmar que o realismo de Peirce tem raiz na referida tríade categorial28, vez que a racionalidade humana é um contínuo da razoabilidade do universo, também afetada pela doutrina sinequista29, mas sujeita à ação do acaso (tiquismo30), buscando em seu desenvolvimento um ideal, a partir do

27 IBRI (2015, p. 41).

28 O realismo peirciano sugere que existem continuidades reais: possibilidade (primeira categoria) e necessidade (terceira categoria). O fato estaria sob a égide da segunda categoria (o descontínuo).

29 Para fins de uma síntese de entendimento a respeito do termo sinequismo, vale ressaltar os dizeres de Almeida:

“o Sinequismo de Peirce pode ser compreendido como o que realmente é, ou seja, como uma doutrina que insiste, literalmente, que tudo o que é real deve ser tomado como contínuo, ou seja, deve ser tomado como

‘uma coleção de uma multitude tão vasta que em todo o universo de possibilidades não há espaço para eles reterem suas identidades distintas; mas eles fundem-se. Deste modo, o continuum é tudo o que é possível, em qualquer dimensão que ele possa ser contínuo.’ (ALMEIDA, Rodrigo Vieira de. O conceito de imortalidade do homem na filosofia de Charles Sanders Peirce. 2016. 264. Tese (Doutorado em Filosofia) - Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2016, p. 62).

30 Na filosofia peirciana, o sinequismo é o oposto complementar do tiquismo, também uma palavra grega que significa acaso. Em sua maturidade, Peirce começou a acreditar que ele havia delineado um sistema filosófico que poderia servir como uma matriz para todo o seu pensamento. O nome que ele deu para esse sistema metafísico foi sinequismo, portanto. Em uma carta a James, em 25 de novembro de 1902, quando falava sobre o seu sistema completamente desenvolvido, no qual tudo se mantém integrado, não podendo receber nenhuma apresentação apropriada em fragmentos, Peirce afirmou que o sinequismo se constituía na fundação do arco de

(31)

interrelacionamento das ciências normativas, quais sejam, a Estética, a Ética e a Lógica, segundo as quais o pragmatismo se torna uma doutrina onde as concepções não são relativas à ação, mas sim ao summum bonum.31

Enfim, durante toda esta dissertação estaremos em contato presente com as três categorias, sempre no que tange à confluência de tema com a percepção.

Vejamos agora, mais detidamente, o significado de cada uma das três categorias e sua relação com a percepção:

1.1.1 A primeiridade e a percepção

A ideia da primeiridade é predominante na noção de frescor, novidade, liberdade, originalidade, elemento de espontaneidade e criatividade. “O livre é o que não tem outro atrás dele determinando suas ações. O primeiro sobressai no sentimento, manifesta-se de forma ilimitada e descontrolada, distinto da percepção objetiva, vontade e pensamento.”32

Importante alertar que o conceito de primeiridade surge como um modo de aparecer fenomenológico que é caracterizado pela experiência de unidade entre sujeito e objeto, indiferenciando mundos interior e exterior. Tal experiência é de natureza interior, atentando que mundo interior, para Peirce, não se reduz à ideia de mundo subjetivo.

Assim, como bem ressaltado por Ibri:

[...] Interioridade e subjetividade não mantêm relação de equivalência. Esta consequência advém de seu realismo metafísico, de seu idealismo objetivo e de sua simetrização das categorias, ou seja, a validação como categorias fenomenológicas e simultaneamente metafísicas. 33

Ibri ainda acrescenta que:

A primeiridade traz efetivamente a identidade entre o interno e o externo na esfera daquilo para o que não se tem linguagem pronta: a liberdade não é cognoscível porque não se submete ao conceito. Contudo, a primeiridade desafiará a construção de linguagens, cuja generalidade não será mais por força de lei, por meio de um acordo de sentido entre seus praticantes. Sua generalidade será a da possibilidade do que aponta para uma multiplicidade de significações, para a prática lúdica da hipótese que não necessitará passar sua filosofia. (Cf. SANTAELLA, Lucia. Os Significados Pragmáticos da Mente e o Sinequismo em Peirce.

Cognitio, São Paulo, n. 3, nov., 2002, p. 98).

31 Vide SANTAELLA, Lucia. Chaves do Pragmatismo Peirciano nas Ciências Normativas. Cognitio, São Paulo, Ano 1, n. 1, jun./dez., 2000, p. 98.

32 CP 1,302.

33 IBRI, Ivo Assad. O Significado de Primeiridade em Schelling, Schopenhauer e Peirce. Cognitio, São Paulo, v.

9, n. 2, p. 223-234, jul./dez., 2008, p. 229.

(32)

por um determinado teatro de reações para sua validação como verdade, mas que, devido à sua intrínseca liberdade, indica para muitos mundos e muitas verdades possíveis.34

A primeiridade é, portanto, o modo de percepção imediata das qualidades. Assim:

A primeiridade é exemplificada em todas as qualidades de um sentimento total. É perfeitamente simples e sem partes e tudo tem sua qualidade. Assim, a tragédia do Rei Lear tem sua primeiridade, seu sabor sui generis. Aquilo em que todas essas qualidades concordam é a primeiridade universal, o próprio ser da primeiridade. A palavra possibilidade se encaixa, exceto que essa possibilidade implica uma relação com o que existe, enquanto a primeiridade universal é o modo de ser em si mesmo. É por isso que uma nova palavra se fazia necessária para isso. Caso contrário, a "possibilidade"

teria respondido o propósito.35

Portanto, note-se, devido a característica elementar de originalidade inerente à primeiridade, nem sempre a presença do percepto envolvido será notada, já que, muitas vezes por ser inédito, não será reconhecido por não haver modelo igual no repertório do interpretante. Entretanto, mesmo se tratando de um percepto inédito, ou seja, nunca antes notado, será ainda captado pela percepção, desde que se constitua como um fenômeno que nos permita contato sensorial.

Enfim, dentro do conteúdo da Teoria da Percepção peirciana, importante dizer que a primeiridade é representada pelo interpretante imediato36 propriamente dito. Ou seja, é o potencial inscrito no próprio signo para significar. Esse interpretante é interior e pertence objetivamente ao signo, independentemente do encontro do signo com qualquer intérprete.37

Ibri arremata a questão dizendo que:

“[...] a primeiridade antecede a segundidade, como uma espécie de mundo de natureza interior que antecederia um mundo exterior. É explícita a menção de Peirce a esta antecedência em sua cosmologia: “o mundo interno foi primeiro, e sua unidade advém daquela primeiridade. O mundo externo foi segundo...”38

A categoria primeira, portanto, representa a parte do fenômeno organizado pelas qualidades de sentimento, espontaneidade, novidade, diversidade e variedade das

34 IBRI (2008, p. 232).

35 CP 1,531.

36 Cf. CP 2,283

37 Cf. SANTAELLA, Lucia. O Papel da Mudança de Hábito no Pragmatismo Evolucionista de Peice. Cognitio, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 76-83, jan./jun. 2004, p. 78.

38 NEM, 4, 141 (apud IBRI, 2011, p. 209).

(33)

propriedades do mundo que se apresenta de modo original e viável de captação pelo aparelho sensorial perceptivo, caso este esteja apto diante da experiência que se necessita para tanto.

1.1.2 A segundidade e a percepção

Peirce traz a noção, em contraposição à primeiridade, da existênica de uma categoria que demonstra reação, força, em que a brutalidade da vida se torna mais proeminente. Diz ele:

Estamos constantemente batendo contra o fato duro. Nós esperamos uma coisa, ou passivamente tomamos algo como certo. Mas algo imprevisto acontece nos forçando a pensar de modo diverso. Obtém-se esse tipo de consciência em caso de alguma aproximação à pureza, como por exemplo, quando se força uma porta com o ombro desejando abri-la. Cria-se um senso de resistência e, ao mesmo tempo, uma sensação de esforço. Não pode haver resistência sem esforço, do mesmo modo que não pode haver esforço sem resistência. São apenas duas maneiras de descrever a mesma experiência. É uma consciência dupla. A ação e a reação.39

Desta forma elucidativa tomamos consciência de nós mesmos quando nos tornamos conscientes do não-eu.

A segundidade, predominantemente constituída e representada pelo sentimento de alteridade40, promove a ideia de que não pode ser simplesmente desconsiderada. Isso demonstra que o poder da percepção tem um efeito brutal.

A noção de sermos produto do mundo que nos cerca é importante para a compreensão de que as outras coisas também existem em virtude de suas reações, e mesmo nós também reagimos em relação ao não-ego. A ideia do outro, da negação, de toda essa alteridade, forma a ideia desta categoria fenomenológica, observe-se:

Comecemos por considerar a atualidade e tentemos distinguir exatamente no que ela consiste. Se eu perguntar o que a realidade de um evento consiste, você vai me dizer que consiste em acontecimentos. As especificações então envolvem todas as suas relações com outros existentes. A realidade do evento parece estar nas suas relações com o universo dos existentes. Um tribunal pode emitir injunções e julgamentos contra mim e não me importo com isso. Eu posso pensar que eles são ociosos. Mas quando eu sentir a mão do xerife no meu ombro, começarei a ter uma sensação de realidade. A

39 CP 1,324.

40 Gagnebin, explicando um momento das aventuras de Ulisses, de Homero, ensina que “o outro tem diversas formas e em sua alteridade radical de estrangeiro que chega de repente, cujo nome não é dito nem conhecido, mas deve ser acolhido, com quem se pode estabelecer uma aliança através de presentes, embrião de uma organização política mais ampla. É, pois, a capacidade de entrar em relação com o outro sob diversas formas.”

(GAGNEBIN, 2009, p. 21).

(34)

realidade é algo bruto. Imagine colocar seu ombro contra uma porta e tentar forçá-lo a abrir contra uma resistência invisível, silenciosa e desconhecida.

Temos uma consciência de dois lados de esforço e resistência, que parece- me chegar perto de um senso puro de realidade. No geral, acho que temos aqui um modo de ser de uma coisa que consiste em como um segundo objeto é. Eu chamo isso de Segundidade.41

Desta forma, a interpretação, denominada por Peirce como juízos perceptivos42, utiliza a percepção da alteridade, ou seja, daquilo que representa o outro, daquilo que se força sobre nós, como elemento fundamental para seu desencadeamento. “A ideia do segundo está predominante nas ideias de causalidade e de força estática. A causalidade, por conta da causa e efeito, e a força estática sempre ocorrem entre pares. A limitação é uma segundidade.”43

Isso é notado até mesmo no fluxo de tempo na mente, onde o passado parece agir diretamente sobre o futuro, sendo seu efeito principal aquilo que é representado pela via da memória.

Houser elucida em relação ao procedimento da causalidade:

O quadro descrito por Peirce no qual este processo de causalidade semiótica se desdobra parece ser algo assim: nós imaginamos algo possível, um evento futuro que possamos encontrar no curso da experiência e uma possível resposta provável que produza um resultado que consideramos anteriormente. Essa imaginação envolve generalidades (ícones que, em si mesmos, são possibilidades) que ativam estados e processos neurais reais, tendendo assim a estabelecer uma conexão real (habitual) (uma resolução ou determinação - uma regra de comportamento) entre os ícones generalizados do desejado/esperado pelo resultado e o tipo de ação necessária para realizá- lo de modo que, quando realmente encontramos uma circunstância, a percepção que se registra como o tipo de evento que procuramos preparar, um hábito neurológico desenvolvido (auto-determinado neste caso mas presumivelmente de um tipo com determinações naturais não intencionais) desencadeia uma resposta sob a forma (aparentemente como a ação) programada para causar o resultado desejado.44

O vetor da vontade provoca reações de segundidade entre o ego e o não-ego, vez que este pode ser um objeto de consciência. Na vontade, os eventos que levaram ao ato são elementos de interioridade. Neste sentido, os eventos antecedentes não estão dentro de nós.

41 CP 1,24

42 O juízo perceptivo contém elementos gerais. Todos os elementos gerais são dados na percepção, que perde a maior parte de seu significado. Pois, se um elemento geral fosse dado de outro modo que não no juízo perceptivo, só poderia aparecer pela primeira vez em uma sugestão abdutiva. Cada elemento geral de toda hipótese, por mais selvagem ou sofisticada que possa ser, é dada em algum lugar na percepção. (Cf.

SANTAELLA, 1993, p. 66).

43 CP 1,325.

44 HOUSER, Nathan. Semiotics and Philosophy. Cognitio, São Paulo, v. 17, n. 2, p. 313-336, jul./dez., 2016, p.

329. (tradução livre).

(35)

Além disso, o percepto45 permanece inalterado, pois, “na ideia de realidade46, a segundidade é predominante, já que o real insiste em forçar sua presença como algo diferente daquilo criado pela mente. O real é ativo. Nós o reconhecemos ao chamá-lo de real”.47

Nesta esteira, Peirce indaga a respeito de como as coisas realmente são em relação a tudo o que podemos pensar. Vejamos:

O que é realidade? Não haveria tal coisa como a verdade, a menos que exista algo que seja como é independente de como podemos pensar que seja. Essa é a realidade, e temos que perguntar qual é a sua natureza. Nós falamos de fatos. Desejamos que nosso conhecimento se conforme com os fatos. Agora, a "dureza" do fato reside na insistência da percepção, sua insistência inteiramente irracional, o elemento de Segundidade nela. Esse é um fator de realidade muito importante.48

Mas esse fator não se limita ao percepto. Alerte-se que nada podemos saber sobre ele, mas apenas experimentá-lo passivamente em sua totalidade, com exceção ao processamento do julgamento perceptivo, o que também obriga sua aceitação sem qualquer razão.

Santaella, ensina com clareza a respeito da dimensão de segundidade do percepto.

Diz ela:

Quando percebemos algo, estamos alertas a uma dualidade essencial, na qual há algo que está ali ou aqui, diante de nós ou perto de nós ou contra nós, e que não pode ser exaurido pelo julgamento de percepção. Sabemos quando o percepto está contra nós (predomínio da secundidade), no momento em que tentamos nos livrar dele e não conseguimos. Enquanto uma abelha está voando ali a diante, sem nos perturbar, a brandura do percepto equilibra a dimensão do primeiro e segundo. Somos até capazes de nos sentirmos completamente acomodados, quase contemplativos em relação ao leve zumbido que vem de algum lugar que não nos incomoda. Quando a abelha vem em nossa direção, entretanto, aí começamos a entender melhor o que é um percepto. Só no momento em que tentamos nos livrar de um percepto é que nos damos conta de quão cego e surdo à razão ele pode ser.49

Como bem ressaltado por Ibri50, Peirce conceituará a realidade como o locus da generalidade ontológica, ou seja, os sistemas ontologicamente contínuos na forma das leis da natureza. Assim, enquanto a realidade está inserida na terceiridade, existência é aquele modo

45 Conforme bem delineado em CP 2,146: “O percepto é um evento único acontecendo hic et nunc. Não pode ser generalizado sem perder seu caráter essencial”.

46 Em Kósmos Noetós, ensina-se que a alteridade e a generalidade são atributos da realidade. IBRI (2015, p. 59).

47 CP 1,325.

48 CP 7,659.

49 SANTAELLA (1993, p. 93).

50 Cf. IBRI, Ivo Assad. Sobre a Identidade Ideal-Real na Filosofia de Charles S. Peirce. Cognitio, São Paulo, ano 1, n. 1, p. 30-35, jul./dez., 2000, p. 40.

(36)

de ser do particular, do individual, caracterizada pela dualidade interagente de forças, situando-se sob a segundidade. O individual concretiza ou atualiza a generalidade da lei sob a forma de uma conduta temporalmente ordenada, que é condição de possibilidade do caráter preditivo do pensamento de um modo geral e da ciência em particular. A lei, sob esta consideração, contém um esse in futuro, que justamente lhe confere continuidade.

Neste sentido, com habitual brilho, Ibri acrescenta que:

À luz do critério do Sinequismo, um mero evento isolado, contingente, não satisfaz aquele binômio e, assim, estrito senso, não constituiria um saber.

Ora, continuidade e exterioridade, na medida em que são condições de possibilidade de qualquer cognição, e dada a equivalência entre realidade e cognoscibilidade, na esteira do vínculo entre epistemologia e ontologia na filosofia peirciana, um evento exclusivamente interior e que de algum modo fosse contingente, não pode ser considerado real. Não por outra razão, naquele texto de juventude de Peirce, parece-nos ao menos infeliz o exemplo dado por ele a respeito da realidade de um sonho, no que ele possa contradizer suas próprias condições para a admissão de um conceito pragmático de realidade.51

O elemento da segundidade no percepto, portanto, é verificado através de sua resistência, de sua alteridade. É, pois, aquilo que aparece e se força sobre nós, brutalmente, no sentido de que não é guiado pela razão. Não tem generalidade.

Vale realçar que a percepção, na sua realidade de ocorrência, sempre aqui e agora, está sob o domínio da segundidade, o que não quer dizer que também não tenha relação com a terceiridade, pois é essa marca que lhe dá condições de generalidade para significar.52

Portanto, nada podemos dizer sobre aquilo que aparece, o percepto, senão pela mediação de um juízo de percepção, viabilizado por um movimento de interpretação, levando-se em conta o prévio repertório experiencial do interpretante.

1.1.3 A terceiridade e a percepção

Por fim, o último elemento da tríade categorial é a terceiridade, representada pela ideia de lei, regra, generalidade, repetição, o que torna possível fazer previsões, esperando os resultados necessários, além de se tornar possível a crença na continuidade das coisas como tais.

51 IBRI (2014, p. 199).

52 Cf. SANTAELLA (1993, p. 38).

(37)

A generalidade, que Peirce denomina como terceiridade, espraia nos julgamentos perceptivos e em todo o raciocínio, na medida em que depende deste, ou seja, o raciocínio matemático se volta para a percepção de generalidade e continuidade53.

É, pois, a categoria que representa o elemento de mediação entre as outras duas categorias. Promove uma consciência de síntese54, pois, “as regularidades observadas no mundo traduzem-se como fenômeno da terceiridade, ao requererem uma consciência que experiencia no tempo”55, distintas das consciências que estão sob a imediatidade das outras duas categorias.

Neste sentido, Almeida conclui que:

A continuidade, sendo um elemento da terceiridade, abarca toda a experiência, que por sua vez abrange em seu bojo as outras categorias, segundidade e a primeiridade. Ou seja, a continuidade é uma terceiridade real que pode ser experienciada, sendo, na verdade, a própria forma da terceiridade.56

Por sua vez, Colapietro também infere quanto a importância da compreensão relativa à continuidade, característica da categoria fenomenológica em comento:

Peirce entende que os indivíduos, em algum sentido, duram. Em sentido estrito, aquele que sozinho se apresenta como um indivíduo é aquele que está realmente reagindo a algum outro. A essência deste reside na realidade da reação, enquanto que indivíduos em sentido amplo são, em si, um tipo de continuidade.57

A percepção, portanto, é o produto do processo pelo qual nosso pensamento considera os elementos físico, sensorial e cognitivo58. O papel cognitivo na percepção é desempenhado pelo julgamento perceptivo.

A percepção é a única via que propicia, através da experiência, o acesso à segundidade, sem a pretensão de tentar perceber o que a consciência seria se ausente o elemento de representação, que está no campo da terceiridade.59

Vale, pois, reproduzir este apontamento de Peirce:

53 Cf. CP 5,150.

54 Cf. IBRI (2015, p. 35).

55 IBRI (2015, p. 41).

56 ALMEIDA (2016, p. 150).

57 COLAPIETRO, Vincent M. The Ineffable, the Individual, and the Intelligible: Peircean Reflections on the Innate Ingenuity of the Human Animal. In: ROMANINI, Vinicius; FERNÁNDES, Eliseo (Eds.). Peirce and Biosemiotics. A Guess at the Riddle of Life. New York: Editora Springer, 2014a, p. 130.

58 Cf. SANTAELLA (1993, p. 90).

59 Cf. CP 1,532.

(38)

[...] embora o ato de percepção não possa ser representado como um todo, por uma série de cognições que se determinam, uma vez que envolve a necessidade de uma série infinita, ainda não há percepção tão próxima ao objeto que não seja determinado por outro que o precede, pois, quando chegamos ao ponto que nenhuma cognição determinante precede, achamos que o grau de consciência é apenas zero e, em suma, alcançamos o próprio objeto externo e não representamos isso.60

A terceiridade provoca na segundidade uma operação para a execução de uma intenção. Isto é, um fato, como conhecimento, é apreendido segundo uma possível ideia.

Para melhor compreensão, Peirce nos dá o seguinte exemplo:

Observa-se algo e se diz: "Isto é vermelho". Todavia, qual a justificação para tal julgamento? Resposta: "Eu vi que era vermelho". Mas será que se viu mesmo algo assim? Vê-se uma imagem. Não havia predicados nela. Era apenas uma imagem sem qualquer separação de qualidades que provocou um julgamento, devido à possibilidade de pensamento.61

Desta forma, Peirce conclui que em toda percepção, há uma operação útil, de modo que possibilita previsibilidade, o que concede o poder de controle sobre os processos de elaborações mentais cognitivas.

Enfim, é relevante a compreensão a respeito da generalização dos julgamentos perceptivos. Santaella ensina que eles agem como signos, representantes do percepto, com a capacidade de trazer este último, já trasmutado em percipuum62, para o fluxo contínuo dos processos mentais, desde que tenham necessariamente elementos dominantes de terceiridade.63

Mas, sobretudo, na discussão da terceiridade em relação à percepção, inevitável dizer que a “insistência de uma experiência requer um intelecto comparador que medeie a imediatidade de cada uma das ocorrências desta experiência, ou seja, intelecto que a torne não mais uma experiência imediata, mas uma representação generalizada de algo”.64

60 W 2,179.

61 CP 1,538.

62O percipuum é parte do julgamento de percepção, ao mesmo tempo que traz a marca do percepto, já que ele é imediatamente interpretado no juízo perceptivo. Assim, o percipuum é, pois, o objeto imediato do julgamento de percepção, o objeto de ligação, mediação, entre nosso mundo interior e o mundo exterior. Importante frisar este conceito para solidificar o entendimento a respeito deste termo tão bem desenvolvido por Peirce.

63 Cf. SANTAELLA (1993, p. 101).

64 IBRI (2015, p. 55).

(39)

1.1.4 Conclusão em relação à percepção e as categorias peircianas

Santaella expõe o entendimento da operação das três categorias na percepção, buscando uma sistematização do seu modo de funcionamento através do percipuum, e ensinando que o percepto está abrangido pelas categorias fenomenológicas da primeiridade e da segundidade, sendo que a terceiridade já seria percepto transmutado em percipuum.65

Note-se, por conseguinte, que há sempre algo que identifica correspondência entre o percipuum e o percepto. Todavia, não significa que o percipuum imite o percepto, fazendo- se passar por igual imagem. Entretanto há ligação entre ambos, caso contrário o percipuum não poderia funcionar como uma espécie de tradução do percepto. Em suma, as três categorias desenvolvidas por Peirce nos fornecem a chave para a compreensão de como se processa a tradução de percepto em percipuum, vejamos66:

a) Como qualidade de sentimento (primeiridade - percepto).

b) Como reação física, corpórea, sensórea (segundidade - percepto).

c) Como processo interpretativo de acordo com os esquemas gerais que colocam o percipuum nos fluxos contínuos dos processos mentais (terceiridade - percipuum).

Frise-se que pode haver dominância de um desses níveis sobre os outros, mas no geral ocorrem simultaneamente. Fica bem nítida a compreensão a respeito da composição da realidade, pelos elementos da alteridade (segundidade) e generalidade (terceiridade).

Porém, reitere-se que o percepto só tem elemento de primeiridade e de segundidade e vai apresentar a terceiridade na percepção com o percipuum, quando for absorvido pela mente, pela via da experiência.

O julgamento de percepção ou interpretação é um primeiro (signo) e o percepto é um segundo (objeto dinâmico). O percipuum, por sua vez, tem como função ser o objeto imediato, ou seja, a ponte entre o percepto e a interpretação. Porém, para entendimento em relação ao interpretante, terceiro elemento, é necessário a compreensão das três categorias peircianas (primeiridade, segundidade e terceiridade), que dão forma à triade lógica do signo, objeto e interpretante da percepção.

As três categorias, através de seus elementos, proporcionam à Teoria da Percepção a viabilidade de análise dos fenômenos.67

65 Cf. SANTAELLA (1993, p. 99).

66 Cf. SANTAELLA (1993, p. 100).

67 CP 8,265.

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