2 TÉCNICAS UTILIZADAS PARA A COMPENSAÇÃO DA SEQÜÊNCIA NEGATIVA
As principais técnicas para compensação de desequilíbrios, incluindo o transformador Scott, a inserção de impedâncias e a injeção de correntes via conversor operando em PWM são apresentadas.
A definição do grau de desequilíbrio de corrente (Robba et al., 1996) em um sistema elétrico, é dada pela eq.(2-1).
100 . I I (%)
X
•+
•
−
= (2-1)
onde I e
•−I são respectivamente o módulo dos fasores correspondentes aos
•+componentes de seqüência negativa e positiva da corrente.
Segundo (Penteado Jr., 1985), “Valores limites para o grau de desequilíbrio do sistema não são explicitados quantitativamente nas normas, que geralmente recomendam consulta aos fabricantes das máquinas para estabelecimento de um particular limite. Nas máquinas síncronas, a corrente de seqüência negativa cria um campo girante em sentido contrário ao do rotor que provoca o aparecimento de correntes rotóricas com freqüência dupla em relação à rede, aumentando em
conseqüência as perdas e provocando aquecimento”.
Tendo em vista os efeitos e conseqüências da presença de correntes de seqüência negativa devido a cargas desequilibradas (cap.1), torna-se necessária sua compensação. Os métodos existentes para o balanceamento de cargas incluindo o uso de transformadores para mudança no número de fases (2 fases para 3 fases - Ligação Scott), a inserção de reatâncias e a injeção de correntes via conversor operando em PWM, são apresentados, explicitando-se suas vantagens e desvantagens.
Compensação de desequilíbrios de carga empregando conversor operando em PWM – Rodrigo Cutri
2.1 Transformadores para mudança no número de fases (2 fases para 3 fases - Ligação Scott)
A utilização de 2 cargas monofásicas de alta potência ligadas diretamente a um sistema trifásico conforme visto na Fig.2.1-1 introduz um desequilíbrio inaceitável.
It
R S
R
VST
VRS
Ir
Is
R
Fig.2.1-1 – Carga Desequilibrada para compensação através de montagem Scott A transformação bifásico-trifásico necessária ao equilíbrio das correntes da rede pode ser obtida através da ligação de transformadores pela conhecida ligação Scott (E.E. Staff del M.I.T, 1965), (Chen, 1994) e (Brittain, 2002).
O sistema bifásico é obtido por intermédio de 2 transformadores T
1e T
2com o número de espiras e ligação indicadas na Fig.2.1-2. Alimentando-se os primários com um sistema trifásico de tensões , e obtêm-se duas tensões bifásicas
e V em quadratura entre si nos secundários. O diagrama fasorial é repre
na Fig.2.1-3. O transformador T
1é alimentado pela tensão V
RMentre o t inal R e o ponto médio M do primário de T
2.A tensão secundária V está em fase com
1V
RMe
V em fase com
2 ST.
•
V
RSV
•STV
•TR•
V
1•
•
2
sentado
•
erm
• •
V
•Pelo diagrama da Fig.2.1-3 observa-se que V
RM•< V
•ST, sendo V
RM•= V
•ST. cos( 30 º ) .
Compensação de desequilíbrios de carga empregando conversor operando em PWM – Rodrigo Cutri
Assim verifica-se que T
1opera a 86,6% da tensão entre S e T. Portanto se ambos os transformadores tem o mesmo número de espiras no secundário (N
1s=N
2s), o número de espiras do primário de T
1deverá ser igual à 86,6% do número de espiras de T
2(N
1p=0,866*N
2p) para que V
•1= V
•2. As cargas são conectadas aos enrolamentos secundários N
1se N
2sde acordo com a Fig.2.1-2.
R
S
T
M
V
1T
1N
1pN
2pT
2V
RSV
STV
TRN
2sN
1s RV
2 RN
1p=0,86*N
2pN
2p– número total de espiras do primário de T
2Fig.2.1-2 - Montagem Scott
R
T S
V
1V
2M
VRS
VTR
VST
VRM
Fig.2.1-3 – Diagrama Fasorial da montagem Scott
Compensação de desequilíbrios de carga empregando conversor operando em PWM – Rodrigo Cutri
Este método apresenta como vantagem a relativa facilidade de implementação, no entanto somente é aplicado em situações onde existem obrigatoriamente duas cargas monofásicas iguais (mesma potência) a serem equilibradas. Nos casos onde as cargas não são totalmente iguais a compensação não é total, mas o desequilíbrio entre as correntes de linha das cargas apresenta-se melhor do que sem nenhuma compensação. Idealmente as correntes na linha se apresentam balanceadas, no entanto, a dispersão nos valores dos parâmetros dos transformadores impede a perfeita compensação do desequilíbrio. Na presença de cargas com harmônicos verifica-se a compensação do desequilíbrio somente para a corrente fundamental.
A grande aplicação deste método se verifica na compensação de desequilíbrios causados por ferrovias eletrificadas em CA e fornos a arco, que representam cargas monofásicas de elevada potência.
Compensação de desequilíbrios de carga empregando conversor operando em PWM – Rodrigo Cutri
2.2 Inserção de reatâncias
Uma solução tradicional, proposta por Steinmetz (Bhavaraju; Enjeti, 1993) para compensar uma carga monofásica resistiva conforme a Fig.2.2-1 é a inserção de elementos passivos, compostos por indutores e capacitores conforme apresentado na Fig.2.2-2 (Samesima, 1984), (Penteado Jr., 1985), (Lin et al., 1992), (Bhavaraju;
Enjeti, 1993), (Willems, 1993), (Czarnecki, 1993), (Ledwich; George, 1994) e (Nikolaenko, 1998).
T S R
V
STV
RSR
I
rI
sI
tFig. 2.2-1- Carga monofásica resistiva
T S
R
V
STV
RSR
I
rI
sI
tjX
L-jX
cI
stI
trI
rsFig. 2.2-2 - Compensação do desbalanço pela inserção de reatâncias
Se, na Fig.2.2-2, X
c= X
L= 3 . R ,e as tensões de seqüência positiva forem dadas por
º
RS
V 0
V
•= ; V
•ST= V − 120
º; V
•TR= V 120
ºtêm-se as correntes de fase I , I e dadas respectivamente pelas eqs.(2.2-1), (2.2-2) e (2.2-3).
• RS
• ST
•
I
TRCompensação de desequilíbrios de carga empregando conversor operando em PWM – Rodrigo Cutri
0 º R V R I
RS= V
RS=
• •
(2.2-1)
º R 30 . 3 V X
.j I V
c ST
ST
= −
= −
• •
(2.2-2)
º R 30 . 3 V X
.j I V
L TR
TR
= =
• •
(2.2-3)
O que resulta nas correntes de linha apresentadas nas eqs.(2.2-4), (2.2-5) e (2.2-6).
º 3 30 . 1 R I V I I
. TR . RS
R
=
•−
•= −
•
(2.2-4)
º 3 150 . 1 R I V I
I
•S=
ST•−
RS•= − (2.2-5) º
3 90 . 1 R I V I
I
•T=
TR•−
ST•= (2.2-6)
O novo sistema composto pela carga e pelas reatâncias de compensação está balanceado e apresenta fator de potência unitário. As correntes de linha estão igualmente defasadas e possuem a mesma amplitude.
Para que se possa utilizar o método descrito acima com uma carga monofásica com baixo fator de potência, deve-se, a priori, compensar completamente sua potência reativa. Para um conjunto qualquer de cargas desbalanceadas, o método descrito acima pode ser aplicado juntamente com o teorema da superposição (Samesima, 1984), (Penteado Jr., 1985) e (Nikolaenko, 1998). Para uma carga ligada em triângulo cujas cargas individuais necessitem de uma potência ativa ( e uma potência reativa ( Q ), considerando-se um fator de potência para a carga compensada igual a
tr st rs
, P , P
P )
tr st rs
, Q , Q
cos(φ ) , a potência reativa de compensação em cada fase ( Q
rs_C, Q
st_C, Q
tr_C) é dada pela eq.(2.2-7).
Compensação de desequilíbrios de carga empregando conversor operando em PWM – Rodrigo Cutri
−
φ
− φ
− φ
−
−
φ
−
− φ
− φ
−
φ
− φ
−
− φ
−
=
tr st rs
tr st rs
C _ trc
C _ stc
C _ rs
Q Q Q
P P P . ) tan(
) tan(
3 ) tan(
3
) tan(
3 )
tan(
) tan(
3
) tan(
3 ) tan(
3 )
tan(
3 1 Q
Q Q
(2.2-7)
Para um fator de potência ( cos(φ ) ) unitário, a carga compensada é vista pela rede como uma carga resistiva trifásica e balanceada. A carga compensada pode ser modelada através de uma conexão delta (estrela) de 3 resistências com valor de 3R (R).
Este método apresenta as seguintes características:
• é adequado para estratégias envolvendo inserção de reatâncias;
• as reatâncias de compensação apresentam grande volume e peso, e seus valores dependem das impedâncias das cargas. Para cargas variáveis os valores das reatâncias podem ser alterados pelo uso de reatores controlados com tiristores (“thyristor controlled reactors” (TCR)) e capacitores estáticos chaveados a tiristores (“thyristor switched capacitors” (TSC)) (Penteado Jr., 1985) e (Matsui;
Fukao, 1990);
• o método acima é apropriado para o controle de compensadores TCR e TSC (Penteado Jr., 1985) e (Matsui; Fukao, 1990);
• este circuito de compensação é sensível a seqüência de fases (Samesima, 1984) e (Penteado Jr., 1985);
• a substituição das reatâncias por conversores PWM emulando as reatâncias é possível, necessitando-se neste caso a obtenção das correntes de referência instantâneas a partir de Q
rs_C, Q
st_C, Q
tr_C;
• harmônicos são negligenciados no método acima. As reatâncias, de compensação podem, juntamente com a reatância do transformador, apresentar ressonância série, constituindo um caminho de baixa impedância para as correntes harmônicas produzidas por cargas localizadas nas vizinhanças (Kaiser et al., 1990);
• existe um período transitório até o equilíbrio das correntes que depende das perdas dos elementos reativos inseridos para a compensação. A baixa perda do
Compensação de desequilíbrios de carga empregando conversor operando em PWM – Rodrigo Cutri
compensador impõe longos transitórios durante a energização do componente, variações na carga e na tensão da rede;
Realizando-se a variação da carga resistiva numa faixa entre 50% e 120% da carga nominal e mantendo-se as reatâncias constantes com valor X
c= X
L= 3 . R , (R corresponde à carga nominal de 100%), verifica-se que a compensação não é total.
Nesta situação, o grau de desequilíbrio calculado pela eq.(2-1) será menor do que o de uma carga monofásica não compensada (X%=100%) como pode ser visto na Fig.2.2-3.
Variação do Grau de Desequilibrio x Variação da Carga Ativa para Reativos de Compensação cte
-10 0 10 20 30 40 50 60
0 20 40 60 80 100 120 140
% Carga Ativa
X(%)
Fig. 2.2-3 – Variação do grau de desequilíbrio com a variação da carga monofásica mantendo as reatâncias de compensação X
Le X
cconstantes
Compensação de desequilíbrios de carga empregando conversor operando em PWM – Rodrigo Cutri
2.3 Injeção de correntes via conversor operando em PWM
Uma outra solução para a compensação de desequilíbrios é feita através da injeção de correntes de seqüência negativa através de conversores autocomutados do tipo PWM (Lin et al., 1992), (Bhavaraju; Enjeti, 1993), (Verdelho; Marques, 1994), (Abellán et al., 1994), (Dixon et al., 1995), (Hochgraf; Lasseter, 1998), (Watanabe; Aredes, 1998), (C.C. Chen; Hsu, 2000), (Choi et al., 2000), (Senini; Wolfs, 2000), (Zhang;
Xu, 2001) e (Kim, 2002). O diagrama em blocos do sistema de compensação ativa utilizando um conversor comutado do tipo PWM é apresentado na Fig.2.3-1.
Ibalanceada (i
rc,i
sc,i
tc) Idesbalanceada (i
r,i
s,i
t)
Cálculo da Corrente de Referência
Carga Rede
Icompensação
(-i
r-,-i
s-,-i
t-) Conversor
Icomp_ref (i
ref_r-, i
ref_s-, i
ref_t-)
Compensador
Fig. 2.3-1 – Diagrama em blocos do compensador ativo de desequilíbrios As correntes da carga (i
r(t),i
s(t),i
t(t)) são medidas e um algoritmo efetua o cálculo das correntes de referência ( i ) a serem injetadas pelo conversor, de modo que as correntes resultantes na rede (i
) t ( i ), t ( i ), t
(
s tr− − −
) t ( i ), t ( i
s− t−rc
(t),i
sc(t),i
tc(t)) sejam balanceadas. As correntes injetadas ( i ) são controladas a fim de se garantir que sigam com a maior fidelidade possível os valores de referência calculados (i
), t
r−
(
ref_r-