KATIANA RODRIGUES DE SOUZA
USOS DA ÁGUA E AÇÕES ANTRÓPICAS EM
COCALZINHO DE GOIÁS E CORUMBÁ DE GOIÁS:
SUBSÍDIOS PARA A GESTÃO DO RIO CORUMBÁ.
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação “Stricto Sensu” em Planejamento e
Gestão Ambiental da Universidade Católica de
Brasília, como requisito para obtenção do
Título de Mestre em Planejamento e Gestão
Ambiental.
Orientador: PhD Antônio José Andrade Rocha
TERMO DE APROVAÇÃO
Dissertação defendida e aprovada como requisito parcial para obtenção do Título
de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental, defendida e aprovada, em 29 de setembro de
2006, pela banca examinadora constituída por:
__________________________________________________
Prof. PhD Antônio José Andrade Rocha
Orientador
__________________________________________________
Prof. PhD Ricardo Seixas Brites
__________________________________________________
Dra. Vera Maria da Costa Nascimento
Brasília
DEDICATÓRIA
Dedico esta dissertação aos meus pais,
pela preciosidade que são em minha vida,
por seu amor incondicional,
por lutarem comigo para realizar meu sonho e
por terem me ensinado as coisas
mais importantes de minha vida:
o amor, o trabalho e a esperança.
E ao Christian Luiz,
por todos os momentos
de amor, companheirismo,
paciência, lutas e vitórias.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelas Suas bênçãos e graças dispensadas em minha vida.
Ao Professor PhD Antonio José (O Amado Mestre), que com profissionalismo incomparável
vem me guiando nesses vários anos de orientação, amizade e dedicação, a quem tenho o
orgulho de intitular “Pai Intelectual”.
Aos meus pais, pelo apoio, incentivo, paciência e amor, sem os quais eu não seria quem sou, e
por me ajudarem a conquistar e construir esse sonho.
Ao meu noivo Christian Luiz, por tudo que tem sido e mudado em minha vida, por toda a
disposição, paciência e colaboração, imprescindíveis para a realização desta dissertação.
À minha irmã Denise, por todas as horas de ajuda, carinho, amor e amizade.
Ao meu irmão Hélder e minha cunhada Lara, pelas orações e apoio.
A Dani, por encher de flores minha vida nesses anos de amizade e carinho, pela grande
contribuição e preciosa ajuda nesta dissertação, nas visitas de campo, coletas de água,
aplicação dos questionários, etc e tal.
Aos meus familiares, por toda a torcida, especialmente às tias Lelen e Nenê, Tela e Douglas.
Ao primo Edervan, por sua generosidade e acolhida na Pousada Portal Pirenópolis. À Kitty e
ao Roberto pelo apoio.
À Dra. Vera Nascimento e ao Dr. Cleir Freire, pela amiga disposição e preciosa ajuda.
A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão Ambiental
da Universidade Católica de Brasília, especialmente aos Professores Dr. Ricardo Brites, PhD.
PhD. Sônia Wiedman, Paulo Ricardo e PhD. Sueli Faria, pelo grande apoio. Às secretárias do
Aos meus antigos e novos amigos e colegas de curso, em especial Terezinha, Marzi, Fernando
e Taty, por toda a ajuda, amizade e carinho.
Às comunidades dos municípios de Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás, representadas
por Valdomiro e Itamar, pelos gestores públicos, representantes de ONGs e dirigentes dos
estabelecimentos turísticos que me abriram suas portas, pelo apoio recebido e por novos
amigos conquistados.
À Secretaria de Educação do Distrito Federal, e aos colegas que me apoiaram neste trabalho.
À CAPES, pelo apoio técnico-financeiro concedido para o incentivo à pesquisa.
“A água é o sangue do nosso planeta: ela é fundamental para a bioquímica
de todos os organismos vivos. Os ecossistemas da terra são sustentados
e interligados pela água, que promove o crescimento da vegetação
e oferece um habitat permanente a muitas espécies.”
RESUMO
Com extensão de 576 km, inseridos em Goiás, o rio Corumbá, importante afluente do
Paranaíba, integra a bacia do rio Paraná. Esta pesquisa objetivou identificaros usos da água e
as ações antrópicas que impactam o rio Corumbá, nos municípios de Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás, a fim de propor ações para a gestão dos recursos hídricos. A opção metodológica adotada nesta dissertação foi a pesquisa qualitativa. A metodologia incluiu as pesquisas descritiva, documental, bibliográfica, pesquisa-ação e visitas a campo, que foram desenvolvidas em duas partes; a primeira utilizou-se de contatos informais com a comunidade, a segunda baseou-se em questionários, entrevistas, coleta de água para caracterização limnológica. Os resultados demonstraram não existirem grandes conflitos devido aos usos da água e à ocupação do solo; entretanto, constatou-se que há comprometimento da qualidade e quantidade de água na região de estudo, baseando-se na caracterização limnológica; nas não conformidades ambientais observadas; na falta de mobilização social bem como na falta de conscientização tanto de banhistas e empreendedores, quanto do governo e sociedade civil. Embora a legislação federal e estadual, vigente não seja convenientemente aplicada, os municípios não dispõem de instrumentos legais apropriados. Uma iniciativa benéfica é a movimentação em torno da criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Corumbá, porém esta é uma iniciativa apenas dos gestores públicos e não envolve a comunidade.
ABSTRACT
The length of the Corumbá River – located in Goiás, Central Plateau of Brazil – is 576 km. This river is an important affluent of the Paranaíba River and is part of the Paraná River Basin. The objective of the present study was to identify water uses and antropic effects and their impact on the Corumbá River – in the municipalities of Cocalzinho de Goiás and Corumbá de Goiás – to propose actions to manage the water resources. The methodological approach chosen was the qualitative research. It included descriptive research, documental and bibliographical researches, as well as action research and field research, developed in two parts. The first part was based on informal contact with the local communities. The second part was based on interviews, questionnaires and the collection of water samples for limnological analysis. The results demonstrated that there is no significant conflicts between water use and land occupation. However, the obtained data based on the limnological analysis showed that the quality and quantity of water in the study area are at risk. It was made clear by some other aspects taken into consideration such as the non-conforming environmental use and the lack of social environmental consciousness – not only regarding the visitors, but also the entrepreneurs in the region, the government and the society as a whole. Although there are federal and state laws in order to avoid damages to the environment, the municipalities do not have the legal instruments to apply them. For this purpose, a good initiative is the intention to create the High Corumba River Basin Committee, even considering that it is up to the public managers and not to the community.
Key words: Corumbá River – Goiás, Water Use, Antropic Effects, Water Resources Management, Environmental Education
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Pousada na margem do Rio Corumbá...5
Figura 2: “Prainha” em Corumbá de Goiás...5
Figura 3: Leito do rio Corumbá...5
Figura 4: “Lixão” em Corumbá de Goiás...5
Figura 5: Estado de Goiás no Brasil e na Região Centro-Oeste...18
Figura 6: Municípios da Região de Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás...18
Figura 7: Campo sujo (a) e (b)...20
Figura 8: Cerrado Sensu Stricto (a) e (b)...21
Figura 9: Mata Ciliar ou de Galeria...21
Figura 10: Buritizal...21
Figura 11: Palmeiral (a) e (b)...21
Figura 12: Precipitação anual total dos últimos dez anos na bacia do rio Corumbá...26
Figura 13: Vista parcial do ponto 1, próximo à nascente do rio Corumbá (a) e (b)...42
Figura 14: Vista parcial do ponto 2, encontro do rio Corumbá com a BR 070...43
Figura 15: Início de processo erosivo às margens do rio Corumbá... 43
Figura 16: Uso do rio Corumbá para lazer e lavagem de carro...43
Figura 17: Vista parcial da passagem de carros no rio Corumbá...43
Figura 18: Vista parcial do ponto 3, ponte na divisa dos municípios estudados (a) e (b)...44
Figura 19: Vista parcial do ponto 4, Pousada Sonho Verde (a) e (b)...45
Figura 20: Vista parcial do ponto 5, Camping Monjolinho...46
Figura 21: Vista parcial de pequena voçoroca (a) e (b)...46
Figura 22: Vista parcial do ponto 6, Foz do córrego Bagagem no rio Corumbá...47
Figura 23: Lavagem de carro no ponto 6...47
Figura 24: Presença de animais domésticos, ponto 6...47
Figura 25: Vista parcial do ponto 7, jusante da cidade de Corumbá de Goiás (a) e (b)...48
Figura 26: Sinais de inundações das margens do rio Corumbá no ponto 7 (a) e (b)...48
Figura 27: Coleta de bentos com draga...50
Figura 28: Procedimento de triagem de bentos...50
Figura 29: Posto de atendimento a população da SAEAGO...53
Figura 31: Vista parcial de alguns pontos no município de
Cocalzinho de Goiás...59
Figura 32: Vista parcial do Hotel Fazenda Tabapuã dos Pireneus...60
Figura 33: Vista parcial da Estação de Tratamento de Água do SAAE em Corumbá de Goiás...62
Figura 34: Vista parcial dos efluentes líquidos sendo despejados no córrego Bagagem, afluente do rio Corumbá (a) e (b)...64
Figura 35: Cavalhadas em Corumbá de Goiás...66
Figura 36: Centro histórico de Corumbá de Goiás (a) e (b)...67
Figura 37: Vista parcial do Salto Corumbá...67
Figura 38: Vista parcial da “Prainha” em Corumbá de Goiás...67
Figura 39: Vista parcial de alguns estabelecimentos turísticos de Corumbá de Goiás...69
Figura 40: Mapa de uso da terra e remanescentes de vegetação...87
Figura 41: Principais usos da terra e cobertura do solo em Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás ...92
Figura 42: Região agrícola com silos ao fundo, na extensão da Rodovia Brasília-Corumbá de Goiás...95
Figura 43: Vista parcial de área de extração mineral em Cocalzinho de Goiás (a) e (b)...95
Figura 44: Vista parcial do “lixão” de Cocalzinho de Goiás (a) e (b)...97
Figura 45: Rede coletora de chorume do “lixão” de Cocalzinho de Goiás...97
Figura 46: Vista parcial de extração de areia em Corumbá de Goiás...99
Figura 47: Vista geral da cidade de Corumbá de Goiás...100
Figura 48: Vista parcial do “lixão” de Corumbá de Goiás (a) e (b)...101
Figura 49: Vista parcial dos resíduos dos caminhões limpa-fossa na área do “lixão” de Corumbá de Goiás...103
Figura 50: Faixa etária dos entrevistados...118
Figura 51: Grau de escolaridade dos inquiridos...119
Figura 52: Origem dos freqüentadores do rio Corumbá...119
Figura 53: Freqüência de visitação dos banhistas do rio Corumbá...120
Figura 54: Conhecimento sobre o conceito de bacia hidrográfica...122
Figura 55: Significado do rio Corumbá...123
Figura 56: Existência de problemas ambientais no rio Corumbá...124
Figura 57: Principais problemas da bacia do rio Corumbá...125
Figura 59: Sugestões para resolver os problemas ambientais da bacia do rio
Corumbá...127
Figura 60: Conhecimento de ações visando à preservação ambiental na área de estudo...128
Figura 61: Conhecimento de quem realiza ações visando à preservação ambiental na área de estudo...129
Figura 62: Faixa etária dos entrevistados...131
Figura 63: Escolaridade dos dirigentes dos estabelecimentos de turismo pesquisados...132
Figura 64: Tempo de existência dos estabelecimentos de turismo que utilizam o rio Corumbá...133
Figura 65: Área dos estabelecimentos pesquisados...133
Figura 66: Quantidade de freqüentadores que visitam os estabelecimentos estudados de segunda-feira a sexta-feira...134
Figura 67: Número de visitantes recebidos nos fins-de-semana nas empresas pesquisadas...135
Figura 68: Número de visitantes que são recebidos nos feriados prolongados nos estabelecimentos pesquisados ...136
Figura 69: Quantidade de visitantes recebidos no período de férias escolares nos estabelecimentos de turismo...137
Figura 70: Origem da água usada para consumo humano nos estabelecimentos pesquisados...138
Figura 71: Origem da água utilizada em dependências das empresas estudadas...138
Figura 72: Origem da água usada para recreação e ornamentação nos estabelecimentos pesquisados...139
Figura 73: Estabelecimentos pesquisados que geram lixo orgânico...140
Figura 74: Estabelecimentos que reciclam lixo orgânico. ...141
Figura 75: Estabelecimentos que reciclam plástico...141
Figura 76: Estabelecimentos que reciclam vidro...142
Figura 77: Destino final do esgoto nos estabelecimentos pesquisados...143
Figura 78: Degradação ambiental por parte dos visitantes dos estabelecimentos turísticos...144
Figura 80: Sugestões dos dirigentes para melhorar a conscientização
ambiental dos visitantes...146
Figura 81: Ações realizadas nos estabelecimentos que contribuem para a preservação do rio Corumbá...147
Figura 82: Conhecimento do conceito de bacia hidrográfica...148
Figura 83: Significado do rio Corumbá para os dirigentes de estabelecimentos turísticos...149
Figura 84: Significado do rio Corumbá para os estabelecimentos turísticos...149
Figura 85: Principais problemas apontados pelos dirigentes de estabelecimentos turísticos na bacia do rio Corumbá...150
Figura 86: Aumento dos problemas ambientais da bacia hidrográfica estudada...151
Figura 87: Sugestões para resolver os problemas ambientais da bacia do rio Corumbá...152
Figura 88: Conhecimento de ações visando à preservação ambiental na área de estudo...153
Figura 89: Conhecimento de quem realiza ações visando à preservação ambiental na área de estudo...153
Figura 90: Alguns problemas ambientais enfrentados na área de estudo...176
Figura 91: Participantes da primeira reunião do CBHAC em Cocalzinho de Goiás...180
Figura 92: Participantes da terceira reunião do CBHAC em Corumbá de Goiás...181
Figura 93: Participantes da quarta reunião do CBHAC em Abadiânia...182
Figura 94: Participantes da quinta reunião do CBHAC em Alexânia...183
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDH - M
de Cocalzinho de Goiás - 1.991 e 2.000...30
Quadro 2 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDH - M de Corumbá de Goiás - 1.991 e 2.000...31
Quadro 3: Ordens e famílias coletadas de macroinvertebrados bentônicos...81
Quadro 4: Textos Legais Federais Vigentes Que Não Têm Sido Observados...115
Quadro 5: Textos Legais Estaduais Vigentes Que Não Têm Sido Observados...116
Quadro 6: Entrevista dirigida realizada com representantes do governo municipal de Cocalzinho de Goiás...159
Quadro 7: Entrevista dirigida realizada com representantes do governo municipal de Corumbá de Goiás...165
Quadro 8: Entrevista dirigida realizada com representantes das Organizações Não Governamentais que atuam na área de estudo...172
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Resultados da Coleta Realizada em 05/09/2005 – Parâmetros
Físicos e Químicos...75
Tabela 2: Resultados da Coleta Realizada em 05/09/2005 - Parâmetros Bacteriológicos...80
Tabela 3: Quantidade de indivíduos por ponto de coleta...82
Tabela 4: Uso da Terra e os remanescentes da vegetação em Cocalzinho de
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AGETOP – Agência Goiana de Transportes e Obras
AGMA – Agência Ambiental de Goiás
AHE – Aproveitamento Hidroelétrico
ANA – Agencia Nacional de Águas
APA – Área de Proteção Ambiental
APHA – American Public Health Association
APP – Área de Proteção Permanente
AWWA – America Water Works Association
°C – Grau Celsius
CAESB – Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
CAT – Centro de Atendimento ao Turista
CBHAC – Comitê de Bacia Hidrográfica do Alto Corumbá
CEB – Companhia Energética de Brasília
COMDEMA – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente
CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente
CONDEMA – Conselho de Meio Ambiente
Coordenada geográficas – S – Sul e W – Oeste
CTE – Centro Tecnológico de Engenharia Ltda
DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio
DF – Distrito Federal
DQO – Demanda Química de Oxigênio
ETA – Estação de Tratamento de Água
FDB – Faixa de Dobramento Brasília
FMMA – Fundo Municipal de Meio Ambiente
GA – Gestão Ambiental
GO – Goiás
ha – hectares
hab/ km2 – habitante por quilometro quadrado
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IDH-M – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
km – quilometro
m – metro
mg/l – miligrama por litro
mg/l O2 - miligrama por litro de Oxigênio
mg/l P – miligrama por litro de Fósforo
MMA – Ministério do Meio Ambiente
MP – Medida Provisória
µS/cm – Micro Siemens por centímetro
n° – número
NMP/ 100 ml – Número Máximo Permitido por cem militros
NTU – Unidade Nefelométrica de Turbidez
OD – Oxigênio Dissolvido
ONGs – Organizações Não Governamentais
OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
pH – Potencial Hidrogeniônico
Pt-Co – Unidade de Platina - Cobalto
RIDE – Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno
RPPN – Reserva Particular de Meio Ambiente
SANEAGO – Saneamento de Goiás S/A
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SEPLAN – Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento. Superintendência de Estatística,
Pesquisa e Informação
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação
TDS – Sólidos Dissolvidos Totais (total dissolved solids)
UC – Unidade de Conservação
UCB – Universidade Católica de Brasília
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
VMP – Valor Máximo Permitido
WWF – World Wildlife Fund
SUMÁRIO
RESUMO ...VII ABSTRACT ... VIII LISTA DE FIGURAS ... IX LISTA DE QUADROS ... XIII LISTA DE TABELAS... XIV LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ...XV
1 - INTRODUÇÃO ...1
1.1-CONTEXTUALIZAÇÃO...1
1.2-JUSTIFICATIVA...7
2 - OBJETIVOS...9
2.1-OBJETIVO GERAL...9
2.2-OBJETIVOS ESPECÍFICOS...9
3 - BASES CONCEITUAIS ...10
4 - ÁREA DE ESTUDO ...18
4.1-PEDOLOGIA,GEOMORFOLOGIA E GEOLOGIA...19
4.2-FLORA...20
4.3-FAUNA...23
4.4-CLIMA...25
4.5-HIDROGRAFIA...27
4.6-SÓCIO -ECONOMIA...29
4.6.1 - Cocalzinho de Goiás...29
4.6.2 - Corumbá de Goiás...30
5 - METODOLOGIA ...32
5.1-A NATUREZA DA PESQUISA NA PRESENTE DISSERTAÇÃO...32
5.1.1 - Elementos de constituição da presente pesquisa...34
5.2-EXECUÇÃO...37
6 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ...51
6.1-USOS DA ÁGUA...52
6.1.1 - Cocalzinho de Goiás...52
6.1.2 - Corumbá de Goiás...62
6.2-CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CONFLITOS DEVIDO AOS USOS DA ÁGUA NA ÁREA DE ESTUDO...71
6.3-CARACTERIZAÇÃO LIMNOLÓGICA DO RIO CORUMBÁ...74
6.3.1 - Parâmetros Físicos e Químicos...75
6.3.2 - Parâmetros Biológicos...80
6.4-PRINCIPAIS AÇÕES ANTRÓPICAS...86
6.4.1 - Uso da Terra e Remanescentes de Vegetação em Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás...86
6.4.2 - Cocalzinho de Goiás...94
6.4.3 - Corumbá de Goiás...99
6.5-LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS PERTINENTES À ÁREA DE ESTUDO...104
6.5.1 - Legislação e Políticas Públicas Ambientais Comuns à Área de Estudo...104
6.5.2 - Legislação e Políticas Públicas de Cocalzinho de Goiás...108
6.5.3 - Legislação e Políticas Públicas de Corumbá de Goiás...111
6.5.4 - Descumprimento dos Textos Legais Federais e Estaduais Vigentes...115
6.6-AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS DA ÁGUA DO RIO CORUMBÁ...117
6.6.1 - Percepção dos Banhistas do rio Corumbá...118
6.6.2 - Percepção dos Dirigentes de Estabelecimentos Turísticos que Utilizam o rio Corumbá...131
6.6.3 - Percepção dos Gestores Públicos e de Organizações Não Governamentais...155
6.7-PROCESSO DE CRIAÇÃO DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO CORUMBÁ...178
8 - RECOMENDAÇÕES PARA A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS ...191 9 - REFÊRNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...195 APÊNDICES...205 APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO PARA SANEAGO – SANEAMENTO DE GOIÁS S/A –
1 - INTRODUÇÃO
1.1 - Contextualização
A água, símbolo comum da humanidade, respeitada e valorizada em todas as
religiões e culturas, tornou-se símbolo da equidade social, pois a crise da água é, sobretudo,
de distribuição, conhecimento e recursos, e não de escassez absoluta. Assim, analisando-se o
modo como os seres humanos têm manejado a água existente no planeta Terra, pode-se
afirmar ser isso um fator determinante para a continuidade de muitas espécies, inclusive a
humana.
A qualidade da água depende das condições geológicas e de cobertura vegetal da
bacia, do comportamento dos ecossistemas terrestres e de águas doces e das ações antrópicas.
Das atitudes que mais podem influenciar a qualidade dos recursos hídricos, pode-se destacar:
o lançamento de cargas nos sistemas aquáticos, alteração da ocupação e da qualidade do solo
rural e urbano, modificações no sistema fluvial (Tucci et al, 2003).
Na maior parte do nosso planeta é comum observar desperdícios de água, mudança
nos cursos dos rios, bombeamentos de quantidades insustentáveis dos aqüíferos, despejo de
quantidades extraordinárias de efluentes domésticos, industriais e agrícolas nos corpos
d’água. Na medida que essa conduta maléfica se torna cada vez mais explícita, principalmente
na segunda metade do século XX, técnicos, especialistas e formuladores de políticas públicas
vêm discutindo esse assunto por reconhecerem a necessidade de encontrar soluções.
A partir dessa necessidade, o Brasil criou a Lei das Águas – Lei nº 9.433 de 08 de
janeiro de 1997 (Brasil, 1997). Ela define que o Sistema Nacional de Informações sobre
Recursos Hídricos, é um aspecto relevante, instrumento essencial à boa gestão do uso da água,
estando encarregado de coletar, organizar, criticar e difundir a base de dados relativos aos
gestores, a sociedade civil, e outros usuários com as condições necessárias para opinar no
processo decisório, ou mesmo para tomar decisões.
Dentre os instrumentos previstos destacam-se os Planos de Recursos Hídricos,
como documentos que consolidam o processo de planejamento prévio da utilização,
preservação e recuperação dos sistemas aquáticos; a outorga de direitos de uso, como meio de
assegurar e controlar os direitos de utilização desses recursos; e a cobrança pelo uso da água,
como meio de reconhecer seu valor econômico e incentivar a racionalização desta {(Muñoz,
2000), (Tucci et al, 2003); (Brasil, 1997)}.
O sistema criado se sobrepõe, mas não se opõe, à estrutura administrativa
existente. A Lei busca assegurar a viabilidade ao Sistema, financeira e administrativamente. A
primeira visa destinar os recursos arrecadados com a cobrança pelo uso da água ao custeio dos
organismos que integram o Sistema e à continuação dos financiamentos das intervenções
identificadas pelo processo de planejamento. Já a viabilidade administrativa é buscada através
da criação de organismos de apoio técnico, financeiro e administrativo aos colegiados do
Sistema – as Agências de Água e a Secretaria Executiva {(Tucci et al, 2003); (Brasil, 1997)}.
Segundo um dos princípios da mesma Lei, a bacia hidrográfica passa a ser
considerada como uma unidade de planejamento devendo sua gestão ser descentralizada. Por
isso, já se considera a bacia como um gerador de conflitos em potencial e daí a importância de
sua gestão ser feita de maneira integrada e participativa, não só entre os níveis federal e
estadual, mas também, em nível local {(Campos, 2001 c); (Formiga – Johnsson & Lopes,
2003); (Muñoz, 2002); (Rodriguez, 1998)}.
De acordo com a divisão adotada pela Secretaria de Recursos Hídricos do
Ministério do Meio Ambiente, são oito as grandes bacias hidrográficas no País: a do rio
Francisco, as do Atlântico Sul, trecho Leste, a do rio Paraná, a do rio Paraguai, e as do
Atlântico Sul, trecho Sudeste (Tucci et al, 2000).
Já segundo a Resolução nº 32 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos –
CNHR, de 15 de outubro de 2003, atualmente são doze regiões hidrográficas existentes no
território brasileiro: Amazônica, Tocantis/Araguaia, Atlântico Nordeste Ocidental, do
Parnaíba, Atlântico Nordeste Oriental, do São Francisco, Atlântico leste, Atlântico Sudeste,
do Paraná, do Uruguai, Atlântico Sul e do Paraguai
(http://www.cnrh-srh.gov.br/delibera/resolucoes/R032.htm em 10/ 09/ 05).
A bacia do Paraná, situada na parte central do planalto meridional brasileiro é
essencialmente planáltica sendo formada pela fusão dos rios Grande e Paranaíba. Nesta bacia
encontra-se a maior população e a maior produção econômica do país. Da mesma forma,
também na mesma existem as maiores pressões sobre o meio ambiente (Tucci et al, 2000).
O Estado de Goiás tem suas terras drenadas por quatro bacias hidrográficas que
levam suas águas para as Regiões Hidrográficas do Tocantins, do São Francisco e do Paraná,
conforme a Agencia Ambiental deste mesmo Estado
(http://www.agenciaambiental.go.gov.br/...3_3_1ambi.php em 14/ 02/ 2005).
A bacia hidrográfica do rio Paranaíba, além da sua importância territorial,
destaca-se também pela localização das principais cidades do Estado como Goiânia, Anápolis, Rio
Verde, Jataí, Itumbiara e Santa Helena de Goiás. A alta concentração populacional nesta bacia
tem resultado no agravamento de vários problemas ambientais, desde o uso e ocupação do
solo nas áreas rurais até as ocupações desordenadas no entorno das maiores cidades
(http://www.agenciaambiental.go.gov.br/..._3_3_1ambi.php em 14/ 02/ 2005).
Segundo o site citado, em conseqüência da intensidade das atividades rurais, várias
ausência de cobertura vegetal ciliar, problemas de escassez de água, erosões e perdas de solo
agricultáveis (http://www.agenciaambiental.go.gov.br/...._3_3_1ambi.php em 14/ 02/ 2005).
Conforme as informações pesquisadas no site da Agência Ambiental do Estado de
Goiás (op. cit.), os principais rios goianos contribuintes do Paranaíba pela margem esquerda
se destacam pelo potencial hidrelétrico. É o caso dos rios Verde, dos Bois, Meia Ponte,
Corumbá, São Marcos, Aporé e Claro. O rio Corumbá, objeto de estudo do presente trabalho,
tem suas nascentes localizadas na Serra dos Pirineus, na cota de 1.200 m, e deságua na cota
477 m, depois de percorrer 576 quilômetros. Entre seus agentes, destacam-se os rios
Descoberto e São Bartolomeu, cujas nascentes estão próximas do Distrito Federal {(CTE,
1999); (http://www.agenciaambiental.go.gov.br/.... _3_1ambi.php em 14/ 02/ 2005)}.
Um grande número de conflitos de usos na bacia do Corumbá está na região do
Alto Corumbá, devido a um adensamento populacional que chega a aproximadamente
3.000.000 de pessoas, nos últimos 50 anos. Esta é composta pelo Distrito Federal, bem como
por parte dos territórios dos seguintes municípios goianos: Abadiânia, Águas Lindas de Goiás,
Alexânia, Anápolis, Cocalzinho de Goiás, Corumbá de Goiás, Luziânia, Santo Antônio do
Descoberto e Silvânia (CEB/UCB, 2003). O foco deste trabalho é o Alto Corumbá,
especificamente os municípios de Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás.
Os conflitos na área de estudo são advindos, principalmente, de duas grandes
causas: os usos múltiplos da água e a ação antrópica. No primeiro caso pode-se destacar o
abastecimento de água, a geração de energia elétrica, a irrigação e o pólo turístico e cultural
(Figuras 1, 2 e 3) existente nesta área da bacia do Corumbá. Por ser um local densamente
povoado, a ação antrópica tem levado a um enorme registro de problemas em relação ao uso e
ocupação irregulares do solo, particularmente no que diz respeito à questão fundiária do
efluentes domésticos e agrícolas, o assoreamento bem como a eutrofização de corpos hídricos
na região.
Figura 1: Pousada na margem do Rio Corumbá. Figura 2: “Prainha” em Corumbá de Goiás. Fonte: Pousada Paraíso dos Sonhos. Fonte: Pesquisa de campo.
Figura 3: Leito do rio Corumbá. Figura 4: “Lixão” em Corumbá de Goiás. Fonte: Pesquisa de campo. Fonte: Pesquisa de campo.
Dessa forma a qualidade da água nas sub-bacias do rio Corumbá, particularmente
do Alto Corumbá, é alterada significativamente e a busca de água potável em locais cada vez
mais distantes começa a ser uma das soluções. Assim, a construção da hidrelétrica de
Corumbá IV objetiva solucionar o problema de abastecimento de água, principalmente para o
Diante do crescimento populacional e da demanda por recursos naturais que se
intensificam dia-a-dia, torna-se imperioso preservar esses recursos, tarefa essa que compete
não só ao poder público, mas também, subsidiariamente à sociedade organizada, através dos
grupos de estudos, das universidades, entre outros setores da comunidade. Portanto, a
pergunta problema da presente investigação é: "Os usos da água e as ações antrópicas na
região de Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás estão interferindo na qualidade dos
recursos naturais, principalmente na água, e gerando conflitos sócio-ambientais?".
Considerando o exposto, a presente dissertação tem como objetivo geral identificar
os usos da água e as ações antrópicas que impactam o rio Corumbá, nos municípios de
Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás, a fim de propor ações com vistas à gestão dos
recursos hídricos na área de estudo.
Neste contexto, os resultados foram organizados de forma a fazer uma seqüência
lógica. Primeiramente, é mostrado como a água está sendo usada e quais os conflitos devido
ao seu uso nos municípios de Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás; em seguida é
apresentada a caracterização limnológica, que avalia a qualidade das águas do rio Corumbá na
área de estudo. Considerando-se a necessidade da gestão dos recursos hídricos, outros dois
resultados do presente trabalho são: a identificação das principais ações antrópicas da região
pesquisada que afetam a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos, direta ou
indiretamente; bem como, a abordagem das políticas públicas e legislação ambiental
pertinentes ao local estudado. Ainda, é analisada a percepção dos usuários dessas águas em
relação à natureza, aos problemas enfrentados na região, bem como os compromissos dos
mesmos e suas expectativas. Por fim, é descrito como está acontecendo o processo de criação
1.2 - Justificativa
O rio Corumbá possui uma extensão 576 km, inseridos no Estado de Goiás,
integrando a bacia hidrográfica do rio Paraná, sendo um dos principais tributários do rio
Paranaíba. Sua importância está principalmente ligada ao abastecimento de água, à irrigação,
à geração de energia, ao turismo e às manifestações culturais da região.
Uma importante justificativa para a realização do presente estudo é o fato de que a
bacia do rio Corumbá é de grande interesse para o Estado de Goiás devido ao contexto sócio –
econômico, pois nela, além do turismo e do abastecimento de água para a região, há o
potencial hidrelétrico para a geração de energia, o que é de grande relevância para a região.
Já existem dois aproveitamentos hidrelétricos (AHE) em operação no curso do rio Corumbá: e
AHE Corumbá I, no município de Caldas Novas e o AHE Corumbá IV, no município de
Luziânia. Além desses estão em estudo para o licenciamento e construção do AHE Corumbá
II e o AHE Corumbá III. Também nesta bacia existe uma grande atividade agropecuária, com
destaque para o plantio de soja, que demanda a água intensamente para as suas atividades,
principalmente para as culturas anuais.
A bacia do rio Corumbá tem considerável importância para o abastecimento, não
somente no Estado em que está inserido como também para o Distrito Federal, onde é
responsável por mais de 70% do abastecimento, em 2006. Este percentual aumentará ainda
mais com o uso da água do AHE Corumbá IV.
A região de estudo apresenta áreas com remanescentes da vegetação natural, onde
são desenvolvidas diversas atividades turísticas. Inclui os municípios de Pirenópolis,
Corumbá de Goiás e Cocalzinho, com suas cachoeiras, correntezas e áreas de lazer, além de
atividades culturais (como as cavalhadas de Pirenópolis) e da arquitetura própria da época da
A construção de reservatórios para abastecimento de água e produção de energia
elétrica, a irrigação que trouxe braços para as atividades agrícolas e agropecuárias, bem como
o consumo humano nas grandes cidades são exemplos de atividades antrópicas que podem
comprometer a qualidade das águas. Assim, a presente pesquisa propõe estudar os diversos
usos da água da bacia do rio Corumbá, em suas nascentes (localizadas na área de estudo), e
seus impactos nestas águas.
A crescente demanda de água justifica, por si só, a presente dissertação, não só por
ser um recurso finito, vulnerável e imprescindível à vida, mas também para se evitar conflitos
na sua utilização, devido à sua escassez, o que vem ocorrendo de forma cada vez mais
amiúde, chegando, em escala mundial, a envolver nações inteiras. Nunca é demais lembrar, e
lastimar, que mais de 60 países do Oriente passam por conflitos causados pela escassez de
água. Além disso, este trabalho trará importantes informações para a comunidade científica, já
2 - OBJETIVOS
2.1 - Objetivo Geral
Identificar os usos da água e as ações antrópicas que impactam o rio Corumbá, nos
municípios de Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás, a fim de propor ações com vistas à
gestão dos recursos hídricos na área de estudo.
2.2 - Objetivos Específicos
• Identificar os usos da água e seus conflitos no rio Corumbá, nos municípios de
Cocalzinho e Corumbá de Goiás.
• Identificar, nas áreas urbana e rural da região pesquisada, as principais ações
antrópicas que afetam a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos.
• Caracterizar limnologicamente amostras de água do rio Corumbá na área de
estudo.
• Identificar a legislação ambiental e as políticas públicas pertinentes à região.
• Avaliar a percepção dos diversos usuários da água do rio Corumbá na área de
estudo, quanto ao significado da bacia para eles.
• Acompanhar o processo de criação do Comitê de Bacia Hidrográfica do Alto
Corumbá.
3- BASES CONCEITUAIS
A Gestão Ambiental (G.A.) é o processo contínuo de articulação dos diversos
agentes sociais que interagem num determinado espaço, a fim de garantir com que os meios
de exploração dos recursos ambientais – naturais, econômicos e sócio-culturais – sejam feitos
de forma apropriada às especificidades do meio ambiente, tendo por base princípios e
diretrizes definidos (Lanna, 2000).
Isto torna a G. A. uma atividade voltada à formulação de princípios e diretrizes, à
estruturação de sistemas gerenciais e à tomada de decisões que têm por objetivo final
promover, de forma coordenada, o inventário, o uso, o controle, a proteção e a conservação do
ambiente visando ao objetivo estratégico do desenvolvimento sustentável (Lanna, 2000).
Gerir os recursos hídricos significa não apenas tomar decisões sobre a melhor
forma de proceder à sua conservação e à sua alocação a diferentes usos, mas também sobre a
melhor forma de assegurar a aplicação dessas decisões, condicionando e alterando
comportamentos (Correia, 2005).
Segundo Grigg, 1996 apud Campos, 2001 a, o gerenciamento dos recursos
hídricos consiste na aplicação de medidas estruturais e não-estruturais para controlar sistemas
hídricos, naturais e artificiais, em benefício humano e atendendo a objetivos ambientais. As
ações estruturais são aquelas que requerem a construção de estruturas, para que se obtenham
controles no escoamento e na qualidade das águas, como, por exemplo, a construção de
barragens e adutoras, bem como de estações de tratamento de água, dentre outras. As ações
não-estruturais são programas ou atividades que não requerem a construção de estruturas,
como zoneamento de ocupação de solos, regulamentos contra desperdício de água, etc.
A gestão das águas pode ser definida como um conjunto de procedimentos
recursos hídricos. O objetivo da gestão é atender, dentro das limitações econômicas e
ambientais, bem como respeitando os princípios de justiça social, à demanda de água pela
sociedade a partir de uma disponibilidade limitada (Campos, 2001 b).
Ainda segundo Campos, 2001 b, a gestão é formada por três sub-funções: o
planejamento, a administração e a regulamentação.
O planejamento é constituído pelo conjunto das atividades necessárias à previsão
das disponibilidades e das demandas de águas, com vistas a maximizar os benefícios
econômicos e sociais. Como exemplo cita-se inventário dos recursos hídricos, estudo da
qualidade das águas, estimativa das demandas, estudos prospectivos do balanço x demanda, e
da avaliação bem como do controle do próprio planejamento.
Já a administração constitui-se das ações que dão suporte técnico ao
planejamento e dos mecanismos de avaliação da efetividade dos planos anteriores, tendo em
mente uma realimentação dos futuros planos. A administração engloba a coleta e a divulgação
de dados hidrometeorológicos, as estatísticas do uso da água, o poder de política
administrativa e a programação executiva e econômico-financeira das obras previstas nos
planos.
A regulamentação é formada pelas ações desenvolvidas na formação de um
suporte legal para o desempenho da gestão das águas, a partir do disciplinamento e
normatização do funcionamento do Sistema Estadual de Recursos Hídricos. A
regulamentação se consolida por meio de sugestões de leis, decretos, portarias, instruções e
regulamentos.
De acordo com Lanna, 1995, Gerenciamento de Bacia Hidrográfica é o
instrumento que orienta o poder público e a sociedade, no longo prazo, na utilização e
monitoramento dos recursos ambientais - naturais, econômicos e socioculturais -, na área de
A Nova Lei das Águas no Brasil (9.433/97) promoveu, em realidade, uma
importante descentralização da gestão: da sede do Poder Público para a esfera local da bacia
hidrográfica. A Lei permite efetivar, também, uma parceria do Poder Público com usuários da
água e com a sociedade civil organizada. O Poder Público abriu mão de parcela de poderes
que, por sua natureza, podem ser delegados, o poder decisório passa a ser compartilhado nos
Comitês de Bacias Hidrográficas1 e nos Conselhos Nacional ou Estaduais de Recursos
Hídricos (Tucci et al, 2000).
Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), 2006, os Comitês de Bacias
Hidrográficas são a base do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos -
nesses fóruns são debatidas as questões relacionadas à gestão dos recursos hídricos. Os
Comitês são constituídos por representantes do Poder Público, dos usuários das águas e das
organizações da sociedade com ações na área de recursos hídricos em uma determinada bacia
(http://www.ana.gov.br...default2.asp em 16/05/2006).
Os Comitês de Bacia Hidrográfica têm como objetivo a gestão participativa e
descentralizada dos recursos hídricos em um território, por meio da implementação dos
instrumentos técnicos de gestão, da negociação de conflitos e da promoção dos usos múltiplos
da água. Os Comitês devem respeitar a dominialidade das águas, integrar as ações de todos os
Governos, seja no âmbito dos Municípios, dos Estados ou da União, propiciar o respeito aos
diversos ecossistemas naturais, promover a conservação e recuperação dos corpos d'água e
garantir a utilização racional e sustentável dos recursos hídricos.
Ainda de acordo com o site da ANA (op. cit.), dentre as principais competências
de um comitê de bacia hidrográfica destacam-se:
• Arbitrar os conflitos relacionados aos recursos hídricos naquela bacia
hidrográfica;
1
• Aprovar os Planos de Recursos Hídricos;
• Acompanhar a execução do Plano e sugerir as providências necessárias
para o cumprimento de suas metas;
• Estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e
sugerir os valores a serem cobrados;
• Definir os investimentos a serem implementados com a aplicação dos
recursos da cobrança.
Neste contexto, os Comitês de Bacias Hidrográficas são de grande importância no
que diz respeito à participação de usuários e mobilização comunitária. Isso se deve ao fato de
o envolvimento dos usuários ser, segundo Rodriguez, 1998, um meio de melhorar a
participação e a eficácia do gerenciamento dos recursos hídricos. Mourão, 2006, propõe que:
“O enraizamento físico e biológico do sujeito humano é uma referência necessária na construção da idéia de pertencimento do sujeito vivo às suas pré -condições de vida.
Todas as culturas humanas têm produzido explicações a respeito da nossa condição de filhos do universo, quer seja na linguagem mítica, ou na linguagem científica da sociedade atual. E isso acontece porque precisamos destas respostas para construir a plenitude de nossa identidade humana e do nosso morar no mundo.
A visão do pensamento complexo, no quadro inter e transdisciplinar2 da ciência contemporânea (Edgar Morin, Humberto Maturana, Henri Atlan, entre outros), por exemplo, propõe ao pensamento científico uma habilidade de lidar com os aparentes paradoxos, reconsiderado a dicotomia entre autonomia e dependência entre os seres vivos nos ecossistemas, e, portanto, entre o humano e o meio onde ele existe.
Nessa visão, os indivíduos-sujeitos se incluem em relações de pertencimento sem perder sua identidade particular, realizando simultaneamente a distinção individual e o pertencimento societário, a inclusão identitária e a exclusão egocêntrica.
O que temos chamado de consciência ecológica seria o resgate dessa condição de pertencimento na práxis humana, recolocando a produção do conhecimento no anel recorrente3 que liga sociedade e natureza.”
A priori esse conceito de pertencimento pode nos remeter a, pelo menos, duas
possibilidades: uma vinculada ao sentimento por um espaço territorial, ligado, portanto, a uma
realidade política, étnica, social e econômica; outra compreendida a partir do sentimento de
2
Enquanto a interdisciplinaridade é uma atitude que busca a construção de objetos e metodologias comuns entre grupos de disciplinas científicas, a transdisciplinaridade é uma atitude que busca inserir e compreender o pensamento científico no contexto das visões de mundo vigentes na sociedade atual.
3
inserção do sujeito que se percebe integrado a um todo maior, numa dimensão não apenas
concreta, mas também abstrata e subjetiva, Lestinge, 2004.
A importância do conceito de pertencimento explica-se na relação instável do ser
humano com seu entorno, principalmente após a crise ambiental vivida nas últimas décadas
que é conseqüência de um desenraizamento, levando, possivelmente, à não responsabilidade
no que se refere a coletividade e no particular, às questões ambientais, Lestinge, (op. cit.).
Neste contexto, compreender a complexidade da problemática que a crise de
percepção tem trazido pode fornecer subsídios valiosos para os processos que busquem
emancipação e autonomia das comunidades, pois “a tomada de consciência de nossas raízes
terrestres e de nosso destino planetário é uma condição necessária para realizar a humanidade
e civilizar a Terra” (Morin, 2000 apud Lestinge, 2004).
Com o advento da Lei 9.433 97, o princípio dos usos múltiplos foi instituído como
uma das bases da Política Nacional de Recursos Hídricos e os diferentes setores usuários de
recursos hídricos passaram a ter igualdade de direito de acesso à água. A única exceção, já
estabelecida na própria lei é que, em situações de escassez, a prioridade de uso da água no
Brasil é o abastecimento público e a dessedentação de animais (Brasil, 1997). A mesma Lei
estabelece ainda que a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo
das águas. Trata-se de um principio de caráter técnico, que tem por objetivo maximizar o uso
da água (Campos, 2001 c). Todavia, os outros usos, tais como, geração de energia elétrica,
irrigação, navegação, abastecimento industrial e lazer, entre outros, não têm ordem de
prioridade definida. Desde então, o crescimento da demanda por água para os mais variados
usos fez crescer e tomar corpo o princípio dos usos múltiplos, gerando uma série de conflitos
de interesses (http://www.ana.gov.br/...UsosMultiplos/defalt2.asp em 23/ 02/ 2005).
O consumo de água no mundo quadruplicou nos últimos 40 anos, com o
consumido na Terra, 73% das águas são utilizados nas atividades agropecuárias, 21% na
indústria e os restantes 6% servem para uso doméstico {(Assunção, 2002); (Selborne, 2002)}.
No Brasil, o acesso à água encanada aumentou muito nos últimos anos, mas não o
suficiente para atender toda a população. Aqui existe a maior reserva de água doce do mundo,
mas a água brasileira está ameaçada pela poluição, pelo desperdício, pelo desmatamento no
entorno dos mananciais, pela erosão, pela desertificação e pela contaminação do lençol
freático. Receber água limpa, própria para o consumo, deveria ser considerado o primeiro e
mais elementar direito de uma família e da sociedade. Da mesma forma, cada indivíduo
deveria zelar pelo uso sustentável da água e pela manutenção dos mananciais e da integridade
dos ecossistemas em geral, de modo a proteger a saúde publica e garantir a qualidade de vida
às comunidades, especialmente nas áreas urbanas (Assunção, 2002).
Entende-se como desenvolvimento rural aquele que está associado, entre outros
fatores, aos usos da água, tais como abastecimento humano, dessedentação animal, irrigação e
drenagem. Com isso pode ocorrer alteração da cobertura vegetal e do solo em função da
agricultura, modificando a bacia hidrográfica e o ciclo hidrológico. Esse desenvolvimento
produz impactos nos corpos d’água por meio da poluição difusa, erosão e sedimentação dos
rios (http://www.ana.gov.br/.../DiretrizesEstrategicas2002.pdf em 23/ 02/ 2005).
Ainda segundo o mesmo site citado anteriormente, para a geração de energia, uma
das alternativas é a hidrelétrica. Essa é a principal fonte utilizada no Brasil (91%), mas
apresenta vantagens tecnológicas e desvantagens ambientais que devem ser balanceadas em
cada região. Além disso, a forte concentração da matriz energética em produção hidrelétrica
deixa o sistema fortemente dependente das variações climáticas de curto e médio prazo, com
probabilidade de produzir importantes impactos em toda sociedade.
Na navegação há o uso do sistema hídrico para transporte, que apresenta,
medida em que altera o sistema fluvial, ou devido a acidentes de transporte de material
poluente. Necessita-se ainda de tecnologia que permita tornar as vias navegáveis mais seguras
e eficientes ao longo de todo ano, como a previsão de níveis em tempo real
(http://www.ana.gov.br/.../DiretrizesEstrategicas2002.pdf em 23/ 02/ 2005).
No lazer, o uso dos sistemas naturais para divertimento e entretenimento da
população é um dos usos dos recursos naturais que, se bem controlado, apresenta o menor
impacto ambiental, permitindo criar condições econômicas e ambientais sustentáveis
(http://www.ana.gov.br/.../DiretrizesEstrategicas2002.pdf em 23/ 02/ 2005).
A seguir apresenta-se um caso de conflito do uso da água a título de ilustração,
conforme a Agência Nacional de Águas (ANA, 2005):
“Por ocasião da crise de energia no mês de abril de 2001, houve uma proposta do setor elétrico de utilizar um dos reservatórios da bacia do Tietê-Paraná, o reservatório de Ilha Solteira, até o seu volume mínimo, para produzir uma quantidade de energia da ordem de 4.700 MW por mês. Para isso, era necessário construir uma barreira no Canal Pereira Barreto, que impediria temporariamente a navegação. Esta situação era inaceitável pelo setor hidroviário, em função da interrupção da navegação e de uma eventual demora na sua retomada. A partir de reuniões entre os setores envolvidos, com a participação e mediação da ANA, foram definidas novas regras operativas do sistema e, ao invés de paralisar o setor hidroviário, houve um aumento de 26 % na carga de grãos transportada, com grande benefício para o setor de transporte hidroviário e para o Brasil. (http://www.ana.gov.br/...UsosMultiplos/defalt2.asp em 23/ 02/ 2005).”
A fim de se definir o que seria a caracterização limnológica de um corpo hídrico,
como no caso o rio Corumbá, é necessário que se entenda a Limnologia como ciência. Esta
tem como objeto de estudo os ecossistemas aquáticos continentais. Desta maneira, pode-se
definir a Limnologia como o estudo ecológico de todas as massas d’água continentais,
independentemente de suas origens, dimensões e concentrações salinas. Assim inúmeros
corpos d’água são objeto de estudo da Limnologia, como por exemplo: lagunas, lagos, açudes,
águas subterrâneas, rios, lagoas, represas, nascentes, entre outros (Esteves, 1998).
A classificação dos corpos d'água estabelecido na Resolução nº 357, de
instrumentos de gestão das águas e de gestão ambiental que possibilita a integração do seu
controle qualitativo, sua proteção e sua preservação com o ordenamento dos usos econômicos,
ambientais e sociais (como por exemplo, recreação e lazer) das águas, bem como dos usos dos
recursos naturais que interferem nos recursos hídricos. O enquadramento reconhece a
valorização ambiental dos recursos hídricos e a valorização econômica e social dos corpos
d'água buscando solucionar conflitos decorrentes da multiplicidade de usos, na medida em
que estes usos requerem níveis diferenciados de qualidade de águas (Póreca, 1998 apud
Maciel Jr., 2000).
Do ponto de vista da gestão ambiental e da gestão dos recursos hídricos a
Limnologia da bacia é muito importante, tendo em vista as relações ambientes terrestres –
ambientes aquáticos; organismos aquáticos – ambientes terrestres; ambientes aquáticos – ser
4 - ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo está localizada no Alto Corumbá, especificamente nos
municípios de Cocalzinho de Goiás e Corumbá de Goiás, Figuras 5 e 6. A primeira fica a uma
distância da capital do Estado (Goiânia) de 132 km e a 120 km do Distrito Federal, enquanto
Corumbá de Goiás fica a 112 km de Goiânia e 140 km de Brasília
(http://portalsepin.seplan.go.gov.br/goiasemdados.../turismo.htm em 16/04/2005).
A seguir são apresentadas as principais características do meio físico, biológico e
socioeconômico da região estudada.
Figura 5: Estado de Goiás no Brasil e na Região Centro-Oeste. Fonte: SEPLAN - Goiás em Dados, em 16/04/2005.
4.1 - Pedologia, Geomorfologia e Geologia
A região de estudo localiza-se no Bioma Cerrado. O solo que predomina na área é
o latossolo vermelho-escuro e amarelo em mais avançado estado de pedogênese. A baixa
fertilidade desses solos e a pequena reserva de nutrientes na vegetação são conseqüências do
alto grau de intemperismo e escasso conteúdo de bases das rochas (quartzitos, ardósias, filitos
e micaxistos). Ocorrem também, nos vales junto aos cursos d’água, solos hidromórficos e nas
encostas de maior declividade verifica-se a presença de cambissolo, pois a alta taxa de erosão
impede a formação de um solo profundo {(Haridasan, 1990); (Nóbrega, 2002)}.
A geomorfologia da região do Cerrado apresenta características peculiares, em
virtude de influências geológicas, climáticas e antrópicas. As formas de relevo predominante
são residuais de superfície de aplainamento (chapadas) com topografia plana a levemente
ondulada. Além disso, encontram-se áreas serranas, depressões periféricas e interplanálticas
resultantes de processos de pediplanação, e vales fluviais alongados cujas encostas
testemunham processos alternados de dissecação e de pedimentação (Pinto, 1990).
A paisagem geomorfológica do Cerrado tem sofrido alterações marcantes, em
virtude da devastação intensa da flora e da extinção da fauna para projetos de urbanização e
ampliação das áreas agrícolas (Pinto, 1990).
Quanto à geologia, segundo Dardenne, 2001, a área de estudo está inserida na
Faixa de Dobramentos Brasília (FDB) nos Grupos Araxá, Canastra e Paranoá.
No segmento meridional da FDB, diversas ocorrências de cassiterita são
relacionadas às intrusões sin a tarditectônicas dos granitos peraluminosos de tipo S,
4.2 - Flora
Os resultados sobre a flora e a fauna na área de estudo ainda são muito incipientes.
A flora predominante no local de estudo é integrante do bioma Cerrado, com uma extensão de
200 milhões de hectares, ocupando 25% da área do Brasil (UNESCO, 2002). Ademais, o
Cerrado possui uma flora considerada das mais ricas das savanas tropicais com alto grau de
endemismo. De suas 10.000 espécies de plantas, 44% são endêmicas, incluindo quase todas as
gramíneas (http://www.conservation.org.br/publicacoes/files/capa_hotspots.pdf em
09/04/2005).
Na região de estudo, é possível constatar diferentes fitofisionomias do Cerrado
com as seguintes formações: campo limpo, campo sujo (Figura 7 fotos a e b), campo cerrado,
cerrado sensu stricto (Figura 8 fotos a e b), cerradão, mata ciliar ou de galeria (Figura 9), mata
seca (mesófila estacional), vereda ou buritizal (Figura 10), palmeiral (Figura 11 fotos a e b),
campos rupestres, campos de altitude, campo úmido, segundo Fonseca, 2001 e os Planos
Diretores dos dois municípios {(Geológica, 2005), (GCA e Interplan, 2005)}. É importante
destacar que todas as Figuras da flora aqui apresentadas são do município de Cocalzinho de
Goiás.
(a) (b) Figura 7:Campo sujo (a) e (b).
(a) (b) Figura 8: Cerrado Sensu Stricto (a) e (b).
Fonte: Pesquisa de campo.
Figura 9: Mata Ciliar ou de Galeria. Figura 10: Buritizal. Fonte: Vice Prefeitura de Cocalzinho de Goiás. Fonte: Pesquisa de campo.
(a) (b) Figura 11: Palmeiral (a) e (b).
Fonte: Pesquisa de campo.
Neste trabalho a nomenclatura usada para a descrição dos remanescentes de vegetação, no
A grande e rápida expansão da agropecuária, à taxa de 3% ao ano em termos de
superfície, e a consolidação de infra-estrutura urbanística, determinaram a conversão de 40%
da área original do Cerrado para o manejo econômico, com a perda total da vegetação original
4.3 - Fauna
A região de estudo apresenta uma fauna típica do Bioma Cerrado, onde a maioria
das espécies faunísticas encontradas nesse bioma, segundo Redford e Fonseca (1986) apud
CTE (1999), são espécies de ampla distribuição encontradas em outros biomas, destacando-se
animais como o lobo-guará, tamanduá, tatu, veado campeiro, dentre outros.
Segundo o CTE, 1999, os estudos relativos a zoogeografia do Cerrado são
incipientes, fragmentários e pouco conclusivos, devido às dificuldades de levantamentos
faunísticos bem conduzidos. Encontra-se maior concentração de animais nas matas ciliares e
de galeria, que atuam também como zonas de refúgio e dispersão faunística de diversas
espécies, que só temporariamente caminham pelos ambientes abertos em suas peregrinações
em busca de alimentos e/ ou em suas atividades reprodutivas.
Como ocorre nas demais regiões do Cerrado, as comunidades faunísticas
caracterizam-se por uma grande diversidade de espécies e por uma distribuição irregular,
devido à diversidade de ambientes {(Rocha et al, 1990); (WWF/ PROCER
http://www.bdt.fat.org.br/.../domínio em 20/03/2005)}.
Na área de estudo a fauna tem influência de três bacias hidrográficas: Paraná, São
Francisco e Tocantins - Araguaia. Por causa das características hidrográficas,
geomorfológicas e fitofisionômicas podem ocorrer migrações constantes da fauna pelos
corredores aquáticos, mais especificamente pelas matas de galeria e áreas vizinhas dos cursos
d'água que possuem suas nascentes nas chapadas do Distrito Federal (DF) e deságuam nos
afluentes dessas três bacias citadas.
A fauna da área de estudo pode ser associada à fauna do DF, que possui estudos
recentes e constantemente espécies novas são acrescidas a esses levantamentos. O inventário
répteis, mais de 400 espécies de aves, 39 de anfíbios. Há ainda, mais de 16 Filos de
invertebrados, incluindo uma diversidade grande de insetos, ressaltando-se aí 91 espécies de
formigas, 54 de vespas e 54 de cupins e mais de 500 espécies de abelhas. Entretanto deve-se
ressalvar que não há estudo sistêmico na área de estudo e sendo provável que o número de
espécies que está presente no local de estudo é menor que no DF, particularmente nas áreas
4.4 - Clima
O clima da região está inserido no grupo Aw da classificação de Köppen, ou
tropical chuvoso, segundo Nóbrega, 2002. A temperatura média anual varia entre 19 e 23°C e
podem atingir mais de 30°C. A precipitação média anual é de aproximadamente 1.500 mm de
chuva e mais de 90% da precipitação ocorrem de outubro a março, demarcando duas estações
climáticas distintas: a chuvosa e a seca (WWF/PROCER http://www.bdt.fat.org.br/.../domínio
em 20/03/2005).
Durante a estação seca, que pode durar 5 a 6 meses, a umidade relativa é baixa e a
evaporação alta, sendo que a precipitação pode ser zero em alguns meses. Já a estação
chuvosa (outubro a março) apresenta uma distribuição irregular com períodos de estiagem,
segundo o site citado acima e Nóbrega, 2002.
Segundo a adaptação das informações obtidas na ANA, a Figura 12 mostra a
precipitação total anual dos últimos dez anos na bacia do rio Corumbá. Como se pode
observar nessa Figura a média da precipitação total anual dos últimos dez anos foi de
aproximadamente 1.400 mm na região de estudo, o que corrobora as informações de Nóbrega,
2002 e WWF/PROCER, 2005. Assim, é possível concluir que a área de estudo ainda não está
1284,2
1506,4
1000,9
1880,3
1569,1
1469,5
1608,0
1475,1 1516,6
1145,0 1137,1
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 média de 1996 a 2005
Ano
Preci
p
ita
çã
o
(mm)
4.5 - Hidrografia
A hidrografia da região do Cerrado é muito preciosa, pois possui uma riqueza
hídrica importante para a sua biodiversidade. Ademais é nessa região que se encontra o
divisor de águas mais importantes do país, dividindo as três maiores bacias nacionais,
Tocantins – Araguaia, São Francisco e Paraná. É na Serra dos Pirineus que se localiza o
divisor de águas das bacias do Tocantins e Paraná, onde nascem os córregos que formam, de
um lado o Rio Corumbá, afluente do Paranaíba (bacia Paraná), e do outro o Rio das Almas,
que se torna mais ao norte um afluente do Rio Tocantins.
O rio Corumbá nasce na Serra dos Pirineus a 1.200 m de altitude, próximo a divisa
dos municípios de Cocalzinho e Pirenópolis, na porção central do Estado de Goiás, {(CTE,
1999); (http://www.agenciaambiental.go.gov.br/...._3_1ambi.php em 14/ 02/ 2005)}.
Em todo o seu percurso há aproximadamente 576 km até desaguar no rio
Paranaíba, no reservatório do AHE Itumbiara, na cota 477, na divisa dos municípios de
Corumbaíba e Buriti Alegre, no sul do Estado {(CTE, 1999),
(http://www.agenciaambiental.go.gov.br/.... _3_1ambi.php em 14/ 02/ 2005)}.
Ainda segundo CTE, 1999, de uma maneira geral o leito do rio Corumbá se
destaca pela presença de trechos com pequenos saltos, desníveis e corredeiras, ao longo de um
vale encaixado, constituindo um dos mais importantes potenciais hidrelétricos do Estado. Na
área de estudo o maior destaque é dado para o Salto Corumbá, onde é um local de grande
atração turística.
Seus principais afluentes da margem esquerda são os rios Areia, Descoberto e São
Bartolomeu e, pela margem direita, os rios das Antas, Peixe e Piracanjuba, constituindo
Quanto à Limnologia, não foram encontradas informações referentes à área de
4.6 - Sócio - Economia
4.6.1 - Cocalzinho de Goiás
Cocalzinho de Goiás faz divisa com Águas Lindas de Goiás, Corumbá de Goiás,
Padre Bernardo, Pirenópolis, Santo Antônio do Descoberto e Vila Propício; possui, 15.940
habitantes, sendo que destes dos quais 6.074 estão na área urbana e 9.866 em área rural. A
densidade demográfica é de 8,92 hab/ km2
(http://portalsepin.seplan.go.gov.br/anuario/...demografia.htm em 07/ 03/ 2005).
Quanto à educação, o município possui na rede pública escolas que atuam desde a
pré-escola até o ensino médio, contando com 16 unidades de ensino municipais, em que 12
dessas estão em área rural. Dispõe, também, de 3 escolas estaduais, sendo duas localizadas na
área urbana de Cocalzinho e outra no distrito de Girassol. Conta, ainda, com uma escola
particular. A cidade de Cocalzinho de Goiás não possui educação profissional nem
instituições de ensino superior {(http://portalsepin.seplan.go.gov.br/anuario/... educacao.htm
em 07/ 03/ 2005); (Martins, 2005)}.
Em relação à saúde, Cocalzinho de Goiás possui três Unidades da Saúde, um
hospital público e outro particular {(http://portalsepin.seplan.go.gov.br/anuário/saude.htm em
07/ 03/ 2005); (Martins, 2005)}.
Na economia de Cocalzinho de Goiás 34,58% provém da atividade agropecuária,
destacando-se a produção de soja, milho e algodão; e a criação de gado bovino e aves, ambos
para corte. Já o setor secundário participa com 11,36% na economia do município e o setor
terciário com 54,06%. Deve-se ressaltar ainda que o turismo vem crescendo na região
{(http://portalsepin.seplan.go.gov.br/...arquivo=home.htm, em 16/04/2005);
Quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH - M), a Quadro 1 mostra
como foi a evolução entre os anos de 1991 e 2000, verificando-se uma queda do município no
ranking em relação aos outros municípios do Estado.
Fone: http://portalsepin.seplan.go.gov.br/anuario/indsocioeconomicos/indsocioeconomicos.htm em 07/03/2005.
4.6.2 - Corumbá de Goiás
Corumbá de Goiás foi uma das primeiras cidades a ser fundada no Estado e por
isso é tombada como patrimônio histórico nacional, e faz divisa com Abadiânia, Alexânia,
Cocalzinho de Goiás, Pirenópolis e Santo Antônio do Descoberto. Esta possui 9.795
habitantes, sendo que destes 6.048 estão na área urbana e 3.747 em área rural. A densidade
demográfica é de 9,22 hab/ km2 (http://portalsepin.seplan.go.gov.br/anuario/...demografia.htm
em 07/ 03/ 2005).
Quanto à educação, o município possui 24 escolas, sendo duas urbanas e 22 rurais,
atendendo aos alunos desde a pré-escola até o ensino médio e o curso normal. Essa localidade
conta ainda, com quatro escolas estaduais e uma particular. A cidade de Corumbá de Goiás
não possui os sistemas de educação de jovens e adultos nem de educação profissional, e muito
menos instituição de ensino superior {(http://portalsepin.seplan.go.gov.br/anuario/...
educacao.htm em 07/ 03/ 2005); (Martins, 2005)}.
Longevidade Educação Renda Longevidade Educação Renda Cocalzinho
de Goiás 0,699 0,685 0,578 0,654 108º 0,73 0,782 0,635 0,716 182º
Classificação segundo IDH:
Baixo (abaixo de 0,500) Quadro 1 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDH - M de Cocalzinho de Goiás - 1991 e 2000.
Municípios
1991 2000
IDH-M
IDH-M Ranking
IDH-M
IDH-M Ranking
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas Socioeconômicas - 2003.
Na área da saúde dispõe de um posto de saúde, um hospital público e uma clínica
particular na cidade e ainda de dois postos de saúde localizados nos povoado de Mamoneira e
Aparecida de Loyola.
Na economia de Corumbá de Goiás 33,49% provém da atividade agropecuária,
destacando-se a produção de soja, milho e cana-de-açúcar; e a criação de gado bovino e aves,
ambos para corte. Já o setor secundário participa com 17,81% na economia do município e o
setor terciário com 48,70%. Deve-se ressaltar ainda que o turismo vem crescendo na região
{(http://portalsepin.seplan.go.gov.br/...arquivo=home.htm, em 16/04/2005);
(http://portalsepin.seplan.go.gov.br/pib2000/tabela4.htm, em 16/04/2005); (Martins, 2005)}.
Quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH - M), a Quadro 2 mostra
como foi a evolução entre os anos de 1991 e 2000, verificando-se uma queda do município no
ranking em relação aos outros municípios do Estado.
Fonte: http://portalsepin.seplan.go.gov.br/anuario/indsocioeconomicos/indsocioeconomicos.htm em 07/03/2005
Longevidad
e Educação Renda
Longevidad
e Educação Renda
Corumbá
de Goiás 0,632 0,633 0,576 0,614 201º 0,735 0,78 0,596 0,704 206º
Classificação segundo IDH: Elevado (0,800 e superior) Médio (0,500 - 0,799) Baixo (abaixo de 0,500) Quadro 2 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDH - M de Corumbá de Goiás - 1991 e 2000.
Municípios
1991 2000
IDH-M
IDH-M Ranking
IDH-M
IDH-M Ranking
Elaboração: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatísticas Socioeconômicas - 2003.