PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÂO PAULO
TRiRi IMAI DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO TK D  0 7 D E c f s à 0 MONOCRÁTICA
REGISTRADO(A) SOB N°
Vistos,- relatados e discutidos estes autos de' AGRAVO DE INSTRUMENTO n" 568.648-4/4-00, da Comarca de JUNDIAÍ, em que é agravante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO - PAULO sendo agravados ROSENILDA BATISTA DE LIMA
(INVENTARIANTE)-(E OUTRO)
(ESPÓLIO):--ACORDAM, em Quinta Câmara de Direito Privado do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a-seguinte decisão: "NEGARAM' PROVIMENTO AO RECURSO, V.U. ACÓRDÃO COM O 3 o JUIZ, " DES. OSCARLINO MOELLER.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação >dos Desembargadores ^OLDEMAR AZEVEDO (Presidente, sem voto),, DIMAS 'CARNEIRO e SILVERIO RIBEIRO.
' São" Paulo, 26 de novembro de 2008. '
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VOTO N°: 18851
AGRV. N ° : 568.648-4/4-00 COMARCA: JUNDIAI
AGTE. : MINISTÉRIO PÚBLICO
AGDO. : ROSENILDA BATISTA DE LIMA (INVTE)
UNIÃO ESTÁVEL - PARTILHA - DIREITO À HERANÇA PELA COMPANHEIRA DE UNIÃO ESTÁVEL - ÚNICO BEM IMÓVEL ADQUIRIDO ONEROSAMENTE NO CURSO DA UNIÃO ESTÁVEL - COMPANHEIRA DO "DE CUJUS" E HERDEIROS FILHOS COMUNS -APLICAÇÃO DO ART. 1.7 90, I, DO CÓDIGO CIVIL ADMISSIBILIDADE
-RESPEITO AOS DIREITOS CONSTITUCIONAIS DA GARANTIA DA
HERANÇA, DO RESPEITO À UNIÃO ESTÁVEL E DA IGUALDADE ENTRE OS FILHOS - RESPEITO AO ART. 5 ° , XXX, PARÁGRAFO 3 o DO ART. 226 E
PARÁGRAFO 6o DO ART. 227, TODOS DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL - MEAÇÃO PREVISTA NO ART. 1.72 5 DO CÓDIGO"A CIVIL IGUALMENTE RESPEITADX"^ DE ) FORMA COERENTE, DENTRO DO/SISTEMA CIVIL - DECISÃO DE PARTI^LHA^NOS TERMOS DO ART. 1790, I, DO CÓDIGO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO.
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Trata-se de agravo de instrumento contra a r. decisão de fls. 42/44
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(40/42 dos autos principais), nos autos do inventário dos bens deixados pelo falecimento de Edson Adelino Guizzi, que deliberou a partilha pela herança em equivalência de direitos entre a companheira supérstite e os dois filhos comuns, um terço (1/3) para cada um, separando para pagamento o direito à meação da companheira, em metade do patrimônio formado pelo único bem imóvel adquirido com esforço
comum no curso da união estável desenvolvida por quinze anos, aceita pelos interessados e já declarada em decisão anterior.
Pretende o Ministério Público em seu inconformismo que não coexista a meação e o direito à herança para a companheira, assim que aquele afastaria este, dentro de uma posiçã-o-sistemática coerente com a previsão do inciso I do art. 1.829 do Código Civil, estabeTe-cendo^o direito de herança ao cônjuge apé-rías_/na-s' hipóteses em que não haja o direito A-^me*a?çã.ol A
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coexistência entre meaçao e herança, (grevistapara a união estável, mas excluída no casamento, revelaria inconstitucionalidade a ser dirimida. Pretende, assim, ver reconhecida à companheira apenas o direito â meação (50% do
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imóvel) e aos filhos o direito à totalidade da herança (50% do imóvel).
O agravo veio acompanhado de documentos (fls. 08/44), recebido só no efeito devolutivo, à falta de reclamo de suspensividade (fls. 4 6 ) .
O J U Í Z O "a quo" prestou
informações, reforçando a não visualização de inconstitucionalidade à luz do aplicado art. 1.790, I, do Código Civil (fls. 54), acompanhando o ato com documentos do processo
(fls. 55/63) .
Não houve contra-minuta.
A Procuradoria Geral da Justiça requer o provimento do recurso (fls. 65/66).
É O RELATÓRIO.
II
DECIDO
O inconformismo não prospera.
A meação é o direito reconhecido ao participante de vínculo societário,
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Art. 1.640 - Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, q u a n t o aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial.
Art. 1.641 - É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: ...
Al N° 568.648-4/4-00 - JUMDIAI - 5° C. D. PRIVADO - TJSP - VOTO N° 18851
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correspondente à metade dos direitos vinculados patrimonialmente. Assim se divisa a meação no direito societário civil ou comercial, assim se divisa o direito no âmbito da família nas integrações das entidades familiares formadas pelo casamento ou pela união estável,
constituídas a partir dos parágrafos Io a 3o do
art. 226 da Constituição Federal.
No casamento o direito a meação se adstringe ao tipo de regime de bens adotado voluntariamente (por decorrência de pacto ante-nupcial) ou estabelecido diretamente por comando legal (regimes legais da comunhão parcial e da separação legal obrigatória).^tudo J nos termos dos artigos 1.640 e 1.641 d© Códigp' Civil C) .
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parcial de bens, por força do art. 1.72 5 do Código Civil (2) .
A herança, inconfundível com o direito à meação, se cristaliza a partir da abertura da sucessão, nos termos do art. 1.784 do Código Civil, atingindo os herdeiros legítimos e testamentários (3) .
A herança, outrossim, passou a ter garantia constitucional, nos termos do inciso XXX do art 5o da Constituição Federal (4) .
O direito à herança passou â qualidade de direito constitucional, devendo a lei infra-constitucional aplicá-lo e respeita-/ Io.
Daí a previsão do novo-^Çódigo
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Civil inserindo o direito à^^heran^a /aos
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companheiros da união estável, bem N^omo aos cônjuges, isolada e concorrentemente com os demais herdeiros (artigos 1790 e 1829 e seguintes do Código Civil).
Na específica consideração da união estável, hipótese vertente, a regra
Art. 1.725 - Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens.
Art. 1.784 - Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários
Art. 5" - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no País ...: ... XXX - é garantido o direito à herança.
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concorrente se instaurou no art. 1790, I a III, do Código Civil, incluindo também a forma
isolada em seu inciso IV, o que, entretanto, nesta última espécie, já fora previsto no inciso III do art. 2 o da lei 8.971, de
29.12.1994 (5) .
A existência da união estável no exame do inventário presente se torna inconcussa, não só pela direta aceitação no plano de partilha apresentado pela companheira
(inventariante) e herdeiros (fls. 08/13; fls. 02/07 - autos principais), como pelas declarações juntadas nos autos de inventário
(fls. 60/62; fls. 56/58 - autos principais), como pela decisão do Juizo, de 06.05.2008, reconhecendo sua existência (fls. 63; fls. 62_-autos principais), matéria tornada preclusa/ Além disso, aqui não é a mesma questionada
Dessa peroração, duas-- conclusões básicas: a) inconfundíveis os direitoS^à meação
e à herança, aquele vinculado, na união
estável, a aplicação direta do regime da comunhão parcial de bens, a teor do art. 1.725
5 Art. 2" - As pessoas referidas no artigo anterior participarão da sucessão do (a)
companheiro (a) nas seguintes condições: ... III - na falta de descendentes e de ascendentes, o
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do Código Civil, cabível na hipótese pela inexistência de contrato firmado entre as partes, este vinculado, segundo a natureza do vínculo de direito de família da união estável presente, à previsão constitucional (art. 5o,
XXX, da C F . ) e reconhecimento no Código Civil (art. 1.790); b) incabível a pretensão
comparativa excludente de herança diante da presença da meação, eis que direitos
absolutamente diversos e compatíveis.
Pela meação se efetiva um pagamento na sucessão, resguardando esse
direito à companheira, "in casu", na correspondência ao equivalente a metade ou-v cincoenta por cento (50%) do patrimônio deixado pelo "de cujus".
Deduzida a meação, como di-re^íj
companheiro supérstite (ou mesmo do /.cônjuge sobrevivo, se fosse o caso) , o mais do patrimônio corresponderá à herança, cujos destinatários são os herdeiros. Nesta fase, identificam-se os herdeiros, pela presença de dois filhos do casal (filhos comuns, companheiro supérstite e "de cujus") e a
(a) companheiro (a) sobrevivente terá direito à totalidade da herança.
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companheira pela concorrência estabelecida no art. 1.790, I, do Código Civil.
Assim, o direito a meação deriva da aplicação do regime da comunhão parcial de bens à espécie (art. 1.725 do Código Civil), o direito a herança como decorrência da abertura da sucessão e concorrência estabelecida
(artigos 1.784 e 1790, I, do Código Civil). Os direitos são inconfundíveis e compatíveis, repita-se, não podendo ser considerados excludentes reciprocamente.
Se a exclusão fosse prevista (o que se poderia cogitar de análise se fosse—-v hipótese de aplicação do inciso I do art .(^1.82 9 ;
do Código Civil, aqui inaplicável) por cer^ó estaríamos diante de uma ilegalidade previsão do art. 1.790 é exatamentg^coi^rária, há respeito aos direitos descritos£^" Esse artigo trata exclusivamente da sucessão "causa mortis" do companheiro, nenhuma referência
fazendo, direta ou indiretamente, de forma comparativa, à meação; esta, continua existindo a partir da norma do art. 1.725 do Código Civil, como direito próprio do companheiro sobrevivente.
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Assim, os bens onerosamente
adquiridos na vigência da união estável
pertencem, como direito de meação, ao cônjuge sobrevivo, conforme artigos 1725 e 1658 o Código Civil (6) , e, como herança, em
concorrência com os filhos comuns, uma quota equivalente ao que aqueles receberem (7) .
Incabível a comparação aqui pretendida com o inciso I do art. 1.829 do Código Civil que se refere ao cônjuge concorrente, aqui inaplicável pela tratativa de união estável, e, nesta, pela perfeita sintonia, do art. 1.790 do Código Civil às^normas constitucionais (direito à herança) l^_e__-Jrega~rsj) existentes (respeito ao direito de meação).
Finalmente, isonomia e igualdade de direitos se estabelece aos f<±íh©s,; não havendo qualquer critério discriminatória ou de desigualdade, respeitando-se o parágrafo 6° do art. 227 da Constituição Federal (8) . Todos os
Art. 1.725 - Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens.
Art. 1.658 - No regime da comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções do artigos seguintes
7 Art. 1.790 - A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto
aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: I -se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; ...
8 Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assergurar à criança e ao
adolescente, ...: parágrafo 6o - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por
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filhos recebem, na hipótese vertente, um terço (1/3) da herança.
Divagações em torno do que receberiam se não houvesse a participação do companheiro se tornam incompatíveis com a atual situação legal e social da espécie. A constituição reconheceu a existência da união estável como entidade familiar, o que a jurisprudência já o fizera anteriormente, embora sob a nomenclatura de concubinato à falta de denominação adequada, devendo ser respeitada sua existência na legislação infra-constitucional, como já fizeram as leis núme-roTT 8.971/1994 e 9.278/96, como concretizado atual Código nos artigos 1.723 e seguintes e
1.790.
Respeitados se encont,.rajn^c em síntese, os artigos 5o, XXX, e^2-2'7, ybar-áqrafo
6o, ambos da Constituição Federal, naüa havendo
de inconstitucionalidade.
Finalísticamente, o que não pode ser desconsiderado, à luz da pretensão desenvolvida de alegada inconstitucionalidade, ainda que fosse o caso de aqui ser declarada,
adoção, terão os mesmos direitos e qiialifícações, proibidas quaisquer designações discriminatóris relativas à filiação
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perante esta Corte de Justiça, descaberia competência para este órgão fracionário do Tribunal de Justiça fazê-lo, impondo-se sua apreciação pelo Órgão Especial, "ex vi" do art. 9 7 da Constituição Federal (9) , o que se acha
consolidado pela Súmula Vinculante n. 10 do Supremo Tribunal Federal, "in verbis": "Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte" (publ. no DJe n. 172/2008, de 12.09.2008, pg. 33).
III
Conclusivamenfee, p o r meu v o t o ,
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nego provimento, nos term©s_,da fundamentação.
OSÇARLINO MOELL-ER REtATOR D'ÉSIGNA~DO\
Art. 97 - Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os Tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.