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DIRETORIA DA FEBRASGO 2020 / 2023

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2020 / 2023

Marta Franco Finotti Vice-Presidente Região Centro-Oeste

Carlos Augusto Pires C. Lino Vice-Presidente

Região Nordeste

Ricardo de Almeida Quintairos Vice-Presidente

Região Norte Marcelo Zugaib Vice-Presidente Região Sudeste

Jan Pawel Andrade Pachnicki Vice-Presidente

Região Sul Agnaldo Lopes da Silva Filho

Presidente Sérgio Podgaec Diretor Administrativo César Eduardo Fernandes Diretor Científico

Olímpio B. de Moraes Filho Diretor Financeiro

Maria Celeste Osório Wender Diretora de Defesa e Valorização Profissional

Imagem de capa e miolo: passion artist/Shutterstock.com

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COMISSÃO NACIONAL ESPECIALIZADA EM GESTAÇÃO DE ALTO RISCO - 2020 / 2023

Presidente Rosiane Mattar Vice-Presidente Alberto Carlos Moreno Zaconeta

Secretária Mylene Martins Lavado

Membros Arlley Cleverson Belo da Silva

Carlos Alberto Maganha Carlos Augusto Santos de Menezes

Emilcy Rebouças Gonçalves Felipe Favorette Campanharo Inessa Beraldo de Andrade Bonomi

Janete Vettorazzi Maria Rita de Figueiredo Lemos Bortolotto

Patrícia Costa Fonsêca Meireles Bezerra Renato Teixeira Souza Sara Toassa Gomes Solha Vera Therezinha Medeiros Borges

2021 - Edição revista e atualizada | 2018 - Edição anterior

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Descritores

Gravidez; Complicações na gravidez; Cardiopatia; Insuficiência cardíaca

Como citar?

Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Cardiopatia e gravidez. São Paulo: FEBRASGO; 2021. (Protocolo FEBRASGO-Obstetrícia, n. 41/Comissão Nacional Especializada em Gestação de Alto Risco).

Introdução

As modificações cardiovasculares fisiológicas observadas durante a gestação, parto e puerpério podem provocar piora do estado funcio- nal de mulheres com cardiopatia já previamente conhecida ou mes- mo fazer que doenças cardíacas sem diagnóstico prévio à gestação se manifestem. A maioria das pacientes não apresentará descom- pensação significativa, mas altos níveis de complicações maternas e perinatais estão associados à doença cardíaca na gestação.

Este documento versa sobre o reconhecimento das situações que implicam mais risco para adequados manejos clínico e obstétri- co e redução de morbidade e mortalidade associadas a esse grupo de pacientes. Este protocolo se refere ao manejo obstétrico das gestan- tes portadoras de cardiopatia – o manejo clínico deverá ficar a cargo do especialista (clínico, cardiologista ou intensivista).

* Este protocolo foi elaborado pela Comissão Nacional Especializada em Gestação de Alto Risco e validado pela Diretoria Científica como Documento Oficial da FEBRASGO. Protocolo FEBRASGO de Obstetrícia, n. 41. Acesse: https://www.febrasgo.org.br/

Todos os direitos reservados. Publicação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).

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Epidemiologia

A cardiopatia afeta de 1% a 4% das gestações(1) e é responsável por até 15%

dos óbitos maternos.(1,2) Quando nos referimos à cardiopatia, estamos abordando uma vasta gama de doenças que afetam o sistema cardiocir- culatório. Aetiologia das doenças que afetam o coração de mulheres em idade reprodutiva difere entre as populações: no Brasil e em outros países de baixa e média rendas, predominam doenças adquiridas, em especial valvopatias reumáticas,(3,4) e, em países desenvolvidos, as congênitas.(2,5) Em nosso meio, temos observado maior número de pacientes com doen- ças cardíacas congênitas chegando à idade reprodutiva e engravidando, muitas com cirurgia corretiva ou paliativa prévia.(3) Tanto no caso das car- diopatias adquiridas quanto no das congênitas, é importante frisar que tratamento cirúrgico prévio não é sinônimo de cura nem de menos risco para essas mulheres (veja Estratificação de risco).

Fisiopatologia

As modificações fisiológicas impostas pela gestação influenciam o quadro clínico materno e estão demonstradas no quadro 1. É impor- tante lembrar que, mesmo em mulheres normais, a gravidez é respon- sável por sintomas e sinais cardiocirculatórios, bem como por altera- ções na propedêutica subsidiária (Quadro 2). O aumento da volemia, a frequência e o débito cardíaco são os maiores responsáveis pela des- compensação clínica em gestantes com cardiopatia. Outros fatores, como coagulabilidade aumentada e restrição medicamentosa, inter- ferem na chance de complicações maternas e fetais, como trombo- embolismos arterial e venoso, insuficiência placentária, restrição de crescimento e teratogênese.(6-8) Como os efeitos hemodinâmicos das modificações gravídicas são mais intensos na segunda metade da ges- tação, no intraparto e no puerpério precoce, é nesses períodos que o risco de insuficiência cardíaca se manifesta mais intensamente.(9)

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Quadro 1. Alterações hemodinâmicas na gravidez e no puerpério

1o trimestre 2o trimestre 3o trimestre Puerpério

Volume plasmático ↑↑ ↑↑ até 50% ↑↑↑

Frequência cardíaca «

Resistência vascular ↓↓ « ↑↑

Débito cardíaco ↑↑ « ↑↑

Quadro 2. Principais alterações clínicas do sistema cardiovascular observadas na gravidez normal

Sintomas Fadiga, falta de ar e tonturas

Sinais Desvio do icto, pulsação jugular proeminente

Desdobramento de bulhas, sopro ejetivo suave Achados eletrocardiográficos Taquicardia/arritmia sinusal, extrassístoles

Desvio do eixo, alterações da repolarização Achados ecocardiográficos Regurgitação mitral e/ou tricúspide

Discreto aumento do ventrículo esquerdo Derrame pericárdico discreto

De maneira geral, cardiopatias que são mais mal toleradas são as que envolvem redução do fluxo do coração esquerdo (estenoses mi- tral e aórtica), as que cursam com disfunção sistólica grave e aquelas com hipertensão pulmonar.(1,10-12)

Repercussões da cardiopatia materna sobre o concepto

A doença cardíaca materna está relacionada ao aumento da frequência de eventos perinatais, em especial à prematuridade (espontânea, por indicação clínica ou mesmo iatrogênica). A redução do débito cardíaco e, consequentemente, da perfusão placentária está na raiz dessas com- plicações. Observamos taxa aumentada de restrição de crescimento e sofrimento fetais ou o intraparto impulsiona o aumento de partos ope- ratórios. Ainda que algumas publicações associem complicações fetais e neonatais ao uso dos fármacos empregados para o tratamento mater- no, é difícil determinar se a causa seria o medicamento utilizado ou a condição materna de base que levou ao uso desses medicamentos.(8,13)

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Abordagem das gestantes com cardiopatia

Classificação funcional e estratificação de risco

A classificação funcional(1,12,14,15) é útil no aconselhamento pré-con- cepcional e na estimativa de risco pré-natal. Os preditores indepen- dentes de risco para eventos cardiológicos em gestantes cardiopatas estão listados no quadro 3.

Quadro 3. Preditores com impacto prognóstico negativo em gestantes cardiopatas

Maternos Fetais

· Classes funcionais III/IV da NYHA

· Cianose materna

· Disfunção miocárdica (fração de ejeção < 40%)

· Obstrução de via de saída de coração esquerdo (AV mitral < 2 cm2; AV aórtica < 1,5 cm2; gradiente transvalvar aórtico > 30 mmHg)

· História de arritmia grave (com repercussão clínica)

· Eventos cardíacos prévios à gestação (AVC, ICC)

· Anticoagulação

· Cianose

· Tabagismo

· Classe funcional III ou IV

· Prótese valvar mecânica

· Gestação múltipla

· Obstrução de via de saída do ventrículo esquerdo

Fonte: Traduzido e adaptado de Siu SC, Sermer M, Colman JM, Alvarez AN, Mercier LA, Morton BC, Kells CM, Bergin ML, Kiess MC, Marcotte F, Taylor DA, Gordon EP, Spears JC, Tam JW, Amankwah KS, Smallhorn JF, Farine D, Sorensen S; Cardiac Disease in Pregnancy (CARPREG) Investigators.

Prospective multicenter study of pregnancy outcomes in women with heart disease. Circulation.

2001 Jul 31;104(5):515-21.(16)

AV - área valvar; AVC - acidente vascular cerebral; ICC - insuficiência cardíaca congestiva.

O risco de complicações na ausência de fatores de risco é de até 5%, na presença de um fator, 27%, e na presença de dois ou mais, 75% (recomendação IA).(1) A complicação mais frequente é insufici- ência cardíaca. A mortalidade materna é significantemente maior nas pacientes com classe funcional (CF) III/IV da New York Heart Association (NYHA), assim como prematuridade e óbito fetal.(1,13) A presença de cianose é um indicativo de repercussões fetais graves, com alta prevalência de abortamentos espontâneos, prematuridade, baixo peso e óbito fetal (recomendação IA).(6,8,17)

A classificação e a estratificação de risco proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (Quadro 4)(18) têm sido utili-

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zadas para avaliar o risco de complicações maternas no período pré- -concepcional e guiar a assistência clínica e obstétrica ao longo do ciclo gravídico-puerperal. Note que nos grupos III e IV a gestação é acompanhada de altos índices de complicações maternas, sendo desaconselhada. No grupo IV, há situações que contraindicam a gra- videz e até recomendam interrupção nos casos de gestação não pro- gramada (em especial, hipertensão arteriolar pulmonar e disfunção sistólica grave antes ou no início da gravidez).(1,19)

Quadro 4. Estratificação do risco materno durante o ciclo gravídico- puerperal em função do tipo de doença cardíaca (adaptada da classificação da OMS)

Classe da

OMS Risco de acordo com a condição clínica Patologias I Não há aumento de

morbimortalidade materna

Pequena ou não complicada: estenose pulmonar, ducto arterioso patente, prolapso da valva mitral

Lesões simples reparadas: defeitos de septo atrial ou ventricular, drenagem anômala de veias pulmonares Batimentos ectópicos atriais ou ventriculares isolados II Pequeno aumento na

mortalidade materna ou moderado na morbidade

Defeitos de septo atrial ou ventricular não operado Tetralogia de Fallot corrigida

Arritmias II – III Risco II ou III,

dependendo da condição clínica materna

Disfunção ventricular esquerda moderada Cardiomiopatia hipertrófica

Patologia valvar compensada (valva nativa ou bioprótese) Síndrome de Marfan sem acometimento aórtico Patologia aórtica/valva bicúspide com anel valvar < 45 mm Coarctação de aorta reparada

III Aumento significativo de mortalidade materna ou morbidade grave

Prótese valvar mecânica Ventrículo direito sistêmico Circulação de Fontan

Cardiopatia cianogênica não reparada Cardiopatia congênita complexa

Síndrome de Marfan com dilatação aórtica > 40 a 45 mm Doença aórtica/valva bicúspide com anel valvar > 45 a 50 mm

Continua...

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Classe da

OMS Risco de acordo com a condição clínica Patologias IV Risco de mortalidade

materna ou morbidade importante extremamente alto

* Gestação é contraindicada Interrupção pode ser considerada, dependendo da gravidade clínica

Cardiomiopatia periparto prévia com disfunção ventricular residual Estenose mitral grave (área valvar < 1,5 cm3), estenose aórtica grave sintomática e/ou disfunção de prótese com repercussão hemodinâmica

Hipertensão arterial pulmonar de qualquer etiologia Disfunção de ventrículo sistêmico importante (fração de ejeção < 30% e/ou classe funcional III ou IV da NYHA) Síndrome de Marfan com dilatação aórtica > 45 mm Doença aórtica/valva bicúspide com anel valvar > 50 mm Coarctação congênita grave não corrigida

Fonte: Traduzido e adaptado de European Society of Gynecology (ESG); Association for European Paediatric Cardiology (AEPC); German Society for Gender Medicine (DGesGM), Regitz-Zagrosek V, Blomstrom Lundqvist C, Borghi C, Cifkova R, Ferreira R, Foidart JM, Gibbs JS, Gohlke-Baerwolf C, Gorenek B, Iung B, Kirby M, Maas AH, Morais J, Nihoyannopoulos P, Pieper PG, Presbitero P, Roos- Hesselink JW, Schaufelberger M, Seeland U, Torracca L; ESC Committee for Practice Guidelines. ESC Guidelines on the management of cardiovascular diseases during pregnancy: the Task Force on the Management of Cardiovascular Diseases during Pregnancy of the European Society of Cardiology (ESC). Eur Heart J. 2011;32(24):3147-97.(18)

Tratamento e conduta clínico-cardiológica na gestação

O acompanhamento de mulheres portadoras de cardiopatia deve ser feito de maneira multiprofissional,(1,17) e a conduta cardiológica fica- rá a cargo do clínico ou do cardiologista, de acordo com o obstetra e o anestesiologista, preferencialmente com experiência no acompa- nhamento dessas pacientes.

De maneira geral, o tratamento clínico pouco difere do realiza- do fora da gestação, procurando-se adaptar os medicamentos utili- zados. São contraindicados inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECAs) e bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRAs) por seu reconhecido efeito teratogênico. Também são con- traindicadas estatinas e espironolactona. Outros fármacos, como anticoagulantes orais inibidores da vitamina K (varfarina) e amioda- rona, só devem ser utilizados em situações em que são imprescin- díveis (recomendação IA).(1,17,19) Os demais medicamentos devem ter

Continuação.

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sua indicação reavaliada e empregados em doses capazes de obter efeito materno sem causar prejuízo ao feto.

Diante da hipercoagulabilidade da gravidez,(10,17,19) recomenda-se terapêutica antitrombótica em pacientes com disfunção miocárdica importante com dilatação ventricular, cianose materna, estenose valvar mitral com aumento de átrio esquerdo, arritmia trombogêni- ca, repouso/imobilização prolongada e antecedentes de tromboem- bolismo. Nessas situações, o agente de escolha é a heparina, regular ou de baixo peso molecular, em dose profilática.(1,17)

Pacientes portadoras de próteses valvares mecânicas e/ou com fi- brilação atrial crônica têm indicação de anticoagulação plena.(1,3,10,17,19)

A conduta atualmente mais recomendada é o uso de heparina de bai- xo peso molecular no primeiro trimestre e varfarina da 13a até a 36a se- mana. Com 36 semanas ou duas semanas antes do parto, deve-se tro- car por heparina de baixo peso molecular, com controle de atividade heparínica (anti-Xa). Outra opção é o uso da heparina regular por via endovenosa até o parto e puerpério precoce (dose ajustada por tempo de tromboplastina parcial ativada).(1,6,17,19) Três dias após o parto, efe- tua-se a transição para anticoagulação oral (varfarina). Essa conduta visa reduzir riscos fetais sem aumentar demasiadamente a morbidade materna (recomendação IIA).(1,17,19)

Pacientes com valvopatia decorrente de doença reumática devem continuar fazendo uso da medicação para profilaxia da recorrência dessa doença (penicilina benzatina 1.200.000 UI a cada 21 dias), da mesma forma que o fazem fora do ciclo gravídico-puerperal.(17,19)

Exames não invasivos (eletrocardiografia e ecocardiografia) são recomendados para avaliar o impacto das modificações hemodinâ- micas da gravidez sobre o aparelho cardiocirculatório.(1,17) Exames de imagem que envolvem radiação e/ou uso de contrastes (radiografias,

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tomografia, angiografia, ressonância magnética) devem ser judicio- samente avaliados + em caso de indicação precisa, a gravidez não deve ser um impedimento à sua realização.(1)

Procedimentos cardiológicos ou cirúrgicos

A cardioversão elétrica (para arritmias) não se relaciona a efeitos de- letérios fetais, devendo ser realizada sob sedação, como de costume fora do período gestacional. Cardioversão química, quando indica- da, também pode ser realizada, sem risco para o feto.(1,6,19)

Procedimentos invasivos e cirúrgicos (valvoplastia percutânea por balão, ablação de focos arritmogênicos e cirurgia cardíaca) devem ser indicados apenas em casos de impossibilidade ou falha do tratamento clínico, preferencialmente no segundo trimestre, quando possível.(1,17,19) Conduta obstétrica

Recomenda-se estratificação de risco proposta pela OMS (Quadro 4), para guiar as condutas obstétricas.(1,17) Em situações com risco de morte materna extremamente elevado (síndrome de Eisenmenger, Marfan com dilatação aórtica, miocardiopatia, periparto e disfunção ventri- cular importante refratária a tratamento medicamentoso), a gravi- dez é fortemente contraindicada.(1,10,17) Gestação não planejada nesse grupo constitui indicação de abortamento terapêutico. No Brasil, a in- terrupção da gestação para salvaguardar a vida materna tem amparo legal e não necessita de autorização judicial _ bastam documentação com relatório médico (sendo pelo menos um dos médicos especialista na doença em questão) e o aceite da paciente. No caso da cardiopatia materna, quanto antes a interrupção for indicada, menor será o risco materno. Antes da 13a semana, prefere-se esvaziamento uterino com AMIU ou curetagem, e em gestações mais avançadas, pode-se indicar o uso de misoprostol, na dose adequada para o período gestacional e

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com analgesia apropriada. Deve ser feita em hospital com retaguarda clínico-cardiológica e terapia intensiva disponível, recomendando-se alta mais tardia (pelo menos após 48 a 72 horas).(15,17)

A assistência pré-natal das mulheres portadoras de doenças cardí- acas exige cuidados multidisciplinares. Para melhor controle clínico, recomendam-se redução do esforço físico, dieta com baixo teor de sal e, eventualmente, restrição hídrica.(1,17) A terapêutica farmacológica pode e deve ser usada respeitando a relação risco-benefício entre a condição ma- terna e possível risco fetal.(6,10,15) A rotina de acompanhamento pré-natal e de programação de parto preconizada está detalhada no quadro 5.

Quadro 5. Rotina pré-natal na cardiopatia materna segundo a classificação da OMS

Classe da OMS I II III IV

Pré-natal

(nível de atenção) Primária Secundária Terciária ou

quaternária Quaternária

Consultas Mensais até 28 semanas,

quinzenais até 36 semanas e semanais até parto

Conforme condição materna

Ecocardiograma materno Início da gestação Trimestral

Ecocardiograma fetal Se cardiopatia congênita materna ou outra indicação clínica, entre 24 e 28 semanas

Ultrassonografia Rotina habitual Mensal

Vitalidade fetal Habitual Termo 26 semanas

Programação do parto Termo Termo. Evitar

pós-datismo Programado a termo*

Via de parto Obstétrica Obstétrica, conforme condição

materna**

Analgesia Habitual Recomendada Precoce

Expulsivo Habitual Abreviação expulsiva

Puerpério imediato Habitual Recuperação

pós-anestésica Unidade de terapia intensiva Fonte: Adaptado de Tedoldi CL, Freire C. Hipertensao arterial na gestação. Arq Bras Cardiol.

2009;93(6 Suppl.1):e159-e165.(20)

* A pacientes com descompensação clínica refratária ao tratamento otimizado, o parto é indicado independentemente da idade gestacional, geralmente, por via alta.

** Nos casos de acometimento aórtico, recomenda-se parto cesárea

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Descompensação cardiológica pode estar relacionada à hiper- volemia, à interrupção da terapia medicamentosa e a outros fatores, como anemia, infecção, atividade física excessiva, gemelidade e pré- -eclâmpsia.(6) Nesses casos, a internação é obrigatória para pesquisa de fatores desencadeantes e ajuste medicamentoso. Pacientes que permanecem em classes funcionais III/IV devem ficar internadas até o final da gravidez (recomendação IIA).(1,6,17)

Avaliação do bem-estar fetal

Recomenda-se avaliação do crescimento fetal clinicamente e por ultrasso- nografia seriada. A indicação e a periodicidade dos demais exames para avaliação do bem-estar fetal dependem da condição materna. Nos casos com mais repercussão clínica, recomendam-se Dopplerfluxometria fetal precoce (a partir da 24a/26a semana) e perfil biofísico fetal (a partir da 34a semana ou até antes, se necessário). Esses exames podem ser iniciados mais precocemente quando houver piora clínica, cianose, uso de medi- camentos (em especial, betabloqueadores, anticoagulantes e diuréticos) e na presença de restrição do crescimento fetal (recomendação IIA).(6,16,17)

Prematuridade

A prematuridade espontânea é comum em pacientes sem controle clínico adequado e as repercussões fetais podem levar a parto pre- maturo terapêutico.(6,7,13) Não se inibe trabalho de parto prematuro nem se administra corticoterapia para maturação pulmonar fetal em gestantes cardiopatas com repercussão hemodinâmica, sob o risco de descompensação clínica importante.(17)

Resolução da gestação

Nos casos de doenças mais graves (OMS classes III e IV), recomenda- -se programar o parto a partir de 37 semanas.(17)

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Em qualquer momento da gestação, diante de descompensação clínica, deve-se proceder à internação hospitalar e otimizar o trata- mento medicamentoso. Se o controle clínico materno não puder ser alcançado com todas as ferramentas terapêuticas disponíveis, será indicado parto terapêutico, qualquer que seja a idade gestacional.(1,6,17)

Parto em gestantes com cardiopatia

O parto deve ser assistido em ambiente hospitalar, com retaguarda cardiológica e de terapia intensiva. A via de parto é de indicação obstétrica na maioria dos casos. O parto espontâneo por via vaginal é o mais adequado, com analgesia precoce e abreviação do período expulsivo quando este se mostrar prolongado.(1,6,17) A abreviação do período expulsivo visa reduzir o risco de descompensação cardíaca decorrente dos puxos (com redução do retorno venoso). A cesariana está associada a mais risco de sangramento, à instabilidade hemo- dinâmica, à infecção e a fenômenos tromboembólicos(1,6,17,21 e, com relação ao parto vaginal, não apresenta vantagens quanto ao desfe- cho materno.

Constituem indicações formais de cesárea em gestantes cardio- patas situações de risco para dissecção de aorta (Marfan com envol- vimento aórtico, coarctação de aorta grave, aneurisma de aorta) e parto inadiável em pacientes sob anticoagulação oral, pelo risco de sangramento fetal(1,17) (recomendação IA). São indicações relativas:

hipertensão pulmonar grave, estenose aórtica grave, cardiopatias complexas não corrigidas, insuficiência cardíaca refratária a trata- mento clínico.(1,17) Nessas situações, permite-se parto espontâneo, desde que evolua de forma rápida, com os cuidados para evitar piora clínica (recomendação IIA).(1)

Durante o parto, está indicada monitorização cardiovascular ma- terna não invasiva. A monitorização invasiva fica reservada aos casos

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mais graves, com alto risco de instabilidade hemodinâmica.(1,17) A mo- nitorização fetal pode ser realizada de maneira intermitente em partos espontâneos sem repercussões placentárias e/ou fetais e contínua em todas as demais situações.

A pacientes com risco aumentado, bem como naquelas que fazem uso de profilaxia antitrombótica ou anticoagulação plena (próteses valvares mecânicas, fibrilação atrial crônica), recomenda-se parto pla- nejado (indução ou, ainda, cesariana eletiva, quando indicada), visan- do às melhores assistências clínica, anestésica e obstétrica.(1,17,21,22)

O emprego de anticoagulação com heparina regular ou de bai- xo peso molecular não constitui indicação de cesariana, mas sim de parto programado: a pacientes em anticoagulação profilática, reco- menda-se suspender heparina de 12 a 24 horas antes do parto; nas em uso de anticoagulação plena, recomenda-se transição para he- parina regular intravenosa 24 horas antes do parto, com interrupção durante a indução (após seis horas da interrupção da infusão, já é possível fazer anestesia com punção lombar).

No pós-parto, a anticoagulação deve ser retomada de 12 a 24 ho- ras, conforme a dose recomendada para o caso.(1,17,19)

Profilaxia antibiótica para endocardite infecciosa

É indicada antes de curetagem pós-aborto, partos vaginais e cesáreas em pacientes de moderado a alto risco para endocardite infecciosa (EI): valvopatia reumática, próteses valvares, antecedentes de EI, cardiopatia congênita cianótica complexa ou com shunts cirúrgicos sistêmicos pulmonares.(10,17,19)

Um dos protocolos possíveis é o uso de ampicilina 2 g e genta- micina 1,5 mg/kg (até 120 mg) antes do procedimento e repetição de ampicilina após seis horas (recomendação IIB).

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Analgesia e anestesia – Considerações

No trabalho de parto, a analgesia precoce e contínua visa manter a estabilidade hemodinâmica e não apenas controlar a dor.

Na cesariana, a anestesia locorregional pode ser contraindicada em casos de hipertensão pulmonar moderada ou grave, obstrução de via de saída de ventrículo esquerdo, fração de ejeção reduzida e do- ença arterial coronariana (recomendação IA).(1,17,23)

Puerpério

Alterações hemodinâmicas, aliadas a alterações da coagulação do puerpério precoce (tendência à hipercoagulabilidade), tornam essa fase a mais perigosa e passível de descompensação cardíaca.(1,11,15) O puerpério imediato deve ser seguido em unidade de terapia intensiva, com especial atenção para sinais de sobrecarga de volume, ausculta pulmonar, frequência cardíaca, diurese, pressão arterial e perdas san- guíneas.(1,6,17,19) As pacientes devem receber alta mais tardiamente, com ajuste medicamentoso adequado e retorno precoce.

Os medicamentos que agem sobre o eixo renina-angiotensina- -aldosterona (IECAs e BRAs) podem ser utilizados por nutrizes.(1,17) Na lactação, são contraindicados amiodarona e imunossupressores.

(1) Nesses casos, recomendam-se métodos mecânicos de supressão da lactação, visto que os fármacos habitualmente utilizados com essa finalidade podem elevar o risco trombótico ou de vasospasmo.(17)

Recomendações finais

• O risco de descompensação clínica e morte em mulheres porta- doras de doenças cardíacas aumenta no período gravídico-puer- peral (recomendação IA).

• Os períodos de mais probabilidade de descompensação clínica são terceiro trimestre, parto e puerpério precoce (recomendação IA).

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• Preditores de risco materno: classe funcional NYHA III ou IV, cianose, disfunção miocárdica grave, obstrução de via de saí- da do coração esquerdo, história de arritmia grave ou eventos cardíacos prévios. Além desses fatores, são preditores de risco perinatal a presença de cianose, o tabagismo e a anticoagulação materna (recomendação IA).

• Se indicada, pode ser utilizada terapêutica medicamentosa car- diovascular durante a gravidez, com exceção dos IECAs e dos an- tagonistas dos receptores de angiotensina. Anticoagulação em pa- cientes com próteses valvares mecânicas e fibrilação atrial crônica merece atenção especial no período gravídico (recomendação IA).

• A inibição de trabalho de parto prematuro em gestantes cardiopa- tas com repercussão clínica é contraindicada (recomendação IIA).

• Não é necessário antecipar o parto ou a cesárea na maioria das pacientes com cardiopatia. A cesárea é recomendável em situa- ções de risco de dissecção de aorta e a mulheres sob anticoagula- ção com varfarina em atividade. Nos outros casos, a via de parto tem indicação obstétrica (recomendação IIA).

• Recomenda-se programação do parto em mulheres com risco de descompensação ou que exijam cuidados especiais (reco- mendação IA).

Referências

1. Regitz-Zagrosek V, Roos-Hesselink JW, Bauersachs J, Blomström-Lundqvist C, Cífková R, De Bonis M, Iung B, Johnson MR, Kintscher U, Kranke P, Lang IM, Morais J, Pieper PG, Presbitero P, Price S, Rosano GMC, Seeland U, Simoncini T, Swan L, Warnes CA; ESC Scientific Document Group. 2018 ESC Guidelines for the management of cardiovascular diseases during pregnancy. Eur Heart J. 2018 Sep 7;39(34):3165-241.

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