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A internacionalização do P&D em empresas multinacionais e a formação de empresas de base tecnológica no Brasil

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A INTERNACIONALIZAÇÃO DO P&D EM EMPRESAS MULTINACIONAIS E A FORMAÇÃO DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA NO BRASIL

Antonio Luiz Corrêa de Mattos Barretto

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Produção da Universidade Federal de São Carlos, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Engenharia da Produção.

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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária da UFSCar

B273ip

Barretto, Antonio Luiz Corrêa de Mattos.

A internacionalização do P&D em empresas multinacionais e a formação de empresas de base tecnológica no Brasil / Antonio Luiz Corrêa de Mattos Barreto. -- São Carlos : UFSCar, 2008.

82 f.

Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São Carlos, 2007.

1. Gestão de empresa. 2. Empresas de base tecnológica. 3. Empresas multinacionais. I. Título.

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ii Dedico esse trabalho a minha família e

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iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que me acompanharam nessa jornada e que, cada um ao seu jeito, me auxiliaram na realização deste trabalho.

A Deus, por mais esta grande conquista em minha vida.

A minha família. A meus pais pelos valiosos valores de vida que me ensinaram e por serem meu porto seguro.

Aos velhos e aos novos amigos. Luciana, Marina, Luciano, Ana Elisa, Rodrigo, Selene, Leila, Ivo, Fábio, Rafael, Vanderléia, Tato, Rafão, Larissa, pessoal do GETEC e da gradução pelo companheirismo.

Ao meu orientador, Marcelo Pinho, pelo seu profundo conhecimento teórico e valores. Admiro a integridade com que conduz seus estudos e exerce suas atividades acadêmicas e pela sua habilidade em transmitir o conhecimento.

Aos professores da banca de qualificação, Rogério Gomes e Mauro Rocha Côrtes (Caju), por fazerem parte dessa longa caminhada sempre contribuindo para minha evolução.

Agradeço pelo profissionalismo e excelência do Programa de Pós Graduação da UFSCar. Aos professores dedicados, altamente qualificados e sempre atenciosos. Ao pessoal da secretaria da Pós, em especial a Raquel, pela disposição em auxiliar os alunos, pela competência e simpatia. Agradeço pela dedicação do Caju dedicada ao departamento de Engenharia de Produção e ao Alceu na coordenação do Programa de Pós-Graduação por tornarem a UFSCar referência nessa área. Agradeço a professora Ana Lúcia Torkomian pelos cuidados com os resultados científicos e tecnológicos da Universidade.

A minha paixão, Marcela, pelo companheirismo, amor e compreensão.

Agradeço ainda à Fundação CAPES pelo apoio financeiro concedido a mim nos primeiros 12 meses de trabalho.

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iv

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1

1. A ATUAÇÃO TECNOLÓGICA EXTERNA DAS EMPRESAS MULTINACIONAIS ... 7

1.1. PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO TECNOLÓGICA... 7

1.2. COMPORTAMENTO TECNOLÓGICO TRADICIONAL E AS FORÇAS DESCENTRALIZADORAS DE P&D ... 8

1.3. REESTRUTURAÇÃO ORGANIZACIONAL... 12

1.4. A DESCENTRALIZAÇÃO DA ATIVIDADE DE P&D... 15

1.5. O PAPEL DO INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO... 19

1.6. FORÇAS CENTRALIZADORAS VERSUS DESCENTRALIZADORAS... 22

1.7. FUNÇÕES DOS LABORATÓRIOS DE P&D... 23

1.8. LIMITES DO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO TECNOLÓGICA... 24

1.9. PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO E O CASO BRASILEIRO... 30

1.10. A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA ATRAÇÃO DE ATIVIDADES DE P&D... 34

1.11. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 38

2. A FORMAÇÃO DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA E O PROCESSO DE SPIN-OFF... 40

2.1. EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA... 40

2.2. TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA... 43

2.3. OS SPIN-OFFS E A FORMAÇÃO DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA... 45

2.3.1. OS SPIN-OFFS DE UNIVERSIDADES... 48

2.3.2. OS SPIN-OFFS CORPORATIVOS... 51

2.3.2.1. GESTÃO DE SPIN-OFFS PATROCINADOS... 54

2.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 57

3. ANÁLISE EMPÍRICA DOS SPIN-OFFS TECNOLÓGICO DE MULTINACIONAIS NO BRASIL..59

3.1. METODOLOGIA... 59

3.2. CARACTERIZAÇÃO DA BASE DE DADOS SOBRE EBTS... 60

3.3. RESULTADOS... 61

3.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 72

4. CONCLUSÃO... 74

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v

ÍNDICE DE SIGLAS

CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas DPP – Diretório da Pesquisa Privada

EBTs – Empresas de Base Tecnológica F&A – Fusões e Aquisições

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDE – Investimento Direto Estrangeiro

EMNs – Empresas Multinacionais NICs – Newly Industrializing Countries P&D – Pesquisa e Desenvolvimento PDs – Países Desenvolvidos

PEDs – Países em Desenvolvimento

PINTEC – Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica RICYT – Rede Ibero-americana de Ciência e Tecnologia SNI – Sistema Nacional de Inovação

SNA – Sistema Nacional de Aprendizado TCT – Teoria dos Custos de Transação

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vi

LISTA DE GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS

Lista de Gráficos

Gráfico 2.1 - Gastos em P&D por setor de execução em 2004* ...50

Lista de Quadros Quadro 2.1 – Identificação das Empresas de Base Tecnológica ...41

Lista de Tabelas Tabela 1.1 – Gasto em P&D de subsidiárias estadunidenses (em milhões de US$) ...21

Tabela 3.1 – Caracterização da origem das EBTs pesquisadas...61

Tabela 3.2 – Caracterização dos tipos de origem das EBTs...62

Tabela 3.3 – Distribuição Setorial das EBTs segundo origens selecionadas ...63

Tabela 3.4 – Distribuição dos Spin-offs por localização geográfica...64

Tabela 3.5 – Distribuição das EBTs por origem e por porte ...65

Tabela 3.6 – Produtividade dos spin-offs por porte (R$ mil/ pessoa ocupada)...66

Tabela 3.7 – EBTs por origem dos fundadores segundo vários recortes analíticos ...67

Tabela 3.8 – Média e Mediana da Taxa de Crescimento Real do Faturamento ...69

Tabela 3.9 – Características do Produto das EBTs por origem dos fundadores...70

Tabela 3.10 – Média e Mediana do Market share dos spin-offs por origem...71

Tabela 3.11 – Principais Clientes por natureza de capital...72

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RESUMO

Pretende-se avaliar, neste trabalho, alguns dos efeitos da mundialização das empresas multinacionais presentes na economia brasileira. A partir da década de 80 as empresas multinacionais passaram a atuar de forma diferenciada em relação à produção internacional. Essa alteração está evidenciada no aumento do investimento direto estrangeiro e em mudanças na sua forma de organização. A empresa passa a atuar como um grupo – maior divisão internacional do trabalho – em base mundial, integrando funcionalmente suas diversas operações forâneas e a de seus fornecedores. Essa atuação diferenciada ganha forma também nas atividades tecnológicas (P&D). Contudo, os estudos que contemplam essa temática revelam a concentração geográfica desses investimentos, especialmente em economias desenvolvidas. A preocupação reside em entender a contribuição das atividades das multinacionais em uma economia como a brasileira – que configura um dos principais receptores de Investimento Direto Estrangeiro dentre os países em desenvolvimento – através da formação de spin-offs de base tecnológica. As especificidades dessas empresas na economia brasileira – como sua organização fonte (parent organization), diferenciais de desempenho, e formas de atuação no cenário econômico nacional e internacional são relevantes para o seu fomento e desenvolvimento. O estudo foi baseado na análise de uma base de dados de 102 EBTs nacionais. A análise empírica mostrou que existem algumas características que estão presentes em todas as EBTs independentemente da origem, como a concentração setorial. Porém, algumas diferenças são signficativas e não devem ser negligenciadas. EBTs oriundas de outras empresas destacam-se em indicadores econômicos, enquanto aquelas advindas de universidades apresentam melhor desempenho tecnológicos. As EBTs oriundas de multinacionais apresentam singularidades, mas possuem peso relativamente menor nos indicadores econômicos das EBTs oriundas de outra empresas.

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viii

ABSTRACT

This dissertation aims to evaluate technology spin-offs Brazilian economy in the context of internationalization of multinational companies. Since 1980, the multinationals modify its international production strategies stressing efforts in R&D and other high value-added activities and affiliated companies gain a more important role at the international strategy of the group. As an indirect result of the technological role of the affiliated in national economy technology spin-offs are an important subject that need to be more attention. This work analyses the chacteristics of spin-offs from different origins focusing on affiliated as the parent organization.

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1

INTRODUÇÃO

A atual estrutura da indústria brasileira, com participação crescente do capital estrangeiro (especialmente em setores intensivos em tecnologia), confere às multinacionais grande importância dentro do Sistema Nacional de Inovação (SNI) brasileiro. Ao empreender atividades intensivas em P&D, as multinacionais formam mão-de-obra qualificada, dão acesso a técnicos às tecnologias do grupo e promovem a formação de spin-offs em nichos tecnológicos1 brasileiros.

A formação de Empresas de Base Tecnológica (EBTs) através de processos de spin-offs constitui um importante efeito de transbordamento das atividades das grandes empresas transnacionais nos países desenvolvidos (PDs), conforme mostra o estudo empírico de Dhalstrand (1997) na Suécia. Este efeito é indicativo de um ambiente propício à difusão e geração de conhecimento, ou seja, reflexo da existência de Sistemas Nacionais de Inovação maduros nessas economias com fortes interações entre seus agentes, ambientes regulatório e financeiro favoráveis à inovação, força tecnológica dos atores nacionais etc. As atividades tecnológicas destas empresas são atraídas pelo SNI e quando instaladas o reforçam sobremaneira.

Os efeitos dos spillovers tecnológicos nas empresas industriais dos países receptores de investimentos entrangeiros não podem ser negligenciados, apesar da distinta intensidade com que a internacionalização das atividades de P&D ocorre entre setores e empresas. A possibilidade da ocorrência de spillovers gerados quando da transferência de tecnologias da matriz para a subsidiária ou propiciados pelo recebimento de atribuições de novas competências à filial e a seus fornecedores locais, é um dos motivos pelos quais muitos países passaram a criar agências nacionais encarregadas de atrair esses investimentos.

Entre os principais canais difusores de spillovers tecnológicos está o investimento direto estrangeiro, que, no caso brasileiro, desempenhou um importante papel na reestrututuração das empresas instaladas no país. É comum dividir a intensidade da presença das empresas multinacionais no Brasil em dois momentos. No primeiro, segunda metade dos anos 1950, a vinda das EMNs estava atrelada à ampliação da base produtiva do país em conjunto com o capital privado nacional e o governo. No segundo movimento, principalmente

1 Os nichos tecnológicos consistem em segmentos tecnológicos bem delimitados e, geralmente, de extensão

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2 nos anos 1990, a vinda das EMNs teve um aspecto mais ligado a mudanças na estrutura patrimonial do que expansão produtiva propriamente dita (Laplane & Sarti, 1999).

Nesta última etapa, o ingresso de investimento direto na economia brasileira se deveu, em sua maior parte, aos processos de privatização e de fusões e aquisições de ativos privados. O resultado imediato na estrutura e no perfil da indústria foi o crescente peso das subsidiárias brasileiras de empresas multinacionais, inclusive como fonte supridoras de modernização tecnológica.

O estudo de Moreira (1999: 11) mostra que a correlação entre o crescimento da produtividade e a participação do capital estrangeiro é positiva e estatisticamente significativa. 71,6% da receita operacional líquida (ROL) das firmas estrangeiras em 1997 estavam concentrados nos setores intensivos em capital, cujo crescimento da produtividade no período recente ficou muito acima da média da indústria.

A mudança de regime comercial fez com que a decisão de investir na indústria do país passasse primordialmente por uma avaliação das vantagens locacionais, ao mesmo tempo que criou incentivos para que as empresas estrangeiras, já instaladas ou não, buscassem escalas competitivas e produtos, processos e produtividade mais próximos dos parâmetros internacionais (MOREIRA, 1999: 39).

Os trabalhos de Zucoloto & Toneto (2005) e de Furtado & Quadros (2005) chegam a uma conclusão diferente. Controlando-se os viéses de porte e setor, o controle estrangeiro deprime o esforço tecnológico no Brasil. “A propriedade estrangeira do capital pode se constituir em fator limitante dos esforços internos de P&D (FURTADO & QUADROS, 2005: 83)”.

Apesar de alguns estudos comprovarem a atuação dessas empresas tem propiciado ao Brasil lograr parcelas crescentes de investimentos – incluindo os tecnológicos – realizados pelas empresas multinacionais, a deficiência do SNI brasileiro e o hiato tecnológico em setores de maior intensidade tecnológica colocam dúvidas sobre a extensão do fenômeno da internacionalização tecnológica e de se seus benefícios para a economia no longo prazo.

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3 Inovação2 acaba por conferir grande importância à atuação das EMNs como fonte de progresso técnico.

Com efeito o objetivo dessa dissertação de mestrado não é avaliar as distintas e polêmicas interpretações acerca da atuação das empresas multinacionais no país. O que este trabalho pretende é apontar e entender as características da atuação das empresas de base tecnológica formadas por empreendedores oriundos de empresas multinacionais. Dito de outra forma busca-se avaliar se o desempenho das EBTs é beneficiado pela facilidade de acesso e pela experiência gerencial acumulada por fundadores com vivência profissional prévia em EMNs.

Para isso, o trabalho de análise está baseado no estudo de uma amostra composta por 963 empresas de base tecnológica assim distribuídas geograficamente: 62 são paulistas, 20 da Região Sul, 8 da Região Nordeste e seis de outros estados. Vale ressaltar que a amostra não pretende ser representativa da distribuição geográfica do conjunto de EBTs brasileiras, reconhecendo-se uma representação acima da real de EBTs paulistas (PINHO et al, 2005). Essas empresas foram selecionadas a partir da metodologia adotada no âmbito do Diretório da Pesquisa Privada (DPP/FINEP). Dessa base de dados foram extraídas as informações mais relevantes para o objeto desta dissertação e cujas dimensões principais serão apresentadas no capítulo 3.

Além desta introdução, a presente dissertação está estruturada em quatro capítulos. No primeiro, serão descritos os principais elementos envolvidos nas razões, interpretações, efeitos e implicações econômicas da internacionalização das empresas multinacionais, dando enfoque à descentralização das atividades tecnológicas. Para isso, serão mostradas as formas tradicionais e as novas práticas de internacionalização das atividades de pesquisa e desenvolvimento e em que medida elas propiciam processos de up-grade tecnológico nas empresas industriais locais. No final deste capítulo, é dado destaque ao processo recente de ingresso de investimentos no Brasil. O segundo capítulo procura descrever o processo de formação de novas empresas principalmente daquelas que possuem características que as distinguem como empresas de base tecnológica e spin-offs. Destaca também os principais mecanismos que permitem a transferência de tecnologia e o

2 Para Albuquerque (1998, p. 77-80) o SNI brasileiro é imaturo, pois o país não conseguiu transformar sua

infraestrutura de ciência e tecnologia em um sistema capaz de endogeneizar o progresso tecnológico. As atividades tecnológicas internas concentram-se basicamente, na adaptação, imitação e aperfeiçoamentos incrementais de tecnologias estrangeiras.

3 A base de dados originalmente possui 102 EBTs. Em virtude do foco da disertação esse número caiu para 96

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5

Objetivo

O foco central do trabalho é estudar os spin-offs corporativos na economia brasileira resultantes da atuação das empresas multinacionais, procurando entender melhor as características das empresas assim formadas. Como, ao longo da industrialização brasileira, a formação de elevada capacidade produtiva não foi acompanhada de desenvolvimento tecnológico, a fragilidade do Sistema Nacional de Inovação acaba por conferir grande importância à atuação das EMNs como fonte de progresso técnico.

Procedimentos Metodológicos

A presente dissertação se baseará (i) na revisão da literatura e (ii) na análise de uma bases de dados sobre EBTs. A revisão bibliográfica busca contemplar três temas amplos: atuação tecnológica internacional das multinacionais, a formação de spin-offs e as EBTs. A pesquisa empírica dessa dissertação vale-se de uma base de dados realizada no âmbito do Diretório da Pesquisa Privada (DPP/FINEP) entre 2003 e 2004.

A literatura sobre a descentralização da P&D realizada pelas multinacionais identifica razões e dificuldades para a alocação de uma atividade imersa em altos riscos em outras localidades além do país de origem da matriz. Avalia, também, as funções atribuídas aos laboratórios de P&D externos e conseqüentemente o papel da subsidiária para o grupo empresarial. Soma-se a esta literatura a formação de redes globais de produção, marcadas pela estruturação de nexos de cooperação intrafirma e inter-firmas. Evidencia assim a importância da subcontratação para a dinâmica do modelo e para as EBTs que podem entrar nas redes internacionais das multinacionais como empresas subcontratadas.

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6

Hipóteses

O trabalho apóia-se em duas hipóteses:

1) As empresas multinacionais realizam no Brasil um esforço de desenvolvimento e capacitação tecnológica modesto, o que repercute em uma geração de spin-offs pouco significativa.

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1. A ATUAÇÃO TECNOLÓGICA EXTERNA DAS EMPRESAS MULTINACIONAIS

O presente capítulo tem como objetivo apresentar elementos da internacionalização das atividades produtivas das empresas multinacionais, com enfoque às suas atividades tecnológicas. Apresenta-se nas primeiras sessões os fatores que contribuem para impulsionar o movimento de internacionalização tecnológica nas últimas décadas. Diante da constatação desse movimento em países que antes não faziam parte do círculo alvo de investimentos tecnológicos, alguns autores passaram a assumir, com base nas características dos países receptores, que este movimento seria consistente e capaz integrar diferentes competências independentemente da localização geográfica. Por outro lado, as evidências empíricas apontadas por outro grupo de autores colocam ressalvas sobre a intensidade e a qualidade desses investimentos para o novo grupo de países receptores. Por fim, apresenta-se essa discussão para o contexto brasileiro, destacando os seus fatores de atração e a principal forma de realização dos investimentos pelas EMNs.

1.1.Processo de internacionalização tecnológica

A internacionalização tecnológica4 não é um fenômeno recente, mas ganha novos impulsos, alterando-se qualitativamente e intensificando-se nos últimos vinte anos. A tecnologia tornou-se elemento central na nova dinâmica capitalista, gerando muitos estudos sobre o principal gerador e difusor tecnológico, as empresas multinacionais.

Estes estudos buscam compreender a atuação tecnológica internacional destas empresas diante de um novo contexto que se apresenta desde os anos 1980. Os dois principais fatores que caracterizam um novo ambiente são: i) a intensificação da concorrência e ii) o surgimento de novas tecnologias.

A abertura dos mercados nacionais deslocou a concorrência antes travada em diversos cenários locais para o mundial. A concorrência em âmbito mundial leva a uma visão diferenciada de como as multinacionais devem atuar internacionalmente para enfrentá-la, levando-as a um processo de reestruturação organizacional.

4 Entende-se, neste trabalho, o processo de internacionalização tecnológica como a alocação externa de

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8 Por sua vez, as novas tecnologias são marcadas pela maior aproximação com a ciência e pela multidisciplinaridade, imprimindo-lhes maior complexidade. Assim, o termo tecnologia passa a possuir maior conteúdo científico e informacional e um caráter desincorporado a bens de capital.

Estes dois fatores convergem em diferentes forças que levam as multinacionais a atuarem de forma mais estratégica internacionalmente, e assim, organizarem-se mundialmente como um grupo coeso para enfrentar de maneira sistêmica a concorrência mundial e guiada pela introdução de inovações, e as novas demandas tecnológicas.

1.2. Comportamento tecnológico tradicional e as forças descentralizadoras de P&D

Tradicionalmente, a alocação externa de P&D, consiste em uma estratégia competitiva local. Neste contexto, a decisão de investir fora do país de origem numa atividade específica como a de P&D é mais guiada por forças do lado da demanda de mercados consumidores expressivos, ainda que num primeiro momento em um ambiente de predominância das forças centralizadoras. A atividade adaptativa desses laboratórios externos implica em extensão e efeitos limitados, para a maioria dos países receptores. Essa apreciação está embasada principalmente na forma organizacional das multinacionais e nas características da concorrência vigente, refletindo no papel concebido para as subsidiárias e seus laboratórios de P&D no exterior.

Dentro deste padrão tradicional a P&D externa destina-se, principalmente, para adaptação de produtos e processos às condições locais. Somente no caso de filiais presentes em mercados muito avançados em um campo tecnológico realizam-se funções de maior relevância para o grupo, como o (co)desenvolvimento de produtos e o acompanhamento tecnológico. Pearce5 (1989 citado por Chesnais, 1996: 150) aponta a existência de três tipos de laboratórios nos anos 1970:

a) Laboratório “de apoio”: função de adaptação de processos e produtos às condições locais da economia – recursos e preferências. Em algumas filiais localizadas em países desenvolvidos atribuía-se também a função de acompanhamento tecnológico do ambiente inovativo local;

b) Laboratório especializado: considerado raro naquele período, atuaria em programas tecnológicos do grupo, ou seja, dentro de uma estratégia global de pesquisa e centralização dos conhecimentos;

5 É preciso ter em mente que o estudo realizado por Pearce em 1989 direciona seu olhar para a atuação das filiais

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9 c) Grande laboratório relativamente autônomo: situado junto a uma filial importante,

localizada principalmente em um país desenvolvido, o laboratório recebe a incumbência da concepção, produção e comercialização de um produto(s) – mandato mundial. Esse laboratório é importante também para a atividade de acompanhamento tecnológico no país que está localizado, assim como o laboratório anterior.

Nesse sentido, as estratégias de deslocalização da P&D concentravam-se nos países da Tríade (Estados Unidos, Europa e Japão) e se caracterizavam pela “invasão recíproca” entre países desenvolvidos com objetivo de ter contato direto com o Sistema Nacional de Inovação e com os mercados concorrentes possuidores de demandas mais sofisticadas. Esses investimentos externos poderiam ocorrer pelo estabelecimento de uma unidade de P&D junto a uma filial importante, pelos acordos de cooperação ou pelas alianças estratégicas com a intenção de acompanhar o desenvolvimento tecnológico de outros mercados. Um exemplo de como o processo de “invasão recíproca” operava é dado por Chesnais (1996) ao descrever o comportamento da indústria farmacêutica estadunidense6. Segundo o autor, as principais características dessa internacionalização, entendida como tradicional, diziam respeito à “sucção de tecnologias” realizada nos países triádicos e a adaptação dos produtos para os mercados locais. A internalização no laboratório centralizado dessas atividades externas era o quanto bastava para assegurar a posição no mercado.

Do ponto de vista da intensidade inovativa e tecnológica, as atividades de adaptação tecnológica geram baixa intensidade e efeitos limitados para as economias receptoras desses investimentos, ainda que sejam estratégicas para a multinacional, por valorizar as atividades tecnológicas realizadas centralmente. O acompanhamento tecnológico das grandes empresas multinacionais busca a “internalização de externalidades”. Estas são entendidas como “(...) as infra-estruturas e serviços públicos, o nível de qualificação da mão de obra, por fim a qualidade do sistema de pesquisa (centros de pesquisa públicos e universitários) e das infra-estruturas científicas” (CHESNAIS, 1996: 122-123). Essa atividade realiza-se através de acordos de cooperação assimétricos e aquisição de empresas de alta tecnologia, representando, muitas vezes, ruptura no desenvolvimento local da tecnologia com a internalização desta nas atividades centralizadas da multinacional. Tanto as atividades adaptativas quanto as de acompanhamento tecnológico garantiam e ainda garantem vantagens competitivas às multinacionais, suficientes para que mantenham suas posições de liderança.

6 A deslocalização de atividades tecnológicas dessa indústria possui um caráter peculiar em face da obrigação

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10 Assume-se que o comportamento tradicional é condizente com a forma organizacional7 predominantemente adotada pelas empresas industriais multinacionais até o último quarto de século, em que as forças para aprofundar a internacionalização das atividades tecnológicas eram menores. As grandes empresas internacionalizadas são denominadas nesse modelo como multidomésticas por entender que as subsidiárias estrangeiras constituíam réplicas em miniatura da matriz e voltavam-se para os mercados locais, seja para buscar ativos estratégicos, mercados ou insumos.

No processo de industrialização dos países em desenvolvimento, as multinacionais, dentro desse formato organizacional, somavam em capacidade produtiva às economias nacionais, uma vez que as atividades tecnológicas estavam concentradas na sede. Nesse modelo, a maior parte dessas subsidiárias não possuía um papel tecnológico ativo para agregar ao pool de conhecimentos do grupo.

Os processos de industrialização pesada pelos quais passaram os países em desenvolvimento da América Latina ocorreram em um momento de maturidade nas principais trajetórias tecnológicas em desenvolvimento, restando espaço para inovações menores – incrementais – de processo e produto8. A apropriação privada das tecnologias impossibilitou o acesso de grande parcela deste ativo necessário à industrialização pesada na periferia, exceto naquelas exploradas por firmas estrangeiras. “A tecnologia desenvolvida e apropriada no exterior, pois, singularizou as experiências de industrialização tardia” (CANUTO, 1992: 173-175).

Forças Centralizadoras

A multinacional centraliza a P&D em face da importância do mercado nacional da sede corporativa. O “enraizamento” das atividades inovativas do grupo nesse mercado explica-se, portanto, por este ser desenvolvido e, assim, capaz de fornecer uma ampla base de recursos técnicos, com os quais a empresa desenvolve suas capacidades tecnológicas,

7 O paradigma organizacional era o da corporação moderna de Chandler. As empresas neste modelo possuíam

grandes dimensões e eram altamente verticalizadas. Apresentavam uma estrutura dividida em vários departamentos responsáveis por uma área de negócio específica – financeira, propaganda, etc. – para lhes conferir maior flexibilidade operacional e assim maior capacidade de planejamento. A internacionalização das empresas era marcada pelo estabelecimento de uma réplica em miniatura da matriz – nos países em desenvolvimento isso era feito geralmente com um aporte relativamente pequeno de capital (uma planta produtiva), sendo que as funções nobres (que agregam maior valor) eram retidas nas matrizes.

8 A caracterização do fluxo internacional de tecnologia das empresas internacionais foi feito no seminal artigo de

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11 produtivas e comerciais e por constituir sua principal área de atuação comercial (PEARCE, 1999; GOMES, 2003: 64-65)

O sigilo e segurança nas atividades inovativas favorecem a centralização destas atividades na área de proteção do governo (por exemplo, através de leis de propriedade industrial) do país-sede da empresa. Permite também uma coordenação mais forte. O controle e a coordenação eficientes contribuem para evitar a divulgação indevida de informações técnico-científicas ou a perda de foco nas pesquisas geograficamente dispersas (DUNNING, 1994; PEARCE, 1999; GOMES, 2003: 65). A distribuição espacial da P&D requer elevados recursos financeiros, habilidades organizacionais e gerenciais.

O custo de integração e a complexidade do intercâmbio de informações e conhecimentos entre os laboratórios de P&D atuam também como um forte fator centralizador. A natureza tácita de parte do conhecimento tecnológico impede a transferência perfeita dos desenvolvimentos realizados externamente e as características local-específicas também não estimulam a prática da transferência (CANUTO, 1992: 176). A integração da P&D externa aos contextos locais, desenvolvendo vínculos com instituições governamentais de financiamento, fornecedores, universidades e centros de pesquisa públicos e privados, também requer grandes esforços e habilidades.

As economias de escala e a “massa crítica” dos laboratórios são fatores centralizadores que estão ligados ao elevado custo e ao resultado incerto das atividades inovativas. O tamanho da empresa e a necessidade de um grande volume de recursos atuam como fatores limitadores à descentralização, assim como a indivisibilidade de equipamentos e instalações de pesquisa e pessoal qualificado (PEARCE, 1999; PAOLI e GUERCINI, 1997).

A preponderância desses fatores leva à pequena extensão da alocação externa da P&D e com funções diferentes do laboratório central. A necessidade de adaptação às condições locais de produtos e processos seria um fator para a localização de laboratórios em mercados externos. Nesta função as inovações são incrementais ou marginais. Os mercados mais expressivos em determinados campos tecnológicos são alvo de laboratórios de P&D (junto a uma filial importante) para o acompanhamento tecnológico.

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1.3. Reestruturação organizacional

A dificuldade das grandes empresas americanas do setor eletroeletrônico em responder à elevação na complexidade das exigências da competitividade gerou dúvidas em torno do modelo vigente. As empresas eletroeletrônicas americanas, por estarem perdendo seu poder relativo no oligopólio mundial, foram as pioneiras na formulação de modelos novos, mais flexíveis e mais dinâmicos de organização da produção industrial, os quais se aproximam do conceito de globalização sistêmica9 proposto por Ernst (1997). A visão apontada agora – de descentralização – apóia-se no conceito de empresas em rede, em um contexto de novas tecnologias e de concorrência acirrada.

Uma das características importantes que diferencia o período anterior, em que prevaleciam empresas multidomésticas, do recente, é alteração na intensidade e na abrangência espacial da concorrência. A concorrência, além de ficar mais intensa com o fortalecimento das empresas asiáticas e européias, ganha dimensão global, o que significa que as empresas competem umas com as outras em base mundial, com a posição em cada país afetando a posição competitiva global do grupo (QUEIROZ, 2001: 2).

Uma nova forma de organização da produção internacional somente se mostrou viável em face da emergência de novas tecnologias – microeletrônica e as demais tecnologias da informação – que permitiram a comunicação instantânea (controle e coordenação) entre as unidades independentemente de onde estão localizadas e o maior fracionamento da cadeia de valor.

As estratégias de integração vertical mostraram-se inconsistentes com o novo contexto da economia mundial pós 1980. A lógica da aparente expansão inexorável das estruturas internas das empresas desvaneceu, abrindo espaço para o incremento das relações com economias externas criadas pela interação entre empresas do setor (STURGEON, 1997).

O acesso aos mercados e a redução de custos são elementos importantes que agora precisam ser conciliados com outros fatores capazes de enfrentar o novo ambiente colocado com a globalização: maior flexibilidade operacional (organizacional e geográfica)

9 “Systemic globalization implies that a company attempts to network its operations and inter-firm relationships

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13 devido à compressão da velocidade para o mercado (introdução rápida dos produtos no mercado mundial com a redução do ciclo de vida dos produtos); ao aprendizado e aquisição de capacidades externas especializadas; e uma mudança de estratégias de penetração para as de estabelecimento em mercados emergentes (ERNST, 1997).

O surgimento dessa nova forma organizacional está relacionado com os setores altamente intensivos em tecnologia, nos quais as empresas vinham sofrendo contínua pressão de excesso de capacidade, guerra de preços e compressão dos lucros. Outros setores, incluindo os menos dinâmicos tecnologicamente, parecem perseguir também formas de acesso ao mercado mundial através de estratégias descentralizadoras e de terceirização. A rede de produção internacional constitui uma forma singular de organização de transações econômicas.

A reestruturação organizacional contém como característica principal a segmentação de etapas da cadeia de produção, tecnologicamente possíveis e espacialmente distribuídas, regional e globalmente, mas integradas organizacionalmente através de sistemas de gestão e controle (ENCISO, 2005: 9). A resposta das empresas à volatilidade do mercado foi a externalização produtiva (desverticalização), o outsourcing (aquisição de serviços de manufatura) e focalização nas atividades intensivas em conhecimento que agregam mais valor no interior da rede corporativa - desverticalização. A contrapartida da externalização de diversas funções é a retenção de funções corporativas de maior valor agregado no interior da rede da multinacional, o que em geral inclui muitas atividades de P&D, especialmente aquelas relacionadas à oferta de novos produtos (GOMES, 2000: 109).

O encurtamento do ciclo de vida dos produtos constitui um dos principais fatores que forçaram as grandes empresas industriais a desinvestirem nas áreas em que fornecedores poderiam ser mais eficientes (principalmente nos segmentos produtivos). A necessidade de vultosos investimentos em P&D para introduzir constantemente novos produtos implicou na necessidade de focalização nessas atividades e em outros ativos complementares (marca, canais de distribuição etc.). E em grande medida é esta elevada capacidade inovativa e financeira que as mantém no mercado.

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14 política apresenta duas outras importantes vantagens para a empresa que transfere sua capacidade produtiva. A primeira é a disponibilização de uma fonte suplementar de recursos, que se transforma em um importante mecanismo de financiamento da pesquisa inovativa, necessária à luta competitiva e à própria sobrevivência no mercado. A segunda vantagem é o aumento da flexibilidade organizacional e geográfica decorrente do enxugamento da estrutura empresarial e da maior maleabilidade resultante, facilitando a busca global por novos ativos (GOMES, 2003: 40).

A transferência de capacidade produtiva se destina – ou todas aquelas funções que não forem estratégicas para a manutenção da posição no mercado – para empresas especializadas em sub-segmentos produtivos10, altamente capacitadas que atendem mais de uma empresa do setor e assim, conseguem atuar eficientemente no mercado.

Fornecedores, subcontratadas e pequenas e médias empresas suprem de forma barata, flexível e rápida recursos para uma variedade de insumos produtivos. A relação das empresas multinacionais com essas empresas fornecedoras de serviços de manufatura11 se realiza através de acordos de licença, contratos de gerenciamento, subcontratos e contratos de acordos de produção e remessa de bens. Estas operações caracterizam uma complexa rede inter-firmas de produção12.

As redes de produção internacional tendem a atuar em áreas concentradas espacialmente e, assim, formam economias externas, geralmente em mercados emergentes (notadamente os países asiáticos conhecidos como Newly Industrializing Countries), voltadas ao suprimento das grandes empresas. Essas macro-regiões externas aglomeram diversas empresas que se especializam em determinados segmentos da cadeia produtiva.

Economias externas são criadas quando uma empresa terceiriza ou subcontrata uma atividade antes desenvolvida internamente pela multinacional. “As ligações externas criadas pelas relações de contratação engendram economias de aglomeração que tendem a ser alocadas em distritos industriais específicos ao setor” (STURGEON 1997b citado por GOUVEIA, 2004: 62). Enciso (2005: 104) aponta a importância de encadeamentos à

10 Outras funções também estão sendo externalizadas como distribuição, logística e algumas funções de suporte. 11 A subcontratação constitui um tema altamente relevante para países em desenvolvimento por constituir uma

forma de inserção no mercado mundial com conseqüentes implicações para a formulação de uma política industrial e de ciência e tecnologia. Este assunto e seus desdobramentos vêm sendo abordados nos trabalhos recentes de Sturgeon. Este tema foge do escopo do objetivo do presente trabalho.

12 “Inter-firm production networks are an important feature of the shift to systemic globalization; indeed, firms

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15 montante e à jusante da cadeia do segmento eletrônico com a atração em momentos e intensidade diferentes de novas empresas fornecedoras e compradores externos para a formação dos clusters industriais de Hong Kong e Taiwan.

Sturgeon (1997) sustenta que o estabelecimento das redes gera um canal de transferência de aprendizado e de tecnologia entre a multinacional e as regiões receptoras de investimentos, em ambas as direções. Este fato fornece a essas regiões a habilidade de reconfiguração dos elementos das funções da produção de acordo com a dinâmica das exigências tecnológicas e o surgimento de novos mercados.

Essa nova configuração organizacional impulsionaria um processo evolutivo de subsidiárias e fornecedores em vista da necessidade do acompanhamento tecnológico das demandas de seus clientes. Essa argumentação está baseada nas economias asiáticas e é de especial interesse para os demais países em desenvolvimento. Freeman e Hagedoorn (1994 citado por HAGEDOORN, 1994: 18) assumem a construção de complexas redes internas de P&D internacional e departamentos de engenharia, mas fazem a ressalva de que estas redes possuem um alcance bem menos global e o mercado de origem sendo mais relevante do que é assumido.

No caso de migração de atividades mais intensivas em conhecimento (recursos humanos, marketing, design, desenvolvimento de produto) para países em desenvolvimento ter-se-ia como resultado o aprimoramento do sistema produtivo doméstico. Este aprimoramento fornece condições mais vantajosas de inserção no mercado internacional à indústria nacional, sendo capaz de promover o desenvolvimento econômico da região, se este processo for acompanhado por políticas públicas específicas. Esses atores – multinacionais e suas filiais e diversos fornecedores – se integrariam, então, em uma complexa rede de intenso fluxo de produtos e informações formando uma rede de produção global. Esta compreende as redes inter-firmas, como já mencionado, e intra-firma.

1.4. A descentralização da atividade de P&D

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16 elevado da P&D e mostram-se importantes para as empresas manterem suas posições competitivas. Neste sentido, forças contrárias à centralização compensam, até certo nível, muitas das forças centralizadoras das atividades inovativas.

O modelo organizacional de empresas em rede permite a adoção de um comportamento tecnológico internacional mais pró-ativo, realizando pesquisa pré-competitiva e desenvolvimento de novos produtos através da partilha de informações tecnológicas entre as unidades de P&D integradas internacionalmente. Nesta visão, a estratégia descentralizadora da P&D evidencia o papel dos fatores supply-side. O aprofundamento da internacionalização é acompanhado por uma mudança qualitativa no papel das atividades tecnológicas das subsidiárias. As transnacionais fazem P&D externamente não somente para explorar todo o potencial de suas próprias tecnologias e amortizar os elevados gastos em pesquisa, mas crescentemente para adquirir novos conhecimentos e capacidades (QUEIROZ, 2001). A descentralização dos laboratórios de P&D é entendida a partir de uma forte mudança nas funções corporativas das multinacionais, na direção de sustentar a vitalidade e originalidade do núcleo básico de pesquisa (GOMES 2003: 119).

A P&D externa não está mais voltada estritamente para os mercados locais. Ela precisa, agora, ser capaz de internalizar os transbordamentos locais e disseminá-los para todo o grupo, contribuindo para o portfolio de ativos tecnológicos deste. A integração em rede permite a formação de estratégias tecnológicas mundiais através da integração das atividades com intercâmbio de informações e absorção de capacidades externas especializadas. A criação e aplicação comercial do conhecimento são reformuladas com o conseqüente aprofundamento dos papéis dos laboratórios externos. Contudo, ainda não está clara a extensão deste fenômeno (QUEIROZ, 2001). Alguns limites são postos para um alcance mais generalizado com disseminação mundial dos efeitos positivos. A participação de países e empresas não é homogênea, ao contrário, os participantes do processo assumem papéis diferentes apropriando-se assim, dos benefícios de forma diferenciada também.

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17 multinacional como um todo e não mais com recomendações separadas para cada área geográfica.

Para Queiroz (2001), a formação da rede global de produção implica em mudanças qualitativas na função da P&D externa mais importantes que as quantitativas, medidas pelo grau de descentralização geográfica. Para Pearce (1999) a maior qualidade das atividades inovativas externas pode ser verificada pelos mercados atingidos pelos produtos desenvolvidos nessas unidades. Portanto, esse modelo resulta em um maior refinamento da divisão internacional do esforço tecnológico.

A integração na estratégia mundial do grupo está condicionada pelo acúmulo prévio de capacidades tecnológicas nas subsidiárias. A força tecnológica da subsidiária desenvolvida durante o predomínio do modelo organizacional de empresas multidomésticas, ou seja marcada pelos condicionantes do ambiente local em que estava estabelecida, implicará na posição da unidade na hierarquia da corporação. Atividades de P&D, densidade tecnológica diferentes, são distribuídas ao longo da rede conforme a capacidade das subsidiárias em fornecer soluções rápidas e de forma eficiente (GERYBADZE e REGER, 1999). Neste sentido, entende-se as subsidiárias com capacidade de tomar certas decisões de forma autônoma e concorrer com as demais para ganhar mandatos supranacionais através de processos de licitação corporativa. O Estudo de Consoni (2004) mostrou o processo de engajamento em atividades tecnológicas de filias multinacionais do setor automotivo nacional. A acumulação gradativa de competências tecnológicas das subsidiárias permitiu que elas evoluíssem da adaptação às condições locais (“tropicalização limitada”) para a concepcão de modelos locais “tropicalização avançada”, e por fim para a definição de conceitos globais, demostrando capacidade de sediar projetos globais de P&D.

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18

BOX 1.1–SISTEMAS TECNOLÓGICOS INTEGRADOS INTERNACIONALMENTE

As multinacionais valem-se do desenvolvimento dos meios de comunicação para coordenar atividades diversificadas geograficamente, e assim ter a capacidade de desenvolver redes tecnológicas interligadas. As EMNs dos setores mais dinâmicos e altamente intensivos em conhecimento, notadamente o setor eletrônico, têm perseguido estratégias agressivas de subcontratação reservando para si apenas as atividades estratégicas que são capazes de manter suas posições no mercado. Estas funções estratégicas possuem como característica comum e principal o caráter intangível, referindo-se às atividades de P&D, de marketing, conhecimentos sobre canais de distribuição etc.

As multinacionais focalizam suas estratégias nas funções que lhes rendem maiores retornos e em que puderam acumular capacidades e recursos para, de alguma forma, manter barreiras à entrada. Dentro da nova lógica algumas empresas que se constituíram dentro da dinâmica anterior podem agora se apoiar em sua capacidade inovativa e marca – com respaldo de sua capacidade financeira e de logística – e subcontratar as demais funções.

As empresas, em face da dinâmica concorrencial estar ligada a introdução sistemática de inovações, focalizam seus recursos e habilidades em direção ao seu fortalecimento tecnológico. A inserção dos novos produtos está relacionada com vultosos investimentos em P&D e ao aproveitamento dos conhecimentos gerados em nível de todo grupo.

Este objetivo pretende ser buscado na constituição de sistemas tecnológicos integrados, em que as diferentes unidades de P&D dispersas geograficamente formam uma rede por onde flui todo o conhecimento do grupo. Ao entender cada localidade com suas especificidades, admite-se a existências de linhas de desenvolvimento diferentes e peculiares a cada unidade. Assim, com base em um conhecimento comum que circula por toda rede surge uma cesta de novos conhecimentos e produtos. Esta argumentação está amparada na característica das novas tecnologias – não incorporadas e com retornos ascendentes de adoção.

As atividades de P&D serão distribuídas ao longo da rede conforme a capacidade das subsidiárias em fornecer soluções rápidas e de forma eficiente. Neste sentido, entende-se as subsidiárias com capacidade de tomar certas decisões de forma autônoma e concorrer com as demais para ganhar processos de licitação corporativa.

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19

1.5. O papel do Investimento Direto Estrangeiro

A internacionalização tecnológica através do Investimento Direto Estrangeiro (IDE) ganha maior importância nesta fase atual, pois assegura um controle maior sobre os ativos intangíveis e evita a formação de concorrentes. O investimento direto estrangeiro se apresenta de diferentes formas no processo de intensificação da internacionalização tecnológica (PAOLI e GUERCINI, 1997; PEARCE e PAPANASTASSIOU, 1999):

i) Estabelecimento direto de laboratórios externos;

ii) Aquisição de uma instalação de P&D existente e independente;

iii) Operações internacionais de fusão e aquisição (especificamente take-overs) de organizações com absorção indireta de seus centros de P&D;

iv) Processo evolucionário de unidades produtivas externas, inicialmente caracterizadas pelas capacidades técnicas limitadas.

Uma parte significativa do aumento da descentralização da P&D entre companhias globais é resultado de fusões e aquisições (F&A) que se realizam através do IDE (QUEIROZ, 2000; PATEL e VEGA, 1999). A aquisição de empresas é considerada uma ferramenta importante para ganhar acesso a conhecimentos científicos e tecnológicos novos, mas a dificuldade de integração entre organizações diferentes pode evidenciar outros objetivos que não o P&D. Operações de F&A permitem que a entrada em um novo mercado seja mais rápida, pois a empresa tem acesso a estrutura já estabelecidas, como canais de distribuição, marca, carteiras de clientes e fornecedores, além da fatia de mercado.

Nos Estados Unidos, a expansão do IDE em P&D na década de 1990 foi acompanhada por um crescimento significativo das operações de fusão e aquisição. As F&A de empresas estadunidenses repercutiram nos dados de P&D do país, principalmente nas empresas de alta tecnologia, gerando dúvidas se o P&D controlado por estrangeiros representa nova fonte de financiamento ou apenas mudança no controle da atividade (DALTON E SERAPIO, 1999).

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20 realizado não faz parte de uma estratégia tecnológica como no caso da aquisição de laboratórios de P&D. Contudo essa forma de investimento representa limitações em relação aos efeitos locais. A troca de controle na condução das atividades tecnológicas não garante o incremento dos resultados, podendo até constituir na diminuição das funções desse laboratório dentro da lógica de racionalização, ou mesmo representar o encerramento das atividades após internalização dos conhecimentos desenvolvidos localmente no interior do grupo (GOUVEIA, 2004).

A amplificação do P&D no exterior também toma a forma de novos investimentos. O investimento novo (green field) em laboratório de P&D no exterior é o caso mais evidente de internacionalização e o mais desejável pelas economias locais, pois representam um incremento no total destes investimentos realizados internacionalmente. Em detrimento deste tipo de investimento as F&A aparentam, em geral, ser a forma de IDE em internacionalização de P&D mais perseguida pelas multinacionais13.

A evolução das competências tecnológicas as subsidiárias a fim de atrair mandatos supranacionais e atividades tecnologicamente mais intensas é um fenômeno importante e vem ganhando importância nas decisões de investimento do grupo. O desenvolvimento da unidade externa ao longo do tempo representa uma melhora na sua posição relativa na hierarquia das operações de P&D do grupo. A correlação positiva entre a idade das subsidiárias e a participação dos gastos em P&D no exterior em relação ao total do grupo, encontrada por Pearce e Papanastassiou (1999) no Reino Unido, indica a ocorrência do processo evolucionário das unidades externas. O desenvolvimento dos meios de comunicação permitiu que as subsidiárias apresentassem seus resultados de forma rápida e assim um acompanhamento mais próximo do desempenho delas realizado pela matriz. Isso permitiu que as subsidiárias defendessem “suas pretensões diante dos outros membros do grupo, para a obtenção de novos investimentos; ou de transferir recursos excedentes para novos projetos de investimento” (ANTONELLI, 1989 citado por CHESNAIS, 1996: 27).

Para Narula (1999), a atividade de P&D reflete o mesmo padrão do IDE, em face do papel dominante das multinacionais na realização de atividades inovativas. As grandes multinacionais empreendem uma participação crescente de sua atividade de P&D total no exterior, mas apenas um pequeno grupo de PEDs, que inclui os NICs (Newly Industrializing Countries) e China, receberam aumento significativo no ingresso de IDE. A tabela 1 apresenta os gastos em P&D realizados internacionalmente pelas multinacionais

13 Pearce e Papanastassiou (1999) apontam que no caso do Reino Unido o IDE novo predomina como forma de

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21 estadunidenses em algumas economias e apesar da tendência de elevação dos gastos internacionais ser generalizada, as economias asiáticas foram beneficiadas com um aumento médio de mais de 203% dos gastos entre 1994 e 2000. A China é o caso mais emblemático, beneficiando-se de um aumento explosivo dos gastos das empresas estadunidenses.

Tabela 1.1 – Gasto em P&D de subsidiárias estadunidenses (em milhões de US$)

1994 2000 2002

País Rank P&D Rank P&D Rank P&D

Israel 16 96 9 527 N/D 889

China 30 7 11 506 N/D 646

Cingapura 14 167 8 548 N/D 589

Irlanda 8 396 10 518 N/D 537

Brasil 10 238 17 250 N/D 306

Hong Kong 19 51 14 341 N/D 289

México 13 183 16 305 N/D 284

Malasia 20 27 19 214 N/D 218

Coréia do Sul 26 17 22 131 N/D 167

Taiwan 15 110 21 143 N/D 70

Fonte: Science & Engineering Indicators, 2006.

A decisão de investir externamente é tomada pela multinacional através do balanceamento entre as forças favoráveis e contrárias à descentralização da P&D. Contudo, somente a primeira forma de investimento (estabelecimento direto de laboratórios externos) corresponde a escolhas deliberadas da matriz14 (PAOLI e GUERCINI, 1997). O processo de evolução das subsidiárias pode ser apoiado diretamente pela matriz ou ser um resultado involuntário, sendo realizado paralelamente às suas decisões. As subsidiárias possuem certos graus de liberdade para tomarem decisões e investirem em capacitação, em busca de atividades tecnologicamente mais densas.

A evolução das subsidiárias está relacionada com suas competências acumuladas ao longo do tempo. A subsidiária pode realizar esforços, paralelamente as funções pré-determinadas pela matriz, para se capacitar e concorrer (licitação corporativa) a funções mais sofisticadas. Mesmo subsidiárias que inicialmente receberam mandatos de atividades simples e maduras possuem espaço, em conformidade com seus recursos

14 As estratégias de internacionalização de P&D são caracterizadas dentro de um continnum de intencionalidade

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22 tecnológicos, para realizar funções mais densas tecnologicamente ao longo da cadeia (CONSONI, 2004).

O crescente investimento estrangeiro em pesquisa e desenvolvimento em países em desenvolvimento na década de 90 é atribuído, também, ao peso das operações de fusão e aquisição durante os últimos anos. Contudo, as estatísticas de P&D estrangeiro são, em grande parte, infladas por outros objetivos das F&A que não a de aquisição de competências tecnológicas.

1.6. Forças centralizadoras versus descentralizadoras

As grandes empresas adotam estratégias de dispersão geográfica das instalações de pesquisa para ganhar acesso a caminhos complementares de desenvolvimento tecnológico. O crescimento do processo de descentralização da P&D sustenta-se na necessidade de um amplo portfolio tecnológico, que em virtude da maior complexidade tecnológica atual requer o aproveitamento de sistemas científicos estrangeiros. Nesse sentido, a formação de transbordamentos de tecnologia e economias externas geradas pela concentração da produção e das atividades inovativas constituem atrativos que atraem novas ondas de investimentos. A integração em rede realizada pelas empresas com essas localidades externas é impulsionada pelas forças descentralizadoras que compensam, em algum nível, as forças que atuam no sentido da centralização das atividades na matriz ou em um número restrito de laboratórios em países desenvolvidos.

O conjunto de características das novas tecnologias corrobora no sentido do aprofundamento da internacionalização através da integração em rede das unidades subsidiárias e a matriz com o compartilhamento de informações tecnológicas dentro de uma estratégia de atuação no mercado mundial. As economias de escala, o controle e coordenação e o mercado de origem tiveram sua influência centralizadora reduzida pelo desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação e pela capacidade das empresas se organizarem em rede (GOMES, 2003).

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23 Os fatores políticos característicos de cada contexto local, como quotas de investimento tecnológico e programas de financiamento tecnológico, também atuam como fonte de influência na decisão de realizar P&D externo. A atividade inovativa externa está sujeita a diversas pressões positivas e negativas e que podem ter origem tanto interna às decisões da matriz e, em menor escala, da unidade local, quanto externa, como as condições institucionais e políticas locais.

Dentre os fatores favoráveis encontrados por Pearce e Papanastassiou (1999) destacam-se os internos à corporação, em que pesam o fortalecimento dos laboratórios na atividade científica do grupo gerador de um “individualismo interdependente” e o desejo de desenvolver produtos distintos para o mercado da subsidiária. Na gama de fatores limitadores prevalecem também os internos, principalmente na capacidade da matriz de limitar o papel do laboratório fruto da divisão de tarefas numa organização em rede (racionalização) ou devido à situação financeira eventualmente negativa da subsidiária. Mas, o trabalho dos estudiosos também aponta a situação financeira do país hospedeiro como um fator externo que pode prejudicar a expansão das atividades inovativas dos laboratórios locais.

1.7. Funções dos Laboratórios de P&D

No que diz respeito às funções designadas aos laboratórios de P&D dispersos geograficamente, verifica-se que alguns laboratórios passaram a ser contemplados com a função de “assistência” (advising). A nova forma de atuação internacional em rede permite que uma subsidiária exerça funções de suporte a operações de produção para unidades localizadas em outros países. O desenvolvimento de produtos novos pode ser realizado através do conhecimento tecnológico previamente acumulado na atividade produtiva para o mercado local, gerando variantes para mercados mais abrangentes. Assim, podem posicionar-se como baposicionar-ses regionais de pesquisa e deposicionar-senvolvimento.

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24 produtos comercialmente aplicáveis. Contudo, a pesquisa básica mostrou-se fortemente concentrada no país de origem das empresas (DALTON e SERAPIO, 1999; PEARCE e PAPANASTASSIOU, 1999).

As atividades de adaptação, desenvolvimento de produtos e novas tecnologias continuam sendo realizadas, mas diferentemente do modelo tradicional atuam de forma integrada com a matriz e outras unidades externas e dentro de uma lógica de divisão internacional do esforço tecnológico. Assim, as atividades externas passam a ser mais valorizadas e ganham maior relevância nas estratégias do grupo.

1.8. Limites do processo de internacionalização tecnológica

Embora haja consenso na literatura sobre a intensificação da internacionalização tecnológica, principalmente no sentido do aprofundamento das funções realizadas externamente, os limites desse processo também são identificados. Apesar dos crescentes gastos em atividades de P&D externo, as forças centralizadoras, e a especificidade setorial do fenômeno, continuam presentes, limitando a internacionalização tecnológica de forma generalizada, para todos os países e para todos os laboratórios de P&D.

A especificidade setorial da internacionalização tecnológica limita a extensão deste fenômeno. O processo de internacionalização, entendido como a maior dispersão geográfica da P&D com a valorização das atividades externas e integração em rede, está muito mais relacionado com os segmentos industriais mais dinâmicos como a química (farmacêutica e biotecnologia) e, principalmente, a eletrônica. Apesar de as novas tecnologias nestes setores possuírem um grande efeito difusor sobre os mais diversos segmentos econômicos, o fato de as mudanças não serem generalizadas em termos setoriais implica na persistência de forte concentração geográfica do desenvolvimento tecnológico nesta fase da concorrência internacional.

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25 descentralizadoras atuam fortemente nestes setores (químico, farmacêutico, biotecnologia e eletrônica)15.

A força tecnológica do país-sede ainda continua sendo muito importante, expressa no alto nível de gastos em P&D em casa, e também limita a extensão da internacionalização tecnológica. Os gastos em P&D das empresas estadunidenses ainda estão muito concentrados nos Estados Unidos, perfazendo 87% dos gastos totais nesta atividade (SCIENCE and ENGINEERING INDICATORS, 2004).

Alguns autores como Gouveia (2003 e 2004) atribuem à teoria dos custos de transação (TCT) uma ferramenta adicional de análise e compreensão dos limites da internacionalização tecnológica. Longe de estar perdendo poder explicativo diante da nova forma organizacional e das tecnologias da informação, a TCT apontaria a baixa especificidade dos ativos como fator para a transferência de funções ao longo da rede para subsidiárias em PEDs e especialmente para fornecedores. A externalização de funções, nesta perspectiva, teria um peso bem menor do que o vislumbrado por Ernst (1997) na capacitação tecnológica dos PEDs.

Isso porque os processos de padronização e codificação de um amplo conjunto de atividades industriais permitiram a alienação destas para fornecedores especializados, que se valem também da facilidade de reprogramação das funções para atender várias empresas. Diversos ativos-chave para o processo produtivo sofreram, então, um processo de comoditização e passam a assumir um caráter não específico. A baixa especificidade gera menos oportunismo, menores custos de transação e conseqüentemente maior tendência à externalização (GOUVEIA, 2004).

O fato de que poucos países desenvolvidos concentrem o maior volume desses gastos reforça esses argumentos. Apenas seis países receberam dois terços (US$ 13,2 bilhões) de tudo que foi investido no exterior em atividade inovativas pelas multinacionais estadunidenses, em termos absolutos, os gastos no exterior aumentaram em quase US$ 8 bilhões em seis anos, aproximando-se da cifra de US$ 20 bilhões em 2000. Apesar dos aumentos significativos dos fluxos para PEDs, conforme a tabela 1.1, a maior parcela dos recursos destina-se para alguns países europeus, Canadá e Japão.

A alocação externa está fortemente relacionada à força do Sistema Nacional de Inovação e dessa maneira o reforça, obtendo-se como resultado a aglomeração das

15 A análise de Patel e Vega (1999) mostrou que para as áreas de alta tecnologia, como farmacêutica (incluindo

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26 atividades tecnológicas em determinado país, naquele campo tecnológico. Os estudos de Cantwell e Patel e Vega16, (ambos de 1999), demonstram que os investimentos mais sofisticados e de elevada magnitude concentram-se nos países que já possuem elevada força tecnológica. A metodologia utilizadas nestes dois trabalhos é apresentada a seguir no Box 1.2.

Eles concluem também que os investimentos externos em atividades inovativas se diferenciam qualitativamente em função da origem, ou mais precisamente da intensidade tecnológica do país. As EMNs com sede em centros de excelência de certo segmento industrial (responsáveis pela definição da fronteira tecnológica) têm maior probabilidade de adotar estratégias de diferenciação de sua atividade tecnológica no exterior para apoiar sua força central no país-sede (CANTWELL, 1999). Na outra ponta, empresas oriundas de centros de menor expressão têm grande propensão em simplesmente ampliar seus esforços no mesmo campo de suas tentativas tecnológicas realizadas no país-sede. A localidade externa escolhida para sediar seus esforços externos (grandes centros) atua como fonte de habilidades e competências gerais para compensar a fraqueza interna.

16 As localidades mais importantes para alocação de P&D externo são Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido

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27

BOX 1.2–METODOLOGIA PARA A ANÁLISE DA INTERNACIONALIZAÇÃO DA P&D.

A metodologia usada nos trabalhos de Cantwell e Patel e Vega (1999) para avaliar o processo de internacionalização dos laboratórios de P&D baseia-se em dados de patentes do Escritório Estadunidense de Patentes e Marcas (USPTO) e dos escritórios nacionais das empresas. Os dados utilizados são séries históricas de 1965-1995 no caso do trabalho de Cantwell e de 1969-1996 no de Patel e Vega (1999).

As patentes foram classificadas pelo país de origem da invenção e pela origem de capital da empresa. O indicador Revealed Technological Advantage index (RTA) construído mede participação campo técnico de especialização da empresa total de patentes depositadas nos Estados Unidos naquele campo em relação à participação de todas suas patentes no total de depósitos do escritório. Indicando por Pij o número de patentes no escritório estadunidense de um grupo de empresas (j) em uma indústria no setor tecnológico (i), o índice RTA para cada grupo naquela indústria é definido como:

Patel e Vega (1999) buscam padrões de internacionalização das atividades tecnológicas baseado no patenteamento no USPTO 1969-1996 e em dados de vendas para saber o principal setor de atividade das 220 empresas da amostra (Fortune list). Os autores criam outro indicador baseado no RTA, o CompHomeRTA. Esse último indicador fornece um índice RTA baseado no patenteamento da empresa em seu país de origem em um determinado campo técnico, e indica a força relativa da empresa (ou fraqueza) naquele campo nas bases de sua atividade doméstica.

Com base nesses dois indicadores é possível estabelecer quatro categorias em relação a força (fraqueza) da empresa com base na combinação campo técnico/país de origem e retirar conclusões sobre as suas motivações de internacionalização das atividades tecnológicas (Patel e Vega, 1999: 149-153):

a) Tipo 1, quando RTA > 1 e CompHomeRTA < 1: estas são as tecnologias na qual a empresa é relativamente fraca em casa e a localidade externa é relativamente forte – a empresa estaria explorando as vantagens do hóspede em áreas de fraqueza doméstica;

b) Tipo 2, quando RTA < 1 e CompHomeRTA > 1: estas são tecnologias que a empresa é relativamente forte em casa e a localidade externa é relativamente fraca – a empresa estaria explorando as vantagens criadas em casa (funções externas de P&D de adaptação ou suporte técnico, por exemplo);

c) Tipo 3, quando RTA > 1 e CompHomeRTA > 1: Campo tecnológico em que a empresa possui vantagem relativa em casa e a localidade externa é forte também – busca por forças complementares (atividades externas de P&D ligadas à concepção e desenvolvimento de novos produtos ou processos).

d) tipo 4, quando RTA < 1 e CompHomeRTA < 1: Nestes campos técnicos não existe nem vantagem em casa nem na localidade externa e são provavelmente resultados de atividades de fusão e aquisição em que os motivos não estão relacionados com a tecnologia.

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28 Em termos agregados, mais de 75% dos casos analisados envolvem campos técnicos em que a empresa tem vantagem relativa em casa. Em aproximadamente 40% dos casos, empresas alocam externamente suas atividades tecnológicas nas suas áreas de vantagem relativa e onde a localidade tem apresentado vantagens, demonstrando um caráter de complementaridade. A análise nas mudanças de importância de cada categoria ao longo do tempo evidencia que o maior aumento tem sido na categoria em que a força relativa da empresa é complementada pela força do país hóspede. Em termos setoriais, evidenciou-se que as empresas químicas, farmacêuticas, mineração, alimentos e materiais são relativamente mais ativas na categoria em que a força doméstica é combinada pela força do país hóspede (PATEL e VEGA, 1999).

Em ambos os casos, os alvos principais do investimento externo são os países com elevada capacidade científica e tecnológica, notadamente os países desenvolvidos. O caráter de cumulatividade da tecnologia reforça o padrão locacional. Os investimentos em novas unidades de P&D são destinados a centros de excelência (grande mercados e sistemas de pesquisa em países desenvolvidos), repercutindo na concentração das atividades inovativas em poucos países da Tríade (GERYBADZE & REGER, 1999).

A par disso, a internacionalização das atividades tecnológicas empreendida pelos grandes grupos internacionais apresenta duas tendências – dois movimentos interligados e concomitantes. Um consiste na dispersão internacional e o outro é a aglomeração geográfica e setorial (ou sub-setorial). Esta última característica do processo de internacionalização tecnológica estabelece o limite à sua extensão.

Outro fator que limita a dispersão de investimentos em P&D apontado nestes trabalhos, deve-se à capacidade de explorar a expertise tecnológica de outros países ser dependente da força tecnológica do país de origem. Um número limitado de países em cada campo tecnológico possui capacidade de absorver o que está sendo desenvolvido externamente, e assim de adotar estratégias de diferenciação. Isso reforça a concentração dessas estratégias entre poucos países desenvolvidos.

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Tabela 1.1 – Gasto em P&amp;D de subsidiárias estadunidenses (em milhões de US$)
Gráfico 2.1 - Gastos em P&amp;D por setor de execução em 2004 *
Tabela 3.1 – Caracterização da origem das EBTs pesquisadas
Tabela 3.2 – Caracterização dos tipos de origem das EBTs
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