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1 Destaques da Teoria de Sistemas de Niklas Luhmann

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Destaques da Teoria de Sistemas de Niklas Luhmann 1 (1a parte)

Ettore Bresciani Filho2

I. Indicação dos temas estudados na teoria de sistemas

A teoria de sistema de Niklas Luhmann é aplicada à interpretação dos fenômenos sociais, particularmente considerando que a sociedade consiste em uma reprodução contínua de formas e a sociologia em um método de estudo dos modos pelos quais se estimula essa reprodução permanente.

Entre os temas estudados pode-se destacar: os conceitos de sistemas abertos, de sistema como diferença, encerramento operativo, acoplamento estrutural, participação do observador e complexidade do sistema.

Nesse contexto são avaliadas as aplicações dos conceitos tradicionais da teoria do sistemas como: equilíbrio, estabilidade, perturbação e entropia utilizados nos sistemas físicos para os denominados sistemas de sentido, nas condições de sistemas abertos, no qual se destaca a importância da participação da comunicação e da informação.

No estudo dos sistemas abertos três teorias adjacentes são tratadas: input/output, feedback negativo e feedback positivo. Nelas se identifica o fato do sistema processar quase simultaneamente a autorreferência e a heteroreferência.

Para o sistema social, a operação que o define é a da comunicação , de tal modo que o sistema social se estabelece quando ocorre comunicação que se desenvolve a partir dela mesmo.

No que se refere às considerações sobre observação e observador, pode-se verificar duas posições pressupostas: na primeira o observador externo decide o que é o sistema e meio-ambiente ao sistema como também os limites de separação entre eles;

na segunda o observador enfrenta já a existência do sistema e tenta entender o que é de fato.

No conceito de acoplamento estrutural é estudado como o meio pode ou não afetar a estrutura do sistema com autopoeises.

A diferença que se estabelece entre sistema é meio, que pode ser válida para qualquer sistema, é um diferença de complexidade; pode-se entender a complexidade como quantidade de relações, de eventos e de processos, e o sistema se torna complexo na medida que seleciona as estruturas e os processos.

Referência Básica (Original e Traduções):

1Seminário para o Grupo de Pesquisa sobre Auto-Organização e Teoria de Sistemas, CLE - Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência, UNICAMP, Campinas, março de 2018.

2 Engenheiro Aeronáutico (ITA); Doutor em Engenharia e Professor Livre-Docente (EPUSP);

Professor Titular Aposentado (FEM-UNICAMP); Membro do CLE-UNICAMP.

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LUHMANN, N., Soziale Systeme – Grundriß einer allgemeinen Theorie.

Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 2001 (1984), 674p.

LUHMANN, N., Social System. Stanford: Stanford University Press, 1995, 627p.

LUHMANN, N., Sistemas Sociales – Lineamientos para una Teoría General.

Barcelona: Anthropos, 2007, 446p.

LUHMANN, N., Sistemas Sociais – Esboço de uma Teoria Geral. Petrópolis(RJ):

Editoria Vozes, 2016 , 575p.

Referências Complementares:

LUHMANN, N., Introdução à Teoria dos Sistemas (Aulas publicadas por J.T.Nafarrate). Petrópolis: Editora Vozes, 2009 (1995), 414p.

GONÇALVES, G.L. & VILLA BÔAS Filho, O., Teoria dos Sistemas Sociais – Direito e Sociedade na Obra de Niklas Luhmann. São Paulo: Saraiva, 2013, 166p.

II. Conceitos de teoria de sistemas de Niklas Luhmann Referência:

LUHMANN, N., Sistemas Sociais – Esboço de uma Teoria Geral. Petrópolis(RJ):

Editoria Vozes, 2016 , 575p. (Cap.1-Sistema e função, p.29-79; Cap.2-Sentido, p.80- 125)

1. “As reflexões seguinte partem do princípio de que existem sistemas. Portanto, elas não começam com uma dúvida epistemológica...O conceito de sistema designa, algo que é realmente um sistema e, com isso, assume a responsabilidade de comprovar seus enunciados com a realidade.”(p.29)

2. “Nossa tese de que existem sistema pode...ser concebida mais especificamente:

existem sistemas autorreferenciais” ou seja “existem sistemas com capacidade de produzir relações consigo mesmos e de diferenciar essas relações perante as do seu meio-ambiente.”(p.30)

3. “...a Teoria Geral dos Sistemas sociais levanta a pretensão de compreender a totalidade do campo de objeto da sociologia e, nesse sentido, de ser uma teoria sociológica universal.”(p.32)

4. “A Teoria Geral dos Sistemas não pode, atualmente, ser apresentada como uma totalidade consolidada de conceitos fundamentais, axiomas e respectivos enunciados derivados. Por outro lado, ela serve como designação coletiva para empreendimentos de pesquisa de tipos bem diferentes, os quais, por sua vez, são gerais, visto que não especificam sua área e limites de aplicação. Por outro lado, tais pesquisas, assim como as pesquisas de sistemas específicos (por exemplo, na área de máquinas de processamento de dados [computação]), conduziram a experiências com novos problemas e tentativas de consolidar conceitualmente essas experiências.”(p.33)

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5. “O estado de pesquisa atual não permite começar com uma apresentação de resultados seguros...Mas ele possibilita intensificar os conceitos fundamentais para além do que é comum na literatura especializada e coloca-los num contexto que considera tantos os problemas de interesse como as experiências da pesquisa sociológica.” (p.33)

6. “Há hoje certamente um consenso na disciplina de que a ‘diferença entre sistema e ambiente’ deve servir de ponto de partida para toda a análise sistêmico-teórica.

Sistemas são orientados pelo seu ambiente não apenas ocasionalmente e adaptativamente, mas também estruturalmente; e, sem ele, não poderiam existir. Eles constituem-se e mantêm-se mediante produção e manutenção de uma diferença em relação ao ambiente e empregam seus limites para a regulação dessa diferença. Sem diferença em relação ao ambiente não existiria nem mesmo autorreferência, pois a diferença é premissa funcional de operações autorreferenciais. De modo que a manutenção de ‘limites’ (boundary maintenance) é a manutenção do sistema.” (p.33) 7. “Mas os limites não demarcam um rompimento de conexões. Também não se pode afirmar que, em geral, as interdependências internas são maiores do que interdependências entre sistema e ambiente. O conceito de limite significa que processos que ultrapassam os limites (por exemplo, os processos de troca de energia ou de informação [ou também de matéria]) são colocados sob outras condições de continuidade ao terem ultrapassado tais limites (por exemplo, outras condições de valorização ou consenso). (p.33-34)

8. “É mediante o sistema e somente em relação ao sistema que o ambiente obtém sua unidade. Ele é demarcado por horizontes aberto, e não por limites ultrapassáveis; ou seja, ele mesmo não é um sistema. Ele é diferente para cada sistema, já que dado sistema exclui somente a si mesmo de seu ambiente. De modo que não há autorreflexões do ambiente e muito menos capacidade de ação [a verificar]. A atribuição ao ambiente (‘atribuição externa’), por seu lado, é uma estratégica sistêmica [a verificar]. Tudo isso, porem, não significa que o ambiente dependa do sistema ou que o sistema possa dispor à vontade de seu ambiente. Pelo contrário, a complexidade do sistema e do ambiente...exclui toda forma totalizante de dependência em qualquer direção.” (p.34)

9. “Uma das consequências mais importantes do paradigma sistema / ambiente é que se tem de distinguir entre o ‘ambiente’ de um sistema e ‘sistema no ambiente’ desse sistema... Assim, tem-se principalmente que distinguir as relações de dependência entre ambiente e sistema das relações de dependência entre sistemas.”(p.34)

10. “A diferença entre sistema e ambiente, na condição de paradigma da Teoria dos Sistemas, obriga se substituir a diferença entre o todo e a parte por uma teoria de diferenciação sistêmica. Diferenciação sistêmica não é outra coisa senão a repetição da formação sistêmica no interior dos sistemas. No interior dos sistemas pode ocorrer diferenciação de outras diferenças sistema / ambiente. O conjunto do sistema adquire, com isso, a função de um ‘ambiente interno’ para seus sistemas, especificamente para cada subsistema. A diferença sistema / ambiente é, portanto, reduplicada, o conjunto do sistema multiplica a si mesmo como uma multiplicidade de diferenças internas sistema / ambiente. Cada diferença entre sistema e ambiente interno é, por sua vez, o

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conjunto do sistema – mas isso em perspectivas respectivamente distintas. Por isso.

diferenciação sistêmica é um processo de aumento de complexidade – com consequências significativas para aquilo que, então, ainda possa ser observado como unidade do conjunto de sistema.” (p.35)

11. “...no nível da Teoria geral dos Sistemas sociais, tem-se que distinguir conceitualmente entre diferenciação e hierarquização. Hierarquização seria então, um caso particular de diferenciação. Hierarquização é um tipo particular de autossimplificação das diferenças possíveis para o sistema...não se pode partir do princípio de que a evolução conduza a complexidade necessariamente à forma de hierarquia. É evidente que também outras formas de diferenciação bem mais caóticas encontraram possibilidades de se afirmar e sobreviver.” (p.36-37)

12. “A transposição para a diferença entre sistema e ambiente tem profundas consequências para o entendimento da causalidade . A linha divisória entre sistema e ambiente não pode ser entendida como isolamento e síntese das causa ‘mais importantes’ no sistema; o que ocorre, antes, é que essa linha retalha nexos causais, e a questão é: Sob qual perspectiva? Sistema e ambiente sempre atuam juntos em todos os efeitos – no domínio dos sistemas sociais, isso já se manifesta no fato de que, sem a consciência dos sistemas psíquicos, dificilmente se pode chegar à comunicação. Por isso é necessário esclarecer por que e como a causalidade é distribuída em sistema e ambiente.” (p.37)

13. “A diferença sistema / ambiente tem de ser distinguida por uma segunda diferença: a diferença entre ‘elemento’ e ‘relação’...se tem que pensar a ‘unidade’ da diferença como ‘constitutiva’. Assim como não há sistemas sem ambientes, ou ambientes sem sistemas, tão pouco existem elementos sem conexões relacionais ou relações sem elementos. Em ambos os casos, a diferença é uma unidade ...mas ela atua somente como diferença. É somente como diferença que ela torna possível a conexão entre processos de processamento de informações [a verificar].” (p.38) 14. “O conceito sistêmico teoricamente central de ‘condicionamento’ refere-se a relação entre elementos. Sistemas não são simplesmente relações (no plural!) entre elementos. A conexão entre as relações tem de ser de algum modo regulada. Essa regulação emprega a forma básica do condicionamento. Isso significa que uma determinada relação entre elementos somente será realizada sob o pressuposto de que alguma coisa seja o caso ou não seja o caso . Sempre que falarmos de ‘condições’ ou de ‘condições de possibilidade’, estaremos nos referindo a esse conceito de condicionamento.” (p.40-41).

15. “Complexidade é aquele ponto de vista que talvez expresse da maneira mais intensiva as experiências com problemas na pesquisa sistêmica recente...Sem desconsiderar pontos de referência na literatura especializada, optamos por um conceito orientado por problemas e o definimos com base nos conceitos de elemento e relações...designaremos complexidade uma quantidade conexa de elementos, quando em virtude de restrições imanente à capacidade de conexão dos elementos, cada elemento não puder mais a qualquer momento ser conectado com qualquer outro elementos....Nesse sentido, complexidade é um estado de coisas autocondicionante, ou seja: já pelo motivo de que os elementos têm de ser constituídos complexamente, a fim de poderem atuar como unidade para níveis mais elevados de formação sistêmica,

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a capacidade de conexão dos elementos também é limitada, e, com isso, a complexidade se reproduz como realidade inevitável em cada nível superior da formação sistêmica. Essa autorreferência da complexidade é, então, como convém destacar aqui antecipadamente, ‘internalizada’ como autorreferência dos sistemas.”

(p.42-43)

16. “Complexidade no sentido acima referido, significa pressão seletiva, pressão seletiva significa contingência e contingência significa risco. Todo estado de coisas complexo baseia-se numa seleção de relações entre seus elementos, elementos esses que ele emprega para se constituir e se manter. A seleção posiciona e qualifica os elementos, embora para eles também fossem possíveis outras relações. Designamos esse ‘também serem possíveis outras’ com o conceito, muito tradicional, de contingência. Ele indica, ao mesmo tempo, a possibilidade de perder a formação mais favorável. “ (p.43)

17. “Mediante pressão seletiva e condicionamento de seleções pode-se esclarecer que de um substrato de unidades semelhantes (por exemplo: alguns poucos tipos de átomos...) podem ser formados sistemas de tipos bem diferentes. A complexidade do mundo – seus tipos e espécies, suas formações sistêmicas – surge, portanto, somente mediante redução de complexidade e mediante condicionamento seletivo dessa redução. Apenas desse modo se pode continuar explicando que a duração daquilo que atua como elemento pode estar sincronizada com a autorregeneração do sistema [a verificar].” (p.43)

18. “Medição e comparação podem partir tanto do número dos elementos como também do número das relações realizadas entre eles. Pode-se sempre falar, então, de complexidade mais elevada ou mais baixa (diferença de complexidade, desnível de complexidade), quando em ambas as perspectivas houver baixa de complexidade.

Esse é o caso nas relação de um sistema para com seu ambiente. Por sua vez deve-se falar de redução de complexidade quando um plexo [encadeamento, entrelaçamento, entrançado] relacional de uma concatenação complexa é reconstruído mediante uma segunda concatenação com menos relações.” (p.45)

19. Segundo conceito de complexidade: “...complexidade significa uma medida para a indeterminabilidade ou para a falta de informação. Vista desse modo, complexidade é a informação que falta ao sistema para ele poder apreender e descrever plenamente seu ambiente (complexidade do ambiente) ou a si mesmo (complexidade do sistema).” (p.46)

20. “Essa fusão entre problemática da complexidade e análise sistêmica mostra-se eficaz com uma interpretação mais exata da função de limites sistêmicos. Sistemas tem limites. Isso distingue o conceito de sistema do de estrutura. Limites não são concebíveis sem um ‘do outro lado’; eles pressupõe, portanto, a realidade de um além e a possibilidade de ultrapassagem. Por isso, de um ponto de vista geral, eles têm a dupla função de separação e ligação entre sistema e ambiente. Essa dupla função pode ser melhor esclarecida com o auxílio da distinção entre elemento e relação, remetendo, assim, ao mesmo tempo, ao tema da complexidade. Quando os limites são rigorosamente definidos, os elementos tem que ser atribuídos ao sistema ou ao seu ambiente. Já as relações podem existir também entre sistema e ambiente. Portanto, um

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limite separa elementos, não necessariamente relações; ele separa ocorrências, mas deixa passar efeitos causais.” (p.47)

21. “...com o conceito de ‘adaptação’, como cooperação entre análise de sistemas e análise de complexidade reestrutura o clássico arsenal conceitual da Teoria dos Sistemas e conduz à Teoria dos Sistemas Autorreferenciados.”...“Sistemas complexos não tem que se adaptar apenas ao seu ambiente, eles têm de se adaptar também à sua própria complexidade. Têm de lidar com improbabilidades e insuficiência internas.

Tem que desenvolver dispositivos que construam meios de lidar com esses problemas, dispositivos que, por exemplo, reduzam o comportamento desviante, o qual somente se torna possível porque existem estruturas fundamentalmente dominantes. Sistemas complexos são, por conseguinte, forçados a se autoadaptarem, mais especificamente, a se autoadaptarem do duplo sentido de uma adaptação própria à própria complexidade. Somente assim se pode esclarecer que sistemas não podem seguir ininterruptamente as alterações de seu ambiente; eles têm de considerar também outros pontos de vista de adaptação e, em última instância, [podem ser] são destruídos em sua tentativa de adaptação.”(p.50-51)

22. “O conceito de ‘seleção’ também se modifica quando se trata de sistemas complexos. No caso, a seleção não pode ser compreendida como iniciativa de um sujeito, analogicamente a ação. Ela é um procedimento sem sujeito, uma operação que é desencadeada pelo estabelecimento de uma diferença...seleção é considerada como conceito básico para qualquer teoria da ordem; com isso, evita-se recorrer a um sistema que esclarece o surgimento da ordem com base num poder ordenador superior próprio para isso. No lugar desse tipo de redução colocamos a redução da diferença.

Toda seleção pressupões restrições (constaints). Um diferença-guia organiza essas restrições, por exemplo, sob o ponto da diferenciação útil / inútil, sem determinar a própria escolha. A diferença não determina o que tem que ser selecionado, mas antes o fato de que se tem de fazer a seleção. Primordialmente, parece ser sobretudo a diferença sistema / ambiente que obriga o sistema, mediante sua própria complexidade, a forçar a si mesmo a realizar seleções. Portanto, de modo semelhante ao que ocorre no espaço semântico da ‘adaptação’, a Teoria dos Sistemas Autorrerenciais também foi preparada no espaço semântico da ‘seleção’”. (p.51) 23. “O próximo tema central se chama ‘autorreferência’. É somente na pesquisa sistêmica mais recente [1984] que ele recebe uma atenção que tem crescido rapidamente, também sob títulos como auto-organização ou autopoieses...O conceito de autorreferência designa a unidade que um elemento, um processo ou um sistema é para si mesmo. ‘Para si mesmo’ significa independentemente do corte realizado pela observação de outros. O conceito não apenas define, ele contém também um enunciado objetivo, pois afirma que a unidade só pode ocorrer mediante uma operação relacional, portanto, que ela tem de ser obtida, e não que ela sempre tem de estar previamente presente como indivíduo, como substância ou como ideia da própria operação.” (p.52)

24. “Pode-se designar um sistema como autorreferencial, quando ele mesmo constitui, como unidades funcionais, os elementos dos quais ele se constitui e faz percorrer em todas as relações entre esses elementos uma referencia a essa autoconstituição, de modo, portanto, a reproduzir continuamente a autoconstituição. Nesse sentido, sistemas autorreferenciais operam, necessariamente por autocontato, e eles não tem

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outra forma para contato com o ambiente a não ser o autocontato. Aqui está contida a tese da recorrência...como tese da autorreferência indireta dos elementos: os elementos possibilitam uma continua recorrência a si mesmo mediante outros elementos, tal como, por exemplo, numa intensificação da atividade neuronal ou numa contínua determinação da ação mediante a expectativa de outro agir.” (p.53) 25. “No nível dessa organização autorreferencial, sistemas autorreferenciais são sistemas ‘fechados’, pois, em sua autodeterminação, não permitem outras formas de processamento. Assim, sistemas sociais não tem aplicação para a consciência, e sistemas pessoais não tem aplicação para as alterações de frequência no sistema neuronal (com isso, naturalmente, não se nega que o que não é usado é condição de possibilidade do sistema, isto é, condição infraestrutural da possibilidade de constituição dos elementos).” (p.53).

26. “Para deixar claro como esse conceito de autorreferência basal se distingue muito de uma antiga discussão sobre ‘auto-organização’, Maturana e Varela, sugeriram para tanto a designação de ‘autopoiese’...”Assim “... deu-se um passo adiante na Teoria dos Sistemas ao se transferir a autorreferência do nível da formação estrutural e da alteração estrutural para o nível da constituição dos elementos.” (p.54)

27. “Autopoiese não pressupõe, necessariamente, que aqueles tipos de operações com as quais o sistema se autorreproduz não exista de modo algum no ambiente do sistema. No ambiente dos organismos vivos existem outros organismos vivos, no ambiente da consciência existem outras consciências. Em ambos os casos, porem o processo de reprodução própria do sistema é aplicável somente em seu interior. Não se pode usar esse processo para a ligação entre sistema e ambiente, ou seja, não se pode, por assim dizer, apanhar uma vida, uma outra consciência, e transferi-la para o interior do próprio sistema ...Nos sistemas sociais, esse estado de coisas se desenvolve de outro modo, em dois aspectos: por um lado, não há nenhuma comunicação fora do sistema de comunicação da sociedade. Somente esse sistema usa esse tipo de operação e, nessa medida, é, de fato e necessariamente, fechado. Por outro lado, isso não vale para todos os outros sistemas sociais. Eles tem de definir seu modo específico de operação ou determinar sua identidade mediante reflexão, afim de poderem regular quais unidades de sentido possibilitam, internamente, a autorreprodução do sistema, ou seja, que devem ser repetidamente reproduzidas.”

(p.54)

28. “Ao se observar essa importante distinção, pode-se questionar se de fato é sensato transpô-la para o nível da Teoria Geral dos Sistemas com auxílio de um conceito geral de sistema autopoiético. Consideramos esse conceito geral não somente possível, mas necessário – em parte porque ele possibilita a síntese de uma série de afirmações sobre tais sistemas, em parte porque ele remete a um contexto evolucionário, no qual se desenvolveram, por um lado, uma posição especial mais definida do sistema da sociedade, e por outro, seus problemas internos de delimitação.”(p.54)

29. “Para a totalidade do domínio dos sistemas abertos ao ambiente (por exemplo, sistemas psíquicos e sociais), essa transição de ‘auto-organização’ para ‘autopoiese’

altera o problema fundamental ao qual a teoria se refere. Enquanto se partia do problema da formação estrutural e da alteração estrutural e se via nisso a dinâmica dos sistemas, era possível admitir uma categoria fundamental-teórica para abordagens

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teóricas da aprendizagem (Nota: em parte e até mesmo se considerando o aprendizado individual como processo básico de uma mudança estrutural no sistema social). O problema estava, então, nas condições particulares sob as quais a ‘repetição’ de uma ação semelhante ou a ‘expectativa da repetição’ de um vivenciar semelhante seria provável. Para uma teoria dos sistemas autopoiéticos, porém a questão prioritariamente formulada é como, afinal, se vai de uma ocorrência elementar para uma seguinte; o problema fundamental aqui não está na ‘repetição’ mas na

‘capacidade de conexão’. Para isso, a diferenciação de um plexo autorreferencialmente fechado de reprodução demonstra-se imprescindível; e somente com referencia a um sistema assim constituído é que problemas de formação e alteração estruturais podem ser formulados. Em outras palavras, estruturas tem de possibilitar a capacidade de conexão da reprodução autopoiética – pois, de outro modo, abandonarão a sua própria base existencial -, e isso limita o domínio de possíveis alterações , de um possível aprendizado.” (p.55-56)

30. “A autorreferrência, por sua vez, pressupões um princípio que poderia ser designado de ‘constituição múltipla’...Na Teoria dos Sistemas, a tese da constituição múltipla tem o efeito de estabelecer o conceito de comunicação mais profundamente e, nesse contexto, determinar o conceito de complexidade diferentemente de seu significado tradicional...Só se pode falar de comunicação, não importando como se pareça a apresentação do processo, quando a alteração do estado do complexo A corresponde a alteração do estado do complexo B, embora os dois complexos tenham outras possibilidades de determinação de seus estados. Nesse sentido, comunicar significa restringir (colocar sob restrições a si mesmo e ao outro). Numa teoria de sistemas complexos, esse conceito de comunicação só pode ser incorporado ao se desistir da antiga apresentação de que sistemas se constituem de elementos e relações entre elementos. Ela é substituída pela tese de que, por motivos de complexidade, a realização de relacionamentos (entre elementos) exige seleções, de modo que essas relações não podem ser simplesmente adicionadas aos elementos. A realização das relações serve à qualificação dos elementos, considerando parte de suas possibilidades. Em outras palavras, como complexidade, o sistema contém um excedente de possibilidades que ele reduz autosseletivamente. Essa redução se realiza nos processo comunicativos; o sistema necessita para isso de uma organização básica

‘mutualista’- quer dizer: uma atribuição de seus elementos a complexos capazes de se comunicarem.”(p.58-60).

31. “Com base nas relações sistêmicas autorreferenciais pode ser provocada uma imensa extensão dos limites da capacidade estrutural de adaptação e do respectivo alcance da comunicação sistêmica. O princípio dessa extensão pode ser melhor compreendido com o conceito de informação. Uma informação se realiza sempre que uma ocorrência seletiva (do tipo interno ou externo) possa atuar seletivamente no sistema, quer dizer, possa selecionar os estados do sistema. Isso pressupões a capacidade de orientação por diferenças (simultânea ou sucessivamente) que, por sua vez, parece estar associada a um modo autorreferencial de operação do sistema. Um bit de informação, afirma Bateson [Steps on an Ecology of Mind, 1972], is definable as a difference which makes a difference (é definível como uma diferença que faz uma diferença). Isso significa que diferenças ‘como tais’ começam a atuar quando e na medida em que puderem ser tratadas como informações nos sistemas autorreferenciais.”(p.60-61).

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32. “Não tocamos ainda num tema que multiplica todos os problemas: o tempo. Toda Teoria dos Sistemas referente à realidade deve partir do princípio que nem tudo permanece como é. Existem alterações; existe nos sistemas uma sensibilização especial para alterações e, assim, para alguns sistemas existe tempo, no sentido de um conceito agregado para todas as alterações...A interconexão entre complexidade e seleção, da qual partimos, não é uma descrição de um estado. Ela já implica tempo, ocorre somente através do tempo e no tempo. Tempo é o fundamento para a pressão seletiva nos sistemas complexos, pois, se houvesse a disponibilidade de uma quantidade infinita de tempo, tudo poderia estar sintonizado com tudo...Além disso, a própria seleção é um conceito de tempo: ela é iminente, é requerida, é, então executada, e, por fim, ocorrida. Assim a seleção precisa de tempo para se afirmar num ambiente já temporalizado. Poder-se-ia dizer que a seleção é a dinâmica da complexidade...Todo sistema complexo tem que se adaptar ao tempo – seja qual a forma operativamente concebida que essa exigência produza no sistema...Uma vez que o próprio tempo, inicialmente, só é dado mediante alterações, ele é, portanto, dado reversível e irreversivelmente.”(p.62-63)

33. “Em virtude do nível de complexidade em relação ao ambiente, um sistema complexo, mesmo do ponto de vista temporal, não pode se apoiar somente em correspondência exatas com o ambiente. Ele deve ‘prescindir de uma plena sincronização com o ambiente’ e estar em condições de controlar riscos nisso implícito de não correspondência momentânea. ...Na relação entre sistema e ambiente, portanto, tem de ser possível o estabelecimento de dilações temporais: o mútuo ajustar-se, o corrigir-se e o complementar-se não tem de, necessariamente, ocorrer simultaneamente ou se suceder continuamente.” (p.64)

34. “A temporalidade singular entre estrutura e processo necessita de um determinação mais exata. Seria erro conceber estruturas simplesmente como atemporais e processos como temporais. Igualmente errada é a oposição entre estática e dinâmica ou entre constância e mudança. A diferença entre estrutura e processo serve, antes, à reconstrução da diferença original (condicionada pelo ambiente) entre reversibilidade e irreversibilidade num tempo irreversivelmente estabelecido.

Estruturas mantêm o tempo reversível, pois elas mantêm um repertório limitado de possibilidades de escolha. Pode-se suspendê-las ou alterá-las, ou com seu auxílio, adquirir segurança para alterações em outros aspectos. Os processo, ao contrário, marcam a irreversibilidade do tempo. Eles constituem-se de ocorrências irreversíveis.

Eles não podem correr para trás. ” (p.64-65) [a ver: temporalização da complexidade;

análise funcional]

35. “O segundo capítulo também ultrapassa o domínio mais específico da Teoria dos Sistemas Sociais e trata de um tema que se refere conjuntamente aos sistemas psíquicos e social – sistemas psíquicos constituídos com base em uma interconexão una (autorreferencial) de consciência e sistemas sociais constituídos com base em uma interconexão una (autorreferencial) de comunicação.” (p.80)

36. “Sistemas sociais e psíquicos surgiram por coevolução. Um deles é respectivamente o ambiente necessário do outro. A razão dessa necessidade consiste na evolução que torna esses tipos de sistemas possíveis. Pessoas não podem surgir e existir sem sistemas sociais, e vice-versa. A coevolução conduziu a uma aquisição conjunta que é usada tanto por sistemas psíquicos quanto por sistemas sociais. Ambos

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tipos de sistemas dependem dela e, para ambos ela é obrigatória como forma imprescindível e imperiosa de suas complexidades e autorreferências. Designamos essa aquisição evolucionária de ‘sentido’ [meaning].” (p.80)

[a continuar]

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