UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
NÚCLEO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PÓS
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GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
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GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
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Tese apresentada ao programa de Pós-graduação do Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências Biológicas, área de concentração: Bioquímica Estrutural e Fisiológica.
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Catalogação: sisbin@sisbin.ufop.br
P324e Paula, Heberth de.
Estudo de propriedades funcionais do extrato de sementes de urucum [manuscrito]: alegações de redução do colesterol sérico e melhoramento do balanço redox / Heberth de Paula. – 2009.
x, 125f., tabs.
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Eustáquio Silva.
Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas.
1. Alimentos funcionais - Teses. 2. Urucum - Teses. 3. Colesterol - Teses. 4. Ratos - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título.
APOIO FINANCEIRO
Este trabalho foi realizado no Laboratório de Nutrição Experimental do Núcleo de
Pesquisas em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto com auxílio da
A
GRADECIMENTOSE
SPECIAISAos professores Marcelo Eustáquio Silva e Maria Lúcia Pedrosa pelo constante
incentivo e disponibilidade, sempre indicando a direção a ser tomada nos momentos
de maior dificuldade e por cada momento que passamos juntos nesses 11 anos
(iniciação científica, mestrado e doutorado). Recebam sempre meu carinho e sincera
A
GRADECIMENTOSA Deus por sempre iluminar meus caminhos;
Aos meus pais que, além de serem a razão da minha existência, me ensinaram a
aproveitar, com responsabilidade, todas as oportunidades que a vida oferece;
A minha família por acreditar em mim sempre;
Ao amigo Jair Pastor pela ajuda incansável;
À Maria Aparecida Reis por ser o anjo da guarda de todos nós, alunos da
pós-graduação;
Aos grandes amigos que diretamente contribuíram para este trabalho: Maisa Silva,
Fabrício Caetano Barbosa, Larissa Freitas Bonomo, Lorena, Fabiano Kenji Haraguchi,
Melina, Joamyr Rossoni, Flávia Noujemi, Bruno, Aleçandra Maciel de Oliveira, Emerson
e Laura.
Aos grandes amigos que indiretamente contribuíram e também foram fundamentais:
Maria das Graças Vaz Tostes, Luciane Daniele Cardoso, Wander de Jesus Jeremias,
Grasiella de Oliveira Paisante, Júlia Calhau
A todos os outros amigos de Ouro Preto, Mariana, Vila Samarco, Muriaé, Manhuaçu e
Alegre pelo interesse e apoio e;
À República Arte & Manha pelas amizades sinceras de ontem, hoje e as que ainda vou
S
UMÁRIO1.JUSTIFICATIVA ... 1
2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 3
2.1. Alimentos Funcionais ... 3
2.1.1. Conceito... 3
2.1.2. Mercado de alimentos funcionais ... 6
2.2. Alimentos Funcionais e Doenças Cardiovasculares ... 9
2.3. Urucum (Bixa orellana L.) ... 14
2.3.1. Etnobotânica do Urucum ... 14
2.3.2. Mercado de Urucum ... 16
2.3.3. Toxicidade do Urucum... 17
2.3.4. Substâncias isoladas do Urucum ... 20
2.3.5. Bixina e suas potenciais propriedades funcionais ... 22
3.OBJETIVOS ...27
4.MATERIAL E MÉTODOS ...28
4.1. Animais e divisão dos grupos ... 28
4.2. Dietas ... 28
4.3. Dosagens bioquímicas ... 29
4.3.1. Paraoxonase ... 30
4.3.2. Grupos Sulfidrilas ... 31
4.4. Análises estatísticas ... 33
5.ENSAIO BIOLÓGICO I:EXTRATO DE SEMENTES DE URUCUM ...34
5.1. Hipótese Experimental I ... 34
5.2. Desenho Experimental ... 34
5.3. Resultados deste experimento ... 35
5.4. Síntese dos resultados ... 38
5.5. Discussão ... 38
5.6. Hipótese Experimental II ... 45
5.7. Desenho experimental ... 45
5.8. Resultados deste experimento ... 45
5.9. Síntese dos resultados ... 47
5.11. Hipótese Experimental III ... 49
5.12. Desenho experimental ... 49
5.13. Resultados deste experimento ... 50
5.14. Síntese dos resultados ... 54
5.15. Discussão ... 55
6.ENSAIO BIOLÓGICO II:TORTA DE BIXINA ...59
6.1. Hipótese Experimental I ... 59
6.2. Desenho experimental I ... 59
6.3. Resultados desse experimento ... 60
6.4. Síntese dos resultados ... 69
6.5. Discussão I ... 69
6.6. Hipótese Experimental II ... 73
6.7. Desenho experimental II ... 73
6.8. Síntese dos resultados ... 73
6.9. Discussão II ... 73
7.ENSAIO BIOLÓGICO III:BIXINA PURA ...74
7.1. Hipótese Experimental... 74
7.2. Desenho experimental ... 74
7.3. Resultados desse experimento ... 75
7.4. Síntese dos resultados. ... 82
7.5. Discussão ... 82
8.CONCLUSÕES ...86
9.PERSPECTIVAS ...87
10.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...88
ANEXO I–PROTOCOLOS DAS DOSAGENS BIOQUÍMICAS ...97
A1. Ácido úrico ... 97
A2. Albumina ... 98
A3. Alanina Aminotransferase ... 100
A4. Aspartato aminotransferase ... 102
A5. Colesterol total ... 104
A6. Colesterol HDL ... 105
A8. Ferro Sérico... 109
A9. Fosfatase Alcalina ... 111
A10. Glicose ... 112
A11. Hemoglobina ... 114
A12. Malondialdeído ... 116
A13. Proteínas Totais ... 117
A14. Triacilgliceróis... 118
A15. Uréia ... 120
ANEXO II–PUBLICAÇÕES ...123
Resumos publicados em congressos ... 123
A
BREVIATURASADI: Acceptable dialy intake
ALP: Fosfatase alcalina
ALT: Alanina aminotransferase
ANOVA: Analise de variância
AST: Aspartato aminotransferase
Da: Dalton
DTNB: Ácido 5,5´-ditio-bis-(2-nitrobenzóico)
EDTA: Ácido etileno diamino tetracético
FAO: Food and Agriculture Organization
FOSHU: Foods for speciefied health use
HDL: Lipoproteina de densidade alta
LDL: Lipoproteina de densidade baixa
NOAEL: No observed any effect level
PON: Paraoxonase
Redox: redução – oxidação
TEA: Trietilamina
VLDL: Lipoproteina de densidade muito baixa
1. JUSTIFICATIVA
O conceito de alimentos funcionais é complexo e varia de autor para autor. Em
comum, são alimentos que não possuem apenas o objetivo de manutenção da vida ou
de mera satisfação da fome. São alimentos que promoveriam um benefício para
saúde, como por exemplo, a redução de risco de doenças crônicas não transmissíveis,
como as doenças cardiovasculares. A demonstração destes efeitos para a saúde
humana deve-se basear em evidências científicas. O interesse neste tipo de alimento
vem crescendo consideravelemente no mundo ocidental, especialmente depois do
início da década de 80. No mundo oriental, o interesse é mais antigo. Em várias
culturas orientais, há uma forte convicção que os alimentos e os medicamentos
provêm de uma mesma fonte e devem servir a um mesmo fim. Por outro lado,
acreditamos que alimentos funcionais são e devem ser alimentos, não drogas.
Os alimentos funcionais mais populares são as bebidas energéticas, produtos lácteos
probióticos e cereais prontos para o consumo. A principal alegação de funcionalidade é
para a saúde do sistema digestório (especialmente no Japão e na Europa), saúde
cardíaca (especialmente nos Estados Unidos e Europa), promotores de defesas
naturais e melhoradores dos níveis energéticos.
O interesse por alimentos funcionais pode ser percebido pelos valores financeiros
movimentados nos diversos países do mundo. Os Estados Unidos respondem pela
metade dos produtos que possuem alguma alegação de saúde. Ainda neste país, esses
produtos correspondem a 2% dos alimentos consumidos.
Como as alegações de saúde dos alimentos são muitas, o enfoque deste estudo será as
propriedades em reduzir o colesterol sérico e em melhorar o balanço redox fisiológico.
Diversos alimentos têm sido estudados e mostrados serem capazes de auxiliar nestas
propriedades, que contribuiriam para a redução dos riscos de doenças
cardiovasculares. Foi mostrado que diversos carotenóides exerceriam estes efeitos
O urucum é uma planta originária da América do Sul, mais especificamente da região
amazônica. É um arbusto que pode alcançar de 2 a 9 m de altura. É uma planta
ornamental, pela beleza e colorido de suas flores e frutos. Apesar de sua utilização
popular ter várias finalidades diferentes, o seu grande interesse está relacionado com
a procura do corante natural na utilização das indústrias de medicamentos, de
cosméticos, têxteis e, principalmente, de alimentos. O urucum é usado para fornecer
tons que variam de amarelo a vermelho.
Muitos componentes de diversas partes do urucum têm sido isolados e testados para a
verificação de sua atividade biológica. Entre elas, podemos citar os derivados
isoprenóides, terpenóides, hidrocarbonetos aromáticos e flavonóides. A superfície
externa das sementes de urucum contém vários pigmentos carotenóides, dentre eles o
mais abundante é conhecido como bixina (80%). O grande interesse em uso de
corantes naturais está relacionado com as suas baixas toxicidades. Realmente o
urucum se encaixa neste perfil e tem sido demonstrado que este corante não possui
efeito tóxico e a ingestão diária aceitável está estabelecida em até 0,065mg/Kg de
massa corporal expresso como bixina, que é o principal pigmento presente na sua
semente.
A comunidade local da região de Ouro Preto, MG, tem descrito que o urucum seria
capaz de reduzir o colesterol sérico de pacientes hipercolesterolêmicos. Considerando
esses aspectos, o objetivo principal do nosso trabalho foi avaliar a capacidade do
extrato de sementes de urucum e de seus pigmentos em reduzir o colesterol sérico e
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1.ALIMENTOS FUNCIONAIS
2.1.1. Conceito
O conceito de alimentos tem mudado consideravelmente no mundo ocidental, desde
sua importância critica para a sobrevivência ou pela mera satisfação da fome. A partir
dos anos de 1980, a promessa de alimentos que promoveriam uma melhor saúde e
bem-estar, contribuiu para reduzir o risco de enfermidades crônicas não transmissíveis
prevalentes, tais como enfermidades cardiovasculares, o câncer, a obesidade, o
diabetes, a osteoporose e outras. O conceito de alimentos como elixires mágicos da
saúde não é novo, pois a crença no poder medicinal dos alimentos é tão antiga como a
história escrita da humanidade. O que é novo é a explosão do interesse pelos
alimentos presumidamente saudáveis ou curativos, que tem muito a ver com a
demanda crescente dos consumidores, especialmente os do primeiro mundo, que
aspiram um bem-estar físico e mental perene (Ros, 2001). O mundo ocidental tem se
conscientizado de que os alimentos podem influir na saúde e no comportamento em
mais maneiras que eram suspeitos no início das ciências nutricionais (Sanders, 1998).
No que diz respeito aos alimentos funcionais, Lajolo (2007) afirma que legislações
adequadas são essenciais para proteger a saúde pública e estimular o
desenvolvimento tecnológico.
Na década de 1980, os japoneses começaram a perceber a importância da
manutenção e melhoramento da sua saúde com um aumento gradual na ocorrência de
doenças relacionadas com o estilo de vida e o governo começou a prestar mais
atenção no envelhecimento da população (Ohama et al., 2006). Então crescia o
interesse em alimentos que, além de satisfazer requerimentos nutricionais e sensoriais
básicos, desempenhassem efeitos fisiológicos benéficos (Candido e Campos, 1995).
Desta forma, muitos estudos foram feitos acerca dos efeitos fisiológicos de vários
et al., 2006). A função primária está relacionada com a nutrição, a secundária é a
satisfação sensorial dos alimentos e a função terciária está diretamente envolvida na
modulação dos sistemas fisiológicos humanos, como o sistema imunológico, o
endócrino, o nervoso, o circulatório e o digestório (Arai, 1996).
A demonstração dos efeitos benéficos dos alimentos funcionais para a saúde deve
basear-se em evidências científicas. A nascente ciência dos alimentos funcionais
propõe várias etapas na investigação (e desenvolvimento, no caso de alimentos
elaborados) dos mesmos. O passo inicial deve ser a identificação e análise da interação
dos componentes alimentares e suas funções biológicas. O passo seguinte deve ser a
verificação das hipóteses geradas a partir dos estudos básicos em um modelo
apropriado e com marcadores biológicos válidos. Estes marcadores podem ser o
consumo, o efeito biológico (funcionalidade) e a suscetibilidade a este efeito. Os
marcadores de suscetibilidade permitem avaliar as diferenças individuais na resposta
do alimento em questão ou a mudança de hábitos dietéticos, associadas a uma
dotação genética e sua interação com outros componentes dietéticos ou ambientais. É
evidente que a demonstração de uma funcionalidade de um alimento deve-se associar
a um estudo detalhado da segurança da dose necessária para que se manifeste, o qual
é um pré-requisito indispensável nos alimentos fortificados (Ros, 2001).
Apesar do conceito de alimentos funcionais ser creditado aos japoneses, a história
desse tipo de alimento é bem mais antiga. Nos países asiáticos, muitos tipos de
alimentos são tradicionalmente associados com benefícios de saúde específicos
(Weststrate et al., 2002). Nesse continente, os alimentos funcionais são considerados
como uma parte integrante da cultura de muitos anos e há uma firme convicção de
que os alimentos e os medicamentos proveem de uma mesma fonte e devem servir
um mesmo fim. No entanto, só recentemente que os cientistas e os órgãos reguladores começaram a concordar que a “funcionalidade” dos alimentos deve ser
encontrada no alimento como um todo, ao invés de seus componentes individuais
(Verschuren, 2007). Alimentos funcionais chineses são legalmente aprovados pelo
diferentes e vários alimentos são utilizados também como medicamentos. A
dificuldade em diferenciá-los reflete a tradição chinesa que a medicina e a alimentação
compartilham da mesma origem (Arai, 2007).
Na verdade, alimento funcional não pode ser bem definido ou bem caracterizado.
Realmente, uma grande variedade de produtos alimentares é, ou será, no futuro,
caracterizado como alimento funcional, com uma variedade de componentes -
classificados ou não como nutrientes - que afetarão uma grande variedade de funções
relevantes do corpo, tanto para o bem-estar de saúde humana, como para a redução
do risco de uma doença. Assim, uma definição simples e universalmente aceita de
alimento funcional não existe ou existirá. Alimento funcional tem, portanto, que ser
entendido como um conceito (Roberfroid, 2000). Por outro lado, se for pensado em
alegação de função, o conceito é mais suscetível de ser universal e não muito
influenciado pelas características locais ou tradições culturais (Diplock et al., 1999).
Tanto na literatura científica, quanto na orientada pela publicidade, alimento funcional
tem tantas definições quanto o número de autores referindo-se a ela. Estas definições
vão desde simples declarações como: “Alimentos que, além de serem componentes da
nutrição básica, proporcionam benefícios sanitários” (IFIC Foundation, 1995);
“Alimentos ou produtos alimentares comercializados com a mensagem do benefício
para a saúde” (Riemersma, 1996); ou como na legislação brasileira: “Alimentos que
podem, além de cumprir com suas funções nutricionais básicas, produzir efeitos
metabólicos e ou fisiológicos e ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para
consumo sem supervisão médica” (ANVISA, 1999). Como também para definições bem
elaboradas, tais como: “Alimentos, bebidas e produtos derivados de substâncias
naturalmente presentes, consumidos como parte da dieta diária e que possuam
benefícios particulares fisiológicos quando ingerido” (Hilliam, 2000); “Alimentos
derivados de substâncias naturalmente presentes, que podem e devem ser
consumidos como parte da dieta diária e que afetam um determinado processo no
organismo quando ingerido” (Smith et al., 2008); “Alimentos similares em aparência
demonstram benefícios fisiológicos e/ou reduzem o risco de doenças crônicas além de
possuírem funções nutricionais básicas” (Health Canada, 1997) e; “Alimentos que
englobam produtos potencialmente úteis, incluindo qualquer modificação neste
alimento ou em sua composição de forma a proporcionar um benefício da saúde que
além dos nutrientes tradicionais contidos nele” (Food and Nutrition Board et al., 1994).
Existe uma clara relação entre os alimentos que consumimos e a nossa saúde. Além de
serem fontes de calorias e nutrientes, prevenindo doenças nutricionais como
desnutrição e raquitismo, é evidente que os alimentos que consumimos podem
contribuir, de alguma forma, para a manutenção da saúde e na redução do risco de
uma grande variedade de doenças (Sanders, 1998). Porém, o alvo para os alimentos
funcionais tem sido claramente diferente dos medicamentos, cujos objetivos são
prevenir e curar doenças (Verschuren, 2007). Alimentos funcionais são conhecidos
internacionalmente por diversos nomes diferentes (Candido e Campos, 1995), sendo
que nos Estados Unidos os mais utilizados são: Medical food (61% das citações em
publicações científicas), Nutraceutical (59%), Functional food (55%), Nutritional food
(52%), Pharmafood (41%), Designer food (39%), Fitness food (39%), Therapeutical food
(34%), entre outros (Park et al., 1997). Mas qualquer que seja a definição escolhida,
"alimento funcional" parece ser um conceito único que merece uma categoria própria,
uma categoria diferente das citadas e uma categoria que não inclua suplementos
dietéticos. É também um conceito que não pertence à nutrição e à farmacologia.
Alimentos funcionais são e devem ser alimentos, não drogas. Além disso, o seu papel
em relação à doença, na maioria dos casos, deve ser "reduzir os riscos", ao invés de
prevení-los (Roberfroid, 2000).
2.1.2. Mercado de alimentos funcionais
Os alimentos funcionais que encontramos no mercado atualmente são sempre
baseados em descobertas da ciência nutricional e em uma menor proporção de uma
estratégia de pesquisa deliberada para desenvolver os alimentos funcionais. Os
alimentos funcionais é difícil quantificá-los por causa das diferentes definições
utilizadas (Menrad, 2003). Considerando alimentos funcionais como alimentos que
possuem alegações de saúde específicas, o mercado destes nos Estados Unidos, Japão
e Comunidade Européia foi igual a sete bilhões de Euros no ano de 2000. Já o mercado
global movimentou aproximadamente 33 bilhões de Dólares (Hilliam, 2000).
O mercado mais importante e dinâmico de alimentos funcionais é o dos Estados
Unidos com uma participação de mais de 50%. Nesse país, ele é diferenciado em
alimentos funcionais com alegações específicas de saúde, alcançando um volume de
negócios de 500 milhões de dólares, e sem alegações de saúde, alcançando, no
mínimo, 15 bilhões de dólares (Hufnagel, 2000). No total, alimentos funcionais têm
uma participação de, aproximadamente, 2% do mercado de alimentos dos Estados
Unidos (Menrad, 2003).
Outro mercado importante é o japonês. Em fevereiro de 2000, os produtos que
estavam dentro do programa FOSHU (Foods for Specified Health Use) possuíam um
valor estimado em 2 bilhões de dólares (Hilliam, 2000). O crescimento de alimentos
classificados como FOSHU tem sido constante. O mercado desses produtos cresceu de
1 bilhão de Dólares em 1997 para 6 bilhões de Dólares em 2006 (Arai, 2007). No total,
mais de 1700 alimentos funcionais foram lançados no Japão entre os anos de 1988 e
1998 com um volume de negócios estimados em 14 bilhões de dólares em 1999
(Hilliam, 2000).
De acordo com as estimativas disponíveis para o mercado de alimentos funcionais, os
produtos que fazem alegações específicas de saúde em embalagens ou em publicidade
excedeu o volume de 2 bilhões de dólares na Europa no ano de 2000. Utilizando uma
definição mais ampla de alimentos funcionais, foi estimado que o mercado europeu
movimentou um volume de 4 a 8 bilhões de dólares no mesmo ano (Hilliam, 2000).
Isso significa que na Europa, a participação de alimentos funcionais é menor que 1% do
mercado de alimentos e bebidas. Nesse continente, Alemanha, França, Reino Unido e
funcionais. Em geral, o interesse em alimentos funcionais nos países do norte e do
centro da Europa é maior que os países do mediterrâneo (Menrad, 2003).
Os alimentos funcionais podem, entretanto, ser uma parte do mercado mais amplo de
alimentos saudáveis e com alegações de saúde (health-based/driven foods). Isto incluiria os alimentos naturais e orgânicos, produtos “diet” e “light”, controladores de
massa e produtos fortificados com vitaminas e/ou minerais. Considerando isso tudo,
esse mercado foi avaliado em aproximadamente 95 bilhões de Euros no ano de 2000.
Os alimentos mais populares são as bebidas energéticas, produtos lácteos probióticos
e cereais prontos para o consumo. A principal alegação de funcionalidade é para a
saúde do sistema digestório (especialmente no Japão e na Europa), saúde cardíaca
(especialmente nos Estados Unidos e Europa), promotores de defesas naturais e
melhoradores dos níveis energéticos. Em 2002 acreditava-se que o crescimento anual
nos cinco anos subseqüentes seria de 10%, significativamente superior ao crescimento
do mercado de alimentos como um todo, que estimava-se ser de 2% ao ano
(Weststrate et al., 2002).
Em 2005, Verbeke compilou os dados disponíveis de vários autores diferentes do
mercado global de alimentos funcionais e apresentou no seu artigo (Verbeke, 2005) a
seguinte tabela:
Tabela: Estimativa do tamanho do mercado global de alimentos funcionais
compilada por Verbeke (2005).
TAMANHO DO MERCADO (EM MIHLÕES
DE DÓLARES/ANO) ANO DEFINIÇÃO
15000 1992 Alimentos funcionais, enriquecidos e dietéticos
6600 1994 Alimentos funcionais
10000 1995 Alimentos funcionais
11300 1995 Alimentos funcionais
21700 1996 Alimentos funcionais, enriquecidos e dietéticos 10000 1997 Alimentos com benefícios de saúde específicos 22000 1998 Alimentos com benefícios de saúde específicos
16200 1999 Alimentos funcionais
17000 2000 Alimentos funcionais (previsão feita em 1998) 17000 2000 Alimentos funcionais (previsão feita em 1997)
33000 2000 Alimentos funcionais
7000 2000 Alimentos que possuem alegações de saúde específicas
A área de alimentos funcionais somente crescerá com sucesso se for capaz de integrar
os créditos científicos com o profundo entendimento dos consumidores, não
comprometimento do sabor e conveniência e comunicação efetiva. Um desafio chave
para a garantia do futuro brilhante de alimentos funcionais é prover bases sólidas para
os consumidores poderem confiar na segurança desses produtos e em suas alegações
de saúde, desempenho, desenvolvimento e/ou crescimento (Weststrate et al., 2002).
2.2.ALIMENTOS FUNCIONAIS E DOENÇAS CARDIOVASCULARES
As alegações de funcionalidade dos alimentos são muitas. Nesta revisão da literatura
enfocaremos a alegação em reduzir o colesterol e em melhorar o balanço redox
fisiológico.
2.2.1. Metabolismo de Lipoproteínas e Doenças Cardiovasculares
Lipoproteínas são proteínas compostas, sintetizadas na mucosa intestinal e no fígado
para promover o transporte dos lipídios no plasma sanguíneo. Os diversos tipos de
apoproteínas que fazem parte da composição das lipoproteínas possuem a função de
solubilizar os lipídios e possibilitar o seu transporte plasmático, além de corresponder
a elementos identificadores de cada tipo de lipoproteína. As apoproteínas podem ser
periféricas (superficiais à molécula) ou integrais (penetram na matriz lipídica). De uma
maneira geral, a relação entre as apoproteínas com os lipídios é semelhante às
membranas celulares que são, também, lipoprotéicas. As lipoproteínas são compostas
por uma parte protéica (apoproteína) na superfície da molécula (periféricas) e
introduzida na matriz lipídica (integrais). A porção lipídica é constituída de lipídios
apolares no núcleo da lipoproteína (ésteres de colesterol e tri-acil-gliceróis), ficando os
lipídios mais solúveis (colesterol livre e fosfolipídios) posicionados mais externamente.
Os lipídios da alimentação são transportados pelos quilomícrons enquanto que os
lipídios da síntese hepática são transportados pelas demais lipoproteínas.
A diferença básica entre cada lipoproteína diz respeito à quantidade de lipídios e
proteínas da molécula, sendo mais densa quanto maior a quantidade de proteínas
muito baixa densidade (LDL e VLDL = low e very low density lipoprotein) e alta
densidade (HDL = high density lipoprotein).
Os quilomícrons são as primeiras lipoproteínas do metabolismo lipídico, sendo
sintetizados na mucosa intestinal transportando os lipídios oriundos da dieta,
notadamente os triglicerídeos. Não são absorvidos pela circulação porta-hepática e
sim pelo duto linfático abdominal, driblando o metabolismo hepático e sendo
liberadas na circulação sangüínea pela veia jugular e, primeiramente, apresentada ao
tecido adiposo, onde deixa grande quantidade de seu conteúdo de triacilgliceróis,
retornando como quilomícrons remanescentes e são absorvidos pelos hepatócitos
para a metabolização dos lipídios que restam em sua molécula, principalmente o
colesterol.
A apoproteína C2 é responsável pela identificação dos quilomícrons pelos adipócitos,
induzindo a ação da enzima lipase-lipoproteíca do adipócito para favorecer a captação
dos ácidos graxos dos triglicerídeos. Esta lipoproteína é adicionada à molécula de
quilomícron pela lipoproteína HDL durante o transporte plasmático. A apoproteína
B-48 (assim chamada porque contém somente B-48% dos aminoácidos que o gene da
apo-B pode expressar) é uma proteína integral dos quilomícrons responsável pela sua
identificação e captação pelo hepatócito para o processo de degradação. A
apoproteína E também tem esta função e é adicionada à molécula do quilomícrons
pelo contato com a HDL da mesma forma que a apo-C2.
No fígado, há a síntese constante de colesterol e triacilgliceróis a partir do excesso de
acetil-CoA produzida durante o metabolismo energético. Esses lipídios endógenos são
transportados pela lipoproteína VLDL que possui a apo-B100 como principal
apoproteína. Após ser liberada para a corrente sangüínea, a HDL transfere a apo-C2 e
apo-E para a molécula de VLDL, da mesma maneira como faz com os quilomícrons.
Desta forma, a VLDL pode ser reconhecida pelos adipócitos e ter o seu conteúdo de
Figura 2 – Metabolismo de Lipoproteínas.
(1) Os quilomícrons são absorvidos pelo duto linfático abdominal e lançados na corrente sangüínea; (2) Os quilomícrons recebem a apo-C2 e apo-E da HDL, (3) depositando os ácidos graxos dos tri-acil-glicerol que transportam nos adipócitos; (4) Após a absorção dos ácidos graxos pelo adipócito, os quilomícrons tornam-se quilomícrons remanescentes e (5) são captados pelos hepatócitos para a degradação do colesterol presente em sua molécula até (6) a excreção na bile; (7) Os tri-acil-glicerol e colesterol endógenos são transportados pela VLDL sintetizada no fígado que (8) recebe a apo-C2 e apo-E da HDL, (9) depositando os tri-acil-gliceróis nos adipócitos; (10) A VLDL remanescente (IDL) tem dois destinos: (11) ou é captada pelos hepatócitos (12) sendo excretado pela bile, ou (13) doa a apo-C2 e apo-E para a HDL, recebendo colesterol estereficado, (14) tornando-se LDL; (15) A LDL é captada por células periféricas (principalmente das gônadas e supra-renais) através de receptores específicos para apo-B100, podendo ser captada pelos hepatócitos; (16) O fígado sintetiza HDL que retira colesterol livre do plasma e o esterifica com acil-glicerol através
da enzima LCAT. Atua no metabolismo da VLDL e LDL e é captado pelo fígado para a degradação do colesterol; ˆ Todo colesterol
livre obtido das lipoproteínas captadas pelo hepatócito são liberados na bile como colesterol livre ou ácidos biliares.
Após a retirada dos triacilgliceróis, a VLDL torna-se bastante densa e de menor
tamanho, sendo denominada de VLDL remanescente (ou IDL). As apoproteínas C2 e E
são transferidas de volta para a HDL, bem como moléculas de triacilglicerol e de
fosfolipídios que ainda restam em sua composição. A HDL, por sua vez, transfere
ésteres de colesterol para a VLDL. Ao final deste processo de recombinação molecular
entre as moléculas de HDL e VLDL remanescente, há a formação de uma nova
lipoproteína, denominada de LDL.
A LDL, assim como a VLDL, possui em sua composição a apo-B100 (assim chamada por
apresentar todos os aminoácidos que o gene da apo-B pode expressar) e uma grande
as células têm a capacidade de captar a LDL, mas, a captação ocorre,
preferencialmente, nas células das gônadas, supra-renais e fígado. A captação da LDL
se dá pela presença de receptor celular para a apo-B100 que promove a internalização
do complexo receptor/lipoproteína, possibilitando um controle da entrada de LDL na
célula, uma vez que todas estas células são capazes de sintetizar colesterol.
A molécula de HDL possui importante função na manutenção dos níveis plasmáticos de
colesterol, pois possibilita a retirada do colesterol livre do plasma esterificando-o com
o triacilglicerol através da enzima LCAT (lecitina colesterol-acil-transferase) e
transferi-lo à molécula de VLDL remanescente (transformando-a em LDL) favorecendo o
consumo do colesterol pelas células periféricas e pelo fígado. A HDL, ainda, é captada
pelos hepatócitos onde tem o seu colesterol degradado em ácidos biliares ou
excretados como colesterol livre na bile (Vieira, 1999).
A doença cardiovascular constitui-se na principal causa de morbidade e mortalidade
no mundo ocidental, sendo responsável por mais de 50% das mortes nos países
desenvolvidos. Ela inclui a doença coronária e a doença vascular periférica (Mead e
Ramji, 2002; Witztum e Steinberg, 2001), conhecida por arterioesclerose.
Arterioesclerose refere-se a um grupo de desordens que possuem em comum o
espessamento e a perda de elasticidade das paredes arteriais. Três variantes
morfológicas distintas estão incluídas no termo arteriosclerose: aterosclerose,
caracterizada pelo espessamento e deposição lipídica na camada íntima; Esclerose
calcificante média de Monckeberg, caracterizada pela calcificação da média de artérias
musculares; Arterioloesclerose, caracterizada pelo espessamento das paredes de
artérias menores ou arteríolas. A aterosclerose é a forma mais comum e importante da
arterioesclerose (Schoen, 1994). A aterosclerose consiste de uma enfermidade lenta e
progressiva, que geralmente, inicia-se na infância e as manifestações clínicas
revelam-se na idade adulta. Afeta primariamente a íntima das artérias de grandes e médios
calibres caracterizados pelo depósito e acúmulo de lipídios, pela proliferação de fibras
colágenas e pela freqüente ocorrência de calcificação nas áreas afetadas, nas fases
considerado como umas das causas da aterosclerose. Entretanto, a oxidação de
lipoproteínas, particularmente as de densidade baixa (LDL), parece ser um fator
importante no início do processo aterosclerótico (Bischoff e Heller, 1998). Partículas de
LDL em excesso se acumulam nas paredes dos vasos e são oxidadas. A LDL oxidada
estimula as células endoteliais a espalhar moléculas adesivas, que capturam monócitos
e linfócitos T do sangue. As células endoteliais também secretam quimiocinas, que
atraem as células capturadas para a íntima. Na íntima, os monócitos amadurecem e se
tornam macrófagos ativos. Os macrófagos e os linfócitos T produzem mediadores de
inflamações, inclusive citocinas e fatores que promovem a divisão das células. Os
macrófagos também produzem os receptores scavengers, que os ajudam a fagocitar as
LDL oxidadas, entretanto eles não as metabolizam. Após os macrófagos terem
fagocitado as LDL oxidadas, eles ficam repletos de gotículas gordurosas. Esses
macrófagos, cuja aparência faz com que sejam chamados de células em espuma, em
associação com linfócitos T formam a listra gordurosa, a primeira manifestação de uma
placa aterosclerótica (Stocker e Keaney, Jr., 2004).
2.2.2. Relação entre alimentos funcionais e doença s cardiovasculares
A hipótese que a peroxidação lipídica desempenhasse um papel importante na
patogênese da aterosclerose despertou crescente entusiasmo sobre o uso de
antioxidantes como agentes antiaterogênicos. Os antioxidantes mais investigados,
tanto em experimentação animal, como no homem, têm sido o alfa-tocoferol
(vitamina E), ácido ascórbico (vitamina C), carotenóides e os flavonóides. As
propriedades antioxidantes desses compostos poderiam reduzir as reações de
peroxidação lipídica e retardar o processo de aterogênese. Então o conhecimento de
alimentos que ajudassem na redução do pool de colesterol corporal e/ou na redução
da oxidação lipídica é de grande contribuição para a redução de doenças
cardiovasculares.
Diversos alimentos têm sido estudados e mostrados serem capazes de auxiliar na
redução do colesterol sérico. Alguns alimentos bem comuns em nosso dia-a-dia já
exemplo: o grão de bico (Yang et al., 2007), a linhaça (Bloedon e Szapary, 2004), o
arroz integral (Murata et al., 2007), o alho (Gorinstein et al., 2006) e o café (Cornelis e
El Sohemy, 2007).
2.3.URUCUM (BIXA ORELLANA L.)
O urucum é uma planta originária da América do Sul, mais especificamente da região
amazônica. O nome popular tem origem na palavra tupi
“ru-ku”, que significa “vermelho”. No Brasil, esta planta
é conhecida vulgarmente como urucum ou urucu. No
Peru e em Cuba ela é conhecida como atolé, achiote e
bija; axiote, no México; achiote, achote, anatto, bija e
santo-domingo, em Porto Rico; bixa, na Guiana; analto,
em Honduras; guajachote, em El Salvador; onotto e onotillo, na Venezuela; achiote e
urucu, na Bolívia; urucu, na Argentina; roucou, em Trinidad; roucou e koessewee, no
Suriname e annatto nos Estados Unidos da América. Sua disseminação em vários
países do continente americano está relacionada com a procura do corante natural na
utilização das indústrias de medicamentos, de cosméticos, têxteis e, principalmente,
de alimentos (Barbosa-Filho, 2006).
2.3.1. Etnobotânica do Urucum
O urucuzeiro é um arbusto que pode alcançar de 2 a 9 m de altura. É uma planta
ornamental, pela beleza e colorido de suas flores e frutos (Figura 1) (Barbosa-Filho,
2006). O seu sistema radicular é pivotante, apresentando um eixo principal de onde
saem raízes secundárias e terciárias. As folhas são alternadas, completas, com longos
pecíolos, cordiformes, acuminadas, dispostas alternadamente em relação aos ramos,
glabras (quando adultas), medindo de 8 a 20 cm de comprimento e 4 a 15 cm de
largura. Possui limbo ligeiramente ovalado, nervura central típica e nervura secundária
ascendente, sendo quatro a partir da base do limbo, duas de cada lado da nervura
semelhante à dos terminais dos galhos e de caducidade precoce, de 3 a 5 mm de
comprimento. As flores possuem cor rosa claro e apresentam um ovário contendo
uma série de óvulos em seu interior. São hermafroditas com cinco sépalas, surgindo
nas extremidades dos ramos, formando fascículos onde nascem cápsulas ovóides com
dois carpelos cobertos de espinhos flexíveis, com cinco pétalas orbiculares,
glandulosas na base, decíduas, obovais, inteiras. Os estames são numerosos e as
anteras ovais, pistilo simples e alongado. Cada inflorescência é composta por um
número variável de flores (10 a 80). Os frutos possuem o formato tipo cápsula ou
cachopa, ovóide ou globosa, com 2 a 3 carpelos que variam de 3-4 cm de comprimento
e 3-4,5 cm de diâmetro, na qual se encontram sementes de 5 a 6 mm de comprimento.
Externamente, são revestidos por espinhos inofensivos e possuem coloração variável
entre o verde, vermelho-pálido e roxo. No seu interior, são encontradas, em média, 40
sementes. As sementes são grosseiramente arredondadas, revestidas por uma polpa
mole de coloração avermelhada, as quais se tornam secas, duras e de coloração escura
com o amadurecimento. Apresentam comprimento e diâmetro médios de 0,55 e 0,4
cm, respectivamente (Franco et al., 2006). Essa planta possui uma das menores
quantidades de DNA 4C (quantidade de DNA no núcleo pós-replicação) – 0,78pg
(aproximadamente 764Mbp) e possui um número de cromossomos igual a 14 (2n)
(Hanson et al., 2001). É uma planta de polinização cruzada e, por isso, altamente
heterozigota (Rivera-Madrid et al., 2006).
O urucum possui um uso amplo e folclórico na Índia, China, Brasil, Filipinas e Guiana. A
planta é um antídoto contra venenos de serpentes e de insetos em geral, útil em dores
de cabeça, desordens sanguíneas, como antiemético e para melhorar a sede (Shilpi et
al., 2006). As sementes possuem funções condimentares, estomáquicas, laxativas,
cardiotônicas, hipotensoras, expectorantes e antibióticas, ainda, agem como
antiinflamatórios para as contusões e feridas, apresentando emprego interno na cura
das bronquites e externo nas queimaduras. Um óleo industrial também é obtido das
sementes do urucuzeiro (Barbosa-Filho, 2006). As sementes possuem propriedades
adstringentes, antitérmicas e são um bom remédio para gonorréia (Shilpi et al., 2006).
das folhas tem ação contra as bronquites, faringite e inflamação dos olhos
(Barbosa-Filho, 2006). As raízes são também utilizadas no tratamento da gonorréia e como
antiperiódico e antipirético. Infusões de folhas e raízes são úteis no controle da
epilepsia, da disenteria, da febre e da icterícia. Moradores de Bangladesh usam as
folhas como remédio para uma série de doenças, incluindo diarréia, insônia e doenças
de pele (Shilpi et al., 2006).
2.3.2. Mercado de Urucum
Muitos materiais de origem natural têm sido usados para colorir alimentos, drogas e
cosméticos por centenas de anos, tais como cinzas, compostos minerais e plantas.
Mais tarde descobriu-se que determinados materiais, na maior parte derivados de
plantas, poderiam ser usados, não só como corantes, mas também como realçadores
de sabor. Assim, tumérico, páprica, açafrão e o urucum passaram a ser comumente
utilizados. O urucum é usado para fornecer tons que variam de avermelhado à
amarelo-manteiga em uma variedade de alimentos, drogas e cosméticos (Hallagan et
al., 1995; JECFA, 2003). Existe interesse considerável no mundo todo no
desenvolvimento de corantes de fontes naturais para ser usado no processamento de
alimentos para torná-los mais visualmente atraentes. Entre os corantes naturais,
extratos obtidos de sementes de urucum têm sido amplamente usados em muitos
alimentos industrializados, especialmente produtos lácteos (Jorge et al., 1998).
Estimativas de 2006 mostravam que o Peru é o maior produtor mundial de urucum,
seguido do Brasil e do Quênia (Balaswamy et al., 2006).
Existem 35 indústrias produtoras de corantes no território brasileiro, desse total
54,17% são produtoras de corantes naturais e 12,5% produzem corantes artificiais.
Dentre os corantes naturais, o urucum é o mais produzido e utilizado. As principais
aplicações dos corantes à base de urucum nas indústrias alimentícias são: no setor de
embutidos (salsichas) onde o consumo é cerca de 1,5 milhões de litros/ano do corante
líquido hidrossolúvel; o consumo nas indústrias de massas, cerca de 500 mil litros do
de 120 mil litros do corante hidrossolúvel e estima-se que mais de 2,8 t/ano de
corantes extraídos de sementes de urucum sejam consumidas em outros alimentos e
em outras aplicações não alimentícias (cosméticos e farmacêuticos) (Franco, 2006).
Na última década, o mercado de grãos de urucum sofreu importantes oscilações. Nos
anos de 1990, 1991 e 1992, os preços pagos aos produtores variaram de US$ 0,70 a
1,00/kg de grãos. Na entressafra (novembro /93 a maio/94), elevaram-se a patamares
superiores a US$ 3,00/kg. Já nas safras de 1995, os grãos de urucum foram
comercializados a preços que variaram de US$ 1,00 a 1,80/kg de grãos. Essa variação
ocorreu em função da época e da região produtora. Entre 1996 e 1998 os preços
caíram vertiginosamente, chegando a preços abaixo do custo de produção, em
algumas zonas produtoras. A partir de 1999 os preços voltaram a subir pelo
desestímulo de alguns produtores que nos anos anteriores tiveram preços baixos e
dificuldades na comercialização. Alguns produtores abandonaram suas áreas ou
dispensaram menores investimentos no cultivo, afetando a produtividade. Nas safras
de 1999, 2000 e 2001 os preços voltaram a estimular os produtores, que têm recebido
entre US$ 0,80 a 1,00/kg de grãos. Importante lembrar que a demanda do mercado
exterior também é crescente, em função da procura por alimentos coloridos com
corantes naturais, assim como, as indústrias de cosméticos, farmacêutica e têxtil vêm
também aumentando ano após ano, a procura por esse corante (Franco, 2006).
Em 1999 a produção brasileira de grãos de urucum situava-se, em torno de 10.000 a
12.000 toneladas/ano, sendo que desse total, 60% eram destinados à fabricação de
colorífico, 30% à fabricação de corantes e 10% à exportação. O consumo de colorífico é
mais popular na região Nordeste do Brasil ou em áreas de maior concentração da
população nordestina, pela tradição no consumo deste corante natural na sua
culinária. Assim, em 2001 estimava-se em 1.600 toneladas de colorífico consumido
anualmente (Franco, 2006).
Devido ao seu grande uso como corante alimentar, a toxicidade do urucum e de seus
extratos tem sido avaliadas desde a década de 1970. No XVIII encontro do comitê de
especialistas da WHO e FAO em aditivos alimentares (JECFA), em 1974, os níveis em
que nenhum efeito foi observado (NOAEL) foram estabelecidos em 0,5% na dieta, na
maior dose testada (250 mg/kg de massa corporal) e a ingestão diária aceitável (ADI),
em até 1,25 mg de pigmentos/kg de massa corporal. Em 1982, a ADI foi reavaliada e
estabelecida em até 0,065 mg/Kg de massa corporal expresso como bixina (JECFA,
2003).
Tennant e O'Callaghan (2005) estudaram o consumo de produtos que possuem
derivados do urucum como corantes na Inglaterra. Eles concluíram que os níveis reais
de corantes derivados do urucum presentes nos produtos alimentícios foram,
geralmente, inferiores aos limites máximos permitidos nos regulamentos da
Comunidade Européia e dos padrões do Codex Alimentarius. Quando combinado com
os dados de consumo destes alimentos por consumidores individuais, estimou-se que
altos níveis de ingestão tiveram um potencial para exceder a ADI recomendada pelo
JECFA. Entretanto, as estimativas de ingestão foram extremamente conservadoras
porque foi assumido que um consumidor sempre escolheu um alimento que estava
colorido com este corante. Na prática, isso é altamente improvável, uma vez que estes
corantes estão associados somente a certas combinações de produto/sabor. Os
autores acreditam que, sendo assim, é pouco provável que a ingestão seja mantida
acima da ADI por um período de tempo significativo.
Estudos em cachorros mongrel alimentados com uma preparação clorofórmica de
urucum e estudos similares em ratos e camundongos alimentados com preparações
etanólicas mostraram que estas preparações não apresentaram resultado relevante
dentre os parâmetros analisados. Estudos em camundongos que receberam este
corante não demonstraram potencialidade em causar danos genéticos no teste de
formação de micronúcleos em medula óssea in vivo (JECFA, 2003).
Fernandes et al. (2002) administraram, durante 21 dias, a camundongos e ratos
7,5 e 68 mg de extrato/kg de massa corporal, respectivamente) ou a norbixina (0,8;
7,6; 66 e 274 mg de norbixina/Kg de massa corporal e 0,8; 8,5 e 74 mg de norbixina/kg
de massa corporal, respectivamente) com o objetivo de avaliar a toxicidade do extrato
e deste carotenóide. Em ratos, nenhuma toxicidade foi detectada pela análise química
do plasma. Em camundongos, norbixina induziu um aumento na atividade da alanina
aminotransferase (ALT) enquanto tanto o extrato quanto a norbixina induziram uma
redução nas proteínas totais e globulinas plasmáticas. Entretanto, nenhum sinal de
toxicidade foi detectado no fígado pela análise histopatológica. Nenhum aumento de
dano genético foi detectado no fígado ou rim de camundongos tratados com o extrato
ou com o carotenóide. Não obstante, houve um efeito considerável da norbixina sobre
a glicemia em ambas as espécies de roedores. Em ratos, a norbixina induziu um quadro
de hiperglicemia, enquanto que em camundongos, ela induziu um quadro de
hipoglicemia. Ratos e camundongos tratados com extrato ou com norbixina mostraram
um quadro de hiperinsulinemia e hipoinsulinemia respectivamente, indicando que as
células β-pancreáticas estavam funcionais. Os resultados deste trabalho sugerem que,
tanto para ratos quanto para camundongos, os corantes testados não apresentaram
um efeito tóxico.
Vez de Lima et al. (2003) avaliaram o possível efeito protetor de extrato de sementes
de urucum em danos genéticos induzidos por ciclofosfamida. O teste do micronúcleo
foi realizado em células de medula óssea de camundongos machos Swiss tratados com
extrato (1330, 5330 ou 10670 ppm) incorporados à dieta. Nenhuma toxicidade ou
mutagenicidade foi atribuída ao extrato, tampouco nenhum efeito protetor contra o
dano provocado pela ciclofosfamida foi observado.
Bautista et al. (2004) avaliaram os efeitos de extrato de sementes de urucum
(contendo 27% de bixina) administrados, via gavage, a ratos machos e fêmeas num
regime sub-agudo (4 semanas, 20 doses; 2000 mg/Kg de massa). Os resultados
mostraram que os machos que receberam o extrato tiveram a massa corporal
reduzidos, sem que houvesse alteração na ingestão alimentar ou na eficiência
a administração de extrato não provocou nenhuma alteração. Os autores concluíram
que o extrato utilizado não apresentava nenhuma toxicidade para ratos nos
parâmetros avaliados.
Barrio et al. (2004) trabalharam com 37 extratos diferentes de plantas testando a
atividade anti-parasitária contra Trypanosoma cruzi, Trichomonas vaginalis e
Heligmosomoides polygyrus. Extratos de urucum, juntamente com extrato de Clusia
rósea, foram os que apresentaram as maiores atividades anti-protozoárias e
nematocidicas entre os extratos testados.
Núñez et al. (2004) testaram extratos etanólicos de 12 plantas diferentes para verificar
a habilidade neutralizante dos efeitos provocados pelo veneno da serpente Bothrops
asper como a formação de edema e anti-coagulante (defibrinating). O extrato
etanólico com o urucum foi capaz de neutralizar parcialmente a atividade formadora
de edema provocada pelo veneno desta serpente.
2.3.4. Substâncias isoladas do Urucum
Muitos componentes têm sido isolados de diversas partes do urucum e testados para a
verificação de sua atividade biológica, como isoprenóides, carotenóides e outros.
Os carotenóides são compostos ubíquos na natureza, presentes em diversas estruturas
de plantas e grande variedade de animais. Estes pigmentos não somente são
responsáveis pela cor de diversas flores e frutos, como favorecem a polinização e
dispersão de sementes e de outras inúmeras funções. Durante anos, a importância
nutricional dos carotenóides era atribuída ao fato que alguns possuírem atividade
pró-vitamina A. Porém, o interesse de outros compostos isoprenóides vem crescendo
muito devido a estudos que concluem que estes compostos possuem atividade
antioxidante e são benéficos para a redução de risco de diversas enfermidades como
certos tipos de câncer e transtornos vasculares (Melendez-Martinez et al., 2007). β
-caroteno e o seu precursor, licopeno, são poliisoprenóides e carotenóides sintetizados
em plantas a partir do mevalonato pelo caminho da β-Hidróxi-metil-glutaril Coenzima
negativamente pelos produtos finais da via da síntese de isoprenóides (Fuhrman et al.,
1997). A biodisponibilidade de carotenóides é influenciada por diversos fatores, como
as características das fontes de alimentos, interações com outros fatores dietários,
tamanho das partículas, a localização do carotenóide na planta e a presença de fatores
que interferem com a formação de micelas (Paiva e Russell, 1999). Além disso, Omaye
et al. (1996) mostraram que uma dieta pobre em β-caroteno e adequada nos outros
nutrientes, incluindo vitamina A, resultou em um status antioxidante alterado, porém
possui pouco impacto nos níveis de vitamina E e glutationa peroxidase, sugerindo que
essa substância pode ser importante na prevenção de dano oxidativo.
Muitos isoprenóides têm sido identificados nas sementes de urucum incluindo
geranil-geraniol, farnesilacetona, octadecanoato de geranilgeranil, formiato de geranilgeranila
e δ-tocotrienol. Entretanto, o principal isoprenóide produzido no urucum é o
apocarotenóide bixina e seus derivados (Mercadante et al., 1996; Lancaster e
Lawrence, 1996; Narvaez et al., 2001). Narvaéz et al. (Narvaez et al., 2001) estudaram
a atividade enzimática e a expressão genética da HMG-CoA redutase durante a
floração, desenvolvimento do fruto e formação das sementes no urucum. Os autores
sugeriram que a HMG-CoA redutase é parte de uma família multigenética com, pelo
menos, 4 cópias. O gene clonado também parece ser regulado transcricionalmente
durante o desenvolvimento da flor e fruto.
Frega et al. (1998) extraíram a fração lipídica de sementes de urucum com n-hexano e
isolaram seus componentes por cromatografia de camada fina. Os resultados
mostraram que a fração lipossolúvel antioxidante continha somente tocotrienóis,
principalmente δ-tocotrienol, mas não foram encontrados tocoferóis. A quantidade de
δ-tocoferol encontrada foi de 140mg/100g de semente seca ou 5,2 g/100g de extrato
lipídico, determinado por cromatografia gasosa e; 147 mg/100g de semente seca ou
5,5 g/100g de extrato lipídico, determinado por cromatografia líquida de alta
eficiência. Os autores afirmaram que nenhuma outra espécie vegetal contém
quantidades apreciáveis de δ-tocoferol como o urucum. Derivados metílicos do tocol