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BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA PARA O IDOSO

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BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA PARA O IDOSO

Autor: Frederico Lopes Virgulino de Medeiros Advogado - OAB/PB 14.379

Formação: Bacharel em Direito pelo UNIPÊ. Especialista em Direito Previdenciário pela Damásio de Jesus (2015). Especialista em Ordem Jurídica, Cidadania em Ministério Público (2009).

Introdução

O objetivo do presente trabalho é fazermos uma reflexão sobre o Benefício de Prestação Continuada, erroneamente chamado de Loas, para o idoso.

Adiantamos que não faremos um estudo analítico sobre o tema, ou, melhor dizendo, um trabalho perfunctório, porém não deixaremos de discorrermos de maneira geral sobre o tema em questão.

Utilizaremos como fontes de pesquisas nossa Constituição Cidadã de 1988, a Lei Orgânica da Assistência Social, de nº 8.742/93, o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741/2003, a doutrina especializada, jurisprudência pertinente e por fim, nossa experiência profissional como advogado militante.

Também não discorreremos sobre a evolução ou história do nosso

benefício assistencial, pois foge ao nosso objetivo, que é uma simples

explanação daquele para entendimento do nosso leitor.

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Esperamos que, ao término de nosso estudo, logremos deixar claro para nossos leitores sobre o Benefício de Prestação Continuada e sua importância para aqueles que precisam do mesmo.

Legislação pertinente

Como dissemos no tópico pertinente, nosso estudado Benefício de Prestação Continuada é erroneamente conhecido como LOAS, erro este, inclusive, repetido nas agências do INSS, no meio forense, magistério e principalmente entre aqueles que buscam esse benefício assistencial.

A sigla LOAS faz referência à LEI que regulamentou esse benefício assistencial, que já tinha previsão em nossa Carta Magna. Então, como devemos chamar o estudado benefício assistencial? A lei 8.742/93, que dispõe sobre a organização da assistência social, o denomina de Benefício de Prestação Continuada, ou seja, BPC. E assim o devemos chama-lo.

Outra questão que merece destaque antes de adentrarmos no estudo do BPC é que este não é um benefício previdenciário, como comumente pensam, mas um benefício assistencial. Mas, qual a diferença? Básica, para ter direito ao BPC não é necessário verter qualquer contribuição para o INSS, pois é um benefício assistencial, direcionado para aqueles que estão em situação de miséria e preenchem os requisitos legais. Tanto é assim, que o BPC não tem previsão na Lei 8.213/91, que dispõe sobre os benefícios da previdência social.

Constituição Federal

Fora escrito pelos constituintes que:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

[...]

V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir

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meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei1.

Verifica-se que, nossa Carta Magna, na sua verve de Estado Social, prevê um benefício assistencial A QUEM DELE NECESSITAR e INDEPENDENTEMENTE DE CONTRIBUIÇÃO, no valor de um salário mínimo á pessoa portadora de deficiência e ao idoso, estes em estado de miserabilidade. Contudo, o citado benefício assistencial era carente de regulamentação infraconstitucional, que fora feita pela Lei 8.742/93.

Observe-se que o BPC também tem como sujeito de direito aquela pessoa portadora de deficiência, porém, tal situação foge ao objeto do nosso estudo, motivo pelo qual não adentraremos no tema.

Atentemos que nossa Constituição é de outubro de 1988 e o BPC só viera a ser regulamentado em 1993, ou seja, só depois de transcorrido quase cinco longos anos.

Lei 8.742/93, que dispõe sobre a Organização da Assistência Social

Fora a Lei Orgânica da Assistência Social que, enfim, regulamentara o art. 203, inciso V da Constituição Federal, nos seguintes termos:

Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.

Art. 2o A assistência social tem por objetivos: (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)

e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família;

(Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) [...]

CAPÍTULO IV

Dos Benefícios, dos Serviços, dos Programas e dos Projetos de Assistência Social

SEÇÃO I

1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm

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Do Benefício de Prestação Continuada

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.

(Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)

§ 1o Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)

[...]

§ 3o Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)

§ 4o O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência médica e da pensão especial de natureza indenizatória. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)

§ 5o A condição de acolhimento em instituições de longa permanência não prejudica o direito do idoso ou da pessoa com deficiência ao benefício de prestação continuada. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)

[...]

§ 8o A renda familiar mensal a que se refere o § 3o deverá ser declarada pelo requerente ou seu representante legal, sujeitando-se aos demais procedimentos previstos no regulamento para o deferimento do pedido.(Incluído pela Lei nº 9.720, de 30.11.1998).

De partida, observemos que o artigo 2º da Lei Orgânica da Assistência Social repete os dizeres do artigo 203, inciso V da nossa Constituição Federal.

Desse modo, nada temos a acrescentar ao que fora dito linhas atrás.

Já com relação aos dispositivos legais contidos na lei 8.742/93 iremos analisar aqueles que entendemos de maior importância para conhecermos melhor o BPC. Alguns dispositivos são auto explicáveis, não merecem maiores digressões.

Já vimos que duas categorias de sujeitos de direitos podem usufruir o

BPC, qual seja, o idoso a partir de 65 anos de idade e aquela pessoa portadora

de deficiência. Contudo, como alertamos em outra oportunidade, iremos nos

concentrar na relação BPC e IDOSO.

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Do Benefício de Prestação Continuada aplicável ao Idoso

Conforme diz a lei 8.742/93, Lei Orgânica da Assistência Social, terá direito ao BPC aquele idoso de 65 de idade ou mais, homem ou mulher, que não tenha condições de prouver sua própria subsistência nem de tê-la por sua família. E aqui alguns conceitos e expressões merecem explicações: qual o significado da expressão “ que não tenha condições de prouver sua própria subsistência nem de tê-la por sua família”? Quem se encaixa no conceito de família?

Com relação à segunda pergunta o §1º do artigo 20 da Lei 8.742/93 é esclarecedor, pois diz que “1

o

Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto.

(Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)”

2

. Ou seja, somente aqueles parentes indicados no parágrafo citado podem ser considerados como “família”

para efeito de averiguação do direito ao BPC.

No tocante a primeira pergunta, de fundamental importância, o que significa não ter condições de prover sua própria subsistência nem de tê-la provida por sua família? Ou, melhor, como devemos interpretá-la? A resposta é dada pelo §3º do artigo 20 da Lei 8.742/93, que sentencia “§ 3

o

Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo.

(Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)

3

”.

Ou seja, para o dispositivo legal não tem condição de prouver sua subsistência nem de tê-la por sua família o idoso ou este pertencente a determinado grupo familiar que perceba uma renda mensal inferior a 1\4 do salário mínimo vigente.

Trazendo aquela fração do mínimo para os dias atuais, considera-se em estado de miserabilidade aquele idoso ou o grupo familiar que detenha uma

2 http://www.planalto.gov.br/cCivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm

3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8742.htm

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renda inferior a R$ 197,00. Portanto, passando disso não atenderia a um dos requisitos legais e, portanto, não faria jus ao BPC.

Sendo assim, o que podemos dizer que já apreendemos sobre o discorrido anteriormente: que terá direito ao BPC o idoso com 65 anos de idade ou mais, homem ou mulher, que renda como também seu grupo familiar inferior a 1/4 do salário mínimo, ou seja, atualmente, inferior a R$ 197,00 mensais.

Podemos perguntar: Esse critério objetivo de renda, de 1/4 do salário mínimo é absoluto? Existiriam condições peculiares do idoso, que, mesmo ele ou seu grupo familiar auferindo uma renda igual/superior a 1/4 do salário mínimo seria impeditivo de usufruir do BPC? A súmula do TNU resolve a questão, verbis: “A renda mensal, per capita, familiar, superior a ¼ (um quarto) do salário mínimo não impede a concessão do benefício assistencial previsto no art. 20, § 3º da Lei nº. 8.742 de 1993, desde que comprovada, por outros meios, a miserabilidade do postulante

4

”.

Ora, se o idoso demonstrar que, apesar do seu grupo familiar receber, por exemplo, um salário mínimo, contudo possui despesas ordinárias e correntes como aluguel ou compra de medicamentos ou tratamentos médicos, situações aquelas que consomem quase toda a renda do seu grupo, com certeza fará jus ao BPC, pois quando colocar na ponta do lápis renda/despesa se verificará um “rombo” no orçamento.

No mesmo sentido da Súmula nº 11 da TNU, fora a decisão do insigne Ministro do STF, o doutor Gilmar Mendes, da qual tomamos a liberdade de transcrevermos, logo a baixo, trecho de sua importante decisão, verbis:

A análise dessas decisões me leva a crer que, paulatinamente, a interpretação da Lei n° 8.742/93 em face da Constituição vem sofrendo câmbios substanciais neste Tribunal.

De fato, não se pode negar que a superveniência de legislação que estabeleceu novos critérios mais elásticos para a concessão de outros benefícios assistenciais - como a Lei n° 10.836/2004, que criou o Bolsa Família; a Lei n° 10.689/2003, que instituiu o Programa Nacional de Acesso à Alimentação; a Lei n° 10.219/01, que criou o Bolsa Escola; a Lei n° 9.533/97, que autoriza o Poder Executivo a conceder apoio financeiro a Municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações socioeducativas; assim

4 http://www.jf.jus.br/phpdoc/virtus/listaSumulas.php

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como o Estatuto do Idoso (Lei n° 10.741/03) - está a revelar que o próprio legislador tem reinterpretado o art. 203 da Constituição da República.

Os inúmeros casos concretos que são objeto do conhecimento dos juízes e tribunais por todo o país, e chegam a este Tribunal pela via da reclamação ou do recurso extraordinário, têm demonstrado que os critérios objetivos estabelecidos pela Lei n° 8.742/93 são insuficientes para atestar que o idoso ou o deficiente não possuem meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. Constatada tal insuficiência, os juízes e tribunais nada mais têm feito do que comprovar a condição de miserabilidade do indivíduo que pleiteia o benefício por outros meios de prova. Não se declara a inconstitucionalidade do art. 20, § 3o, da Lei n° 8.742/93, mas apenas se reconhece a possibilidade de que esse parâmetro objetivo seja conjugado, no caso concreto, com outros fatores indicativos do estado de penúria do cidadão. Em alguns casos, procede-se à interpretação sistemática da legislação superveniente que estabelece critérios mais elásticos para a concessão de outros benefícios assistenciais.

Tudo indica que - como parecem ter anunciado as recentes decisões proferidas neste Tribunal (acima citadas) - tais julgados poderiam perfeitamente se compatibilizar com o conteúdo decisório da ADI n°

1.232.

Em verdade, como ressaltou a Ministra Cármen Lúcia, "a constitucionalidade da norma legal, assim, não significa a inconstitucionalidade dos comportamentos judiciais que, para atender, nos casos concretos, à Constituição, garantidora do princípio da dignidade humana e do direito à saúde, e à obrigação estatal de prestar a assistência social 'a quem dela necessitar, independentemente da contribuição à seguridade social', tenham de definir aquele pagamento diante da constatação da necessidade da pessoa portadora de deficiência ou do idoso que não possa prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família." (Rcl n°

3.805/SP, DJ 18.10.2006).

Portanto, mantendo-se firme o posicionamento do Tribunal em relação à constitucionalidade do § 3o do art. 20 da Lei n° 8.742/93, tal como esposado no julgamento da ADI 1.232, o mesmo não se poderia afirmar em relação ao que decidido na Rcl - AgR 2.303/RS,

Rel. Min. Ellen Gracie (DJ 1.4.2005).

O Tribunal parece caminhar no sentido de se admitir que o critério de 1/4 do salário mínimo pode ser conjugado com outros fatores indicativos do estado de miserabilidade do indivíduo e de sua família para concessão do benefício assistencial de que trata o art. 203, inciso V, da Constituição.

Entendimento contrário, ou seja, no sentido da manutenção da decisão proferida na Rcl 2.303/RS, ressaltaria ao menos a inconstitucionalidade por omissão do § 3o do art. 20 da Lei n°

8.742/93, diante da insuficiência de critérios para se aferir se o deficiente ou o idoso não possuem meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, como exige o art.

203, inciso V, da Constituição.

A meu ver, toda essa reinterpretação do art. 203 da Constituição, que vem sendo realizada tanto pelo legislador como por esta Corte, pode ser reveladora de um processo de inconstitucionalização do § 3o do

art. 20 da Lei n° 8.742/93.

Diante de todas essas perplexidades sobre o tema, é certo que o Plenário do Tribunal terá que enfrentá-lo novamente.

Ademais, o próprio caráter alimentar do benefício em referência torna injustificada a alegada urgência da pretensão cautelar em casos

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como este.

Ante o exposto, indefiro o pedido de medida liminar.5

Pelo exposto e de acordo com os ditamos legais outrora ventilados, podemos resumir da seguinte maneira o preenchimento do idoso para que tenha direito ao BPC:

a. Possua 65 anos de idade ou mais, homem ou mulher;

b. A renda do grupo familiar, considerando seus integrantes, seja inferior a 1/4 do salário mínimo vigente, segundo o §3º do artigo 20 da lei 8.742/93, e;

c. Não possua outro benefício no âmbito da seguridade social ou de outro regime previdenciário, inclusive seguro desemprego, salvo assistência médica pensão de natureza indenizatória, de acordo com o §4º do artigo 20 da Lei 8.742/93.

A questão do § único do artigo 34 do Estatuto do Idoso, Lei 10.741/2003

O §3º do artigo 20 da lei 8.742/93, Lei Orgânica da Assistência Social é firme no sentido de que a renda do grupo familiar deve ser inferior a 1/4 do salário mínimo vigente.

Já falamos sobre o caráter não absoluto do §3º do artigo 20 da lei 8.742/93. Agora a questão se apresenta de outra maneira, da seguinte forma: é possível que, num mesmo grupo familiar dois idosos de 65 de idade sejam beneficiários do BPC? É possível que, no mesmo grupo familiar um idoso de 65 anos de idade receba um benefício previdenciário no valor de um salário mínimo e outro idoso com 65 anos de idade receba um BPC?

De acordo com os preceitos da Lei 8.742 no tocante aos dispositivos que regulam o BPC, podíamos responder aquelas perguntas com sonoros “não”, contudo tal posicionamento vai de encontro ao Estatuto do Idoso e à doutrina mais vanguardista.

5 http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo454.htm.

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Reza o § único, do artigo 34 do Estatuto do Idoso, Lei 10.741/2003:

Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário- mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas. (Vide Decreto nº 6.214, de 2007)

Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas6

O caput do artigo 34 do Estatuto do idoso não nos traz qualquer novidade. Esta vem garimpada no seu § único. O que nos diz esse dispositivo?

Simples: que, naquele grupo familiar, já existindo um idoso com 65 anos de idade beneficiário do BPC, a renda deste, via BPC, não será considerada, não será empecilho para que, outro idoso com 65 anos de idade, do mesmo grupo familiar, também seja beneficiário de Benefício de Prestação Continuada.

Desse modo respondemos a nossa primeira pergunta.

Agora, na mesma situação concreta outrora descrita, e se, ao invés de, no mesmo grupo familiar, for um idoso de 65 anos de idade gozando de um benefício previdenciário no importe de um salário mínimo, é possível que outro idoso, com 65 anos de idade, possa gozar de BPC? Segundo entendimento mais balizado, sim. Sãos os dizeres de Lazzari e Castro, verbis: Com base no princípio da isonomia, as decisões judiciais têm sido no sentido de estender essa exclusão de renda quando se tratar de benefício previdenciário de valor mínimo [...].”

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Desse modo, não é impeditivo que num mesmo grupo familiar existam dois idosos com 65 anos de idade na situação em que um receba um benefício de natureza previdenciária no importe de um salário mínimo e outro goze de um benefício de prestação continuada – BPC.

Ainda, é preciso que registremos que a doutrina e a jurisprudência atual, na sua maioria, têm “flexibilizado” mais ainda os ditames do § único do artigo 34 do Estatuto do Idoso. Como? Não só tem sido desconsiderada a renda do idoso de 65 anos de idade, mas também daquele que receba benefício

6http://www.planalto.gov.br/cCivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm

7 CASTRO, Carlos Alberto Pereira; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 14ª ed.

Florianopolis: Editora Conceito, 2012. p. 720

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previdenciário ou não no valor de um salário mínimo. E aí podemos perceber algumas situações interessantes, e infelizmente, pouco conhecidas pelo cidadão e até por alguns advogados, quais sejam:

a. Idoso com 65 anos de idade que receba BPC com idoso de 60 anos de idade que seja beneficiário de uma aposentadoria por idade rural.

b. Aposentadoria por idade urbana no valor de um salário mínimo com idoso com 65 anos de idade que receba um BPC;

c. Pessoa portadora de deficiência que receba BPC com idoso de 65 anos de idade que receba BPC;

d. Segurado beneficiário de aposentadoria por invalidez ou auxílio doença recebendo um salário mínimo com idoso de 65 anos de idade beneficiário de BPC.

e. Segurado beneficiário de auxílio acidente com valor do benefício inferior a um salário mínimo com idoso de 65 anos de idade que receba BPC.

Neste sentido colacionamos alguns julgados:

Processo: AG 16036 RS 2007.04.00.016036-8 Relator(a): VICTOR LUIZ DOS SANTOS LAUS Julgamento: 08/08/2007

Órgão Julgador: SEXTA TURMA Publicação: D.E. 06/09/2007 Ementa

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO. CONSTITUCIONAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO PAGO À IDOSO. EXCLUSÃO DA RENDA FAMILIAR PARA FINS DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.

A percepção de benefício previdenciário no valor de um salário mínimo por pessoa idosa, acima de 65 anos, não deve ser computada para efeito do cálculo da renda familiar per capita, caso outro membro da mesma unidade familiar venha a requerer benefício assistencial8.

Processo: AC 50222625520154049999 5022262-55.2015.404.9999 Relator(a): LUIZ ANTONIO BONAT

Julgamento: 17/11/2015 Órgão Julgador: QUINTA TURMA Publicação: D.E. 18/11/2015 Ementa

8 http://trf-4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1259737/agravo-de-instrumento-ag-16036

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BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. PORTADOR DE DEFICIÊNCIA. CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA. MISERABILIDADE. PREENCHIMENTO DE REQUISITOS. RENDA FAMILIAR. ART. 20, § 3º, DA LEI 8.742/93. RELATIVIZAÇÃO DO CRITÉRIO ECONÔMICO OBJETIVO. STJ E STF. PRINCÍPIOS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DO LIVRE CONVENCIMENTO DO JUIZ. BENEFÍCIO DE RENDA MÍNIMA. IDOSO. EXCLUSÃO.

CONSECTÁRIOS LEGAIS. TUTELA ESPECÍFICA. IMPLANTAÇÃO DO BENEFÍCIO.

1. O direito ao benefício assistencial previsto no art. 203, V, da Constituição Federal e no art.

20 da Lei 8.742/93 (LOAS) pressupõe o preenchimento de dois requisitos: a) condição de pessoa com deficiência ou idosa e b) condição socioeconômica que indique miserabilidade; ou seja, a falta de meios para prover a própria subsistência ou de tê-la provida por sua família.

2. O Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o REsp 1.112.557 representativo de controvérsia, relativizou o critério econômico previsto no art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93, admitindo a aferição da miserabilidade da pessoa deficiente ou idosa por outros meios de prova que não a renda per capita, consagrando os princípios da dignidade da pessoa humana e do livre convencimento do juiz.

3. Reconhecida pelo STF, em regime de repercussão geral, a inconstitucionalidade do § 3º do art. 20 da Lei 8.742/93 (LOAS), que estabelece critério econômico objetivo, bem como a possibilidade de admissão de outros meios de prova para verificação da hipossuficiência familiar em sede de recursos repetitivos, tenho que cabe ao julgador, na análise do caso concreto, aferir o estado de miserabilidade da parte autora e de sua família, autorizador ou não da concessão do benefício assistencial.

4. Deve ser excluído do cômputo da renda familiar o benefício previdenciário de renda mínima (valor de um salário mínimo) percebido por idoso integrante da família. Aplicação analógica do art. 34, parágrafo único, da Lei 10.741/2003. 5. Declarada pelo Supremo Tribunal Federal a inconstitucionalidade do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, os juros moratórios devem ser equivalentes aos índices de juros aplicáveis à caderneta de poupança (STJ, REsp 1.270.439/PR, 1ª Seção, Relator Ministro Castro Meira, 26/06/2013). No que tange à correção monetária, permanece a aplicação da TR, como estabelecido naquela lei, e demais índices oficiais consagrados pela jurisprudência. 6. O cumprimento imediato da tutela específica, diversamente do que ocorre no tocante à antecipação de tutela prevista no art. 273 do CPC, independe de requerimento expresso por parte do segurado ou beneficiário e o seu deferimento sustenta-se na eficácia mandamental dos provimentos fundados no art. 461 do CPC9.

TNU: Concessão de benefício assistencial a deficiente. Caba a exclusão de benefício de valor mínimo recebido pelo, ainda que não idoso e nem deficiente e ainda que o benefício seja de cunho previdenciário, o qual também fica excluído do grupo para fins de calculo da renda familiar per capita. (PEDILEF nº 2007.83.00.502381-1/PE DJ 19.08.2009)10.

Podemos perceber que as variações são diversas, contudo um paradigma é permanente: para fins de recebimento de BPC por idoso de 65 anos de idade, será desconsiderada qualquer renda, de origem previdenciária ou assistencial, que não ultrapasse o valor do menor benefício de prestação continuada, ou seja, um salário mínimo.

Contudo somos da opinião de que, um idoso com 65 anos de idade só teria direito a ser beneficiário de BPC se, no seu grupo familiar, já existindo outro beneficiário de prestação previdenciária ou assistencial com idade de 65

9 http://trf-4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/182335988/apelacao-reexame-necessario-apelreex- 161919320134049999-pr-0016191-9320134049999

10 CASTRO, Carlos Alberto Pereira; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 14ª ed.

Florianopolis: Editora Conceito, 2012. p. 720

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anos. Essa seria, no nosso entender, a interpretação mais consentânea com o

§único do artigo 34 do Estatuto do Idoso.

Conclusão

Vimos que o Benefício de Prestação Continuada é erroneamente conhecido e chamado de Loas, contudo, a nomenclatura correta é BPC, ou seja, Benefício de Prestação Continuada, conforme vontade e regulamentação dos artigos 20 e 21, e seus parágrafos, da Lei 8.742/93.

Ficou assentado que o BPC é um benefício de natureza assistencial, independentemente de contribuição á Previdência Social, e para fazer jus ao mesmo é imprescindível que o idoso tenha 65 anos de idade, homem ou mulher, que sua renda ou de seu grupo familiar seja inferior a 1/4 do salário mínimo vigente e que não possua outro benefício no âmbito da seguridade social ou de outro regime previdenciário, inclusive seguro desemprego, salvo assistência médica pensão de natureza indenizatória, de acordo com o §4º do artigo 20 da Lei 8.742/93.

Fora visto também a possibilidade de que num mesmo grupo familiar ser possível a coexistência de dois idosos de 65 anos de idade, homem ou mulher, beneficiários de “BPCs”, assim como sua coexistência com outro benefício previdenciário ou assistencial no importante de um salário mínimo.

Por fim, cremos que a existência do Benefício de Prestação Continuada é de notória importância para os idosos, de 65 anos de idade, homem ou mulher, pois não sendo acobertados pelo seguro social, resta-lhes aquela alternativa como meio de sobrevivência.

Referência

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Acesso em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm.

Lei Orgânica da Assistência Social, Lei nº 8.742/1993. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/cCivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm.

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Justiça Federal. Disponível em:

http://www.jf.jus.br/phpdoc/virtus/listaSumulas.php.

Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741/2003. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/cCivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm.

CASTRO, Carlos Alberto Pereira; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 14ª ed. Florianópolis: Editora Conceito, 2012.

Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Disponível em: http://trf-

4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1259737/agravo-de-instrumento-ag-16036.

Referências

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