Um caso único de especiação alocrónica na processionária do pinheiro
CEF - DA INVESTIGAÇÃO À APLICAÇÃO CICLO DE SESSÕES 8 Junho 2017
Manuela Branco, Carole Kerdelhué, Helena Santos, Susana Rocha, Christian Burban & Maria Rosa Paiva
A processionária do pinheiro,
Thaumetopoea pityocampa Lepidoptera, Notodontidae
▫
Desfolhador de pinheiros▫
Causa problemas de saúde publica devido aos pêlos urticantesEspécie univoltina, passa o inverno na fase larvar
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T. pityocampa clade ENA T. pityocampa
T. wilkinsoni
▫
Distribui-se por toda a Bacia do Mediterrâneo Em 1997, foi observada uma situação invulgar na Mata Nacional de Leiria: pinhal com desfolha completa em Agosto!
As larvas desenvolvem-se no verão, procissões ocorrem em setembro
Chamada população de verão- SP
Desfolha em Agosto 1997, Leiria (foto M.R. Paiva)
A população de ciclo típico (WP) e SP coexistem em simpatria na MNL
= nicho plantas hospedeiras
WP e SP podem ocorrer nas mesmas parcelas e árvores
Uma nova espécie?
Qual o ciclo biológico?
Alteração da fenologia induzida por alterações do clima?
Diferenciação genética?
Diferenciação ecológica?
Isolamento reprodutivo?
Adaptação ecológica a uma atividade estival?
Terá SP maior sucesso ecológico que WP?
Expansão de SP?
Que consequências para as árvores?
I- Diferenciação do ciclo biológico:
Períodos de voo, desenvolvimento e de
emergência
Monitorização do período de voo
Diferenciação fenológica
WP – adultos voam no verão,
April
May
June
July
Aug Oct Sep
Nov Dec
Jan Feb
Mar
Adultos / ovos Larvas
Pupas
SP - adultos voam na primavera
April
May
June
July
Aug Oct Sep
Nov Dec
Jan Feb
Mar
Larvas Pupas
Adultos / ovos
Setembro.
Machos SP
Machos WP
Períodos diferentes de reprodução das duas populações
Isolamento reprodutivo pelo tempo Especiação alocrónica?
Maio Junho julho Agosto
Adultos emergentes em laboratório
15-27 dias intervalo
Períodos reprodutivos
distintos mantêm-se em
laboratório!
O isolamento reprodutivo está por vezes associado a diferentes feromonas (comunicação olfativa)
Comunicação química
SP
WP
GC-MS cromatograma da feromona sexual de PPM, SP e WP. (Mateus et al. unpubl) No caso de SP e WP a
comunicação olfativa não divergiu.
II- Diferenciação genética de SP : Marcadores:
mitocondrial – CO1
microssatélites
marcador mitocondrial
27 mutations
Leiria SP & WP
SP e WP
partilham o mesmo
haplótipo principal
Santos et al. 2007, 2011
Microssatélites: frequências de alelos
Leria SP
Leiria WP
Todos os alelos presentes em SP ocorrem em WP
SP tem menor riqueza
Frequências alteradas
Santos et al. 2007; 2011
ACP - dados de 16 loci (microssatélites)
O 2º eixo separa as WP
O 1º eixo separa SP das restantes WP (incluindo WP Leiria)
Alguns indivíduos com
fenótipo WP estão no cluster genético da SP
indivíduos com fenótipo «SP» indivíduos com fenótipo «WP»
% assignationto eachgeneticcluster
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1 9 17 25 33 41 49 57 65 73 81 89 97 105 113 121 129 137 145 153 161 169 177 185 193 201 209 217 225 233 241 249 257 265 273 281 289 297 305 313 321
Indivíduos com fenótipo WP (emergem no verão) mas caem no cluster genético de SP - individuos provenientes de SP que voltam ao ciclo clássico?
SP tardios ?
Hibridação?
Em laboratório foi possível produzir híbridos.
Os híbridos têm fenologia intermédia.
A hereditariedade é elevada, h=0.76
Origem de SP local, ancestral comum a Leiria WP
Efeito fundador, bottleneck (uns alelos perderam-se, outros fixaram-se, menor riqueza, …)
Origem recente de SP (estima-se de cerca 500 anos!)
Forte diferenciação genética, fluxo genético limitado
Divergência ocorreu em simpatria, sem mudança de
hospedeiro, mas diferentes períodos reprodutivos – especiação alocrónica
Diferenciação genética : conclusões!
III- Diferenciação fenotípica:
Reprodução
Divergência fenotípica -posturas
Postura- WP
Postura- SP
Escamas de cobertura dos ovos
Pop. Cor dominante das escamas
Forma das
escamas postura
WP
SP
-3 -2 -1 0 1 2 3
-3 -2 -1 0 1 2 3
PCA 1
PCA 2
SP
WP_AP WP_L
ACP das escamas (cor e índices de forma) mostram que SP difere significativamente de Leiria WP e WP de Apostiça
Elevada variabilidade fenotípica dentro de cada população
1.0 1.0 1.1 1.1 1.2 1.2 1.3
Leiria SP Leiria WP Apostiça
Diameter mm
0.95 mm3
0.64 mm3 0.82 mm3
Dimensão dos ovos:
SP são maiores Maior sobrevivência das larvas neonatas?
Cobertura das escamas de SP diverge de WP: efeito do acaso, mas sem contra seleção? Não há forte pressão seletiva por parasitoides! Efeito positivo das escamas na sobrevivência?
Ovos maiores (menor fecundidade)
Mas maior sobrevivência das larvas neonatas
Não são necessários ninhos tão grandes (ninhos de inverno grandes favorecem a sobrevivência invernal).
Diferenciação reprodutiva : conclusões!
IV- Diferenciação fenotípica:
Sobrevivência das larvas às temperaturas altas
Diferentes pressões seletivas:
Nicho térmico das larvas
Ninho- WP, inverno Ninho- SP, verão
35 36 37 38 39 40
Jun/02Jun/03Jun/04Jun/05Jun/06Jun/07Jun/08Jun/09
Max temperature ºC
Leiria tem um clima fresco no verão, todavia as temperaturas máximas podem exceder os 35ºC!
Dias únicos (círculos abertos) ou vários consecutivos (a cheio) com temperaturas máximas extremas.
Estudos experimentais
As larvas foram sujeitas tratamentos térmicos - imitando dias consecutivos de extremo calor
20 25 30 35 40 45
1 4 7 10 13 16 19 22 Time (Hours)
Temperature ºC
36ºC MT 38ºC MT 40ºC MT 42ºC MT
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
0 2 4 6 8 10 12
40ºC SP
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
0 2 4 6 8 10 12
40ºC WP
L1 Control L1 0
0,2 0,4 0,6 0,8 1
0 2 4 6 8 10 12
Survival
36ºC SP
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
0 2 4 6 8 10 12
Survival
36ºC WP
L1 Control L1
SP sobrevive melhor às temperaturas elevada que WP (excepto 2nd instar a 36ºC - sem diferenças significativas )
(Santos et al. 2011b)
Variable B (se) p Exp(B) Mortality hazard Temperatura (ºC) 0.22 (0.01) <0.001 1.243 +24%
Instar (L2 vs. L1) -0.42 (0.04) <0.001 0.655 -53%
WP vs. SP 0.73 (0.05) <0.001 2.079 +108%
Regressão de Cox:
+ 108% para WP em comparação com SP + 24% por cada ⁰C adicional
- 53% para 2nd instar em comparação com 1st instar
Thermal niche shift
Divergência térmica de SP em comparação com WP:
SP pode sobreviver até 42ºC! WP apresenta mortalidade desde os 36ºC!
As diferenças são maiores para as larvas mais jovens!
Poderá ainda assim a expansão de SP estar limitada pelas temperaturas de verão?
Sobrevivência das larvas às temperaturas:
conclusões!
V- Expansão geográfica: presente e futuro
1997
Limite 2013
SP tem-se expandido a uma taxa de 1.7 a 2.5 Km por ano
Distribuição geográfica – Envelope climático muito particular!
Temperatura média em Agosto Nº médio de dias com temperatura máxima acima de 25 ºC
De acordo com as características climáticas pode-se
determinar a sua distribuição potencial:
Conclusões e mais interrogações!
SP - uma população divergente com origem local (ca. 500 anos!)
Isolamento reprodutivo, geneticamente determinado –
especiação alocrónica
Divergências fenotípicas e ecológicas – adaptação a novas condições ecológicas
Expansão de SP, modelos climáticos preveem existência apenas numa faixa costeira
Pode haver hibridação? Exclusão de WP por SP?
Adaptação a uma alimentação de verão?
Consequências para as árvores de uma desfolha no verão?
Importância cientifica!
Melhor caso documentado de especiação alocrónica!
Permite testar teorias sobre divergência genética e ecológica, especiação simpátria, competição, …!
Importância económica!
Consequências da desfolha no verão: Menor capacidade de recuperação das árvores?
Desfolhas podem ocorrer duas vezes por ano!
Exposição aos pelos urticantes no verão, quando há mais atividades ao ar livre e turismo!
Principais investigadores envolvidos:
Carole Kerdelhué3
Christian Burban4
Eduardo Mateus2
Helena Santos1,2
Manuela Branco1
Maria-Rosa Paiva2
Pierre Rossi3
Susana Rocha1
1. CEF-ISA, Universidade de Lisboa, Portugal
2. DCEA, FCT, Universidade Nova de Lisboa, Portugal 3. CBGP, INRA Montpellier, France
4. INRA, Pierroton, Bordeaux