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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURAS AMAZÔNICAS MESTRADO EM AGRICULTURAS FAMILIARES E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURAS AMAZÔNICAS MESTRADO EM AGRICULTURAS FAMILIARES E DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

EDILCINA MONTEIRO FERREIRA

ENTRE O CAMPO E A CIDADE: O JOVEM RIBEIRINHO E SUAS RELAÇÕES COM O PROCESSO DE MIGRAÇÃO NA REGIÃO DAS ILHAS DE

ABAETETUBA/PA.

BELÉM/PA

2019

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EDILCINA MONTEIRO FERREIRA

ENTRE O CAMPO E A CIDADE: O JOVEM RIBEIRINHO E SUAS RELAÇÕES COM O PROCESSO DE MIGRAÇÃO NA REGIÃO DAS ILHAS DE

ABAETETUBA/PA.

Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável. Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas. Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares. Universidade Federal do Pará. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Amazônia Oriental.

Área de concentração: Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável.

Orientadora: Profª. Dra. Angela May Steward

BELÉM/PA

2019

(3)

EDILCINA MONTEIRO FERREIRA

ENTRE O CAMPO E A CIDADE: O JOVEM RIBEIRINHO E SUAS RELAÇÕES COM O PROCESSO DE MIGRAÇÃO NA REGIÃO DAS ILHAS DE

ABAETETUBA/PA.

Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável. Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas. Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares. Universidade Federal do Pará. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Amazônia Oriental.

Área de concentração: Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável.

Data da aprovação. Belém - PA: 29 / 04 / 2019

Banca Examinadora

____________________________________

Profª. Drª. Angela May Steward MAFDS/PPGAA/UFPA

______________________________________

Prof. Dr. Carlos Augusto Cordeiro Costa ISARH/UFRA

___________________________________

Profª. Drª. Ruth Helena Cristo Almeida

ISARH/UFRA

(4)

DEDICO

A meu pai (in memoria), minha mãe e meu esposo. Eles que sempre me incentivaram

e me deram forças para seguir em frente.

(5)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que é o autor da minha vida, e de todas as minhas conquistas.

Meu pai Macedônio Quaresma Ferreira, que não se faz presenta para compartilhar comigo mais esta conquista, mas que fez em vida tudo o que podia e às vezes até o que não podia, para me ver vitoriosa.

Minha mãe Elcina Maria de Miranda Monteiro, meu exemplo para vida toda, que abriu mão de muitas coisas para estar ao meu lado me apoiando sempre.

Meu esposo Eduardo Augusto Carlos Conceição, que tem acompanhado minha jornada acadêmica e sempre me incentiva na busca por conhecimento, mesmo diante as dificuldades, ele sempre está ao meu lado.

A todos os professores e colaborados do Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (INEAF), que com muita dedicação me ajudaram na obtenção do título de mestre.

A família da “tia” Nilza e “tio” Rai, que me receberam em sua casa no Rio Maracapucu, me ajudaram com as entrevistas e visitas as famílias das comunidades.

A minha amiga Rosileia Andrade que me forneceu todo apoio possível no local de minha pesquisa.

Ao querido jovem e ribeirinho Leandro que me ajudou nas visitas e entrevistas na cidade de Abaetetuba/PA. E todos os demais jovens que se disponibilizaram e contribuíram com esta pesquisa.

A minha querida orientadora Angela May, que foi maravilhosa durante todo o período de orientação, me direcionando pelo melhor caminho e me apoiando nas melhores decisões.

A UFPA, Embrapa, INEAF e CNPq, pelo apoio financeiro e logístico.

E a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização da

pesquisa e obtenção do tão sonhado título de mestre em Agriculturas Familiares e

Desenvolvimento Sustentável.

(6)

“Esse rio é minha rua Minha e tua, mururé Piso no peito da lua Deito no chão da maré [...]

[...] Rio abaixo, rio acima Minha sina cana é Só em falar na mardita Me alembrei de Abaeté [...]”

(Paulo André e Rui Barata)

(7)

RESUMO

Neste estudo é apresentado os anseios de jovens ribeirinhos de algumas comunidades das ilhas do município de Abaetetuba/PA. Anseios por um futuro com estabilidade financeira para si e seus familiares. Anseios por uma vida na cidade onde poderão dar continuidade aos estudos e ter uma boa formação, almenjando emprego com carteira assinada. É apresentado ainda a realidade de jovens que desejam permanecer no campo dando sucessão ao trabalho praticado pela família durante décadas, que desejam viver na calmaria do meio rural e livre da correria de quem vive na cidade. São apresentados os principais motivos que levam os jovens ribeirinhos a desejarem sair do campo em direção a cidade, e a realidade da migração do gênero feminino e a masculinização do campo. Foram realizadas 45 entrevistas semiestruturadas, organizadas através de questionários, aplicados com jovens das comunidades visitadas, os jovens entrevistados foram localizados nas comunidade (jovens que ainda residem nas ilhas) e também na cidade (jovens que são das comunidades das ilhas, mas residem atualmente na cidade de Abaetetuba/PA), a pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa. Além destas, também foram realizadas 9 entrevistas direcionadas as famílias de jovens em três comunidades (Sagrado Coração de Jesus, Santa Maria e Bom Jesus), nesse momento utilizou-se o método de pesquisa participante, que consiste numa investigação efetivada a partir da inserção e interação do pesquisador(a) no grupo, comunidade ou instituição investigada. Na área de várzea os jovens auxiliam nas atividades domésticas e nas plantações, a principal fonte de renda das famílias está no período da safra do açaí, quando os ribeirinhos colhem os frutos e vendem na cidade ou para atravessadores.

Nesse período que os jovens ganham dinheiro, colhendo os frutos e ajudando os pais na comercialização, mas é também nesse período que surgem as evasões de jovens da escola, uma situação muito frisada por alguns entrevistados. Este trabalho buscou mostrar a diferença de gêneros frente a migração e os motivos que levam homens e mulheres a migrarem para a cidade.

Palavras-chave: Juventude. Ribeirinhos. Migração. Mobilidade.

(8)

ABSTRACT

This study presents the longings of young people living in some communities of the islands of Abaetetuba / PA. Desires for a future with financial stability for themselves and their families, longings for a city life where they can continue their studies and have a good education, longing for a job with a formal contract. It also presents the reality of young people who wish to stay in the countryside and continue to work in the way their families have for decades. Of those who wish to live in the calm of the countryside and free from the business of city life. This study discusses the main factors that drive young people to leave the countryside towards the city;

it also presents the reality young women and the masculinization of the countryside. A total of 45 semi-structured interviews were conducted through questionnaires, with young people from the visited communities. Young people who were interviewed were identified in the community (young people still living in the islands) and also in the city (young people from the island communities and currently living in the city of Abaetetuba). Research uses a qualitative approach. In addition, 9 interviews were conducted with the families of young people in three communities (Sacred Heart of Jesus, Santa Maria and Bom Jesus). During this time, participant research was carried out, which consisted of interacting with the group. In the floodplain, young people help in the house and their fields; families’ main source of income comes from the açaí crop when it is in season; riverine people sell this crop in the city or through middlemen. Young people help their parents develop and sell this crop; however, it is also during this time that people begin to leave rural areas. This work illustrates differences in gender in terms of the motives that lead men and women to migrate to the city.

Key-words: Youth. Ribeirinhos. Migration. Mobility.

(9)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES PARTE GERAL DA DISSERTAÇÃO

Imagem 1: Diversidade de embarcações nas comunidades das ilhas...30

Imagem 2: Fruto de Açaí...32

ARTIGO I Imagem 1: Estilo de casa dos ribeirinhos, as margens dos rios...45

Imagem 2: Áreas de açaizais nativos...46

Imagem 3: Manutenção e preparo do matapi para a pesca do camarão ...46

Mapa 1: Localização da Área de Estudo...47

Quadro 1: Jovens Entrevistados no Sítio e na Cidade...49

Gráfico 1: Distribuição dos entrevistados, entre o Sítio e a Cidade...50

Gráfico 2: Ocupações dos jovens ribeirinhos na cidade...51

Gráfico 3: Principais motivos apontado pelos jovens para abandonarem a zona rural...52

ARTIGO II Mapa 1: Localização da Área de Estudo...65

Quadro 1: Organização das famílias entrevistas de acordo com a quantidade total de filhos e suas distribuições entre sítio e cidade...68

Gráfico 1: Formas de divisão do sítio...69

Gráfico 2: Quantidade e Idade dos Jovens entrevistados que desejam ficar no sítio...71

ARTIGO III Mapa 1: Localização da Área de Estudo...81

Quadro 1: Jovens que desejam migrar ou que já migraram em direção a cidade...82

Gráfico 1: Divisão por gênero dos jovens entrevistados ...83

Gráfico 2: Representação dos jovens entrevistado no sítio e na cidade de acordo com idade e gênero...84

Imagem 1: Entrevistas nas comunidades das ilhas de Abaetetuba...85

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LISTA DE SIGLAS CFRs Casas Familiares Rurais

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INEAF Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares ISARH Instituto Socioambiental e dos Recursos Hídricos

MAFDS Mestrado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável PAE Projeto de Assentamento Agroextrativista

PPGAA Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas SOME Sistema de Organização Modular de Ensino

SPU Secretária de Patrimônios da União UFPA Universidade Federal do Pará

UFRA Universidade Federal Rural da Amazônia

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO GERAL ... 13

2. PROBLEMÁTICA ... 14

3. OBJETIVOS ... 18

3.1. Geral ... 18

3.2. Específicos ... 18

4. REFERENCIAL TEÓRICO ... 18

4.1. Juventude Rural Brasileira ... 18

4.1.1. Políticas Públicas Destinadas a Juventude ... 22

4.1.2. Contexto Social e Familiar ... 24

4.2. Relações de Migração ... 25

4.3. Relações de Gênero ... 27

4.4. Ribeirinhos e o Manejo do Açaí ... 28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 35

5. ARTIGO I – ENTRE O CAMPO E A CIDADE: PRINCIPAIS MOTIVOS QUE OCASIONAM A MIGRAÇÃO DE JOVENS RIBEIRINHOS DAS ILHAS DO ESTUÁRIO AMAZÔNICO, ABAETETUBA, PA ... 42

5.1. RESUMO ... 42

5.2. INTRODUÇÃO ... 43

5.3. METODOLOGIA ... 44

5.3.1. Área de Estudo ... 44

5.3.2. Coleta de Dados ... 48

5.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 49

5.4.1. Jovens que desejam migrar do sítio para a cidade... 49

5.4.2. Jovens que desejam permanecer na região das ilhas ... 55

5.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 58

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 59

6. ARTIGO II - A MIGRAÇÃO DE JOVENS RIBEIRINHOS E AS IMPLICAÇÕES SUCESSÓRIAS NA AGRICULTURA FAMILIAR: UM ESTUDO DA REGIÃO DAS ILHAS NO MUNICÍPIO DE ABAETETUBA, PA. ... 62

6.1. RESUMO ... 62

6.2. INTRODUÇÃO ... 63

6.3. METODOLOGIA ... 64

6.3.1. Área de Estudo ... 64

6.3.2. Coleta de Dados ... 66

(12)

6.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 67

6.4.1. Processo de sucessão: visitas e entrevistas às famílias ribeirinhas ... 67

6.4.2. A sucessão da agricultura de várzea ... 69

6.4.3. A sucessão geracional na agricultura familiar: a incógnita das próximas gerações ... 72

6.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 74

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 75

7. ARTIGO III - MIGRAÇÃO E GÊNERO: UM ESTUDO SOBRE O FLUXO MIGRATÓRIO DE JOVENS RIBEIRINHAS DAS ILHAS DE ABAETETUBA, PA. .... 78

7.1. RESUMO ... 78

7.2. INTRODUÇÃO ... 79

7.3. METODOLOGIA ... 80

7.3.1. Área de Estudo ... 80

7.3.2. Coleta de Dados ... 82

7.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 83

7.4.1. As entrevistas com jovens mulheres nas comunidades das ilhas e na cidade 83 7.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 88

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 89

8. CONCLUSÃO GERAL ... 91

(13)

1. INTRODUÇÃO GERAL

O conceito migração é entendido como um processo social de deslocamento de uma determinada população partilhando de um contexto histórico específico, caracterizando-se como fluxo migratório (DE CARVALHO, R.; RIGOTTI, J,2015).

As migrações internas, entre áreas ou regiões do Brasil, vêm ocorrendo desde a época colonial, embora se tenha intensificado a partir do início do século XX, notadamente após a Primeira Guerra Mundial (VESENTINE,2013). Ainda segundo Vesentine (2013, p. 278), as mais numerosas migrações inter-regionais de nossa história foram as de populações nordestinas e mineiras para as grandes cidades do Centro-Sul.

Segundo Sousa et al. (2018), o ato de migrar-se pode ou não ser decorrente de um fator forçado ou devido a situações que envolva as relações sociais, econômicas e históricas de um indivíduo. Essas migrações configuradas desde os séculos passados se perduram até os dias atuais, isso ocorre devido as necessidades ou não dos sujeitos que decidem migrar-se de sua região de origem para outra maior ou mais desenvolvida.

Durante muito tempo se fala em migração, no entanto estudos mais recentes apontam para a migração de jovens, principalmente quando se trata de jovens que desejam migrar do campo para os centros urbanos.

Os estudos sobre juventude no Brasil, relacionavam-se a juventude urbana, focando sobretudo a educação, sexualidade, movimentos sociais e socialização (ABRAMO, 1997; MELUCCI, 1997; SPOSITO, 1999). Weisheimer (2005), vem explicar sobre a juventude no meio rural, e apresenta que a pesquisa brasileira começou a olhar para os jovens no universo rural com abordagem principal de dois aspectos: a participação dos jovens nas dinâmicas migratórias e a persistência do que chamou de invisibilidade social.

Existem diversas categorias que definem jovens, entre elas estão a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE e Estatuto da Juventude, que definem o jovem de acordo com sua idade. Nesta pesquisa levamos em consideração uma categoria que está muito além da definição marcada pela faixa etária, o termo juventude é definido pela presença do jovem nos diferentes espaços sociais e culturais nos quais ele se apresenta. Utilizamos o conceito de Abramovay e Esteves que diz:

A realidade social demonstra (...) que não existe somente um tipo de juventude, mas grupos juvenis que constituem um conjunto heterogêneo, com

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diferentes parcelas de oportunidades, dificuldades, facilidades e poder nas sociedades. Nesse sentido, a juventude, por definição, é uma construção social, ou seja, a produção de uma determinada sociedade originada a partir das múltiplas formas como ela vê os jovens, produção na qual se conjugam, entre outros fatores, estereótipos, momentos históricos, múltiplas referências, além de diferentes e diversificadas situações de classe, gênero, etnia, grupo etc. (2007, p. 21)

Conforme os dados disponibilizados pelo IBGE referentes ao censo de 2019, os jovens ocupam um quarto da população do País. Isso significa 51,3 milhões de jovens de 15 a 29 anos vivendo, atualmente, no Brasil, sendo 84,8 % nas cidades e 15,2 % no campo. A pesquisa mostra que 53,5% dos jovens de 15 a 29 anos trabalham, 36% estudam e 22, 8% trabalham e estudam simultaneamente. Ainda segundo este Instituto, de 1991 a 2000 houve uma redução de 26% da população jovem no meio rural, que identifica um forte contexto de migração.

Weisheimer (2005) e Kummer (2013) em pesquisas mais recentes, afirmam que além do predomínio juvenil no processo de migração da zona rural para a cidade, outra característica importante desse movimento é a maior incidência entre jovens do sexo feminino, representando 52% do total da migração jovem.

Ainda devido aos fluxos migratórios pesquisas mostram que existe uma certa dificuldade na sucessão da agricultura familiar. Spanevello et al. (2011), apresenta que apesar de sua importante contribuição socioeconômica, a agricultura familiar vem encontrando dificuldades em garantir a sua reprodução social. Isto se deve ao crescente fluxo migratório juvenil do campo para a cidade.

Durante pesquisas exploratórias do mestrado de Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Rural (MAFDS-UFPA) realizada para conhecer as comunidades das ilhas de Abaetetuba/PA, foi possível observar esta realidade, em que os jovens estão se deslocando da região das ilhas para as cidades (Belém e Abaetetuba principalmente) com muita frequência, com intuito de estudar e/ou trabalhar.

Este projeto se propõe em estudar quais fatores implicam na vida e nas decisões dos jovens que optam por ficar ou sair das comunidades de origem, e do trabalhando na agricultura. Tem o intuito de conhecer um pouco da realidade dos ribeirinhos das ilhas de Abaetetuba/PA e qual suas perspectivas e desejos para o futuro da agricultura familiar.

2. PROBLEMÁTICA

Na região Amazônica são encontradas populações classificadas como

“tradicionais”, que são aquelas que apresentam um modelo de ocupação do espaço e

(15)

uso dos recursos naturais voltado principalmente para a subsistência, com fraca articulação com o mercado, baseado em uso intensivo de mão de obra familiar, tecnologias de baixo impacto e, normalmente, de base sustentável. Estas populações são conhecidas como caiçaras

1

, ribeirinhos, seringueiros

2

, quilombolas

3

e outras variantes (ARRUDA, 1999).

A Amazônia proporciona uma diversidade social e ambiental. Apresenta diversos tipos de solos, fauna, flora, etnias e culturas (Meirelles Filho, 2004). Na Amazônia estão distribuídos diversos grupos sociais, incluindo os ribeirinhos. Para Santos, et al. (2015) dos povos viventes na Amazônia, o ribeirinho é o principal representante, levando em consideração, os aspectos de ocupação e exploração da Amazônia.

Falar de ribeirinho na Amazônia é discorrer sobre sua grandiosidade territorial, cultural e socioambiental; é falar de população cabocla e do campesinato amazônico (CRUZ, 2008), do cotidiano desse povo e da sua relação com o trabalho (OLIVEIRA, 2008; RANCIARO, 2004), dos novos posicionamentos políticos e dos enquadramentos institucionais (NEVES, 2009; SILVA, 2013), os quais dão novas denominações para esse povo (como é o termo “população tradicional”). Sempre falando de vida que pulsa na imensa floresta amazônica (SANTOS, 2014).

Segundo Almeida et al. (2004), os ribeirinhos são aqueles que vivem às margens inundáveis dos rios, onde sobrevivem e produzem nessas áreas, por meio do extrativismo vegetal, exploração madeireira, pesca, artesanato, captura de camarão, agricultura familiar e a cultura de autoconsumo e auto sobrevivência. Silva e Malheiro (2005) argumentam que “o ribeirinho não se caracteriza somente por morar a beira do rio, mas que o rio é um elemento essencial sem o qual não é possível pensar o ribeirinho”.

Na área ribeirinha o trabalho no açaizal é um dos mais comuns entre a população jovem. Corrêa (2012), que realizou sua pesquisa no Rio Quianduba na região das ilhas de Abaetetuba, afirma que a atividade onde mais se usa mão-de-obra na zona ribeirinha, é na extração do açaí, no período da safra. Seu estudo aponta para

1 São os habitantes tradicionais do litoral das regiões Sudeste e Sul do Brasil, formados a partir da miscigenação entre índios, brancos e negros. Vivem da pesca, agricultura, caça e extrativismo vegetal (ADAMS, C. 2000).

2 É aquele que extrai o látex das seringueiras e viabiliza sua transformação em borracha natural (CHEROBIM, 1983).

3 São habitantes de quilombos, comunidades negras rurais formadas por descendentes de africanos escravizados. Viviam nos quilombos que eram espaços de resistência cultural (SILVA & SILVA, 2014).

(16)

a evasão escolar nas comunidades da região. A autora observa altos índices de evasão, repetência e de analfabetismo. Essa evasão ocorre devido a necessidade dos jovens e adolescentes estarem envolvidos com a safra do açaí.

Nesse período, da safra, entra em cena uma figura bastante conhecida nas comunidades ribeirinhas, “o peconheiro”

4

, que geralmente são jovens com bastante experiência na extração do açaí. As populações ribeirinhas desenvolvem formas de saber e práticas específicas, acumulando conhecimentos e habilidades diversas, e é em torno desse hambiente que as relações econômicas são contruidas (AMARAL, 2016).

No entanto, estudos feitos no nível nacional revelam um significativo aumento da migração de jovens do campo para a cidade. Na década de 1950, o contingente que mais migrou correspondia à faixa dos 30 aos 39 anos de idade. Já nos anos 1990, ocorreu um deslocamento populacional principalmente na faixa etária de 20 a 24 anos (ABRAMOVAY; CAMARANO, 1998).

Além do predomínio juvenil, outra característica importante desse movimento migratório recente é a participação feminina. As mulheres migram mais que os homens, representando 52% do total da migração jovem (BAENINGER, 1998 p. 46).

Abramovay et al. (1998), observaram que as mulheres do meio rural não apresentam o desejo de desenvolver a profissão agrícola.

Vantroba (2009), expôs que “as mulheres migram mais que os homens”.

Segundo a autora o fato delas procurarem trabalho no meio urbano, mesmo que seja em tarefas domésticas, abre espaço para que estas sonhem com uma carreira profissional mais valorizada, já que as oportunidades de empregos diferenciados são bem maiores nas cidades. A autora complementa, dizendo que a mobilidade feminina, às vezes, possui características específicas, e às causas estruturais da migração podem ser a violência e a opressão do machismo.

Na várzea da Amazônia Oriental, onde o açaí é a principal fonte de renda, agricultores de idades diferentes tem investido cada vez mais na atividade. Este sistema é dominado pelo trabalho masculino, onde segundo Azevedo (2005) as atividades relacionadas ao manejo são executadas pelos homens, enquanto as mulheres normalmente participam da debulha (retirada do açaí do cacho) e da seleção dos frutos. O papel das mulheres é fundamental dentro do sistema de produção, no

4 Pessoa (geralmente jovens) destinada a extrair os cachos de açaí das árvores.

(17)

entanto, muitas dessas mulheres não querem ter apenas essa função dentro da agricultura familiar.

No campo exploratório, essa insatisfação pelo trabalho no manejo do açaí ou no serviço doméstico foi identificado em algumas jovens das comunidades visitadas nas ilhas de Abaetetuba/PA, o que as faz desejar migrar para a cidade em busca de um estudo mais avançado ou emprego assalariado. Já os rapazes são destacados no trabalho nos açaizais. Segundo os interlocutores, muitos desses jovens ganham bastante dinheiro na época da safra do fruto como peconheiros, pois esta é uma atividade geralmente dos mais novos e ágeis. Porém os produtores de açaí, também ganham dinheiro com a venda do fruto.

Foi observado que durante a entressafra do fruto, as famílias enfrentam mais dificuldades. Almeida (2009) relata que muitos ribeirinhos enfrentam necessidades financeiras, durante este período, por não terem de onde tirar o que comer, haja vista, que o peixe e o camarão, estão cada vez mais escassos nos rios, lagos, furos e igarapés.

Algumas famílias do Rio Maracapucu (visitadas durante o campo exploratório) afirmaram que muitos dos seus jovens acabam saindo do campo em busca de trabalho na cidade, para ajudar a manter a família que ficou no meio rural. Isso pode resultar em uma migração circular do campo para cidade e da cidade para campo, já que muitos desses jovens retornam para suas comunidades quando a safra do açaí começa; porém, também pode resultar na saída definitiva de um indivíduo.

Este tipo de mobilidade sazonal, onde moradores da várzea saiam da zona rural em busca de trabalhos temporários nas cidades regionais é observado por vários autores que estudam questões sociais nas várzeas Amazônicas, sendo que as saídas geralmente ocorrem durante os invernos (época de chuva) (Nugent 1992, Harris 2000, Pinedo-Vasquez et al. 2008).

A preocupação geral por conta do êxodo dos jovens do meio rural brasileiro tem em contrapartida o forte mercado das culturas locais, que vem oferecendo uma opção econômica desejável para as famílias, incluindo os jovens.

Diante do exposto, a intenção da pesquisa é identificar quais os principais

motivos que levam ou levaram os jovens a sair ou permanecer na zona ribeirinha do

município de Abaetetuba/PA, onde existe uma forte economia baseada na produção

(18)

e comercialização do açaí. Buscou-se ainda compreender quais as implicações sucessórias que essa migração pode causar na agricultura familiar.

3. OBJETIVOS 3.1. Geral

Este trabalho se propõe identificar quais os principais motivos que estão levando jovens ribeirinhos a optarem por ficar ou sair de suas comunidades de origem na região das ilhas do município de Abaetetuba/PA, se propões entender a questão de gênero na migração dos jovens e identificar quais as implicações do processo de migração para a sucessão da agricultura familiar no local.

3.2. Específicos

• Registrar os motivos que levam os jovens a migrarem do campo para a cidade ou a permanecerem no campo;

• Analisar as implicações da migração dos jovens na sucessão da agricultura familiar;

• Analisar o processo da migração por gênero;

• Analisar a participação e incentivo dos famíliares no processo de migração dos jovens.

4. REFERENCIAL TEÓRICO 4.1. Juventude Rural Brasileira

Entende-se que a categoria jovem seja uma das mais complexas de definir entre as faixas etárias e momentos de vida humana. Isto, pois se supõe que seja um período de transição, onde deve ser levado em consideração não só a idade, mais toda a dinâmica de vida do jovem e sua trajetória temporal.

De acordo com Stropassolas (2002, p. 131), abordar teoricamente a juventude representa um desafio, na medida em que se considera esta categoria como sociologicamente problemática. Além disso, afirma-se que a juventude representa uma categoria de análise ainda em construção.

No Brasil, os jovens em uma visão geral vivem uma grande vulnerabilidade,

isso tem sido periodicamente constatada em pesquisas como as realizadas pelo IBGE

(Censo e Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios). Trata-se da pobreza,

violência, mortes, baixo acesso à educação e o desemprego, relatado na PNAD de

2007. Essa vulnerabilidade que caracteriza o jovem, de modo geral, é ainda mais

complexa quando se fala ou observa o jovem rural. Este grupo, talvez por estar em

(19)

constante diminuição no Brasil, recebe pouca atenção dos governos e quase nenhuma política pública específica (LIMA, 2013).

Segundo afirma Castro (2009), a juventude rural, até bem pouco tempo, era uma categoria invisível. Hoje constitui um objeto no campo acadêmico e é percebida na sociedade brasileira como uma categoria social. A temática da juventude nas últimas décadas ganhou importância no Brasil, pois tanto o meio acadêmico quanto as políticas públicas têm colocado o segmento juvenil como pauta de conhecimento, de ações e intervenções (BARASUOL, 2017).

Os estudos sobre a juventude rural são recentes, quando comparados aos trabalhos que envolvem outras categorias. Segundo, Marin:

O olhar da academia se voltou ao tema juventude nas últimas décadas do século XIX e se consolidou no século seguinte. Com a industrialização tardia dos países latino-americanos e a correspondente modernização da agricultura, a ideia de juventude rural se inseriu nos discursos e práticas das instituições desenvolvimentistas (2009, p. 622).

Estudiosos apontam a saída ou permanência dos jovens do espaço rural, como um forte fator para estudo, incluído nessa mobilidade do jovem a importância de analisar também a categoria trabalho, relacionado a reprodução social do grupo familiar (WOORTMAN,1990; WANDERLEY; 1999).

A maior visibilidade sobre a temática juventude rural se deu mais recentemente sobre a migração do campo para a cidade e o desinteresse dos jovens pelo meio rural e, em especial, pelo trabalho na agricultura (FERRARI et al. 2004;

STROPASOLAS, 2006; BRUMER, 2007; CAMARANO e ABRAMOVAY, 2014). Deste modo, ampliou-se o interesse sobre os temas relacionados a jovens no meio rural no Brasil.

Weisheimer (2005), informa que existem quatro abordagens acerca da participação dos jovens nos processos de reprodução social das famílias agrícolas. A primeira diz respeito à reprodução geracional na unidade de produção familiar agrícola incorporando análises da oportunidade de trabalho no espaço familiar e fora dele, o acesso à educação, a perspectiva matrimonial, as questões de herança, o envolvimento na unidade produtiva e a estrutura da unidade produtiva.

A segunda refere-se aos projetos individuais (projetos profissionais e de vida)

expostos pelos jovens rurais e que estabelecem uma discussão entre os interesses

do jovem e do grupo familiar. A terceira, diz respeito aos processos envolvidos na

busca dos jovens filhos de agricultores por acesso à cidadania, relativizando a noção

(20)

de que o fenômeno migratório se relacione apenas a uma questão “monetarizada”, de acesso à renda. Por fim, a quarta abordagem trata das questões acerca da pluriatividade como mecanismo de reprodução social da agricultura familiar.

Entretanto, a questão do processo de saída dos jovens do meio rural ainda é comum quando se trata dos processos de reprodução da agricultura familiar. Brumer aponta dois temas que são recorrentes à juventude rural: “a tendência emigratória dos jovens e as características ou problemas existentes na transferência dos estabelecimentos agrícolas familiares à nova geração”. (2007, p. 36).

Vislumbra-se um processo de esvaziamento e de crise de reprodução da agricultura dado o número pequeno de jovens que optam por permanecer no campo (KUMMER 2013). Assim, a invisibilidade e a migração, parecem fortalecer-se mutuamente, criando um círculo vicioso em que a falta de perspectivas tira dos jovens o direito de sonhar com um futuro promissor no meio rural. (WEISHEIMER, 2005, p.

8).

Brumer (2014) indica que as pesquisas que abordam o segmento juvenil tinham como foco central de análise as principais causas de desinteresse dos jovens em permanecer nas atividades agrícolas ou o fascínio pelas cidades. A autora salienta que é recorrente na literatura sobre a juventude rural a preocupação quanto à definição dos aspectos estruturais que determinam qual o papel e o lugar da juventude e que, por sua vez, restringem a liberdade de escolhas. Dessa forma, observar pelo ângulo econômico os motivos que levam à permanência ou não do jovem no campo é fundamental na medida em que limitações econômicas ainda persistem.

Segundo Brumer (2014), para o segmento juvenil, são fatores motivadores para a saída do campo as más condições de trabalho vinculadas às incertezas de rentabilidade. Em concordância, Silvestro et al. (2001) apontam que muitos filhos de produtores rurais abandonam os negócios familiares por melhores oportunidades de renda fora do meio rural, pois comparativamente as atividades ligadas ao campo são consideradas pouco atrativas quanto aos rendimentos.

Froehlich, et al. (2011) em seus estudos nos mostra que o envelhecimento

populacional é intensificado pelo êxodo seletivo dos jovens, fenômeno social que

marca o período mais recente. Isso é visto por estudiosos como um problema para o

campo, já que a população que está ficando na área rural logo não terá condições

físicas para o trabalho no campo.

(21)

Segundo Froehlich et al. (2011) pode ocorrer a diminuição do percentual da população rural ativa, bem como o prejuízo à dinâmica da sucessão das unidades produtivas, principalmente das famílias, podem ser comprometedores a médio e longo prazo no sentido da promoção do desenvolvimento rural.

Vários pesquisadores da dinâmica demográfica rural apontaram que a grande mudança constatada nos últimos anos é a conversão do êxodo rural generalizado em um processo mais seletivo, que preferencialmente remete às cidades a população jovem e altamente produtiva (ANJOS & CALDAS, 2005).

Além do envelhecimento do campo existe também a masculinização do meio rural, estudos apontam que entre os jovens que migram do campo para a cidade a maioria é do gênero feminino. Abramovay et. al (1998) explica que acoplado ao envelhecimento rural tem-se um severo processo de masculinização do campo. As mulheres deixam o campo mais cedo e em uma proporção muito maior que os homens.

Na mesma perspectiva, Mota (2005) aponta em sua pesquisa que a composição de uma força de trabalho que priorize a juventude, tem como princípio básico o aproveitamento do vigor físico, porém esclarece que diante destes critérios existe a exclusão de mulheres.

Somente após os 75 anos, as mulheres rurais são mais numerosas que os homens rurais, o que se explica pela maior longevidade feminina (FROEHLICH et al., 2011). O homem morre antes que a mulher porque apresenta maior envolvimento com fatores de risco, além de ser prejudicado pela ação de determinantes biológicos e genéticos (GOLDANI, 1999).

Ruzany, et al. (2012), dizem que alguns jovens migram para a cidade e de lá reproduzem situações de apoio ao grupo familiar de base rural, eles acabam migrando com o intuito de ajudar a família que fica no meio rural cuidando das terras. Diz ainda que os que ficam geralmente são os homens e na faixa de idade jovem.

Muitos trabalhos apontam essa masculinização do meio rural, onde a maioria

da população que migra do campo para a cidade está entre as mulheres jovens. No

campo exploratório realizado nas comunidades do Rio Maracapucú foi possível

observar um pouco desta realidade, onde as mulheres saem do campo para a cidade

com maior frequência, em busca de emprego e/ou estudos na cidade.

(22)

Ruzany, et al. (2012), apontam que os jovens querem permanecer em sua localidade rural, mas sem renunciar ao acesso à educação e a novos campos de conhecimento como a informática, por exemplo, o que lhes permitiria abrir as janelas do mundo rural para um universo desconhecido e ilimitado.

Esses estudos informam também que as grandes cidades não exerceriam mais o mesmo fascínio sobre os jovens rurais, como tempos atrás, por causa da violência, da precarização da qualidade de vida, expressando-se nesses jovens, de forma muito forte, um sentimento de preferência por serem respeitados em um mundo de iguais direitos humanos (CARNEIRO E CASTRO, 2007).

4.1.1. Políticas Públicas Destinadas a Juventude

A preocupação com os jovens começou no início do século XX. Entretanto, somente nos anos 1990 e no início da década atual os projetos e programas começaram a alocar recursos, financeiros e humanos, dentre os recursos públicos, passando esse grupo etário a ocupar um espaço definido nas negociações políticas (RUZANY et al., 2012).

De maneira geral, as políticas específicas, tanto para jovens urbanos, quanto rurais, possuem como base a Lei 11.129 de junho de 2005 que institui a criação da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), do Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) e do Programa Nacional de Inclusão de Jovens, primeiras ações para a constituição de uma Política Nacional de Juventude (PNJ). Esta normatização delimita uma faixa etária para a condição da juventude, que compreende indivíduos entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos. A PNJ possui como base os princípios de promoção da autonomia e emancipação dos jovens; a valorização e promoção da participação social e política, o reconhecimento do jovem como sujeito de direitos universais, geracionais e singulares; promoção do bem-estar, da experimentação e do desenvolvimento integral do jovem (CONJUVE, 2006).

No livro “Juventude Rural e Políticas Públicas no Brasil”, Barcellos (2014) tem

uma forte participação no debate sobre os desafios para a construção de políticas

públicas para a juventude rural, e diz que os jovens não migram só em busca de

trabalho e educação, eles migram também em busca de meios mais atrativos, e

considera como atrativo lazer, esporte, atividades culturais e oportunidades de exercer

trabalhos e funções diferentes, além do cultivo agrícola no meio rural.

(23)

Considerando as potencialidades e fragilidades vivenciadas pelos jovens rurais em suas diferentes trajetórias, que passam pelo acesso e/ou falta de terra, lazer, educação, saúde e recursos de crédito financeiro para investir na propriedade rural, Barcellos (2014), afirma que tais potencialidades ou fragilidades poderiam ser garantidas e/ou supridas através da implementação de programas e políticas públicas efetivas.

Esse jovem rural se apresenta longe do isolamento, busca um diálogo com o mundo globalizado e reafirma sua identidade como trabalhador, camponês, agricultor familiar, acionando diversas estratégias de disputa por terra e por seus direitos como trabalhadores e cidadãos. Assim, jovem da roça, juventude rural, jovem camponês são categorias aglutinadoras de atuação política (CASTRO, 2009).

É possível observar dentro das comunidades rurais a grande participação dos jovens nos movimentos sociais, em busca de melhores condições de saúde, infraestrutura, educação e comunicação para suas comunidades. Os jovens que decidem permanecer no campo lutam por seus direitos e pela melhoria de seus espaços.

Mesmo diante desse interesse e participação dos jovens em marcar seu espaço e buscar visibilidade para o grupo etário, as políticas públicas para a juventude apresentam diversos limites. Assim, um dos desafios para o governo é pensar quais políticas públicas são demandadas pela juventude rural, o que os jovens rurais de fato precisam em seu ambiente ou qual a verdadeira necessidade deles. Para isso a importância de ouvir os jovens. Hoje as políticas públicas são pensadas para a terra, e crédito para a produção, mas não se pensa a infraestrutura no meio rural (MENEZES et al., 2014).

Portanto, que enfrentam as desigualdades sociais, econômicas e políticas da realidade do campo brasileiro. Nesta situação, uma primeira contribuição para pensar políticas públicas para “esta” juventude seria observar as demandas da própria juventude rural (CASTRO, 2009).

As políticas públicas para a juventude também precisam considerar a questão

da desigualdade social vivida pelos jovens do meio rural. Stropasolas (2014) afirma

que é preciso pensar a juventude na maior diversidade possível, incorporando a

totalidade da sua vida social, que inclui questões de gênero, geração, raça, etnia.

(24)

Segundo Castro (2009), os jovens são considerados teoricamente como sujeitos chaves para o desenvolvimento rural. A partir dessa afirmação destaca que o protagonismo dos jovens rurais na construção de políticas públicas é fundamental para que a juventude permaneça ou não no meio rural como sujeito responsável pela manutenção e ampliação do patrimônio familiar.

Por isso é importante à inserção dos jovens rurais, não somente como agentes produtivos, mas como protagonistas no processo de discussão, elaboração e implementação das políticas públicas.

4.1.2. Contexto Social e Familiar

O elemento de ligação e ao mesmo tempo de referência entre os jovens que são do campo, mas migram para os centros urbanos, é a família. As relações familiares constituem um capítulo importante no processo de sociabilidade dos jovens rurais. As tradições familiares como indica Wanderley (2007, p. 23), inspiram as práticas e as estratégias do presente e o encaminhamento do futuro.

Os jovens no meio rural acompanham os pais nas atividades, os pais são reflexos para os jovens. Segundo Kummer (2013), os rapazes acompanham o pai nas atividades consideradas “produtivas”, estes vivem uma submissão relativa perante o pai. E as moças geralmente acompanham a mãe nas atividades, consideradas organizativas, vivendo uma submissão total.

Segundo o mesmo autor, essa dinâmica acaba impulsionando as jovens a abandonarem o campo e buscarem uma ocupação no meio urbano. Brumer (2007, p.40) acrescenta ainda que as mulheres investem mais na educação do que os homens, principalmente com vistas à preparação para um emprego na cidade.

Segundo Vantroba (2009), a permanência do jovem no campo depende muito das oportunidades que lhe seja possibilitada, já que ele não vai ficar no ambiente de origem se não tiver como manter o mínimo necessário à sua sobrevivência e de sua família, mesmo que para isso precise ficar longe da família e praticamente seja

“escravizado” num emprego.

Nesse contexto algumas famílias acabam apoiando e incentivando os jovens

a migrarem, alguns pais desejam que os filhos tenham um bom emprego e/ou estudo

e qualificação e buscam encontrar nos centros urbanos. No Rio Maracapucú, muitas

famílias, que possuem boas condições financeiras, graças a produção e

(25)

comercialização do açaí, principalmente no período da safra, conseguem juntar uma renda para manter os filhos na cidade com o intuito de investir nos estudos deles.

Weisheimer (2007), afirma que muitos pais incentivam os filhos a estudar, estimulando o desenvolvimento de “projetos profissionais não agrícolas”. Essa prática é mais recorrente no caso das filhas, uma vez que muitos pais esperam para elas um trabalho não-agrícola, pois entendem que não está reservado às filhas mulheres o papel de sucessoras na administração da unidade produtiva. (WEISHEIMER, 2007, p.

247).

É na família que o jovem rural tem o espaço de vida, de trabalho, de vivência e de sobrevivência (WANDERLEY, 2007). Em qualquer situação, migração ou permanência, a existência da família e da propriedade rural constitui um porto seguro, um referencial sempre à disposição dos jovens.

4.2. Relações de Migração

A migração perpassa a vida do ser humano desde que este habita o planeta Terra. É constatado através dos séculos que o homem sempre andou em busca de condições que lhe possibilitassem a vida, essa realidade existe há muito tempo. O processo de migração se dá por diversos motivos e fatores que imbricam em elementos objetivos e subjetivos, mas que invariavelmente são e estão dentro de um contexto social historicamente determinado (PEREIRA e NOGUEIRA, 2015).

Na Idade Moderna, é possível visualizar a criação das cidades, das pequenas e médias indústrias (em fase de implantação, ainda nas manufaturas) e constata-se assim, o início do sistema capitalista, onde a mão de obra sente-se atraída a trabalhar e na necessidade de deslocamento em busca de emprego o homem migra para onde for necessário.

A partir de diversos estudos existentes sobre migração é perceptível que ainda há uma preocupação, por parte dos estudiosos, em entender e explicar teoricamente como e por que os movimentos migratórios acontecem, tendo em vista que esse não é um fenômeno local e restrito (MORAES e NASCIMENTO, 2013).

Nos últimos 50 anos, o êxodo rural cresceu 45,3% no Brasil. Atualmente, a

migração urbana também tem aumentado, mas não supera a evasão do campo

(HARTWIG, 2012). As pessoas migram em busca de um novo emprego, melhores

salários, estudos e qualidade de vida, muitos brasileiros migram de um lugar para

outro na tentativa de alterar suas vidas.

(26)

Njoku e Chikere (2015), explicam que vários fatores levam a migração rural- urbana mais a principal causa é devido a baixas oportunidades de emprego nas áreas rurais. Segundo Marinucci e Milesi (2015), o desemprego passa a ser uma característica estrutural do neoliberalismo, e as pessoas, então, migram em busca, fundamentalmente, de trabalho. Moraes e Nascimento (2013), se posicionam dizendo que o trabalho está intimamente relacionado ao fenômeno da migração, isso porque o trabalho é um dos fatores de atração das grandes e médias cidades em emergência industrial, talvez o mais importante fator.

Quando se fala da migração de jovens do campo para a cidade, se pensa imediatamente na falta de oportunidade de emprego no meio rural. Na verdade, essa é uma realidade, porém não é a única. A busca do jovem por um ensino de qualidade também é um fator que leva a migração do campo para a cidade.

Esta realidade foi observada durante estudos exploratórios em setembro de 2017 em comunidades do Rio Maracapucu em Abaetetuba/PA. Muitos pais desejam que seus filhos saiam da zona ribeirinha para a cidade em busca de estudo e qualificação.

É na cidade que as pessoas procuram infraestrutura básica, serviços essenciais como: educação, lazer, saúde, transporte, oferta de mercadorias. Neste sentido, a cidade é uma condição histórica para o aparecimento do urbano como um modo de consumir, pensar e agir, é um modo singular de vida das pessoas (CARLOS, 2008).

O ato praticado pelo jovem rural em deixar o campo, escolhendo em geral a migração para uma cidade, é fenômeno que vem ocorrendo desde a década de 40- 50 do século passado. Esta tendência foi discutida em detalhe por Camarano e Abramovay (1998), e continua a ser observada e aprofundada, considerando os dados do último Censo (IBGE, 2010).

“Historicamente, a migração tem tido uma posição secundária nos estudos demográficos. ... isso pode ser explicado por diversos motivos: (a) ...de ordem conceitual, [pela] ... dificuldade de incluí-la dentro de relações analíticas e teóricas similares àquelas geradas para outros componentes demográficos;

(b) dificuldades metodológicas para definir, medir, projetar e obter informações confiáveis sobre os processos migratórios. Os fluxos migratórios são capazes de alterar significativamente o padrão e o nível da fecundidade e da mortalidade de uma região. Ressalta-se, ainda, que a migração é um fenômeno essencialmente social, e que é determinado pela estrutura cultural, social e econômica da região em que ocorre ...”. (Cerqueira e Givisiez, 2004, pg. 28).

(27)

A juventude rural se encontra diante de muitos desafios e incertezas entre

“sair e ficar” no campo (CASTRO, 2005). Entre as dificuldades de permanecer na agricultura há os limites impostos pela escassez da terra, da baixa renda das famílias e, consequentemente, de investimento na produção (ZAGO, 2012).

A migração causa uma certa desestruturação da família no campo, uma vez que um membro sai de casa em busca de trabalho na cidade. Pode acontecer de toda a família ir para a cidade, devido as despesas que acabam se distribuindo entre o que está na cidade e o restante da família que ficou no campo.

Muitos saem do meio rural em busca de emprego na cidade. Mas segundo Hartwig (2012), atualmente, o emprego fixo é muito escasso. Para a maioria, resta o trabalho temporário, quando resta. O trabalho temporário não garante a permanência do jovem na cidade.

O movimento de migração campo-cidade implica no deslocamento de famílias de agricultores e principalmente os jovens para os centros urbanos, atualmente. No entanto, tais trabalhadores não são absorvidos pelo mundo do trabalho na mesma proporção em que são expulsos do campo (HARTWIG, 2012).

4.3. Relações de Gênero

Entender o papel que a mulher desempenhava na sociedade brasileira em décadas passadas é fundamental para compreender o percurso das mulheres no Brasil. No Brasil colonial e imperial, as jovens se tornavam “mulher” muito cedo, pois precisavam cumprir com suas obrigações e com o papel que desempenhavam na sociedade, papel esse que podia ser de mãe, esposa, dona de casa, filha, etc.

(CARVALHO, 2018).

Foram anos de sofrimento e luta feminina para alcançar a autonomia de que hoje elas gozam e suas conquistas na sociedade, especialmente no mercado de trabalho.

A migração, que já existi a muitos anos em nossa sociedade, embora mais intenso até a década de 1980, era mais homogêneo quanto ao sexo e idade. Toda a família deixava a vida rural, ou melhor, era “expulsa” pelas condições adversas no contexto da modernização conservadora da agricultura (FROEHLICH et al., 2011).

Nas últimas décadas, a realidade em que migrava toda a família modificou-

se. Com o surgimento de políticas públicas, como a aposentadoria rural, muito mais

pessoas idosas passaram a permanecer no espaço rural. Esse tipo de política é muito

(28)

interessante para os mais idosos, que podem se beneficiar com a aposentadoria, no entanto, não é tão atraente aos jovens.

Para boa parte da população jovem, que cresceu em meio às dificuldades encontradas para a reprodução socioeconômica das unidades produtivas e com maior acesso à escolaridade com viés urbano, a cidade ainda é visualizada como futuro promissor e de acordo com Froehlich et al. (2011), as mulheres jovens, atualmente, formam o principal estrato social que empreende uma migração seletiva.

Muitos motivos têm levado a essa migração seletiva do sexo feminino, entre eles a desvalorização do trabalho da mulher. Seu trabalho nas atividades relacionadas à produção é considerado como sendo menor, ela apenas “ajuda”, mesmo quando seu tempo de trabalho é igual ou até mesmo maior que o realizado pelo homem.

As mulheres agricultoras não são apenas as principais responsáveis pelas atividades de manutenção do núcleo familiar, mas desempenham um papel fundamental no trabalho relacionado a lavouras e a criação de animais. Sendo assim, elas possuem uma grande importância na dinâmica da unidade de produção, interferindo diretamente nas diferentes esferas de atuação produtiva e reprodutiva (MESQUITA, et al. 2012).

Assim, diferentemente dos homens, que se dedicam inteiramente ao trabalho agrícola, as mulheres combinam diferentes modalidades de trabalho, desdobrando-se entre os afazeres na lavoura e na casa, para conciliar as diferentes demandas do grupo familiar.

4.4. Ribeirinhos e o Manejo do Açaí

Ribeirinhos são sujeitos sociais ligados fortemente à hidrografia amazônica, que tiveram (e ainda mantém) um importante papel no processo de ocupação desse espaço territorial brasileiro. Pode-se dizer que a hidrografia se configura como um lócus de vivência e convivência de comunidades ribeirinhas. Portanto, essa realidade hídrica faz parte de uma paisagem bem característica da Amazônia Brasileira, onde o

“rio é rua” (SANTOS, 2014).

Castro (1997), reconhece como ribeirinhos aqueles que apresentam uma

estreita relação com as margens do rio com a natureza. São referências dos

ribeirinhos: a linguagem, a imagem de mata, rios, lagos e igarapés, definindo lugares

e tempos de suas vidas na relação com a natureza e o meio ambiente.

(29)

Ao ribeirinho o rio é rua, por onde levam e trazem os mantimentos e bens produzidos. O rio é mais do que morada, ele é identidade, a ele está vinculado a existência da população ribeirinha (CARVALHO, 2018).

“Historicamente se sedimentou no imaginário social, um conjunto de representações, imagens e ideologias sobre a Amazônia, em particular, sobre as populações que tradicionalmente se territorializaram na região, como as populações ribeirinhas. Diferentes “olhares” vão de um extremo ao outro...”

(CRUZ, 2008, p. 52)

O município de Abaetetuba é composto por uma área conhecida popularmente por região das ilhas, ela é constituída predominantemente por áreas de várzea ou planícies de inundação, com solos permanentemente alagados (FERREIRA, 2013).

Na Amazônia existem diversas populações tradicionais e diferentes olhares sobre estas. A região das ilhas apresenta uma população tradicionalmente conhecida por ribeirinhos, aqueles que vivem nas beiras dos rios, também conhecidos como varzeiros e até mesmo pescadores artesanais (Santos et al., 2012). Vale ressaltar que nas comunidades visitadas durante pesquisa de campo, todos os entrevistados se auto denominaram ribeirinhos.

As comunidades ribeirinhas são compostas por moradores que se ocupam do extrativismo do açaí, buriti e cacau, mas também da pesca e confecções de produtos artesanais, como a peneira, e olaria na fabricação de telhas de barro e vaso de cerâmicas. Onde o rio também é elemento central na definição da vida econômica, social e cultural das mesmas (SANTOS et al., 2012).

Ferreira (2008), explica que a relação do ribeirinho com o rio não é apenas de proximidade, mas também econômica e cultura, pois é a partir dos rios que os ribeirinhos se apropriam de recursos básicos para o desenvolvimento de suas atividades produtivas.

O ribeirinho depende do rio para locomoção, visitação de familiares e comercialização de produtos. É do rio que eles tiram seus alimentos como o peixe e o camarão. O rio também é tido como uma forma de lazer para crianças e adultos.

Cruz (2006), afirma que os ribeirinhos têm o rio como elemento principal para suas relações sociais e culturais.

Os ribeirinhos dependem de embarcações e utilizam estas como meios de

transporte, na imagem 1 é possível observar a diversidade de embarcações

(30)

encontradas nas comunidades ribeirinhas: a) é um rabudo

5

, embarcação comum nos rios de Abaetetuba; b) trata-se de uma embarcação maior, utilizada para o transporte de mercadorias e cargas em geral; c) trata-se de uma rabeta

6

, quase todas as famílias tem esta embarcação, que pode ser movida a remo e/ou motor mais potente; d) é um barco de frete, aquelas pessoas que não possuem uma embarcação podem pagar passagem na freteira que são barcos particulares que fazem viagens todos os dias, saindo das comunidades das ilhas até o município de Abaetetuba.

Imagem 1: Diversidade de embarcações nas comunidades das ilhas.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2018

. Segundo Carvalho (2018), a região do baixo Tocantins sempre foi marcada por ciclos econômicos como: borracha, olarias, exploração madeireira e atualmente o açaí. E no município de Abaetetuba essa realidade não é diferente. O açaí sempre fez parte da cultura local, a extração realizada era destinada apenas ao consumo, de

5 Embarcação que consiste em canoa adaptada com um motor de polpa que faz esta afundar e a proa da embarcação levantar durante a navegação (FERREIRA, 2013).

6 Pequenas lanchas de casco fino, com o motor mais potente (FERREIRA, 2013).

(31)

forma que o fruto sempre foi utilizado para a produção de “vinho”; e os estipes, serviam à construção de casas rústicas e o palmito aproveitado para a alimentação (CALZAVARA, 1972).

O açaí (Euterpe oleracea), é uma palmeira originária da Amazônia, também chamada de açaí-do-pará, açaí do baixo-amazonas, açaí-de-touceira, açaí-de-planta, açaí-da-várzea, juçara, juçara de touceira e açaí-verdadeiro, sendo conhecida como a mais importante espécie do gênero Euterpe (Oliveira et al., 2002).

O açaí origina vários produtos (artesanato, cosméticos, polpa, palmito, madeiras, entre outros), que são apresentados em feiras internacionais na Europa e na América do Norte, aguçando o interesse do público em geral. Tal fato propicia melhores condições econômicas aos extrativistas (Lopes et al., 2005). Dessa forma, a colheita do fruto do açaí não mais se restringe ao sustento das famílias ribeirinhas;

estende-se a outros horizontes geográficos, estimula a ampliação do produto e, por conseguinte, aumenta seu valor comercial (Teles e Mathis, 2008).

Segundo Jardim e Anderson (1987) e Sousa (2006), a retirada do fruto e do palmito, relacionada com os acontecimentos fenológicos de floração e frutificação, ocasiona alternância de oferta desses produtos no comércio interno, provocando oscilação nos preços dos frutos. De acordo com os autores, no período de floração, quando acontece a entressafra do açaí, a atividade econômica principal passa a ser a do corte do estipe para extração do palmito para alguns ribeirinhos, para outros passa a ser a pesca, ou as vezes o trabalho remunerado fora de seu lote.

Nas últimas três décadas, o açaizeiro vem se destacando por seu impacto positivo na economia local principalmente para o estado do Pará, com a exploração extrativa do palmito e nos anos 80 com o aumento do consumo do suco ou “vinho” de açaí, uma bebida feita do fruto (AZEVEDO, 2010). Trata-se de um fruto nativo na região de várzea do baixo Tocantins e que está introduzido no sistema de produção dos ribeirinhos.

Nos últimos anos, o suco do açaí está deixando de ser consumido apenas na

região Amazônica e vem ganhando novos mercados no Brasil e no exterior

(ENRÍQUEZ; SILVA; CABRAL, 2003). Segundo Azevedo (2010), o estado do Pará

possui a maior área do estuário do rio Amazonas, propiciando uma maior

concentração de açaizeiro, embora o mesmo possa ser encontrado em todo o estado.

(32)

O açaí fruto (Imagem 2), que anteriormente era destinado principalmente para a subsistência das famílias (NOGUEIRA, 1997), passou a ser uma das suas principais fontes de renda e o principal alimento consumido (ANDERSON et al, 1985).

Imagem 2: Fruto de Açaí

Fonte: Pesquisa de Campo, 2018.

O Estado do Pará destaca-se no cenário brasileiro por ser um importante produtor e exportador de frutos do açaizeiro, planta nativa da região amazônica. De acordo com Nogueira e Carvalho (1995) a produção de frutos nativos que provinha quase que exclusivamente do extrativismo, a partir da década de 1990, passou a ser obtida também de açaizais nativos manejados e cultivados nessas áreas. Para alguns autores essa intensificação do manejo dos açaizais está se tornando uma ameaça para a diversidade das cultivares nativas ou plantadas no meio rural.

Essa exploração é feita em açaizais que apresentam baixa produtividade, principalmente no período de entre safra. Diante disso muitas famílias recorrem ao desmatamento da floresta para a produção de culturas de subsistência, agravando com isso os diversos problemas ambientais (Oliveira, 2005).

No estuário amazônico tem se observado entre os ribeirinhos, práticas de

manejo inovadoras nos açaizais, isso devido à grande valorização do açaí e a procura

que o mercado tem feito em relação ao fruto (COSTA et al. 2014).

(33)

De acordo com Sousa (2016), o açaí se tem destacado como frutífera de alto valor econômico nos mercados nacionais e internacionais, tornando-se assim, a principal fonte de renda dos ribeirinhos em alguns meses do ano.

Conforme afirma Farias (2012), em áreas com manejo intensivo de açaí ocorre uma abundância de espécies de açaizeiro e baixa riqueza de espécies local, ou seja, o número de espécies de açaizeiro é superior a outras espécies nativas, o que reflete em baixa diversidade de espécies.

Para Azevedo e Kato (2007) o entendimento dos diferentes tipos de manejo de açaizais nativos realizados pelos ribeirinhos e, consequentemente, das diferentes estratégias pode contribuir para que as implantações das propostas de manejo de açaizal nativo possam ter maiores êxitos.

Segundo Grossmann et al (2004, p. 127-129), em pesquisa realizada no município de Abaetetuba - PA, as famílias de ribeirinhos, para usufruir o açaí fruto e o palmito, desenvolveram diferentes práticas de manejo: manejo intensivo (elimina-se toda a vegetação ficando apenas o açaizeiro); manejo intermediário (eliminam-se apenas as espécies sem valor econômico); manejo moderado (são retiradas espécies da floresta apenas para facilitar o trânsito das pessoas) e o sem manejo (onde é realizada apenas a colheita do açaí).

Posteriormente, com a valorização do fruto do açaí, na década de 1990, e a expansão do mercado, as práticas foram sendo melhoradas e adequadas a necessidade de aumento da produção para suprir a crescente demanda, intensificando-se consideravelmente a produção do fruto (Mourão, 2004).

Ciadella e Navegantes (2014) afirmam que o aumento da valorização do fruto de açaí elevou a demanda deste produto, acarretando a promoção de práticas que visem o aumento da produtividade. Promovendo a inovação nas práticas que visem atender as necessidades dos agricultores familiares (COSTA et al. 2014).

Os agricultores buscam melhorar cada vez mais suas práticas de manejo,

para conseguirem melhorar os açaizais e aumentar a produtividade do lote. Costa et

al. (2014), afirma que a inserção da roçadeira na limpeza da área, o corte sem

restrições de espécie visando o adensamento dos açaizais e a formação do dossel

homogêneo (formando um açaizal com a mesma altura) são inovações adotadas

visando o aumento da produtividade.

(34)

Esse melhoramento nas práticas de manejo inclui também o melhoramento do açaizal para a produção no período da entressafra do fruto. Segundo Homma et al.

(2006), a queda da renda para muitos pequenos produtores, nas áreas de várzeas, por ocasião da entressafra do açaizeiro recomenda desenvolver procedimentos para permitir a produção de frutos nesse período. Com o objetivo de produzir fruto durante o período de safra e entressafra do açaí, facilitando a vida dos agricultores que tem como única fonte de renda o fruto.

Foi observado durante a pesquisa de campo que nos açaizais da várzea a mão de obra geralmente é familiar, alguns agricultores donos de maiores extensões de área contratam jovens rapazes para retirar o fruto, isso ocorre geralmente no período da safra, quando tem uma quantidade maior de açaí para ser retirado das árvores.

Os homens ajudam os pais no manejo e na colheita do açaí e as mulheres

ajudam na higienização do fruto antes da venda. A família de forma geral trabalha no

lote, os adolescentes e jovens ajudam nos horários vagos, quando não estão na

escola. Dessa forma a família toda trabalha no manejo do açaí e na organização do

lote.

(35)

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Referências

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