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QUE SE ELEVEM AS VOZES SEM ROSTO…

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Academic year: 2021

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QUE SE ELEVEM AS VOZES SEM ROSTO…

CN & MJG a propósito dos I Jogos Florais Miguel Torga (2 fevereiro 2013)

Miguel Torga escreveu poemas lindíssimos – não sei se alguns no intervalo das consultas de oftalmologia ou no sossego dos cafés da Praça Rodrigues Lobo, em Leiria – mas eu gosto muito de dizer este aos meus queridos estudantes chineses, do livro Penas do Purgatório, na p. 72 da 2.ª ed., de 1954, que herdei entre os livros do altar poético que o meu Pai venerava:

DEPOIMENTO

Não há céu que me queira depois disto, Nem deus capaz de ouvir-me.

Um homem firme

É firme até no céu,

E até diante Do Criador!

E o que eu diria se, ressuscitado, Fosse chamado A depor!

Eu e a minha querida colega Mª José Gamboa, de olhos fechados e de ouvidos atentos, demos as mãos na nossa escolha e quisemos dar o nosso depoimento.

Assim:

1. A poesia de José Costa [JC] é uma poesia de ELEVAÇÃO: Elevação das vozes sem rosto.

Pensar é uma forma de elevação. E o pensamento poético de JC eleva o seu leitor, interpelando-o num “tu” inominado, tocando-o, convidando a sentir no corpo do seu tríptico poético ELEVAÇÃO | AS VOZES | SEM ESTE ROSTO, as vozes que o poeta, qual semeador avisado, vai semeando e recolhendo.

Neste movimento de procura e de escuta de vozes também inomináveis, o poeta parece desenhar o movimento da criação – um círculo de vida que floresce, enche de luz, de esperança, que acolhe e se evola. Leveza e ascensão, a luz e o tatear receoso da sua sombra transfiguradora.

No primeiro poema, primeiro quadro do tríptico, o poeta desenha um cartografia de lugares poéticos que o leitor pode associar à imagética do ato criador, do amor. A criação, o amor fazem-se, pelo menos a dois, de mãos dadas - a mão que semeia e a mão que segura “a mão que cultiva as sementes”, “o enlevo das coisas sublimes do amor”, “entre talhes profundos de terra”. Semeador de amores, o poeta, o amador espera(m), guardando o “corpo em retorno” (o amado, o amor da poesia, as suas vozes …). Um corpo capaz de refazer a esperança, um corpo que toca, tateia o eu interior do criador, do amado, e que permanece como cântico. Um corpo que se faz voz.

No segundo poema - As Vozes - a imagética da leveza ascendente continua a suster o leitor, na presença volátil de vozes que parecem ter corpo e que ascendem - “Há vozes que ascendem indomáveis / Assemelhando-se à chama de uma vela acesa”. O leitor interrogar-se-á sobre a identidade destas vozes. Qual o seu rosto? As vozes de JC são “insubmissas linguagens” “carregando a vida num sopro” e “enchendo os lugares do presente”. Vozes – amor que dão vida, amores do presente, amores fugidios que um dia silenciarão. Vozes frágeis que ardem até ao fim.

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No final deste tríptico, Sem este rosto, cruzados os lugares vividos, o peso de uma

“ânsia circular da noite”, a prisão “num lugar incontrolável”, sem rosto reconhecido.

Pressente-se um sentido de fim, resgatado pela leveza do título do tríptico.

2. A poesia de Afonso Costa [AC] é uma poesia de ILUMINAÇÃO: Plena Luz.

Com Abraços, o silêncio (a melancolia?) acolhe-nos, “na pulsão de um poema inacabado | sobre o mundo de indomável vislumbre” até “as incendiadas cristas de beleza, | feitas de silêncio incessante das noites” fecharem o ciclo, irmão do anterior, num exercício poético – também ele um tríptico muito belo – de uma beleza minimalista.

3. A poesia de Filarmónico [F] é uma poesia de SOBREVIVÊNCIA: Dor Cruel.

As quadras, de registo popular, exemplificam sofrimentos que são de todos e que a religião e deus e o amor profilaticamente nos aliviam, nas nossas mãos trémulas.

4. A poesia de Cotovia [C] é uma poesia de PAGANISMO: A Natureza.

Acredito que falharam apenas por distração – pois tecnicamente elas estão lá… - as quadras, de registo popular, e desta vez é a natureza-mãe, e o coelhito brincalhão a mostrarem que a fragilidade humana é apenas um pequeno ponto do todo.

Daí a nossa MENÇÃO HONROSA, pois é no saber do povo, ingénuo e teimoso, que aprendemos a revelação: e não insistiremos mais em “ser intrusos”!

Gratas à Junta de Freguesia de Leiria e à nossa instituição, o IPL, saudamos estes poetas vivos e abraçamo-los,

CN & MJG S. Pedro de Moel, 2 fevereiro 2013.

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