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AFRICANIDADES BRASILEIRAS: A DANÇA DE SÃO GONÇALO DE MUSSUCA

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AFRICANIDADES BRASILEIRAS: A DANÇA DE SÃO GONÇALO DE MUSSUCA Givalda Maria dos Santos Bento 1 (ULHT)

RESUMO

Este artigo tem por objeto apresentar os resultados de uma pesquisa sobre a dança do grupo São Gonçalo da Comunidade Quilombola de Mussuca, considerada uma das Africanidades Brasileiras mais significativas e expor sua contribuição ancestral, através dos valores culturais herdados dos africanos ainda que negados no contexto da contribuição histórica brasileira.

Pretende-se ainda, contribuir com a temática das africanidades e observar qual tem sido o papel da educação em refletir sobre o pouco conhecimento que temos sobre a história afro- brasileira. A dança de São Gonçalo da comunidade Quilombola de Mussuca, localizado no Município de Laranjeiras, é uma manifestação cultural, de caráter religioso que através da memória familiar e ancestral vem atravessando séculos resistindo e se preservando, por meio das brincadeiras, vivências e tradições passadas pelas experiências que estão ligadas aos valores ancestrais coletivos como forma de manifestar e expressar suas origens simbólicas de orgulho e afirmação étnico racial.

Palavras-Chave: São Gonçalo; Africanidades; Relações raciais; Sergipe.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta algumas reflexões decorrentes de uma pesquisa onde tem como objeto estudar a dança de são Gonçalo da Mussuca no contexto das africanidades e representação simbólica através da dança, música e de cada elemento representativos em suas indumentárias, abordando o contexto da manifestação folclórica, realizada na Comunidade de mussuca/Laranjeiras. Este trabalho de pesquisa teve como base os seguintes textos: a edição do caderno de folclore nº 09 da Professora mestra em Antropologia Beatriz Góis Dantas, na tese de mestrado em Antropologia Social da Universidade Federal do rio Grande do Norte do Professor,Wellington José Bonfim e da Tese de mestrado em antropologia do Museu Nacional da Universidade do Rio de Janeiro, adotando como método a pesquisa de campo

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Professora da Rede Estadual e da Prefeitura Municipal de Nossa Senhora do Socorro, Pós-Graduada em psicopedagoga,

Mestranda em Ciências da Educação pela Lusófona.

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realizada no período de 2007 a 2010. A comunidade Quilombola foi reconhecida pelo governo federal através do MIC/Fundação Cultural Palmares pelo decreto 4887 de 20 de novembro de 2003. Essa definição fortaleceu os laços culturais através das tradições e saberes adquiridos a aproximadamente dois séculos de sua existência.

Com efeito, a isso, segundo afirmam Otávio (2004) e Dantas (1976):

Folguedo são festas populares de espírito lúdico que se realizam anualmente, em datas determinadas, tem origem religiosa, tanto católica, como de cultos africanos, o folguedo pode ser rural ou urbano. È uma das manifestações populares mais antigas, configurando-se como prática do catolicismo popular.

São festas de caráter popular cuja principal característica é a presença da música, dança e representação teatral. Grande parte dos folguedos possui origens religiosas e raízes culturais dos povos que formaram a nossa cultura (africanos, portugueses e indígenas).Os folguedos fazem parte da cultura popular e do folclore brasileiro.

O termo folklore-folk (povo), lore (saber)-foi criado pelo arqueólogo inglês Willian John Thomas em vinte e dois de agosto de 1846 e adotado com poucas adaptações por parte dos países europeus, chegando ao Brasil, com a grafia pouco alterada. Segundo Barreto (1976, p. 113) define que:

Folclore é um fragmento do cotidiano longínquo, que se vai contextualizando no tecido social como uma referência. Logo é uma ferramenta auxiliar da interpretação dos fatos, que em certas circunstâncias mais equivale a uma chave, que revela ao presente todas as surpresas do passado acumulado.

São Gonçalo do Amarante nasceu em Portugal em 1187, foi membro da ordem dos

dominicanos e beatificado pelo Papa Júlio III, o santo Português morreu no ano de 1259, e

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teve como devoto o rei Dom. João III. A crença na existência de milagres operada por ele se espalhou em Portugal onde também tinha fama de santo casamenteiro. Sua festa era comemorada em duas datas, em julho e em janeiro, festa das Regateiras feita pelas mulheres que pretendiam se casar onde era comemorada dentro das igrejas. Após sua morte passou a ser protetor dos violeiros, remédio contra as enchentes além de casamenteiro, sendo canonizado em 1561.

O santo português também conhecido como alegre violeiro se dedicava a salvar prostitutas (Cascudo, 1969, pg. 686), ainda lhe atribuiu a qualidade de parteiro o que em outras regiões do país é registrado em versos dedicados ao santo pela história oral colhida na Mussuca (Santos, 1937:11; Dantas, 1976, pg. 04). O santo teria sido também marinheiro é esse atributo que o vincula também em Portugal e no sul do Brasil (Araujo, 1967:31-75 ).

Atualmente no Brasil, o santo português é representado da forma católica, onde os devotos, leigos realizam o ritual religioso destinado ao pagamento de promessas não mais em forma de festas.

A dança de São Gonçalo pode ser considerada um dos ritos mais difundidos do catolicismo rural brasileiro, existindo nos estados de São Paulo, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Sergipe.

O primeiro registro de uma festa do São Gonçalo foi do ano de 1718, na cidade de Salvador, pelo viajante francês Gentil de La Barbinais. A festa aconteceu na antiga igreja de São Gonçalo localizada no atual bairro da consolação e reuniu além do vice-rei Marques de Angeja, padres, fidalgos, mulheres e escravos. (Cascudo, 1969: 687; Dantas, 19667 p. 04).

Em Sergipe a dança do são ainda é muito presente a exemplo de sua existência nos

municípios de Laranjeiras, Nossa Senhora de Lourdes, Pinhão, Riachão do Dantas, tomar do

Gerú, (Bonfim, 2008 pg.48), recentemente resgatado também em São Cristovão.

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2. LARANJEIRAS: CAPITAL POPULAR DO FOLCLORE

Localizado no nordeste brasileiro, o estado de Sergipe possui a maior reserva de manifestações folclórica do país. É neste cenário que se insere a cidade de Laranjeiras, também conhecida por ser um dos municípios mais importantes da região do Vale do Cotinguiba, onde prosperou economicamente através dos engenhos de cana-de-açúcar (século XIX) e na área industrial (século XX).

A cidade foi tombada pelo decreto nº 2003 de 21 de novembro de 1970, recebendo o titulo de Patrimônio histórico cultural (Nunes, 1993: p. 76). Laranjeiras lugar que abrigou a elite econômica, intelectual e política do Brasil colonial onde nos séculos XVII e XIX, foi palco de várias iniciativas e manifestações artísticas, os responsáveis por estes feitos foram advogados, jornalistas e poetas filhos de famílias tradicionais.

A cidade mais importante da região Vale do Cotinguiba, também palco da influência religiosa e da pressão dos senhores de engenhos sempre se mostrou hostil quando se tratava dos escravos. Em respeito a isto, Santana (2008, p. 83) enfatiza:

É importante registrar que a cidade de Laranjeiras teve fundamento econômico na pecuária e na lavoura canavieira, onde mesmo antes do surgimento oficial de laranjeiras as propriedades que formam o atual entorno da comunidade de Mussuca, como o engenho da Ilha, que sinaliza a importância econômica da região.

A cidade possui o único museu afro brasileiro de Sergipe, fundado em 1976, onde

possui um acervo doado por dos de fazendas e pessoas que de alguma forma guardavam

lembranças do período da escravidão, como acervos expõe instrumentos de tortura aos quais

os escravos eram submetidos, conserva também peças que retratam a transição econômica em

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substituição da mão de obra escrava ainda ali estão reservadas as salas dos orixás onde registra a forte influência da religião de matriz africana.

Neste sentido, podemos notar que a existência de quilombos na região de Laranjeiras está intimamente ligada à economia escravista, que ditava a moral, a religião e a forma de se comportar. A respeito disso, Bonfim (2006, p. 42) acrescenta:

Com a crise econômica do setor, que se acirra nas primeiras décadas do século XX, a cidade perde sua importância comercial e passa por um longo período de pouca visibilidade no estado, entretanto, conserva sua importância arquitetônica e perpetua as heranças culturais e religiosas das populações que surgiram do trabalho escravo e que se concentraram nos diversos povoados das regiões.

Laranjeiras, cidade dos grandes casarios, da ponte nova, de ruas estreitas, da taieira, os reisados, lambe - sujo cacumbi e do são Gonçalo, beleza ancestral e do contraste social, das universidades, lugar que abrigou personalidades como João Ribeiro, Horácio Hora, Professora Zizinha Guimarães, João Sapateiro e tantos outros, pessoas que ao longo do tempo manifestaram seu amor por esta terra, marcas representadas pelas mais variadas expressões, todas igualmente representativas é neste universo que relembro a homenagem feita pelo poeta João Sapateiro a cidade de Laranjeiras.

Minha terra Laranjeiras

Terra das lindas palmeiras

Adoro tudo que é teu

Admiro os belos prados

E adoro lindos trinados

Das aves que Deus te deu

Admiro o candomblé

E o zabumba José

Torrente de poesia

Amo a face angustiada

Da imagem cobiçada

Do senhor da pedra fria

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Eu gosto dos penitentes Que contritos, reverentes, Rezam por todos do além.

_ e é co orgulho que falo Na dança de São Gonçalo Que nos encanta e faz bem.

Admiro os caboclinhos, E os negros do Rei raminho, Lamentando o cativeiro:

E a cantoria bonita Da turma de João de Pita, No dia seis de janeiro

Poeta João sapateiro (in memorian)

Neste contexto, verificamos que Laranjeira recebeu negros africanos para trabalhar na expansão da lavoura canavieira de cana-de-açúcar, onde aos latifundiários e senhores de engenhos coube as riquezas e ao povo negro a precária condição de vida, mesmo assim, em sua forma de se organizar através das senzalas, nos quilombos garantiu que sua ancestralidade não fosse esquecida ao contrário seus valores foram fortalecidos através da cultura e da religião.

3. MUSSUCA E SUAS AFRICANIDADES

Laranjeiras foi um centro de tensões sociais e raciais, além de acontecer revoltas urbanas, os negros fugidos se organizavam normalmente em locais distantes e de difícil acesso hoje, denominados quilombos, para se sustentarem praticavam roubos e assaltos, viviam também da caça e da pesca.

Um fato que chamou a atenção da cidade foi o assassinato do coronel Pedro Muniz

Barreto senhor de engenho da fazenda Ilha, localizado na Mussuca, ocorrido no ano de 1872,

quando o escravo Escolástico descarregou três golpes de foice, matando-o. O escravo foi

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julgado e condenado a morte na foca e o assassinato até hoje é lembrado pela comunidade, onde cada um conta a história conforme o seu entendimento.

Africanidade: em sentido geral, pensar em Africanidade nos remete ao sentido de reconhecimento tanto do lugar histórico, sociopolítico e ludico- cultural, onde tudo e liga a tudo. Na prevalência da Africanidade, o universo é gerado na existência coletiva, prevalecendo o Ser Humano e o Espaço enquanto expressão da chamada força vital, imprescindível para evidenciar a construção de uma identidade negra postulada na construção de um mundo democrático. A africanidade reconstruída no Brasil está calcada nos valores das tradições coletivas do amplo continente africano, presente e recriada no cotidiano dos grupos negros brasileiros. (SECAD 2006, p. 215).

A comunidade de Mussuca está localizada no município de Laranjeiras a 23 km da capital sergipana. Recebeu o titulo de comunidade quilombola pelo decreto4887/2003 em 01/03/2004. Segundo Moura (1996), As comunidades quilombolas contemporâneas recebem denominações tais como terra de pretos, mocambos e comunidades negras rurais.

Em Laranjeiras a dança de São Gonçalo é formada basicamente por homens, onde a característica é a louvação ao santo e ao pagamento de promessas. A festa, São Gonçalo acontece na própria comunidade sempre realizada na semana santa, á o pagamento de promessas pode ocorrer em qualquer época deste que o promesseiro assuma todas as despesas como o evento. Segundo relatos dos mais velhos. São Gonçalo era o padroeiro da comunidade, não se sabe ao certo o porque da mudança,se foi uma imposição da igreja ou a pedido dos moradores ,atualmente o padroeiro de mussuca é o senhor da Cruz.

O culto do religioso trazido pelos colonizadores portugueses é apropriado

dinâmica social e cultural de diferentes grupos que trataram de vincular a

esta prática ocidental, representada pelo catolicismo em forma devoção a

um santo da igreja católica e elementos que marcaram culturais dos

componentes que aprendem na prática (BONFIM,PG.49 2006).

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Neste caso, a dança de São Gonçalo de ussuca se caracteriza não somente pelas indumentárias, adornos, mas principalmente pela contribuição histórica em manter viva uma tradição centenária baseada na história oral, rica por conservar através das cantigas saudações ao povo africano.

Adeus parente Que vou imbora Pra terra de conga Vou ver angola.

(Dantas 1976 )

4. QUILOMBOS: ESPAÇOS DE RESISTÊNCIA

A estratégia de resistência historicamente desenvolvida pelos africanos no Brasil foi se organizando através dos quilombos, espaços construídos como forma de lutar contra a opressão e a discriminação e garantir a continuidade de valores, memória, da cultura de sua história. O objetivo dessas resistências era dentre outras fortalecerem suas identidades nas diversas áreas de tradições africanas. Segundo afirma Munanga (2006):

Tais resistências se expressaram com grande ênfase nos quilombos, irmanados, banzo, revoltas, fugas, na religiosidade de matriz africana, nos movimentos hip-hop, no samba, no congo, na língua, na arte, nos movimentos sociais. Muitos movimentos políticos, artísticos, musicais e culturais brasileiros tiveram e têm o negro como protagonista como propulsor da mudança, como ator ou fonte de inspiração.

As comunidades quilombolas, também conhecidas como mocambos, terra de pretos, habitadas por descendentes de africanos escravizados com fortes laços de parentesco.

(Moura-1997). A mussuca possui essas características e podemos observar que o grupo são

Gonçalo está inserido neste contexto, pois em toda sua existência é constituído por pessoas do

mesmo tronco familiar e a substituição das figuras ou dançarinos tem obedecido a mesma

forma.

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Outro aspecto se deve ao fato de que desde pequenos as crianças são estimuladas a participar do grupo. Esses comportamentos não deixam dúvidas de que a reconstrução dos valores possibilitou que seja através da música, da oralidade, da dança fosse preservado o fortalecimento da identidade e da ancestralidade do povo negro, seja no campo religioso, da história ou ainda na construção da auto-afirmação.

5. OS RITUAIS E PAGAMENTO DAS PROMESSAS

O pagamento de promessa de São Gonçalo de Mussuca acontece quando alguém que reside ou não na comunidade solicita ao patrono uma apresentação do grupo onde, é incluído todo o ritual que vai desde o almoço, procissão e a dança tudo realizado no decorrer do dia.

Há alguns anos atrás essas atividades eram realizadas no decorrer da semana, normalmente as jornadas são menores.

O grupo São Gonçalo atualmente é composto por doze homens que se vestem de mulher, trajam roupas femininas que simbolicamente representam as prostitutas, são agrupados em filas e os dois primeiros tocam querequechés.

Respeitando uma tradição secular o pagamento das promessas acontece sempre aos domingos e o promesseiro é responsável por assumir todas as despesas com o grupo, sempre pela manhã acontecem os ensaios, meio-dia é servido um almoço e na parte da tarde é realizada a procissão onde o grupo sai em cortejo com seu traje tradicional até a igreja onde diante do santo repete as jornadas assim, encerra-se as comemorações.

Além do pagamento das promessas o grupo se apresenta todos os anos no Encontro

Cultural de Laranjeiras, na festa do senhor da Cruz realizada todos os anos na mussuca como

também a convite em outros estados e municípios. O grupo tem cobrado um cachê para se

apresentar os recursos servem para pequenas despesas, recentemente o grupo foi contemplado

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através de editais do governo federal (Fundação Cultural Palmares), anualmente a prefeitura municipal faz a doação das roupas para os componente do grupo.

6. COMPONENTES DO GRUPO SÃO GONÇALO

Os dançarinos do grupo São Gonçalo é formado basicamente pelo sexo masculino, a figura feminina está representada pela mariposa cuja função seria segurar o barco com o santo e tirar as cantigas. Descrição abaixo segundo grifo meu.

Patrão: é a pessoa que comanda o grupo, através de sinais indica para os demais as jornadas seguintes, seu traje é branco representado o marinheiro, fica sempre no meio da fila ou dos círculos, atualmente o patrão do São Gonçalo de mussuca é o senhor Sales, foi já em seu comando que o mesmo teve a iniciativa de criar o São Gonçalo formado por jovens e outro formando por criança, essa iniciativa foi devido principalmente ao grande número de convite para apresentação como também pelo fato dos brincantes serem trabalhadores e nem sempre eram dispensados do trabalho para realizar as apresentações.

Mariposa: a única figura feminina, também usa branco, sua função é segurar o barco

com São Gonçalo e tirar os cantos. Segundo relatos dos mais velhos a mariposa era responsável por tirar os versos, porem a esposa do Sr Paulino não possuía voz ideal o mesmo ocorrido com a atual mariposa a Senhora Maria Santana esposa de Sales aí entra a figura de Dona Nadir cantora cuja função é tirar os versos

Tocadores: são em números de quatro, todos tocam instrumentos de cordas, se vestem

normalmente de branco e azul, embora o patrão toque a caixa, mas, a sua função é a do

patrão.

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Dançarinos: atualmente são em números de doze, suas indumentárias são coloridas,

compostas por: calça, tênis e camisas regatas brancas, por cima um xale com fitas coloridas e uma saia estampado, na cabeça turbante branco amarrado por fitas coloridas, usa-se brincos, pulseiras e colares de pontas, dançam sempre em fileiras e repente as jornadas.

7. A MUSICALIDADE DO GRUPO DE MUSSUCA

As melodias e os ritmos das músicas do grupo são diferentes dos diversos grupos existe no país como também dos do estado de Sergipe (DANTAS, p. 06 1976). No caso do grupo São Gonçalo de mussuca, percebemos presença forte do negro, na dança, música, os movimentos circulares (coreografia) e na religiosidade vale ressaltar que todos os passos são indicados pelo mestre.

Outro aspecto, ainda são as jornadas que são as partes das danças e que são seguidas por cada tema, seja no início, meio ou no final de cada apresentação. Ainda neste contexto, Dantas (1976, p. 7) acrescenta: Os cantos têm a função de indicar as várias partes da dança no ritual. Iguais as coreografias é diferentes pelos cantos, as diversas jornadas, nome que se dão as partida dança, se identificam pelos cantos que eles servem de tema central.

Para dar início dança de São Gonçalo a primeira cantiga. Esta é a quadra de benzimento e ao dar início todos fazem o sinal da cruz.

Na hora de Deus amém Pai de Filo. Espírito Santo Essa premêra cantiga

Que p’a São Gonçalo em canto Ora viva e arreviva

Ora São Gonçalo viva

Jornada de número dois

Vosso rei pediu uma dança

È de ponta de pé é de carcanha

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Onde mora vosso rei de Congo È de ponta de pé é de carcanha.

Essa música pertence a jornada de número 4 Jiruaê

Jiruaê ô quisamba ê

Jiruá, jiruá, isquitin calamundê Jiruaê ô quisamba é

Vai isquitin calamundê Jornada de número 5 Mamãe Zambi

Em de ré ré mamãe Zumbi Nossa mãe Zumbi, oi ela AL Em de ré ré mamãe Zumbi Oi ia iá Zumbi, que faz qui.

(Dantas 1976)

8. AFRICANIDADES E VALORES CIVILIZATÓRIOS

Para compreender a presença das “africanidades brasileiras” do grupo São Gonçalo de Mussuca é necessário perceber como se dava a relação com a herança africana e de qual forma esses traços culturais vem se afirmando a mais de um século.

Refletir sobre a possibilidade da presença das temáticas nas cantigas significa uma forma de comunicação entre os africanos, não está descartada sobretudo, quando se faz referência a mamãe Zumbi, ao Congo e o retorno a Angola.

Outro aspecto deve-se ao fato de que nem todos os brincantes pertence a religião de matriz africana ,mas nenhum deles faz qualquer tipo de negação ao uso dos colares de ponta,neste sentido, tudo leva a crer que de fato há que a dança também se constitui como uma estratégia de resistência de fortalecimento dos laços de pertencimento, seja através da manifestação religiosa,história ou ainda através do lúdico.

Pensar africanidades no contexto da contribuição e na importância das raízes

africanas é também perceber que a mesma se reproduz no cotidiano das pessoas, que está

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representada na família, nos modelos de referências sociais, estar presente na possibilidade de sonhar na busca de alternativas e reagir as várias formas de preconceito e de discriminação.

Enfim, a cultura africana que possibilitou troca, produção de saberes, encontros, também oferece a academia uma outra possibilidade a de sistematizar essas riquezas que por muito tempo ficaram na invisibilidade, na negação de suas tradições e que por pouco não foram exterminadas esse artigo se propõe a contribuir com a promoção dos saberes baseadas no compromisso ,na garantia de direitos e na construção de que as manifestações culturais afro brasileiras devem ter seu lugar não só como folguedo mas fazendo parte da história de uma nação.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais. MEC 2006.

BOMFIM, Wellington de Jesus: Identidade, memória e narrativas da dança de São Gonçalo do Povoado Mussuca (Se): Tese de Dissertação Antropologia Social do Centro de Ciências humanas, Letras e artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte 2006.

CLÉIA, Medeiros, IRAC; Roberto Eghari. História e Cultura afro-brasileira e africana na escola. (editora) Brasília 2008.

DANTAS, Beatriz G. Dança de São Gonçalo. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura do Departamento de Assunto Culturais da Fundação Nacional de Artes, cadernos de Folclore número 09 MEC 1976.

BARRETO. Luiz Antonio. Um Novo Entendimento do Folclore. Aracaju. 1988. Folclore na Escola. Cadernos de Folclore nº 5. Rio de Janeiro. 1976.

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LIMA, Maria Batista, Identidades e alteridades: debates e praticas a partir do cotidiano

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Referências

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