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Universidade Federal de São Carlos Centro de Educação e Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade

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Universidade Federal de São Carlos

Centro de Educação e Ciências Humanas

Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade

Cooperativas de catadores e parcerias com gestores

públicos: aspectos promotores de autonomia

Lucas Miguel França

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LUCAS MIGUEL FRANÇA

Cooperativas de catadores e parcerias com gestores

públicos: aspectos promotores de autonomia

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade,

do Centro de Educação e Ciências Humanas, da

Universidade Federal de São Carlos, como parte

dos requisitos para a obtenção do título de Mestre

em Ciência, Tecnologia e Sociedade.

Orientador(a): Prof(a) Dr(a) Maria Zanin

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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária da UFSCar

F814cc

França, Lucas Miguel.

Cooperativas de catadores e parcerias com gestores públicos : aspectos promotores de autonomia / Lucas Miguel França. -- São Carlos : UFSCar, 2013.

106 f.

Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São Carlos, 2012.

1. Desenvolvimento social - ciência, tecnologia e

sociedade. 2. Gestão pública. 3. Autonomia. 4. Cooperativas de catadores de resíduos. 5. Economia solidária. I. Título.

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P r o fa . O r a . M a r ia C r is tin a P iu m b a to In n o c e n tin i H a y a s h i C o o r d e n a d o r a d o P P G C T S

P r o g r a m a d e P ó s - g r a d u a ç ã o e m C i ê n c i a , T e c n o l o g i a e S o c i e d a d e

C e n t r o d e E d u c a ç ã o e C i ê n c i a s H u m a n a s d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d e S ã o C a r l o s

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Agradecimentos

Agradeço em primeiro lugar a minha orientadora Maria Zanin, pela colaboração, orientação e paciência despendidas ao longo de dois anos de trabalho juntos.

Agradeço ao programa de Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade Federal de São Carlos pela oportunidade, infraestrutura e apoio oferecidos para o desenvolvimento desta pesquisa de mestrado.

Aos meus amigos de Incubadora e agora amigos da vida, Leandro Targa, Tatiane Godoy, Rafaela Francisconi, Marta, Danilo, Larissa Tinto e toda a equipe da Incoop/UFSCar.

Aos amigos da vila do Chaves: o catedrático César, Amaranta, Alexandre, Cristiane, Thiago, Carol, Clayton, Jacqueline e Manuzis pelos momentos divertidos que ajudaram a amenizar os sofrimentos e o cansaço causado pelo desenvolvimento do trabalho.

Aos amigos da Geografia da Universidade Federal Fluminense e da minha terra querida, Niterói.

À toda a minha família, minha mãe Inêz, meu pai Darcy e meu irmão Alexandre pelas ajuda e pelos conselhos.

Aos membros da banca de qualificação e defesa pela contribuição para um melhor desenvolvimento do trabalho realizado.

Às prefeituras e cooperativas de catadores dos municípios de São Carlos e Piracicaba pelo apoio e contribuição para a realização da pesquisa.

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Resumo

Esta pesquisa para o mestrado em Ciência, Tecnologia e Sociedade (UFSCAR), tem como objetivo identificar aspectos promotores de autonomia nas relações/parcerias estabelecidas entre gestores públicos e empreendimentos de cooperativas de catadores. Dentre os procedimentos metodológicos destaca-se a revisão bibliográfica sobre o tema proposto e o levantamento de dados e informações junto às prefeituras, entidades de apoio e assessoria e junto às cooperativas envolvidas. O ganho de autonomia no momento das decisões, o planejamento das atividades dos cooperados e outros aspectos como o acompanhamento e a capacitação são considerados de fundamental importância para o sucesso de experiências que envolvam o uso de tecnologias sociais e cooperativas. Todos estes pontos são passíveis de análise por meio do estudo das parcerias, neste caso, entre gestores públicos e cooperativas de catadores em programas de gestão compartilhada de resíduos. Para desenvolver o trabalho foram analisadas parcerias desenvolvidas nas cidades de São Carlos e Piracicaba. Nos dois casos pesquisados identificamos quais seriam os possíveis aspectos promotores e não favorecedores de autonomia nas relações/parcerias estabelecidas entre gestores públicos e cooperativas de catadores e no trabalho desenvolvido pelos grupos, contribuindo para a conquista e a manutenção da autogestão por meio da utilização de categorias de análise, como: Instâncias de decisão, Grau de democratização nas relações, Divisão do trabalho, Solidariedade, Ação pública no território, Gestão do empreendimento, Participação/Articulação, Formação de redes, Posse dos meios de produção, Direitos sociais, Investimentos em infraestrutura e Fontes de arrecadação do empreendimento. Como resultado, foi observado que as parcerias estabelecidas entre gestores e cooperativas demonstram ter uma influência direta na conquista da autonomia e no trabalho desenvolvido pelos empreendimentos, dificultando assim, o desenvolvimento e a apropriação do trabalho pelos grupos.

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Abstract

This research for the master's degree in Science, Technology and Society (UFSCAR), has as objective to identify to promotional aspects of autonomy in the relations/partnerships established between public managers and enterprises of cooperatives of catadores. Among the highlights methodological procedures to review the literature on the subject and proposed data collection and information from the municipalities, supporting organizations, advisory and involved with cooperatives. The autonomy gain at the time of decisions, the planning activities of the cooperative and other aspects such as monitoring and training are considered essential for the success of experiments involving the use of social technologies and cooperatives. All these points are subject to analysis through the study of partnerships, in this case between public managers and recycling cooperatives in programs for shared management of waste. To develop working partnerships developed were analyzed in the cities of Piracicaba and São Carlos. In both cases respondents identified what are the possible promoting factors and not favoring autonomy in relationships / partnerships between public managers and recycling cooperatives and work done by groups, contributing to the achievement and maintenance of self-management, through the use of analytical categories such as: Decision-makers, degree of democratization in relations, division of labor, Solidarity, public action in the territory, project management, Participation / Coordination, Training networks, Possession of means of production, social, infrastructure investments and sources of revenue of the enterprise. As a result, it was noted that partnerships between cooperatives and managers demonstrate that they have a direct influence on the achievement of autonomy and work in the enterprises, thus hindering the development and ownership by the working groups.

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Lista de Figuras

Figura 1 – Organograma Organizacional do Movimento Nacional dos Catadores...42

Figura 2 –Cooperativa ―Reciclador Solidário‖ do município de Piracicaba...59

Figura 3 –Barracão da cooperativa ―Reciclador Solidário‖ de Piracicaba...65

Figura 4 – Manchete publicada pelo Jornal de Piracicaba no dia 30/11/11...67

Figura 5 –Reportagem publicada pelo Jornal de Piracicaba no dia 30/11/11...68

Figura 6– Cooperativa de catadores ―Coopervida‖ de São Carlos………77

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Sumário

Introdução...16

Contextualização do problema...18

Objetivos Gerais...21

Objetivos Específicos...21

Metodologia...22

Etapas...22

Seleção dos empreendimentos e ferramentas...24

Acompanhamento do empreendimento...25

Entrevista semi-estruturada...25

Estratégias ...25

Estrutura de Apresentação do Trabalho...26

Parte I – Teoria e Contexto...28

1. As possibilidades da Tecnologia Social...28

1.1. O papel da Tecnologia Social...30

2. A Economia Solidária...33

3. Resíduos Sólidos Urbanos...39

3.1. Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis...40

4. Autonomia e Sustentabilidade...45

4.1. Sustentabilidade e a origem da discussão...45

4.1.1. O Clube de Roma...45

4.1.2. Relatório Brundtland (1987)...46

4.2. As diferentes esferas da sustentabilidade...47

4.3 Autonomia...49

4.4 Categorização do conceito...51

5. Categorias de Análise...52

5.1 Autonomia Social...52

5.2Autonomia Politica...53

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Parte II – Pesquisa de Campo...57

1. Resultados...57

1.1. Cooperativa de Catadores de Piracicaba...58

1.1.1 Aspectos Históricos...58

1.1.2 Categorias de análise e discussão dos dados...60

a) Aspectos da Autonomia Social...60

b) Aspectos da Autonomia Política...62

c) Aspectos da Autonomia Econômica...63

d) Observações de Campo...65

1.2. Cooperativa de Catadores de São Carlos...72

1.2.1 Aspectos Históricos...72

1.2.2 Categorias de análise e discussão dos dados...77

a) Aspectos da Autonomia Social...78

b) Aspectos da Autonomia Política...80

c) Aspectos da Autonomia Econômica...81

d) Observações de Campo...83

Parte III - Análise geral e discussão dos resultados...86

1. Autonomia Social...86

2. Autonomia Política...87

3. Autonomia Econômica...89

Parte IV - Conclusões e considerações finais...93

Referências...99

Apêndices...103

Apêndice A – Termo de consentimento livre e esclarecido...103

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16 Introdução

Desde o século XVII, a nossa sociedade ocidental adota um modelo capitalista de produção, que se caracteriza por ser extremamente excludente, que não oferece condições adequadas de vida a todos, e que tem gerado uma desigualdade social preocupante ao longo de sua história. Apenas uma parte da sociedade consegue ter acesso aos meios de produção, trabalho e educação. Faz-se necessária uma mudança de atitude, de pensamentos, de busca de novos paradigmas, pois se caminharmos com estes mesmos passos, e percorrermos os mesmos caminhos, não teremos reservado um futuro socialmente mais justo para a nossa sociedade:

As tendências empíricas indicam, com absoluta certeza, que não podemos esperar que o dinamismo do próprio capital venha nos integrar: sob o domínio da atual ordem de coisas não haverá pleno emprego, nem a proposta do liberalismo – que acena com a possibilidade de melhora na qualidade de vida – voltará, sequer, a ser colocada, ainda que com igualdade crescente. (CORAGGIO 2002, p.16)

A crise econômica atual não passa somente por mercados e relações comerciais, ela passa também por uma crise de valores, de consciência e de questionamentos quanto aos modelos de desenvolvimento adotados. Um modelo que é alvo constante de questionamentos no que diz respeito às suas relações de trabalho, produção, relações sociais e ambientais. Relações que têm como base um enorme desequilíbrio de forças, baseadas na desigualdade, onde apenas uma das partes tem seus interesses alcançados. Essa conjuntura de fatores contribuiu para a atual crise econômica, social e ambiental que vivenciamos nestas últimas décadas e principalmente agora no começo do século XXI. Como já previa Capra, um período de reflexões:

É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida — a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e política. É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e premência sem precedentes em toda a história da humanidade. Pela primeira vez, temos que nos defrontar com a real ameaça de extinção da raça humana e de toda a vida no planeta. (CAPRA 1983, p.11)

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17 continuarmos adotando e reproduzindo estes mesmos modelos de desenvolvimento, as perspectivas não serão as melhores:

(...)Essa forma contemporânea de acumulação de capital denominada mundialização dos mercados, ou mais cotidianamente, globalização está, de forma absoluta, divorciada da reprodução social da vida do povo. Esse hiato, ou divórcio, tem gerado problemas de desemprego, subocupação, de precarização do trabalho, de desregulamentação trabalhista, de crescimento das desigualdades etc., (...) (SABATÉ 2002, p.34)

Segundo Cavalcanti (1996), a questão ambiental também não fica esquecida neste contexto de crise. A necessidade de mudança de postura é forçada simultaneamente pelos mecanismos reguladores do mercado, problemas sociais e a escassez dos recursos naturais. A escassez destes recursos e a degradação do meio ambiente são um dos fatores que nos levam a uma séria reflexão sobre nossas posturas perante o mundo. Atingimos padrões elevados de consumo, se todos os padrões de consumo fossem igualados aos padrões norte-americanos, precisaríamos de três a quatro planetas para dar vazão a esta demanda.

Além dos problemas sociais e econômicos, os problemas ambientais se impõem como fatores limitantes do crescimento. Em decorrência do modelo de desenvolvimento vigente, estabelecem-se estilos de vida e níveis de produção e consumo, que demandam para sua manutenção, o uso excessivo de recursos naturais, insumos energéticos não-renováveis e intenso processo de urbanização. O atendimento a essas demandas e objetivos têm sido acompanhados por um crescente processo de degradação ambiental, que por sua vez resulta na crescente deterioração dos ecossistemas em todo o mundo e portanto, na redução da capacidade de suporte do Planeta, produto do desmatamento, expansão da erosão em terras cultiváveis, poluição de rios e mares, exaustão de fontes não renováveis de energia e de recursos. (CAVALCANTI 1996, p. 42)

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18 desgaste, com alterações no clima, intensificação de alguns fenômenos naturais, poluição e assim por diante. Onde poderíamos encontrar um caminho alternativo?

Contextualização do problema

Por meio do questionamento destes valores presentes na economia capitalista, trabalharemos comdiscussões que envolvam uma mudança de pensamento e postura de nossa sociedade, com o intuito de alcançar um verdadeiro equilíbrio entre homem e natureza, entre o trabalho e o capital. A mudança de postura e uma maior integração entre todos os setores de nossa sociedade podem ser capazes de proporcionar um maior equilíbrio social. A aplicação do conceito de tecnologias sociais e dos princípios relacionados à Economia Solidária vem sendo indicada por diversos autores (Dagnino 2009, Thomas 2009, Maciel e Fernandes 2011, entre outros) como uma possibilidade viável na busca por uma sociedade mais sustentável e justa.

A tecnologia para inclusão social surge como uma possível ferramenta no combate as desigualdades sociais presentes no modo capitalista de produção. Segundo Weiss (2009), uma ferramenta inovadora com capacidade de proporcionar geração de renda e melhoria na qualidade de vida para as atuais e futuras gerações. O desenvolvimento de tecnologias para a inclusão social envolve ainda, a participação da população atendida pelos seus benefícios, segundo Thomas (2009):

As TSs não só são inclusivas porque estão orientadas a viabilizar o acesso igualitário a bens e serviços do conjunto da população, mas porque explicitamente abrem a possibilidade de participação de usuários e beneficiários (e também de potenciais prejudicados) no processo de projeto e tomada de decisões para a sua implementação. (THOMAS 2009, pg. 75)

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19 O capital da empresa solidária é possuído pelos que nela trabalham e apenas por eles. Trabalho e capital estão fundidos porque todos os que trabalham são proprietários da empresa e não há proprietários que não trabalhem na empresa. E a propriedade da empresa é dividida por igual entre todos os trabalhadores, para que todos tenham o mesmo poder de decisão sobre ela. Empresas solidárias são, em geral, administradas por sócios eleitos para a função e que se pautam pelas diretrizes aprovadas em assembléias gerais ou, quando a empresa é grande demais, em conselhos de delegados eleitos por todos os trabalhadores. (SINGER, 2002: 83)

Inserido neste mesmo conceito de novas relações de trabalho, a formação de cooperativas de catadores em parceria com os demais setores da sociedade e parceiros (públicos e privados), também aparece como uma alternativa para atenuar os males da economia capitalista de mercado. Durante as duas últimas décadas, experiências relacionadas à formação destas cooperativas têm apresentado um aumento gradual em sua quantidade e em sua abrangência social:

A partir da década de 1990, surgiram as primeiras iniciativas de formação de cooperativas/associações de catadores e os primeiros programas de gestão integrada e compartilhada, nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Santos. Em suas propostas, contemplavam-se investimentos em novas tecnologias de disposição final, ações voltadas à mobilização social, à valorização do trabalho dos funcionários de limpeza pública e ao desenvolvimento de parcerias com os grupos de catadores. Desencadeou-se um processo de empoderamento de alguns grupos de catadores. (Relatório FUNASA 2010, pg.26)

Acompanhando este cenário, gestores públicos municipais das cidades brasileiras foram recentemente, incentivados a estabelecer este tipo de parcerias – junto aos empreendimentos de coleta – por meio da aprovação da Lei Nacional de Resíduos Sólidos. A Lei n° 12305/2010 regula a reciclagem e disciplina o manejo dos resíduos, prevendo a responsabilização compartilhada pelos resíduos.

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20 O acompanhamento e a capacitação dos envolvidos também são necessárias. Uma das maiores dificuldades na implantação e na manutenção das cooperativas é o não comprometimento ou a não compreensão e capacitação dos envolvidos no que se refere aos estatutos e aos princípios que regem este tipo de empreendimento:

Cerca de 80% das usinas de separação e reciclagem de resíduos sólidos, construídas por vários governos na última década, estão desativadas. Não foi por falta de investimento, na compra de equipamentos, nem de mercado para os produtos reciclados – que cresceu bastante e é cada vez mais lucrativo, pela escassez crescente dos recursos naturais. Tais usinas não funcionam por falta de investimento em capital humano e baixa consistência do capital social. Ou seja, as pessoas não foram formadas para desenvolver capacidades gerenciais, organizativas, de planejamento. Não foram preparadas para prever riscos, aproveitar oportunidades. Não foram estimuladas a persistir, a superar dificuldades, a insistentemente procurar ajuda. E não tinham por trás organizações sólidas, com fortes laços de solidariedade e relações de cooperação, que dão retaguarda coletiva às dificuldades individuais. (LASSANCE A. E. L; PEDREIRA J. S. 2004, p.75)

O trabalho de parceria entre prefeitura, universidades e parceria privada vem no sentido de promover condições para a capacitação, aplicação e arrecadação de recursos para a implantação e no apoio para que estas cooperativas se mantenham de forma sólida para o desenvolvimento desta nova filosofia de trabalho. Segundo os autores, a ampliação deste projeto de parcerias entre gestores públicos, cooperativas e demais parcerias, aponta para a geração de resultados cada vez mais positivos. Estas cooperativas são potenciais geradores de renda, trabalho e inclusão social, por meio de relações de trabalho mais justas.

As discussões que envolvem o tema das tecnologias para a inclusão social podem ser consideradas recentes tanto no Brasil quanto no contexto latino-americano. A contribuição para a construção deste conceito e sua relação com o desenvolvimento dos demais aspectos que o envolvem, ajudará no desenvolvimento e compreensão dentro da esfera acadêmica em especial nos processos de intervenção e produção de conhecimento e no trabalho desenvolvido cotidianamente pelas populações atendidas por este tipo de iniciativa de cunho social.

(18)

21 experiências, poderão ter seus resultados apresentados de forma mais clara e objetiva quanto aos aspectos favorecedores de autonomia. Consideramos que para o êxito de iniciativas que envolvam a utilização de tecnologias sociais, o processo de construção conjunta e o ganho de autonomia social, politica e econômica da população envolvida se colocam como ponto fundamental para o sucesso desta experiência.

Entendemos que, em um cenário recente de leis nacionais e municipais referentes à gestão compartilhada dos resíduos, discussões sobre inclusão social e questões relativas ao meio ambiente, este tipo de pesquisa, como a que está sendo realizada, pode contribuir para o avanço da discussão. Uma discussão que envolve diferentes setores da sociedade e principalmente diferentes áreas do conhecimento. Portanto, nada mais adequado do que fazer parte de um programa de pós-graduação que envolva o diálogo entre diferentes setores, como neste caso, a articulação entre Ciência, a Tecnologia e a Sociedade.

Neste sentido, destaco aqui, as prefeituras de São Carlos e Piracicaba, ambas localizadas no interior do estado de São Paulo. A partir do estudo destas duas experiências, temos como objetivo nesta pesquisa, identificar como a participação do gestor público pode contribuir para a inclusão social e conquista de autonomia por parte de seus parceiros, no caso, as Cooperativas de Catadores. Para isto torna-se necessário elaborar uma análise das cooperativas de catadores existentes nas duas cidades, a partir do seu histórico, do seu envolvimento com tais atividades, passando pelos processos de incubação (em parcerias com universidades locais) e parcerias públicas que foram e são desenvolvidas até os dias atuais.

Objetivos Gerais:

 Identificar quais são os aspectos promotores e não favorecedores de autonomia nas relações/parcerias estabelecidas entre gestores públicos e empreendimentos de cooperativas de catadores.

Objetivos Específicos:

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22  Caracterizar os programas de Gerenciamento de Resíduos Sólidos domiciliares urbanos e sua relação com as Cooperativas realizados nas cidades de São Carlos e Piracicaba.

 Analisar se as ações das prefeituras em relação aos cooperados têm sido realizadas de forma colaborativa, contribuindo para a conquista e a manutenção da autogestão e a consequente conquista da autonomia.

Métodologia

A pesquisa se propõe a realizar um estudo de caso por meio de trabalhos de campo, que inclui observação participante, entrevistas e questionários. Trata-se, portanto, de um trabalho onde a observação do objeto estudado é de fundamental importância para o pesquisador. Por meio da presença no local da pesquisa, temos por objetivo elaborar análises e chegarmos a conclusões em relação aos aspectos promotores de autonomia nas relações/parcerias estabelecidas entre gestores públicos e empreendimentos de cooperativas de catadores.

Etapas:

Para desenvolvimento do trabalho foram previstas inicialmente 4 etapas de pesquisa. Entendemos que ao adotarmos tais procedimentos para a realização da pesquisa, poderemos obter resultados mais próximos possíveis da realidade.

Etapa I - A primeira etapa, de fundamental importância para a realização da pesquisa, passa pela revisão bibliográfica, que na realidade acompanhou todo o percurso da pesquisa. Somente após uma ampla leitura e análise sobre autores e temas relevantes ao objeto de estudo foi iniciado o contato com as cooperativas e as prefeituras.

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23 registros referentes ao perfil das articulações e diálogos que foram realizados, além de problematizações e discussões que foram levadas ao conhecimento de todos para o debate pelo grupo. No acompanhamento da rotina de trabalho administrativo da Cooperativa, tivemos a oportunidade de identificar a interferência ou não dos Gestores Públicos no processo de tomadas de decisões.

Etapa III - A coleta de dados, documentos e planilhas produzidas pelas cooperativas foi feita em uma etapa seguinte do processo de acompanhamento, pois por meio desta pudemos ter um perfil das atividades realizadas pelo grupo e a sua capacidade de administração do empreendimento.

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24 Seleção dos empreendimentos e ferramentas

Para a seleção dos empreendimentos a serem estudados, foi considerado a semelhança dos históricos do surgimento de cada empreendimento e do apoio recebido ao longo da formação dos mesmos, com a participação de Incubadoras universitárias, prefeituras e demais associações. Os empreendimentos selecionados (São Carlos e Piracicaba) surgiram de iniciativas das prefeituras locais de retirar os catadores individuais do trabalho da catação em seus respectivos aterros sanitários. As iniciativas tinham por objetivo melhorar as condições de trabalho daqueles catadores por meio da criação de cooperativas de coleta e triagem dos materiais recicláveis.

Portanto, para a realização desta etapa de pesquisa, foi realizado junto aos empreendimentos participantes, um acompanhamento de suas atividades por meio da observação participativa e a aplicação de uma entrevista semiestruturada com os membros de cada diretoria, conforme a terceira etapa prevista na metodologia.

A partir da escolha dos dois empreendimentos elaboramos uma estratégia de organização da pesquisa de campo. Primeiramente buscamos os contatos com os empreendimentos, depois definimos a ordem de visita (baseado nos contatos pré-estabelecidos do pesquisador com os empreendimentos), identificamos os materiais necessários (questionários, termo de consentimento livre e esclarecido, máquina fotográfica, gravador, etc) e agendamos as visitas de campo.

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25 Acompanhamento do empreendimento

Esta etapa da pesquisa consiste na ida a campo do pesquisador para a realização de sua observação participante. Para a operacionalização desta etapa, foi utilizada uma planilha de acompanhamento pré-elaborada com as devidas categorias de análise a serem observadas e também a entrevista semi-estruturada. Para a ida a campo, foi realizado um contato prévio com os membros de cada diretoria.

Foi definido previamente que o pesquisador acompanharia as rotinas administrativas (escritório) e as atividades de separação, triagem, prensagem e demais atividades exercidas dentro do barracão. O acompanhamento dos empreendimentos também contou com a utilização de uma entrevista semiestruturada que seria aplicada junto aos membros que compõem a diretoria da Cooperativa.

Entrevista semi-estruturada

Para cada aspecto analisado dentro de cada categoria de análise, foi realizada uma série de perguntas a cada membro representante das diretorias de cada empreendimento. O objetivo desta entrevista, classificada de semi-estruturada, foi de identificar na percepção de cada cooperado, as diferentes categorias de análises levantadas e observadas em campo com o objetivo de confrontá-las com os aspectos observados durante a fase de acompanhamento dos empreendimentos.

Estratégias

Uma das estratégia para a realização desta pesquisa de mestrado foi a participação como voluntário na Incubadora Regional de Cooperativas Populares/UFSCar. Desenvolve-se junto ao grupo, atividades de pesquisa relacionadas ao manejo e a geração de resíduos domiciliares urbanos no município de São Carlos e em especial junto a Cooperativa de Catadores (Coopervida).

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26 colaborar para a prática realizada no cotidiano e nortear futuras e atuais ações desenvolvidas pela equipe. Nestas reuniões são abordados conceitos presentes no trabalho realizado pela incubadora e também discussões teórico-metodológicas fundamentais para as ações do coletivo.

Durante este tempo de permanência junto ao grupo, foi possível investigar de perto a realidade do empreendimento de catadores, ter acesso aos relatos e materiais utilizados pelo grupo junto aos empreendimentos e coletar informações relevantes junto ao Departamento de Apoio a Economia Solidária (DAES) – órgão ligado à prefeitura municipal de São Carlos - devido à boa relação estabelecida com o coletivo da Incubadora.

Concomitantemente com a participação na incubadora, estabeleceram-se contatos com ex-integrantes, professores e pesquisadores da extinta incubadora da Universidade Metodista de Piracicaba. A partir do desenvolvimento das conversas e trocas de e-mails, foi obtida uma grande quantidade de registros do trabalho realizado pela incubadora enquanto ainda atuava junto ao grupo de catadores do município de Piracicaba.

A participação junto ao grupo da INCOOP/UFSCar e o contato estabelecido com integrantes de outras Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCP`s) colaboraram de forma bem ampla para o desenvolvimento da pesquisa - a partir do momento que é possível participar junto às experiências e as práticas para as quais temos por objetivo trabalhar em uma das etapas desta pesquisa – e para a instituição, que consegue assim, avançar ainda mais na realização das atividades junto aos empreendimentos assessorados.

Estrutura de apresentação do trabalho

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28 PARTE I – TEORIA E CONTEXTO

1. As possibilidades da Tecnologia Social

Um dos mecanismos para se amenizar os efeitos do modelo econômico capitalista vigente, poderia estar na disseminação do conceito de tecnologia social e sua aplicação para a inclusão de uma parcela excluída da população.

Nesta perspectiva, as tecnologias sociais têm emergido no cenário brasileiro como um movimento de ―baixo para cima‖, que se caracteriza pela capacidade criativa e organizativa de segmentos da população em gerar alternativas para suprir as suas necessidades e/ou demandas sociais. Não se constituem, ainda, em políticas públicas, mas vêm obtendo um reconhecimento crescente no que se refere à sua capacidade de promover um novo modelo de produção da ciência e da aplicação da tecnologia em prol do desenvolvimento social. (MACIEL; FERNADES 2011, p. 148)

A tecnologia social é um conceito que designa todo o tipo de tecnologia alternativa à convencional (DAGNINO, 2009). O conceito de tecnologia social tem sua origem apontada em duas vertentes, sendo a primeira uma adaptação do conceito de Tecnologia Apropriada surgida na Índia, através da figura de Gandhi e a segunda como uma oposição ao conceito de Tecnologia Convencional.

No que se refere à primeira preposição, a TS teria se originado do caminho percorrido pelo conceito de TA, que havia sido concebido na Índia, através da utilização das ―rocas de fiar‖:

A Índia do final do século XIX é reconhecida como o berço do que veio a se chamar no Ocidente Tecnologia Apropriada (TA). Os pensamentos dos reformadores daquela sociedade estavam voltados para a reabilitação e o desenvolvimento das tecnologias tradicionais, praticadas nas suas aldeias, como estratégia de luta contra o domínio britânico. Entre 1924 e 1927, Gandhi dedicou-se a construir programas, tendo em vista a popularização da fiação manual realizada em uma roca de fiar reconhecida como o primeiro equipamento tecnologicamente apropriado, a Charkha, como forma de lutar contra a injustiça social e o sistema de castas que se perpetuava na Índia. (DIAS; NOVAES 2009, p.20)

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29 (...) defini-la por oposição ou por negação à Tecnologia Convencional – criada pela grande corporação e para a grande corporação capitalista - e aos valores que ela traz embutidos. Nesse sentido, o conceito de TS surge como uma crítica à Tecnologia Convencional (TC) e de uma percepção, ainda não precisamente formulada, da necessidade de um enfoque tecnológico para a questão do que vem sendo denominada ―inclusão social (DIAS; NOVAES 2009, p.17)

Um dos objetivos desta pesquisa é demonstrar a capacidade de contribuição que as tecnologias para inclusão social podem proporcionar para nossa sociedade, principalmente em relação à temática dos resíduos e cooperativas/associações de catadores, que muitas vezes acabam sendo prejudicados pela prática cruel do jogo de preços do mercado. Um mercado e um modelo econômico extremamente excludente, que não oferecem condições iguais a todos, gerando uma desigualdade social galopante ao longo de sua história. Apenas uma parte da sociedade ganha com este jogo, fato que não o torna interessante, pois vivemos em uma democracia onde todos nós, em tese, temos os mesmos direitos.

Alguns fundamentos são pertinentes à concepção de TS: a transformação social, a participação direta da população, o sentido de inclusão social, a melhoria das condições de vida, a sustentabilidade socioambiental e econômica, a inovação, a capacidade de atender necessidades sociais específicas, a organização e a sistematização da tecnologia, o diálogo entre diferentes saberes — acadêmicos e populares —, a acessibilidade e a apropriação das tecnologias, a difusão e a ação educativa, a construção da cidadania e de processos democráticos, entre outros, que são sustentados por valores de justiça social, democracia e direitos humanos. (MACIEL; FERNADES 2011, p. 150)

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30 1.1O papel da Tecnologia Social

A utilização e aplicação das TS`s vão depender primeiramente da conscientização da população perante os problemas ocasionados pela desigualdade social. A iniciativa da mudança tem que ser praticada de forma conjunta entre os diferentes setores de nossa sociedade. O diálogo entre pesquisadores, estado e as camadas mais atingidas pelas injustiças, é de fundamental importância. A investigação das reais necessidades das populações – que sofrem com este processo de exclusão social crescente - precisa ser realizada por meio de uma aproximação entre os setores de pesquisa, governo e a sociedade. A população que sofre do processo de exclusão social precisa ser ouvida, para então em um processo conjunto, terem suas necessidades identificadas e atendidas.

Assim sendo, as TS`s não só são inclusivas porque estão orientadas a viabilizar o acesso igualitário a bens e serviços do conjunto da população, mas porque explicitamente abrem a possibilidade da participação de usuários e beneficiários (e também de potenciais prejudicados) no processo de projeto e tomada de decisões para a sua implementação. E não acontece como se esta participação fosse um aspecto complementar, ao fim do processo produtivo, mas porque requerem, estruturalmente, a participação desses diversos atores sociais nos processos de projeto e implementação. (THOMAS 2009, p. 75)

Entre uma das definições acerca das Tecnologias Sociais, podemos destacar a do Instituto de Tecnologia Social (ITS). Fundado no ano de 2001, o ITS Brasil é uma associação de direito privado, qualificada como OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). O ITS possuiu parcerias em pesquisas com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por intermédio da Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social (Secis), além de outros órgãos não governamentais. A associação tem com definição para o conceito de TS:

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31 A organização ainda lista alguns princípios básicos e fundamentais para a existência e construção do conceito de Tecnologias Sociais:

1. Compromisso com a transformação social

2. Criação de um espaço de descoberta e escuta de demandas e necessidades sociais

3. Relevância e eficácia social

4. Sustentabilidade socioambiental e econômica

5. Inovação

6. Organização e sistematização dos conhecimentos

7. Acessibilidade e apropriação das tecnologias

8. Um processo pedagógico para todos os envolvidos

9. O diálogo entre diferentes saberes

10. Difusão e ação educativa

11. Processos participativos de planejamento, acompanhamento e avaliação

12. A construção cidadã do processo democrático

Compreendendo assim, para o instituto, uma junção de produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas a partir de uma coletividade e que representem efetivas soluções de transformação social. É um conceito que remete para uma proposta inovadora de desenvolvimento, considerando a participação coletiva no processo de organização, desenvolvimento e implementação. Estando baseado na disseminação de soluções para problemas voltados a demandas e carências como: resolução de problemas de alimentação, educação, energia, habitação, renda, recursos hídricos, saúde, meio ambiente, entre outras.

Observa-se desta forma, que a produção de tecnologias para a inclusão social vai depender de uma articulação entre as diferentes esferas da sociedade. Necessita ainda de investimento na produção do conhecimento de novas ciências e tecnologias, mais ao mesmo tempo o acompanhamento das necessidades das camadas excluídas da sociedade, envolvendo-as no processo de criação, que deverá ser feito com elas e para elas. Uma produção onde o principio da igualdade durante o processo de criação é primordial. Não havendo discriminação e diferenciação entre os envolvidos. Criação de tecnologias que contribuam para a melhoria na condição de vida da população, que proporcionem uma inclusão da mesma em um contexto de igualdade perante todos.

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32 economicamente os empreendimentos. Um movimento de busca por alternativas que vem ganhando força no Brasil e no mundo:

O movimento da tecnologia social (TS) no Brasil, a exemplo de outros processos correlatos que vêm ocorrendo em outras partes do mundo (e ainda que não identificados sob o ―rótulo TS‖), vem ganhando considerável vulto, reunindo uma série de esforços provenientes do âmbito acadêmico, das políticas públicas, dos movimentos sociais e das organizações não-governamentais (ONGs). (DIAS; NOVAES, 2009, p.55)

A relação sustentável e harmoniosa entre a tecnologia social e o meio ambiente, também faz parte desta nova maneira de pensar e agir. Além de promover a inclusão social a custo reduzido, ela envolve os maiores interessados na construção destes mecanismos de integração e criação das tecnologias. A TS ainda procura formas de não atingir ou prejudicar o meio ambiente, entrando neste aspecto, a participação fundamental dos catadores de materiais recicláveis1.

O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, ao ser um dos protagonistas neste processo de construção de tecnologias para a inclusão sociail, pode colaborar de maneira bem consistente na preservação do meio ambiente a partir do momento em que dá um novo destino para os resíduos que seriam descartados, degradando o meio ambiente. A participação dos catadores deve ainda ser destacada pelo aspecto da inclusão social e a conquista da autonomia pelo grupo, vencendo a barreira da exclusão e da dependência econômica, política e social ocasionada pelas relações praticadas no modelo capitalista de produção.

É diante desse cenário que a defesa das TS como política pública se apresenta como uma estratégia promissora para superar os limites do atual modelo e padrão de ciência e tecnologia vigente no país, bem como a resposta mais sintonizada com as demandas da sociedade por um modelo de desenvolvimento social que tenha centralidade no processo de inclusão social e como atores principais a própria sociedade. Atualmente, as TS apresentam significativo avanço no país, seja pelas organizações que se instituíram na última década, visando a disseminação dos conceitos e práticas, seja pela capacidade de criação das mesmas, por meio das iniciativas populares e da sua reaplicação em todo o território nacional. (MACIEL; FERNADES 2011, p. 154)

1

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33 2. A Economia Solidária

Os primeiros focos de pensamento da economia solidária surgem no inicio do século XIX, na Europa. Influenciadas pelas ideias de valorização do ser humano e por meio das cooperativas e associações de produção, observou-se o aparecimento de diversas experiências solidárias, que tinham por objetivo minimizar os efeitos trazidos pelo sistema capitalista.

Segundo Singer (2002), destaca-se a figura do britânico Robert Owen, que já na primeira década do século XIX, teria limitado a jornada de trabalho e proibido o emprego de crianças em seu complexo têxtil. Com a ascensão do cooperativismo, o ―owenismo‖ teria sido adotado pelo movimento sindical e cooperativo da classe trabalhadora. O autor ainda aponta as iniciativas como a de George Mudie, que teria fundado a primeira cooperativa ―owenista‖. Neste novo projeto, Mudie teria proposto a reunião de um grupo de jornalistas e gráficos em Londres, para juntos viverem dos ganhos de suas atividades profissionais. Anos mais tarde, o resultado foi a publicação do primeiro jornal cooperativo.

Em 1829, John Doherty, um dos líderes do movimento de ascensão do cooperativismo, após conseguir organizar os fiandeiros de algodão em um sindicato nacional, passa a lutar pela organização sindical de todas as categorias de trabalhadores, o que conferiu a esta luta uma maior radicalidade. Segundo o autor:

Os trabalhadores em conflito com seus empregadores, em vez de se limitar a reivindicações de melhora salarial e de condições de trabalho, passavam a tentar substituí-los no mercado. A greve tornava-se uma arma não para melhorar a situação do assalariado, mas para eliminar o assalariamento e substituí-lo por autogestão. (SINGER 2002, p. 29)

De acordo com Singer (2002), Owen rejeitava o comércio visado ao lucro, o que levou as sociedades owenistas a criarem os bazares ou bolsas, que acabaram conferindo viabilidade econômica à produção. Quando voltou a Inglaterra, Owen criou a National Equitable Labour Exchange (Bolsa Nacional de Trabalho Eqüitativo), dando impulso a esse comércio sem intermediários. Nessas bolsas, as trocas eram intermediadas por uma moeda própria: as notas de trabalho, cuja unidade eram horas de trabalho.

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34 uma harmonia universal. Dessa forma, segundo Singer (2002), Fourier propôs a ideia do ―falanstério‖, uma ampla comunidade, na qual cada pessoa poderia encontrar o trabalho que estivesse de acordo com sua ―paixão‖, ao qual se dedicaria sem se importar com a remuneração. A partir de 1825, discípulos de Fourier, estabeleceram a ―escola associativa‖, que obteve ainda mais impulso em 1837, com a morte de Fourier.

No Brasil, é com a chegada dos imigrantes europeus, sobretudo no final do século XIX, e com as notícias da Revolução Francesa, que a ideia da economia solidária é mais fortemente difundida com a formação de sindicatos e cooperativas. De acordo com Arroyo e Schauch (2006), a economia solidária no Brasil como alternativa para classe trabalhadora, que encontra a partir da década de 1980, o declínio do número dos postos de trabalho na iniciativa privada e no setor público. Logo, surgem iniciativas como:

(...) a Anteag (Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária), que a partir de experiências de recuperação de indústrias falidas que foram assumidas pelos trabalhadores, promove projetos alternativos coletivos e/ou comunitários, que são capitalizados por fundos rotativos e ganham competitividade por via da solidariedade. As tradicionais Cáritas (entidade católica) e a Fase (Federação de Órgãos para a assistência Social e Educacional) incluíram em seus trabalhos nas comunidades o desafio da construção da economia solidária, por meio de programas específicos. (ARROYO; SCHAUCH 2006, p. 35)

A economia solidária, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, passa a ter maior expressão com a criação da SENAES (Secretaria Nacional de Economia Solidária) com o professor e economista Paul Singer. A SENAES se origina de uma ampla mobilização dos movimentos sociais que atuavam nas diversas frentes da economia solidária, com a finalidade de fortalecer essas iniciativas, implementando ações diretas ou por meio da contratação de agências de fomento. Segundo Gutierrez e Zanin (2010), já constavam no Atlas da Economia Solidária no Brasil (2007), cerca de 21.859 empreendimentos econômicos solidários espalhados por todo o território nacional.

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35 O Sistema de Informações em Economia Solidária (SIES) é uma iniciativa pioneira no país e no mundo para identificação e caracterização de Empreendimentos Econômicos Solidários, Entidades de Apoio e Políticas Públicas de Economia Solidária. Essa iniciativa teve início em 2003, quando a SENAES e o Fórum Brasileiro de Economia Solidária, recém criados, assumiram conjuntamente a tarefa de realizar um mapeamento da Economia Solidária no Brasil com os objetivos de proporcionar a visibilidade e a articulação da Economia Solidária e de oferecer subsídios nos processos de formulação de políticas públicas. (SIES 2009, pag. 02)

O programa tem como seus objetivos principais:

 Constituir uma base nacional de informações em economia solidária com identificação e caracterização de Empreendimentos Econômicos Solidários e de Entidades de Apoio, Assessoria e Fomento à Economia Solidária;

 Fortalecer e integrar Empreendimentos Econômicos Solidários em redes e arranjos produtivos e organizativos nacionais, estaduais e territoriais, através de catálogos de produtos e serviços a fim de facilitar processos de comercialização;

 Favorecer a visibilidade da economia solidária, fortalecendo processos organizativos, de apoio e adesão da sociedade;

 Subsidiar processos públicos de reconhecimento da economia solidária;

 Subsidiar a formulação de políticas públicas;

 Subsidiar a elaboração de marco jurídico adequado à economia solidária;

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36 Segundo Arroyo e Schauch (2006), a economia solidária segue o caminho do processo de desenvolvimento sustentável e da geração de qualidade de vida, se fundamentando em diversos princípios, como:

 Valorização social do trabalho humano, ou seja, valorização do homem como ser humano na atividade econômica, não sendo mais visto como mero portador de uma única mercadoria, sua força de trabalho;

 Reconhecimento do papel da mulher e do feminino;

 Desenvolvimento integrado e sustentável da sociedade cujo objetivo é o intercâmbio respeitoso do homem com a natureza;

 Busca dos valores do associativismo, do cooperativismo, do mutualismo e da solidariedade como forma de criar uma sociedade humanizadora e eficaz para todos;

 O valor central da economia solidária é o trabalho, o saber (coleta de informação para a geração de conhecimento) e a criatividade humana, que é fruto do trabalho e do processo de geração de conhecimento;

 O ser humano é sujeito e finalidade da atividade econômica, e não gerador de riquezas capitais particulares;

 Buscar a unidade entre produção e reprodução evitando a contradição fundamental do sistema capitalista, que desenvolve a produtividade, mas exclui crescentes setores de trabalhadores do acesso a seus benefícios, gerando hoje crises recessivas de alcance global;

 Buscar a solidariedade dos povos dos hemisférios Norte e Sul, objetivando o aumento da qualidade de vida para todos, propondo a atividade econômica e social enraizada no seu contexto mais imediato e tendo a territorialidade e o desenvolvimento local como marcos de referência;

 Geração de trabalho e renda, visando combater a exclusão social e a eliminação das desigualdades materiais.

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37 principal diferença estaria na forma de administração. Para tanto, o autor destaca algumas diferenças entre estes modos de produção:

 Na empresa capitalista o modo de produção é a heterogestão, os sócios recebem salário, sendo que os últimos são escalonados visando maximizar os lucros (excedente anual), que tem destino decidido por um pequeno grupo de grandes acionistas, pelos quais todo o lucro é apropriado.

A reprodução do capital está baseada no crescimento econômico e centrada nas atividades produtivas que consideram como fatores de produção: trabalho, recursos naturais como matéria-prima, capital e tecnologia.

 Na empresa solidária, o modo de produção é a autogestão, os sócios recebem retiradas, a qual varia conforme renda obtida e, devem ser igualmente distribuída. A sobra (excedente anual) tem fins decidido em assembléia de sócios, que as destinam à educação e investimentos divisíveis e indivisíveis. A reprodução social considera além da produção material os serviços sociais necessários à manutenção de uma vida digna, a gestão democrática do desenvolvimento (como planejamento, segurança, etc.) e a reprodução deste círculo que tem a vida como centro.

A autogestão e seus princípios exigem um esforço ―extra‖ dos trabalhadores, pois além de executarem as tarefas a seu cargo, têm de se preocupar com os problemas gerais da empresa, preocupação que pode não ocorrer, sendo este ―desinteresse‖, apontado por Singer (2002), como maior inimigo da autogestão. Portanto, para que a prática autogestionária não corra o perigo de ser afetada pela ―lei do menor esforço‖, é preciso capacitar os trabalhadores cooperados para o exercício profissional e da gestão coletiva dos empreendimentos.

Nagem et al (2007), apontam que as Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares – ITCP’s são instrumentos de grande valor para o processo de capacitação desses trabalhadores, dada sua natureza interdisciplinar, comprometimento com os princípios da economia solidária e por estarem diretamente ligadas a Universidades, ONG’s e algumas prefeituras.

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38 Participar das discussões e decisões do coletivo, ao qual se está associado, educa e conscientiza, tornando a pessoa mais realizada, autoconfiante e solidária. É para isso que vale a pena se empenhar na economia solidária. (2002. p. 21)

Dificuldades e vantagens estão presentes nos dois modos de produção: autogestão e heterogestão. As atividades econômicas e sociais na economia solidária estimulam a formação de alianças estratégicas entre organizações populares, exercendo sua soberania por meio da democracia e da gestão participativa. Segundo Arroyo e Schauch (2006):

Articulando o consumo solidário com a produção, a comercialização e as finanças, de modo orgânico e dinâmico e do nível local até o global, a economia solidária amplia as oportunidades de trabalho e intercâmbio para cada agente sem afastar a atividade econômica do seu fim primeiro, que é responder às necessidades produtivas e reprodutivas da sociedade e dos próprios agentes econômicos. (2006, p.82)

A economia solidária só alcançará seu objetivo se utilizada pelo trabalhador como uma ferramenta política, não bastando apenas instrumentalizá-los e assessorá-los na formação de cooperativas. A economia solidária só atingirá seus reais objetivos quando for empreendimento do trabalhador, de todos os cidadãos trabalhadores e satisfazer um conjunto de condições que refletem o dinamismo das organizações sociais existentes, o grau de comprometimento do poder público, a capacidade de captação de recursos e a força dos mercados locais:

Não se trata de revalorização do direito ao trabalho a partir das contribuições da autogestão somente para os chamados excluídos. Importa que a nova qualidade do direito do trabalho possa ser assumida como bandeira dos trabalhadores assalariados, como forma de pressionar as relações capitalistas cerceadoras do desenvolvimento humano. (ANTEAG, 2004, p. 39)

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3. Resíduos Sólidos Urbanos

Com o desenvolvimento da economia brasileira e o aumento do padrão e do poder de consumo da população - de uma forma geral - agravaram-se ainda mais os problemas em torno da produção e manejo dos resíduos domiciliares urbanos nas cidades brasileiras. A produção de resíduos sólidos e seu destino final é a grande discussão que se faz presente ao pensarmos na manutenção do equilíbrio do meio ambiente e na qualidade de vida no Brasil.

A produção nacional de resíduos sólidos urbanos no ano de 2010, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), atingiu a marca de 60.868 milhões de quilos, registrando um crescimento de quase 7% em relação ao ano de 2009.

Segundo a instituição, entre o ranking dos estados, o estado de São Paulo aparece na liderança isolada da produção de resíduos por ano, com um número total de 20.345 milhões de toneladas. Somente a cidade de São Paulo produz diariamente 55 mil toneladas por dia. Atrás de São Paulo, aparecem os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, com a produção de 7.469 e 6.218 milhões de toneladas ano, respectivamente. Assim a região sudeste lidera no quesito geração de resíduos, pois a região sozinha é responsável por 48% da produção nacional, com 32 milhões de toneladas ao ano.

Lixões2, aterros sanitários3 e aterros controlados4 são os destinos – finais ou

intermediários - da maioria dos resíduos sólidos produzidos anualmente pelas cidades brasileiras. De todo o resíduo que é coletado em território nacional, 57,6% vai para aterros sanitários, 24,3% para aterros controlados e 18,5% para os lixões (Pesquisa ABRELPE 2010).

Envolvidos nesta temática dos resíduos, os catadores de material reciclável aparecem como importantes atores neste processo. Presentes no cenário dos resíduos há mais de 50 anos, segundo Fé e Faria (2011), esta categoria vem se ampliando na

2

Os lixões são as formas inadequadas de depósitos de resíduos. O resíduo é acumulado em uma área que não recebe preparação alguma para o despejo do material. São os locais onde o resíduo é despejado no solo, a céu aberto, sem nenhum tipo de cobertura e sem tratamento (GUIMARÃES, 2000)

3

Os aterros sanitários são considerados o modelo adequado de armazenagem de resíduos sólidos. As áreas onde se localizam recebem toda a preparação através da impermeabilização do solo e da construção de redes coletoras e de tratamento para o chorume, o resíduo não é deixado de forma exposta.

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40 tentativa de se fortalecer e avançar na cadeia produtiva da reciclagem. A atividade vem ao longo das ultimas décadas apresentando uma maior organização enquanto coletivo, por meio de representações como o Movimento Nacional dos Catadores5, associações e cooperativas:

Na experiência dos catadores, o rompimento com a forma individualizada de trabalho nas ruas foi o primeiro passo para a sua organização enquanto coletivo de produtores associados. Suas formas de organização no campo da produção e enquanto movimento social de novo tipo, carregam como perspectivas a articulação em redes como forma de fortalecer e articular do local de trabalho ao plano nacional e internacional, para alcançar melhores condições de trabalho e de vida para as suas comunidades. (FÉ; FARIA 2011, pg. 23)

3.1 Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis

O Movimento Nacional dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis (MNCR) surgi no ano de 1999 com o 1º Encontro Nacional de Catadores de Papel. Pouco tempo após o início da luta do movimento, os trabalhadores catadores obtiveram uma grande conquista, fundando em junho de 2001 no 1º Congresso Nacional dos Catadores(as) de Materiais Recicláveis em Brasília. Segundo o MNCR, o evento reuniu mais de 1.700 catadores e catadoras. Neste mesmo congresso ainda foi foi lançada a ―Carta de Brasília‖, documento que expressa as necessidades do povo que sobrevive da coleta de materiais recicláveis.

O objetivo do movimento é garantir o protagonismo popular dos catadores e catadoras, que são oprimidos pelas estruturas do sistema social. O movimento tem como seus objetivos6:

 Trabalhar pela auto-gestão e organização dos catadores através da constituição de Bases Orgânicas, em que a participação de todos os(as) catadores(as) que querem ajudar a construir a luta de seus direitos, seja um direito internamente garantido, mas também um dever do catador com a ―Base Orgânica‖, com um

5

O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) é um movimento social que existe a cerca 10 anos e tem como um de seus objetivos, organizar os catadores e buscar a sua valorização enquanto categoria. Mais informações podem ser obtidas no site: www.mncr.org.br

6

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41 critério de democracia direta em que todos tem voz e voto nas decisões, conforme critérios constituídos nas bases de acordo;

 O MNCR tem na ação direta popular, bem como em outras formas organização um princípio e método de trabalho, que rompe com a apatia, a indiferença e a acomodação de muitos companheiros(as), que parta desde a construção inicial dos galpões e sua manutenção, não esperando que caia tudo pronto do céu, e até as mobilizações nas grandes lutas contra a privatização do saneamento básico e do lixo, contribuindo para a preservação da natureza, mas também lutando pelo devido reconhecimento e valorização da profissão dos catadores;

 O MNCR busca garantir a independência de classe em relação aos partidos políticos, governos e empresários, mas também lutando pela gestão integrada dos resíduos sólidos com participação ativa dos catadores organizados, desde a execução da coleta seletiva com catadores de rua, até a triagem e o beneficiamento final dos materiais, buscando tecnologias viáveis que garanta o controle da cadeia produtiva, firmando com os poderes públicos contratos que nos garantam o repasse financeiro pelo serviço prestado a sociedade, e cobrando das empresas privadas, produtora industrial dos resíduos o devido pagamento pela nossa contribuição na reciclagem;

 No MNCR, ao contrário do individualismo e da competição, buscamos o apoio mútuo entre os companheiros(as) catadores(as) , e praticando no dia a dia das lutas a ―Solidariedade de Classe‖ com os outros movimentos sociais, sindicatos e entidades brasileiras e de outros países. E desta forma ir conquistando ―o direito à cidade‖, local para trabalho e moradia digna para todos, educação, saúde, alimentação, transporte e lazer, o fim dos lixões e sua transformação em aterros sanitários, mas com a transferência dos catadores para galpões com estruturas dignas, com coleta seletiva que garanta a sustentação de ―todas as famílias‖, com creches e escolas para as crianças.

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42 equipes foram compostas por 5 catadores de cada região: Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nodeste.

Figura 1 – Organograma Organizacional do Movimento Nacional dos Catadores. Fonte: http://www.mncr.org.br/

Em relação a sua organização, nas cinco regiões que possui uma coordenação, o MNCR possui uma coordenação regional. Cada Comitê Regional, ainda vai ter como esferas menores de representação e de alcance, outras bases espalhadas por cada região (Bases Orgânicas). De acordo com o MNCR, as bases orgânicas desenvolvem nos espaços de trabalho e nas comunidades onde estão localizados diversos projetos de caráter popular que procuram resgatar a cultura e o protagonismo dos catadores e de suas famílias, com o desenvolvimento de projetos educativos, de cultura popular, atividades recreativas, de inclusão digital, oficinas artesanais, entre outros.

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43 Entre estas leis, a de maior abrangência esta representada pela lei n° 12305/2010 que regulamenta a Politica Nacional de Resíduos Sólidos. São características que se destacam na lei: a contundente orientação para que se priorize a minimização de resíduos, a reutilização e reciclagem na gestão de resíduos sólidos; o incentivo à elaboração dos planos de resíduos municipais e estaduais; incentivo aos municípios para que priorizem a participação de cooperativas de catadores e outras formas de associação nos serviços de gestão de resíduos; previsão de incentivos econômicos e financiamento para cooperativas de catadores; a instituição da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, envolvendo fabricantes, comerciantes, comerciantes e titulares de serviços públicos de limpeza; a obrigatoriedade de implantação de sistemas de logística reversa entre fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de pilhas e baterias e equipamentos eletroeletrônicos.

O apoio obtido pelo MNCR vai além da nova Politica Nacional de Resíduos Sólidos, de acordo com Gutierrez (2010), o estado de São Paulo e a federação brasileira, contam com leis e decretos que vão ao encontro à política nacional:

Estado de São Paulo

 2007- LEI Nº 12.528/07 que obriga a implantação do processo de coleta seletiva de lixo em ―shopping centers‖ e outros estabelecimentos específicos ( empresas de grande porte, condomínios industriais, condomínios residenciais) do Estado de São Paulo.

Federal

 2002 - Classificação Brasileira de Ocupações - CBO/5192: institui o reconhecimento da atividade de catador como ocupação legal.

 2006 – Decreto N° 5940 da Presidência da República: determina que órgãos públicos federais, em todo o Brasil (217 órgãos, 10 mil prédios, 1.400 municípios), implementem a coleta seletiva e destinem os resíduos às organizações de catadores.

 2007 – Instituição da Política Nacional de Saneamento, Lei N° 11.445/07.

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45 4. Autonomia e Sustentabilidade

4.1. Sustentabilidade e a origem da discussão 4.1.1. O Clube de Roma

A discussão acerca do desenvolvimento sustentável tem sua origem apontada no debate em relação às questões que envolviam o meio ambiente, motivado pela preocupação com os recursos naturais e sua utilização acima do limite por parte do ser humano. De acordo com Sachs (1993), a tentativa era de se utilizarem estratégias ambientalmente adequadas, para promover um desenvolvimento socioeconômico equitativo.

Apontado como um dos marcos para o inicio desta discussão, o Clube de Roma, publicado em 1971, foi um encontro realizado no ano de 1968. O encontro constituiu-se um grupo de 30 pessoas, composto por economistas, cientistas naturais, matemáticos, educadores, economistas, industriais e políticos. Seu objetivo era discutir e analisar problemas presentes e futuros da humanidade e os limites do crescimento econômico, diante do uso crescente de recursos naturais. De acordo com Cavalcanti (1996) No início da década de 70 o grupo já estava com 70 membros e no final da década, chegava a cem pessoas.

A partir dos relatórios dos encontros realizados pelo grupo, foi publicado em 1972 o livro "The Limits to Growth" (limites do crescimento). Segundo Cavalcanti (1996), as conclusões do Relatório foram resumidas em três questões fundamentais:

1. Caso se mantenham as tendências observadas de crescimento da população mundial, da industrialização, poluição, produção de alimentos, consumo de recursos naturais e sua conseqüente diminuição de reservas, os limites do Planeta serão alcançados nos próximos cem anos, mais provavelmente através de um declínio súbito e incontrolável da população e da capacidade industrial.

2. A adoção do estado de equilíbrio ecológico e econômico, em nível global, a ser mantido por um futuro remoto, foi prevista como a única saída, possível de ser planejada, que evitaria o desastre.

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46 As conclusões publicadas pelo relatório foram alvo de muitas críticas, algumas eram consideradas catastróficas. Segundo Cavalcanti (1996), as críticas mais freqüentes ao Relatório estariam relacionadas com o fato dele fazer uma projeção para cem anos, baseada na tendência histórica, que não foi observada para considerar progresso técnico em nenhuma área.

4.1.2. Relatório Brundtland (1987)

No ano de 1983 a Assembleia Geral da ONU criou a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Esta comissão era formada por especialistas e líderes mundiais de 21 países no total. Seus objetivos eram:

 Reexaminar as questões críticas relativas a meio ambiente e desenvolvimento e formular propostas realísticas para abordá-las;

 Propor novas formas de cooperação internacional nesse campo, de modo a orientar políticas e ações no sentido das mudanças necessárias;

 Dar a indivíduos, organizações voluntárias, empresas, institutos e governos uma compreensão maior desses problemas, incentivando-os a uma atuação mais firme.

Sob o comando da Primeira Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, a comissão elaborou o Relatório Brundtland, como ficou mais conhecido, que foi publicado em 1987, com o título "Nosso Futuro Comum". De acordo com Cavalcanti (1996) o documento tinha como proposta uma série de ações e diretrizes a serem empreendidas que tinham por objetivo reduzir as ameaças à sobrevivência e traçar um caminho para o desenvolvimento:

 Reativar o crescimento;

 Mudar a qualidade do crescimento;

 Atender às necessidades humana essenciais;  Assegurar níveis sustentáveis de população;  Conservar e melhorar a base de recursos;  Reorientar a tecnologia e gerenciar o risco;

Imagem

Figura 1  – Organograma Organizacional do Movimento Nacional dos Catadores. Fonte:
Figura 2  –  Cooperativa ―Reciclador Solidário‖ do município de Piracicaba  (Fotografia: Lucas França)
Figura 4 –  Manchete publicada pelo Jornal de Piracicaba no dia 30/11/11
Figura 5  – Reportagem publicada pelo Jornal de Piracicaba no dia 30/11/11
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