• Nenhum resultado encontrado

O BRINCAR E A SEGREGAÇÃO DE GÊNERO NA ESCOLA: UMA ANÁLISE DO DOCUMENTO GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O BRINCAR E A SEGREGAÇÃO DE GÊNERO NA ESCOLA: UMA ANÁLISE DO DOCUMENTO GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

O BRINCAR E A SEGREGAÇÃO DE GÊNERO NA ESCOLA: UMA ANÁLISE DO DOCUMENTO “GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA”

Samatha Cristina Macedo Périco (PICV), Maria Cristina Simeoni (Orientadora), e-mail gestaoadm@hotmail.com.

Universidade Estadual do Norte do Paraná/Campus Jacarezinho Ciências da Saúde, Educação Física.

Palavras-chave: criatividade e ludicidade, gênero, educação infantil. Resumo

A presente pesquisa tem como foco as brincadeiras na Educação Infantil, possibilitando a participação de meninas e meninos, sem distinção de gênero, em atividade criativas e lúdicas. A escola, dentre inúmeras funções, também desempenha papel fundamental na construção e reforço das noções de masculinidade e feminilidade. Desta maneira, o objetivo principal foi analisar o documento “Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais” (BRASIL, 2009), enfatizando as questões da criatividade e ludicidade. A metodologia foi do tipo bibliográfica e teve abordagem qualitativa, com procedimento da análise documental. Os termos-chave selecionados para a análise foram criatividade e ludicidade. Os resultados apresentaram que os dois termos estão contemplados, de maneira satisfatória no documento, com o brincar no centro da ação e a criatividade como objetivo do projeto para a formação de professores com uso do material.

Introdução

A construção da história do movimento humano desenvolveu-se em meio a reflexos e valores sociais que se estabeleceram no decorrer dos anos, pelas vias da segregação entre gêneros. No processo de exploração do desenvolvimento motor, do crescimento psíquico e cognitivo, por meio do movimento homens e mulheres tiveram oportunidades diferentes. Sendo assim, é evidente que as atividades escolares, refletiram as distinções entre os gêneros presentes na sociedade e criaram um ambiente de segregação. Tal circunstância pode ser prejudicial ao desenvolvimento motor e social das crianças, visto que no momento em que se separam determinadas brincadeiras (movimentos) que servem para meninos e para as meninas, ocorre a separação da experimentação corporal baseada em gêneros, dificultando o processo de socialização (inclusão) e limitando a vivência corporal dos sexos. “Há uma expectativa social em relação à maneira como homens e mulheres devem andar, falar, sentar, mostrar seu corpo, brincar, dançar, namorar, cuidar do outro, amar etc”. (BRASIL, 2009, p.40, grifo nosso).

Nesta pesquisa destaca-se a criatividade e ludicidade como aspectos relevantes das brincadeiras, contudo é pertinente rememorar que estas atividades envolvem

(2)

características do desenvolvimento humano em quase todas as suas dimensões. A construção das noções de masculinidade e feminilidade; motores-cognitivos do movimento humano; criativos e lúdicos da aprendizagem são elementos principais no estudo em questão. Brincar aqui significa agir lúdica e criativamente.

O objetivo principal foi analisar o documento “Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais”, enfatizando as questões da criatividade e ludicidade. A pesquisa foi do tipo bibliográfica, com abordagem qualitativa. A análise documental (NEVES, 1996; PIMENTEL, 2001) foi o procedimento para análise do referido documento.

O documento fala da busca pelo respeito e igualdade de gênero, étnico-racial, na sociedade e principalmente através do ambiente escolar. Informa que a luta por igualdade tomou maior evidência e constância nos séculos XX e XXI, mas que ainda existem posturas discriminatórias e de grande segregação social. Sendo a escola um reflexo cultural da sociedade que se insere, esta ainda reproduz realidades de discriminações e desigualdades, portanto, verifica-se assim a importância da reflexão, discussão e desenvolvimento do tema. O projeto proposto, para construção do documento, resultou de parcerias entre a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM/PR), Secretaria Especial de Políticas de Promoção de Igualdade Racial (SEPPIR/PR), Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, (SECAD/MEC), Secretaria de Educação a Distância (SEED/MEC), BritishiCouncil e Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos, (CLAM/IMS/UERJ). Tem por finalidade auxiliar na formação de profissionais educadores acerca das questões que envolvem articuladamente relações de gênero, relações étnico-raciais, e diversidade e orientação sexual, de modo a contribuir para promoção de uma cultura de respeito e garantia dos direitos humanos.

Revisão de Literatura

Com caráter bibliográfico, definiu-se a abordagem qualitativa para analisar os dados, nesta pesquisa. Como procedimento foi trabalhado com a análise documental (NEVES, 1996; PIMENTEL, 2001). Para conhecer tal instrumento de trabalho, encontra-se em Neves (1996) que a “pesquisa documental é constituída pelo exame de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico ou que podem ser reexaminados com vista a uma interpretação nova ou complementar” 1996, p. 3).

Para esta pesquisa foi analisado o documento “Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais” (BRASIL, 2009). O material foi encontrado em arquivo no formato PortableDocumentFormat (pdf), disponibilizado através do buscador Google. Foi elaborada uma busca pela incidência dos termos criatividade e ludicidade (brincar, brincadeira, brinquedo ou jogo).Para procedimento de análise de documentos, Pimentel (2000, p.187), apresenta duas categorias: os autores e o termo-chave. Para esta pesquisa foi selecionada a segunda categoria com os termos-chave acima descritos.

O termo criatividade aparece ao final do material, no momento que os autores descrevem as “Diretrizes Político-pedagógicasdo curso Gênero e Diversidade na Escola”, especificamente na Fundamentação Pedagógica, ao comentarem do modelo do documento aqui analisado, destacam que: “Este modelo favorece a não-homogeneização das respostas do/a cursista, valorizando a criatividade.Assim, fomenta inúmeras respostas, motivando-o/a a contextualizar e a aprofundarseus argumentos, enfim, a produzir sua própria visão sobre determinado tema” (BRASIL, 2009, p.264). Apesar de aparecer somente desta vez, a criatividade ocupa lugar de destaque em todo o material, pois a

(3)

concepção é de que o projeto de formação, com uso do documento valorize a criatividade dos professores e professoras.

Os termos brincar, brincadeiras, brinquedos e jogos, aparecem várias vezes, apontando o brincar como opção para o trabalho com as questões de segregação de gênero nas escolas, principalmente com crianças pequenas. No texto “O aprendizado de gênero: socialização na família e na escola”, está apontado que: “À medida que crescemos, por meio dos brinquedos, jogos e brincadeiras, dos acessórios e das relações estabelecidas com os grupos de pares e com as pessoas adultas, vamos também aprendendo a distinguir atitudes e gestos tipicamente masculinos ou femininos” (BRASIL, 2009, p.48), ou seja, desde muito pequenos incorporam-se atitudes conforme o meio em que se está.

Observa-se que as questões de gênero são vagarosamente apreendidas pelas crianças durante o seu desenvolvimento, dentro da família ou na escola. Por exemplo, na família, ao “oferecer aos meninos e aos rapazes apenas espadas, armas, jogos eletrônicos que incitem à violência é facultar como único caminho para a sua socialização a agressividade” (BRASIL, 2009, p.48). O mesmo acontece com as meninas quando se oferece “[...] somente miniaturas de utensílios domésticos (ferro de passar roupa, cozinha com panelinhas, bonecas, batedeira de bolo, máquina de lavar roupa etc.) é determinar-lhes o espaço privado, o espaço doméstico”(BRASIL, 2009, p.50).

Neste trecho, percebe-se o quanto é importante a participação do adulto responsável pela criança, na compra dos brinquedos. A brincadeira colabora para a construção do gênero e é grande a responsabilidade nesse processo. “Quando a menina e o menino entram para a escola, já foram ensinados pela família e por outros grupos da sociedade quais são os ‘brinquedos de menino’ e quais são os ‘brinquedos de menina” (BRASIL, 2009, p.51). A escola não pode fazer de conta que essas questões não existem, como instituição formadora, ela deve fazer suas intervenções por meio dos planejamentos institucionalizados. “Por isso, educadores e educadoras são responsáveis e devem estar atentos a esse processo” (BRASIL, 2009, p.51).

“A escola busca ser um acolhedor ambiente de aprendizado e socialização, mas também abriga uma vigilância constante sobrea sexualidade e os papéis de gênero. Jogos e brincadeiras têm um forte papel de normalização e identitário” (BRASIL, 2009, p.175). Novamente o texto destaca a importância do brincar para a construção social do gênero nas crianças. É na brincadeira que elas se identificam como sujeitos e sujeitas, desenvolvem a imaginação e trabalham seus papéis sociais.

Também os espaços para o brincar são importantes de serem apontados. No caso da escola pode-se observar o pátio e/ou a quadra: “Eles podem revelar como as relações de gênero vão sendo construídas e, ao mesmo tempo, como vão fabricando meninas, meninos, homens e mulheres” (BRASIL, 2009, p. 104).

Ao final, o documento orienta a se observar os espaços de escola e ver “de que brincam e jogam meninas e meninos, adolescentes e jovens. Queimada? Futebol? “Menino pega menina”? “Passa anel”? “Beijo, abraço, aperto de mão”? Quais outras brincadeiras? Veja que atividades realizam juntos e quais em separado” (BRASIL, 2009, p.176). Indica esse exercício para observar a realidade de nossas escolas, para em seguida, fazer as devidas intervenções.

Resultados e Discussão

Encontrou-se no documento um termo criatividade; nenhum termo ludicidade, mas foram encontrados os outros que fazem referência a esse termo, assim teve-se

(4)

quatro incidências para termo brincar, trinta e oito para brincadeiras, cinco para brinquedos e vinte e nove para jogos. Aqueles selecionados para os destaques acima, foram os contextualizados nos conceitos de criatividade e ludicidade deste trabalho.

Conforme a pesquisa acima descrita e, de acordo com Luckesi (2005a, p.1) o brincar é “a fase da infância, com suas experiências, é o que irá determinar o tipo de adulto que ela se transformará, sendo que a brincadeira tem papel fundamental nessa evolução”. Brincar é utilizar todas as possibilidades disponíveis para a diversão e o real aprendizado. Já que o ser humano tem várias possibilidades de ações, que elas sejam brincantes.

Assim, o documento analisado traça todo seu projeto de trabalho tendo como pano de fundo os jogos e brincadeiras. Tanto com a família, como com os professores na escola, o brincar é a ferramenta para se conscientizar a respeito das questões de gênero. Os brinquedos também têm um destaque no documento, afinal, são os objetos do brincar. Quando se compra um determinado brinquedo, para determinada criança, já está implícito o gênero que se gostaria que ela construísse.

Criatividade e ludicidade; brincar, brincadeiras, brinquedos e jogos são atividades tão profundas quanto qualquer outra atividade do ser humano, que seja cuidadosa, criativa e produtiva. O “ato de brincar será sério porque é profundo,será um ato de cuidar da existência, de forma criativa, alegre e até mesmo hilariante, com as especificidades de cada idade e de cada circunstância de vida" (LUCKESI, 2005b p.1). O brincar é fundamental para todas atividades, uma forma prazerosa de aprender tanto dentro como fora da escola.

Conclusões

A leitura do material proporcionou a ampliação do conhecimento a respeito das temáticas nele discutidas. Infelizmente, observa-se, por meio de estágios curriculares que, em algumas escolas, essas temáticas não são discutidas. Elas não são discutidas, como devem ser, desde 1997, quando foram elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais e seus Temas Transversais, sendo um deles a Orientação Sexual, que traz como um dos seus três conteúdos, as “Relações de gênero” (BRASIL, 1997, p.95). Alguns professores, em conversas informais, não chegaram a conhecer esse documento, nem o material desta análise.

Vale retomar o objetivo principal, deste estudo, que foi analisar o documento “Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais”, enfatizando as questões da criatividade e ludicidade. A análise apresentou que os dois termos estão contemplados de maneira satisfatória no documento, com o brincar no centro da ação e a criatividade como objetivo do projeto para a formação de professores com uso do material.

Desta maneira, o documento aqui analisado motiva, cada vez mais, a vontade de pesquisar nessa área e socializar esse conhecimento. Também, é imprescindível, para dar aporte teórico a qualquer pesquisa a respeito de gênero, principalmente nas escolas de Educação Infantil.

Referências

Brasil. Parâmetros Curriculares Nacionais. Temas Transversais: Orientação Sexual. 1997. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro102.pdf>. Acesso em: 13 Ago. 2015.

(5)

______. Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Versão2009. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009.pdf.

Luckesi, C. C.Brincar: o que é brincar? 2005a. Disponível em: <www.luckesi.com.br>. Acesso em: 18 ago. 2015.

______. Brincar II: brincar e seriedade. 2005b. Disponível em: <www.luckesi.com.br>. Acesso em: 18 ago. 2015.

Neves, J. L. Pesquisa Qualitativa: características, Usos e Possibilidades. Cadernos de Pesquisas em Administração. São Paulo, v.1, nº 3, 2º Sem. 1996. Disponível em: <http://www.dcoms.unisc.br/portal/upload/com_arquivo/pesquisa_qualitativa_caracteris ticas_usos_e_possibilidades.pdf>. Acesso em: 13 Ago. 2015.

Pimentel, A. O Método da Análise Documental: seu uso numa Pesquisa Historiográfica. Cadernos de Pesquisa, n. 114, p. 179-195, novembro/2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/n114/a08n114>. Acesso em: 15 Ago. 2015.

Referências

Documentos relacionados

Fonte: Gênero e Diversidade na Escola: Formação de Professoras/es em Gênero, Sexualidade,O- rientação Sexual e Relações Étnico-Raciais, e-Clam | CNPQ.. “[...] o preconceito

De modo geral, o objetivo desse artigo é problematizar de que forma a questão de gênero e diversidade sexual está sendo trabalhada em sala de aula por professores/as do

Entre as temáticas escolhidas para o desenvolvimento das propostas de trabalho, tivemos: doze trabalhos sobre sexualidade, com enfoques que vão desde a gravidez na

6 Esta pesquisa de mestrado tem como objetivos: analisar narrativas de adolescentes sobre diversidade sexual e de gênero, conhecer os discursos dos/as adolescentes produzidos

Nessa perspectiva utilizamos a metodologia comparativa de Ferrer (2002) para sinalizar diferenças e possíveis indícios de Teorias da Educação Matemática e sendo os

Os corpos de prova, com maior número de anéis de crescimento por polegada, tiveram maior densidade aparente, e por consequência maiores foram as propriedades mecânicas; módulo

O processo cautelar está disposto no Livro III do Código de Processo Civil.. que os procedimentos cautelares específicos estão dispostos do artigo 813 ao 889. Como foi

Assim, mulheres e homens não são determinadas(os) pelo sexo biológico, e sim pela realidade social (GÊNERO E DIVERSIDADE NA ESCOLA: FORMAÇÃO DE PROFESSORAS/ES EM