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A Geografia anterior à Geografia Moderna tem sido ontologicamente Ignorada? INTRODUÇÃO

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Academic year: 2021

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Marcio Henrique de Mello Pereira Universidade de São Paulo

E-mail: xakanakas@gmail.com “A Geografia anterior à Geografia Moderna tem sido ontologicamente Ignorada?”

INTRODUÇÃO

Devido ao fato de a Geografia instaurar-se enquanto ciência na Modernidade e de prostrar-se epistemológica e ontologicamente desde então, uma grande incógnita no que se refere à Geografia anterior à Modernidade torna-se evidente, bem como a necessidade de resgatar o seu papel como precursora da Geografia Moderna. Haja visto que, na obra História da Geografia, Paul Claval relata que “a geografia forma-se na Antiguidade” (2006, p. 19), e que “Homero foi o primeiro geógrafo” (CLAVAL, 2006, p. 30), corroborando da ideia da gênese da Geografia proveniente desde este período e, por isso, fundamental ao construto do saber geográfico.

No que se refere à Geografia, há de se questionar, ao menos, o porquê do pouco apreço com as raízes que propiciaram a formação do que, num futuro longínquo, viria a se tornar a Geografia Moderna, dando à ela o epíteto quase que inconteste de ter gerado em seu ventre, de forma soberana, “A Geografia”, como se nunca antes houvessem outras Geografias que a ela serviram de base.

Evidentemente, não se está, com este artigo, atestando um caráter contínuo e homogêneo de Geografia que através dos tempos chega à Modernidade, mas sim levantando a necessidade de a conhecermos proficuamente, para, inclusive, podermos destacar pontos de permanência, de mudança, ou mesmo, se for o caso, de total irrelevância em relação ao corpus teórico da Geografia Moderna.

Portanto, várias questões participantes das imagens de mundo advindas de outros tempos nos impelem a buscar os principais elementos que tornaram a Geografia anterior à Modernidade precursora da Geografia Moderna, tais como: o farto vocabulário de

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caráter geográfico, encontrado, sobretudo, desde Homero; a própria lexia Geografia, presente na obra De Mundo, atribuída à Aristóteles, no século IV a. C., que veio a nomear a Geografia científica na Modernidade, mas que, segundo Paul Claval, “o movimento no qual essa nova palavra se inscreve tem a sua origem no século VI, na Jônia” (2006, p. 19); e, também, ao fato de importantes obras serem denominadas “Geografia”, ou tratarem de temáticas que a envolve, oferecendo em cada período em que se estabeleceram, construtos fundamentais que a embasaram.

Principiando a análise pela lexia Geografia, veremos que a grafia de Gaia1, ou Geia, Gê, ou posteriormente Geo, cujo morfema lexical veio a integrar a Geografia, remete-nos aos Hinos Homéricos, pois, de acordo com fundamentos cosmológicos e cosmogônicos, Gaia era representada como “a mãe de todos, a de firmes fundações, a mais antiga, a que alimenta tantos quantos vivem nela: os que percorrem o solo, o mar e também os que voam. Todos se alimentam de sua riqueza”(HOMERO, 2010, p. 358). Entre os gregos, Gaia é a mãe dos deuses, sendo que o culto a Gaia foi um culto proveniente do mundo agrário, cujas mais antigas referências estão na Ilíada.

Mas que, no entanto, segundo Hesíodo, o início de tudo, o que primeiro existiu foi o Caos e depois apareceu Terra, Gaia, que é a mãe universal, através da qual, florestas, montanhas, grutas subterrâneas, ondas do mar e vasto céu nasceram. Após o surgimento de Caos e Terra aparece Eros, que expressa um impulso no universo. Assim o mundo se constrói a partir de Caos, Gaia e Eros, e em seguida Urano e Pontos, que são ao mesmo tempo forças naturais e divindades. Após a geração de Gaia e Urano, surgirá o reinado de Cronos, que cumprirá uma etapa fundamental no nascimento do Cosmo, em que Noite e Dia se sucedem regularmente2, pois separa o céu da terra, assim,

o espaço se desbloqueia, e o “céu estrelado” tem agora o papel de uma abóbada, não se unindo mais a Gaia, “a não ser durante as grandes chuvas fecundantes, que permite que nasçam na terra novas criaturas, novas plantas e cereais” (VERNANT, 2000, p. 23-25).

1 Gaia também chamada de Geia, ou Gê, representa a Terra, concebida como elemento primordial do qual

descendem imortais e mortais. Através de sua união com Urano, Ponto e Tártaro, gerou a raça dos deuses.

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Portanto é Cronos, o mais audacioso filho de Gaia que será o rei dos deuses e do mundo, mas, no entanto, Zeus, um de seus filhos, o destrona e institui um universo organizado, assim:

(...) na Teogonia, Hesíodo enuncia a versão dominante da origem dos homens e dos deuses: uns e outros nasceram de uma só mãe, da Terra, Geia. Como a espécie humana, os deuses gregos pertencem à totalidade do mundo... não são potestades transcendentes nem deuses criadores, nem dispõem soberanamente das criaturas do céu, da terra e do mar (DETIENNE & SISSA, 1990, p. 18).

Para Hesíodo a Terra “além da clareza do nome, tem um epíteto que lhe define o ser: ‘de todos sede irresvalável sempre’. É a segurança e a firmeza inabaláveis, o fundamento inconcusso de tudo” (2007, p. 40).

Também podemos encontrar nas obras homéricas e hesiódicas um farto vocabulário de caráter geográfico que viera a compor a Geografia que, à guisa de exemplo, é digno de nota inventariar esta passagem da Ilíada, que denota inúmeros vocábulos:

Como um incêndio destruidor devora uma grande floresta nos cimos de uma montanha e o clarão é avistado de longe, assim, enquanto marchavam, o ofuscante clarão dos múltiplos bronzes levantava-se ao céu, através do firmamento. E, como os inúmeros bandos de aves, de gansos ou grous ou cisnes de compridos pescoços, voam, aqui e ali, sobre a planície asiática, perto das correntes de Caister, enaltecendo-se com gritos ao levantar voo, e a planície ressoa com o ruído, assim as inúmeras tribos de homens, saindo dos navios e das tendas, espalharam-se pela planície do Escamandro. A terra ecoou amedrontadoramente sob os pés dos homens e dos cavalos. Estendiam-se por dezenas de milhares, no florido prado do Escamandro, numerosos como as folhas e as flores da primavera (HOMERO, 1991, p. 26).

Neste trecho citado da Ilíada, dá para termos ciência de que naquela época já eram conhecidas as estações, e que os fenômenos terrestres já eram grafados, mesmo que as representações apresentadas não correspondessem às representações que a Geografia Moderna passou a utilizar muito tempo depois.

Também contribuíram para o saber geográfico os autores cujas temáticas fizeram parte do “corpus” geográfico, como os escritos do alexandrino Eratóstenes (275-194 a.C.), que tiveram como ênfase a astronomia e a elaboração de mapas, bem

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como Hecateo de Mileto que após muito ter viajado, foi autor de Viagem ao redor da Terra, que compreende o Mediterrâneo e a parte da Ásia Meridional até a Índia, tendo, portanto, conforme Heródoto, completado e corrigido o primeiro “mapa mundi”, desenhado por Anaximandro” (HERÓDOTO, 2001, p. 37).

Uma outra questão contemplada por este artigo é que, além dos saberes geográficos encontrados desde as primeiras obras homéricas que são marcos da cultura ocidental, podemos constatar que a lexia Geografia também intitula importantes obras de autores renomados, tais como a Geografia de Estrabão (63 a.C. a 23 d.C.), que foi um tratadista de História Natural, e que segundo Paul Claval “definiu as tarefas próprias dos Geógrafos e a forma de fazer a geografia regional, na continuação de Heródoto, mas dando-lhe sistematização” (CLAVAL, 2006, p. VI).

Sendo que, segundo Paulo Cesar da Costa Gomes, as duas primeiras partes são consagradas aos aspectos teóricos, especialmente os traçados de mapas e os métodos topográficos; já os 15 outros livros continham exclusivamente descrições regionais englobando a quase totalidade do mundo conhecido na época. Nessas descrições, Estrabão recorre a diferentes elementos econômicos, etnográficos, históricos e naturais, para compor a imagem de cada região (2010, p. 129-130).

Contemporâneo de Estrabão foi Plínio, o Velho (23-79 d.C.) que tratou de temáticas que envolveram dentre outras áreas, a geografia e a cosmologia, reunindo importantes conhecimentos do mundo Antigo, cuja obra História Natural “dominará os Bestiários da Idade Média; os escultores das catedrais representarão as plantas e os animais que ela descreve e construirão em parte o seu simbolismo a partir das propriedades” (1969, p. 120), que terão aprendido na sua “História Natural”, sendo que no livro II, Plínio trata das concepções físicas do mundo. Para ele o mundo é sagrado, não só é a própria obra da natureza física, senão também a mesma natureza física.3

Também se utilizou da lexia Geografia, Cláudio Ptolomeu (90-168 d.C.), na terceira obra do livro Tetrabiblos, que contém grande volume do conhecimento geográfico, incluindo coordenadas de latitude e longitude, cuja finalidade da sua

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geografia era a cartografia, sendo que “o céu se dá ao nosso conhecimento, visto que ele gira ao nosso redor; a Terra, ao contrário, apenas se dá a conhecer por sua imagem representada nos mapas” (GOMES, 2010, p. 128).

Obras interessantes também foram escritas na Idade Média, pelas civilizações orientais, dentre as quais a árabe, com as grandes descobertas que se seguiram, ampliaram o conhecimento do ecúmeno, potenciando novos avanços ao pensamento geográfico, tendo o árabe Idrîsî (1085-1123), cuja obra Kitâb Rujâr, realizada para o rei Roger II da Sicília, fez parte dos livros da geografia clássica árabe, inspirados nos próprios geógrafos árabes que o precederam, e que constitui importante contribuição ao saber geográfico (BRESC & NEF in Idrîsî, 1999, p. 7).

Também relevantes foram os escritos de Sebastião Munster (1488-1552), que, com a obra Cosmografia, faria a descrição do mundo na continuação de Heródoto e Estrabão, mas que, na interpretação de May, duas grandes tradições atravessaram toda a história da geografia: A primeira deriva de Eratóstenes, que concebeu a geografia em um sentido basicamente cartográfico e matemático. A tarefa da geografia é apresentar o mundo conhecido como ‘um e contínuo’, para que este possa ser percebido ‘como um todo’. A segunda grande tradição da definição geográfica, em sua mais compreensiva forma clássica, deriva de Estrabão. Estas duas tendências podem ser identificadas na obra de Varenius (1622-1650), que denomina uma de suas obras de Geografia Geral, na transição do Renascimento à Idade Moderna, da qual Kant foi, aliás um leitor atento. Elas teriam também grandes ecos no pensamento de Humboldt e de Ritter, e constituiriam talvez a própria fonte de sua diferenciação (Apud GOMES, 2010, p. 136). No entanto, para Paulo Cesar da Costa Gomes:

a retomada da geografia ptolomaica conduziu a emergência de um modelo fundamental que perdurou até o advento da geografia científica. Este modelo era composto de uma cosmografia, a Almageste, e de uma Geografia, que reagrupava um conjunto de mapas e de comentários relativos à dimensão e à forma da terra, uma série de dados concernentes a localização rigorosa dos lugares e um conjunto de princípios gerais chamado taxis. Já, a cosmografia consistia em uma discussão sobre a criação do mundo, a forma da Terra, os círculos, as zonas climáticas e alguns temas relativos à física do globo. Todas essas

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cosmografias, ou cosmogonias, pareciam com aquelas da Antiguidade. Contudo, elas procuravam enriquecerem-se com novos dados e por uma maior precisão, exigências advindas no período pós-renascentista. Estes estudos tinham uma dupla consequência: reforçar o mesmo modelo conhecido há muito tempo e produzir uma Imago Mundi moderna (GOMES, 2010, p. 128-129).

Mas, a partir do instante em que a Idade Média fora levada a reconhecer a importância da lógica, tornou-se inevitável que o pensamento levasse os homens a não mais se contentarem com os princípios da física aristotélica, mas, ao contrário, a observarem o próprio mundo perceptível, procurando formar opiniões novas, independentes ou até contrárias à religião e à Aristóteles, sobre o universo. Um dos primeiros a escolher esse caminho foi Roger Bacon, que pretendia estudar o mundo não somente em suas relações com Deus e a Revelação, mas também, por meio de pesquisas na própria Natureza, através do empirismo e do método experimental.

Deste modo, Copérnico (1473-1543), em sua obra De revolutionibus orbium caelestium destruíra justamente os últimos resquícios da harmonia reinante entre a ciência e a fé, pois passou a defender a teoria heliocêntrica, exprimindo a convicção de que não era a terra e sim o Sol que constituía o centro imóvel, em torno do qual o Universo gravitava. Sua astronomia removeu a Terra do centro do mundo, destruindo os “alicerces da ordem cósmica tradicional, com sua estrutura hierárquica e sua oposição qualitativa entre o domínio celeste do ser imutável e a região terrestre ou sublunar de mudança e corrupção” (KOYRÉ, 2006, p. 28-29).

Posteriormente, surge a figura de Leibniz (1646-1716) que faz importante contribuição com a obra Protogaea, correlacionando o conceito de mônada, advindo deste a Antiguidade, com o “melhor dos mundos possíveis”, propondo uma espécie de harmonia preestabelecida entre a natureza e a graça divina, postulando que a mesma força e vigor subsistem sempre no mundo e “apenas passa de uma parte da matéria para outra, conformemente às leis da Natureza e à magnífica ordem preestabelecida” (KOYRÉ, 2006, p. 209), derivando daí ser o mundo real escolhido por Deus entre todos os mundos possíveis, e que viera a influenciar Herder.

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Em outros termos, o objetivo de Herder é examinar cada cultura, levando em conta seus contextos geográficos e históricos próprios, acreditando que há um plano divino através do qual a diversidade pode ser interpretada como sendo o signo de uma vontade de dar oportunidade a todas as possibilidades humanas. Assim, cada cultura seria particular e única, mas possuiria também uma parte da universalidade, na medida em que cada cultura contém em si a perspectiva do plano global teleológico. Para Paulo Cesar da Costa Gomes “é inegável que a obra de Herder apresenta um interesse certo para o pensamento geográfico (2010, p. 146).

E, para concluir esta principesca análise sobre a importância de buscarmos uma ontologia anterior à Geografia Moderna, foi com Kant que obteve-se a formulação de conceitos e ensinamentos de Geografia que acabou dando nome a Disciplina Geografia na universidade, cuja proeminência auxiliaria na formulação da Geografia que viria a se tornar Moderna, sendo ele apresentado como quem constituiu um discurso científico da geografia.

Assim, diante dos escritos de importantes autores desde a Antiguidade passando pela Idade Média e Renascimento é que toma força o questionamento: A Geografia anterior à Geografia Moderna tem sido ontologicamente Ignorada?

OBJETIVOS

Os principais objetivos desta pesquisa propõem-se averiguar o que foi a “velha geografia”, uma vez que, em Geografia e Modernidade, Paulo Cesar da Costa Gomes nos afirma que a Geografia se tornou Moderna devido aos “aspectos relacionados à modernização de seus métodos, a nova perspectiva prospectiva e, sobretudo, a ruptura que foi operada com aquilo que se identifica como sendo a “velha” geografia. O prestígio e a legitimidade se justificariam, assim, pela conformidade ao modelo normativo da ciência, e sua modernidade se exprimiria nas técnicas sofisticadas e nos métodos que ela emprega” (2010, p. 10). E o outro objetivo crucial deste artigo é responder a questão que o intitula, ou seja, de se saber até que ponto a ontologia

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vinculada à Geografia anterior à Modernidade tem sido ou não ontologicamente Ignorada.

Deste modo, interessa saber de maneira aprofundada, quais foram as principais tradições da velha geografia e os objetos e métodos de análise empregados desde a Antiguidade, passando pelas Idades Clássica e Média, e chegando à Modernidade? Quem foram os Geógrafos e se assim podemos chamá-los? Enfim, é inquietante para um Geógrafo inculcado com a Historiografia da Geografia, perceber-se Moderno ou até mesmo “Pós-Moderno” e, ao mesmo tempo desconhecedor dos seus progenitores, e, portanto, de sua herança da ontologia da Geografia.

Pata tanto, este artigo pretende averiguar importantes questões da trajetória da “velha” Geografia que, anterior à Modernidade, fizeram parte do corpus geográfico para representar e compreender o mundo existente, em cada período histórico-espacial. Em outras palavras, visa buscar a tão quista e distante epistemologia da ciência Geográfica, e quem sabe nessa busca, possam ser encontrados fundamentos comuns que propiciem a formulação de uma ampla ontologia em Geografia.

METODOLOGIA

Esta pesquisa provém de um compêndio do pré-projeto de doutorado, que se propõe a analisar as obras e autores citados, dentre outros, e averiguar a trajetória da “velha” Geografia através da constatação de saberes geográficos que, anteriores à Modernidade, foram empregados para representar e compreender o mundo existente.

Este artigo está fundamentado num método histórico de cunho analítico, já que visa buscar elementos que indiquem relevantes fundamentos ontológicos da “velha” Geografia e averiguar a sua influência na Moderna Geografia. No entanto, os eixos estruturantes são conduzidos numa análise referente ao farto vocabulário de caráter geográfico, encontrado, sobretudo, desde Homero, bem como a própria lexia Geografia; no saber geográfico produzido por autores que se utilizaram da lexia Geografia como título de obras e/ou capítulos, e também por autores cujas temáticas fizeram parte do

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“corpus” que a envolve a Geografia; e, por fim, ao averiguar os principais fundamentos utilizados pelos autores citados neste artigo visando a consubstanciar uma possível ontologia em geografia através de seus métodos e objetos de análise.

RESULTADOS PRELIMINARES

Os resultados preliminares se consubstanciaram no levantamento de relevantes autores e obras, que foram os precursores da Geografia, e que chega à Modernidade já embasada de formulações, categorias e conceitos analíticos utilizados por ela, como a própria lexia Geografia. Enfim, talvez, o fato de a Geografia ter sido, enquanto cânone, oriunda de fundamentos vindouros de outras ciências, tenha propiciado a ela ser uma das últimas ciências modernas a se formar epistemológica e ontologicamente, justamente devido ao distanciamento ontológico destinado à Geografia anterior à Modernidade.

Para Paulo Cesar da Costa Gomes, a Geografia é frequentemente acusada de estar atrasada em relação aos principais debates epistemológicos. Apesar deste autor tratar especificamente da Geografia já Moderna, talvez, a questão de tal atraso em relação aos principais debates epistemológicos, bem como a sua despreocupação teórica se deva justamente ao desconhecimento da trajetória da Geografia anterior à Modernidade, já que para ele:

a Geografia foi desde a Antiguidade responsável pela descrição e pela criação de uma imagem de mundo. Assim, enquanto descrição e imagem de mundo, o discurso geográfico procura, na modernidade, ser um discurso científico e moderno. A história da ciência geográfica pode, então, ser considerada como a história do imago mundi da própria modernidade (GOMES, 2010, p. 28).

Como a pesquisa postulada na Geografia anterior à Modernidade está sendo denominada de Geografia Ignorada, principalmente no que se refere aos geógrafos brasileiros, não soa de bom tom defini-la com uma fundamentação teórico-metodológica de maneira estrita e cabal, para tanto torna-se premente as palavras de

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Paul Feyerabend que, na obra Contra o Método, assevera que “a ciência é um empreendimento essencialmente anárquico: o anarquismo teorético é mais humanitário e mais suscetível de estimular o progresso do que suas alternativas representadas por ordem e lei”, para ele “as grandes inovações teóricas são mais fruto do acaso do que da ordem (1977. p. 9).

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