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A comunicação humana: das funções da linguagem à competência modal e semântica dos sujeitos da comunicação

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A comunicação humana: das funções da linguagem

à competência modal e semântica dos sujeitos da comunicação

Elizabete Aparecida Damasceno

Introdução

A existência de mitos, lendas, cantos, rituais e trabalhos eruditos mostram que estudar a linguagem, capacidade inata do homem, é um interesse antigo, datado desde o século IV a.C. Inicialmente, por questões religiosas, os hindus estudaram a própria língua para garantir a tradução dos textos sagrados reunidos no Veda; os gramáticos hindus dedicaram-se também à descrição minuciosa da língua, modelos de análise descobertos no final do século XVIII pelo Ocidente.

Quanto aos estudos linguísticos, “os gregos preocuparam-se, principalmente, em definir as relações entre o conceito e a palavra que o designa” (Petter: 2002:12). Registra-se que Platão, filósofo, organiza sua discussão sobre a linguagem e pensamento, em sua obra Crátilo. E Aristóteles, também filósofo, noutra direção, preocupa-se em desenvolver uma “análise precisa da estrutura linguística”, chegando a elaborar uma teoria da frase, com a distinção de partes do discurso e apresentação de categorias gramaticais. E também encontramos o latino Varrão, que se dedicou aos estudos da língua latina, definindo a gramática como “ciência e arte”. Importante esclarecer que os estudos de língua compreendiam gramática, lógica e filosofia.

Os modistas, na Idade Média, consideraram que a estrutura gramatical das línguas é una e universal, e, portanto, as regras da gramática são independentes das línguas em que se realizam. No século XVI, apesar de o latim ser a língua de prestígio, o movimento religioso da Reforma provoca a tradução das Escrituras para diversas línguas e o movimento expansionista característico da época traz à luz o conhecimento de línguas até então desconhecidas, tendo sido registrado, em 1502, o primeiro dicionário poliglota, obra do italiano Ambrosio Calepino.

Tem destaque, em continuidade aos estudos iniciados em 1660, a obra Grammaire Générale et Raisonnée de Port Royal, ou Grammaire de Port Royal, de Lancelot e Arnaud, demonstrando que “ a linguagem se funda na razão, é a imagem do pensamento e que, portanto, os princípios de análise estabelecidos não se prendem a uma língua particular, mas servem a toda e qualquer língua”, modelo de análise de inúmeras gramáticas do século XVII.

No século XIX, o conhecimento de um número maior de línguas provoca o interesse pelo estudo e comparação de línguas vivas, desenvolvendo-se o método histórico, de que resultam gramáticas comparadas e o surgimento da Linguística Histórica, preconizando-se a análise dos fatos observados como método de estudo, resultando que “as línguas se transformam com o tempo, independentemente da vontade dos homens, seguindo uma necessidade própria da língua e manifestando-se de forma

regular”, destaque dado à obra de Franz Bopp, determinando-se, pelo método histórico-comparativo, as relações de parentesco entre línguas escritas estudadas, de que resultou o tronco linguístico

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indo-Texto para fins didáticos e pedagógicos 2 europeu e o anglo-saxão e a distribuição, pelo método histórico-comparativo, das línguas conhecidas e estudadas até então.

Foi no século XX que se evidenciou a compreensão de que as mudanças ocorridas nos textos escritos poderiam ser explicadas por mudanças ocorridas na língua falada, princípio fundamental do nascimento da Linguística Moderna, que prioriza, inicialmente, a língua falada, embora também se venha a se ocupar da língua escrita. É com o mestre Ferdinand de Saussure, com a sua obra Curso de Linguística Geral, obra compilada por seus discípulos, que o estudo da linguagem passa a ser reconhecido como estudo científico e, diferentemente do passado, a Linguística assume sua autonomia, não estando mais submetida às exigências da lógica, filosofia, retórica, história e crítica literária, porque os estudos de língua passam a ser centrados na observação dos fatos de linguagem. A observação dos fatos é anterior ao estabelecimento de uma hipótese, os fatos observados são examinados sistematicamente segundo uma experimentação e uma teoria adequada e não mais de modo apriorístico.

Em decorrência dos estudos de Saussure passam a existir dois ramos da Linguística: a Linguística sincrônica e a Linguística diacrônica. E, atualmente, do interesse pelos estudos da linguagem resultam estudos interdisciplinares, como a etnolinguística, a sociolinguística, a psicolinguística, a linguística forense, a linguística computacional, a linguística de corpus, dentre outros estudos igualmente importantes.

Da teoria da informação e da comunicação humana

Sabemos que a comunicação é fundadora da sociedade. Nem sempre a língua foi considerada um instrumento de comunicação. Antes do século XX, a língua era considerada uma representação da estrutura do pensamento, e as causas da desorganização, do declínio e da transformação (mudança) da língua eram imputadas à comunicação e à “lei do menor esforço”, considerando-se que uma dada e definida língua vivia uma trajetória: início-apogeu-declínio, como estabelecem os estudos comparativos da linguística histórica, a exemplo do estudo histórico do latim de que derivam o italiano, o francês, espanhol, português, todas pertencentes ao tronco indo-europeu. O advento e a contribuição dos estudos de Saussure foi a introdução do exame da comunicação e a investigação sobre a língua e seus usos. Desses estudos derivaram concepções e análises importantes , como os estudos sobre fonética, morfologia, sintaxe e semântica e as correspondentes linhas de pesquisa.

É preciso salientar, no entanto, que os estudos sobre a comunicação recebeu grande influência da teoria da informação, sobretudo nos anos de 1950. Essa teoria preocupa-se não só com a medida da informação (qual a quantidade de informação transmitida em uma informação, considerada uma sequência de sinais), como também com a economia da mensagem, estudando as questões relacionadas à codificação eficiente, à capacidade de transmissão do canal de comunicação ou eliminação dos efeitos indesejáveis dos ruídos. Tais preocupações se explicam tendo em vista objetivos concernentes à telecomunicação, por exemplo. Sob tal ponto de vista, a comunicação é entendida como a transferência de mensagens, como a transmissão de uma informação de um emissor a um receptor, informações definidas como mensagens organizadas segundo um código e transformadas em sequências de sinais a serem decodificados ou processados.

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Texto para fins didáticos e pedagógicos 3 No tocante aos estudos linguísticos da comunicação humana, o modelo da teoria da informação é insuficiente, porque mostra demasiada simplificação da comunicação verbal. Esse modelo apresenta-se como um modelo linear e limitado, porque considera a mensagem apenas quanto ao plano da expressão ou dos significantes (sequência de sinais); e configura-se, pois, como um modelo mecanicista porque não leva em conta o contexto sócio-histórico-cultural do emissor e do receptor e as condições de produção e reprodução da mensagem.

Para dar conta desses problemas relacionados à comunicação verbal, Malmberg (1969) e Jakobson (1969), linguistas, procuram ampliar o modelo da teoria da informação. Malmberg, por exemplo, introduz a representação do código, como representação de elementos discretos (signos) guardados no cérebro; situa a relação de atualização das unidades linguísticas entre emissor e receptor por meio de um canal; estabelece e mostra a existência de relação de estimulação entre o universo dos fenômenos extralinguísticos, contínuos, e o receptor; mostra a não coincidência de representações de realidades entre emissor e receptor; aponta diferentes fases na codificação/emissão e na decodificação/recepção da mensagem. E Jakobson, que tem entre os linguistas a proposta mais conhecida, destaca a existência, na comunicação, de um remetente que envia uma mensagem a um destinatário, e essa mensagem, para ser eficaz, requer um contexto (referente) a que se refere, apreensível pelo remetente e pelo destinatário, um código, total ou parcialmente comum a ambos, e um contato, isto é, um canal físico e uma conexão psicológica entre o remetente e o destinatário, que os capacita a entrar e a permanecer em comunicação, destacando-se a relação com o contexto, com a experiência comunicada ou a ser comunicada e a questão da representação do código e do(s) subcódigo(s), definido como “o estoque estruturado de elementos discretos que se apresentam como um conjunto de alternativas para a seleção para a produção da mensagem”.(Barros:2002:31). Os códigos e subcódigos introduzem, considerando-se a língua como um código, a questão da variação linguística , que atualmente é uma questão da comunicação que aponta para a valoração dos diferentes códigos e subcódigos e para a visão que o usuário tem da sua língua e das variantes que usa em diferentes situações de comunicação. Jakobson amplia os modelos da teoria da informação, relevante em relação à variedade de funções da linguagem, dando, então, destaque a outras funções da linguagem além da função informativa (ou referencial ou denotativa ou cognitiva), função dominante por ser de grande interesse dos teóricos da informação.

Jakobson, na esteira de Bühler, amplia as funções da linguagem e dá ênfase aos elementos do processo de comunicação, destacando as funções expressiva, apelativa, representativa, fática, metalinguística e função poética, todas presentes no processo da comunicação. Serve-se do próprio modelo da teoria da informação e o sistema é ampliado em termos de função (usos) da linguagem, a saber:

REFERENCIAL (centrada no contexto ou referente)

EMOTIVA POÉTICA CONATIVA

(centrada no emissor) (centrada na mensagem) (centrada no receptor)

FÁTICA

(centrada no contato/canal)

METALINGUÍSTICA (centrada no código)

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Texto para fins didáticos e pedagógicos 4 Embora haja um avanço em relação proposta da teoria da informação, o modelo de Jakobson ainda é caracterizado como mecanicista, porque não examina adequadamente as relações sócio-históricas e culturais e ideológicas da comunicação humana e, sobretudo, não chega a trata, com suficiência, da reciprocidade, uma característica fundamental da comunicação humana (PASSOS:2002:41), caracterizada como um fazer-saber, ainda que seja possível de se verificar na função conativa a existência de ‘um fazer o outro fazer’. Não trata especificamente da circularidade (ou reciprocidade), característica da comunicação humana, porque não se leva em conta a possibilidade que tem o receptor de tornar-se emissor e de “realimentar” a comunicação, ou, dito de outra forma, não trata especificamente do alargamento e complexidade do ato da comunicação que pode, por exemplo, produzir-se uma mensagem, dirigir-se a um destinatário, mas visando a um outro. (PASSOS:2002:42).

Em reação aos estudos de Jakobson, nos mesmos anos de 1950, encontramos os estudos de Bateson, Hall e Goffman, que trazem noções de feedback ou retroação e realimentação, levando-se em conta os efeitos da comunicação sobre o receptor e os efeitos que a reação do receptor produz sobre o emissor no sistema de interação do processo da comunicação humana. É Benveniste (1966), com os estudos sobre a categoria da pessoa, quem coloca o ‘diálogo como uma condição da linguagem humanae garantia de equilíbrio de poder entre os interlocutores de uma dada comunicação em que haja a possibilidade da resposta.

No âmbito dos estudos linguísticos desenvolvem-se estudos da interação ou do diálogo entre interlocutores, dos quais Bakhtin (1981) foi pioneiro do dialogismo, de que derivam duas linhas de estudos: sociologia da comunicação (com os estudos de Goffman e com os estudos de preservação da face como expressão social do individual, autoimagem pública construída e estratégias discursivas para ameaçar, atingir a face do outro, proteger a face ou preservá-la) e estudos da análise da conversação, a exemplo da etnometodologia que examina a interação no sistema da comunicação, em que os falantes se constroem e constroem juntos o texto em que os sujeitos são substituídos por diferentes vozes a fazer deles sujeitos históricos e ideológicos; jogos de imagens e simulacros construídos na interação; considerando-se o caráter contratual ou polêmico da comunicação e que a mensagem vai além do plano de significantes, além de se considerar que na sociedade há o alargamento do dizer.

Competência modal e semântica dos sujeitos da comunicação

Segundo Passos (2002) , o caráter mecanicista dos modelos de comunicação estão mais apropriados à comunicação entre máquinas, porque não levam em conta a inserção sócio-histórica e ideológica dos sujeitos envolvidos no processo da comunicação verbal. Segundo a autora, são dois os aspectos fundamentais a serem considerados no processo da comunicação humana, a saber: “a competência modal dos sujeitos que se comunicam, e as formações ideológicas, ou competência semântica, responsáveis pelo discurso comunicado”.

Em relação à questão em pauta, Greimas (1979-1990), semioticista, afirma que “as atividades humanas desenvolvem-se no eixo da produção ou da ação do homem sobre as coisas, de tal modo que haja a transformação da natureza, e o eixo da comunicação ou da ação do homem sobre os homens, criadora das relações intersubjetivas, fundadoras, por sua vez, da sociedade” (PASSOS:2002:47). As atividades de comunicação são interpretadas como transferência de objetos de valor e como comunicação entre os sujeitos, especificadas nas estruturas de parentesco, nas estruturas econômicas (trocas de bens e serviços) e nas trocas linguístico-discursivas (trocas de mensagens), motivo pelo qual os sujeitos da comunicação não

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Texto para fins didáticos e pedagógicos 5 podem ser tratados como caixas vazias, porque são investidos de conteúdo, por isso sujeitos competentes investidos social e historicamente que desempenham performances comunicativas.

Segundo o modelo greimasiano, então, a comunicação entre sujeitos ocorre mediante objetos de valor que circulam entre eles e que os constituem como sujeitos. Desta feita, não mais se consideram os sujeitos da comunicação como casas ou caixas vazias de emissão e de recepção de mensagens. Os sujeitos da comunicação devem ser considerados como sujeitos competentes, já que destinador e destinatário são dotados de certas qualidades e valores para a comunicação. Essas competências são de dois tipos:

a) modal: que compreende as modalidades do querer, do saber, do poder, do dever fazer/ser ou competências relacionadas à vontade (querer-volitiva), ao saber (saber- conhecimento), ao poder ( política), ao dever (deôntica), todas modalidades que estão relacionadas ao Ser e ao Fazer (possibilitando-se um jogo lógico entre universal afirmativo <> universal negativo <> particular afirmativo <> particular negativo);

b) semântica: que corresponde a valores e projetos que determinam a comunicação. Considera-se que os sujeitos são, então, investidos ou plenos, porque preenchidos tanto por qualidades/competências modais necessárias a suas competências comunicativas, quanto por qualidades semânticas (valores decorrentes das relações históricas, sociais e ideológicas e constituídos por sentimentos, valores, crenças, emoções, aspirações e projetos). A comunicação confunde-se com atividade de manipulação (estratégias de manipulação, de sedução e de persuasão) discursiva, uma vez que a apreensão do saber é ato de vontade do destinatário, o que obriga o destinador não apenas a um fazer-saber, mas, sobretudo, a um fazer-crer e a um fazer-fazer. O fazer comunicativo do destinatário, nestes termos, é um interpretar.

Nestes termos, o processo da comunicação é ampliado, visto que a linguagem é fator determinante na vida social do homem, considerando-se, na esteira de Charaudeau (2008:07) que “a linguagem é um poder, talvez o primeiro poder do homem”. Esse estudioso trata da linguagem e seus atos, estuda sua interrelacionalidade nos diversos campos em que o homem atua, considerando que na fala estão presentes as condições e a instância de sua produção e de sua transmissão. O ato de linguagem é um ato estrutural, constituído de duas dimensões - explícito e implícito – dimensões indissociáveis, e é ato resultante de uma atividade estrutural, que é a simbolização referencial, testemunhada pela dimensão do explícito da linguagem, além de uma loutra dimensão, a serial ou a significação, ligada à dimensão do implícito da linguagem. Estas duas dimensões instauram o fenômeno linguageiro, constituído por um duplo movimento: um movimento exocêntrico ligado à atividade serial, da ordem do implícito, que garante a produção da significação discursiva.

O fenômeno da comunicação é, sob esta ótica, ampliado. A situação de comunicação constitui-se de dois espaços, um interno e outro externo, englobados pelo circuito de produção e interpretação, considerando-se que todo ato de linguagem ocorrido entre dois interlocutores terá um desdobramento pelo efeito do discurso, que resulta em uma rede imaginária formada por quatro protagonistas – dois externos (reais) e dois imaginários (internos). Os sujeitos localizados no circuito externo são ativos: o EUc (Eu comunicante), o produtor da fala; e o TUi, o sujeito interpretante – que é real e se localiza fora do ato de enunciação daquele que produziu o enunciado (Euc). No outro circuito, o interno, TUd e EUe. O primeiro, o destinatário, está sempre presente, seja de forma implícita ou explícita – inclusive quando são vários os destinatários – e é um sujeito fabricado pelo Eu comunicante (EUc) e visto por este como um destinatário ideal e adequado ao seu

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ato de enunciação/produção. Entretanto, esse destinatário idealizado é concretizado pelo TUi – e nem sempre coincide com aquele idealizado. No mesmo circuito, se encontra também o sujeito enunciador (EUe): uma imagem do enunciador criada pelo sujeito produtor da fala e subentendido na sua intencionalidade enquanto produtor (Euc). Ocorre também que, no momento em que a mensagem é interpretada (quando o TUi opera), é criada também uma imagem acerca do EUe – imagem já configurada a partir do ato de fala deste último. TUd e EUe, sendo dois sujeitos imaginados, também existem dentro do ato de produção e interpretação, possuindo atribuições linguísticas independentemente dos outros dois protagonistas do ato da linguagem – TUi e EUc, localizados no espaço externo do ato. Charaudeau apresenta-nos um esquema bastante ampliado denominado “Situação de Comunicação”, a saber:

Esquema reproduzido de Charaudeau, P. – Linguagem e discurso (2008:77)

Segundo esse entendimento, Passos admite que o destinador exerce dois fazeres: o fazer emissivo e o fazer persuasivo.

“o fazer persuasivo engloba os procedimentos utilizados pelo destinador para persuadir o destinatário, isto é, para fazê-lo crer e para fazê-lo fazer. O destinador, de forma explícita ou implícita, propõe ao destinatário um contrato, em que oferece valores modais ou descritivos que o destinatário deseja ou teme. O destinatário, em contrapartida, realiza, além do fazer receptivo, um fazer interpretativo, bem que põe em jogo modalidades veridictórias e epistêmicas para interpretar a persuasão do destinador e, a partir daí, nele acreditar ou não. O destinatário vai interpretar se o destinador parece

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Texto para fins didáticos e pedagógicos 7 ou não é confiável, se os valores que ele oferece parecem ou não, e são ou não desejáveis”.(PASSOS:2002:48)

Nesse sentido, nenhuma comunicação é, portanto, neutra ou ingênua. As relações entre sujeitos são marcadamente ideológicas e os discursos em circulação no tecido social (socius) estabelecem laços de manipulação e carregam traços ideológicos e são marcados por coerções sociais. Relações entre língua e ideologia e entre discurso e ideologia existem e são relações diferentes.

Convém ressaltar que, na esteira de Fiorin (1988), o sistema linguístico sofre alterações em decorrência de causas internas ao próprio sistema e é certo que fatores sociais podem determinar o aparecimento ou alterações de categorias linguísticas, mas tais categorias ganham autonomia, diferentemente do discurso que, pleno de determinações sociais, é por sujeitos produzido e reproduzido em que crenças, valores e conhecimentos são veiculados, constituindo e (re)construindo o tecido social. Importante assinalar não só presença dos processos de estruturação do discurso (os níveis da sintaxe discursiva), como a existência dos investimentos semânticos na organização sintática abstrata (os níveis da semântica discursiva), a exemplo dos discursos de 1ª pessoa (eu/nós) e os de 3ª pessoa (ele/ela), este marcando objetividade e aquele marcando traços de subjetividade discursiva, estudo também merecedor de aprofundamentos.

Os procedimentos de sintaxe discursiva e produção de efeitos de sentido produzidos por estratégias de manipulação e persuasão devem, pois, ser examinadas no jogo da linguagem, que é uma construção elaborada pelos sujeitos envolvidos no processo da comunicação. Os estudos da linguagem, relacionados aos investimentos semânticos, destacam dois tipos de discursos que são construídos: os textos que apresentam investimentos temáticos (que tratam os conteúdos de formas mais abstrata) e textos que apresentam os investimentos figurativos (que concretizam sensorialmente os temas em sons, gestos, formas, cores e /ou cheiros). Tanto os discursos temáticos quanto os discursos figurativos “sofrem as determinações sociais e são o lugar da ideologia no discurso e na linguagem, em que vozes constroem o discurso e os sujeitos da comunicação são determinados socialmente e, portanto, sempre históricos e ideológicos”. (PASSOS:2002:52)

Os estudos da linguagem tornam-se ainda mais necessários na atualidade, em tempos de ‘sociedade em rede’.

Referências Bibliográficas

BARROS, Diana Pessoa de - A comunicação humana . In.: Fiorin, J.L. Introdução à linguística I – objetos

teóricos, São Paulo: Editora Contexto, 2002, pp.25-53

CHARAUDEAU, Patrick – O signo entre o sentido da língua e o sentido do discurso. In.: Linguagem e

discurso: modos de organização. São Paulo: Editora Contexto, 2008.

FIORIN, José Luiz – Linguagem e ideologia –São Paulo, Editora Ática, série Princípios, 137, 1988,

PETTER, Margarida – Linguagem , língua, linguística – In.: Fiorin, J.L. Introdução à linguística I –

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