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AINDA UMA QUESTÃO TÉCNICA? O CORPO NA VISÃO DE GRADUANDOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA

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Academic year: 2021

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AINDA UMA QUESTÃO TÉCNICA?

O CORPO NA VISÃO DE GRADUANDOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Alan Camargo Silva – Graduado; NESPEFE/ EEFD-UFRJ Fernanda Azevedo Gomes da Silva – Acadêmica; NESPEFE/ EEFD-UFRJ Iara Machado Arendt – Acadêmica; NESPEFE/ EEFD-UFRJ Joice do Nascimento Cavalcante – Acadêmica; NESPEFE/ EEFD-UFRJ Murilo Mariano Vilaça – Mestrando; NESPEFE/ EEFD-UFRJ Sílvia Maria Agatti Lüdorf – Profa. Dra.; Coordenadora do Núcleo de Estudos Sociocorporais e Pedagógicos em EF e Esportes (NESPEFE)/ EEFD-UFRJ

RESUMO

Os objetivos dessa pesquisa são: conhecer e comparar a visão de corpo dos graduandos em EF de primeiro e últimos períodos, e investigar de que forma relacionam o corpo à EF e à prática profissional. Os dados foram coletados através de um questionário, submetido a 103 alunos de um curso de graduação em EF de uma Universidade pública. Os resultados revelam a predominância de uma visão técnica e fragmentada do corpo no primeiro período e, nos últimos, uma compreensão voltada ao viés psicomotor. A forma de atuação profissional estaria ligada à orientação, mais nas perspectivas de saúde e de estética.

Palavras-chave: Corpo; Educação Física; Formação de professores.

ABSTRACT

The purposes of this research are to study and compare the conceptions of body of undergraduate students of first and last semesters of a Physical Education graduation course, as well as to investigate how they relate the body with professional practice. The data were collected by a questionnaire, applied in 103 students of Physical Education of a public university. Results indicate a predominance of technical conception of the body in the first period and a psychomotor view in the last period. The professional practice is conceived toward an orientation perspective, based on health and aesthetic guidelines. Key-words: Body; Physical Education; Teachers Formation.

RESUMEN

Los objetivos de esta pesquisa son investigar y comparar la visión de cuerpo de estudiantes de primero y último semestres de Educación Física ademas investigar como relacionan el cuerpo a la práctica profesional. El instrumento para colecta de datos fué un questionário. Los sujetos fueran 103 estudiantes de Educación Física de una universidad pública. Los resultados revelan predominancia de una visión técnica y fragmentada del cuerpo en el primer período y una compreensión psicomotora en el ultimo período. La forma de la atuación profesional estaria conetada con la orientación, sobretodo en las perspectivas de salud y de estética.

Palabras claves: Cuerpo; Educacion Física; Formacion de Professores.

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Prováveis discrepâncias podem ocorrer sobre o entendimento do que seja o corpo por parte de professores e de graduandos em Educação Física (EF). Tal fato se deve a uma construção histórica da área influenciada por variadas vertentes, em distintos momentos socioeconômicos e políticos, implicando em que muitos dos discursos e práticas relacionados à cultura corporal sejam reflexos de diferentes vivências e formações recebidas.

Exemplarmente, Daolio (1995), ao pesquisar as representações sobre corpo de professores de EF escolar verificou que a prática pedagógica voltada quase que exclusivamente ao treinamento e desenvolvimento da aptidão física, decorre da compreensão biológica do corpo, ou seja, “como se fosse anterior à cultura” (p. 94). Já no âmbito de professores universitários de EF, Lüdorf (2003) identificou também sinais da compreensão do corpo em seu aspecto predominantemente técnico ou biológico, bem como indícios de concepção de corpo visto como um processo de construção histórico e cultural (LE BRETON, 2006; SOARES, 2003).

O foco dessa pesquisa, no entanto, está direcionado à compreensão do que é corpo e de suas relações com a prática pedagógica, a partir da visão de graduandos em EF. Especificamente, pretende-se: a) conhecer e comparar a visão de corpo dos graduandos em EF de 1° e últimos períodos de uma Universidade pública; b) investigar de que forma estes relacionam o corpo à prática profissional.

É mister delinear essa discussão em prol das questões relacionadas ao corpo e à EF, tendo como pano de fundo a construção histórica da área, pois auxiliará parcialmente a analisar se há modificações de como o graduando concebe o corpo durante o processo de formação acadêmica, bem como, se o avanço teórico da área repercute em sua formação. É fundamental analisar se o professor de EF está conectado com a realidade social, conforme preconizado por Daolio (1995).

A presente pesquisa foi realizada com 103 graduandos, sendo 56 de 1° e 47 de últimos períodos, de um curso de Licenciatura em EF de uma Universidade pública do Rio de Janeiro. Os dados foram coletados por meio da aplicação de um questionário aberto, previamente validado, submetidos àqueles acadêmicos que concordaram em participar da pesquisa. Posteriormente, foram analisados com base na análise de conteúdo visando identificar categorias emergentes.

APONTAMENTOS TEÓRICOS

A influência médico- higienista na prática educacional brasileira, conforme Soares (1994), foi marcante no século XIX e, principalmente, nas primeiras décadas do século XX. A EF seria a síntese perfeita da educação e da saúde, contribuindo para forjar o indivíduo forte, robusto, saudável e disciplinado, necessário à formação da sociedade brasileira. Para Bracht (1999), a EF de caráter Higienista, visava o corpo produtivo, saudável, deserotizado e dócil.

Logo após as três primeiras décadas do século XX, o componente militarista surge com maior expressão, principalmente na EF. Isso se justifica, pois além da formação dos primeiros instrutores da área ter sido realizada em escolas militares, houve uma aproximação da EF ao militarismo na época da ditadura (CASTELLANI FILHO, 2003).

Entremeado ao espírito militarista no Brasil, entra em cena o componente Competitivista e Esportivista na EF. Segundo o Coletivo de Autores (1992), a influência do esporte cresce consideravelmente, afirmando-se como elemento predominante da cultura corporal. Dessa forma, o professor- instrutor e o aluno-recruta passam a ser vistos como professor-treinador e aluno-atleta. Daolio (1995) detectou essa influência, ao

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verificar que os professores utilizavam-se primordialmente de técnicas esportivas, ao atuarem sobre os corpos dos alunos.

Essa visão da EF, voltada à técnica e ao desempenho, de acordo com Bracht (1999), servia para promover uma política do corpo baseada na capacidade de trabalho e de rendimento individual e social.

Nas décadas de 80 e, principalmente, de 90, a EF passa a incorporar uma série de discursos das áreas humanas e sociais, como os de cunho pedagógico, antropológico, sociológico e filosófico, potencializando a abertura de uma postura mais crítica, ou progressista, sobre o corpo e a própria EF. Segundo o Coletivo de Autores (1992) tal fenômeno renovador é iniciado com a visão psicomotricista, “uma teoria geral do movimento que permite utilizá- lo como meio de formação.” (p. 55).

No final do século XX, há uma crescente valorização da estética corporal na sociedade capitalista. Sá (2002) afirma que na atual cultura do consumo, a percepção do corpo é dominada pelas imagens que mostram o ideal corporal. A valorização de um corpo magro, belo e desenhado, o “corpo design”, onde aparência e estilo são fundamentais, vem atrelada, muitas vezes a um discurso de promoção da saúde (LÜDORF, 2004). Tal preocupação com o corpo saudável, tão evocada atualmente, possui pressupostos e finalidades semelhantes ao modelo biológico higienista, porém com caráter renovado, conforme Darido e Rangel (2005).

Estes elementos constitutivos de momentos históricos da conformação do campo de estudos relacionados à EF, ainda que brevemente mencionados, podem fornecer algumas explicações para os achados empíricos relativos às concepções de corpo dos acadêmicos de EF, como será visto a seguir.

EM BUSCA DE ACHADOS E INTERPRETAÇÕES

Para alcançar o objetivo do presente estudo, foram analisadas, em especial, três questões que subsidiam a discussão do que seria o corpo e como este se relacionaria à prática pedagógica, a partir da visão dos alunos de EF.

Universidade Pública

Graduandos de 1° Período Graduandos de Últimos Períodos Concepções de corpo

Corpo à parte (28)

Corpo Interativo (10)

Corpo à parte (13)

Corpo Interativo Social (12)

Corpo Interativo (5) Como a Educação Física lida com o corpo

Saúde e Qualidade de vida (26)

Estética (7) Performance (7)

Psicomotora (10)

Saúde (9)

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Forma de interferência dos professores de Educação Física na visão de corpo de seus alunos.

Orientação (26)

Modelo (12)

Orientação (21)

Modelo (11)

Quadro 1. Análise comparativa entre os resultados de graduandos de 1° e últimos períodos de EF de uma Universidade pública.

Evidencia-se, a partir dos dados apresentados no Quadro 1, que houve uma incidência predominante da concepção de “corpo à parte”, com 28 menções dos graduandos do 1° período. Esta categoria emergiu a partir da atribuição dos seguintes significados ao corpo: objeto, matéria, estrutura, meio, veículo, máquina, instrumento e parte física. A segunda categoria mais mencionada foi a de “corpo interativo”, caracterizada nos discursos como a união ou integração entre as esferas física e espiritual, ou física e cognitiva/psicológica. Já em relação aos últimos períodos, houve um equilíbrio entre a concepção de “corpo à parte” e o chamado “corpo interativo-social”, onde o corpo é visto não apenas como elo de ligação entre as esferas mencionadas, mas, também, como meio de interação social. Observa-se uma espécie de evolução no modo como os graduandos concebem o corpo, de uma matriz técnica e/ou biológica, para uma que o considera um processo histórico-cultural. Tal achado se coaduna com as aspirações de Daolio (1995) e Soares (2003).

Ao serem indagados sobre a forma como a EF lida com o corpo, a categoria mais mencionada no 1° período foi a de promoção de saúde e de qualidade de vida, citada 26 vezes. No entanto, para os alunos de últimos períodos, essa forte tendência biologizante apresentou declínio, quase empatando com a categoria psicomotora que recebeu 10 menções. Aqui parece haver outra evidência da evolução do modo como compreendem o corpo, provavelmente decorrente do processo de formação. O surgimento do enfoque psicomotor pode estar relacionado ao conhecimento teórico de algumas tendências ditas renovadoras, conforme delineado pelo Coletivo de Autores (1992).

Ao serem indagados quanto à interferência do professor de EF na visão de corpo de seus alunos, houve unanimidade em confirmar que há interferência, primordialmente na perspectiva de “orientação”. Evidenciou-se a preocupação dos graduandos em informar aspectos técnicos e fisiológicos da atividade física, porém, sem a pretensão de gerar reflexões críticas, por exemplo, aos modelos de corpo e de saúde vigentes.

Em menor grau, 12 e 11 vezes respectivamente, para 1° e últimos períodos, emerge como a segunda categoria mais mencionada, a de “modelo”, constituída a partir da importância atribuída à aparência e às atitudes do professor. Parece transparecer, nesse caso, uma certa exigência que a sociedade exalta com relação aos modelos de corpo e saúde, que se refletem no profissional de EF que trabalha diretamente com o corpo (LÜDORF, 2004).

CONCLUSÃO:

Na realidade estudada, houve tendência de uma certa evolução nas concepções de corpo de graduandos de 1° para os de últimos períodos. Pareceu haver uma modificação tanto qualitativa quanto quantitativa, pois, de uma predominância maciça de visão de corpo fragmentado, caracterizada pelo “corpo à parte”, passou-se para uma incidência mais homogênea das menções sobre a idéia de um corpo mais integrado. Esta aparente evolução

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pareceu se refletir na forma de atuação do professor de EF que, conforme os alunos de últimos períodos, passou a contemplar o viés psicomotor.

Detectou-se, também, haver consenso entre os graduandos, de que o professor de EF interfere na visão de corpo dos seus alunos, basicamente através da orientação, baseada sobretudo nas questões associadas à técnica, à saúde e à estética.

A fim de compreender melhor o assunto, sugere-se a produção de mais estudos, como o acompanhamento de um determinado grupo de graduandos do ingresso ao término da sua formação, ou ainda, ampliando a gama de Universidades estudadas.

REFERÊNCIAS:

BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cadernos Cedes, Campinas, SP, ano 19, n. 48, p. 69-88, Agosto 1999.

CASTELLANI FILHO, L. Educação física no Brasil: a história que não se conta. 8. ed., Campinas: Papirus, 2003.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1992.

DAOLIO, J. Da cultura do corpo. 6. ed., Campinas: Papirus, 1995.

DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação física na escola: implicações para prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

LE BRETON, D. A sociologia do corpo. Trad. Sonia M.S. Fuhrmann. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

LÜDORF, S. M. A. Do corpo design à educação sociocorporal: o corpo na formação de professores de Educação Física. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação da UFRJ. Setembro, 2004.

LÜDORF, S. M. A. Concepções de corpo na graduação em Educação Física: um estudo preliminar com professores. Educación Física y Deportes, Revista Digital, Buenos Aires, Ano 9, nº 66, nov/2003.

SÁ, R. S. A oficina como ferramenta educativa: do corpo disciplinar ao corpo vibrátil: uma abordagem libertária contemporânea. Tese de Doutorado. Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina. Julho, 2002.

SOARES, C. L. Apresentação. Pro-posições, Campinas, SP, v.14, n.2 (41), mai/ago. 2003.

SOARES, C. L. Educação Física: raízes européias e Brasil. Campinas/SP: Autores Associados, 1994.

Sílvia Maria Agatti Lüdorf Coordenação de Pós-graduação Av. Pau Brasil, 540 - Cidade Universitária - Campus da Ilha do Fundão - CEP 21941-590 Rio de Janeiro - RJ - Brasil sagatti@ufrj.br / Tel: 21-2562-6803

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