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Uma análise do trabalho do psicólogo no Poder Judiciário a partir do analisador dobra burocrática 1

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Uma análise do trabalho do psicólogo no Poder Judiciário a partir do analisador dobra burocrática1

Maria das Graças dos Santos Duarte (Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social – UERJ)

magduarte@yahoo.com

RESUMO

Este trabalho é um recorte de uma pesquisa maior cujo objetivo é identificar e analisar, utilizando a construção sócio-histórica e sócio-política, os modos de penetração do saber psicológico na máquina judiciária. Como a Psicologia Jurídica é vista e entendida pelos profissionais que atuam no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (psicólogos, assistentes sociais, advogados, promotores, juízes, defensores públicos) e o que esperam da prática psi. Incomodada com o cotidiano do trabalho das equipes técnicas que atuam no Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro (Serviço Social e Psicologia) pretendo colocar em análise a partir do conceito de dobra (Gilles Deleuze) a prática desses saberes.

No ano de 1988 é proclamada a Constituição da República Federativa do Brasil. Nesse período temos como atores principais os movimentos sociais que clamavam por mudanças e pela garantia dos Direitos Humanos. A sociedade por meio de grupos, instituições de defesa e promoção dos interesses das crianças e adolescentes, contribuíram para o reordenamento jurídico, com o artigo 227 da Constituição Federal, bem como a substituição da doutrina da situação irregular pela doutrina da proteção integral que norteou a lei nº 8069 de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Com a referida lei foi instituída a equipe interprofissional de assessoramento ao juiz (psicólogos, assistentes sociais e comissários da Infância e da Juventude).

No Estado do Rio de Janeiro, entre a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente e a implementação da equipe houve um hiato de nove anos. Somente no ano de 1996 a lei nº 2602 cria o cargo de Psicólogo da Corregedoria Geral da Justiça. No ano seguinte ocorre a proposta de abertura ao concurso público para o cargo de

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O conceito de dobra foi desenvolvido por Gilles Deleuze e é abordado especialmente nos livros: A

dobra: Leibniz e o barroco e Foucault.

“(...) As dobras são formas que se produzem e conferem um sentido específico para o que chamamos

desejo, trabalho, arte, religião, ciência, etc. As dobras não são nem interiores nem exteriores mas formações provisórias de um entre que mistura finitos materiais de expressão em ilimitadas combinações.” (MACHADO, L.D. – Subjetividades Contemporâneas. In: BARROS, M. E. B. de (Org). Psicologia: questões contemporâneas. Vitória: EDUFES, 1999).

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psicólogo. No ano de 1998 foi realizado o primeiro concurso e entre os anos de 1999 e 2001 foram sendo convocados os aprovados. Iniciava-se oficialmente a interlocução entre o Direito e a Psicologia no âmbito do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro. O trabalho dos psicólogos tem contribuído muito para esse encaminhamento de mostrar qual é o caminho da função social. E por parte do poder judiciário há uma série de movimentos, no Brasil todo, no sentido de tentar fazer ou construir outro poder judiciário; ou de pelo menos possibilitar a garantia dos direitos humanos.

O psicólogo vem colaborar com esse redimensionamento institucional, na medida em que sua prática é voltada para a questão das relações humanas e subjetividades. O trabalho cresce, os psicólogos são poucos.

No final do ano de 2003 é publicado o edital para o segundo concurso de Psicólogo da Corregedoria Geral da Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Em abril do ano seguinte os novos psis (29) são convocados a ingressar na instituição. Junto com os novos profissionais vieram outros questionamentos, necessitávamos do “encontro”, pois nos sentimos sós. Foi sugerida então a criação do representante de Nurc. A partir de então passamos a ter reuniões nos Nurcs e com a coordenação na Capital. Novas formas de saber estavam sendo construídas. Já não estávamos tão sós.

Entretanto, com acontecimentos como corte do ponto, punições, etc., tais reuniões (vistas como não-trabalho) já não aconteciam com freqüência e com o decorrer do tempo deixaram de acontecer definitivamente. O que acontecia? Dobramos a dobra burocrática? A inércia estava nas nossas práticas ou no sistema? Percebi que exigia menos esforço colocarmos a lupa no macro e não no micro. Era mais fácil colocar em análise o sistema a colocar em análise o processo de construção do nosso cotidiano.

A partir da dobra burocrática, onde respondemos às expectativas dos nossos papéis e atribuições, surgem os lamentos, as dúvidas, as denúncias. No entanto, pude perceber que há um medo por parte das equipes de intervir, de pensar na possibilidade de questionar o que fazemos. Então, cumprimos o estabelecido, o que se tem a fazer, seguimos as regras, os procedimentos (sobreimplicação), sem mexer, sem movimentar, sem levar à construção de outras coisas. Responder à ordem ou tentar responder exige menos esforço, dobrar burocraticamente, às vezes, é mais conveniente.

Os psicólogos com o decorrer dos anos já não estavam somente nas Varas da Infância, da Juventude e do Idoso, bem como nas Varas de Família, mas adentraram outros locais, como as Varas Criminais, as Centrais de Penas e Medidas Alternativas, os Juizados Especiais Criminais e os Núcleos Regionais.

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Apesar do reduzido número de profissionais (e conseqüentes prestações de auxílio). O trabalho se expandiu e com ele os encontros, seminários, literaturas, pesquisas, etc. O discurso e o encontro da Psicologia com o Direito passou a fazer parte da rotina dos Operadores do Direito, dos Conselhos Regional e Federal de Psicologia, das Faculdades de Psicologia e por último das Faculdades de Direito, após o Ministério da Educação e Cultura tornar obrigatória a disciplina Psicologia Aplicada ao Direito.

Com o decorrer dos anos, das necessidades e demandas que surgiram, começamos a realizar e elaborar projetos que falam para além dos processos/avaliações/relatórios. Percebemos que nesse lugar a dobra burocrática é bastante intensa, dura e cristalizada. Desconstruir esse lugar e potencializar outros é o objetivo de alguns profissionais. No entanto, observa-se que outros profissionais realizam suas tarefas e atribuições, somente. Profissional burocratizado. As discussões, os encontros, os ciclos de debate, os grupos de estudo são vistos como não-trabalho. Vimos, portanto, presente nesse contexto o conceito da sobreimplicação defendido por René Lourau. Trata-se de cumprir a tarefa, sem vida, sem movimento, sem desejo.

Dentro dessa máquina judiciária, colocar em análise ou mesmo criar outras formas de exercício da profissão é colocar também em análise a prática de um saber que um dia foi convidado a estar nesse lugar e hoje é um saber instituído. Responder e/ou não responder, dependendo das circunstâncias, obriga o outro a pensar junto com a gente (“acontecimento”/”ruptura” para Gilles Deleuze). Esse é o objetivo de alguns dos profissionais (psicólogos e assistentes sociais) do 6º Nurc ao tentar criar outras formas de se aproximar dos operadores do Direito, através de encontros, ciclos de debate, discussões mais próximas.

Essa investigação visa colocar em análise esse aprisionamento da prática e a possibilidade de construção de outros lugares. Vivenciar essas linhas duras e outras mais flexíveis faz parte do nosso trabalho, mas também faz parte, criar saídas ou linhas de fuga por meio das quais possamos provocar movimento, por em questão o instituído. E isso acontece quando questionamos as nossas práticas cotidianas, quando colocamos em análise o lugar que ocupamos. Este trabalho baseia-se na perspectiva de que somos agentes possibilitadores de transformações, mas também sujeitos transformados por essas mudanças.

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A dobra, compreendida agora como criação de possibilidades de existência que rejeitam a ordem de identificação existente, adquire imediatamente uma dimensão política. O conceito de dobra constitui uma figuração ou imagem da subjetividade necessária (...) para combater o tipo de individualidade que se nos impõe e para pensar(-nos) de outra maneira. Nesse sentido, se a dobra só pode avançar variando, bifurcando-se e metamorfoseando-se, o problema não é nunca como acabar a dobra, mas como continuá-la. (DOMÈNECH, TIRADO e GÓMEZ, 2001, p. 133)

Este trabalho é um recorte de uma pesquisa maior cujo objetivo é identificar e analisar, utilizando a construção sócio-histórica e sócio-política, os modos de penetração do saber psicológico na máquina judiciária. Como a Psicologia Jurídica é vista e entendida pelos profissionais que atuam no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (psicólogos, assistentes sociais, advogados, promotores, juízes, defensores públicos) e o que esperam da prática psi. Incomodada com o cotidiano do trabalho das equipes técnicas que atuam no Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro (Serviço Social e Psicologia) pretendo colocar em análise a partir do conceito de dobra (Gilles Deleuze) a prática desses saberes.

HISTÓRIAS E (DE) DOBRAS

No ano de 1988 é proclamada a Constituição da República Federativa do Brasil. Nesse período temos como atores principais os movimentos sociais que clamavam por mudanças e pela garantia dos Direitos Humanos. A sociedade por meio de grupos, instituições de defesa e promoção dos interesses das crianças e adolescentes, contribuíram para o reordenamento jurídico, com o artigo 2272 da Constituição Federal, bem como a substituição da doutrina da situação irregular pela doutrina da proteção integral que norteou a lei nº 8069 de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Com a referida lei foi instituída a equipe interprofissional de assessoramento ao juiz (psicólogos, assistentes sociais e comissários da Infância e da Juventude).

No Estado do Rio de Janeiro, entre a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente e a implementação da equipe houve um hiato de nove anos. Somente no ano de 1996 a lei nº 2602 cria o cargo de Psicólogo da Corregedoria Geral da Justiça. No ano seguinte ocorre a proposta de abertura ao concurso público para o cargo de psicólogo. No ano de 1998 foi realizado o primeiro concurso e entre os anos de 1999 e 2001 foram sendo convocados os aprovados. Iniciava-se oficialmente a interlocução

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“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

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entre o Direito e a Psicologia no âmbito do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro.

O trabalho dos psicólogos tem contribuído muito para esse encaminhamento de mostrar qual é o caminho da função social. E por parte do poder judiciário há uma série de movimentos, no Brasil todo, no sentido de tentar fazer ou construir outro poder judiciário; ou de pelo menos possibilitar a garantia dos direitos humanos. (VERANI, 2002, pp.74-75)

O psicólogo vem colaborar com esse redimensionamento institucional, na medida em que sua prática é voltada para a questão das relações humanas e subjetividades. O trabalho cresce, os psicólogos são poucos.

No final do ano de 2003 é publicado o edital para o segundo concurso de Psicólogo da Corregedoria Geral da Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Em abril do ano seguinte os novos psis são convocados a ingressar na instituição. Junto com os novos profissionais vieram outros questionamentos, necessitávamos do “encontro”. Foi sugerida então a criação do representante de Nurc3. A partir de então passamos a ter reuniões nos Nurcs e com a coordenação na Capital. Novas formas de saber estavam sendo construídas.

Entretanto, com acontecimentos como corte do ponto, punições, etc., tais reuniões (vistas como não-trabalho) já não aconteciam com freqüência e com o decorrer do tempo deixaram de acontecer definitivamente. O que acontecia? Dobramos a dobra burocrática? A inércia estava nas nossas práticas ou no sistema? Percebi que exigia menos esforço colocarmos a lupa no macro e não no micro. Era mais fácil colocar em análise o sistema a colocar em análise o processo de construção do nosso cotidiano.

Deleuze (2005) ao fazer uma leitura da obra foucaultiana nos lembra do quanto é difícil ultrapassar as linhas, de passar para o outro lado:

Se o poder é constitutivo de verdade, como conceber um “poder de verdade” que não seja mais verdade de poder, uma verdade decorrente das linhas transversais de resistência e não mais das linhas integrais de poder? Como “ultrapassar a linha”? E, se é preciso chegar à vida como potência do lado de fora, o que esse “de fora” não é um vazio aterrorizante e que essa vida que parece resistir não é mera distribuição, no vazio, de mortes “parciais, progressivas e lentas”?(pp. 101-102).

A partir da dobra burocrática, onde respondemos às expectativas dos nossos papéis e atribuições, surgem os lamentos, as dúvidas, as denúncias. No entanto, pude perceber que há uma dificuldade por parte das equipes de intervir, de pensar na possibilidade de questionar o que fazemos. Então, cumprimos o estabelecido, o que se tem a fazer, seguimos as regras, os procedimentos (sobreimplicação), sem mexer, sem

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movimentar, sem levar à construção de outras coisas. Responder à ordem ou tentar responder exige menos esforço, dobrar burocraticamente, às vezes, é mais conveniente. René Lourau (2004) fala que o que seria necessário e útil para a ética seria a análise das implicações4 e dos lugares que ocupamos.

Assim, a oposição entre o aspecto ativo (ativista) da sobreimplicação e o aspecto passivo da implicação (sempre já existente) é mera aparência que convém superar. A sobreimplicação e o ativismo, uma vez analisados, apresentam aspectos extremamente passivos: submissão a ordens explícitas ou a consignas implícitas da nova ordem econômica e social, ávida por preencher as grandes brechas produzidas tanto pela desafetação quanto pela institucionalização, maior ou menor, do desemprego. A implicação, por sua vez, deve ser analisada individual e coletivamente, o que supõe atividade intensa e, muitas vezes penosa. (LOURAU, 2004, p.191)

A EQUIPE COMPÕE

Seguindo essa linha de pensamento Suely Rolnik (1995) diferencia o homem da

moral do homem da ética (expressões utilizadas por Gilles Deleuze). O homem da

moral seria aquele que transita no visível, que conhece os códigos e as regras da sociedade em que vivemos ou do local de trabalho, neste caso específico. Já o homem da ética é aquele que transita no invisível, que escuta as inquietações, que guia as nossas escolhas, que ajuda a fazer novas composições ou desmanchar as já existentes. A crítica da autora é ficarmos restritos somente ao homem da moral, que seria uma concepção mecânica, repetitiva, do cumprimento de algo já dado.

Se ser ético tem a ver com a ativação de um certo vetor da subjetividade, vimos que o que define esse vetor é ter o caráter criador da vida como critério de valor e não qualquer espécie de forma que a vida tenha tomado ou venha a tomar. O compromisso de uma subjetividade em que o homem

da ética está ativo não pode ser simplesmente com o cumprimento de um conjunto de normas (...); esse tipo de compromisso, importante sem dúvida,

tem a ver com o vetor moral da subjetividade que não é suficiente para conquistar uma melhor qualidade da existência, na medida em que não inclui

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“(...) Nós funcionamos, todos, em todos os lugares, sob a heterogestão; ou seja, ‘geridos’ por ‘ontrem’. E a vivemos, geralmente, como coisa natural. A ciência política e todas as novas ciências da racionalidade econômica seguem por essa via. Pretendendo-se científicas, aceitam o instituído como natural, como se os homens tivessem uma natureza de escravos, como se sonhassem estar sempre submetidos a outros homens, e como se estes outros homens fossem super-homens... [...] A autogestão que existe, a que tem podido existir, acontece dentro de uma contradição total, já que a vida cotidiana, a minha e também a de vocês, se passa no terreno da heterogestão. Cotidianamente, preferimos não nos colocar muitos problemas e, ‘permitindo’ que se dê a heterogestão, ‘confiamos’ a ‘autogestão’ a outras pessoas. Isto alguns – Marx por exemplo – chamam ‘alienação’. Amamos nossa ‘alienação’. Sentimos que é muito dolorosa a análise de nossas implicações, ou melhor, a análise dos ‘lugares’ que ocupamos, ativamente, neste mundo. Ou, por exemplo, em nosso local de trabalho.” (LOURAU, 1995, pp. 13-14).

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a consideração daquilo que se impõe como diferença no invisível e que exige

criação (inclusive no campo das normas). (ROLNIK, 1995, p. 162, grifos

meus).

Os psicólogos com o decorrer dos anos já não estavam somente nas Varas da Infância, da Juventude e do Idoso, bem como nas Varas de Família, mas adentraram outros locais, como as Varas Criminais, as Centrais de Penas e Medidas Alternativas, os Juizados Especiais Criminais e os Núcleos Regionais, ajudando a compor outros lugares.

Apesar do reduzido número de profissionais (e conseqüentes prestações de auxílio)5. O trabalho se expandiu e com ele os encontros, seminários, literaturas, pesquisas, etc. O discurso e o encontro da Psicologia com o Direito passou a fazer parte da rotina dos Operadores do Direito, dos Conselhos Regional e Federal de Psicologia, das Faculdades de Psicologia e por último das Faculdades de Direito, após o Ministério da Educação e Cultura tornar obrigatória a disciplina Psicologia Aplicada ao Direito.

Com o decorrer dos anos, das necessidades e demandas que surgiram, começamos a realizar e elaborar projetos que falam para além dos processos/avaliações/relatórios. Percebemos que nesse lugar a dobra burocrática é bastante intensa, dura e cristalizada. Desconstruir esse lugar e potencializar outros é o objetivo de alguns profissionais. No entanto, observa-se que outros realizam suas tarefas e atribuições, somente. Profissional burocratizado. O homem da moral sobressai. As discussões, os encontros, os ciclos de debate, os grupos de estudo são vistos como não-trabalho. Vimos, portanto, presente nesse contexto o conceito da sobreimplicação defendido por René Lourau. Trata-se de cumprir a tarefa, sem vida, sem movimento, sem desejo6.

Dentro dessa máquina judiciária, colocar em análise ou mesmo criar outras formas de exercício da profissão é colocar também em análise a prática de um saber que um dia foi convidado a estar nesse lugar e hoje é um saber instituído. Responder e/ou não responder, dependendo das circunstâncias, obriga o outro a pensar junto com a gente (“acontecimento”/”ruptura” para Gilles Deleuze). Esse é o objetivo de alguns dos

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Os psicólogos são lotados em uma Vara específica e com a deficiência do número de profissionais auxiliam outra Vara ou outras Varas.

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Desejo aqui entendido como produção. Segundo Guattari, são todas as formas de vontade de viver, de

vontade de criar, de vontade de amar, de vontade de inventar uma outra sociedade, outra percepção de mundo, outros sistemas de valores.In: SANTOS, N. I. S.. Escola Pública e comunidade: relações em d’obras. Revista Vivência, 2006.

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profissionais (psicólogos e assistentes sociais) do 6º Nurc7 ao tentar criar outras formas de se aproximar dos operadores do Direito, através de encontros, ciclos de debate, discussões mais próximas.

De acordo com Domènech, Tirado e Gómez (2001), Foucault “concebe os processos de subjetivação como ensaio, como processo ético e estético que busca produzir modos de existência inéditos.” Assim, a dobra deleuziana nos fala de processos que estão em constante movimento. Dobrar, desdobrar, redobrar...

E é com este propósito que tais equipes vêm trabalhando para que o homem da

moral não seja atualizado ou permaneça pouco tempo em ênfase. Os encontros vêm

sendo realizados, bem como alguns ciclos de debate como forma de aproximação entre os profissionais e estudantes que atuam na instituição judiciária. O homem da ética renasce a cada encontro, a cada ciclo, a cada projeto novo. Entendendo-se projeto como processo a ser construído permanentemente.

FINALIZANDO ...

Dentro da máquina judiciária as relações de controle/poder existem como marca forte e cristalizada, o tempo é cobrado, os processos têm que ser finalizados com possíveis resultados/conclusões e os profissionais-máquinas têm que produzir. Valorizam-se as estatísticas quantitativas. Mas ao mesmo tempo trabalhamos com pessoas, com tempos diferenciados, com subjetividades ... O que acontece?

Para a paralisia, queixa, camisa de força, jogo de incompreensões entre segmentos, afirmação do lugar de controle do governo, mas também controle de si, porque o grupo poderia mudar isso, no entanto o corre corre diário não permite que se constitua um grupo a reivindicar junto. O que se

encontra preso nessa dobra é o desejo (...) ou o próprio pensamento, que é forçado a não pensar, inscrito em um tempo circular, o tempo que nos codifica, nos põe na linha reta. (SANTOS, 2006, p.7, grifos meus).

E muitas vezes nos perguntamos se o nosso papel será o de fabricar indivíduos? (BAPTISTA, 1999) ou produzir processos de singularização? (GUATTARI e ROLNIK, 2005).

Essa investigação visa colocar em análise esse aprisionamento da prática e a possibilidade de construção de outros lugares. Vivenciar essas linhas duras e outras mais flexíveis faz parte do nosso trabalho, mas também faz parte, criar saídas ou linhas de fuga por meio das quais possamos provocar movimento, pôr em questão o instituído.

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O 6º Núcleo Regional da Corregedoria Geral da Justiça do Rio de Janeiro envolve a região Norte Fluminense e esta psicóloga faz parte dessa região.

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E isso acontece quando questionamos as nossas práticas cotidianas, quando colocamos em análise o lugar que ocupamos. Então, atualizamos o homem da ética.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTOÉ, S. (Org). René Lourau: Analista Institucional em Tempo Integral. São Paulo: HUCITEC, 2004.

BAPTISTA, L.A.. A cidade dos sábios: reflexões sobre a dinâmica social nas grandes cidades. São Paulo: Summus, 1999.

______. A fábula do garoto que quanto mais falava sumia sem deixar vestígios: cidade, cotidiano e poder. In: MACIEL, I. (Org). Psicologia e Educação: novos caminhos para

a formação. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2001.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Federal nº 8.069 de 1990. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.

DELEUZE, G.. Foucault. São Paulo: Brasiliense, 2005.

DOMÈNECH, M.; TIRADO, F. e GÓMEZ, L.. A dobra: psicologia e subjetivação. In: SILVA, T.T. (Org). Nunca fomos humanos. Nos rastros do sujeito, Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

GUATTARI, F. e ROLNIK, S.. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005 (7ª edição revisitada).

LOURAU, René. Análise Institucional e Práticas de Pesquisa. Rio de Janeiro: UERJ, 1995.

MACHADO, L.D.. Subjetividades Contemporâneas. In: BARROS, M. E. B. de (Org).

Psicologia: questões contemporâneas. Vitória: EDUFES, 1999.

NIETZSCHE, F.. Sobre a verdade e mentira no sentido extra-moral. In: NIETZSCHE, F. – Obras Incompletas. Coleção Os Pensadores. Volume 1. São Paulo: Nova Cultural, 1991.

RODRIGUES, H.B.C. & SOUZA, V.L.B.. A Análise Institucional e a profissionalização do psicólogo. In: SAIDON, O. & KAMKHAGI, V. R. (Orgs) –

Análise Institucional no Brasil. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1987.

ROLNIK, S.. À sombra da cidadania: alteridade, homem da ética e reinvenção da democracia. In: MAGALHÃES, M.C.R. (Org). Na sombra da cidade. Escuta: São Paulo, 1995.

SANTOS, N.I.S.. Escola Pública e comunidade: relações em d’obras. Revista Vivência, 2006.

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VERANI, S.. Que lugar para o Judiciário? In: 3º Encontro de Psicólogos Jurídicos do

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Demanda Social e Crise dos Ideais:

Referências

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