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Português 2º ano João J. O Cortiço

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Academic year: 2021

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Português 2º ano João J.

O Cortiço

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APROXIMANDO-NOS

DO ROMANCE

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1. O CORTIÇO e SEUS MORADORES

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.

Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. ...

A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras

do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e

triste, feita de acumulações de espumas secas.

Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os

outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias...

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Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns após outros, lavavam a cara... As mulheres precisavam

já prender as saias entre as coxas para não as molhar, via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço,

que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam

em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas

e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um

abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda

amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo,

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A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a “Machona”, portuguesa feroz, berradora, pulsos

cabeludos e grossos, anca de animal de campo. Tinha duas filhas e um filho: a das Dores... que largara o marido para meter-se com um homem de comércio... que, retirando-se para a terra, deixara o sócio em seu lugar. 25 anos. A Nenen, 17 anos, franzina e forte, com uma proazinha de orgulho de sua virgindade, escapando

como enguia por entre os dedos dos rapazes que a queriam sem ser para casar. E Agostinho, menino levado dos diabos, que gritava tanto ou melhor que a

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.... Ao lado de Leandra, foi colocar-se à sua tina a Augusta Carne-Mole, brasileira, branca, mulher de Alexandre, um

mulato de 40 anos, soldado de polícia... Augusta era de uma honestidade proverbial no cortiço, honestidade sem

mérito, porque vinha da indolência de seu

temperamento e não do arbítrio de seu caráter. Junto dela pôs-se a trabalhar a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado Bruno, com uma fama terrível de

leviana....

Seguia-se a Paula, uma cabocla velha, meio idiota, ... tinha virtudes para benzer erisipelas e cortar febres por meio

de rezas e feitiçarias.... Era extremamente feia, ... dentes cortados à navalha, formando pontas, como

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Depois seguiam-se Marciana e mais a sua filha Florinda, que... tinha quinze anos, a pele de um moreno quente,

beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca. Toda ela estava a pedir homem, mas

sustentava ainda a sua virgindade e não cedia, nem à mão de Deus Padre, aos rogos de João Romão, que a

desejava apanhar a troco de concessões na medida e no peso das compras que Florinda fazia diariamente no armazém. Depois via-se a velha Dona Isabel... todos lhe

dispensavam consideração.. mulher comida de desgostos. Fora casada com o dono de uma casa de chapéus, que quebrou e suicidou-se. ...Tinha uma cara macilenta de velha portuguesa devota, que já foi gorda,

bochechas moles de pelancas rechupadas, que lhe pendiam dos cantos da boca como saquinhos vazios...

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Sua filha era a flor do cortiço. Chamavam-lhe Pombinha, que tinha o seu noivo, o João da Costa, moço do comércio, com grande futuro... Dona Isabel não queria

que o casamento se fizesse já. É que Pombinha, orçando aliás pelos dezoito anos, não tinha ainda pago

à natureza o cruento tributo da puberdade.... Fechava a fila das lavadeiras, o Albino, um sujeito

afeminado... Era lavadeiro e vivia sempre entre as mulheres... que o tratavam como uma pessoa do mesmo sexo... faziam-no até confidente dos seus amores e das suas infidelidades. ( ibidem p. 28 a 32 )

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ANÁLISE DE O CORTIÇO,

DE ALUÍSIO DE AZEVEDO

EDIÇÃO CONSULTADA: O CORTIÇO.

MARTINS, SP, 1967

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5. NARRADOR EM TERCEIRA PESSOA, ONISCIENTE.

6. ANÁLISE DO ENREDO E DOS PERSONAGENS

6.1.

TRAMA CENTRAL:

JOÃO ROMÃO x MIRANDA

O CORTIÇO x O SOBRADO

Ponto de Partida

A vizinhança João Romão e aquilo que viria a ser o

cortiço x Miranda e seu novo sobrado.

Definição dos elementos da trama central

O narrador, nos três capítulos, apresenta os elementos

básicos que irão constituir a trama central da narrativa;

Assim:

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CAPÍTULO – I

– foco central: João Romão e Bertoleza

Contraponto: Miranda e Estela

A história e as características de João Romão:

Bertoleza

O CONTRAPONTO

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TENSÃO PESSOAL DE MIRANDA

Miranda

“Prezava, acima de tudo, a sua posição social e tremia só com a idéia de ver-se novamente pobre”. Conflitos de

Miranda: posição social, atração sexual por Estela, a quem devia odiar pelas infidelidades.

Estela, “senhora pretensiosa e com fumaça de nobreza”

(p.25) “mulherzinha levada da breca”, que adultera desde “antes de terminar o segundo ano de matrimônio” ( p. 26 )

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Primeiro conflito Romão x Miranda

Miranda quer comprar parte do terreno de Romão.

Projeto de Romão: construir a estalagem. “Destinada a

matar toda aquela miuçalha”.

A Construção do muro

Primeira tensão: vitória de Romão: Miranda constrói o

muro. “Muro – símbolo da diferença, limite.”

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CAPÍTULO – II

Foco central: “Miranda e seu sobrado”.

Contraponto: João Romão e a estalagem

Personagens do sobrado: Miranda – Estela

Zulmira

Henrique

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IDÉIAS DE BOTELHO

“Isso é uma imprudência.. Numa casa, em que há tantos quartos, é preciso vir meterem-se neste canto de quintal. A senhora está moça, está na força dos anos; seu marido não a satisfaz, é justo que o substitua por outro! Ah! Isto é o mundo e, se é torto, não fomos nós que o fizemos torto!”.

O narrador insinua agrados homossexuais de Botelho a Henrique, que se afasta do velho “com um gesto de

repugnância e desprezo”.

Compõe ainda a casa de Miranda; o moleque Valentim, filho de uma escrava que foi de Dona Estela, a mulata

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VERDADE DAS RELAÇÕES MIRANDA – ESTELA

DEFINIÇÃO DA TRAMA SOCIAL: OS CONFLITOS SOCIAIS DE MIRANDA: ANTE O SUCESSO

ECONÔMICO DE ROMÃO. MIRANDA QUESTIONA O SEU PRÓPRIO MODO DE VIDA.

A “escandalosa fortuna” de Romão incomoda a Miranda, ( Romão fizera fortuna, “sem precisar roer nenhum

chifre”

Incomodava-o “grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados”

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A SAÍDA PARA OS CONFLITOS: a idéia do baronato

“Foi da supuração fétida destas idéias que se formou no coração vazio de Miranda um novo ideal – o título” o

baronato.

VIABILIDADE DA LUTA PELO TÍTULO

Para conseguir o título, contava com a vaidade de Estela.

DESENVOLVIMENTO DA TRAMA ROMÃO x MIRANDA

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Visconde Proprietário da avenida Proprietário da estalagem Proprietário do cortiço Proprietário do terreno vendeiro

falseia a alforria de Bertoleza rouba materiai

rouba Domingos e Libório

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AGRAVAMENTO DA TENSÃO DE ROMÃO

O título de Miranda faz Romão questionar seu modo de viver Saídas: mudanças de hábitos, de roupas, transformação do

cortiço, casamento com Zulmira, título de visconde.

Comparar Cap. II com o cap. X

“Fui uma grandíssima besta Uma grande besta...”

A partir do cap. XIII, o narrador nos dá notícias das mudanças de João Romão

Botelho começa a trabalhar para que Romão se case com Zulmira. Miranda já o tratava de forma diferente, convidando-o, até, para jantar.

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TENSÃO PESSOAL

Romão mudava, mas “tinha de estirar-se ali, ao lado

daquela preta fedorenta a cozinha e bodum de peixe!” (p. 183). E lhe surge a idéia da morte de Bertoleza.

Cabeça de Gato. “O cortiço aristocratizava-se”.

CLÍMAX E DESFECHO

CAPÍTULO – XXIII

Chega o filho mais velho do antigo senhor de Bertoleza. Ao mandar prender Bertoleza, esta, “com ímpeto de anta bravia,” rasga o ventre de lado a lado. Romão foge até o canto mais escuro, tapando o rosto com as mãos. Nesse momento, uma comissão de abolicionistas vem entregar a Romão o diploma de sócio benemérito da causa abolicionista.

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O CORTIÇO x SOBRADO DE MIRANDA

Ponto de partida: Apresentação dos elementos da trama

No capítulo III, o narrador nos apresenta o outro elemento central da trama: o cortiço e seus moradores

A linguagem identifica homem, animal, inseto (visão monista). Linguagem escandalizadora.

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PERSONAGENS DO CORTIÇO Leandra Augusta Carne-Mole Léonie Leocádia Paula Marciana

Dona Isabel e Pombinha

Albino Rita Baiana Domingos e Manuel Jerônimo Jerônimo – Piedade e a filha Marianita ( Senhorinha ) Firmo Libório

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Conjunto 1 – Cortiço – coletivismo tribal ( cortiço= abelhas )

Conjunto simples, constituição primária Natureza, instinto, horizontal, violência. Sensualismo – sensíveis a impressões sensoriais

Conjunto 2 – Casa de Miranda

Conjunto complexo Vertical, trocas

No conjunto complexo há um regime de trocas necessárias

à sua própria sobrevivência: Estela / Miranda. Botelho, Hentique, Zulmira

João Romão X Miranda

Personifica a falta de escrúpulos e a exploração do homem pelo homem

Representa a simulação, forçada pelas convenções sociais.

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TRAMAS SECUNDÁRIAS

a) Jerônimo – Piedade- Rita Baiana – Firmo. b) Leocádia – Bruno – Henrique.

c) Léonie, Pombinha, Senhorinha. d) O JUDEU – o velho Libório.

e) Marciana – Florinda.

FUNÇÃO DA MULHER:

Mulher-objeto

Mulher sujeito-objeto

 Mulher sujeito que regula os regimes de troca, capaz de Impor condições e manobrar o macho em beneficio próprio.

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ESPAÇO

O espaço físico retratado é o microcosmo de uma sociedade em formação: o cortiço x sobrado. Os dois locais ressaltam o engalfinhar constante de forças econômicas e sociais.

O espaço físico é urbano, pois o proletariado e a classe

média ganharam campo e a mão-de-obra – principalmente de italianos e portugueses era muito necessária.

TEMPO

“Situa-se alguns anos antes da publicação do romance (1890).” O tempo do realista-naturalista é mesmo o agora. O enredo é linear: segue os passos do vendeiro João

Romão desde a juventude pobre até a maturidade abastada e inescrupulosa. O tempo do romance é cronológico..

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LINGUAGEM

“A língua de Aluísio Azevedo em sua plurivalência de nacionalidades mostra como o Francês, o Italiano, o

Português de Portugal, o falar do cortiço se mesclam,

constituindo conjuntos que integralizam a língua brasileira num sentido mais amplo. Sua língua é mestiça como seus personagens e se espalha pelo simples e pelo complexo.” Embora tenha, em vários momentos, ousado infringir as normas prescritas pela gramática normativa, no nível do narrador, a linguagem é sempre cuidada e presa aos

cânones tradicionais.

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Linguagem coloquial brasileira: (alguns exemplos)

Ao apresentar-nos Estela, o narrador diz que ela era uma “mulherzinha levada da breca” ( p.26), “com fumaça de nobreza.” ( p. 25 )

Miranda, ao pensar nas infidelidades de Estela, percebe

que Romão progredira, sem precisar roer nenhum chifre”. (p. 35)

Estela se refere a Miranda como “aquele traste do senhor meu marido” , “uma besta daquela ordem!” ( p. 42 )

Ao descrever os movimentos do cortiço, o narrador nos diz que os homens “esfregavam com força as ventas e as

barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão.”, que “as portas das latrinas não descansavam.”( p. 47)

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Observe os comentários que os moradores do cortiço fazem sobre Rita Baiana:

– E não é que o demo da mulata está cada vez mais sacudida?...

– Então, coisa-ruim! por onde andaste atirando esses quartos?

– Desta vez a coisa foi de esticar, hein?! [...] (p. 75) E a fala de Rita:

– Ora, nem me fales, coração! Sabe? Pagode de roça! Que hei de fazer? é a minha cachaça velha!... (p. 75)

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 Com quem te esfregavas tu, sua vaca?! Bradou ele a botar os bofes pela boca.

 Vá à pata que o pôs! Exclamou ela, com a cara que era um tomate. Já lhe disse que não quero saber de você pra nada, seu bêbado!

 “Sai daí, safado! Toca lá no que quer que seja, que te arranco a pele do rabo!”.

“Eu quero saber quem lhe encheu o bandulho! E ela há de dizer quem foi ou quebro-lhe os ossos. (p. 121 )

E, após saber que Florinda fugira, diz Rita a Marciana: “Fugiu-lhe, é bem feito! Que diabo! Ela é de carne, não é de ferro! Agora chore na cama, que é lugar quente.”

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 Pula cá pra fora, perua choca, se és capaz.

 Toma pro teu tabaco! Toma, galinha podre! Toma pra não te meteres comigo! Toma!Toma! Baiacu da praia!

“Qualquer pé-rapado”

“Quem me comeu a carne tem de roer-me os ossos.” (p. 253)

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Linguagem coloquial portuguesa. Diz Jerônimo:

 Ó filha! “Por que não experimentas tu fazer uns pitéus à moda de cá.”. ... Pede a Rita que to ensino. Os

camarões souberam-me tão bem”. ( p. 115 )

Um diálogo rápido, conciso, sugestivo e uma precisão descritiva extremamente aguda são os traços marcantes da personalidade literária de Aluísio

Referências

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