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Anais do X Seminário de Iniciação Científica SóLetras CLCA UENP/CJ - ISSN UM MODELO DIDÁTICO/TEÓRICO DO GÊNERO REDAÇÃO DE VESTIBULAR

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UM MODELO DIDÁTICO/TEÓRICO DO GÊNERO REDAÇÃO DE VESTIBULAR

Marta Aline Buckta (G-CLCA-UENP/CJ) Marilúcia dos Santos Domingos Striquer

(Orientadora CLCA-UENP/CJ)

Introdução

Motivada pelo desejo e pela necessidade, como professora em processo de formação inicial, de saber ensinar alunos da educação básica a interpretarem e produzirem o gênero redação, o objetivo deste artigo é compreender como se constitui este gênero em sua especificidade social e estrutural. Entendendo que é preciso primeiro conhecer o gênero, e, sobretudo, a prática social a qual ele representa/materializa, para só então conhecer como ensiná-lo.

Justifico a delimitação deste gênero, pelo fato da redação ser um dos gêneros mais presentes na situação escolar, principalmente em nível de ensino médio, uma vez que a intenção é preparar o aluno para vestibulares, Enem, bem como para concursos públicos e testes admissionais.

Para alcançar meu objetivo, de compreender como se constitui o gênero redação, me sustento nas teorias bakhtinianas sobre gêneros discursivos e na proposta de elaboração de modelos didáticos construído pelo Grupo de Genebra (BRONCKART, 2009). Teorias e propostas didáticas estudadas e discutidas no Grupo de Pesquisa “Leitura e ensino” (CNPQ/UENP).

Gêneros textuais

Conforme postula Swales (apud MARCUSCHI, 2005, p.29), a expressão “gênero”, desde os tempos longínquos, esteve ligada apenas a textos literários, principalmente no oriente. Porém, no cenário textual recente, sua definição adquiriu amplitude, pois para os estudos linguísticos, “hoje o gênero é facilmente usado para referir uma categoria distintiva de discurso de qualquer tipo (falado ou escrito)” (p. 29). Sendo assim, Marcuschi (2005), pontua que os gêneros textuais “são entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa” (p.19).

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Ao definir gêneros Bakhtin (2011, p.261-262) afirma que “cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados”, os quais se configuram em gêneros, e que em sua obra são chamados de viskázivanie (o ato de enunciar/exprimir por meio de palavras sentimentos e/ou pensamentos, etc.). Para o autor, todo gênero é constituído de conteúdo temático, estrutura composicional e estilo, que se ligam de maneira indissociável “no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação” (BAKHTIN, 2011 , p. 262).

Ainda segundo Bakhtin (2011, p 262), a diversidade dos gêneros do discurso é infinita, devido às inesgotáveis “possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo”, pois para esse autor, os campos nada mais são do que as esferas comunicativas que representam a especificidade de cada de gênero, o qual, “retrata a realidade à sua própria maneira”.

Por ser tão amplo e heterogêneo esse domínio de atividade comunicativa, de acordo com Koch e Elias (2011), Bakhtin diferencia os gêneros do discurso em primários e secundários, sendo os primários, aqueles que pertencem às situações comunicativas comuns do dia a dia, como as lista de compras, bilhetes, conversas informais face a face, entre outros, e os secundários estão ligados à situações onde há formalidade e complexidade dos assuntos (geralmente enunciados escritos), tais como: artigos de opinião, artigos científicos, mandatos, entre muitos outros, sendo considerados gêneros que apresentam uma composição monopolizada, “absorvendo, pois, e transmutando os gêneros primários” (KOCH; ELIAS, 2011, p. 54).

Nesse mesmo viés, destaco o que postula Marcuschi (2005, p. 20) sobre a “transmutação” dos gêneros textuais, termo proposto por Bakhtin, que se refere ao fato de muitos gêneros terem se originado devido ao avanço tecnológico, especialmente àqueles ligados a comunicação. No entanto, eles não podem ser considerados inovações absolutas, pois sua origem está marcada pela existência de outro gênero anterior a ele, como a carta que se transformou no e-mail, a conversa ao telefone nas chamadas com vídeo em tempo real (possibilitado pelo surgimento da internet), entre tantos outros exemplos.

Ciente de que todo gênero se modifica a medida que há novas necessidades comunicativas, outro fator relevante, em se tratando dos gêneros textuais, está no “fenômeno segundo o qual um gênero pode assumir a forma de outro gênero, tendo em vista o propósito

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de comunicação” (KOCH e ELIAS, 2011, p.114), um exemplo dado pelas autoras, é o de um texto que possui a estrutura composicional de receita culinária, mas não emprega essa função comunicativa, esse fenômeno, portanto, se denomina como intergenericidade. Ainda no que tange a estrutura do gênero, também destaco respaldada nas autoras, que cada gênero possui a predominância de uma tipologia textual (descritiva, narrativa, argumentativa, expositiva e injuntiva), esta que também pode variar dentro do gênero (heterogeneidade tipológica), dessa forma, evidencia-se com maior clareza a diferença entre os gêneros textuais e os tipos de texto.

Enfim, para ser possível alcançar o objetivo deste artigo, o de compreender como se constitui o gênero redação, tomei como base a proposta de elaboração de modelo didático/teórico do Grupo de Genebra, por isto, a seguir, apresento a definição teórica de modelo didático/teórico.

Modelo didático/teórico

Em uma definição sintética, compreende-se, segundo Koch e Elias (2011), que o modelo didático é um instrumento para explicitar o conhecimento que está implícito em um gênero, ou seja, destina-se a demonstrar, de forma explícita, os elementos ensináveis presentes em um determinado gênero. Tais elementos que se notabilizam por meio de três dimensões: “por referência aos conhecimentos de especialistas; por referência às capacidades dos alunos, às finalidades e objetivos da escola, aos processos de ensino/aprendizagem; por uma junção coerente desses conhecimentos em função dos objetivos visados” (KOCH; ELIAS, 2011, p. 58). Isto é, um modelo é construído levando sempre em consideração as referências sobre eles já delimitadas por especialistas; levando-se em conta ao que é preciso que o aluno aprenda; e qual é o objetivo do professor em/para ensinar um determinado gênero.

Conforme Koch e Elias (2011, p.59) existem duas grandes características que definem um modelo didático: “1.constitui uma síntese com objetivo prático, destinada a orientar as intervenções dos professores; 2. evidencia as dimensões ensináveis a partir das quais diversas sequências didáticas podem ser concebidas”. Dessa forma, fica explícito o quão grande é a necessidade da elaboração de um modelo didático, pois ele promove uma definição precisa sobre quais as dimensões ensináveis de um gênero, isto é, sobre o que é relevante ser observado e transposto ao aluno.

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A partir da mesma concepção, pontua Striquer (2012), que um modelo didático existe devido à necessidade de haver um material pelo qual o professor possa se orientar durante a ação pedagógica de ensinar os diversos gêneros textuais existentes. Isto é, o modelo é um passo anterior à elaboração de materiais didáticos para o ensino do gênero que se pretende tomar como objeto de ensino. Portanto, um modelo didático tem por função desvendar as características principais de um determinado gênero, para que depois o professor possa organizar atividades sistemáticas a fim de ensinar estas características aos alunos. E, para ser possível desvendar tais características os estudiosos do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD)1 elaboraram um conjunto de procedimentos que constitui o método de análise de textos (BRONCKART, [1999] 2009), que consiste no levantamento do contexto de produção dos textos e a análise de sua infraestrutura textual, sintetizado a seguir:

Modelo de análise de textos – Bronckart ([1999] 2009)

Contexto de produção A arquitetura interna

Parâmetros do mundo físico:

-emissor, receptor, espaço e momento em que o texto é produzido;

Parâmetros do mundo social e subjetivo: -elementos da interação comunicativa que integram valores, normas e regras e a imagem que o emissor tem de si ao interagir e de seus receptores;

Dentro do contexto de produção analisa-se também o conteúdo temático do texto, ou seja, o assunto nele tratado, as informações trazidas pelo texto.

Infraestrutura textual:

-plano geral do texto, tipos de discurso, tipos de sequências e outras formas de planificação; Mecanismos de textualização:

-conexão, coesão nominal e coesão verbal (responsáveis pela coerência temática de um texto);

Mecanismos enunciativos:

- vozes e marcação das modalizações presentes em um texto.

A elaboração de um modelo didático do gênero redação de vestibular

Definindo o gênero

A redação é um gênero que está presente em diferentes esferas sociais (BAKHTIN, 2003): vestibulares, Enem, concursos públicos e testes admissionais. Neste trabalho, nos centramos em compreender como se constitui, especificamente a redação de

1 De acordo com Guimarães e Machado (2007), o ISD se constituiu a partir de 1980, com a formação de um

grupo de pesquisa intitulado Grupo de Genebra, coordenado por Jean-Paul Bronckart, e formado por pesquisadores de diferentes disciplinas da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra (Suíça).

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vestibular, isto é, este gênero que materializa/representa a prática social de linguagem de concorrer a uma vaga em um curso de graduação.

Em uma definição precisa, na redação de vestibular: “o aluno defende um ponto de vista, desenvolvendo suas ideias num texto de opinião essencialmente (expositivo) argumentativo” (COSTA, ano, p.84). O importante é provar, por meio da redação, conhecimentos linguísticos, gramaticais e socioculturais, os quais lhe habilitam para ser aluno de um curso de graduação. Esta definição, portanto, evidencia a função social deste gênero.

Considerando o Modelo de análise de um gênero, proposto por Bronckard ([1999] 2009), acima exposto, um dos elementos do contexto de produção que precisa ser conhecido em suas especificidades é o autor, e no caso do gênero redação o autor é um indivíduo “que produz fisicamente o texto”, chamado por Bronckart (2003, p.93) de produtor. O autor da redação de vestibular já, obrigatoriamente, deve ter o ensino médio, e que está objetivando uma vaga para ingressar na universidade. Este indivíduo é, geralmente, denominado de candidato, e deve ter ciência de que produz a redação para um interlocutor, ou na terminologia de Bronckart (2003), o receptor, que é “a (ou as) pessoa(s) que pode(m) perceber (ou receber) concretamente o texto” (BRONCKARD, 2003, p.93).

No caso da redação de vestibular, de forma específica, os interlocutores são as pessoas que irão avaliar a produção do candidato, a fim de verificar se ele (o candidato) atingiu os requisitos propostos pelo vestibular. Este interlocutor não é, frequentemente, um indivíduo apenas, mas sim uma banca avaliadora de professores especialistas na área de língua portuguesa, como também, estão presentes professores de diferentes disciplinas que prestam suporte, quando necessário. Ou seja, o candidato deve considerar em seu texto os conhecimentos altamente especializados da banca que irá avaliar o seu texto.

Em relação ao espaço físico, o lugar de produção, como designa o Bronckart (2003), este refere-se ao “o lugar físico em que o texto é produzido”, e o momento da produção da redação, que é “a extensão do tempo durante a qual o texto é produzido”, vale ressaltar que esses fatores contribuem, na maioria das vezes, de maneira negativa para o candidato, isto é, para que o candidato alcance seu objetivo de uma forma mais tranquila, sem estresses, pois a sala de aula, o auditório e os demais locais destinados para realização da prova, somado ao tempo limitado intimida o candidato na produção de um texto coeso, coerente, que se enquadre dentro dos componentes que o formam. Por este motivo, o candidato deve se preocupar em além de conhecer todos os elementos que constituem este

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gênero, se preocupar em treinar a produção deste gênero dentro do tempo destinado a sua elaboração e escritura.

Dentro do contexto de produção, analisa-se também o conteúdo temático, que de acordo com Bronckart (2003, p. 97), “pode ser definido como o conjunto das informações que nele são explicitamente apresentadas, isto é, que são traduzidas no texto pelas unidades declarativas da língua natural utilizada”, tratado por este gênero, o qual é um dos elementos que estão indissoluvelmente ligados ao todo do enunciado (BAKHTIN, 2003), junto à construção composicional e ao estilo. De acordo com Zanutto e Oliveira (2004), existe sempre a necessidade de se observar “o que se dizer” para posteriormente o “como dizer”, e no caso do gênero redação de vestibular, o que dizer, isto é, conteúdo temático, geralmente, está ligado aos assuntos que circulam na mídia nacional, aos temas atuais de caráter polêmico, por este motivo a tipologia empregada, predominantemente, é a expositiva/argumentativa.

Como forma de dirigir o candidato a tratar, a argumentar sobre o tema proposto, o enunciado sobre a redação é composto de diferentes textos, chamados, comumente, de textos de apoio. Para exemplificar esta afirmativa apresento os temas de apoio oferecidos na última prova de vestibular da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), do ano de 2013.

Observamos que o enunciado da prova de redação de vestibular do ano de 2013, reproduzido a seguir, oferece ao candidato diferentes gêneros textuais: um trecho da Constituição Federal Brasileira, um trecho de reportagem publicado em jornal impresso, uma entrevista publicada em revista, duas listas publicadas em sítios da internet, sugeridos como apoio ao tema. Desse modo, o candidato, a partir destes textos, além de compreender o tema, deve, sem transcrevê-los ou imitá-los, construir o seu próprio texto. O tema se refere à igualdade entre os sexos e a posição que a mulher vem construindo/ocupando na sociedade.

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Figura 1 – Prova de redação do vestibular da UENP de 2013.

I

Considerações finais

A partir dos estudos realizados neste artigo, concluo que o objetivo de aprender os elementos ensináveis dentro do gênero redação de vestibular foram alcançados. Fundamentada na teoria dos gêneros discursivos do teórico russo Mickhail Bakhtin (2011), foi possível compreender o conceito, a necessidade e a utilidade de um modelo didático,

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ferramenta essa que auxilia a transposição didática e aplica/sugere as características ensináveis do gênero em que se pauta. Sendo assim, também, por meio de análise do contexto de produção proposto por Bronckart (2009), foi possível demonstrar, de forma particularizada, o gênero tomado como objeto de ensino, redação de vestibular, de maneira a desvendar/apontar suas especificidades em relação à estrutura e função social.

Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 6.ed.São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.

BRONCKART, J.P. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: EDUC, 2003.

COSTA, S.R. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008. KOCH, I.G.V. Desvendando os segredos do texto. 7.ed. São Paulo: Cortez, 2011. KOCH, I.G.V.; ELIAS, V.M. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3.ed. São Paulo: Contexto, 2011.

STRIQUER, M.S.D. Uma proposta de modelização do gênero textual artigo de opinião. IX Seminário de Iniciação Científica Soletras. Jacarezinho/Pr, 2012. Anais... Jacarezinho/2012. ZANUTTO, F.; OLIVEIRA, N.A.F. O gênero redação de vestibular: o que prova essa (re)produção textual? MATHESIS - Rev. de Educação - v. 5, n. 1 - p. 83 - 103 - jan./jun. 2004.

Para citar este artigo:

BUCKTA, Marta Aline. Um modelo didático/teórico do gênero redação de vestibular. In: X SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários. 2013. Anais... UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2013. ISSN – 18089216. p. 506 – 513.

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