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GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS AMBIENTAIS QUATERNÁRIOS: DEPÓSITOS ARENOSOS E AQUÍFERO SEDIMENTAR NA BAIXADA DE SEPETIBA - RJ

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GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS AMBIENTAIS QUATERNÁRIOS: DEPÓSITOS ARENOSOS E AQUÍFERO SEDIMENTAR NA BAIXADA DE SEPETIBA - RJ Simone Lisboa dos Santos da Silva (Mestranda PPGG/UFRJ; simone.lisboa.geo@gmail.com)

Telma Mendes da Silva (Deptº de Geografia UFRJ; telmendes@globo.com) Introdução

Considerando que a configuração geomorfológica do Estado do Rio de Janeiro é complexa e diversificada, haja vista sua abrangência desde regiões de serras e depressões interplanálticas à região dos maciços litorâneos, o que lhe proporciona uma ampla variação de ambientes e ecossistemas; podemos notar que este possui um elevado potencial ambiental, tanto do ponto de vista paisagístico quanto pela apropriação de outros bens naturais. Embora tal diversidade no relevo não seja exclusiva ao território fluminense, este desempenha um papel bem representativo a respeito de questões e conflitos ambientais comuns aos grandes centros urbanos brasileiros. Questões estas representadas por conflitos de interesses e poderes devido à distribuição e uso (desiguais) dos recursos ambientais. Neste sentido, o conhecimento das dinâmicas ambientais assim como da capacidade de suporte dos ambientes tornam-se cruciais para que se estabeleçam padrões e regras de aproveitamento dos recursos ambientais.

Ainda que a apropriação destes recursos pela sociedade se faça de variadas formas, a mais tradicional e emblemática delas é a exploração mineral. Atividade na qual os aspectos negativos são mais visíveis e pronunciados devido ao seu caráter extrativo e intensivo, pois grandes são os volumes de materiais retirados e mobilizados, interferindo sobremaneira na dinâmica dos ambientes. Entretanto, do ponto de visto estratégico, a exploração mineral faz-se necessária como fonte supridora de grande parte dos insumos da cadeia produtiva. No que tange à atividade mineral fluminense, além da produção de petróleo e gás realizada no Norte do Estado, a qual ganha destaque pela relevância econômica e grande capital investido; temos ainda a exploração de fontes hidrominerais e agregados para construção civil (areia, pedra, brita) em diversas áreas do território.

Contudo, consideramos que o patrimônio natural fluminense refere-se muito mais aos ambientes e sub-ambientes de produção destes e de outros vários recursos, do que propriamente aos materiais produzidos. A partir deste entendimento, o presente trabalho trata da gestão integrada, não unicamente de um determinado recurso, e sim de um ambiente peculiar de ocorrência de recursos ambientais quaternários: as planícies fluviais e flúvio-marinhas da baixada de Sepetiba, a qual destaca-se pela produção de areia para indústria de construção civil, pelo abastecimento hídrico de boa parcela da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) e pela presença de um aquífero sedimentar quaternário, o qual tem considerável relevância para o abastecimento da comunidade local da própria Bacia do Guandu.

Ao falarmos dos recursos ambientais estamos nos referindo não somente ao caráter econômico ou utilitário que possuem, mas principalmente aos aspectos relacionados à qualidade ambiental que estes

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proporcionam. Sendo assim, a gestão dos recursos hídricos revela-se fundamental para a gestão ambiental integrada, visto que a água é bom indicador ambiental, pois sua qualidade e quantidade estão associadas às interações físicas, químicas e bióticas que ocorrem no âmbito das bacias hidrográficas, unidade que possui um significado geomorfológico e político reconhecido.

O presente trabalho trata particularmente dos ditos recursos ambientais quaternários, tendo em vista que temos como área de estudo a Baixada de Sepetiba e, por conseguinte a bacia hidrográfica associada, a Bacia da Baía de Sepetiba e respectivas sub-bacias; além do Aquífero Piranema. Tais feições e materiais relacionados caracterizam-se como recursos quaternários tendo em vista que sua gênese e evolução estão completamente associada a este Período Geológico de aproximadamente 1,81 Ma., no qual houve um expressivo retrabalhamento do modelado do relevo na região Sudeste do Brasil, sobretudo nas feições fluviais devido principalmente à intensidade das variações climáticas, as quais repercutiram em elevadas taxas de pedogênese e morfogênese, na evolução da rede de drenagem e respectivas migrações de nível de base, assim como no nível dos oceanos (SUGUIO, 1999).

Apresentamos como objetivo específico a elaboração de um banco de dados geográficos baseados em planos de informações que abarquem temas de variadas naturezas, fisiográficas e sociais, admitindo assim, que o processo de gestão ambiental é inerentemente territorial, tal como nos mostra Pires do Rio & Galvão (1996) ao definir o termo como “um instrumento operacional para o gerenciamento de unidades espaciais, tais como as bacias hidrográficas ou ainda como instrumento de política territorial associado ao planejamento”. Neste sentido, os maiores avanços em termos de gestão integrada têm sido protagonizados pela gestão dos recursos hídricos que tem como especificidade a definição de um recorte espacial específico, a bacia hidrográfica. Tal recorte tem demonstrado ser bem apropriado às análises ambientais, tanto por representar a unidade fundamental de evolução geomorfológica, como pela sua institucionalização, através da Lei 9433/97 (PNRH) como arena de decisão, principalmente com a atuação dos comitês de bacia.

Materiais e Método

Na elaboração do banco de dados geográficos recorreu-se como plano de informação primário aos mapas geomorfológicos produzidos por Silva (2002) em escala de semi-detalhe (1:50.000) utilizando a técnica de cálculo da amplitude altimétrica (h) proposta por Meis et al. (1982). Como plano de informação sobre a drenagem e delimitação das bacias e sub-bacias hidrográficas foram utilizados os dados da Fundação CIDE - Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro, enquanto para os dados sobre infraestrutura viária e uso e cobertura do solo do Estado do Rio de Janeiro foram utilizadas as bases cedidas pelo Grupo ESPAÇO/UFRJ, coordenado pela Prof.ª Carla Madureira. Utilizou-se também os planos de informações sobre as bases e limites territoriais fornecidas pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (www.ibge.gov.br). Além da tentativa de tentar articular os dados cadastrais disponibilizados por instituições como o CPRM – Serviço Geológico do Brasil, através do

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portal GEOBANK (www.geobank.sa.cprm.gov.br) o DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral e o próprio Comitê Guandu. Tais planos de informações foram tratados e integrados através do software ArcGis 9.2, resultando assim em mapas geomorfológicos que conjugam a distribuição espacial e areal dos ambientes de sedimentação quaternária com outros dados ambientais e cadastrais úteis ao processo de gestão ambiental baseado em princípios de avaliação, controle e recuperação. A questão metodológica que permeia a análise realizada se refere a escala que pode se mostrar mais adequada à gestão ambiental integrada, visto que os limites de atuação e abrangência dos fenômenos estudados variam de acordo com a problemática enfatizada. Neste contexto, Egler et al. (2003) propõem a utilização de três escalas articuladas que envolvem níveis de análise distintos: a) a concepção estratégica, onde seriam mapeadas as condicionantes gerais da dinâmica socioambiental; b) a visão logística, a qual detalharia as bacias hidrográficas fornecendo informações de aproximação imediata; e c) a definição tática para reconhecimento das principais unidades espaciais, fornecendo assim informações em detalhe. Estes autores ainda pontuam que “o zoneamento ambiental é uma fator decisivo na articulação entre as diversas agendas, desde que considerado como um sistema de informações para a gestão integrada do território”. Portanto ele não deve ser visto apenas como um instrumento de restrição, mas sim de regulação social do uso dos recursos naturais e ecológicos. A partir de adaptações metodológicas, estabeleceu-se que ao nível da concepção estratégica identificaria-se as áreas de acumulação da sedimentação quaternária favoráveis ao reconhecimento de depósitos arenosos potenciais à atividade mineral; ao nível da visão logística realizam-se as análises de fatores que viabilizem a produção e seu escoamento, como presença e condições da infraestrutura viária, tipos de uso do solo, pertencimento a zonas especiais de desenvolvimento e investimentos, bem como outros aspectos territoriais e institucionais; enquanto que ao nível da definição tática buscar-se-á análises mais detalhadas da dinâmica socioambiental de cada bacia individualmente, sendo utilizadas múltiplas escalas cartográficas de acordo com o nível de refinamento pretendido para as análises.

Resultados e Discussões

Desta maneira, as análises realizadas assinalam que embora haja amplas áreas com disponibilidade de depósitos arenosos na Bacia do Guandu, considerando parâmetros areais e de profundidade, a atividade exploratória concentra-se no setor oeste desta bacia, correspondente a grande extensão do Aquífero Piranema. Demonstrando que ações de manejo de ambos os tipos de recursos devem ser integradas e complementares, sobretudo na etapa de recuperação das áreas degradadas, exigida pelo TAC – Termo de Ajustamento de Conduta Ambiental, na qual as principais propostas fundamentam-se na refuncionalização das cavas, as quais transformam-se em lagoas profundas devido ao fato de a exploração das cavas persistir mesmo atingindo o lençol freático. Assim, evidencia-se a vulnerabilidade do aquífero que tornando-se mais suscetível tanto a alterações na dinâmica

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hidrogeológica (nível freático) quanto físico-químicas de suas águas comprometem o abastecimento da população local.

Dentre as possibilidades de recuperação previstas já se pode observar algumas iniciativas, principalmente apoiadas pelo IEF – Fundação Estadual de Florestas, no sentido de se reflorestar tanto as margens como os trechos mais próximos a calha fluvial do Guandu. No entanto, esta opção ainda não atende a problemática sobre a exposição do aquífero aos impactos negativos da exploração mineral. Sendo assim, outra via que se vislumbra para minimizar o impacto sobre o aquífero seria através da redução dos volumes de material arenoso retirados desta bacia. Para tanto, se faz necessária a identificação de outras áreas produtivas.

Aliada a esta questão, com a implementação do TAC, espera-se que haja um maior rigor nas normatizações e fiscalizações das unidades extrativas já estabelecidas. Assim, diante de perspectivas de redução na produção de areia na Bacia do Guandu, bem como a proliferação dos conflitos em torno dos recursos hídricos da bacia, aqui propõe-se a análise de outras áreas que se apresenta, em um primeiro momento, como potencialmente produtoras deste bem mineral. Não espera-se que as bacias propostas venham substituir a produção já existente, mas sim complementar, no sentido de minimizar os impactos negativos causados pela mineração, os quais relacionam-se diretamente a três fatores: a) grandes volumes de material retirados; b) práticas intensivas e predatórias de exploração; e c) ausência de medidas de manejo e recuperação da áreas degradadas . Deste modo, além de um maior número de pontos de exploração o que se busca é que, ao se implementar novas unidades de extração, estas já pratiquem desde suas atividades primárias (por exemplo, no decapeamento que é a remoção do material sem valor econômico, e consequentemente da vegetação e do solo orgânico) um manejo ambiental sustentado. De tal modo, que a partir de estudos técnicos prévios já se estabeleça os limites para a exploração e assim sendo, já se preveja um tratamento dos impactos associados, o que reduz custos de recuperação ambiental e amplia as possibilidades de uma reutilização produtiva para o terreno.

Nestas análises, o primeiro aspecto que se destaca é o fato de grande parte das feições quaternárias identificadas coincidirem com as áreas de ocupação e expansão urbana. Fato já esperado, tendo em vista que tais terrenos associam-se às baixadas, com suas formas planas e suaves, que facilitam a ocupação e construção. Assim, temos que, embora teoricamente o recurso mineral areia seja abundante na superfície terrestre, os locais de seus depósitos já apresentam outros usos que impedem sua exploração. Desta maneira, um fator preponderante nas análises de áreas propícias a esta atividade é o requerimento de se ter uma fraca ocupação urbana, mas ainda assim estarem inseridas numa rede de infraestrutura que facilite o escoamento da produção, e assim não encareça o produto. Portanto, certo grau de afastamento do núcleo central é recomendado, pois estas áreas apresentam usos de solo mais densos e restritivos, entretanto exige-se que tal afastamento respeite os limites impostos pelos custos de transporte.

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Neste sentido, as grandes bacias que se apresentam inseridas nesta rede de infraestrutura que drena para a RMRJ, o grande núcleo consumidor dos recursos ambientais tratados aqui, são a Bacia da Baía de Sepetiba, a Bacia da Baía de Guanabara, e o grupo de Bacias Contribuintes ao Complexo Lagunar de Jacarepaguá. A princípio, somente as duas primeiras bacias atenderiam o requerimento de usos de solo menos densos e restritivos, visto que o grupo de Bacias Contribuintes ao Complexo Lagunar de Jacarepaguá está completamente inserido na área central do município do Rio de Janeiro. Ficando, portanto as duas primeiras bacias como mais indicadas, devido a maior extensão areal e a história evolutiva geomorfológica muito semelhantes, com consideráveis percentuais da área de sedimentação quaternária.

Em síntese, podemos ressaltar que estrategicamente, as áreas de sedimentação quaternária apesar de amplas, coincidem em grande parte com os núcleos urbanos, densamente ocupados, tendo, no entanto, algumas bacias de interesse com usos de solo mais apropriados; analisando pelo viés logístico, áreas que não estejam conectadas ao centro consumidor (RMRJ) são descartadas para este fim, devido aos custos impeditivos de transporte da produção; e no nível tático de análise, as bacias previamente selecionadas devem ser objeto de estudos detalhados visando à compreensão de sua dinâmica ambiental e, assim, procurando a avaliação da viabilidade (ou não) de implantação da atividade mineral.

Conclusões

O presente trabalho apresentou resumidamente um panorama geral a respeito da gestão dos recursos ambientais quaternários associados aos ambientes fluviais. No entanto, tendo em vista a relevância da questão e os desdobramentos políticos que ela possui, análises mais específicas são requeridas. Assim destaca-se que as futuras etapas, ao nível logístico e tático, para este trabalho referem-se a mapeamentos mais refinados a respeito de algumas sub-bacias indicadas, isto é, aquelas que conjuguem os parâmetros geomorfológicos, estruturais e políticos mais favoráveis a implantação da atividade mineral; investigações geofísicas de perfis de eletrorresistividade para se analisar a espessura e composição dos pacotes sedimentares das bacias sugeridas; bem como as respectivas análises granulométricas das áreas estudadas; e complementarmente discussões metodológicas com os diversos agentes envolvidos (comitês, produtores, usuários, poder público) a respeito de soluções sustentáveis e viáveis para a questão.

Referências Bibliográficas

EGLER, C. A. G.; CRUZ, C. B. M.; MADSEN, P. F. H.; COSTA, S. M.; SILVA, E. A. Proposta de Zoneamento Ambiental da Baía de Guanabara. Anuário do Inst. Geociências/UFRJ, Rio de Janeiro, v. 26, 2003 (p. 127-138). PIRES DO RIO, G. A. & GALVÃO, M. C. C. Gestão ambiental: apontamentos para uma reflexão. Anuário do Instituto de Geociências/UFRJ, Rio de Janeiro, v. 19, 1996. (p. 35-44)

SILVA, T. M. A Estruturação Geomorfológica do Planalto Atlântico no Estado do Rio de Janeiro. Tese Doutorado. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002. [264 p.]

SUGUIO, K. Geologia do Quaternário e mudanças ambientais: (passado+presente= futuro?). São Paulo: São Paulo’s Comunicação e Artes Gráficas, 1999. [366 p.]

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