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Proposta de intervenção no rio Paiva

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Academic year: 2021

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Proposta de intervenção

no rio Paiva

Inserido no projecto LIFE10 NAT/PT/073 “Management of riparian

habitats towards the conservation of endangered invertebrates”

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Índice

1. Introdução... 2. Os ecossistema ribeirinhos... 3. Caracterização e contextualização da área do projecto... 3.1. Localização... 3.2. Hidrologia... 3.3. Litologia e Pedologia... 3.4. Biogeografia... 3.5. Unidades de vegetação... 3.6. Usos do solo... 3.7. Caracterização dos elementos hidromorfológicos... 4. Metodologia de trabalho... 5. Intervenções no rio Paiva... 5.1. Identificação de situações críticas... 5.2. Técnicas a aplicar nas intervenções propostas... 5.2.1. Limpeza da linha de água... 5.2.2. Controle de plantas com caracter invasivo... 5.2.3. Controle do estrato herbáceo... 5.2.4. Gestão da vegetação ripícola natural... 5.2.5. Estabilização e consolidação de margens... 5.2.6. Remoção de resíduos... 5.3. Diversificação de habitats... 6. Acções de manutenção das intervenções... 8. Bibliografia de apoio... Anexo I - mapas com localização das intervenções

Anexo II - ficha de campo utilizada na aplicação do River Habitats Survey

Pág. 5 6 9 9 9 10 10 11 12 12 16 17 17 23 23 25 26 27 30 33 33 42 43

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Índice de Figuras

Figura 1 – Perfil tipo de uma linha de água... Figura 2 – Localização geral da área de estudo... Figura 3 – Mapa com a localização do troço a intervencionar... Figura 4 – Mapa de descontinuidadas no estrato arbóreo do corredor ripário, com base no

ortofotomapa... Figura 5 – Maçico de silva (Rubus sp.) na margem esquerda... Figura 6 - Exemplar de acácia no meio da vegetação... Figura 7 - Ailanthus junto a àrea adjacente ao corredor ripícola... Figura 8 - Exemplo de controle do corredor ripícola que é feito em alguns locais adjacentes

aos campos agrícolas... Figura 9 - Exemplo de corredor ripícola reduzido à componente arbustiva devido a corte raso das árvores... Figura 10 - Local de deposição regular de resíduos de construção civil (DR1)... Figura 11 - Local com deposição de resíduos de construção civil (DR2)... Figura 12 - Acumulação lateral de resíduos lenhosos... Figura 13 - Tronco de árvore morto em posição transversal no leito, provocando o desvio da

corrente... Figura 14 - Ramo de salgueiro com desenvolvimento horizontal sobre o leito do rio... Figura 15 - Árvore sem suporte que exige um corte raso. (extraído de Jund, et al., 2000)... Figura 16 - Situação em que a localização desadequada exige uma remoção por corte raso.

(extraído de Jund, et al., 2000)... Figura 17 - Forma de corte para evitar a formação de rachas e outras feridas. (extraído de

Flo-rineth, 2004)... Figura 18 - Situação em que se deve proceder ao corte de ramos de forma selectiva. (extraído

de Jund, et al., 2000)... Figura 19 - Pormenor da execução e aplicação das faschinas vivas ou mortas... Figura 20 - Pormenor da aplicação da manta de geotêxtil acompanhado de estacaria,

forman-do um muro verde... Figura 21 - Exemplo de um estrutura de deflector em asa. (extraído de Cowx e Welcomme, 19

98)... Figura 22 - Esquema de um empoçamento lateral. (extraído de Vieira, 1998)... Figura 23 - Mapa de localização dos leitos antigos a reconectar...

Pág. 6 9 17 19 20 20 20 21 21 22 22 22 22 22 24 24 28 28 30 32 32 34 36

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1. Introdução

O desenvolvimento da presente proposta de intervenção no Rio Paiva, enquadra-se no projecto co-financi-ado pelo programa comunitário LIFE+, com a referência LIFE10 NAT/PT/000073, designco-financi-ado “ECOTONE – Management of riparian habitats towards the conservation of endangered invertebrates”. Na base de in-tervenção do mesmo, está a implementação de uma gestão activa do habitat prioritário – 91E0* Florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior (Alno-Padion, Alnion incanae, Salicion albae) – de forma a incrementar as populações de odonatos (Oxygastra curtisii, Gomphus graslinii and Macromia splendens) e melhorar o estatuto de conservação das populações de naíades ameaçadas, no caso do rio Paiva a Marga-ritifera margaMarga-ritifera .

Para alcançar os objectivos propostos, pretende-se aumentar da área de ocupação dos bosques e poten-ciar os fenómenos catenais, utilizando um cortejo florístico diversificado para favorecer a biodiversidade, através de alterações micro-topográficas que visam criar fenómenos de hidromorfia permanente, para tor-nar os amiais mais espessos e meandrizados, para que se disponham em mosaico com charcas temporárias e depósitos de sedimentos. Ao fomentar a heterogeneidade de formas, das condições hidráulicas e propor-cionando melhoramentos na sua composição e estrutura, pretende-se potenciar/proporcionar a existência de micro-habitats adequados à instalação de organismos esciófilos (náiades, alevins de peixes, pteridófitos) ou heliófilos (odonatos, alguns macrófitos).

Pretende-se igualmente melhorar o habitat existente, nomeadamente através de intervenções físicas que visam o redireccionamento da corrente para certas zonas, a diversificação das velocidades da corrente, da temperatura da água e a remoção de sedimentos finos de zonas de gravilha e cascalho, com a intenção de proporcionar condições de micro-habitat para náiades e melhorar a interacção entre estas e os peixes hos-pedeiros das suas larvas.

Com o presente documento pretende-se solicitar autorização para intervir, entre o mês de Setembro de 2012 e o mês de Dezembro de 2014, no troço identificado e aplicando as técnicas adiante descritas.

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2. Os ecossistemas ribeirinhos

Os ecossistemas ribeirinhos são importantes corredores de conectividade de fluxos biológicos, de matéria e energia e, ainda, de malhas que permitem a identificação de distintos aspectos morfológicos, cénicos e paisagísticos. A base de um ecossistema ribeirinho é uma linha de água que possui uma capacidade de suporte a populações vegetais, animais e humanas, e que apresenta dinamismo e complexidade muito próprias. Uma vez que os cursos de água são elementos vitais, estruturantes e dinamizadores da paisagem, com grande riqueza e diversidade ecológica, torna-se evidente a necessidade e a importância que existe em protegê-los, assegurando a sua sustentabilidade ecológica. De acordo com o INAG (2001), existe uma afectação directa do desenvolvimento das diferentes componentes relacionadas com um curso de água, havendo necessidade de compatibilizar o ecossistema com a capacidade das biocenoses com os aproveitamentos humanos, tentando optimiza-los através da manutenção do curso de água em estado de equilíbrio.

As linhas de água apresentam susceptibilidade, considerando o seu potencial natural, ou seja, existe um limiar de utilização e intervenção, para além do qual o seu excesso provoca degradação. O uso excessivo debilita diversas funções intrínsecas à linha de água, com efeitos negativos para o próprio Homem, promovendo desequilíbrios no ecossistema, tanto a nível ecológico como físico. A possível combinação destes desequilíbrios provoca importantes impactos na biodiversidade, nomeadamente:

• Afastamento ecológico de indivíduos e populações faunísticas; • Alteração e perda de habitats;

• Mudança de comportamento das espécies; • Efeitos de barreira e isolamento de espécies; • Aparecimento de plantas infestantes e pragas; • Alterações na cadeia trófica;

• Alterações no regime de caudais (cheias, secas, erosão, assoreamento, entre outros); • Diminuição da vegetação ripícola.

Para melhor se entender os desequilíbrios a que estão sujeitos os sistemas ribeirinhos, bem como analisar as suas consequências, importa definir quais os subsistemas que os formam e a respectiva importância para o equilíbrio geral. Assim, um sistema ribeirinho é constituído por: Leito (1), Corpo de Água (2), Galeria Ripícola (3), Margens (3a), Sistema Antrópico (4)

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Leito (1) – espaço físico ocupado pelas águas e que apresenta extensão variável, ao longo do ano, dependendo

do caudal que apresente. É possível distinguir 4 níveis de caudal, que correspondem, desta forma, a diferentes extensões do rio:

a) Nível normal de cheia: altura do escoamento máximo anual, na época de maior precipitação; b) Nível médio: altura média do escoamento, ao longo do ano;

c) Nível máximo de cheia ou leito maior: é a zona inundável, calculada em função de um determinado período de retorno. Uma inundação ocorre quando o nível das águas ultrapassa os limites do nível normal de cheia, submergindo a área circundante, ou seja, a planície de inundação;

d) Nível de estiagem ou leito menor: altura do escoamento mínimo anual, na época de menor precipitação. As características do leito são responsáveis pelo surgimento de vários habitats para a fauna, devido à forma como os elementos físicos do fundo do leito se dispõem, oferecendo à ictiofauna e fauna anfíbia, diferentes possibilidades de utilização deste espaço (INAG, 2001).

Corpo de Água (2) – é o elemento central do corredor ecológico e apresenta uma dinâmica muito acentuada,

cumprindo funções de transporte de materiais provenientes da bacia hidrográfica.

Este subsistema possibilita a existência de flora e fauna distintas da envolvente, nomeadamente a ictiofauna, herpetofauna e mamíferos que dependem da água corrente. A flora apresenta um elenco florístico distinto, transversalmente, em função dos diferentes gradientes de humidade. A água possibilita, ainda, a utilização humana para diversos fins (agricultura, energia, abastecimento, recreio, entre outros) e a sua qualidade é fundamental para a sustentabilidade dos sistemas ribeirinhos e para as actividades humanas.

Galeria ripícola (3) – é o conjunto da vegetação que se desenvolve longitudinalmente, acompanhando

o curso de água1. Este subsistema é muito diverso em habitats, comunidades e, em muitos casos, ocupa parcialmente o leito, com especial incidência nas margens, podendo ocupar uma faixa mais ou menos estreita. As suas principais funções são:

a) Fonte de alimento e abrigo para a fauna terrestre e anfíbia;

b) Redução do teor de nutrientes dissolvidos e em suspensão, pela capacidade de filtração e remoção de nutrientes;

c) Diminuição da luminosidade;

d) Diminuição da temperatura da água; e) Estruturação do vale;

f) Função paisagística;

g) Consolidação das margens, protecção da erosão.

O elenco florístico, a estrutura e a disposição das galerias ripícolas são, principalmente, determinadas por factores hidrológicos, clima, relevo e características do solo. De uma forma geral, caracterizam-se por possuírem maior diversidade estrutural e específica do que as comunidades vegetais das áreas envolventes, e são frequentemente dominadas por árvores e arbustos de grande porte, sendo bastante férteis e produtivas em termos de biomassa, característica que resulta, entre outros factores menos visíveis, da deposição no solo dos sedimentos transportados pela água quando esta invade as margens (Fabião & Fabião, 2006). A densidade da vegetação ripícola, a sua composição florística, o estado de desenvolvimento das plantas nela existentes e a época do ano, são determinantes para o grau de eficiência da galeria ripícola como filtro de nutrientes e de micro-poluentes.

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Como já se referiu, a vegetação ripícola ao ocupar as margens do leito, cumpre, também, funções de consolidação, pelo que se assiste a uma relação muito estreita entre estes dois subsistemas, na medida em que quando a galeria ripícola está bem desenvolvida, a capacidade erosiva dos caudais de ponta de cheia não é suficiente para alterar o traçado do leito e das margens de forma significativa. Por outro lado, em zonas onde a galeria ripícola não está bem desenvolvida ou estruturada, os caudais de ponta de cheia, ao extravasarem as margens, podem destruir as margens do curso de água, comprometendo o equilíbrio do ecossistema ribeirinho (Fabião & Fabião, 2006).

As margens (3a) de um curso de água estabelecem uma transição entre os meios terrestre e aquático, no qual os processos fluviais de inundação periódica, sedimentação e erosão, desempenham um papel determinante na génese dos ecossistemas. As margens podem ser mais ou menos declivosas ou estáveis, sendo que, é a instabilidade das margens que, possivelmente, limita a secção do leito e afecta negativamente o escoamento.

Sistema antrópico (4) – a acção humana é, muitas vezes, considerada como um dos factores responsáveis

por mudanças na distribuição de matéria e energia dentro dos sistemas, modificando o seu equilíbrio. O sistema antrópico, que se desenvolve ao longo dos cursos de água, é caracterizado pela maior ou menor intervenção humana. Porém, estes agrosistemas contribuem, muitas vezes, para a diversidade da fauna que se encontra nestes habitats locais de alimentação, refúgio e de reprodução (INAG, 2001). O estado de conservação da zona marginal de um rio é um elemento chave no funcionamento do ecossistema fluvial e na qualidade da água.

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3. Caracterização e contextualização da área do projecto 3.1. Localização

A área de intervenção do presente projecto situa-se no centro de Portugal continental (entre os paralelos 400 53´48.08´´ N e 400 55´10.23´N e os meridianos 70 ´56´22.00´ O e 80 1´38.76´´ O, vide figura 2). Corres-ponde a um troço com aproximadamente quinze quilómetros de extensão, no rio Paiva, distando o mesmo do Oceano Atlântico cerca de 60 quilómetros.

Fig. 2 - Localização geral da área de estudo.

Tendo por base as divisões administrativas, a área do projecto encontra-se localizada no distrito de Viseu mais precisamente no concelho de Castro Daire. Do ponto de vista de conservação, a área a intervir encon-tra-se inserida no Sítio de Importância Comunitária, Sítio PTCON0059 Rio Paiva, criado de acordo com a Resolução do Conselho de Ministros n.º 76/00 de 5 de Julho (ao abrigo da Directiva Habitats).

3.2. Hidrologia

O rio Paiva é um importante afluente da margem esquerda do Douro, que desemboca no curso principal próximo de Castelo de Paiva. De acordo com a classificação das massas de água do INAG (2008), está inserido na categoria de “Rios do Norte de Média - Grande Dimensão”. Têm uma distribuição ampla, limitada a Sul pelas Serras da Lousã e da Gar-dunha e a Sudoeste pela Ria de Aveiro. Estes rios encontram-se em zonas com temperatura média anual baixa (cerca de 12 a 13 ºC em média) e precipitação média anual relativamente elevada (cerca de 1200 mm em média) no contexto climático do território de Portugal Continental. Os cursos de água desta categoria localizam-se a baixas e médias alti-tudes (cerca de 270 m em média), no caso específico do troço em questão a altitude varia entre os 290 e os 452 metros. Quanto ao escoamento médio anual, este varia de 300 a 800 mm.

Este tipo de rios reflecte o clima do Norte do País, com precipitações elevadas e temperaturas baixas, sem atingir os valores extremos que se observam nos Rios Montanhosos do Norte.

±

0 40 80 160 Quilometros

±

Legenda Área do Projecto SIC rio Paiva Concelho Castro Daire 0 4,25 8,5 17

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3.3. Litologia e pedologia

A região enquadra-se no soco hercínico da Península Ibérica, na Zona Centro-Ibérica (ZCI). A zona Cen-tro-Ibérica caracteriza-se do ponto de vista estratigráfico pela presença de um complexo de xistos e grau-vaques ante-ordovícicos, pela presença de ordovícico gresoso na base e xistento no topo, discordante so-bre os terrenos ante-ordovícicos, silúrico com xistos negros, devónico nerítico, pouco espesso e carbónico continental. Outra característica importante da Zona Centro Ibérica é o desenvolvimento de magmatismo contemporâneo da orogénese que se distribui espacialmente segundo arcos que sublinham zonas de ciza-lhamento dúctil anteriores.

Ao nível litológico, o rio Paiva corre sobre diversos materiais, sobretudo em rochas granitóides, nos locais em que o leito é pouco sinuoso até aos metassedimentos, nos locais de maior meandrização. Na área de intervenção do projecto, segundo Vieira (2001) de Castro Daire até Ermida o rio corre sobre rochas grani-tóides, só voltando a percorrê-las num pequeno troço correspondente ao Granito de Alvarenga e, na parte terminal, sobre os Granitos de Fornelos e de Fornos. O resto do percurso é realizado maioritariamente sobre o Complexo Xisto-Grauváquico (afloramento de Parada de Ester) e sobre os metassedimentos ordovícicos, silúricos e carbónicos, do sinclinal de Valongo-Sátão.

A nível regional, segundo descreve Monteiro-Henriques (2011), não existe muita informação sobre os solos. Contudo, o mesmo autor refere que estes serão solos relacionados com a desagregação em profundidade de granitos, como tal do tipo regassolos e leptossolos nas áreas de sedimentos, isto segundo a proposta de classificação da FAO.

3.4. Biogeografia

Segundo a mais recente cartografia biogeográfica de Portugal continental (Costa et al. 1998) a área de in-tervenção encontra-se inserida na região Eurossiberiana, sector Galaico-Português, Super distrito Miniense Litoral. Localizando-se o Super distrito Miniense Litoral no Subsector Miniense, citando Costa et al., (1998), este Subsector é um território predominantemente granítico. Em termos bioclimáticos, é temperado hiper--oceânico ou oceânico, grande parte posicionado nos andares termo temperados e meso temperados de om-broclima húmido a hiper- húmido. A vegetação climácica é constituída pelos carvalhais meso temperados e termo temperados de Rusco aculeati-Quercetum roboris quercetosum suberis que sobrevivem em pequenas bolsas seriamente ameaçadas. São característicos os giestais de Ulici latebracteati-Cytisetum striati e os tojais endémicos de Ulicetum latebracteato-minoris e Erico umbellatae-Ulicetum latebracti, nos solos graníticos, e de Erico umbellatae-Ulicetum mictranthi, próprio de solos esqueléticos de xistos. Próximo da fronteira leste do subsector ocorrem ainda os tojais de Ulicieuropaei-Ericetum cinereae e mais localmente os urzais de Ulici minori-Ericetum umbellatae. Os solos hidromórficos são o habitat dos urzais higrófilos Cirsio filipenduli--Ericetum ciliaris e Genisto berberideaefilipenduli--Ericetum tetralicis. Em mosaico com os urzais mesófilos é frequente o arrelvado anual de Airo praecocis-Sedetum arenarii. Nas áreas mais secas, em solos graníticos profundos, observam-se orlas arbustivas espinhosas de Pyrus cordata (Frangulo alni-Pyretum cordatae). Os bosques hi-grófilos, à semelhança de toda a vegetação dulciaquícola, estão mal estudados no território e supõe-se que se distribuem por duas associações: Scrophulario scorodoniae-Alnetum glitinosae e Senecio Bayonensis Alnetum glutinosae, sendo a primeira associação própria de áreas de clima de maior influência mediterrânica.

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O Super distrito Miniense Litoral caracteriza-se pela correlação entre a distribuição do Ulex europaeus subsp. latebracteatus e de Ulex micranthus e respectivas comunidades. Na parte interior do Super distrito, à excepção dos vales mais profundos, os dois tipos de tojais são substituídos pelo Ulex europaeus subsp. eu-ropaeus integrado em duas associações de grande área de ocupação: o Ulici europaei-Ericetum cinereae e o Ulici europaei-Cytisetum striati.

3.5. Unidades de vegetação

Do ponto de vista da vegetação, o Plano Sectorial da Rede Natura 2000 relata a presença de diversos “habi-tats naturais”, entre os quais se menciona a existência de florestas aluviais (91E0* – florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior, Alno-Padion, Alnion incanae, Salicion albae, habitat prioritário), presentes ao longo do rio Paiva.

Corresponde este habitat ao subtipo 91E0pt1 que encontra o seu óptimo nos troços médios de rios pouco torrenciais, em solos siliciosos. Caracteriza-se pela dominância, no estrato arbóreo, de Alnus glutinosa e pela presença de Fraxinus angustifolia e Salix atrocinerea. No estrato arbustivo e lianóide, dominam: Cratae-gus monogyna, Sambucus nigra, Hedera helix, Rubus sp., Tamus communis, entre outras. O estrato herbáceo apresenta várias espécies de fetos e gramíneas.

Segundo Monteiro-Henriques (2010), e passando a citar, corresponde a uma comunidade Scrophulario scorodoniae-Alnetum glutinosae. Bosques higrófilos, caducifólios, mesofanerofíticos dominados por Alnus glutinosa acompanhado frequentemente por Salix atrocinerea e Fraxinus angustifolia subsp. angustifolia. A combinação característica apresenta como espécies Alnus glutinosa, Carex elata reuterana, Athyrium filix--femina, Hedera hibernica, Salix atrocinerea, Fraxinus angustifolia angustifolia, Rubus ulmifolius, Lonicera periclymenum hispanica, Scrophularia scorodonia, Frangula alnus, Teucrium scorodonia scorodonia, Viola riviniana, Osmunda regalis, Blechnum spicant spicant spicant, Polystichum setiferum, Alnus glutinosa (frut.), Dryopteris affinis affinis, Brachypodium sylvaticum, Crataegus monogyna brevispina, Omphalodes nitida, Sambucus nigra nigra, Silene latifolia, Vitis vinifera vinifera, Dryopteris affinis borrerim, Saponaria officinalis, Fraxinus angustifolia angustifolia (frut.), Arum italicum neglectum, Bryonia dioica, Celtis australis, Galium broterianum, Luzula sylvatica henriquesii, Salix salviifolia salviifolia, Stellaria holostea, Tamus communis, Vincetoxicum nigrum.

A informação relativa à vegetação, que em condições normais poderá atingir o seu clímax de desenvolvi-mento, é extremamente útil não só para efeitos de avaliação do estado actual do troço de intervenção, mas, essencialmente, para efeitos de intervenção ao nível da escolha de espécies a serem instaladas, com o objec-tivo de restituir o equilíbrio exigido neste tipo de ecossistemas.

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3.6. Usos do solo

Este troço do rio Paiva localiza-se numa área marcadamente rural, caracterizada pela existência de um mo-saico de terrenos incultos ocupados por matos com uma composição florística variada consoante a altitude, que vão desde terrenos ocupados por olival, por vinhas, bem como por culturas arvenses de sequeiro, de regadio e por pastagens artificiais. É de igual forma importante realçar a ocupação florestal que aparece sub-dividida em quatro classes diferenciadas (eucaliptos, folhosas, povoamento misto e resinosas), onde existe alguma predominância das resinosas.

Em termos de acessibilidades, apresenta boas condições de acesso por intermédio de caminhos de terra batida, sendo necessário atravessar propriedades particulares, sem no entanto haver qualquer inviabilidade aparente para a passagem da maquinaria.

3.7. Caracterização dos elementos hidromorfológicos

A caracterização dos elementos hidromorfológicos teve em consideração a metodologia adoptada pelo INAG no âmbito da implementação da DQA por River Habitat Survey (RHS), sendo utilizada a versão de 2003 da ficha e manual de campo do RHS.

O RHS é um sistema para avaliar a condição e qualidade dos rios baseada na estrutura física, segundo quatro componentes:

a) Uma metodologia estandardizada para a amostragem em campo; b) Uma base de dados e software para o processado da informação; c) Um conjunto de metodologias para avaliar a qualidade do habitat;

d) Uma metodologia para descrever a extensão das modificações antrópicas do canal.

O RHS é um método de inventariação de características hidromorfológicas do curso de água e do corredor ao longo de um troço de 500 m de comprimento, abrangendo uma faixa de 50 m de cada lado da linha de água. As observações são registadas a duas escalas distintas: em transectos estabelecidos em intervalos de 50 m, denominados spot-checks (resultado de um total de 10 spot-checks), e de um modo contínuo ao longo de um troço de 500 m, denominado sweep-up.

Os primeiros, sexto e último spot-checks são georreferenciados. Dentro de cada spot-chek, e numa faixa de 1 m, são registadas as principais características do fluxo e substrato do canal e margens assim como as pos-síveis modificações de origem antrópica. Numa faixa de 10 m de largura em cada spot-check, são recolhidas as informações referentes ao tipo e estrutura da vegetação assim como o uso do solo nas zonas adjacentes ao corredor fluvial.

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Tabela 1- Lista de características registadas nos spot-checks e no sweep-up.

Características registadas Nos 10 spot-checks No sweep-up

Forma dominantes do vale x

Substrato predominante do canal x

Substrato predominante nas margens x

Tipo de fluxo e características associadas x x

Modificações no canal e nas margens x x

Estrutura da vegetação nas margens e topo do talude x

Tipos de vegetação no canal x x

Perfil das margens x

Presença de árvores nas margens e características

associadas x

Característica dos habitats fluviais registados x x

Características artificiais x x

Características de interesse especial x

Uso do solo x x

Tanto para os tipos de solo como para os tipos de fluxo recenseados nos spot-checks, existe uma classifica-ção referida no RHS Manual Guidance (Environment Agency, 2003).

A Ficha de Campo que foi utilizada contém informações cartográficas, como a altitude, distância à nascen-te, geologia, declive, entre outras; informação dos 10 spot-cheks e as duas últimas com características do sweep-up. A avaliação foi realizada ao nível do troço de amostragem de 500 m, tomando em consideração, principalmente, a diversidade e naturalidade da estrutura física do corredor fluvial e a presença de modifi-cações antrópicas, indo de encontro aos objectivos do presente projecto. Estes princípios são traduzidos em dois índices: o Habitat Quality Assessment (HQA) e o Habitat Modification Score (HMS).

O HQA é utilizado como uma medida da diversidade e naturalidade em base a um consenso de opiniões periciais sobre a presença e extensão de características do habitat fluvial relevantes para as comunidades biológicas, nomeadamente espécies autóctones de reconhecido interesse de conservação. O valor do HQA será apenas comparável com rios de características semelhantes ou troços do mesmo rio e corresponde ao somatório de dez sub-índices que avaliam componentes específicas de qualidade hidromorfológica.

O HMS avalia o grau de artificialização da estrutura do corredor fluvial. À semelhança do HQA, o sistema de pontuação resulta de uma aplicação objectiva de um conjunto de regras definidas. No caso do HMS, estima-se o impacte de estruturas e intervenções transversais e longitudinais nos habitats fluviais, sendo este útil para avaliar o impacto de intervenções no rio. Neste caso, a avaliação é independente do tipo de rio, po-dendo comparar-se os resultados com os resultantes da aplicação da metodologia em tipologias diferentes. As pontuações do HMS correspondem a 5 classes de degradação (Habitat Modification Índex; HMI) desde os troços pristinos até os severamente modificados.

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Tabela 2 - Índices que constituem o somatório do Habitat Quality Assessment.

Componente do HQA Tradução

HQA flow type Tipo de corrente

HQA channel substrate Substrato do canal

HQA channel features Características do canal

HQA bank features Características da margem

HQA bank vegetation structure Estrutura da vegetação da margem

HQA point bars Depósitos de substrato no interior de um meandro

HQA channel vegetation Vegetação do canal

HQA land use Uso do solo

HQA trees and associated features Presença de árvores e características associadas

HQA special features Características de especial interesse

HQA Habitat quality assessment Índice de avaliação da qualidade do habitat fluvial

A avaliação da qualidade ecológica do habitat fluvial realiza-se através da conjugação do HQA e do HMS, em que se compara a qualidade hidromorfológica do troço amostrado com a de um troço de rio, da mesma tipologia que esteja caracterizado como pristino do ponto de vista da integridade estrutural e funcional. A aplicação do HMS e as categorias do HMI que descrevem o estado físico do canal nos locais do recensea-mento do RHS foi feito segundo o definido pelo INAG (2003).

Tabela 3 - Relação entre as classes de HMS e HMI.

Classes HMI Intervalos HMS Categoria descritiva do troço

Classe 1 0 Sem alteração (pristino)

0-16 Semi-natural

Classe 2 17-199 Predominantemente não modificado

Classe 3 200-499 Obviamente modificado

Classe 4 500-1399 Significativamente modificado

Classe 5 1400 ou mais Severamente modificado

Tendo por base os dados recolhidos na Ficha de Campo, mediante aplicação do RHS (anexo II), avaliando o troço segundo o índice HMS, conclui-se que este enquadra-se na categoria de “obviamente modificado”, na classe de qualidade Bom ou inferior, denotando a influência antrópica ao nível do corredor ripário e margens.

Em relação ao índice HQA, para a tipologia de rios no qual o rio Paiva se enquadra, “Rios do Norte de Média-Grande Dimensão”, segundo o INAG (2003) o limite inferior para a classe excelente é de 46 pontos.

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A classificação obtida para o troço analisado encontra-se dentro deste intervalo, situação que, embora o rio seja cpautado pela diversidade de características e distintas intensidades na intervenção antrópica sobre o suistema fluvial, poder-se-á considerar que a classificação obtida se poderá extender a toda a área do pro-jecto.

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4. Metodologia de trabalho

Em termos metodológicos, o desenvolvimento da proposta de intervenção no troço do rio Paiva, com vista a alcançar os objectivos inerente ao projecto co-financiado pelo Programa Life+, decorreu de acordo com o seguinte esquema:

Identificação dos principais pontos críticos existente

• Levantamento no terreno da avaliação da situação actual, para identificação das principais situações e pontos críticos, com incidência no estado de conservação das margens do curso de água, ao leito, à envolvente e vegetação ripícola.

Elaboração da proposta de intervenção

• Identificação das soluções/medidas a implementar, de acordo com a sua viabi-lidade, rapidez, menos custo, durabilidade de forma a aproximar o ecossistema ao estado natural, contribuindo para a sua restauração ecológica.

• A elaboração da proposta de intervenção deverá assentar em princípios gerais que devem respeitar a integridade ecológica do sistema ribeirinho, fomentar a biodiversidade local e mitigar os impactes do processo de reabilitação/requali-ficação.

Monitorização

• Acompanhamento do desempenho e medição periódica das acções e de todas as operações que decorrem do processo interventivo.

• Avaliação da evolução das tendências das medidas implementadas e identifica-ção da existência ou não de alterações aos procedimentos inicialmente projec-tados, de forma a serem implementadas acções correctoras ou preventivas.

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5. Intervenções no rio Paiva

5.1. Identificação de situações críticas

O troço de intervenção, localizado a sudoeste da localidade de Castro Daire, apresenta uma extensão de 15 km. Todo o troço está inserido transversalmente num vale que varia entre o vale aberto e o vale encaixado, com um leito constituído maioritariamente por elementos com dimensões superiores a 20 cm. O desnível da ribeira na área do projecto é de 161 metros em 15 quilómetros de extensão. Na figura 3 é apresentada a localização do troço alvo do presente projecto, com base na carta militar.

Fig. 3 - Mapa com a localização do troço a intervencionar.

Inicialmente, com base na carta militar e ortofotomapa procedeu-se a uma avaliação longitudinal em toda a extensão, da qual resultou a categorização segundo níveis de abordagem e tipologias de intervenção. No essencial, a intervenção no rio Paiva apresenta como objecto primordial de actuação o corredor ripícola e todas as componentes fluviais influenciáveis pelo mesmo. No que concerne ao corredor ripícola, uma das funcionalidades mais referenciadas na literatura é a de suporte ecológico de comunidades bióticas e a promoção da biodiversidade. Várias espécies de mamíferos, insectos, aves, macroinvertebrados aquáticos,

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Legenda Área do Projecto

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Localidades 0 0,5 1 2 Quilometros RIO PAIVA

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peixes, anfíbios, entre outros, utilizam e dependem directa ou indirectamente das galerias ribeirinhas nas suas várias vertentes: habitat, repouso, refúgio, alimentação e reprodução. Para estas funções, contribuem atributos específicos que favorecem uma maior complexidade estrutural e biológica das galerias, como a heterogeneidade florística, a renovação sazonal ou desfasada da folhagem (espécies caducifólias e/ou pere-nifólias), a “contínua” incorporação no sistema de materiais orgânicos, a existência de estratégias diversas de reprodução, propagação e dispersão, a elevada produtividade e elevada eficiência no uso da água. Por outro lado, a natureza linear das galerias contribui para a função de “corredor ecológico”, conectando populações e permitindo a migração de indivíduos no seu interior. Este aspecto está amplamente dependente de facto-res estruturais, como a largura da galeria, o modo de ocupação do espaço aéreo (ou seja, a distribuição de estratos) e radicular, a heterogeneidade florística e a continuidade longitudinal.

A identificação dos pontos críticos no troço de intervenção do projecto foi feita com base na análise efectu-ada à estrutura ripária, ás margens e ao leito.

Estrutura ripária

Um corredor ripário equilibrado favorece a diminuição dos danos por erosão das margens e a deposição de sedimentos e partículas orgânicas devido ao aumento da rugosidade. Em simultâneo, o corredor ripário devidamente estruturado permitirá diminuir a influência dos terrenos adjacentes, fazendo com que a vege-tação actue como zona tampão, promovendo:

a) A diminuição do escoamento e da erosão superficial; b) A retenção de sedimentos e nutrientes;

c) A estabilidade da forma e do traçado do canal;

d) A formação de refúgios, o ensombramento da água e o input de folhada; e) A integração paisagística.

Naturalmente que a actuação de todo o sistema varia com a densidade das faixas de vegetação, com o estado de desenvolvimento das espécies de porte arbóreo e arbustivo, com a época do ano e, ainda, com a diversi-dade de plantas. No estudo geral desta linha de água foi realizada uma análise cuidada sobre a continuidiversi-dade e composição do corredor ripícola através de fotointerpretação e subsequente confirmação no terreno. Do trabalho efectuado resultou a identificação de quatros aspectos críticos inerentes ao corredor ripário. Tendo como referência uma faixa de 10 metros a contar do topo da margem, constata-se que em 3600 me-tros lineares, a estrutura arbórea do corredor ripário está ausente, ou muito dispersa. Esta situação deve-se a factores antrópicos, nomeadamente à eliminação das árvores na margem do rio por parte dos proprietários dos terrenos agrícolas adjacentes ou devido a incêndios. Pontualmente, as margens são constituídas por substrato rochoso, o que impede a instalação de vegetação arbórea.

Outro aspecto importante ao nível do corredor ripícola está relacionado com a distribuição transversal do corredor ripário, o qual numa parte do troço analisado cinge-se a uma única fila de árvores, sendo relevante nesta situação o facto de cerca de 11400 metros de margem serem adjacentes a terrenos com uso agrícola, um factor impeditivo da progressão lateral deste habitat.

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Um outro aspecto crítico, que de futuro poderá implicar uma diminuição da diversidade florística e alterar a composição do coberto arbóreo do rio Paiva prende-se com a presença de espécies exóticas invasoras (Dec. Lei n.º565/99), nomeadamente a mimosa (Acacia dealbata) e a espanta-lobos (Ailanthus altissima), que formam povoamentos muito densos impedindo o desenvolvimento da vegetação nativa (Marchante et al. 2009), diminuindo o fluxo das linhas de água e aumentando a erosão, no caso da primeira espécie.

De uma forma geral, na área do projecto encontram-se alguns exemplares jovens de Acacia dealbata pontu-almente distribuídos ao longo das margens. Contudo é preocupante a existência de dois núcleos, assinalados

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RERIZ ESTER PINHEIRO VILA NOVA CASAL BOM CASTRO DAIRE SANTA MARGARIDA

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Legenda Área do Projecto

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Localidades

Concelho Castro Daire

Descontinuidades no corredor ripícola 0 0,5 1 2

Quilometros

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no mapa 2A em anexo, um na zona mais a montante do projecto com cerca de 800 metros quadrados, e outra na zona mais a jusante com cerca de 200 metros quadrados. Este último povoamento apresenta um elevado potencial de dispersão de sementes para colonização das margens do rio a jusante.

No caso da Ailanthus altissima, foi identificado um núcleo com cerca de 200 metros quadrados (mapa 2A, anexo I), distribuído num antigo terreno agrícola, numa área contígua ao corredor ripícola, encontrando-se este em franca expansão dado o número de plantas jovens aí encontradas.

Um outro aspecto crítico, relacionado com a estrutura arbustiva, que assume uma expressão significativa ao longo do rio Paiva e área envolvente, prende-se com a extensa cobertura arbustiva de silvas (Rubus sp.) existente. Esta espécie não é por si só invasora ou infestante e integra-se nas comunidades características das formações ripícolas. Contudo, essa integração corresponde normalmente à zona terrestre dos corre-dores ripícolas. As situações de infestação são muito claramente favorecidas pela perturbação física com destruição ou degradação da vegetação ripícola característica (salgueiral, amial, freixial, etc.) e a resultante abertura de soluções de continuidade que permitem a penetração e estabelecimento dessas espécies mas, mais importante ainda, pela destruição do sombreamento do canal, permitindo, desta forma, que espécies que só se conseguem desenvolver com muita luz incidente, apresentem uma grande cobertura, quer na orla das formações ribeirinha, quer penetrando no seu interior, ou mesmo substituindo as formações arbustivas. Embora a Rubus sp. se encontre presente ao longo de todo o corredor ripícola, existem algumas áreas, onde é claramente excessiva, e impeditiva da instalação e desenvolvimento de espécies arbóreas e arbustivas ca-racterísticas deste habitat.

Por fim, é importante referir que em relação ao coberto arbustivo associado ao corredor ripícola, nas áreas com marcada influência antrópica, este encontra-se esparsamente presente, com pouca representatividade, tendo sido identificadas espécies como Crataegus monogyna, Sambucus nigra, Hereda helix, Tamus commu-nis, Lonicera periclymenum e Rubus sp.. Este aspecto poderá ser o resultado histórico da intervenção huma-na, com um aproveitamento mais activo das áreas de aluvião adjacentes ao rio para agricultura.

Fig. 5 - Maciço de silva Fig. 6 - Exemplar de acácia no

meio da vegetação. Fig. 7 -Ailanthus junto em área adjacente ao corredor ripícola.

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Esta análise sobre o coberto vegetal é de extrema importância para a definição das áreas de intervenção na recuperação/incremento do habitat ripícola.

Estabilidade das margens

É sabido que as margens dos cursos de água, fazem a ligação entre os meios terrestre e aquático, originan-do zonas ou faixas de transição nas quais ocorrem inundações periódicas, processos de sedimentação e erosão. A presença de vegetação ripícola, com as suas raízes bem fixadas, é de elevada importância para a segurança e estabilidade das margens, face a processos erosivos. Numa situação ideal, uma galeria ripícola bem constituída, deve distribuir-se pelas duas margens e apresentar uma estrutura complexa e desenvolvida, com copas de árvores e arbustos, a vários níveis de altura. Dadas as características do curso de água, não foram identificadas áreas cujo o nível de erosão exija uma intervenção a curto prazo, contudo é de enorme importância que as margens onde existe solo e que estão desprovidas de estrato arbóreo, o mesmo possa ser reconstituído de forma a minimizar problemas de erosão em períodos de cheia com elevada turbulência, que no clímax conduzem à exposição da rocha-mãe, limitando a existência de condições para uma futura instalação de coberto vegetal.

Não tendo no momento influência na estabilidade da margem, mas com implicações ecológicas, está a loca-lização de dois locais de deposição de resíduos de construção (mapa 3, anexo I). O primeiro (DR1), locali-zado nas coordenadas 400 54´33.55´´N, 80 0´10.71´´W, apresenta características de valocali-zadouro regular, com implicações para a instalação da vegetação autóctone, implicações para a massa de água, dado que é visível a dispersão do mesmo no leito do rio, com consequências para a fauna, para além do aspecto inestético as-sociado. O segundo local (DR2), presume-se ser o resultado de uma deposição pontual de resíduos de uma construção habitacional. As duas situações encontram-se ilustradas nas figuras que se seguem.

Fig. 8 - Exemplo do controle do corredor ripícola que é feito em alguns locais adjacentes aos campos agrícolas.

Fig. 9 - Exemplo de corredor ripícola reduzido à compo-nente arbustiva devido a corte raso das árvores.

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Leito da ribeira

Ao longo do leito do rio, existem alguns exemplares mortos de árvores, alguns ramos mortos ou inadequa-damente desenvolvidos, que no curto prazo podem obstruir de alguma forma o normal escoamento da água ou em situações de cheia, entupir as linhas de água ou podem mesmo ficar retidos, o que pode originar si-tuações de represamento e desvio de águas ou em sisi-tuações de ruptura, pode provocar ondas de cheia muito destruidoras que podem alterar o perfil lateral e longitudinal do rio. Efectuando uma incursão longitudinal ao longo da ribeira, foi possível identificar e existência de algumas situações, que exigem um intervenção. Fig. 10 - Local de deposição regular de resíduos

de construção civil (DR1). Fig. 11 - Local com deposição de resíduos de construção civil (DR2).

Fig. 12 - Acumulação lateral de

resíduos lenhosos. Fig. 13 - Tronco de árvore morto em posição transversal no leito, provocando desvio da corrente.

Fig. 14 -Ramo de salgueiro com desenvolvimento hori-zontal sobre o leito do rio.

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5.2. Técnicas a aplicar nas intervenções propostas

Com base no levantamento de riscos efectuado e tendo presente os objectivos inerentes ao projecto LIFE, são em seguida apresentadas as propostas de intervenção para o troço do rio Paiva acima descrito. Esta pre-vê uma gestão de habitat a diferentes níveis:

a) Limpeza de linha de água com o objectivo de retirar elementos que constituam obstáculos ao normal fluxo da água ou possam induzir perturbações nos processos característicos das linhas de água;

b) Controle pontual de plantas com carácter invasor, de forma a melhorar as condições para instalação e diversificação de espécies arbóreas e arbustivas características deste habitat;

c) Limpeza e condução da vegetação ripícola natural de forma a garantir a sua vitalidade e capacidade de controlo competitivo de infestantes

d) Incremento do habitat ripícola com a plantação de espécies arbóreas e arbustivas, de forma a melho-rar as características e funcionalidade do corredor ripícola e interface com as áreas adjacentes;

e) Diversificação de micro-habitats de forma a melhorar as características bióticas e abióticas potencia-doras das populações de ictiofauna, odonatos e náiades.

Assim tendo em conta os riscos anteriormente identificados, na área do projecto (figura 3), será efectuada a gestão de habitat procurando alcançar os seguintes objectivos (adaptados de Jund et al., 2000):

a) Assegurar o escoamento na totalidade do leito, preservando-o, simultaneamente da invasão de infes-tantes aquáticas e do risco de obstrução pela queda de árvores enfraquecidas ou mortas.

b) Assegurar a estabilidade das margens através da manutenção e favorecimento dum coberto vegetal ripícola adequado (sistema radicular fixador do solo e parte arbórea garantindo uma boa cobertura das margens, evitando, ao mesmo tempo, a abertura de “feridas” por descalçamento e queda de árvores mal enquadradas.

c) Evitar a formação de zonas de acumulação de detritos flutuantes e de excessiva turbulência por po-derem originar rupturas da margem.

d) Manter e melhorar as funções ecológicas e estéticas da vegetação. e) Caso necessário, reconstituir a vegetação ripícola natural.

Em seguida segundo a tipologia de intervenção e área de actuação proposta, é descrita a forma de actuação, a época mais aconselhada para os trabalhos, assim como as máquinas e ferramentas aconselháveis para cada situação.

5.2.1. Limpeza da linha de água

Tal como identificado anteriormente, existem exemplares mortos de árvores a obstruir de alguma forma o normal escoamento da água, provocando alterações de corrente e consequentemente alterações de topogra-fia no leito da ribeira, e de margens. Para além disso, a existência de árvores vivas na zona central do leito devido a desenvolvimento em local erróneo, ou por alterações na topografia do leito, implicam em alguns casos a acumulação de resíduos lenhosos e o constrangimento na passagem da água o que origina um redi-reccionamento do fluxo para a margem provocando uma erosão localizada em períodos de cheia.

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De forma a alterar as situações anteriormente referidas, deve proceder-se à remoção dos exemplares mortos de árvores, dos resíduos, de lixo e das obstruções que exercem interferência e dificultam o normal escoa-mento da água. Para além destas acções deve-se também proceder ao corte e à poda de árvores e arbustos que crescem para o meio do curso de água, que obstruem o leito e reduzem a sua capacidade de vazão. No caso das árvores que provocam o impedimento central do canal, por estarem erradamente localizadas deve

proceder-se ao corte raso, ao passo que nas restantes situações a opção deve ser a eliminação das partes que comportam os riscos anteriormente mencionados, utilizando equipamento de corte adequado, de modo a não serem deixados troncos e ramos partidos que possam comprometer a viabilidade das árvores.

No caso específico de árvores caídas, a sua retirada do leito do curso de água deve ser feita com recurso a cortes sucessivos. Sempre que possível, deve ser feito o aproveitamento de todos os ramos vivos das espécies passíveis de serem reutilizados em acções de estacaria.

Esta intervenção a realizar em toda a área do projecto (figura 3), deve ser feita durante o período de repouso vegetativo e quando o caudal permitir intervir em segurança no leito. As intervenções devem ser conduzidas com recurso mínimo a maquinaria pesada, recorrendo preferencialmente a abordagens manuais, sendo esta a única forma de garantir que são intervencionadas as áreas e os exemplares requeridos e que não ocorre uma intervenção generalizada e perturbadora não só da vegetação que se pretende manter, bem como do solo da margem, destabilizando-o e expondo-o a agentes erosivos.

O material manual a utilizar deve ser do tipo serrotes, tesouras de poda e motosserras, os quais devem ser devidamente desinfectadas após cada utilização de forma a minimizar propagação de doenças entre espéci-mes vegetais. Os resíduos vegetais não passíveis de reutilização nas demais intervenções, devem ser encami-nhados para tratamento ou valorização.

Fig. 15 - Árvore sem suporte que exige um corte

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5.2.2. Controle de plantas com caracter invasivo

No que concerne às espécies invasoras, na área do projecto anteriormente definida, existe a necessidade de intervir sobre as espécies exóticas como a mimosa (Acácia dealbata) e a Espanta-lobos (Ailanthus altissima) e alguns núcleos de silva (Rubus sp.) com caracter invasivo.

Controle de Acácia dealbata

Esta espécie, comummente conhecida como mimosa, pertence a um género com grande capacidade de reprodução e desenvolvimento vegetativo e uma enorme adaptação ao fogo. Dessa forma rebenta de touça ou a partir de fragmentos de raiz com uma grande facilidade e produz grande quantidade de sementes cuja dispersão e germinação é, entre outras, estimulada pelo fogo.

Segundo a literatura, o controle mecânico pode ser realizado mediante o arranque (completo com todo o aparelho radicular) de plantas pequenas ou jovens ou, no caso de exemplares adultos, o descasque do tronco desde o solo até 70-100cm de altura de modo a cortar o fluxo de seiva e provocar a morte da planta. Contudo estas duas abordagens mecânicas além de muito exigentes em mão-de-obra e em tempo, não dão garantias de sucesso, pelo que se recorre, a intervenções combinadas entre métodos mecânicos e químicos.

Na área do projecto, dado que a distribuição da acácia se prolonga para além dos 10 metros da linha de água, é fundamental sensibilizar os proprietários para a importância da intervenção visando a sua erradicação. A metodologia proposta para a intervenção é a seguinte: além do arranque das plantas jovens e de pequeno porte, deve proceder-se ao corte raso e imediata (nos segundos que se seguem ao corte) pincelagem da touça com glifosato (de preferência o Spasor) - a necessidade de pincelamento imediato, deve-se à necessidade de garantir o transporte para as raízes do produto através do fluxo residual de seiva. Esta intervenção deve decorrer preferencialmente durante os meses de Maio, Junho e Julho, quando as condições climatéricas sejam favoráveis à aplicação de produtos químicos. Posteriormente deve ser feito um controle e no caso de existência de rebentos, estes devem ser controlados por arranque manual. Os resíduos lenhosos devem ser retirados do local, podendo os troncos sofrer aproveitamento como biomassa.

Após a erradicação deve proceder-se ao rápido restabelecimento da vegetação ripícola adequada, utilizando as espécies localmente presentes e descritas adiante.

Controle de Ailanthus altissima

No caso da espanta-lobos, deve fazer-se um controlo físico dos indivíduos muito jovens, através do arran-que em períodos em arran-que o solo está húmido, tentando arran-que todo o sistema radicular seja retirado. Para os espécimes adultos, segundo Marchante et al. (2005), o método mais eficaz consiste na aplicação de químico, nomeadamente glifosato, directamente no sistema vascular. Para tal, a 1,2 m de altura fazem-se cortes até ao alburno num ângulo de 450 com uma machada/enchó e injecta-se o químico. Após o tratamento a árvore rapidamente ficará castanha e com aspecto de morta. No entanto, é importante que a árvore fique de pé mais um ano e não seja removida; assim assegura-se que a árvore gasta parte dos hidratos de carbono de reserva da raiz.

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Com menor grau de eficácia, pode-se utilizar a técnica de corte raso e aplicação de químico na touça, tal como descrito para a Acacia dealbata.

Controle de Rubus sp.

A silva (Rubus sp.) é uma espécie autóctone que pertence às comunidades ripícolas naturais. Assume um carácter invasivo quando se desenvolve prioritariamente dentro do canal de escoamento originando com os seus ramos muito longos e flexíveis redes intrincadas que, em caso de cheia retêm todos os detritos trans-portados e podem originar estruturas de represamento que ao cederem causam ondas de cheia secundárias muitas vezes extremamente danosas. Por outro lado, o seu carácter competitivo impossibilita a instalação nas margens de uma estrutura arbustiva e arbórea equilibrada.

Esta espécie caracteriza-se por ter uma raiz/tronco subterrâneo de onde brotam rebentos novos com carac-terísticas trepadoras de desenvolvimento muito rápido (designados como turiões). Apresenta boa capaci-dade de desenvolvimento, renovação e enraizamento vegetativo conferindo-lhe uma grande resistência a perturbações e uma elevada capacidade de colonização – daí o seu carácter invasivo.

Dado que a silva é uma espécie da comunidade ripícola, a sua remoção só ocorrerá em situações em que o seu desenvolvimento condicione as condições de escoamento e a segurança do mesmo, ou quando a mesma seja necessária para a melhoria das características da estrutura ripária.

A intervenção abrangendo toda a área do projecto, deve centrar-se na zona contígua ao curso de água, abrangida pelos 10 metros contados a partir do topo da margem (mapas 3 A e B - anexo I). A remoção das silvas deve ser realizada por meios mecânicos/manuais – preferivelmente o arranque ou, alternativamente o corte sistemático com moto-roçadora, com uma intervenção inicial durante o período outonal de 2012, seguido de um acompanhamento e intervenção regular ao longo de 24 meses. A selecção dos aglomerados de silva a serem removidos ou a serem mantidos deve ser definida em obra.

Sempre que a continuidade de cobertura por parte da Rubus sp. afectar ambas as margens, e de forma a sal-vaguardar a biodiversidade, a intervenção será feita de forma alternada nas margens. Após o controle inicial, na área intervencionada é aconselhável iniciar os procedimentos de estabilização de margens, se assim for necessário, e plantação de espécies arbóreas e arbustivas características deste tipo de habitat, como adiante é descrito.

5.2.3. Controle do estrato herbáceo

Do ponto de vista ambiental a existência de uma cobertura herbácea nas imediações das margens é impor-tante na estabilização do solo contra agentes erosivos, e funciona também como habitat de alimentação e refúgio de várias espécies de mamíferos, aves e insectos. Contudo existem situações em que é necessário efectuar um controle das plantas herbáceas para possibilitar as intervenções descritas, nomeadamente a plantação e a estacaria.

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repen-tina, as comunidades vegetais, assim como a estrutura do habitat de invertebrados, aves e mamíferos. Com o objectivo de minimizar o impacto, a época e a frequência de corte, assim como a área a intervencionar devem ser cuidadosamente seleccionadas.

É recomendado que o corte de vegetação seja feito em meados do Verão, após o mês de Julho, de forma a acautelar as seguintes situações:

a) Conservação do refúgio necessário para a reprodução da fauna;

b) Disponibilização de sementes como fonte de alimento para aves e pequenos mamíferos, assim como garantia de existência de um banco de sementes no solo que garanta que na próxima época ocorra a germinação de espécies anuais características da área;

c) O corte neste período, contrariamente ao que ocorre se efectuado na Primavera, não estimula um rápido crescimento vegetal de algumas espécies.

Por outro lado, é desejável que o corte seja feito com recurso a moto-roçadora, de forma alternada nas mar-gens, tal como anteriormente definido no controle de Rubus sp. minimizando as alterações do funciona-mento hidráulico do curso de água, que daí possam advir. Em relação aos resíduos produzidos, estes podem ser deixados na área de forma a melhorar a quantidade de matéria orgânica no solo e minimizar as perdas de água por evaporação.

5.2.4. Gestão da vegetação ripícola natural

Por vezes, verifica-se que as formações ripícolas se encontram desequilibradas quer no sentido de um exces-sivo desenvolvimento que pode obstruir inteiramente o canal, quer num desequilíbrio etário ou no predo-mínio de formações arbóreas ou arbustivas, com claro prejuízo das funcionalidades hidráulica e ecológica. Importa pois proceder à gestão dessas formações no sentido de repor as características e funcionalidades de um corredor ripícola.

De forma a melhorar as características estruturais do corredor ripícola, são propostas intervenções segundo as descrições que se seguem:

a) Condução da vegetação ripícola

Esta intervenção visa manter a secção hidráulica adequada em cada secção e corrigir situações de desvio da corrente. Este processo consiste na remoção de ramos de exemplares arbóreos e eventualmente exemplares arbustivos cujo crescimento ocasione obstruções ou desvio ao normal escoamento da água e consequente-mente desequilíbrio da secção em causa.

Este processo de condução e limpeza dos ramos e exemplares hidraulicamente desadequados, deve ser re-alizado individualmente com recurso a maquinaria de operação manual, de modo a garantir que não pro-voquem danos nas margens e nas formações vegetais que importa preservar e valorizar. Contudo não é de descartar a necessidade de maquinaria pesada para retirar trocos cuja dimensão torne inviável a intervenção manual.

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Esta intervenção a realizar na área delimitada pelos 10 metros laterais ao topo de cada margem, tal como definido nos mapas 3A e 3B (anexo I), deve decorrer preferencialmente no período de descanso vegetativo, acautelando a época de reprodução da fauna.

b) Incremento do povoamento arbóreo e arbustivo

Anteriormente constatou-se a existência de descontinuidades no corredor ripícola e um confinamento do mesmo muitas vezes a pouco mais de 5 metros de margem. Com base na situação actual, e segundo os ob-jectivos propostos no projecto LIFE, pretende-se intervir de forma a melhorar a conectividade do corredor ripícola, nas áreas onde as características abióticas permitem a instalação de espécies vegetais, assim como reforçar e diversificar a área de distribuição deste habitat, com um incremento em 3 hectares.

Dada a elevada compartimentação do território, que muitas vezes dificulta a concordância dos proprietários dos terrenos adjacentes à linha de água em aderir ao projecto, são apresentadas três propostas de interven-ção para alcançar a meta dos três hectares, que se distinguem na distribuiinterven-ção das áreas a intervir, localizainterven-ção e extensão.

Proposta I

Esta proposta centra a sua actuação numa intervenção de incremento numa área total de 2 hectares através da plantação/estacaria em locais onde o corredor ripícola apresenta descontinuidades ou é inclusive inexis-tente. As áreas propostas para esta intervenção encontram-se definidas nos mapas 3 em anexo, tendo sido definido 1 hectare de área de contingência, para colmatar possíveis problemas de concretização nas áreas definidas.

Para além desta intervenção, pretende-se intervir no equivalente a 10 000 metros quadrados, através do reforço ao longo dos 10 metros a contar do topo da margem, com a plantação de 2000 árvores e arbustos, promovendo o aumento da área e diversificação do habitat. Como neste caso se tratam de intervenções pon-tuais e muito circunscritas, a mesma será definida em obra.

Fig. 17 - Forma de corte para evitar a formação de

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Proposta II

Na eventualidade de uma impossibilidade de intervenção visando a melhoria da continuidade do corredor ripícola, surge uma segunda proposta, que visa o mesmo objectivo definido em projecto, o incremento em 3 hectares do habitat ripícola, mas que no entanto apresenta um modo de actuação diferente. Com esta propõe-se que a intervenção em termos de incremento de habitat com a plantação/estacaria em áreas onde o mesmo se encontra ausente se cinja a 10 000 metros quadrados, segundo a localização definida nos mapas 5 em anexo. Neste caso a área de contingência definida é de 20 000 metros quadrados.

Os restantes 20 000 metros quadrados de incremento de habitat, serão alcançados através do reforço ao lon-go dos 10 metros a contar do topo da margem, com a plantação de 4 000 árvores e arbustos, promovendo o aumento da área e diversificação do habitat. Como neste caso se tratam de intervenções pontuais e muito circunscritas, a mesma será definida em obra.

Em ambas as situações, nas zonas onde se verifique a ocorrência (quase) exclusiva de formações apenas arbóreas ou apenas arbustivas proceder-se-á ao restabelecimento (por estacaria ou plantação) dos estratos em falta, propiciando uma diversificação estrutural e reconstituição progressiva de um corredor adequada-mente estratificado, que garantam uma protecção do solo e uma regularização do canal (de estiagem ou de cheia), prevenindo rupturas de margens.

Todas as intervenções de estacaria e plantação devem decorrer em períodos do ano, em que as condições de humidade no solo permitam uma maior taxa de sucesso, preferencialmente no período compreendido entre os meses de Novembro e Fevereiro. Os trabalhos devem decorrer com o recurso mínimo a maquinaria pe-sada, preferencialmente com abordagens manuais (com maquinaria de operação manual) entre as quais se contam as furadoras, única forma de garantir que são intervencionadas áreas circunscritas e que não ocorre uma intervenção generalizada e perturbadora não só da vegetação que se pretende manter como do solo da margem, destabilizando-o e expondo-o a agentes erosivos.

Na plantação, as árvores a utilizar adquiridas junto em viveiros da especialidade, devem ser resultantes da utilização de sementes e material vegetativo recolhido nas proximidades. Quanto à estacaria, este método é descrito em 5.2.5.

As plantas a utilizar devem ser distribuídas de acordo com as exigências edáficas, seguindo um gradiente de distribuição no sentido talude-margem que contempla 3 níveis:

Primeiro nível - arbustos higrófíticos representados pelos salgueiros de porte arbustivo (e.g. Salix atrocine-rea e Salix salvifolia);

Segundo nível - representado especialmente pela espécie Alnus glutinosa;

Terceiro nível – representado pela espécie arbórea Fraxinus angustifolia, capaz de suportar períodos de inundação, Laurus nobilis e arbustos como por exemplo o Crataegus monogyna, Sambucus nigra e Frangula alnus.

Devido à variedade de situações encontradas nas margens a intervir, a localização exacta e distribuição de espécies só será definida em obra, sendo de prever uma densidade média 2000 plantas por hectare. Contudo,

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para evitar uma excessiva aleatoriedade na distribuição das plantas, que proporciona uma fisionomia anár-quica muito pouco natural, estabelece-se o critério de distribuir as plantas por manchas da mesma espécie. As plantas não devem ser aplicadas em linha ou em intervalos regulares, mas sim, espalhadas e nos sítios mais adequados, como por exemplo 2 a 5 estacas por metro quadrado.

5.2.5. Estabilização e consolidação de margens

Devido à erosão das margens desprotegidas pela vegetação, associada ou não a aterros abusivos ou a quedas de árvores descalçadas pela corrente, ocorrem muitas situações em que a base da margem foi sendo erodida e aluiu originando “feridas” nas margens que tendem a aumentar a cada cheia. Embora não tenham sido detectadas áreas com erosão activa que exijam de momento uma intervenção, caso ao longo da execução do projecto sejam identificadas situações de erosão, dadas as características das margens, serão aplicadas fachinas vivas ou mortas acompanhada de estacaria, para a sua estabilização.

a) Faschinas vivas ou mortas

Esta é uma técnica utilizada para estabilizar a base do talude e a revegetação da orla de rios mediante a utilização de fachinas de material morto ou vivo com capacidade de reprodução vegetativa, normalmente espécies lenhosas como o salgueiro. O rápido enraizamento permite a estabilização da área fortemente afec-tada pelo fluxo contínuo de água.

Na sua construção utilizam-se ramos, com um diâmetro até aos 3 cm. Agrupam-se os ramos vivos ou mortos provenientes de operações de corte e poda formando estruturas cilíndricas de 30 a 50 cm de diâmetros e com um comprimento a rondar os 3 metros e são depois amarradas a cada 0,5-1,0 m com arame ou corda de sisal. A aplicação da fachina deve ser feita de forma que 1/2 a 1/3 da mesma se encontre à altura do nível médio do curso de água. Cava-se um canal horizontal onde é colocada a fachina até metade e fixam-se com estacas de 8-14 mm de largura a uma profundidade de 60 cm a cada metro, dispondo a base virada para montante, e li-geiramente virada para o interior da margem (diminuindo a resistência á agua). Por fim, poderá preencher-se com terra, ficando os ramos do topo a descoberto.

≈ 3 m ≈ 0,60 m 0,5 -1,0 m ≈ 0,40 m Fig 19 - Pormenor da execução e aplicação das fachinas vivas ou mortas.

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As fachinas formam pequenos deflectores e um espaço intermédio não consolidado e sujeito à dinâmica fluvial. Os ramos vivos de salgueiro, que possuem elevada capacidade de propagação vegetativa ao desen-volverem-se vão, através das suas raízes, consolidar de forma mais eficaz a base do talude, auxiliando a sua protecção contra os fenómenos erosivos. Esta intervenção deve ser realizada durante o período de repouso vegetativo, excepto se as temperaturas forem negativas.

b) Estacaria viva

A estacaria viva é geralmente uma técnica utilizada na revegetação das margens, aplicada em taludes com reduzida inclinação, ou como complemento na aplicação de mantas de geotextil, enrocamentos vivos, fachi-nas, entrançados vivos ou grades de vegetação. É considerada em si mesmo como uma técnica complemen-tar de bioengenharia (Cortes, 2004).

Este método consiste em introduzir no solo estacas de plantas lenhosas, com capacidade de enraizar e de-senvolver uma planta adulta, com comprimento entre 40-80 cm e diâmetro entre 3-10 cm para que possam ser cravadas no solo como estacas. A colocação das estacas respeita uma densidade de uma por m2, enter-radas a 50-60 cm de profundidade, sobressaindo apenas alguns centímetros, prevenindo a sua secagem. Im-porta ter em consideração que a forma de corte da estaca na parte inferior, a enterrar, deve ser na diagonal. Quando as estacas enraízam criam uma matriz de raízes que estabilizam o solo através do reforço e coesão das suas partículas e reduzem o excesso de humidade. Este tipo de plantas enraízam rapidamente e come-çam logo a sustentar o talude, podendo mesmo desenvolver-se em substratos totalmente carentes de solo. Relativamente à estacaria, é aconselhável fazer um aproveitamento do material vegetativo resultante de po-das nos períodos de repouso vegetativo, sendo de grande sucesso a utilização de estacas de salgueiro. As varas a utilizar, sejam de salgueiro ou de outra espécie lenhosa com capacidade de propagação vegetativa devem ter um mínimo de 1,5 m de comprimento e 3 a 4 cm de largura. Os pilaretes devem ter 15 cm de di-âmetro e 1 a 1,5 m de comprimento. A técnica deve ser aplicada no início do período de repouso vegetativo. Com esta técnica pretende-se a cobertura da margem do rio, com varas de espécies vegetais com capacidade de propagação vegetativa, nomeadamente o salgueiro.

c) Aplicação de manta geotextil

Nas situações mais críticas relativas a fenómenos erosivos das margens e sempre que se considerar necessário, durante o período de execução de obra, pode-se optar pela aplicação da manta de geotêxtil de modo a formar um muro verde em rolos de geotêxtil acompanhados com vegetação. Nesta operação, as mantas são estendidas, preenchidas com terra até uma altura de 50cm, comprimidas e enroladas em forma de cilindro, devendo estes estar ligeiramente inclinados para trás. Sobre ele são colocados perpendicularmente à encosta ramos com capacidade de enraizamento, nomeadamente os salgueiros, ou plantas enraizadas que, posteriormente, são cobertos por uma fina camada de terra. Na parte superior é colocado o próximo cilindro e assim sucessivamente, de acordo com a figura. A malha do geotêxtil não deverá ser muito larga

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de forma a não permitir o deslizamento de terras. Esta técnica deverá ser aplicada durante o período de repouso vegetativo.

d) Deflectores

Os deflectores são dispositivos multi-funções que se localizam nas margens da linha de água, e que têm o fim de desviar a corrente de locais facilmente erodíveis, facilitando ao mesmo tempo a sedimentação de materiais transportados a jusante destas estruturas.

O efeito de refluxo causado pela constrição do canal facilita a deposição de gravilha imediatamente a jusante do deflector e assim melhora os habitats de desova para os peixes (Cortes, 2004). Por outro lado os deflectores promovem nas zonas de sedimentação, que criam, a revegetação rápida e natural das margens.

Os deflectores são dispositivos multi-funções que se localizam nas margens ou no próprio canal, e que têm o fim de desviar a corrente de locais facilmente erodíveis, facilitando ao mesmo tempo a sedimentação de materiais transportados a jusante destas estruturas, criando ainda múltiplos habitats para a fauna aquática, nomeadamente zonas de desova e de zonas de alevinagem, aumento de abrigos para os peixes.

A aplicação dos mesmos será ponderada em obra, caso se-jam detectadas situações pontuais em que seja prioritário o desvio do fluxo de forma a diminuir a erosão da margem. A serem construídos, devem utilizar-se materiais como pe-dras e troncos existentes na região envolvente, construindo

0,70-1,0 m ≈ 0,50 m

Fig. 20 - Pormenor da aplicação da manta de geotêxtil acompan-hado de estacaria, formando um muro verde.

Referências

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