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CONCEPÇÕES DE EDUCADORES/AS E A (DES)CONSTRUÇÃO DE PRECONCEITOS ACERCA DA DIVERSIDADE SEXUAL

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CONCEPÇÕES DE EDUCADORES/AS E A (DES)CONSTRUÇÃO DE PRECONCEITOS ACERCA DA DIVERSIDADE SEXUAL

Elaine de Jesus Souza 1 Joilson Pereira da Silva 2 Claudiene Santos3

RESUMO

As concepções que educadores/as possuem acerca da diversidade sexual influenciam a (des)construção de preconceitos na escola. Essa pesquisa qualitativa objetivou analisar as concepções de educadores/as acerca da diversidade sexual, visando incentivar ações que promovam a desconstrução de preconceitos e discriminações no espaço escolar. Então, empregou-se o método de análise de conteúdo categorial temática.Os resultados evidenciaram que os/as educadores/as possuem inúmeras dúvidas acerca da diversidade sexual devido ao desconhecimento e outras questões que impedem a busca de (in)formação. Portanto, ressalta-se a necessidade de cursos de graduação que incluam essa temática no currículo, possibilitando aos/as docentes promover ações contínuas junto com a comunidade escolar, que contribuam para a inclusão da diversidade sexual. Palavras-Chave: Diversidade Sexual; Preconceitos; Educadores/as.

1 Universidade Federal de Sergipe/UFS. Email: elaine.js.sd@hotmail.com 2 Universidade Federal de Sergipe/UFS. Email: joilsonp@hotmail.com 3 Universidade Federal de Sergipe/UFS. Email: claudienesan@gmail.com

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INTRODUÇÃO

A escola é permeada por uma pluralidade de indivíduos com identidades sexuais e de gênero distintas do modelo heterossexual. Todavia tal fato não significa que a diversidade sexual esteja incluída de modo efetivo nessa instância social. Visto que, muitas vezes, essa gama de sujeitos são marginalizados pelos membros da instituição escolar, inclusive pelos/as educadores/as, que na maioria dos casos, não foram sensibilizados/as (durante a formação inicial e continuada) para acolher e/ou promover ações que permitam o (re)conhecimento da diversidade sexual.

Destarte, as concepções que educadores/as possuem acerca da diversidade sexual influenciam a (des)construção de preconceitos e discriminações manifestados na instituição escolar, e que acabam ocasionando outras violências em toda a sociedade. O silenciamento e/ou a negação das múltiplas identidades sexuais que permeiam a escola contribuem para o fortalecimento dessas manifestações de preconceitos.

Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo principal: Analisar as concepções de educadores/as acerca da diversidade sexual, como uma forma de incentivar ações que promovam a desconstrução de preconceitos e discriminações que perpassam o espaço escolar. Para tanto, buscou-se responder as seguintes questões norteadoras: (a) Quais as concepções dos/as docentes acerca da diversidade sexual? (b) Como os/as educadores/as abordam (ou não) temáticas relacionadas à diversidade sexual, tais como sexualidade e gênero?

Diversidade Sexual na escola: (des)construção de preconceitos

É perceptível que a escola constitui um dos primeiros lugares de encontro sistemático com a diversidade humana (sexual, étnico-racial, estética, econômica, sociocultural, etária, dentre outras). Assim, o contato mútuo poderia ser enriquecedor, no entanto, o que predomina é a ocorrência de atritos, disputas de visões de mundo, de interesses particulares e de grupos, de anseios e projetos individuais e coletivos que culminam em uma série de práticas que marginalizam e excluem a diversidade, principalmente a diversidade sexual (LOURO, 1997; RAMIRES, 2011).

Em conjuntura, a diversidade sexual engloba as múltiplas expressões e vivências da sexualidade e do gênero, incluindo as identidades sexuais (homossexuais, heterossexuais e bissexuais) e as identidades de gênero (travestis e transexuais)

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(FIGUEIRÓ, 2007; LOURO, 1997). Entretanto, embora a diversidade sexual envolva as diversas práticas sexuais divergentes do modelo heteronormativo, esse conceito não deve ser utilizado para classificar indivíduos nem para reproduzir rótulos depreciativos, pois o mais relevante é conseguir identificar os argumentos que orientam nossa cultura na compreensão das sexualidades e assim contribuir para a desconstrução de preconceitos (TORRES, 2010).

Nesse viés, informa-se que os preconceitos consistem em percepções mentais negativas diante de indivíduos e grupos socialmente inferiorizados, assim envolvem representações sociais e julgamentos antecipados que possuem componentes cognitivos (referente as crenças e estereótipos), afetivos (incluindo antipatias e aversões) e disposicionais ou volitivos que resultam em discriminações, ou seja, na materialização dos preconceitos (LIMA, 2011; RIOS, 2009).

Em consonância, a homofobia consiste em um fenômeno complexo e variado que envolve distintas formas de preconceitos (sutis ou manifestos) e discriminações expressas em diversos âmbitos sociais, inclusive na escola, por meio de violências psicológicas (agressões verbais, distinções, exclusões, restrições ou preferências) e violências físicas que anulam e prejudicam o reconhecimento e o exercício pleno da cidadania por parte da diversidade sexual (BORRILO, 2009; RIOS, 2009).

Como a sociedade organiza-se por meio de distinções de comportamentos relativos às normas socioculturais que criam padrões de conduta desejáveis e indesejáveis. Em muitos casos, a escola adota e (re)produz tais valores, e assim, intensifica a exclusão dos indivíduos que apresentam comportamentos que fogem ao modelo sociocultural vigente, isto é, que contrariam a lógica heteronormativa (LOURO, 2001). Como consequência, ocorre um aprofundamento da exclusão de jovens Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros/LGBT, que por não se identificarem com esses códigos, acabam abandonando a escola.

Em detrimento dessa exclusão, são fundamentais discussões e debates acerca da diversidade sexual na escola que possibilitem aos/às docentes se sensibilizarem, (re)conhecer, refletir e orientarem não somente os/as discentes, mas também toda a comunidade escolar sobre valores éticos importantes, como o respeito e exercício da cidadania plena. E, sobretudo, ressalta-se a importância da valorização e acolhimento do indivíduo no espaço escolar, independente de sua identidade sexual e de gênero, pois a discriminação e a segregação ameaçam o papel inclusivo e democrático que a escola precisa exercer, bem como a intolerância à diversidade pode causar práticas

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homofóbicas que vão desde agressões verbais até graves lesões corporais (KAMEL; PIMENTA, 2008).

Desse modo, é inegável que a pluralidade permeia a sociedade, entretanto, para que essa realidade seja reconhecida e aceita no ambiente escolar, o primeiro passo pode ser a problematização dos padrões sociais. A diversidade sexual é um tema que necessita ser discutido por educadores/as em sala de aula porque se faz presente na realidade social, e sua presença é marcada por uma moralidade hegemônica heteronormativa que ocasiona graves prejuízos sociais e a violação de direitos humanos e sexuais para muitos indivíduos (LIONÇO; DINIS, 2009).

Nas palavras de Foucault (1999), as instituições escolares (assim como outras, inclusive a família) com sua multiplicidade de indivíduos, hierarquias, organizações especiais e sistema de fiscalização, constituem um espaço em que o jogo dos poderes e prazeres são estabelecidos e distribuídos. Todavia, a escola também representa uma região de elevada saturação sexual com ambientes e ritos privilegiados, como a sala de sala. Nesse sentido, o discurso acerca da diversidade sexual produz, reitera e transporta poder, mas também o enfraquece, exibe e permite contê-lo. Em contraponto, o silenciamento e o sigilo em torno da sexualidade, ao mesmo tempo em que dão abrigo ao poder e fixam suas interdições, também podem ser usados para escondê-lo e ocasionar tolerâncias obscuras em relação aos sujeitos “dominados” ou minorias sexuais.

Furlani (2009) assinala que uma reflexão política acerca da diversidade sexual, não propõe simplesmente tolerar esses indivíduos com identidades sexuais e de gênero. Mas, principalmente, promover a inclusão social e conviver com eles sem respaldos, portanto além de respeitar os sujeitos com atitudes e comportamentos que destoam dos padrões sociais heteronormativos, torna-se essencial reconhecê-los como cidadãos que dispõem de direitos humanos iguais e questionar as relações de poder que insistem em menosprezar tais diferenças.

A partir de outro olhar, que valorize a diversidade, a escola pode ser pensada como um meio fundamental de acesso à igualdade de direitos (NARDI, 2010). Nessa sociedade, tida como democrática, na prática prevalece a perpetração de violações de direitos humanos, preconceitos e discriminações contra os indivíduos que diferem das normas sociais. Isso pode ser vislumbrado nas escolas, de modo contínuo e permanente, principalmente com relação ao não reconhecimento da diversidade sexual, assim são

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imprescindíveis ações interventivas que promovam a desestabilização e desconstrução das práticas homofóbicas.

Para Santos e Bruns (2000), a escola precisa abrir um espaço de reflexão contínua, para que os/as educadores/as possam se atualizar, receber informações constantes e assim estejam preparados/as para abordar amplamente a temática da sexualidade, já que na formação acadêmica, na maioria dos casos, não adquirem o conhecimento necessário sobre esse tema transversal tão relevante.

Desse modo, destaca-se a relevância da promoção de ações que criem um ambiente escolar de inclusão e valorização das diferenças, em que as questões sexuais possam ser discutidas e a diversidade sexual encontre espaço e seja (re)conhecida. Ademais, a escola é laica, assim o que as religiões impõem acerca da sexualidade humana precisa permanecer fora do âmbito escolar, mantendo o consenso de uma escola democrática, pluralista e não permeada de padrões moralistas (SEFFNER, 2009).

A diversidade de indivíduos que a escola abriga contribui para o aprendizado, pois as experiências e vivências dos “outros” possibilitam o crescimento e o amadurecimento pessoal e intelectual dos/as jovens. Assim, a diversidade sexual que permeia o ambiente escolar pode constituir um instrumento enriquecedor quando utilizada para destacar as múltiplas dimensões e vivências das sexualidades e dos gêneros. Ademais, salienta-se a relevância de analisar as concepções de educadores/as acerca da diversidade sexual, como uma forma de incentivar a promoção de ações pedagógicas que contribuam com a desconstrução de preconceitos na escola.

MÉTODO

Essa pesquisa qualitativa foi realizada em uma escola pública de um município sergipano, denominado Simão Dias. A escolha desse lócus justifica-se devido à escassez de estudos acerca dessa temática no interior de Sergipe. Foram entrevistados/as sete professores/as do ensino fundamental maior, das disciplinas de Português, Matemática, Ciências, Geografia, História, Inglês e Educação Física. Cabe explanar que os nomes dos/as docentes adotados nessa pesquisa são fictícios.

Utilizou-se um questionário e entrevista semiestruturados elaborados com base na bibliografia estudada (DINIS, 2012; MADUREIRA, 2007; SILVA JÚNIOR, 2010; TOSSO, 2012) como técnica para coleta das informações.

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A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética. Posteriormente, solicitou-se a autorização das escolas para os/as educadores/as participarem da pesquisa. Para responder os questionários e realização das entrevistas, os/as participantes assinaram termos de consentimentos livres e esclarecidos.

Como proposta para analisar as informações da pesquisa, adotou-se a análise de conteúdo categorial temática, que consiste em desmembrar o texto em unidades de sentido, ou seja, são determinadas as principais opiniões, crenças e concepções encontradas nas respostas das questões abertas da entrevista, e posteriormente essas unidades foram agrupadas em categorias de análise (BARDIN, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos foram agrupados na seguinte categoria: “Diversidade Sexual sob o olhar docente: como abordar sem formação?” que diz respeito, sobretudo, ao modo como os/as educadores/as compreendem e tratam a diversidade sexual no espaço escolar.

Diversidade Sexual sob o olhar docente: como abordar sem formação?

A partir dos relatos pôde-se evidenciar que os/as docentes não foram preparados/as durante a formação inicial e continuada para lidar com a diversidade sexual que permeia a escola. No entanto, a maioria reconhece a relevância dessa temática e alguns/mas até tentam abordar o assunto eventualmente. Porém, sem conhecimentos coerentes em torno desse tema, torna-se bastante difícil promover uma abordagem significativa e que contribua para a efetiva inclusão da diversidade sexual no âmbito escolar.

Em decorrência da carência das temáticas da sexualidade durante a formação docente, quando os/as professores/as foram questionados/as sobre o que entendiam por diversidade sexual, evidenciou-se concepções reducionistas, pautadas numa visão equivocada de que a diversidade sexual constitui uma “escolha ou opção”, o que pode ser percebido nos trechos abaixo:

Liberdade de expressar o desejo e opção sexual. (Prof. Antônio)

Diferença sexual, oposição, multiplicidade ou até mesmo contradição entre pessoas, seres. (Prof.ª Camila)

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Várias pessoas com condições de vida diferentes. (Prof. Lúcio)

Da mesma forma, nas entrevistas, quando indagados/as sobre as concepções, vivências e práticas acerca da diversidade sexual, os/as professores/as também expressaram representações da diversidade sexual como “escolha” ou “opção sexual”. O que remete ao preconceito sutil, ou seja, uma das faces dos julgamentos antecipados advindos das normas, características e papeis impostos socialmente aos indivíduos, mas de forma latente e camuflada (BORRILO, 2009; CHOCHÍK, 2006; LIMA, 2011; RIOS, 2009; SILVA JÚNIOR, 2010). Isso é ilustrado nos seguintes discursos:

Desde quando o outro escolhe ser o que naturalmente não era pra ser. A gente tem que haver o respeito. Porque tem o livre-arbítrio todo mundo é livre pra suas escolhas. [...] (Prof.ª Roberta)

Uma opção de vida, como... eu escolho, eu escolho ser professor, eu escolho ser

hétero e... Eu acho, no meu ponto de vista ele escolhe ter relação homossexual, né, com, com uma pessoa do mesmo sexo. (Prof. Samuel)

Porque como tem essa diversidade sexual, então as pessoas têm escolhas, né de diversas maneiras, então se a pessoa quis... é escolheu ser homossexual, escolheu ser travesti, escolheu [...] (Prof.ª Talita)

Destaca-se a relevância dos/as docentes repensarem o uso do termo “opção sexual”, pois o desejo afetivo-sexual não é uma opção consciente, mas uma questão de sentimentos complexos e desejos inconscientes, sendo mais coerente utilizar a expressão orientação afetivo-sexual. Assim, as identidades sexuais e de gênero não são dadas ou acabadas num determinado momento, mas instáveis e dinâmicas, pois são resultantes de um profundo processo de (re)construção que envolve diversos fatores históricos, socioculturais, emocionais e identitários, entre outros (FIGUEIRÓ, 2007; HENRIQUES et al., 2007; LOURO, 1997).

É cada vez mais visível no mundo atual que em se tratando da atração ou desejo afetivo-sexual não existe uma única forma, mas múltiplas vivências e expressões da sexualidade. Ou seja, existem diversas identidades sexuais (que englobam diferentes orientações do desejo afetivo-sexual), dentre estas a heterossexualidade, a homossexualidade e a bissexualidade bem como existem as identidades de gênero, dentre as quais se incluem os/as transgêneros. E é essa pluralidade de identidades, sentimentos e relacionamentos que compõe a diversidade sexual (CAVALEIRO, 2009; FIGUEIRÓ, 2007; KAMEL; PIMENTA, 2008; LOURO, 1997).

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Em continuidade, quando os/as professores/as foram perguntados/as se costumam abordar ou realizar discussões acerca da diversidade sexual, sexualidade e gênero em sala de aula, a maioria confessou que não aborda diretamente (com planejamento prévio) tais temas, somente quando surge algum questionamento ou dúvida. A saber:

Não. Até agora eu não fiz nenhuma abordagem a esse aspecto. (Prof. Lúcio) Até agora no momento não, assim às vezes é em conversa mesmo. [...] (Prof.ª Talita)

[...] Quando surge... algum questionamento em sala, geralmente quando eles ouvem reportagem, alguma coisa assim que pergunta ou que toca. A gente dá aquela pausazinha e aborda aquele assunto. Agora, um projeto mesmo voltado a esse tema eu nunca elaborei nada. (Prof.ª Roberta)

No momento eu não recordo de uma discussão específica só pra esse ponto. Mas, sempre que tem a oportunidade [...] que um aluno pratica o bullying com o outro, eu sempre abordo também a situação de respeito ao próximo. (Prof. Samuel)

[...] não constantemente, mas se o assunto [...] surge, a gente... não de forma aprofundada, porque talvez a gente também não tenha assim esse conhecimento, mas quando o assunto surge e até porque é um assunto que se a gente deixar, eles gostam e levam mesmo... né? (Prof.ª Claudia)

Nestes relatos, destaca-se como um dos principais motivos que impedem a abordagem planejada dos temas diversidade sexual, sexualidade e gênero, a falta de conhecimentos devido à carência desses assuntos na formação docente inicial e/ou continuada. Além desse motivo, os seguintes recortes temáticos englobam outros fatores que dificultam a inserção dessas temáticas na escola, tais como currículo conteudista e desvinculado da realidade social, ausência desses conteúdos nos livros didáticos, impedimento da equipe diretiva da escola e dos pais e mães dos/as alunos/as:

E em se tratando de aula de Matemática, então a gente fica realmente muito preso ao cálculo mesmo, à área de exatas. [...] (Prof.ª Roberta)

[...] Talvez pela correria do dia a dia, dos conteúdos. A minha formação nunca foi abordada [...] Então, talvez isso contribua um pouco mais pra eu não abordar tanto. (Prof. Samuel)

[...] às vezes o professor não é nem culpa deles [...] é a própria coordenação mesmo que impede isso, que às vezes vem dos pais que pedem a coordenação que não trabalhe esses assuntos. (Prof.ª Talita)

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[...] você não vê em um livro didático dando uma abordagem mais ampla a esse aspecto [...] Você está omitindo, deixando os alunos sem o devido conhecimento daquilo que acontece na sociedade e é por isso que gera esse preconceito maior [...] (Prof. Lúcio)

Os/as educadores/as ressaltaram que seria mais fácil abordar esses temas se a formação tivesse fornecido ao menos a base necessária. Até mesmo, aqueles/as educadores/as que demonstraram concepções incoerentes acerca da diversidade sexual, deram a entender que o conhecimento pode possibilitar a abordagem desse assunto em sala de aula e a desconstrução dos preconceitos.

É. Talvez se durante a minha formação docente houvesse [...] mais diálogos em sala, conversas, muito mais pesquisas até na área, talvez a gente viesse pra sala de aula com aquela intenção de pôr em prática o que ouviu lá. (Prof.ª Roberta)

[...] acho que a gente tem muito ainda o que aprender, [...] não que a gente esteja ainda com aqueles tabus, [...] mas, a gente precisa tá participando mais de cursos, precisa tá se aperfeiçoando mais, né... pra gente falar mais [...] (Prof.ª Claudia)

Então, para uma abordagem significativa acerca das temáticas sexualidade e gênero que favoreça o (re)conhecimento da diversidade sexual na escola, é fundamental que o corpo docente passe por uma capacitação profissional, com relação ao conteúdo, tanto técnico-científico como metodológico e vivencial. Para que possa refletir, analisar e orientar de acordo com as peculiaridades de cada faixa etária, atentando-se à complexidade biopsicossociocultural que permeia sua construção (LOURO, 1997).

Embora tenham dito que não abordam diretamente tais temas, alguns/mas educadores/as evidenciam a necessidade de se falar de modo claro e coerente sobre esses assuntos na escola, visto que como principais membros dessa instância social, também possuem a função de buscar conhecimentos visando desconstruir preconceitos em torno da sexualidade e da diversidade sexual.

Contudo, determinar quais professores/as estão habilitados/as a trabalhar com as temáticas relativas à diversidade sexual na escola, não é o melhor caminho para incluir esse assunto, pois nenhum/a educador/a deve ser obrigado/a a abordá-lo em sua sala de aula, se não sentir confortável e esclarecido/a para fazer isso de forma segura e pluralista (SEFFNER, 2009).

Vários fatores impedem que os/as docentes façam tal abordagem, entre estes obstáculos destaca-se a crença religiosa e/ou os valores morais conservadores; a carência desses temas na formação inicial e continuada; falta de materiais específicos

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para subsidiar a discussão acerca das diferenças sexuais; que se somam a falta de apoio e até proibição de algumas equipes diretivas. Ademais, a dificuldade em falar sobre a diversidade sexual também envolve as crenças e padrões sociais que impedem os/as educadores/as de conhecer sua própria sexualidade e as múltiplas possibilidades de vivenciá-la e expressá-la. Destarte, alerta-se para a urgência em questionar e problematizar toda forma de padronização permitindo compreender a sexualidade como uma construção em constante negociação com o outro e com o social, que engloba pluralidades de indivíduos, ou seja, diversas identidades em detrimento dos pressupostos da heteronormatividade (DINIS, 2012; LOURO, 1997; SEFFNER, 2009). Para isso, salienta-se que a efetiva inclusão de temas relativos à diversidade sexual nos cursos de graduação e pós-graduação constitui uma medida significativa.

Apesar de terem dito não abordar diretamente a temática diversidade sexual e os temas sexualidade e gênero na escola, alguns/mas docentes notificaram que quando surge alguma oportunidade realizam discussões superficiais em sala de aula acerca desses assuntos, principalmente sobre sexualidade. Conforme pode ser notado nos seguintes relatos:

[...] em sala de aula já lecionei Ciências na sétima série. Então, é o corpo humano, né? E... puxa pra essa questão de doenças sexualmente transmissíveis, prevenção. [...] (Prof.ª Roberta)

[...] não só nesse assunto, mas realidade atual, é... preconceito, diversidade sexual [...]. Eu sempre deixo um pedaço da minha aula pra conversar com eles, vamos dizer informalmente. Eu procuro é... puxar coisas deles... tanto... coisas minhas também, certo?[...] (Prof.ª Camila)

Não diretamente. [...] agora na sétima eu trabalhei sistema reprodutor, aí anteriormente trabalhei a sexualidade, sobre a questão de prevenções, aí eu já trago os textos complementares que eu posso interferir naquilo que gostaria de chegar. [...] (Prof. Antônio)

Geralmente aqui na escola a gente tem “a semana do adolescente” e [...] tem um dia que as palestras são voltadas pra sexualidade, [...] durante aquela semana é só naquilo que eles falam... e aí é onde surgem dúvidas, perguntas [...] (Prof.ª Claudia)

Após essas declarações, alerta-se que a abordagem superficial e informal acerca dos temas sexualidade e diversidade sexual pode contribuir para a reiteração de preconceitos. Visto que, os/as educadores/as, sem o conhecimento necessário para discutir esses assuntos de forma clara, coerente e constante, acabam utilizando o viés

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biologizante pautado na dimensão essencialista, higienista e preventiva da sexualidade. E essa abordagem aleatória e unidirecional, sem a contextualização social e cultural das questões, pode acentuar os impasses acerca da ideia de construção social da sexualidade e da diversidade sexual e assim contribuir com a disseminação dos estereótipos sexuais e de gênero (LOURO, 1997).

Assim, é perceptível que os/as educadores/as precisam questionar e problematizar suas próprias concepções (incluem-se aí as crenças e os preconceitos que fazem parte de suas representações) e práticas, bem como procurar experiências didáticas e metodologias dinâmicas de ensino que promovam o seu desenvolvimento e dos/as discentes, de modo que o valor da diversidade sexual seja compreendido e reconhecido (BRASIL, 1999; PEREIRA, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Enfatiza-se que os cursos de formação docente inicial e continuada precisam urgentemente incluir as temáticas da sexualidade e diversidade sexual em seus currículos, para que os/as docentes possam ser sensibilizados/as e consigam desconstruir seus próprios preconceitos, bem como problematizar as normas sexuais e de gênero junto com os outros membros da escola.

Nessa direção, é fundamental a promoção de ações pedagógicas, tais como a reformulação do currículo escolar para inclusão de temáticas relativas à diversidade sexual e o desenvolvimento de estratégias didático-metodológicas que possibilitem abordagens contínuas e significativas acerca da sexualidade e do gênero. Além disso, é necessário questionar os padrões heteronormativos, visando desestabilizar a homofobia na escola e possibilitar a equidade entre todos os sujeitos, começando pelo o (re)conhecimento e a efetiva inclusão da diversidade sexual.

Desse modo, destaca-se a necessidade e a relevância de mais pesquisas e ações interventivas acerca das temáticas sexualidade, gênero e diversidade sexual, sobretudo, no contexto do interior sergipano, onde predomina a escassez de estudos, o desconhecimento e a omissão acerca desses assuntos.

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