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Maria Adelaide Silva Paredes Moreira SITUAÇÕES DE RISCO, TRABALHO E SAÚDE DE IMIGRANTES. BRASILEIROS: Representações Socias.

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SITUAÇÕES DE RISCO, TRABALHO E SAÚDE DE IMIGRANTES BRASILEIROS: Representações Socias.

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Ciências da Saúde.

Orientadora: Profª. Dra. Maria do Socorro Costa Feitosa Alves.

Natal - RN 2007

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Moreira, Maria Adelaide Silva Paredes.

Situações de Risco, Trabalho e Saúde de Imigrantes Brasileiros: representações sociais / Maria Adelaide Silva Paredes Moreira. – Natal – RN, 2007.

X, 79 p.

Tese ( Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde.

Orientadora: Profª Dra Maria do Socorro Costa Feitosa Alves

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde: Prof. Dr. Aldo da Cunha Meideiros

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Maria Adelaide Silva Paredes Moreira

SITUAÇÕES DE RISCO, TRABALHO E SAÚDE DE IMIGRANTES BRASILEIROS: Representações Socias.

Presidente da Banca: Profª Drª Maria do Socorro Costa Feitosa Alves

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Jorge Correia Jesuino Prof. Dr. Robson Antão Medeiros Prof. Dr. Ricardo Oliveira Guerra Profª. Drª. Iris do Céu Clara Costa

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Dedicatória

As pessoas mais importantes da minha vida: Antonia, Sergio Augusto, Aluisio Junior e Rodrigo, por todo o amor e pelos momentos únicos vividos por nós, que me possibilitou chegar a esse momento.

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Agradecimentos

A Deus, razão pela qual sem Ele nada disso seria possível. A Profª. Dra. Maria do Socorro C. F. Alves, minha orientadora, amiga, por todo carinho, atenção, disponibilidade que se fizeram presentes nos nossos momentos de convivencia e reflexão. Ao Profº Dr. Jorge Correia Jesuino, orientador do Doutorado Sanduíche, no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, ISCTE, da Universidade de Lisboa, Lisboa Portugal, pela confiança e pelos momentos de discussão que tanto me enriqueceram,durante a realização do Doutorado Sanduíche. Ao Profº. Dr. Luiz Fernando Tura, por toda atenção, competência e disponibilidade no desenvolvimento desse trabalho. Aos meus pais, em especial a minha mãe pelo amor incondicional a qual devo tudo. A meus irmãos, Sérgio Augusto, Aluisio Junior e Rodrigo, pelo amor, pelo

incentivo e pela amizade. Ao meu esposo Reinaldo Dias pelo amor, admiração e companheirismo. Aos meus sobrinhos queridos, Matheus Augusto, Stella Alice e Aluisio Neto, pelos sorrisos que contagiam o dia . Aos meus queridos Avós, Aluisio (In memorian) e Rosa, Alice e Emídio pelo amor e pelos conselhos, sempre tão presentes. As minhas tias e tios, em especial, ao meu tio Emilson por todo carinho e

amor demonstrado. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, e ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – PPGCSA, pela possiblidade da concretização de mais um sonho A CAPES, pelo apoio financeiro tão importante na concretização desse trabalho. À Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, pelas facilidades em permitir cursar o doutorado, com exitosos momentos de gratificação.

Ao Consulado do Brasil em Portugal pela viabilização da pesquisa. Aos imigrantes brasileiros, participantes desta pesquisa, sem a ajuda dos quais este trabalho não seria possivel, meu muito obrigada.

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Não me Chames Estrangeiro

Não me chames estrangeiro, só porque nasci muito longe ou porque tem outro nome essa terra donde venho.

Não me chames estrangeiro porque foi diferente o seio ou porque ouvi na infância outros contos noutras línguas.

Não me chames estrangeiros se no amor de uma mãe tivemos a mesma luz nesse canto e nesse beijo com que nos sonham iguais nossas mães contra o seu peito.

Não me chames estrangeiro, nem perguntes donde venho; é melhor saber onde vamos e onde nos leva o tempo.

Não me chames estrangeiro, porque o teu pão e o teu fogo me acalmam a fome e o frio e me convida o teu teto.

Não me chames estrangeiro; teu trigo é como o meu trigo, tua mão é como a minha, o teu fogo como o meu fogo, e a fome nunca avisa: vive a mudar de dono.

Não me chames estrangeiro; olha-me nos olhos, muito para lá do ódio, do egoísmo e do medo, e verás que sou um homem, não posso ser estrangeiro.

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Sumário Dedicatória ...v Agradecimentos ...vi Lista de Quadros...ix Resumo ...x 1 INTRODUÇÂO ...1 2 REVISÃO DA LITERATURA ...4 3 ARTIGOS ... ...14

3.1 Artigo Aceito para Publicação ...15

3.2 Artigo Submetido ... 29

4 COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E CONCLUSÕES ...66

5 ANEXOS ...73

6 REFERÊNCIAS ...75 Abstract

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Lista de Quadros

Quadro 1. Distribuição de vistos de imigrantes por países, residentes legalmente em Portugal ...73

Quadro 2. Distribuição de prorrogação para permanência de brasileiros por regiões até 30 de Janeiro de 2006...74

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Resumo

Essa pesquisa trata de aspectos relacionados à imigração na problemática dos países da União Europeia, em especial, Portugal. Os estudos oriundos dessa pesquisa têm os objetivos de: analisar o risco, trabalho e saúde em imigrantes brasileiros residentes em Lisboa, Portugal. Para coleta de dados utilizou-se: Teste de Associação Livre de Palavras e Entrevista Semi-Estruturada. As informações apreendidas foram analisadas pelos softwares: SPSS 14.5, EVOC, Tri-Deux Mots, SPAD-T e Alceste. Os resultados indicam que os estudos sobre imigrantes brasileiros não têm explorado as implicações psicossociais e culturais que esse fenômeno tem causado na saúde, considerando o tipo de trabalho que os mesmos fazem por ser imigrantes, sobressaindo as contribuições do mesmo na produção de conhecimento à compreensão do fenômeno da imigração, na possibilidade de mobilização da sociedade e do meio acadêmico no tocante a esta problemática. Além de possibilitar aos profissionais de saúde repensar a assistência dessa população levando-se em conta as diferenças culturais e os aspectos psicossociais envolvidos no processo saúde-doença.

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1 INTRODUÇÂO

Durante séculos o Brasil foi um território de acolhimento de milhões de imigrantes, entretanto, hoje ele é considerado um país de emigrantes. Mais de cem mil pessoas saem todos os anos à procura de melhores condições de trabalho no mundo. O número de emigrantes brasileiros ascende cerca de dois milhões, calculando-se que perto de 33% estejam clandestinamente nos seus países de acolhimento.

Os números estimados pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil apontam para um universo em torno dos 2,5 milhões de brasileiros fora da sua terra. Estrangeiros provenientes do Brasil chegam a 48.691 (dados de 18/2/2002); estima-se que o número real de brasileiros é superior a 80 mil pessoas, em maior número concentrados na grande Lisboa. Os mesmos se dedicam as atividades diversas, em especial, a construção civil e comércio, estando muitos desses em situação ilegal.

Na tentativa de sanar essa situação, entrou em vigor a nova legislação a partir de janeiro de 2001, para promover a regularização extraordinária de emigrantes, legalizados até novembro de 2001, mais de 119.181 cidadãos estrangeiros, através das Autorizações de Permanência concedidas pelo SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras)¹

Frente a essa problemática e as reais condições de vida dos imigrantes brasileiros na necessidade de trabalho/ocupação, esses estão submetidos à condições diversas, determinantes de riscos à saúde agravados pela não existência de atendimentos específicos aos imigrantes, destinados à promoção da saúde. A realização de pesquisas sobre condições de risco à saúde no

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trabalho de imigrantes brasileiros no contexto português, com ênfase à saúde em que se considere a produção subjetiva do processo saúde-doença e os sentidos atribuídos a esse, determinado pelo tipo de trabalho/ocupação a que estão submetidos os imigrantes, são esparsas e mais raras ainda, à análise das implicações do trabalho/ocupação, risco e saúde, onde o contingente de brasileiros é elevado.

Acredita-se que estudos focados nas necessidades de saúde no âmbito da imigração brasileira, contextualizado socialmente, de modo que considere as condições de trabalho/ocupação associadas à saúde dos imigrantes brasileiros possibilitarão o redimensionamento de estratégias culturais relevantes ao atendimento em saúde capazes de fortaler as políticas de saúde, com vistas à melhoria da qualidade de vida dessa população.

Questiona-se daí: por que é importante estudar a influência do risco no trabalho/ocupação de imigrantes e as implicações à saúde dos mesmos, considerando a produção informal de conhecimentos no processo saúde/doença assim como o tipo de atendimento em saúde?

Por um lado, salienta-se as condições desfavoráveis de trabalho persistentes que colocam em perigo a saúde dos imigrantes; por outro, têm-se a situação econômica, desemprego, sub-emprego ou emprego clandestino sem contrato, que são capazes de reduzirem a capacidade de negociar uma remuneração mais justa do trabalho realizado.

Esse estudo apresenta a seguinte hipótese: o risco do tipo de trabalho/ocupação realizado pelos imigrantes brasileiros influencia na determinação de agravos à saúde, em face às situações de vida que estão

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submetidos? Para os imigrantes brasileiros tais situações configuram-se um problema de saúde pela não existência de atendimentos específicos?.

Neste sentido, é importante a realização de estudos sobre esta temática subsidiados na Teoria das Representações Sociais, por explorar comportamentos dos sujeitos sociais em relação aos seus pares e a produção de sentidos associados às dimensões de: risco, trabalho e saúde de imigrantes brasileiros. Daí, este estudo tem como objetivo geral «analisar o risco, trabalho e saúde em imigrantes brasileiros residentes em Lisboa, Portugal».

Esta pesquisa é especialmente relevante para o Brasil e Portugal, pelas inúmeras oportunidades de contatos e parcerias com colegas de diferentes áreas de domínio, efetivação de intercâmbios, e realização de pesquisas com universidades portuguesas e brasileiras; Ademais dos trabalhos e do interesse por projetos conjuntos, gerou-se um espaço acadêmico importante que certamente contribuirá para que outros colegas brasileiros possam participar da rica experiência do doutorado sanduiche, demarcada por um fazer científico contemporâneo em que é possível se discutir e investigar problemáticas da imigração, assentada num diálogo decorrente de práticas cotidianas insatisfatórias à busca de novos modelos que explorem fenômenos no âmbito interdisciplinar.

Os principais achados da tese, serão discutidos nas três produções anexadas. Será apresentado na seção “Revisão da Literatura”, os referenciais que embasaram a pesquisa, ou seja, imigração como uma construção psicossocial e as representações sociais no estudo sobre imigração. Finalmente, os comentários,críticas e conclusões expõem a própria disposição da pesquisa

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2 REVISÃO DA LITERATURA As migrações não têm época ou era; desde os primórdios os homens migraram de lugares para outros em busca de melhores condições de vida, qualquer que fosse a natureza desse melhoramento. ²

A história do mundo dito desenvolvido está associado às imigrações. A decisão de partir está associada a motivos diversos, que variam de caso para caso. Está, no entanto, sempre condicionada pelas características da sociedade, economia e política do país de origem.²

O ponto de partida para as discussões dos fenômenos migratórios está na razão que motiva as pessoas a abandonarem suas comunidades e imigrarem para outros países. É evidente que não basta dizer que os imigrantes fogem da miséria à procura de uma vida melhor já que, o mais importante, é refletir sobre as políticas objetivas que provocam tais fluxos migratórios. ²

Esta listagem, não exaustiva, de fatores que promovem os fluxos migratórios, assim como uma análise cuidadosa do fenômeno da imigração no passado, revela que ao contrário do que normalmente assume, a dinâmica da migração não é determinada apenas pela diferença de riqueza entre países ricos e países pobres, pois, em se tratando de Europa, apesar da diferença econômica existente entre Portugal e Alemanha e da liberdade de circulação na União Européia, não se verificou nos últimos anos um êxodo em grande escala de trabalhadores portugueses para os países mais ricos da União.³ 2.1 Imigração como uma Construção Psicossocial

De fato, mais importante do que a eventual diferença de riqueza, a imigração auto regula-se, em função do mercado de trabalho. ³

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Em relação a Portugal, alguns condicionantes específicos como: a facilidade da língua comum e da cultura mais próxima aliada a existência de alguns acordos bilaterais; a possibilidade de obtenção da nacionalidade portuguesa por um reduzido, porém significativo número de imigrantes por laços de parentesco; a procura de profissionais brasileiros ou a conquista de “nichos” de mercado de trabalho ou de serviços por parte de alguns setores profissionais específicos (dentistas, informáticos, publicitários e nos últimos três anos, trabalhadores da restauração, comercio e hotelaria); e a ideia, parcialmente incorreta e ilusória, de que Portugal seria uma espécie de porta de entrada para a Europa ou passagem para os Estados Unidos e que ofereceria maiores “facilidades” para os brasileiros, podem ser apontadas como explicações à evolução significativa de brasileiros que imigram para Portugal.4

Os imigrantes brasileiros encontram-se espalhados em Portugal, embora sua principal concentração seja na região da grande Lisboa. Portugal apresenta uma série de particularidades que favorecem a sua multiculturalidade, a partir da interação cotidiana de uma grande diversidade de grupos étnicos e de culturas diversificadas.

Por sua vez, o perfil ocupacional dos referidos imigrantes tanto nos Estados Unidos, como na Europa e no Japão, mostra um declínio no status de sua ocupação, quando comparada com a que tinham no Brasil. Enquanto exerciam o cargo de professores de ensino fundamental e médio, bancários, estudantes e até profissionais de nível superior, lá, eles trabalham em áreas tais como: limpeza de residências e escritórios, lavadores de prato, outros em serviços em restaurantes, construção civil, arrumação de hotel, entre outros. A

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ascensão econômica é representada, sobretudo, pela possibilidade de consumo, levando em conta o aumento substancial de ganho financeiro.5

Na verdade, a presença de um largo número de imigrantes, na sua maioria temporários, vindos das regiões que são em geral, menos desenvolvidas do que o Estado de acolhimento, caracteriza-se de modo geral, resultante de uma multiplicidade de causas econômicas e sociais.6

Parece ser necessária um entendimento do fator ocupação associado ao desencadeiamento de uma série de outros fatores, dentre eles os riscos que estão submetidos esses imigrantes, face ao trabalho/ocupação que realizam.

Nas sociedades contemporâneas são crescentes as preocupações com os diversos tipos de riscos aos quais se encontram expostos os imigrantes, particularmente, os riscos advindo do trabalho, no que diz respeito ao determinante de risco como exposição capaz de aumentar a probabilidade de ocorrências de agravos à saúde do trabalhador. Além disso, os riscos laborais estão na origem dos acidentes de trabalho e/ou das doenças profissionais.7

De qualquer forma, a noção de risco adotada para esse estudo focaliza a área de mensuração do risco à saúde, como suporte para o desenvolvimento de práticas preventivas de saúde, no combater a sinistralidade laboral, as doenças profissionalizantes e as disfuncionalidades.

Portugal é um dos países da União Européia que apresenta maiores deficiências ao nível de prevenção à saúde e da segurança do trabalho. Os índices de freqüência e de gravidade dos acidentes no trabalho são dos mais elevados da união Européia, em quase todos os setores de atividade. Em virtude do exposto, só se pode combater de forma eficiente as elevadas taxas de sinistralidade laboral, quando os fenômenos de risco forem analisados, isto

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é, conceitualizando uma análise de risco prévia que aposte firmemente na prevenção, segurança e saúde de todos os trabalhadores.7

O risco é um fenômeno social que se tornou numa inevitabilidade suportada cotidianamente pelas massas. Surge como um «estigma social» que se impõe coercivamente ao conjunto de agentes sociais, baseados num caráter de incerteza, em que se ignora as vontades e desejos coletivos.8

Para Douglas e Wildasvsky9, a razão pela qual os agentes sociais tendem a destacar determinado risco e a ignorar outros, deve-se particularmente a fatores socio-simbólicos específicos de cada comunidade, variando substancialmente com as suas formas de organização social (pg. 186)

De qualquer forma, a problemática específica dos riscos em contexto de trabalho, estão normalmente associadas à definição de saúde humana, isto é, são os riscos que constituem os potenciais efeitos adversos que o trabalho, enquanto atividade, provoca no bem-estar dos indivíduos. Além disso, as diversas abordagens e suas múltiplas percepções sobre noção de risco no trabalho foram sendo adaptadas pelas diversas sociedades.10

Vale a pena mencionar que a própria consistência da estrutura da percepção de riscos encontrados nos muitos estudos realizados nesta área, conduz quase necessariamente a idéia de que as tecnologias e os perigos são acontecimentos exteriores aos indivíduos e que têm percepção consensual do fenômeno. Enfim, a questão em estudo prende-se com a articulação entre percepção de risco e comportamento preventivo.11

Nesse contexto, em condições de ameaça que exceda a capacidade individual de controle, os sujeitos ativam espontaneamente crenças de controle secundário, de modo a restabelecerem o sentido de domínio da situação em

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que se encontram. Diariamente recorremos as nossas crenças e valores, as nossas identidades sociais, as nossas relações pessoais e os nossos pensamentos individuais para transformar o mundo em que vivemos num local onde (pelo menos perceptivamente) estejamos salvos de perigos. 11

Entretanto, os imigrantes são conhecidos como um grupo particularmente vulnerável, sobre o qual recaem alguns problemas de saúde devido a fatores como: deficiente inserção comunitária; níveis socio-culturais e econômicos mais baixos que os níveis médio do país de acolhimento; barreiras linguísticas; desconhecimento de hábitos e costumes; desconhecimento dos serviços sociais colocados a sua disposição, em particular, os serviços de cuidado de saúde primários e a ineficaz comunicação com os profissionais de saúde. 12

Quanto ao acesso aos serviços de saúde, as dificuldades aliam-se a situação de permanência ilegal, ou de falta de contrato de trabalho, em que os imigrantes, em situação ilegal, não têm direito a recorrer ao Serviço Nacional de Saúde.

Para os imigrantes, além do caráter burocrático, há também o sentimento de serem rejeitados por parte de alguns técnicos de saúde, devido a dificuldade de compreensão e à ideia generalizada da violência e falta de higiene dos imigrantes. Assim como, a forma como os imigrantes se relacionam com a saúde, quer em Portugal, quer antes de imigrarem e com os serviços de saúde existentes faz-se através da manifestação de estratégias diferenciadas quando confrontados com a situação de doença. 12

Levando-se isso em conta, uma das áreas com maior vulnerabilidade é a saúde mental, normalmente menos visível e mais difícil na prestação de cuidados assistenciais. 13

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2. 2 As Representações Sociais no Estudo sobre Imigração

Nesse sentido, é importante conhecer posicionamentos dos imigrantes, suas vivências, ambigüidades e contradições, tentando-se analisar aspectos determinantes que influenciam o ato de imigrar, a partir de um estudo que busque investigar aspectos psicossociais envolvidos na imigração e sua relação mais direta com a saúde. Logo, entende-se que o aporte teórico das representações sociais é um subsídio eficiente para tratar desta temática.

Assim sendo, aborda-se a imigração, como fenômeno fruto das interações sociais que carrega ao longo dos anos representações marcadas por crenças, configurando-se um processo subjetivo e de mudança social capaz de emergir novas representações sobre a imigração. Para conhecer a passagem de uma visão formal à informal no trato desta temática, faz-se necessário pontuar alguns conceitos da teoria das representaçãoes sociais, na perspectiva de Serge Moscovici14.

Desta forma, as representações sociais enquanto sistema de interpretação da realidade elas organizam as relações do indivíduo com o mundo e orientam as suas condutas e comportamentos no meio social. Moscovici14, assinala que tal sistema de interpretação é solidificado nas formas de comunicação social possibilitando que os sujeitos ao permitirem interiorizar suas experiências, práticas sociais e os modelos de conduta adotados, em que constroem e apropriar-se dos objetos ou fenômenos socializados.

Na formação de representação social considera-se cinco características essenciais, como: toda representação é sempre a representação de um objeto; a mesma possui um caráter de imagem e a propriedade de poder intercambiar o sensível e a idéia, a percepção e o conceito; possui um caráter simbólico e

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significante; possui um caráter construtivo e um caráter autônomo e criativo. Sua base está no reconhecimento de que o pensamento social está diretamente relacionado a eventos concretos da prática social15.

Nesse sentido, o senso comum, denominado pelo mundo acadêmico como universo consensual, apesar de não ter compromisso com a realidade objetiva dos fatos e não se preocupar com a comprovação, é capaz de justificar e orientar comportamentos de um grupo ou sociedade. Desta forma, as representações sociais define os parâmetros de uma análise científica do que se chama senso comum, atribuindo uma lógica a esse conhecimento que tem uma organização psicológica autônoma.

No entanto, as pessoas analisam, comentam, formulam “filosofias” espontâneas, não oficiais, que têm um impacto decisivo em suas relações sociais, em suas escolhas, na maneira como eles educam seus filhos, como planejam seu futuro, entre outros. Os acontecimentos, as ciências e as ideologias apenas lhes fornecem o “alimento para o pensamento” e acrescenta que o pensamento social deve mais à convenção e à memória do que à razão, deve mais às estruturas tradicionais do que às estruturas intelectuais ou perceptuais correntes16.

Levando-se isso em conta, a representação social seria sobretudo, uma forma de conhecimento que modela o objeto com diversos suportes lingüísticos, comportamentais e materiais, mas também, um saber prático intrinsecamente relacionado à experiência social, possuindo um alto grau de intervenção social.

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Desta forma, as representações sociais enquanto instrumento, viabilizam o conhecimento das condutas dos sujeitos sociais frente a imigração como forma de orientação das comunicações do referido objeto.

Para tanto, as representações sociais como um saber prático do senso comum permite que os atores sociais adquiram conhecimentos e os integrem em um quadro assimilável e compreensível para eles próprios, em coerência com seu funcionamento cognitivo e os valores aos quais eles aderem. Desta forma, elas facilitam a comunicação social e define o quadro de referência comum que permite as trocas sociais, a transmissão e a difusão deste saber “ingênuo” 17.

Pode-se dizer, que essas se organizam das interrelações das pessoas e grupos com objetivo prático para o convívio social e desta forma se identificam com as experiências, história e cultura de cada grupo social. Então, entende-se que pelo fato de partilhar uma mesma condição social acompanhada de uma relação com o mundo, valores, modelos de vida, imposições ou desejos específicos, produzem efeitos sobre o modo de conceber a cultura18.

O estudo das representações sociais considera as sociedades e as instituições como ambientes pensantes, assim como os indivíduos que as compõem. Há uma dialética da relação entre pensamento e sociedade, onde são considerados os pensamentos dos indivíduos e o peso deste pensamento na constituição da sociedade, assim como o contexto social e o peso deste contexto na constituição do pensamento19.

Nesta perspectiva, destaca-se a importância da comunicação social na formação das representações sociais, em que se refere aos indivíduos como pensadores ativos em resposta aos acontecimentos cotidianos da interação

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social, que eles produzem e comunicam suas próprias representações e soluções específicas às questões que eles se colocam a si mesmos. Esta comunicação e mobilização das representações sociais acontecem em todas as ocasiões e lugares onde as pessoas se encontram informalmente (bares, ônibus, filas de banco, trabalho, escola, salas de espera, enfim, onde se desenvolve a vida cotidiana) 17.

No entanto, a representação social como resultado de representações partilhadas coletivamente, fruto das interações e fenômenos de comunicação no interior de um grupo social, reflete a situação desse grupo, seus projetos, problemas e estratégias e suas relações com outros grupos cuja função é oferecer programas à comunicação e à ação frenta a objetos que são interrogáveis para um grupo19.

Assim, a formação das representações sociais acontecem mediante dois processos: o de objetivação e ancoragem. Quanto ao processo de objetivação, este ocorre a partir de três etapas: a primeira diz respeito a descontextualização da informação através de critérios normativos e culturais; a na segunda ocorre a formação de um núcleo figurativo, formando uma estrutura que reproduz de maneira figurativa uma estrutura conceitual; e a ultima etapa, a naturalização, ou seja, a transformação destas imagens em elementos da realidade. Daí, “o processo de objetivação materializa idéias e conceitos em um núcleo figurativo ou em uma esquematização estruturante”, faz com que se torne real um traçado conceitual, com que se dê a uma imagem, uma contrapartida material, resultado que tem, em primeiro lugar, flexibilidade cognitiva14.

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Desta forma, estudar a imigração no âmbito das representações sociais pode tornar real um fenômeno antes não apreendido pelo social, tendo a comunicação como o veículo que permite essa ação, ou seja, permite a formação de representações sociais acerca da mesma, por ser neste processo que ocorre uma seleção em que o objeto social representado é apropriado e retido por edificações afetivas, axiológicas e ideológicas.

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3 ARTIGOS

3.1 Artigo Aceito para Publicação

- Pensando a Saúde na Perspectiva dos Imigrantes Brasileiros em Portugal. Aceito em 12/04/2007 para publicação na Revista Gaucha de Enfermagem – UFRGS – Brasil.

3.2 Artigos Submetidos à Publicação

- Prevenção e Doença: representações sociais de imigrantes brasileiros em Portugal. Revista Interface – Comunicação, Saúde, Educação.

- Aplicación el Modelo de Evaluación sobre Riesgo Ocupacional (MAROS) en Inmigrantes brasileños- Revista de Saúde Publica do Mexico

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3.1 Artigo Aceito para Publicação

Pensando a Saúde na Perspectiva dos Imigrantes Brasileiros em Portugal. Aceito em 12/04/2007 para publicação na Revista Gaucha de Enfermagem – UFRGS – Brasil.

Pensando a saúde na perspectiva dos imigrantes brasileiros em Portugal. Pensamiento de la salud en la perspectiva brasileña de los inmigrantes en Portugal. Thinking the health in the brazilian immigrants perspective in Portugal.

Maria Adelaide Silva PAREDES MOREIRAI; Antonia Oliveira SILVAII; Maria do Socorro Costa FEITOSA ALVESIII; Jorge Correia JESUINOIV; Luiz Fernando Rangel TURAV.

I

Fisioterapeuta. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCSA-UFRN), Natal, RN. Docente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Jequié, Bahia, Brasil.

II

Enfermeira. Doutora. Docente da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação de Enfermagem de Saúde Pública e Pós-Graduação em Psicologia Social, João Pessoa, PB, Brasil.

III

Odontologa. Doutora. Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCSA-UFRN), Natal, RN, Brasil

IV

Psicólogo. Doutor. Professor do Instituto Superior de Ciências da Saúde e do Trabalho (ISCTE), Lisboa, Portugal.

V

Médico. Doutor. Docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, Brasil.

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RESUMO

Este estudo tem os objetivos de apreender as representações sociais sobre «saúde» e «imigrante» construídas por brasileiros. Amostra constituida de cem imigrantes brasileiros, ambos os sexos, residentes em Lisboa, Portugal Para coleta de dados utilizou-se a técnica de evocação livre, que teve como palavras indutoras «saúde» e «imigrante», sendo os dados tratados com o software EVOC. Com relação a «saúde» ressaltamos a presença das dimensões psico-afetiva e sócio-interacional. Para «imigrante» os sujeitos relacionam como experiência difícil, que gera dor, preconceito e saudade, onde o amor pela familia é a razão de imigrarem como meio de obter melhor condição de vida.

Descritores: Saúde. Imigração. Portugal. RESUMEN

Pensando a saúde na perspectiva dos imigrantes brasileiros em Portugal. Este estudio tiene los objetivos prende las representaciones sociales en “salud” y el “inmigrante” construido por brazilians. La muestra corporativa de cientos inmigrantes brasileños, ambos los sexos, residentes en Lisboa, Portugal para la recogida de datos la utilizó la técnica del mandato, que tenía como palabras inductivas “salud” y “inmigrante”, siendo los datos se ocupó libremente del software EVOC. Con respecto a “salud” estamos parada hacia fuera la presencia de las dimensiones psico-afectivas y del socio-interaccionad. Para el “inmigrante que” los ciudadanos se relacionan como experiencia difícil, eso genera dolor, preconcepto y nostalgia, donde está la razón el amor para la familia de inmigrante como mitad para conseguir una condición mejor de la vida.

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Descriptores: Salud. Imigración. Portugal

Pensamiento de la salud en la perspectiva brasileña de los inmigrantes en Portugal.

ABSTRACT

This study has its objective to apprehend the social representations on “health” and “immigrant” constructed by Brazilians. Samples composed of one hundred Brazilian immigrants, both man and woman, residents in Lisbon, Portugal. For collection of data was used free technique of evocation that had as inductive words “health” and “immigrant”, being the data treated with software EVOC. With regard to “health” we point out the presence of the psycho-affective dimensions and social-interacional. For “immigrant” the citizens related as difficult experience that generates pain, preconception and homesickness, where the love for the family are the reason to immigrate as a mean to get better life condition.

Descriptors: Health. Immigration. Portugal

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1 INTRODUÇÃO

Estudos recentes têm revelado que as migrações são hoje um importante fenômeno, contínuo ao longo da história onde no mundo desenvolvido, associa-se a história das imigrações. Não sendo mais apenas um problema emergente à sua origem, apontam-se diferentes aspectos que vão das desigualdades quanto à distribuição de riquezas, associadas ao deficiente acesso à cultura e informações, características da sociedade, da economia e das política do país de origem. Imigrar, no sentido da palavra propriamente dita, significa entrar em um país que não é o seu de origem para ali viver ou passar um período de sua vida.

Por muitos séculos, milhões de portugueses imigraram para o Brasil, assim como Portugal foi durante séculos um país, em que a maior parte da sua população se viu forçada a imigrar para poder sobreviver o que ainda continua a acontecer. A história de cada uma das inúmeras comunidades portuguesas, que se encontram distribuídas por todo o mundo, denota esta dura realidade.

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras em 2002 estimava 48.691 residentes estrangeiros provenientes do Brasil. Entretanto, o número real de brasileiros que residem em Portugal ultrapassa 100 mil. Os mesmos estão vivendo em todo o país, incluindo as pequenas aldeias de província, embora a sua maior concentração seja na região da grande Lisboa (1).

Salientanta-se um aumento significativo em 2006 de imigrantes brasileiros ultrapassando 388.258 pessoas, tornando-se uma situação extremamente preocupante e de difícil controle, sobretudo devido à ação das redes de imigração clandestinas.

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A gravidade do problema fica evidente ao serem consideradas as estimativas que nos últimos vinte anos, Portugal tornou-se também um destino para muito imigrantes. No final da década de oitenta, aumentou o fluxo de imigrantes brasileiros, que usufruindo do regime de isenção de visto, entraram em Portugal como turistas; essa situação ainda é observada atualmente, em que milhares de brasileiros continuam entrando em Portugal.

Um aspecto particularmente pouco estudado em relação ao atendimento em saúde para imigrantes, consiste na apreensão de representações sociais sobre saúde e sua relação com o fato de ser imigrante, construídas por brasileiros que residem em Portugal e sua influência nos riscos ocupacionais à saúde, em face do trabalho realizado por imigrantes e no atendimento recebido nos serviços de saúde portugueses.

No Brasil, ainda são escassos os estudos com imigrantes e, mais especificamente, no que se refere a atenção à saúde, com ênfase às diferenças culturais e sua importância no atendimento oferecido.

Neste sentido, questiona-se quais as representações sociais de saúde e imigrante, para brasileiros residentes em Portugal? E quais as estratégias utilizadas pelos imigrantes brasileiros frente a saúde?

Para se conhecer tais inquietações este estudo tem o objetivo de apreender as representações sociais sobre «saúde» e «imigrante» construídas por brasileiros, uma vez que os estudos sobre imigrantes brasileiros até hoje desenvolvidos não têm explorado as implicações psicossociais e culturais que esse fenômeno tem causado na saúde, principalmente em relação ao tipo de trabalho que os mesmos fazem por ser imigrantes.

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diferentes modos de apreensão de saúde e imigração, em comunidades com características sócio-geográficas e organizacionais próximas, a partir da abordagem estrutural das representações sociais (2-3), para se compreender como o conhecimento contextualizado socialmente subsidia os comportamentos/condutas e ações dos imigrantes brasileiros (atores sociais) no atendimento em serviços de saúde e a organização da sua vida cotidiana, nas comunidades.

1.1 SAÚDE, IMIGRANTE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Pensar a saúde na perspectiva de ser imigrante significa à possibilidade de se poder apreender a relação entre: ser imigrante, condições de vida e saúde, com a heterogeneidade sócio-histórico dos sujeitos sociais, a partir das diferentes pertenças grupais; salientar o agravamento da saúde visualizada na plenitude de sua complexidade, a partir do contexto migratório.

O estudo proposto optou pela Teoria das Representações Sociais, em sua abordagem estrutural, para explicar alguns aspectos subjetivos relacionados com a saúde e ser imigrante.

Por um lado, os sentidos atribuídos aos objetos são importantes quando se pensa sobre o seu significado para os sujeitos diante da adoção de práticas de saúde preventivas e comportamentos de vida mais saudáveis. Por outro, torna-se fundamental conhecer explicações, idéias circulantes no universo da saúde e de ser imigrante; fatos importantes relacionados com os sujeitos (imigrantes), no âmbito das suas organizações, como forma de garantirem sua sobrevivência, seus costumes, valores e instituições necessárias para continuidade do seu trabalho, uma vez que as representações sociais são construídas a partir das relações de comunicação, as quais pressupõem

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padrões de referências ou orientações comuns aos sujeitos ou grupos envolvidos nas trocas simbólicas.

O conceito de Representação Social, tal como foi definido por Moscovici (4-5)

, compreende uma modalidade de conhecimento que, em última análise, produz e determina comportamentos, uma vez que define a natureza dos estímulos que nos rodeiam e o significado das respostas que se lhe dá. Nesta perspectiva, a opinião sobre um objeto pressupõe já uma atividade representativa, um dar de mãos de estímulos e resposta. Pode-se assim entender as representações sociais como conjuntos dinâmicos que visam a produção de comportamentos e interações sociais e não uma mera reprodução dos mesmos, como reações e estímulos exteriores. Elas são tanto um produto como um processo. Como produto, pode estudar-se o seu conteúdo que circula como versão do real, impregnando os discursos, as imagens, as opiniões e as atitudes que os diversos canais de informação tratam de veicular. Como processo, remetem, por um lado, para os mecanismos psicológicos e sociais que estão na base da formação, organização e transformação de tais conteúdos e, por outro, para as suas funções e eficácias sociais.

As representações sobre saúde e ser imigrante, são sociais não apenas por serem largamente partilhadas, mas também, porque os são na sua essência. Embora na sua construção estejam claramente envolvidas atividades cognitivas e processos intrapsíquicos (mecanismos de projeção, identificação e emoções), dependem da pertença dos imigrantes, dos seus contextos de vida e de interações, do seu lugar na estrutura social, evidenciam-se como uma forma de ler o real, dando sentido a vida dos grupos e organizando-os em torno de interesses comuns.

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Na abordagem estrutural o componente mais estável e duradouro de uma representação denomina-se de núcleo central. Em torno do referido núcleo organizam-se os elementos periféricos da representação (6).

O núcleo central tem uma função geradora e organizadora, determinando a natureza dos laços que unem entre si os elementos da representação. Este conjunto possibilita a estabilidade e constitui a base ou a estrutura da representação social. Os elementos periféricos possuem a função de concretizar a representação. Permitem evolução, modificação, adaptação em diferentes contextos e funcionam como os elementos mutáveis da representação. São esses elementos que permitem as transformações das representações de maneira gradativa antes de atingir o núcleo central da representação. Neste sentido, os dois sistemas: central e periférico constituem as representações sociais e estes são passíveis de transformação (6).

2 METODOLOGIA

Este trabalho compreende um recorte de tese de doutorado sanduiche(7): Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Lisboa, Potugal no âmbito de um Projeto de Cooperação Internacional Brasil-Portugal (GRICES/CAPES): «Migração e saúde em contextos brasileiro e português». O estudo foi realizado com cem imigrantes brasileiros, de ambos os sexos, residentes em Lisboa, Portugal, escolhidos aleatoriamente, nos serviços de atendimento a imigrantes. Em relação aos aspectos éticos da pesquisa com seres humanos, procurou-se observar o preconizado pela resolução 196/1996 (8).

Para coleta dos dados utilizou-se a técnica de evocação livre proposta por Vergès (9), que teve como palavras indutoras (estímulos) «saúde» e «imigrante».

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As evocações produzidas pelos sujeitos foram registradas obedecendo a ordem de emissão, em seguida foram tratadas com o software EVOC (10), a partir da configuração da distribuição das evocações com a média das suas ordens médias e freqüências de evocações em quatro quadrantes.

Os dados foram interpretados descritivamente, subsidiados na abordagem estrutural das representações sociais.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre os cem sujeitos do estudo, 41 são mulheres e 59 homens; maior número são provenientes do Estado de Minas Gerais, seguido do Espirito Santo e Paraná; com tempo médio de moradia de 4 e 5 anos; idade média na faixa dos 20 a 30 anos; o maior número possuem o segundo grau completo; as mulheres trabalham em sua maioria nos serviços domésticos e de publicidade; os homens, em maior número trabalham na construção civil e como caminhoneiro.

Na análise, a média de todas as frequências das evocações (fx) foi igual a 6 e as médias das ordens média de evocação (OME), igual a 2,3. Esse procedimento permitiu a distribuição dos elementos em um gráfico de dispersão em que o cruzamento das linhas das respectivas médias indicadas o divide em quatro quadrantes. Assim sendo, no quadrante superior esquerdo (quadrante 1) estarão situados os elementos com maiores frequências e mais prontamente evocados (menores ordens de evocação) e no quadrante inferior direito (quadrante 4), os de menores frequências e maiores OME.

As evocações, relacionadas com o estímulo «saúde», localizadas no quadrante superior esquerdo, por apresentarem os atributos descritos, constituem o provável núcleo central; as que figuram no quadrante inferior

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direito dizem respeito ao sistema periférico, e as demais são denominadas de intermediárias (Quadro 1).

A composição do sistema central (elementos do quadrante superior esquerdo), reflete algumas preocupações dos imigrantes com a saúde, ao associarem: dimensão saúde como atendimento, que esperam que seja de boa qualidade e salientam a presença do médico; dimensão legal, denota a grande preocupação que os imigrantes têm com relação a possível reclamação que possam ser notificadas junto ao serviço atendimento a imigrantes, causando segurança quanto a sua situação muitas vezes fora da legalidade; dimensão trabalhista, pode ser evidenciada como significativa para os sujeitos por ser uma preocupação que os mesmos têm em conseguirem um serviço ou trabalho, capaz de assegurar aspectos importantes que são representados por alegria, alimentação e possibilitando melhor condição de vida, aspectos esses relacionados com a dimensão psico-afetiva.

O.M.E. <2,3 O.M.E. >2,3 fx >= 6 Alegria Alimentação Atendimento Boa Médico Reclamação Segurança Serviço Trabalho Vida 12 8 23 18 10 9 6 8 13 15 2,083 2,000 1,957 1,778 1,900 2,222 1,833 2,000 2,231 2,200 Dificuldade Dinheiro Disposição Doença Físico Hospital 7 9 14 7 15 6 2,857 2,667 2,500 2,571 2,867 3,500 4<= fx <5 Fácil Prazer Problema Tudo 4 4 4 4 2,250 2,000 2,250 1,750 Amigos Brasil Descanso Dia-dia Dor Importante Lazer País 5 4 4 4 4 4 5 5 2,800 2,750 2,750 2,750 3,000 3,000 2,400 2,800

Quadro 1: Distribuição dos elementos evocados pelos imigrantes para o estímulo «saúde».

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No quadrante inferior direito, situa-se o sistema periférico relacionado com as experiência individuais, refletindo o cotidiano dos sujeitos, cujos conteúdos se encontram organizados em: dimensão sócio-interacional, em que os imigrantes associam saúde a participação dos amigos para o lazer no dia-a-dia provavelmente refletindo seus relacionamentos no país, em particular, no Brasil; a dimensão psico-afetiva retrata a dor, como um indicativo de falta de saúde; aspecto importante na manutenção da saúde pode ser a necessidade de descanso. Vale observar que todos esses elementos possuem relação com o núcleo central.

Quanto ao estímulo «imigrante» podem-se observar evocações, contidas no quadro 2, distribuídas no quadrante superior esquerdo, provável sistema central (elementos do quadrante superior esquerdo), contemplando aspectos que refletem as preocupações dos sujeitos pelo fato de «ser imigrantes». Os sujeitos consideram a experiência de difícil adaptação capaz de provocar dor, em que a pessoa luta por ter que enfrentar preconceito e pela saudade que sente. O.M.E. <2,4 O.M.E.> =2,4 Freq. >=6 Adaptação Difícil Dor Experiência Luta Pessoa Preconceito Saudade 9 25 13 9 6 7 9 11 2,222 1,800 2,000 2,000 1,833 2,143 2,000 2,273 Alegria Aprender Brasil Dinheiro Exploração Família País Trabalho Vida 9 9 7 12 11 18 22 24 9 2,889 2,444 3,286 3,000 2,636 2,722 2,682 2,500 2,667 4 < = Freq. < 5 Amigo Aventura Documento Sair 5 4 4 5 1,600 2,250 2,000 1,400 Amor Casa Legalização Riqueza Vencer Viver 4 5 4 4 4 4 3,00 2,800 3,250 2,500 2,500 2,750

Quadro 2: Distribuição dos elementos evocados pelos imigrantes brasileiros para o estímulo «imigrante».

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No tocante ao quadrante inferior direito, sistema periférico, situam-se os elementos de menores frequências, abaixo da média observada, com evocação mais tardia, OME maiores do que 2,3, em que os imigrantes justificam os motivos pelos quais saíram do Brasil. É comum ouvir dos sujeitos que o amor pela família e a necessidade de proporcionar melhor condição de vida aos seus, foi o que os levou a deixarem o país, principalmente para conseguirem comprar uma casa; os mesmos têm uma grande preocupação quanto a sua legalização uma vez que sonham com a riqueza, para vencer como a possibilidade única de viver melhor.

Com vista ao entendimento que muitos imigrantes brasileiros têm acerca de Portugal, este continua funcionando como porta de entrada para outros países europeus, ou como porto de abrigo quando não conseguem se acomodarem em países próximos, por afinidades de idioma, cultura comum e pelo grande comunidade brasileira já residente.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esses achados apontam que as desigualdades no mundo sempre geraram movimentos de pessoas de um país para outros, em função das oportunidades que se lhes parecem mais adequadas para melhorarem suas vidas, embora os imigrantes muitas vezes são explorados, em particular, os que vivem ilegais.

Retratam a situação vivenciada por milhões de brasileiros que vêem na imigração a «busca de uma vida melhor» mesclada por sonhos, aventura e desafios, como possibilidade de solucionar os problemas vividos no Brasil.

Os resultados confirmam uma situação conflituosa dos imigrantes, sugestiva de maiores reflexões tanto com relação a saúde quanto a situação de

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ser imigrante: estes afirmam que são «discriminados» e «submetem-se a qualquer coisa» para «nascer de novo».

Procurou-se apreender as representações sociais sobre «saúde» e «imigrante» construídas por brasileiros, explorando as implicações psicossociais e culturais associados a saúde, principalmente, pelas condições de vida e tipo de trabalho/ocupação que os sujeitos estão submetidos pelo fato de «serem imigrantes».

Ao se verificar a estrutura das representações sociais é possível inferir que os aspectos relacionados com a saúde encontram-se no núcleo central; na periferia evidencia-se aspectos indiretamente associados ao trabalho, como a necessidade de descanso e lazer para manter a saúde. Quanto aos aspectos relacionados com as representações do imigrante, os sujeitos descrevem o lado negativo da experiência no núcleo central; apenas na periferia, emergem os aspectos relacionados com a expectativa da concretização dos sonhos de uma vida melhor, sugerindo a intenção que os imigrantes têm tão logo consigam realizar suas expectativas voltarem para o Brasil.

REFERÊNCIAS

1 Padilla, Beatriz. Portugal. O “idílio” dos imigrantes brasileiros. Lisboa. ISCTE. 2005

2 Abric J-C. Pratiques sociales et représentations. Paris, Presses Universitaires de France, 1994.

3 Sá, Celso Pereira. Núcleo Central das Representações Sociais. Petrópolis Vozes.1996

4 Moscovici, S. La Psychanalyse, son Image et son Public: étude sur la représentation sociale da psychanalyse. Paris, PUF. 1961.

5 Moscovici, S . A Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro, Ed. Zahar. 1978.

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6 Abric, Jean-Claude. A Abordagem Estrutural das Representações Sociais. In: Moreira, ASP; Oliveira, D.C de (Org.). Estudos Interdisciplinares de Representação Social. Goiânia, ABEditora. 2000. p: 27-38.

7 Moreira, M, A.S.P. Situações de trabalho, risco e saúde numa abordagem transcultural: representações sociais. Tese (projeto de Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal. 2006

8 Brasil. Resolução 1996/196, Conselho Nacional de Saúde.1996

9 Vergès, P. L´évocation de lárgent: une méthode pour la definition du noyau central dune representation. Bulletin de psycologie. 1992

10 Vèrges, P. EVOC – Ensemble de Programmes Permettant L`analyse des Évocations: manuel version 2. Aix-en-Provence. LAMES. 1999

Endereço da autora/Author´s address: Maria Adelaide Silva Paredes Moreira

Travessa Nossa Senhora do Perpertuo Socorro, 42 Jequiezinho 45.206-180, Jequié, BA.

E-mail: jpadelaide@hotmail.com

Agradecimentos: Este trabalho contou com a ajuda financeira da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no programa de Doutorado Sanduíche de 2005 a 2006, no âmbito do projeto de Cooperação Internacional Brasil-Portugal – GRICES/CAPES.

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3.2 Artigos Submetidos à Publicação

Prevenção e Doença: representações sociais de imigrantes brasileiros em Portugal.

Prevention and Illness: social representations of Brazilian immigrants in Portugal.

Prevención y enfermedad: representaciones sociales de inmigrantes brasileños en Portugal.

Maria Adelaide S.P. Moreira¹ , Antonia Oliveira Silva², Maria do Socorro Costa Feitosa Alves³, Jorge Correia Jesuíno 4, Íris do Céu Clara Costa.5 * Pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciencias da Saude da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – Nível Doutorado ¹ Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – UFRN e Mestre em Engenharia da Produção – UFSC jpadelaide@hotmail.com

² Doutora em Enfermagem – USP/SP e Professora Associada da Universidade Federal da Paraiba.

³ Doutora em Odontologia Preventiva e Social – FOP/UPE e Professora Associada da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

4 Doutor em Psicologia e Professor do Instituto Superior da Ciência, Trabalho e da Empresa – Lisboa – Portugal.

5 Doutora em Odontologia Preventiva e Social – UNESP e Professora Associada da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

¹ Travessa Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, 42 Bairro: Jequiezinho

Jequié – Bahia CEP: 45206-110

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Prevenção e Doença: representações sociais de imigrantes brasileiros em Portugal.

Resumo

Trata-se de um estudo exploratório, subsidiado na teoria das representações sociais, desenvolvido na cidade de Lisboa – Portugal, com cem imigrantes brasileiros. Para a coleta de dados utilizou-se o Teste da Associação Livre de Palavras, com as palavras estímulo: prevenção e doença e analisados pela Análise Fatorial de Correspondência. Os imigrantes representam a prevenção (fator 1), como uma necessidade de ficarem atentos as doenças como o câncer; o que exige adoção de comportamento saudável, com a promoção da saúde; no fator 2, os imigrantes representam prevenção associando-a a: cuidado; persuasão; vacina; preservativo; doença e prevenção rodoviária. Para os imigrantes a doença (no fator 1), significa morte; Aids; desequilíbrio e dor; no fator 2, essa encontra-se associada à: câncer, dor e Aids. Representar “prevenção” associada a “doença” reflete o posicionamento dos imigrantes face a responsabilidade individual na manutenção da saúde.

Palavras-chave: Prevenção; Doença; Representações Sociais; Imigrantes. Abstract

The present study looks to identify the social representations of Brazilian immigrants in Portugal about the concepts of prevention and illness. The study is based in the social representations theory. It’s an exploratory study (N=100) developed in Lisbon – Portugal. It was utilized in the data collection a two question questionnaire in stimuli words: «prevention…and illness……». In the data analysis it was used the Test of free association in words, and after AFC. The Social representations inherent to the stimuli prevention (factor 1)

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concluded that prevention is a necessity in order to be attempt to some illness like cancer, witch demands adoption of a healthful behaviour with health promotion. In factor 2, the immigrants represent prevention associating it with care, persuasion, vaccine, condom, illness and road prevention. To the immigrants illness (factor 1) means: death; Aids; disequilibrium and pain and in factor 2 illness is associated with: cancer, pain and Aids. Representing prevention associated to illness reflects the position of the immigrants face to the individual responsibility in the maintenance of the health.

Keywords: Prevention, Illness, Social Representations; Immigrants. Resumen

El estudio que busca para explorar representaciones sociales referentes a la prevención y de la enfermedad elaboró por los inmigrantes. Uno está sobre un exploratorio, subvencionado en la teoría de las representaciones sociales, estudio desarrollado en la ciudad de Lisboa - Portugal, con cientos inmigrantes brasileños. Para la recogida de datos la prueba de la asociación libre de palabras fue utilizada, con el stimulaton de las palabras: prevención y enfermedad y analizado por el AFC. Los inmigrantes representan la prevención (factor 1), como necesidad que se será atenta las enfermedades como el cáncer; qué él exige la adopción del comportamiento saludable, con la promoción de la salud; en el factor 2, los inmigrantes representan la prevención que lo asocian él: cuidado; persuasión; vacuna; condón; enfermedad y prevención del camino. Para los inmigrantes la enfermedad (en el factor 1), muerte de los medios; SIDA; desequilibrio y dolor; en el factor 2, esto resuelve asociado: cáncer, dolor y SIDA. Para representar la “prevención” asoció la

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“enfermedad” refleja la colocación de los inmigrantes hacen frente a la responsabilidad individual en el mantenimiento de la salud.

Palabras claves: Prevención, enfermedad, representaciones sociales; Inmigrantes.

Introdução

As pesquisas com diferentes enfoques teóricos, em especial, utilizando a teoria das representações sociais, em que procuram salientar a prevenção e a doença como forma de se entender as suas construções informais e apreender dimensões psicosocio-culturais importantes à adoção de práticas de saúde saudáveis, têm demonstrado sua diversidade temática e a ideia de um fenômeno além da questão individual.

Neste aspecto, a construção de sentido sobre o processo saúde-doença, tem sido habitual, gerando conceitos, metáforas de conteúdos socioculturais, vinculados a contextos diversos, épocas e sociedades distintas. Reis; Fradique (2002), focaliza a perspectiva da saúde, em que procura contribuir para o entendimento fenômeno no âmbito da saúde, possibilitando novos olhares aos aspectos envolvidos.

Da mesma forma é importante conhecer o posicionamento dos imigrantes brasileiros, acerca da prevenção e da doença, na perspectiva das representações sociais, por possibilitar o confronto de um conhecimento hegemônico (científico) com o do senso comum, contextualizado socialmente permitindo que os sujeitos conheçam suas representações e as de seus colegas, e consigam entender a importância das representações sobre prevenção e doença como guia à adoção de práticas (estratégias) preventivas de saúde para si e para os outros.

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As representações sociais emergem determinadas pelas condições em que são pensados e constituídos os fenômenos advindos de situações de crises ou conflitos intra e inter grupos. A situação de «ser imigrante» estimulou a realização desse estudo pelo papel prático que as representações têm na regulação dos comportamentos nos grupos e como expressão do pensamento natural, não formalizado sobre si e seu grupo. Conhecer o que pensam e como se comportam os imigrantes suscitados por mecanismos de proteção, podem apontar pistas importantes à vida particular, nos seus grupos de pertença.

Neste sentido, pensar a prevenção enquanto promoção da saúde implica a implementação de políticas de saúde e sociais, em vários níveis, existindo sempre o risco de se aumentar o controle sobre os comportamentos dos indivíduos, fazendo com que a saúde seja o valor cultural mais importante na regulação do comportamento social, (PAÚL; FONSECA, 2001), uma vez que segue uma lógica diferente, embora não menos importante, expressa pela linguagem cotidiana própria de cada grupo social.

A doença como uma interpretação coletiva, complexa e contínua, ou seja, como um discurso sobre toda a sociedade, indica que existe sempre uma preocupação dos sujeitos sociais de atribuírem sentido à doença; desta forma, ela é sempre uma interrogação que ultrapassa o corpo individual e o diagnóstico médico, por não ser apenas um acontecimento reduzido a perspectiva médica. A experiência de «estar doente» ou «ter alguém próximo doente», estimula as pessoas a construírem suas próprias definições sobre a mesma, para atender as suas necessidades, e torná-la mais próxima, familiar e compreensível, dentro do universo social. Por ser ela quase sempre uma ameaça na vida das pessoas, tornando-se responsável pela instituição de

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novas situações e normas proveniente de sua inter-relação saúde-doença, suscita uma acentuada preocupação às práticas de saúde preventivas que são construídas pelos sujeitos e compartilhadas socialmente.

Nesta perspectiva, as representações sociais são elaboradas pelos sujeitos como uma forma de dominar, compreender e explicar fatos e idéias que venham preencher a vida cotidiana, a partir de um conhecimento prático, capaz de dar sentido a esta realidade, dimensionadas pelos processos de objetivação e ancoragem (JODELET, 1984).

As representações possibilitam a apreensão de processos conflituosos, explicando-os e introduzindo-nos na vida cotidiana de modo menos conflitivo. Significa entender a relação entre a organização da vida social dos sujeitos e as manifestações de saúde e doença, configurando-se assim, num processo maior: a vida das pessoas.

O conhecimento sobre representações sociais acerca da prevenção e da doença acontecem a partir de três dimensões (MOSCOVICI, 1961/1978): a informação, que consiste no grau de conhecimento que os imigrantes têm acerca da prevenção e doença por ele representado; o campo de representação ou imagens, associadas a prevenção e doença dentro dos modelos sociais e a atitude, refere-se ao posicionamento ou orientação de um grupo (imigrantes) em relação ao objeto de representação (prevenção e doença).

Objetivo da Investigação

A presente investigação procura contribuir com uma reflexão sobre comportamentos preventivos de saúde considerando-se as formas de conhecimentos elaboradas e compartilhadas pelos imigrantes brasileiros,

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acerca da prevenção e da doença, nos seus grupos de pertença, enquanto guia de comunicação e de condutas de saúde (práticas/estratégias) utilizados pelos mesmos.

Método

Este artigo compreende um recorte de um estudo realizado em Lisboa, Portugal, envolvendo uma investigação empírica, desenvolvida no âmbito da tese de Doutorado Sanduíche, (MOREIRA, 2006), sobre: Situações de trabalho, risco e saúde numa abordagem transcultural: representações sociais, financiado pela CAPES. Optou-se pela Teoria das Representações Sociais (TRS) (MOSCOVICI, 1961/1978) como aporte teórico, para apreender as representações sobre prevenção e doença, construídas por cem imigrantes brasileiros residentes em Lisboa, Portugal, de ambos os sexos, que aceitaram participar do estudo (BRASIL, 1996).

Na coleta de dados utilizou-se o Teste da Associação Livre de Palavras (De ROSA, 1988; 1998), com as palavras estímulo: prevenção e doença. Os dados coletados foram processados no software Tri-Deux Mots, 2.2 (CIBOIS, 1995), em um corpus de cem testes de associação livre, resultando 666 palavras de entrada, com 110 palavras diferentes que foram analisados e interpretados a partir da Análise Fatorial de Correspondência – AFC (DOISE, 1988) e apresentados em figura e tabela.

O método da análise fatorial de correspondência (AFC) envolve técnicas estatísticas descritiva multivariada que salientam as afinidades entre algumas linhas e colunas de uma matriz de dados, baseada na hipótese da independência entre as linhas e as colunas dessa mesma tabela. (DOISE, W; CLEMENCE, A; LORENZI-CIOLDI, F, 1992).

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Na realização da análise considera-se as modalidades ou palavras evocadas que são distribuídas de maneira oposta sobre os eixos ou fatores (F1 e F2), cujo espaço fatorial é determinado pelas respostas aos estímulos (prevenção e doença) ou palavras indutora evocadas pelos sujeitos.

Assim sendo, a análise fatorial de correspondência permite explicar as representações sociais apreendidas a partir do teste de associação livre de palavras responsaveis pelo dimensionamento do campo de representação social ou imagens, (gráfico 1), mediante processo de objetivação, salientando as relações de atração e exclusão entre diferentes dimensões de representação.

Sobre as Representações Sociais da Prevenção e da Doença.

Os resultados e comentários de análise das representações sociais centram-se em dois eixos temáticos: a prevenção e a doença que estão objetivadas no gráfico a seguir.

Gráfico 1: em anexo

O resultado da análise fatorial de correspondência apresenta no fator 1, uma explicação de 72,7% da variância, enquanto o fator 2 explica 15,4%, para 666 palavras (110 diferentes).

A apresentação e comentários sobre os resultados enfatizam conteúdos (dimensões) e processos das representações sociais da prevenção e da doenças segundo imigrantes brasileiros.

Objetivação e Ancoragem da Prevenção e da Doença.

A prevenção é representada no gráfico acima, com relação ao fator 1 (palavra em itálico), dois agrupamentos de representações configuradas em oposição e distribuídas da seguinte maneira: no eixo negativo (esquerda)

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verifica-se imagens associadas ao estímulo prevenção e compartilhadas pelos imigrantes brasileiros, como: saúde (CPF: 19); educação (CPF: 24); qualidade de vida (CPF: 26); promoção da saúde (CPF: 37); vacina (CPF:19). A doença é salientada por: desequilíbrio (CPF:51); dor (CPF: 25); educação (CPF: 38) e escuridão (CPF: 24).

Situados no espaço oposto, observa-se no eixo positivo (direita) imagens associadas a prevenção, por: câncer (CPF:153); comportamento saudável (CPF:26); preservativo (CPF:65); exames (CPF:45); prevenção rodoviária (CPF:69); sexo (CPF:29). Enquanto doença foi associada a sexo (CPF:29) e Aids (CPF:89).

Assim, com relação à prevenção, verifica-se que os imigrantes compartilham o sentimento de medo explicitado pela Aids como uma situação de perigo, decorrente de experiências desagradáveis, quer seja pelo fato de se encontrarem ilegais ou pela própria vulnerabilidade em contraí-la, o que os leva a utilizarem mecanismos/formas de prevenção, como: o uso de preservativo no sexo e a manutenção da saúde adotando um comportamento saudável.

Os imigrantes brasileiros associam cuidar à prevenção, isto é, eles precisam viver atentos para não serem acometidos por nenhuma doença, em especial, pelo câncer, pelo significado de morte. Desta forma, é conveniente considerar que as representações sociais sobre prevenção e doença, encontram-se ancoradas na difusão da promoção da saúde em que os imigrantes consideram a educação como base da qualidade de vida; no seu universo semântico não foi encontrada apenas a saúde como o único valor cultural mas como guia ou orientação do comportamento social grupal.

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No fator 2 (em negrito), os imigrantes representam prevenção no eixo positivo, ancoradas no cuidar (CPF:50) e na persuasão (CPF:67); isto é, nota-se ancoragens psicossociais partilhadas (no eixo negativo), pelas noções de: vacina (CPF:36); preservativo (CPF:20); desequilíbrio (CPF:27); doença (CPF:21); prevenção rodoviária (CPF:121) e serviços de saúde (CPF:33).

Vale salientar que para os imigrantes brasileiros as representações sociais sobre a doença (identificadas no eixo positivo) associam-se ao câncer (84); dor (CPF:39); Aids (CPF:39) e tristeza (CPF:50), todas de conteúdos negativos; no eixo negativo, destacam-se representações de cunho mais institucional, como: hospital (CPF:56), pessoal de saúde (CPF:62), tratamentos (CPF:135) e a escuridão (CPF:24), como fruto de uma produção de conhecimento preocupante, entre os imigrantes.

Assim, é possível destacar as imagens sobre prevenção e doença construídas pelos imigrantes brasileiros na tabela abaixo.

Tabela 1: em anexo

Os fatores 1 e 2, salientam representações dos imigrantes brasileiros associando prevenção a doença, explicitada pelo câncer com uma forte contribuição (153), ou seja, a prevenção é muitas vezes evocada por eles, como uma necessidade de psicologicamente afastar doenças, como o câncer, talvez por terem vividos experiências negativas, constituindo-se uma ameaça ou como uma forma de relacionamento mais próximo, em que a partir de uma familiarização, eles conseguem conviver com a doença, seja por experiência própria, consigo ou com algum familiar ou amigo.

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Entre as associações feitas pelos imigrantes para representarem prevenção e doença, pode-se observar que os mesmos apontam a prevenção

rodoviária, como uma preocupação partilhada, pela experiência de viverem num país com uma sinistralidade na estrada tão elevada, o que pode constituir um bom sinal, ou pelo menos revela que os imigrantes, muitos não sendo profissionais de saúde, estão sensibilizados pelas campanhas publicitárias e pela mídia.

Por um lado, as diferentes ancoragens sociais para prevenção e doença emergem associando-as a necessidade de uso dos preventivos no sexo, fruto das informações veiculados nas campanhas de prevenção da Aids, quer seja, na comunicação falada ou escrita. Essa preocupação de enfatizar a necessidade do uso de preservativos no sexo é complementada à atenção para exames, como auxiliar de diagnóstico para se excluir existência ou não, de doenças, ou mesmo para a detectar precocemente. Existe sem dúvida, uma forte pressão da sociedade sobre os técnicos de saúde, para oferecerem melhores atendimentos, e assim essas falas podem sugerir uma forma silenciosa de falarem de suas experiências, enquanto imigrantes, sobre os serviços de saúde. (REIS; FRADIQUE, 2002).

Por outro lado, em oposição observa-se palavras que trata dos aspectos mais saudáveis, como as que apontam a prevenção como uma forma de operacionalização da promoção da saúde, compartilhada pelos imigrantes, como possibilidade de manter a qualidade de vida, resultante de estratégias ou práticas preventivas. Neste sentido, os mesmos afirmam que uma das condições para a qualidade de vida ser viável é necessário se investir na educação, em que os imigrantes a consideram como um fator fundamental

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para o desenvolvimento de comportamentos saudáveis em prol da saúde e a tomada de consciência para prevenir as doenças. Para tanto, um dos recursos mais utilizado pelos sujeitos é a vacina.

Para os imigrantes à prevenção pode acontecer por meio da persuasão (67), em que denuncia uma forma de incentivar os mesmos a se cuidar (50). Essa ideia salienta um importante poder explicativo, revelando assim, a noção de prevenção resultante, em parte, da capacidade de ser influenciado no sentido a ter cuidado com a própria saúde.

A doença, no fator 1 (no eixo positivo) encontra-se fortemente associada à morte e à Aids que em paralelo com câncer (no segundo factor) parecem ser as doenças mais conhecidas e provavelmente, as mais ameaçadoras, até mesmo pelo alto índice de contaminação pelo HIV, em Portugal. No eixo negativo, destacam-se as oposições de conteúdos mais gerais, associados à doença, presente em algumas teorias subjetivas dos sujeitos, como: a «doença é a existência de desequilíbrio, em que a educação configura um aspecto positivo responsável pela presença de algumas doenças»; a «doença significa dor e escuridão», a primeira como «um sinal e/ou sintoma, muitas vezes revelador de doença ou desequilíbrio, enquanto a escuridão é simbolizada por tristeza em face da falta de perspectivas futuras, ou mesmo como um sinal de proximidade com a morte».

No fator 2, (no eixo positivo), a doença significa para os imigrantes o câncer (84) e a Aids, que também contribuíram para a explicação do primeiro fator, acompanhada de tristeza e dor, que muitas vezes espelha os sentimentos e manifestações associadas à doença, como o lado mais nevasto do adoecimento humano. Para doença, no eixo negativo, opõem-se doenças

Referências

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