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TÍTULO DO TRABALHO AS APROPRIAÇÕES DOS ESTUDOS NEUROPSICOLÓGICOS DE A. R. LURIA NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS: AVANÇOS OU RETROCESSOS?

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Academic year: 2021

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TÍTULO DO TRABALHO

AS APROPRIAÇÕES DOS ESTUDOS NEUROPSICOLÓGICOS DE A. R. LURIA NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS: AVANÇOS OU RETROCESSOS?

Marília Daefiol Herrero Gomes* (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil); Silvana Calvo Tuleski (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil); Hilusca Alves Leite (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil).

contato: mariliadhg@gmail.com

Palavras-chave: Psicologia histórico-cultural. Neuropsicologia. Fundamentos marxistas.

Alexander Románovich Luria (1902-1977) foi um neuropsicólogo soviético integrante da troika juntamente com Liev Semiónovich Vygotsky (1896-1934) e Alexis Nikoláevich Leontiev (1903-1979). Os três pesquisadores, liderados por Vigotski, buscavam a criação de uma nova Psicologia, alternativa com relação às correntes psicológicas existentes na época. Dessa forma, suas pesquisas e trabalhos culminaram no desenvolvimento da Psicologia Histórico-Cultural (PHC) fundamentada pelo Materialismo Histórico-Dialético (MDH) de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) (OLIVEIRA; REGO, 2010). A PHC postulou a existência de processos naturais do tecido nervoso, como as sensações, formas elementares de memória e atenção, mas também a existência de outros processos – mais complexos – que, para emergirem, precisariam de estímulos sócio-históricos e culturais, as funções psicológicas superiores, como a atenção dirigida e a memória voluntária. (LURIA, 2016).

Desse modo, os psicólogos russos propuseram um desenvolvimento subsidiado pela aprendizagem – tanto aquela institucionalizada nas escolas quanto a aprendizagem em casa, anterior à iniciação escolar – algo que foi de encontro a teorias que defendiam a maturação biológica ou o desenvolvimento puramente biológico de funções e habilidades cognitivas no ser humano. Vygotsky e Luria (1996) defendiam a ideia de que pela instrução ocorria um processo de reequipamento, por meio da apropriação de habilidades culturais. Este ocorreria a partir da transformação da natureza e da consequente e concomitante transformação do próprio ser humano através da utilização de instrumentos e signos. Nesse ponto, é possível

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notar a importância da atuação conjunta de aspectos sociais, culturais e biológicos na obra produzida pela troika (VYGOTSKY; LURIA, 1996, p. 98).

Além do desenvolvimento, pode-se sintetizar a proposta dessa teoria Histórico-Cultural a partir de algumas premissas: a primeira é relativa à necessidade da utilização do método genético nas investigações acerca do desenvolvimento, ressaltando a relevância de aspectos socioculturais no funcionamento cognitivo superior. A segunda aponta que as funções psicológicas superiores têm suporte biológico (baseiam-se nas naturais, elementares), mas que são passíveis de alterações substanciais ao longo do tempo. Tais mudanças só são possíveis devido ao funcionamento psicológico complexo estar pautado nas relações sociais de um indivíduo, imerso numa dimensão histórica e cultural. Por último, “qualquer atividade humana depende da mediação dos significados que foram historicamente acumulados e transmitidos às novas gerações” (HAZIN et al, 2010, p. 90).

Todo esse conjunto de preceitos desenvolvidos pela troika dentro da PHC é utilizado por Luria como base para o desenvolvimento da Neuropsicologia. Por exemplo, ele propõe a existência de três unidades funcionais que compõem o cérebro, defendendo, assim, a localização dinâmica das funções cerebrais. De acordo com Tuleski (2011): a primeira delas funciona para regular o tono ou a vigília, a segunda é responsável por obter, processar e armazenar as informações e a terceira para programar, regular e verificar a atividade mental. Essas três unidades se transformam durante o desenvolvimento do indivíduo, sempre interagindo com o contexto histórico-cultural desse mesmo sujeito (OLIVEIRA; REGO, 2010). Essa e as outras propostas de Luria dentro da Neuropsicologia são embasadas pela teoria vigotskiana e pelo Materialismo Histórico-Dialético.

Apesar disso, segundo Tuleski (2010), foram feitos diversos estudos no período entre os anos de 1980 e 2005, principalmente relacionados à Neuropsicologia e à Neurociência, que se apropriavam da teoria luriana de forma parcial e reducionista. O trabalho de Tuleski (2010) indica a existência de uma assepsia em relação à fundamentação marxista do autor e ao MHD, a fragmentação de seus estudos ontogenéticos dos filogenéticos, a ausência de referência ao social e ao cultural e a separação das obras de Luria das concepções de Vigotski nos trabalhos analisados por ela. Esses aspectos apontados geraram aproximações equivocadas da teoria de Luria ao interacionismo e também a visões organicistas e reducionistas – biologizantes e

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patologizantes. Por isso, esse estudo se propôs a verificar as interpretações da obra de Luria entre os anos de 2006 e 2016, para averiguar se o panorama apontado por Tuleski (2010) sofreu alguma mudança, compreendendo as apropriações feitas dos estudos lurianos.

A metodologia utilizada foi revisão bibliográfica. A busca por artigos – fontes secundárias – publicados entre os anos de 2006 e 2016, na língua portuguesa e que abordassem a teoria de Luria foi feita nas bases de dados Capes e Scielo, com os seguintes descritores: Luria X Neuropsicologia; Luria X Vigotski; Luria X Vigotsky; Luria X Vygotski; Luria X Vygotsky; Luria X Psicologia Histórico-Cultural; Luria X Psicologia Sócio-Histórica. Foram encontrados quarenta e seis artigos que cumprem esses critérios, eles são provenientes das seguintes áreas de pesquisa: Estudos sociais e culturais (4,2%); Medicina (4,2%); Ciência sociais e humanas (4,2%); Linguística (6,5%); Educação em ciência exatas (15,2%); Educação (19,5%); Psicologia (24%) e demais áreas (22,2%).

As obras centrais – fontes primárias – de Luria, utilizadas como parâmetros para análise dos artigos foram lidas e fichadas, assim como os artigos encontrados. Entretanto, apenas vinte e quatro (dos quarenta e seis artigos encontrados) abordavam conceitos e concepções da teoria de Luria, por isso, apenas estes foram analisados quanto à fidelidade aos preceitos da Histórico-Cultural e aos fundamentos marxistas. A pesquisa encontra-se em andamento, portanto, serão apresentados resultados parciais que já possibilitam certa compreensão do panorama atual das apropriações do trabalho de Luria.

No momento, foram constatados os seguintes dados: todos os artigos tratam as obras de Vigotski e de Luria como contínuas uma da outra e, dentre os vinte e quatro artigos, apenas 8,2% aproximam o autor do interacionismo, equívoco epistemológico quanto à interpretação da obra de Luria, encontrado em um número muito reduzido de artigos. Por outro lado, 62,8% deles ou deixam de mencionar diretamente os fundamentos marxistas (base para a obra luriana) ou apenas citam o materialismo histórico-dialético sem explicar seus principais conceitos e como se articulam dentro da obra, ou seja, um número muito significativo que indica a permanência de um desconhecimento por parte dos autores ou de uma assepsia do MHD da obra de Luria. O que, segundo Tuleski (2010) neutraliza a potencialidade da compreensão da importância das relações sociais e de produção na constituição do psiquismo

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individual, inviabilizando discussões a respeito da desumanização na sociedade capitalista atual.

No geral, menos da metade – apenas 29% – das fontes secundárias não apresentam problemas tão evidentes como estes apontados, já que a maioria dos artigos fragmenta a obra de Luria e se utiliza apenas da parcela biológica, excluindo os aspectos socioculturais. Os números expostos são a representação quantitativa das distorções e interpretações reducionistas que a Neuropsicologia de Luria vem sofrendo. Esse entendimento leva a uma retomada de concepções patologizantes do não-aprender, considerando apenas aspectos biológicos e excluindo a produção sociocultural do problema. As análises passam a ser baseadas exclusivamente no indivíduo e em “suas patologias”, desconexas do contexto da realidade do sistema de ensino e do sistema capitalista excludente e desigual. Uma consequência contundente desse movimento de patologização do não-aprender é a medicalização, que acaba sendo respaldada por partes recortadas e desconexas da teoria de Luria, indo contra o que o autor soviético defendeu em sua Psicologia. De acordo com Tuleski (2010):

Luria já apontava no século passado o quanto a Psicologia, apesar dos avanços alcançados, vinha negligenciando o fato de que muitos processos mentais são sócio-históricos em sua origem [...] Diante do exposto, percebe-se quanto a afirmação de Luria continua vigorando no âmbito da Psicologia ainda hoje, em particular quando esta se pauta na Neuropsicologia e Neurociências moderna (p. 157).

Fica claro que o panorama exposto por Tuleski (2010) não sofreu muitas mudanças, pois a obra de Luria continua sendo apropriada e compreendida de forma superficial. Mas, para que haja compreensão da integralidade da obra de A. R. Luria, deve-se entender sua fundamentação nos pressupostos pensados por Marx e Engels e a concepção luriana-vigotskiana do funcionamento cerebral, que se opõe diretamente ao reducionismo biológico. Por isso, torna-se evidente a necessidade de estudos que exponham esse cenário atual concernente às apropriações da Neuropsicologia e também uma urgência pela retomada das principais características críticas da obra de Vigotski, Luria e Leontiev, resgatando o MHD, a

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importância da cultura, da historicidade, dos aspectos filogenéticos e de tantos outros preceitos defendidos e desenvolvidos pela troika.

REFERÊNCIAS

HAZIN, I. et al. Contribuições da Neuropsicologia de Alexsandr Romanovich Luria para o debate contemporâneo sobre relações mente-cérebro. Mnemosine, v. 6, n. 1, p. 88-110, 2010. LURIA, A. R. A Psicologia como ciência histórica: sobre a questão da natureza histórica dos processos psicológicos, Santa Maria, 2016.

OLIVEIRA, M. K.; REGO, T. C. Contribuições da perspectiva histórico-cultural de Luria para a pesquisa contemporânea. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. especial, p. 107-121, 2010.

TULESKI, S. C. As apropriações contemporâneas dos estudos de A. R. Luria e suas

implicações para a psicologia e educação. Arma da Crítica, Fortaleza, v. 2, p 155-177, mar. 2010.

_____ A relação entre texto e contexto na obra de Luria: apontamentos para uma leitura marxista. Maringá: Eduem, 2011.

VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R. Estudos sobre a história do comportamento: símios,

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