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REGISTROS HISTÓRICOS DE GRAMÁTICA E HISTÓRIA: cadernos de anotações e formação de professores/dourados 1970

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Anais Eletrônicos do IV EHECO, Campo Grande, MS, 2017, ISSN 22374310

REGISTROS HISTÓRICOS DE GRAMÁTICA E HISTÓRIA: cadernos de

anotações e formação de professores/Dourados 1970

Clóvis Irala1 Jackson James Debona2

Resumo

O presente trabalho busca compreender aspectos da formação de professores leigos rurais no município de Dourados, Sul de Mato Grosso, a partir da análise de materiais didáticos e registros utilizados por professores que estiveram em exercício efetivo da profissão durante a década de 1970. A metodologia assenta-se em examinar a documentação obtida com professores leigos, em especial cadernos de anotações utilizados em cursos de formação de professores, oferecidos pelo Estado de Mato Grosso, para habilitar pessoas interessadas no exercício do magistério. A leitura de impressos relacionados a assuntos pedagógicos, apoiados na concepção de dispositivos de ensino, circulação de ideias e apropriação cultural, assentados no aporte da Nova História, na vertente da Historia Cultural e a discussão das teorias de currículo como artefato histórico, que congregam marcas do seu tempo e o interesse dos grupos em disputa, propostas por Ivor Goodson (2001), Pierre Bourdieu (2001) dentre outros, o que nos possibilita abrir novas perspectivas de pesquisa, contribuindo para a construção dos fatos históricos. A partir do exame preliminar dos documentos, pode-se confirmar a existência de cursos de formação de professores para o magistério rural na década de 1970, tendo feito parte da turma do curso magistério rural de férias, ofertado pelo Colégio Osvaldo Cruz de Dourados no mês de janeiro de 1970, a professora Jair Martins Ferreira, que ministrava aula na Escola Rural Mista Coronel Ramiro Fernando de Noronha – Distrito da Picadinha, conforme consta no caderno de anotações de História e de Gramática.

Palavras-chave: Cadernos de Anotações. Formação de Professores. Mato Grosso.

Introdução

Este trabalho tem como objetivo, compreender aspectos da formação de professores leigos rurais no município de Dourados, Sul de Mato Grosso, a partir da análise de materiais didáticos e registros utilizados por professores que estiveram em exercício efetivo da profissão durante a década de 1970, privilegiando os cadernos de

1 Mestre em Educação - Faculdade de Educação da UFGD-Universidade Federal da Grande Dourados.

Graduado (em Pedagogia- Centro Universitário da Grande Dourados UNIGRAN). Professor no curso de Pedagogia presencial do Centro Universitário da Grande Dourados-UNIGRAN. Professor na Educação Infantil, da rede Municipal de Educação de Dourados-MS. E-mail: clovisirala@gmail.com

2 Mestre em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Mato

Grosso - UFMT. Especialista em Metodologia do ensino de História e Geografia. Graduado em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS e Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas. Professor no Ensino Fundamental – Anos Finais, da rede Municipal de Educação de Dourados-MS.

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história e gramática da professora Jair Martins Ferreira, da Escola Rural Mista Coronel Ramiro Fernando de Noronha (atual escola Geraldino Neves Correa), localizada no Distrito da Picadinha. Esses cadernos fizeram parte do material de formação da referida professora, no curso de magistério rural de férias, ofertado pelo Colégio Osvaldo Cruz de Dourados, no mês de janeiro de 1970.

A escolha pela escrita deste trabalho sobre os cadernos de registros de uma professora do ensino primário rural no município de Dourados está relacionada ao fato de que eles fazem parte do acervo de fontes documentais que foram levantadas para a escrita da história da escola Geraldino Neves Correa3, as quais, no entanto, ainda não foram exploradas em estudos anteriores.

Entendendo a potencialidade da fonte para discutir uma problemática paralela aos estudos sobre a formação de professores em Mato Grosso, e contando com o esforço colaborativo das ferramentas de análise, próprias do ofício do historiador, aliadas à experiência no trato com as lides teóricas do campo da educação, esse trabalho propõe evidenciar as potencialidades de uma fonte histórica, como os cadernos escolares, mas na perspectiva dos professores, no papel de alunos à época, visto que o contexto em que a documentação se inscreve é o curso de formação de professores. Como aponta Irala (2014, p. 41).

O ensino primário em Mato Grosso foi marcado por alguns aspectos, como a criação dos grupos escolares, escolas, escolas reunidas, além da criação do Liceu de Cuiabá e da Escola Normal de Cuiabá, todas criadas visando o atendimento às crianças moradoras na zona urbana e também pela reorganização da instrução pública por meio da Lei 533, de 04 de julho de 1910, no governo de Pedro Celestino. Este documento conduziria a reorganização e cuidado com o ensino, consolidando propostas para investir na instrução pública primária e impulsionando o ideário da educação. Este mesmo documento autorizava a contratação de nove normalistas formadas pelas escolas normais de São Paulo. Assim processou-se a formação e contratação de professores normalistas em décadas subsequentes no Estado de Mato Grosso.

Diante das informações, buscamos elementos para compreender aspectos do curso de formação de professores, como no caso da professora Jair Martins Ferreira, buscando compreender que materiais eram utilizados na formação desses professores

3 IRALA, Clóvis. Educação rural em Dourados: a escola Geraldino Neves Correa 1942-1982.

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leigos e em que período do ano se ofertava essa formação na área rural da região de Dourados.

Nesse sentido, a metodologia deste trabalho assenta-se em examinar a documentação obtida com professores leigos, especialmente cadernos de anotações utilizados em cursos de formação de professores oferecidos pelo Estado de Mato Grosso, para habilitar pessoas interessadas no exercício do magistério.

Para subsidiar as análises dos estudos, dialogamos com o referencial bibliográfico em duas vertentes: as leituras de impressos relacionados a assuntos pedagógicos, apoiados na concepção de dispositivos de ensino, circulação de ideias e apropriação cultural e s nos aportes teóricos da Nova História, na vertente da História Cultural e a discussão das teorias de currículo como artefato histórico, que congregam marcas do seu tempo e interesses dos grupos em disputa, propostas por Ivor Goodson (2001), Pierre Bourdieu (2001) dentre outros.

A Nova História Cultural ampliou o campo de abordagens dos historiadores a novos horizontes, pois os acontecimentos presentes na vida cotidiana e as personalidades históricas começaram a ser analisadas e estudadas. Assim, as contribuições da Nova História Cultural surgiram da “[...] emergência de novos objetos no seio das questões históricas, como as formas de sociabilidade, as modalidades de funcionamento escolar, entre outros” (CHARTIER, 1990, p.14). É nesta perspectiva que analisar a documentação pessoal da professora Jair Martins Ferreira (cadernos de história e gramática), nos permite ampliar os horizontes para o campo das abordagens históricas sobre temas e acontecimentos presentes na vida cotidiana das personalidades que foram silenciadas pelos recortes de períodos, objetos e abordagens, resgatadas pela análise documental dos historiadores da educação.

Assim, podemos afirmar que a historiografia tem buscado ultrapassar os limites de uma tradição dos discursos e de documentos oficiais para a escrita da história. Atualmente, as produções tomam como ponto de partida os seus sujeitos, a política, geografia e aspectos socioeconômicos de uma determinada região, ampliando as discussões e contribuindo para a produção histórica por meio dos escritos e pesquisas, para assim pensar a formação de professores em Dourados, na perspectiva de possibilidades historiográficas.

Em consulta ao banco de dados de dissertações defendidas na Faculdade de Educação (FAED) da Universidade Federal da Grande Dourado (UFGD), não foi

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possível encontrar trabalhos (Dissertações e Teses) que versem sobre a temática, em específico, “cadernos de anotações de formação de professores”. Desse modo, para além das análises, justificamos que pesquisas sobre cadernos de formação de professores seja um campo profícuo para novas investigações e novos olhares, contribuindo com a historiografia regional e local sobre os sujeitos professores.

A Educação no Município de Dourados e Região

O município de Dourados foi criado durante o período da segunda República (1930-1945). Inicialmente, o seu crescimento foi lento, em virtude das dificuldades de acesso, comunicação e transporte. Mesmo com todas as dificuldades apresentadas e a precariedade de recurso básico para habitação, a região chamou a atenção de muitas pessoas em busca de riqueza e de novas terras, principalmente pela qualidade do solo, cuja fertilidade fez com que Dourados se tornasse um município em ascensão. Esse momento de grande crescimento populacional em Dourados foi marcado, durante o governo de Getúlio Vargas, mais precisamente entre os anos de 1937 a 1945, período denominado Estado Novo, pelo lançamento da Campanha “Marcha para Oeste”, que consistia na política de incentivo ao povoamento da parte oeste brasileira.

O projeto de colonização idealizado pelo governo de Getúlio Vargas estabelecia-se, e dentre suas políticas estava a criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), criada em 1943 pelo decreto-lei 5.941, de 28 de outubro, na parte Sul do estado de Mato Grosso. Muitas famílias deslocaram-se para a Colônia, atraídas pelas propagandas emitidas por Vargas nos veículos de comunicação oficial ou por informações de familiares e amigos que, ao tomarem conhecimento da doação dessas terras, apressavam-se em avisar suas famílias. Para ocupar as terras da Colônia Agrícola Nacional de Dourados – CAND vieram migrantes de quase todas as regiões, principalmente do Nordeste. À época, também vieram imigrantes de países da América Latina, Europa, Ásia e Japão. A implantação da Colônia Nacional Agrícola, no entanto, não proporcionou para o município de Dourados apenas a expansão demográfica, com o povoamento dos “espaços vazios” da localidade, mas trouxe, também, transformações econômicas, políticas, culturais e sociais. Essas mudanças aceleraram o desenvolvimento urbano, com a instalação, a partir de 1950, de hospitais, bancos, cinema, clubes, telefone; ampliação do comércio, loteamentos imobiliários; a criação de associações de classe e, também, de mais escolas.

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As transformações ocorridas no espaço urbano de Dourados, devido ao progresso motivado pela colonização, também tiveram um papel significativo na área da educação, que pode muito bem ser analisada dentro dessa perspectiva, uma vez que a criação da CAND acabou por incentivar a oferta de instrução e a atuação federal na região de Dourados, na construção de escolas. A esse respeito, Gressler e Swensson (1988, p. 100) registram que em 1946, o Decreto Municipal nº 70 estabelecia o regulamento da Colônia Agrícola Municipal de Dourados e, no seu art. 22, determinava a oferta de “instrução primária” gratuita para os filhos de colonos, com frequência obrigatória. Além disso, o artigo 38 estabelecia multa de Cr$ 100,00 para pais de menores não frequentes e o “comparecimento intermédio da autoridade policial”.

Antes da colonização desencadeada pela Marcha para o Oeste, a educação crescia lentamente em Dourados. No início, ela acontecia nas fazendas da região e/ou nas próprias casas dos professores e alunos. Somente na década de 1930 é que se registra, na cidade, a criação de escolas na área urbana, com a criação de instituições de ensino, como a Escola Reunida das Professoras Ernani Rios e Antônia Cândido de Melo; a Escola Moderna (escola ativa com método visual-auditivo); a escola do professor Laucídio Paes de Barros; a escola do Professor Gonçalo e a da Professora Antônia da Silveira Capilé (FERNANDES; FREITAS, 2003).

Em 1939 foi instalada a primeira escola confessional, com turmas de 1ª a 4ª série, em 6 de abril, a “Escola Erasmo Braga”, em Dourados. Essa instituição era de caráter privado e confessional, ligada à Igreja Presbiteriana do Brasil. As suas primeiras experiências escolares aconteceram na Casa de Culto. A influência da Igreja Católica na educação em Dourados ocorreu a partir do início dos anos de 1940, mais precisamente em 1941, com a criação da Escola Paroquial Imaculada Conceição.

Ao prosseguir na análise do papel desencadeado pela colonização na educação em Dourados, é oportuno registrar que, entre o final dos anos de 1940 e a década de 1950, foram criadas escolas importantes na cidade: o primeiro Grupo Escolar, “Joaquim Murtinho”, a Escola Paroquial “Patronato de Menores”, as primeiras escolas de ensino secundário, o Colégio “Osvaldo Cruz”, a Escola “Imaculada Conceição”, das Irmãs Franciscanas e o Colégio Estadual “Presidente Vargas”.

O Grupo Escolar “Joaquim Murtinho” foi criado pelo decreto nº 386, de 22 de novembro de 1947, pelo governador de Mato Grosso. Esse Grupo Escolar constituiu-se o primeiro na modalidade de escola primária em Dourados, uma vez que até esse

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período, o ensino primário era apenas oferecido na Escola Erasmo Braga, nas escolas reunidas e nas escolas rurais isoladas.

O Colégio Osvaldo Cruz, instalado em Dourados no ano de 1954, foi a primeira instituição a oferecer o ensino ginasial na cidade. Esse Colégio iniciou suas atividades com o curso primário e o curso ginasial, oferecidos em dois turnos, no diurno e no noturno. Em 1960, passou a oferecer o curso Técnico em Contabilidade e, em 1965, instalou o Curso Normal, tornando-se a segunda instituição de ensino de Dourados a oferecer formação de professores primários.

Em 1955, foi criada pelas Irmãs Franciscanas, vindas do Rio Grande do Sul, a Escola Imaculada Conceição. No início, as irmãs ofereceram, na Escola, apenas o Curso primário. Somente em 1958 passaram a oferecer também o Curso Ginasial e o Curso Normal. Este último constituiu-se o primeiro de formação de professores primários oferecido na cidade de Dourados. O curso contava com o Normal Regional (Primeiro Grau) e o Normal Colegial (segundo grau), conforme prescrevia a Lei Orgânica do Ensino Normal de 1946.

Apesar de o Colégio “Osvaldo Cruz” e a Escola “Imaculada Conceição” terem conferido certo ar de progresso e valorização cultural no ensino secundário em Dourados, foi a Escola Estadual Presidente Vargas, criada em 1951, pelo governo de Mato Grosso, e instalada no ano de 1958 que trouxe prestígio para a cidade, no contexto do ensino secundário em Mato Grosso.

A documentação e a investigação histórica

Os cadernos escolares vêm sendo, pouco a pouco, elevados ao status de fonte significativa na compreensão de aspectos não evidenciados em documentos de outra natureza sobre a história da educação, sobretudo aquela de matriz escolar. Jean Hébrard (2001) destaca a importância dessa fonte, qualificando-a como testemunho de parte do trabalho realizado na escola. Embora, às vezes, constituam apenas uma parte da representação do que ocorre na sala de aula, apresentam modos pelos quais se objetiva, no contexto intraescolar, o ato da escrita. Em consonância com o que é apontado por Hébrard (2001), como o objetivo da pesquisa, os cadernos escolares são entendidos como instrumento privilegiado na identificação de variáveis que indiciam dimensões da prática docente. Este é, pois, um trabalho que concebe os cadernos escolares como documentos significativos, que apesar de não abrangerem toda a escrita organizada na

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sala de aula, traduzida a partir da interação com outros suportes que vão desde a folha solta até a tela do computador, informam sobre uma parcela do que nela ocorre.

Dadas as indubitáveis vantagens que os cadernos escolares oferecem – em comparação com as prescrições oficiais, os livros de texto e os programas ─ para conhecermos e nos aproximarmos do currículo real, pode-se cair na tentação de que essa fonte reflita quase toda a realidade escolar. [...] o que podemos fazer é nos aproximarmos do passado e reconstruí-lo de modo parcial e com um enfoque determinado. [...] Nem tudo está nos cadernos. (VIÑAO FRAGO, 2008, p. 25).

A professora Jair Ferreira Martins residia no município de Dourados, mais especificamente no distrito da Picadinha, onde ministrava aulas na Escola Rural Mista Coronel Ramiro Fernando de Noronha. Essa condição geográfica não a impedia de ter acesso e fazer uso de jornais, revistas e livros diversos, “era uma pessoa bem informada, sendo assinante do jornal O Progresso desde sua fundação”4. Face ao exposto, a apropriação de informações pela professora Jair, através da literatura, possivelmente complementava a sua formação enquanto professora.

Podemos ainda destacar que a referida professora foi esposa do senhor Abílio Ferreira, que mantinha um Cartório de Ofício no referido distrito, e que ainda participava da vida política, à época, filiado ao PSD (Partido Social Democrático). A professora, também participava das discussões políticas, haja vista, que acompanhava seu esposo Abílio Ferreira nas reuniões do partido PSD, que tinha como companheiros políticos o ex-deputado Federal Weimar Gonçalves Torres, Onofre Pereira de Matos, Albino Torraca, José Augusto de Matos Pereira, além do petebista contador, ex-vereador, deputado Vivaldi de Oliveira. (JORNAL ELETRÔNICO DOURADOS NEWS 2009).

Desse modo, justificamos aqui, que nas tentativas de reconstruir o passado, mesmo analisando o conteúdo das fontes, lacunas irão persistir.

A escola, como espaço de atuação da professora Jair Martins Ferreira, caracterizava-se por ser frequentada por crianças moradoras no distrito da picadinha e por uma grande parte crianças de sítios e fazendas no entorno do Distrito. As salas eram multiseriadas, e a professora ministrava aulas da 1ª a 4ª série dos anos iniciais.

4 Fala do Senhor José Tibiriçá Martins Ferreira, filho da professora Jair Martins Ferreira, em entrevista

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A forma pela qual o ensino era estruturado à época, não permitia a formação continuada concomitantemente com os dias letivos. Os cursos de “aperfeiçoamento” eram feitos durante as férias escolares dos alunos. Os professores montavam acampamentos nas localidades onde eram oferecidos os Cursos de Magistério para os professores Leigos. No caso da professora Jair Martins Ferreira, a produção dessas anotações foi feita na localidade da Vila São Pedro, onde o curso estava sendo oferecido.

Como podemos observar no caderno de anotações de história e de gramática da professora Jair Martins, que segue abaixo, a produção de anotações, que à época lhe ofereciam subsídio para sua formação, torna-se, à mão do pesquisador, uma fonte e um documento de elevado grau de importância simbólica de um tempo. Nas anotações da professora Jair, foi possível observar a carga semântica indicada nos contornos de um pensamento teórico pedagógico, desenhado como prática á época.

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Anais Eletrônicos do IV EHECO, Campo Grande, MS, 2017, ISSN 22374310 Imagem 1 - Caderno de anotações de História

Fonte: Acervo particular de Clóvis Irala.

Nas páginas iniciais do caderno de história da professora Jair Martins Ferreira5, com data em 1º de janeiro de 1970, um caderno de capa fina, a palavra colegial, com imagens de crianças uniformizadas adentrando ao interior de uma instituição escolar, com 48 folhas, e, na contra capa, a letra do Hino Nacional, com o carimbo das Indústrias Reunidas Irmãos S.A, acrescentado a palavra DE LUXE. Neste caderno, destacam-se os seguintes conteúdos ministrados para a disciplina de história: “Finalidade da história não é apenas expor os fatos e acontecimento na ordem em que se desenvolveram na vida dos povos, mas estudar os motivos que originaram tais acontecimentos. Dividem-se em: Nacional, geral e universal”. (anotação da professora no interior do caderno).

5 Sobre os cadernos, importante salientar que eles foram doados a Clóvis Irala, no ano de 2016, pelo então

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É possível observar que as orientações transmitidas aos professores no curso, conforme a análise dos conteúdos nos cadernos, as impressões e em que contextos deveriam ser ministrados as aulas, numa perspectiva de pesquisar os fatos e elucidar seus acontecimentos. Podemos compreender estas etapas como regras do currículo, utilizadas como ferramentas pedagógicas do saber, do poder, e dos conteúdos na formação dos professores, que seriam posteriormente transmitidos aos alunos.

Ao tratar o caderno como objeto de memória, pertencente a uma professora da escola rural no município de Dourados, é possível, relacionar este material à ideia da indústria bem como, as questões ideológicas daquele período. Outra fonte a ser analisada, que nos possibilita interagir com as informações e com a memória desta professora, são as anotações contidas na imagem 2.

Imagem 2 - Cadernos de anotações de gramática

Fonte: Acervo partículas Clóvis Irala

Este caderno apresenta nas suas páginas iniciais registros e as considerações sobre o conteúdo de gramática. Sua datação é a mesma do caderno de história, que é a de 7 de janeiro de 1970.

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O primeiro conteúdo ministrado, no dia 07 de janeiro de 1970, dizia respeito aos encontros consonantais de uma ou mais consoantes na mesma sílaba. Outro assunto abordado foi a acentuação gráfica. Esses conteúdos foram trabalhados metodologicamente através de exercícios. Destacamos os encontros consonantais trabalhados: cravo, flôr e branco.

Os conteúdos de acentuação gráfica foram trabalhados metodologicamente através de exercícios de acentuação gráfica: “Acentuação gráfica exercício. Acentuar as seguintes palavras quando necessário: cajá, cipó, tambem, parabens, possivel, hifen, açucar, torax, album entre outras”.6

Sobre o processo dos cursos da professora Jair, é importante destacar três aspectos importantes: era comum que professores que ministravam aulas nas escolas rurais não possuíssem habilitação específica. A partir dos anos de 1970, os docentes das escolas da região de Dourados – MT começaram a procurar cursos de formação de professores para se habilitarem em Cursos de Magistério e por fim, os professores de deslocavam, à época, até a Vila São Pedro, e lá ficavam acampados nas escolas para estudarem. Os professores ministradores vinham de São Paulo (IRALA, 2014 p. 96).

De modo geral, pode-se dizer que a professora Jair iniciou a docência na Escola Geraldino Neves Correa, ainda como professora leiga e a formação dessa professora foi adquirida ao longo do exercício da atividade docente, sobretudo em Cursos de Magistério.

Considerações finais

Pode-se inferir que esses cursos de formação denunciam a falta de professores habilitados para atuarem nas escolas rurais. Os cursos ofertados não disponibilizavam outros tipos de material pedagógico, a não ser os escritos e anotações feitas pela professora durante o período de sua formação caso aqui dos escritos no caderno de história e gramática da professora Jair Ferreira.

Além do fomento de pesquisas históricas, este trabalho possibilitará à organização e geração de um instrumento de pesquisa, na forma de um inventário, com vistas a promover a produção historiográfica sobre as instituições educativas do Sul de Mato Grosso, o que favorecerá novos estudos e contribuirá para a História da Educação

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dessa região. Além disso, as fontes documentais coletadas e pesquisadas podem contribuir para outras investigações de mesma natureza.

Referências

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CHARTIER, R. A. História Cultural. Entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil / Lisboa: Difel, 1990.

FERNANDES, Maria Dilnéia Espíndola, FREITAS, Dirce Nei Teixeira de. Percursos e Desafios da Municipalização do Ensino Fundamental em Dourados, MS. 26

reuniao. ANPED. Org. br. Poços de Caldas. 2003.

GOODSON, Ivor. O currículo em mudança: estudos na construção social do currículo. Porto: Editora, 2001.

GVIRTZ, S.; LARRONDO, M. Os cadernos de classe como fonte primária de pesquisa: alcances e limites teóricos e metodológicos para sua abordagem. In: MIGNOT, Ana Chrystina V. (Org.). Cadernos à vista: escola, memória e cultura escrita. Rio de Janeiro: Editora UERJ, 2008, p.35-48.

HÉBRARD, Jean. Por uma bibliografia material das escritas ordinárias: o espaço gráfico do caderno escolar. Revista Brasileira de História da Educação, Campinas/São Paulo: Autores Associados, n.1, p.115-141, jan./jun.2001.

IRALA, Clóvis. Educação rural em Dourados: a escola Geraldino Neves Correa 1942-1982. (Dissertação em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Federal da Grande Dourados, 2014.

OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO. As inconsistências na Aprendizagem de Leitura e Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental: Projeto de Pesquisa submetido a Capes. PUC-RIO, UFMG e UFJF. Edital 038/2010 Capes/Inep. Agosto, 2010.

VIÑAO FRAGO, Antonio. Os cadernos escolares como fonte histórica: aspectos metodológicos e historiográficos. In: MIGNOT, Ana Christyna Venâncio (Org.). Cadernos à vista: escola, memória e cultura escrita. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2008. Processo De Construção De Instrumento Para A Análise Dos Cadernos Escolares Geres Disponível em: <http://www.puc-

io.br/pibic/relatorio_resumo2012/relatorios_pdf/ctch/EDU/EDUMa%C3%ADra%20Fa gundes%20Tomazini%20e%20Maria%20%C3%82ngela%20dos%20Santos%20Cardos o.pdf>. Acesso em: 10 out. 2017.

FONTES DOCUMENTAIS:

FERREIRA, José Tibiriçá Martins. Picadinha e sua história. Douradosnews. Dourados MS. 22 Dezembro 2009. Disponível em:

<http://www.douradosnews.com.br/noticias/picadinha-e-sua-historia- 481b6456328d2d9232b21147d20e110/376547>. Acesso em: 07 out. 2017.

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