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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES 15 a 17 de Maio de 2013 Universidade do Estado da Bahia Campus I Salvador - BA

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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES 15 a 17 de Maio de 2013

Universidade do Estado da Bahia – Campus I Salvador - BA

A HOMOFOBIA NO ESTADO DA PARAÍBA: ASPECTOS SÓCIOCULTURAIS DAS VÍTIMAS E POLÍTICAS PÚBLICAS DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA

HOMOFÓBICA

Ricardo Rodrigues Mororó1 Gleidson Marques da Silva2

Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar dados sócioculturais de vítimas de lesbo-homo-transfobia que registram denúncia de violação de direitos humanos junto ao Disque Direitos Humanos – Disque 100, no território do Estado da Paraíba, encaminhadas ao Centro de Referência dos Direitos de LGBT e Combate à Homofobia da Paraíba – ESPAÇO LGBT. Além disso, discorreremos sobre as políticas públicas específicas para a população LGBT naquele Estado e seu impacto no enfrentamento à violência lesbo-homo-transfóbica.

Palavras-chave: lesbo-homo-transfobia, Disque 100, políticas públicas

Introdução

O presente trabalho tem a finalidade de demonstrar, através de dados e de informações, o perfil da vítima de lesbo-homo-transfobia que realizou denúncia junto ao Disque Direitos Humanos – Disque 100 no território do Estado da Paraíba, tendo como referência o ano de 2012. Com isto, busca-se visualizar as populações que mais sofrem os impactos da violência em razão de sua orientação sexual e identidade de gênero.

Na primeira parte do nosso artigo, traremos dados estatísticos, contendo o levantamento de quantidade de pessoas que realizaram denúncia, distribuindo-as nas seguintes categorias: sexo, identidade de gênero, orientação sexual, idade, cor, relação com o agressor, tipo de violência e local da violência. A tais dados, serão somados comentários que dizem respeito à experiência no serviço de acompanhamento e monitoramento das denúncias realizado pela equipe multiprofissional do Centro de Referência dos Direitos de LGBT e Combate à Homofobia da Paraíba – ESPAÇO LGBT.

1

Advogado do Centro de Referência dos Direitos de LGBT e Combate à Homofobia da Paraíba – ESPAÇO LGBT. E-mail: odracir987@gmail.com

2 Psicólogo do Centro de Referência dos Direitos de LGBT e Combate à Homofobia da Paraíba – ESPAÇO LGBT. E-mail:gleidsonmarques@gmail.com

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Num segundo momento, apresentaremos os órgãos e mecanismos de governo, além dos instrumentos legais de proteção de LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), no âmbito do Estado da Paraíba, analisando o impacto dos mesmos enquanto políticas públicas que visam enfrentamento à violência lesbo-homo-transfóbica e a promoção dos direitos humanos daquela população.

Por último, apresentaremos nossas considerações sobre as interfaces da lesbo-homo-transfobia na Paraíba e o impacto das políticas públicas de promoção da cidadania LGBT, apontando alguns desafios que precisam de certa atenção por parte da sociedade civil e do poder público, a fim de que a mesma possa ser superada e possamos, então, viver em uma sociedade livre do preconceito.

As interfaces da lesbo-homo-transfobia no Estado da Paraíba: perfil das vítimas e alguns comentários

O exercício da sexualidade é um dos elementos fundamentais para a realização do ser humano. As práticas sexuais, enquanto expressão da sexualidade, compõem-se de grande importância para a sanidade física e emocional da pessoa. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),

“a saúde sexual é um estado de bem-estar físico, emocional, mental e social associado à sexualidade. Ela não consiste somente em ausência de doença, de disfunção ou de enfermidade. A saúde sexual precisa de uma abordagem positiva e respeitosa da sexualidade e das relações sexuais, e a possibilidade de haver experiências sexuais que proporcionam prazer com toda segurança e sem constrangimentos, discriminação ou violência. A fim de atingir e manter a saúde sexual, os direitos humanos de todas as pessoas devem ser respeitados, protegidos e assegurados.” (OMS, 2003)3

Sendo assim, é dever do Estado zelar para que todas as pessoas tenham o direito de expressar e viver sua sexualidade de forma livre e consciente, garantindo que não haja qualquer tipo de violência contra a pessoa humana em razão do exercício desse direito humano. Ainda, segundo Maria Berenice Dias,

“a sexualidade é um elemento da própria natureza humana, seja individualmente, seja genericamente considerada. Sem liberdade sexual, sem direito ao livre exercício da sexualidade,

3

Giami, Alain. Sexologia, Saúde Sexual, Direitos Sexuais, Medicina Sexual: Um Campo em Movimento. Disponível em:< http://www.sbrash.org.br/portal/images/stories/sbrash/pdf/sexologiasaude.pdf>. Acesso em: 15 de abril de 2013.

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sem opção sexual livre, o próprio gênero humano não se realiza, falta-lhe a liberdade, que é um direito fundamental”.4

Infelizmente, a realidade não nos permite dizer que a garantia de direitos sexuais de pessoas LGBT esteja plenamente satisfeita, e que não existe quaisquer tipos de violações de direitos humanos tendo como motivo a orientação sexual e identidade de gênero. O sistema patriarcal e machista no qual todas/os sabemos estar inseridos reproduz cotidianamente a violência que tenta reprimir e expurgar todas as formas de comportamentos que não se alinhem ao seu padrão, sobretudo no que diz respeito à imposição da heterossexualidade como a única forma natural de comportamento sexual. É o que os estudiosos chamam de heteronormatidade, ou seja, a imposição de um código de conduta sexual pautada a partir da naturalização do heterossexualidade e consequente patologização de todos os outros comportamentos.

Acrescente-se, nesse panorama, a imposição, também, de uma cissexualidade, ou seja, de um padrão de identidade de gênero que não reconhece como sadias ou normais todas as pessoas que não tiverem sua identidade de gênero alinhada ao seu sexo biológico. Em outras palavras, as mulheres e homens transexuais também sofrem com os efeitos da heteronormatividade, sendo ainda considerada a transexualidade como distúrbio de identidade de gênero, segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), da OMS, sob o código F64.0.

Esse sistema cultural de normatização/higienização do sexo e da sexualidade humana não consegue, no entanto, impedir que as diversas formas de orientação sexual e de identidade de gênero possam se afirmar. Por isso, cotidianamente observamos violações de direitos humanos contra pessoas LGBT em todas as sociedade que seguem esse sistema, como é o caso do Brasil e da Paraíba, em particular.

Com o intuito de registrar denúncias e encaminhá-las ao sistema de proteção dos direitos humanos, a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, órgão vinculado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, existe o DISQUE DIREITOS HUMANOS – Disque 100, serviço que alcança todo o território nacional.

Aquelas denúncias registradas no território do Estado da Paraíba, ou seja, em algum dos seus 223 municípios, são encaminhadas pelo Disque 100 para o Centro de Referência dos Direitos de LGBT e Combate à Homofobia da Paraíba – ESPAÇO LGBT, que, por sua vez, encaminha as denúncias aos municípios para os órgãos locais que constituem a rede de proteção social, a exemplo

4 DIAS, Maria Berenice. Liberdade Sexual e Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.mbdias.com.br/hartigos.aspx?62,14>. Acesso em: 15 de abril de 2013.

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dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), Centros de Referência Especializados da Assistência Social (CREAS), delegacias de Polícia Civil, Ministério Público, Defensoria Pública, etc.

A partir das denúncias registradas no ano de 2012 e que foram encaminhadas para acompanhamento e monitoramento pelo ESPAÇO LGBT, passamos a descrever o perfil das pessoas que registram denúncias junto ao Disque 100, levando em consideração as informações reproduzidas por esse órgão no corpo de cada denúncia.

No ano de 2012, 78 pessoas registraram uma ou mais denúncias no Disque 100. No que diz respeito ao sexo biológico e à identidade de gênero dessas pessoas, temos o seguinte quadro:

Tabela 01 – Sexo

Masculino 57 denunciantes

Feminino 17 denunciantes

Não informado 4 denunciantes

Fonte: Primária

Tabela 02 - Identidade de gênero5

Tipo Quantidade de denunciantes

Homem cissexual 44 Mulher cissexual 12 Travesti 12 Mulher transexual 04 Não informado 04 Homem transexual 02 Fonte: Primária

Conforme se percebe, a maioria das pessoas denunciantes é do sexo masculino e tem identidade de gênero homem, o que denota a necessidade de promoção do acesso aos intrumentos

5 Quando nos referimos ao termo “cissexuais”, queremos fazer menção às pessoas que tem sua identidade de gênero concordando com as normas sociais impostas para pessoas que nasceram com o seu sexo biológico, p. ex., uma pessoa que nasceu com a genitália masculina e assume identidade de homem. Enquanto que “transexuais” são aquelas pessoas que tem uma identidade de gênero que não concorda com o padrão social imposto para as pessoas que nasceram com seu sexo biológico, p. ex., uma pessoa que nasceu com a genitália masculina e assume identidade de mulher.

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de defesa e proteção dos direitos humanos entre as mulheres, vítimas históricas da opressão machista. De acordo com o quadro, foram poucas as pessoas lésbicas que acessaram o mecanismo do Disque 100, o que não significa que haja menos incidência de violência entre lésbicas do que entre gays, por exemplo.

No que tange à orientação sexual, percebemos a predominância de pessoas homossexuais (conforme tabela abaixo). Devemos salientar que o sistema do Disque 100 registrou enquanto homossexuais a maioria das pessoas transexuais, as quais, na maioria das vezes de acordo com nossa experiência, se identificam enquanto heterossexuais. Nesse sentido, sentimos que os agentes daquele serviço necessitam de um melhor aperfeiçoamento no que diz respeito a esse assunto.

Tabela 03 – Orientação sexual

Tipo Quantidade de denunciantes

Homossexual 68

Não informado 05

Bissexual 03

Heterossexual 02

Fonte:Primária

A homo-lesbo-transfobia também tem cor! A maioria das pessoas denunciantes se autodeclararam pardas ou pretas, havendo também aí um grande número de pessoas que não forneceram essa informação ao sistema. Os dados apresentados a esse respeito ratificam o cenário mais amplo de violência contra pretos e pardos na história recente do Brasil, os quais sofrem da violência e da ausência do Estado na proteção e promoção de seus direitos. Racismos e lesbo-homo-transfobia se entrecruzam nesse panorama, de acordo com a tabela abaixo.

Tabela 04 – Cor

Tipo de cor Quantidade de denunciantes

Não informado 34

Parda 29

Branca 09

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Amarela 01

Fonte:Primária

Existe, ainda, uma forte tendência no sentido da violência lesbo-homo-transfóbica entre pessoas jovens, ou seja, entre pessoas que tem entre 15 e 29 anos de idade. O fenômeno da violência e do extermínio das juventudes também pode ser facilmente visualizado entre as pessoas LGBT. Na quase totalidade, trata-se de jovens que vivem sua orientação sexual/identidade de gênero de forma livre, assumindo-as no ambiente familiar e das pessoas mais próximas, como amigas/os e vizinhas/os. Ou seja, jovens que tornam visíveis as suas identidades, pelo que sofrem com os impactos do sistema heteronormativo.

Tabela 05 – Idade

Faixa etária Quantidade de denunciantes

15 – 18 anos 08 19 – 29 anos 28 30 – 39 anos 21 40 – 49 anos 04 50 – 59 anos 02 Não informado 15 Fonte: Primária

Tendo conhecido alguns dados acerca do perfil da população que é base de nossa pesquisa, passamos agora a discorrer sobre a violência em si. Onde acontece, quem a pratica, e qual o tipo de violência praticada.

A maioria dos casos de violência contra LGBT em razão de sua orientação sexual/identidade de gênero, na Paraíba, ocorreram em vias públicas, ou seja, na rua. Esse é o ambiente de maior vulnerabilidade às formas de violência pelas pessoas LGBT. A ausência de policiamento e a não formação cidadã para a segurança pública são fatores responsáveis por essa realidade.

Tabela 06 – Local de ocorrência da violência

Local Quantidade de denunciantes

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Residência 24

Instituição pública 15

Bares, boates e casas de show 07

Não informado 04

Ambiente de trabalho 01

Fonte:Primária

Nesse quadro, outra situação que muito nos tem preocupado é a incidência de violência no ambiente familiar. Depois da rua, é o ambiente onde essa vulnerabilidade mais ganha força, em razão da busca de sua invisibilidade. Todas as formas de violência nesse ambiente, conforme constatado pelos dados, tenta ser abafada, escondida, maquiada. Trágico é quando o Estado se coaduna com tal prática! Como exemplo disso, fazemos uso de dois relatórios técnicos enviados por profissionais de centros de referência da assistência social (CRAS) de municípios do Estado da Paraíba.

Nos mencionados relatórios, percebe-se que os profissionais não visualizaram qualquer incidência de lesbo-homo-transfobia quando da realização de visita domiciliar. O detalhe é que as vítimas não foram ouvidas, e ainda foi registrado que as mesmas apresentavam comportamento rebelde. Existe uma forte deficiência no atendimento a demandas da população LGBT em toda a rede que deveria funcionar no sentido de sua proteção. Isso é consequência, em geral, da formação dos profissionais, eivada de princípios machistas e heteronormatizadores.

Outro fenômeno que nos tem chamado a atenção é a quantidade de denúncias registradas que noticiam as instituições públicas enquanto locais de violação de direitos e de violência. É necessário que o serviço público seja cada vez mais orientado para um atendimento condizente com os princípios norteadores da administração pública, preconizados em nossa Carta Constitucional, principalmente no que diz respeito à dignidade da pessoa humana enquanto princípio fundamental da República (art. 3º, I, CF).

A relação da vítima com a/o(s) agressor/a(s) segue as características traçadas anteriormente: estão em casa ou são próximas/os da vítima. É o que revela a tabela a seguir, que corrobora os

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dados expostos no “Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil: o ano de 2011”6, segundo o qual familiares e vizinhos são os principais supeitos da agressão.

Tabela 07 – Relação com o agressor

Tipo Quantidade de denunciantes

Parente 20

Vizinho/a 19

Servidor Público 14

Conhecida/o 11

Não informado 07

Dona/o de estabelecimento comercial 06

Colega de trabalho 01

Fonte: Primária

Por fim, como último dado disponível para pesquisa, a violência lesbo-homo-tranfóbica se expressa, na maioria dos casos, a partir da violência moral e psicológica, quando são proferidos xingamentos e ameaças, além das situações de constrangimento e vexame. Os dados apresentados ultrapassam, em seu somatório, o número de denunciantes. Isto porque um denunciante pode ter sofrido mais de uma forma de violência, tendo sido consideradas todas aquelas que constam da denúncia.

Tabela 08 – Tipo de violência

Tipo Quantidade de denunciantes

Violência moral 64 Violência psicológica 57 Violência física 27 Preconceito/discriminação institucional 12 Fonte: Primária

6 BRASIL.SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS. Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil: o ano de

2011. Disponível em:< http://www.sedh.gov.br/clientes/sedh/sedh/brasilsem/relatorio-sobre-violencia-homofobica-no-brasil-o-ano-de-2011> Acesso em: 15 de abril de 2013.

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Podemos, diante dos dados apresentados, afirmar que a vítima de lesbo-homo-transfobia, em geral, é do sexo masculino, homossexual, homem cissexual, jovem e pardo, além do que a violência aconteceu na rua ou em casa, e que a suspeita da agressão recai sobre familiares ou vizinhos.

Muito embora os dados não sejam tão abrangentes, uma vez que a quantidade de denunciantes não é tão expressiva, eles repercutem a realidade experimentada na cidade e no campo, conforme o relatório acima mencionado, trazendo a tona a necessidade de medidas por parte da sociedade e do poder público para a superação da violência e do preconceito, e para a promoção de uma cultura de paz.

Políticas Públicas para LGBT no Estado da Paraíba e o Enfrentamento à Lesbo-Homo-Transfobia

O Estado da Paraíba é um dos poucos Estados da federação que possui um rico arcabouço de normas que asseguram direitos e reprimem abusos cometidos em razão da orientação sexual e da identidade de gênero. Também, a nível de gestão, destaca-se a existência de um órgão gestor em nível estadual das políticas de promoção dos direitos sexuais e da cidadania LGBT.

Trata-se da Gerência Executiva dos Direitos Sexuais e LGBT, a qual faz parte da Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana, criada no ano de 2011, para cuidar especificamente da formulação, planejamento, execução e monitoramento de políticas públicas específicas para a população LGBT na Paraíba. Saliente-se, ainda, sua importância nos processos de intersetorialidade da gestão pública, uma vez que só se promove direitos humanos a partir de sua interrelação. Dessa forma, o diálogo realizado com as pastas do governo (saúde, educação, segurança pública, assistência social, etc.) favorecem ações que possam ter impacto para a afirmação de direitos de LGBT.

Dentre os instrumentos daquela gerência, está o Centro de Referência dos Direitos de LGBT e Combate à Homofobia da Paraíba – ESPAÇO LGBT, que conta com um equipe multiprofissional formada por advogado, psicólogo, assistente social e agentes de direitos humanos, responsáveis pelo acolhimento e acompanhamento de demandas da população LGBT que acessa aquele serviço, além da participação em atividades de capacitação e formação para a promoção da diversidade sexual.

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No que diz respeito à legislação estadual, as pessoas LGBT contam, na Paraíba, com a Lei nº 7.309, de 10 de janeiro de 2003, a qual ainda não se encontra em plena eficácia em decorrência da não implementação de seus mecanismos de execução, qual seja o seu Comitê Gestor. Trata-se de lei que pune administrativamente, com a imposição de multa, pessoas físicas ou jurídicas que praticarem atos de homofobia, os quais ela própria descreve.

Outro marco legal importante é o Decreto nº 32.159, de 25 de maio de 2011, que regulamenta o uso do nome social de travestis e transexuais em todos os órgão da administração direta e indireta no nível do Poder Executivo Estadual. Muito embora haja um movimento de sua publicização, ainda se constata que vários servidores públicos resistem em obedecê-lo.

O direito à visita íntima em penitenciárias por parceiros homossexuais também foi expressamente previsto na Portaria nº 350/SEAP-GS, de 02 de abril de 2012. No mesmo sentido, o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmos sexo para fins de concessão de benefício previdenciário, previsto na Lei nº 8.351, de 19 de outubro de 2007.

Ainda no âmbito do Poder Executivo, deve-se mencionar o funcionamento da Delegacia Especializada na Repressão aos Crimes Homofóbicos, cuja circunscrição alcança os municípios da Região Metropolitana de João Pessoa. Ela é responsável pela investigação dos crimes lesbo-homo-transfóbicos nessa região, e serve como intermediária com relação às delegacias do interior do Estado.

No âmbito da saúde, foi instalado em 2012 o Comitê de Saúde Integral LGBT, o qual tem a atribuição de submeter ao Conselho Estadual de Saúde proposta de ações e projetos para promoção da saúde daquela população, com a finalidade de tornar a discussão da saúde mais próxima de LGBT, para além da reprodução do estigma das DST/HIV/AIDS.

Considerações Finais

As políticas públicas de enfrentamento à violência lesbo-homo-transfóbica, no Estado da Paraíba, como em todo o Brasil, ainda são muito recentes. Assim como o é a discussão dos direitos humanos de pessoas LGBT, a qual vem se arrastando entre a afirmação de direitos e o combate ao preconceito. Nesse sentido, vale aqui ressaltar a influência de princípios religiosos e morais e sua relação com o processo de afirmação do Estado Laico.

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Várias pessoas são, diariamente, vítimas de alguma forma de violência motivada pela sua orientação sexual ou identidade de gênero. É preciso conhecê-las para tomar as providências no sentido de favorecer um ambiente livre de violência.

Diante dos dados apresentados, só podemos superar a cultura heteronormatizadora e sua consequente aversão aos comportamentos homossexuais e bissexuais, bem como às transexualidades e travestilidade, a partir de um processo de formação para a cultura de respeito à diferença.

Os equipamentos de proteção social e os marcos legais, por si só, não tem forte impacto no enfrentamento à violência. É preciso implementar outras ferramentas que possam favorecer a construção daquela cultura de paz que tanto almejamos. A educação em/para os direitos humanos se demonstra, desta forma, como uma das mais importantes estratégias de combate à violência lesbo-homo-transfóbica, principalmente porque seus princípios estão alicerçados no respeito à pessoa humana em sua integralidade.

É só com a promoção de uma cultura de respeito e paz, somada a investimentos públicos na formação das pessoas para o exercício da cidadania e para os direitos humanos, que deixaremos de vislumbrar a violência maculando nossos lares, reprimindo as pessoas, suas vidas e histórias.

Referências

BRASIL. Constituição Federal. 1988. Disponível em:<

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em: 15 de abril de 2013.

BRASIL.SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS. Relatório sobre Violência Homofóbica no

Brasil: o ano de 2011. Disponível em:<

http://www.sedh.gov.br/clientes/sedh/sedh/brasilsem/relatorio-sobre-violencia-homofobica-no-brasil-o-ano-de-2011> Acesso em: 15 de abril de 2013.

DIAS, Maria Berenice. Liberdade Sexual e Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.mbdias.com.br/hartigos.aspx?62,14>. Acesso em: 15 de abril de 2013.

ESPAÇO LGBT. Registro de Atendimento. Arquivo de Denúncias do Disque 100 – Período Julho/2011 a Dezembro/2012. João Pessoa/PB.

Giami, Alain. Sexologia, Saúde Sexual, Direitos Sexuais, Medicina Sexual: Um Campo em

Movimento. Disponível em:<

http://www.sbrash.org.br/portal/images/stories/sbrash/pdf/sexologiasaude.pdf>. Acesso em: 15 de abril de 2013.

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