• Nenhum resultado encontrado

19/06/2008 TRIBUNAL PLENO : MIN. JOAQUIM BARBOSA : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "19/06/2008 TRIBUNAL PLENO : MIN. JOAQUIM BARBOSA : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL"

Copied!
52
0
0

Texto

(1)

19/06/2008 TRIBUNAL PLENO EMB.DECL.NA AÇÃO PENAL 470-1 MINAS GERAIS

RELATOR : MIN. JOAQUIM BARBOSA

EMBARGANTE(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL EMBARGANTE(S) : ROGÉRIO LANZA TOLENTINO ADVOGADO(A/S) : PAULO SÉRGIO ABREU E SILVA

EMBARGANTE(S) : JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA ADVOGADO(A/S) : JOSÉ LUIS MENDES DE OLIVEIRA LIMA

E OUTRO(A/S)

EMBARGANTE(S) : MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA ADVOGADO(A/S) : MARCELO LEONARDO E OUTRO(A/S)

EMBARGANTE(S) : KÁTIA RABELLO

ADVOGADO(A/S) : THEODOMIRO DIAS NETO E OUTRO(A/S) EMBARGANTE(S) : JOSE ROBERTO SALGADO

ADVOGADO(A/S) : RODRIGO OTÁVIO SOARES PACHECO E OUTRO(A/S)

EMBARGANTE(S) : VINÍCIUS SAMARANE

ADVOGADO(A/S) : JOSÉ CARLOS DIAS E OUTRO(A/S) EMBARGANTE(S) : AYANNA TENÓRIO TÔRRES DE JESUS ADVOGADO(A/S) : ANTÔNIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA

E OUTRO(A/S)

EMBARGANTE(S) : JOÃO PAULO CUNHA

ADVOGADO(A/S) : ALBERTO ZACHARIAS TORON E OUTRO(A/S)

EMBARGANTE(S) : VALDEMAR COSTA NETO

ADVOGADO(A/S) : MARCELO LUIZ ÁVILA DE BESSA E OUTRO(A/S)

EMBARGANTE(S) : ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO FRANCISCO

ADVOGADO(A/S) : LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA EMBARGADO(A/S) : OS MESMOS

RÉU(É)(S) : JOSÉ GENOÍNO NETO

ADVOGADO(A/S) : SANDRA MARIA GONÇALVES PIRES E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : DELÚBIO SOARES DE CASTRO ADVOGADO(A/S) : CELSO SANCHEZ VILARDI E

OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : SÍLVIO JOSÉ PEREIRA

ADVOGADO(A/S) : GUSTAVO HENRIQUE RIGHI IVAHY BADARÓ E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : RAMON HOLLERBACH CARDOSO ADVOGADO(A/S) : HERMES VILCHEZ GUERRERO E

OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : CRISTIANO DE MELLO PAZ

ADVOGADO(A/S) : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES FILHO E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : SIMONE REIS LOBO DE VASCONCELOS ADVOGADO(A/S) : LEONARDO ISAAC YAROCHEWSKY E

(2)

OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : GEIZA DIAS DOS SANTOS

ADVOGADO(A/S) : PAULO SÉRGIO ABREU E SILVA RÉU(É)(S) : LUIZ GUSHIKEN

ADVOGADO(A/S) : JOSÉ ROBERTO LEAL DE CARVALHO E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : HENRIQUE PIZZOLATO

ADVOGADO(A/S) : MARTHIUS SÁVIO CAVALCANTE LOBATO E OUTRA

RÉU(É)(S) : PEDRO DA SILVA CORRÊA DE OLIVEIRA ANDRADE NETO

ADVOGADO(A/S) : EDUARDO ANTÔNIO LUCHO FERRÃO E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : JOSE MOHAMED JANENE

ADVOGADO(A/S) : MARCELO LEAL DE LIMA OLIVEIRA E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : PEDRO HENRY NETO

ADVOGADO(A/S) : JOSÉ ANTONIO DUARTE ALVARES E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO GENU ADVOGADO(A/S) : MARCO ANTONIO MENEGHETTI E

OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : ENIVALDO QUADRADO

ADVOGADO(A/S) : PRISCILA CORRÊA GIOIA E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : BRENO FISCHBERG

ADVOGADO(A/S) : LEONARDO MAGALHÃES AVELAR E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : CARLOS ALBERTO QUAGLIA ADVOGADO(A/S) : DAGOBERTO ANTORIA DUFAU E

OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : JACINTO DE SOUZA LAMAS

ADVOGADO(A/S) : DÉLIO LINS E SILVA E OUTRO(A/S) RÉU(É)(S) : ANTÔNIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS ADVOGADO(A/S) : DÉLIO LINS E SILVA E OUTRO(A/S) RÉU(É)(S) : CARLOS ALBERTO RODRIGUES PINTO

(BISPO RODRIGUES)

ADVOGADO(A/S) : MARCELO LUIZ ÁVILA DE BESSA E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : EMERSON ELOY PALMIERI

ADVOGADO(A/S) : ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : ROMEU FERREIRA QUEIROZ

ADVOGADO(A/S) : JOSÉ ANTERO MONTEIRO FILHO E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : JOSÉ RODRIGUES BORBA

ADVOGADO(A/S) : INOCÊNCIO MÁRTIRES COELHO E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : PAULO ROBERTO GALVÃO DA ROCHA ADVOGADO(A/S) : MÁRCIO LUIZ DA SILVA E OUTRO(A/S) RÉU(É)(S) : ANITA LEOCÁDIA PEREIRA DA COSTA

(3)

ADVOGADO(A/S) : LUÍS MAXIMILIANO LEAL TELESCA MOTA RÉU(É)(S) : LUIZ CARLOS DA SILVA (PROFESSOR

LUIZINHO)

ADVOGADO(A/S) : MÁRCIO LUIZ DA SILVA E OUTRO(A/S) RÉU(É)(S) : JOÃO MAGNO DE MOURA

ADVOGADO(A/S) : OLINTO CAMPOS VIEIRA E OUTRO(A/S) RÉU(É)(S) : ANDERSON ADAUTO PEREIRA

ADVOGADO(A/S) : ROBERTO GARCIA LOPES PAGLIUSO E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : JOSÉ LUIZ ALVES

ADVOGADO(A/S) : ROBERTO GARCIA LOPES PAGLIUSO E OUTRO(A/S)

RÉU(É)(S) : JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE MENDONÇA (DUDA MENDONÇA)

ADVOGADO(A/S) : TALES CASTELO BRANCO E OUTRO(A/S) RÉU(É)(S) : ZILMAR FERNANDES SILVEIRA

ADVOGADO(A/S) : TALES CASTELO BRANCO E OUTRO(A/S)

R E L A T Ó R I O

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - (Relator): Senhor Presidente, trata-se de oito embargos de declaração, interpostos contra o acórdão de recebimento da denúncia proferido por este plenário.

O réu ROGÉRIO LANZA TOLENTINO (fls. 13.821/13.828, vol. 64) alega contradição no acórdão embargado, porque “não recebe a denúncia contra o embargante por infração aos tipos descritos nos itens III.1, III.3, VI.2, VI.3, VI.4, VII e VIII, e, ao mesmo tempo, afirma que o suplicante teria lavado dinheiro com os beneficiários e na forma da narrativa contida nos mesmos itens” (fls. 13.824, vol. 64 dos autos). Com isto, estaria dificultada a ampla defesa.

Destaco que a denúncia foi recebida, relativamente ao réu ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, pela prática

(4)

dos crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção ativa (relativamente aos parlamentares JOSÉ JANENE, PEDRO CORRÊA e PEDRO HENRY).

O réu JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA (fls. 13.830/13.837, vol. 64) alega a ocorrência de erro material no julgamento, tendo em vista que a defesa jamais teria alegado que o presente processo consubstanciaria um julgamento político. Assim, pede a correção do acórdão para eliminar o trecho referente à referida preliminar.

O réu ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO FRANCISCO (fls. 13.840/13.842) pede a declaração do aresto, no sentido de dar aplicabilidade ao art. 188 do Código de Processo Penal, que garante a participação das partes no interrogatório judicial de cada réu. Referido embargante alega, ainda, omissão do acórdão, porque nada dispôs “sobre a igual prática desses crimes, em óbvia co-participação, pelo próprio Presidente da República”.

O réu JOÃO PAULO CUNHA (fls. 13.846/13.855) alega contradição quanto à fundamentação para o recebimento da denúncia por um dos crimes de corrupção passiva (recebimento de vantagem indevida, no valor de R$ 50.000,00, do “núcleo Marcos Valério”, supostamente para beneficiar a empresa SMP&B Propaganda Ltda.), porque para tanto teria se utilizado dos fatos narrados na denúncia como configuradores do crime de peculato. Ademais, os fatos em questão – que teriam justificado, no acórdão, a presença

(5)

de elemento essencial do tipo de corrupção passiva - não teriam constado do Relatório por mim elaborado. Com isto, haveria um descompasso entre o Relatório e o voto, além de uma “ampliação indevida da acusação”, “com a conseqüência de que o Embargante dele não se defendeu em sua defesa preliminar” (fls. 13.849/13.850).

Sustenta, ainda, a existência de omissão quanto à fundamentação para o recebimento da denúncia pelo crime de lavagem de capitais, salientando que “O que não se compreende, porque o v. acórdão é absolutamente omisso, é onde o caso se confunde com a atuação do suposto esquema entre SMPB e o Banco Rural? Como se argumentou, e o v. acórdão não respondeu, o embargante, Presidente da Câmara dos Deputados, figura absolutamente conhecida, mandou sua mulher, possuidora de seu sobrenome, para que, de forma absolutamente identificada, ou seja, entregando cópia do seu documento de identidade, fosse sacar R$ 50.000,00 no banco Rural, seguindo a orientação do tesoureiro de seu partido, Delúbio Soares” (fls. 13.852, vol. 64).

Por fim, o embargante alega que o acórdão foi omisso quanto à indicação da existência dos elementos do tipo do crime de peculato. Sustenta que “O acórdão, sem explicar, diz que o embargante, simplesmente por ser Presidente da Câmara, tinha a ‘posse dos recursos’ e, portanto, poderia desviá-los”. Argumenta que “na relação de subcontratação, embora esta tenha que ser aprovada pelo

(6)

Presidente da Câmara com a concordância da comissão de licitação absolutamente independente, todo o pagamento é feito para a empresa licitante, que repassa os recursos” (fls. 13.853, vol. 64). Por fim, argumenta que “não se depreende, porque o acórdão é omisso, de quais elementos se depreende que a empresa IFT foi subcontratada como uma ‘armação’ porque prestava assessoria direta ao embargante e não ao contrato para o qual foi subcontratada” (fls. 13.854). Salienta que “não se poderia afirmar que a empresa contratante recebia por nada fazer. Todas as suas responsabilidades remanescem e o embargante, como Presidente da Câmara, insista-se, não detinha a posse dos recursos para que pudesse, querendo, desviá-lo”.

Os réus KÁTIA RABELLO, JOSÉ ROBERTO SALGADO, VINÍCIUS SAMARANE e AYANNA TENÓRIO TÔRRES DE JESUS pedem a correção do acórdão, para que a preliminar de ilicitude da prova obtida diretamente pelo Ministério Público Federal junto ao Bacen, julgada prejudicada, embora acolhida por seis votos a quatro, conste do corpo do acórdão de forma clara, nos termos do extrato da ata de julgamento. Pede, ainda, a reforma do julgamento com o acolhimento da referida preliminar, discordando do esclarecimento por mim prestado no sentido de que “os documentos não foram obtidos exclusivamente por essa fonte, mas, ao contrário, por formas regulares de quebra de sigilo, ou seja, por meio da Comissão Mista Parlamentar de Inquérito dos Correios, de

(7)

autorização judicial do Presidente do Supremo Tribunal Federal e do próprio Relator”. Sustenta que “os documentos do Bacen haveriam de ser confiados ao Juízo ou à CPMI, não ao Ministério Público Federal diretamente, que no caso presente teve acesso a sigilosas informações sem a interferência daqueles outros dois órgãos” (fls. 13.864).

A par disto, os embargantes apontam contradição no acórdão, no que tange à “ilicitude da prova emprestada de outra investigação, em desobediência às regras do Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre Brasil e EUA”. Isto porque “aos autos de investigação do ‘Caso Mensalão’ vieram documentos que integravam o IPL n. 1.026/03 (‘Caso Banestado’), obtidos originariamente da autoridade norte-americana a partir do aludido acordo, os quais serviram à elaboração de laudos periciais pelo Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, o que compreende a defesa tratar-se de ilegalidade que torna a prova ilícita” (fls. 13.866, vol. 64). Os embargantes alegam, com base no Ofício 4973/2005/DRCI-SNI-MJ (fls. 3796, vol. 17), que “qualquer outra utilização dos documentos fornecidos deveria ser precedida de autorização do Estado requerido”.

Nesta oportunidade, os réus-embargantes apontam quais os documentos que entendem estar contaminados pela alegada ilicitude – o que não haviam feito por ocasião de suas respostas preliminares. São eles: Laudo n°

(8)

2165/05-INC, de 12.08.2005 (fls. 06/12, apenso 51, vol. 01); Laudo n° 2293/05, de 31.08.2005 (fls. 17/103, apenso 51, vol. 01); Laudo n° 096/06-INC, de 13.01.2006; Laudo 0162/06-INC, de 25.01.2006; Laudo n° 0229/06-INC, de 06.02.2006; Laudo n° 0313/06, de 17.02.2006; Laudo n° 0317/06-INC, de 17.02.2006.

O réu MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA (fls. 13.870/13/13.883) também pede a integração do acórdão, para que conste da ementa e de sua parte dispositiva a declaração da ilicitude da prova obtida diretamente pelo Ministério Público Federal junto ao BACEN, a despeito de referida preliminar ter sido julgada prejudicada. Pede, ainda, a atribuição de efeitos infringentes aos embargos, tendo em vista que efetivamente o Ministério Público Federal teria obtido documentos diretamente do Banco Central, sem que para tanto houvesse uma determinação judicial. Diz que a autorização deste Relator, datada de 30/08/2005 e comunicada ao BACEN em 31/08/2005, seria posterior à remessa dos documentos constantes dos Apensos 46 (remetidos ao Ministério Público Federal 16.08.2005), 73-80 (remetidos ao Ministério Público Federal em 17/11/2005) e 85 (remetidos ao Ministério Público Federal em 16/08/2005), requerendo, assim, a declaração da nulidade dos mesmos.

O embargante alega, ainda, a existência de contradição entre a fundamentação e a conclusão do acórdão,

(9)

relativamente “ao uso ilícito da prova emprestada do banco de dados do ‘Caso Banestado’.” Destaca que a referida documentação foi utilizada em procedimento diverso daquele que originou a remessa, o que estaria vedado pelo ofício de encaminhamento das provas, do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça. Assim, ao concluir que a utilização das referidas provas não estaria vedada, o acórdão teria incorrido em contradição, que o embargante pede seja eliminada.

O réu VALDEMAR COSTA NETO (fls. 13.892/13.899) insurge-se contra o recebimento da denúncia pelo crime de formação de quadrilha, alegando que não se teria aperfeiçoado o número mínimo de quatro pessoas (elemento do tipo), pois os envolvidos LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA não foram denunciados, tendo em vista termo de colaboração firmado com o Ministério Público Federal. Assim, “a não inclusão de suposto beneficiário da denúncia equivale, s.m.j., ao arredamento, pelo próprio Ministério Público, da suposta conduta delitiva por parte daquelas pessoas” (fls. 13.898). A denúncia foi recebida relativamente aos acusados VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS e JOÃO CLÁUDIO GENÚ. Alega que não é questão de indivisibilidade da ação penal (tese esta já há muito refutada por esse Supremo Tribunal Federal) ou de aplicação do princípio da igualdade das partes, mas de necessidade de

(10)

o Ministério Público, conhecendo-os, denunciar todos os supostos integrantes da quadrilha, o que não ocorreu.

Por fim, o Procurador-Geral da República (fls. 13.917/13.926, vol. 64) alega omissão no que tange ao capítulo VIII da denúncia, que imputou aos réus JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE MENDONÇA (DUDA MENDONÇA) e ZILMAR FERNANDES SILVEIRA os crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

O Procurador-Geral da República alega que foram feitas duas imputações de lavagem de dinheiro, em situações diversas, aos referidos acusados, e que o acórdão somente teria remetido a uma delas, consistente na sistemática de transferência que teria sido montada pelo Banco Rural. “Entretanto, os denunciados Zilmar Fernandes e Duda Mendonça, em um momento posterior, passaram a implementar um segundo modo de lavagem de ativos, buscando maior segurança nas operações de recebimento de valores oriundos de crimes. Trata-se do estratagema de remeter valores para o exterior, de forma clandestina. Esse fato, na versão que consta da denúncia, caracteriza um crime autônomo de lavagem de dinheiro. Representa, portanto, uma outra imputação do crime de lavagem de dinheiro” (fls. 13.923/13.924).

O autor-embargante destaca que as remessas clandestinas aparecem no contexto do crime de evasão de divisas, em relação ao qual a denúncia foi recebida, e o

(11)

réu se defende dos fatos narrados e julgados viáveis em juízo de recebimento da acusação (art. 383 do Código de Processo Penal), mas, “por precaução”, pede o esclarecimento do acórdão neste ponto, pedindo “que o Supremo Tribunal Federal delibere sobre o recebimento ou não da acusação de lavagem de dinheiro, consistente na remessa clandestina ao exterior de valores, lançada contra Duda Mendonça e Zilmar Fernandes (capítulo VIII da denúncia, item c.2)”.

(12)

V O T O

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - (Relator): Senhor Presidente, analisarei os embargos na ordem em que foram opostos pelos réus, que é a mesma constante do relatório.

ROGÉRIO TOLENTINO (fls. 13.821/13.828)

Os primeiros embargos, opostos por ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, consubstanciam mera irresignação contra o recebimento da denúncia.

Com efeito, a dita “contradição” do acórdão estaria em que a denúncia foi rejeitada em relação a alguns crimes, por não ser o embargante sócio da SMP&B, e recebida em relação ao crime de lavagem de dinheiro, que tinha na SMP&B Comunicação Ltda. uma das pontas do mecanismo denunciado pelo Ministério Público Federal.

O embargante alega que, por não ser ele sócio da SMP&B (era apenas o advogado da empresa), a denúncia não poderia ser recebida relativamente ao crime de lavagem de dinheiro.

Em primeiro lugar, saliento que a rejeição da denúncia relativamente a algumas imputações não conteve um juízo de mérito, nem de tipicidade, das condutas a atribuídas a ROGÉRIO LANZA TOLENTINO. Considerou-se, apenas, que a denúncia falhou em descrever sua conduta.

(13)

Isto somente ocorreu EM RELAÇÃO AOS CRIMES DE PECULATO, CORRUPÇÃO ATIVA (no que tange a João Paulo Cunha, Henrique Pizzolato, PL, PTB e PMDB) e EVASÃO DE DIVISAS, em que a denúncia considerou-o um verdadeiro sócio da SMP&B, o que ele não era.

Assim, relativamente a estes crimes, a denúncia não descreveu, nem mesmo minimamente, a participação do acusado. Foi uma mera declaração de inépcia formal da denúncia, que não impede o seu aditamento pelo Ministério Público nem o oferecimento de nova denúncia, pelos mesmos fatos, desde que venham descritas as condutas por ele adotadas na prática dos crimes de corrupção ativa (recebida parcialmente, em relação a alguns parlamentares do PP), de peculato e de evasão de divisas.

Quanto ao crime de lavagem de dinheiro, o tribunal pleno entendeu, à unanimidade, estarem suficientemente descritas suas condutas – assim como na prática dos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha.

Apenas para demonstrar, claramente, a inexistência de qualquer contradição no recebimento da denúncia pelo crime de lavagem de dinheiro, cito um pequeno trecho de meu voto, em que salientei constar da peça acusatória a conduta de ROGÉRIO LANZA TOLENTINO na prática do referido crime, através de suas empresas LANZA TOLENTINO & ASSOCIADOS e ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, verbis:

(14)

“Aliás, abro aqui um parêntese para salientar que, dentre os ‘mutuantes’ e mutuários’ destes supostos contratos (aparentemente utilizados pela SMP&B como instrumento para a lavagem de dinheiro), estão a ‘Lanza Tolentino e Associados Ltda.’ e a ‘Rogério Lanza Tolentino’.

Portanto, diferentemente do que assinalei no capítulo anterior, em que apreciamos os crimes de peculato e corrupção ativa, desde já firmo posição de que este dado – participação aparente das empresas de TOLENTINO nos fatos supostamente típicos – afasta, a meu ver, ao menos neste momento de judicium accusationis, a possibilidade de se acolher o argumento contido na resposta escrita do denunciado ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, no sentido de que ele não é sócio das empresas de Marcos Valério (SMP&B Comunicação Ltda.; DNA Propaganda Ltda. e Graffiti Participações Ltda.).

Como salientei anteriormente, MARCOS VALÉRIO é sócio de ROGÉRIO LANZA TOLENTINO na LANZA TOLENTINO e ASSOCIADOS, que presta serviços de advocacia para a SMP&B.

Além disso, assinalo que, como é óbvio, não é só a qualidade de sócio de MARCOS VALÉRIO que justifica a denúncia de ROGÉRIO TOLENTINO, mas sim o envolvimento, em tese, também de suas empresas (ROGÉRIO LANZA TOLENTINO e 2 S PARTICIPAÇÕES) nos supostos repasses ilegais de recursos a parlamentares, o denominado ‘mensalão’, objeto do capítulo VI da denúncia, que veremos oportunamente”.

Do exposto, Senhor Presidente, eu rejeito os embargos de declaração opostos pelo réu ROGÉRIO LANZA TOLENTINO.

JOSÉ DIRCEU (fls. 13.830/13.837)

Quanto aos embargos do réu JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA, alega-se que a defesa não teria feito qualquer afirmação no sentido de que o recebimento da denúncia consubstanciaria um julgamento político,

(15)

indiferente às provas constantes dos autos – que eu analisei como décima primeira preliminar em meu voto.

Assim, o embargante pede que seja retirada do acórdão a referência ao julgamento político.

Também esta alegação não merece prosperar.

Consta literalmente da resposta escrita do acusado (v. Apenso 100):

“A imprensa, em várias matérias durante o processo instaurado no Conselho de Ética contra o Requerente, afirmou a inexistência de provas contra o então deputado José Dirceu, sendo o julgamento político. A pergunta que se fazia, naquela oportunidade, era a seguinte: ora, mas o julgamento político, para cassar um mandato popular, não precisa de um mínimo de provas? É correto cassar o mandato de um parlamentar eleito com mais de quinhentos mil votos, sem provas, apenas por uma conveniência política? Conforme afirmou o economista José Márcio Camargo, “Revogar um mandato popular só com provas. Só a população, pelo voto, é que tem o direito de fazer um julgamento político sem provas”.

Vale, aqui, transcrever um trecho do artigo do ex-Ministro Chefe da Casa Civil, publicado no dia 6 de setembro de 2005, no jornal “Folha de S. Paulo”:

“Se houve algum ato isolado de corrupção no governo, não posso ser responsabilizado. Não recebi vantagens indevidas nem participei ou fui conivente com qualquer esquema destinado a captar e distribuir recursos a partidos ou parlamentares. Essa é a verdade.

Tenho consciência de que estou sendo julgado não por meus eventuais erros ou supostos delitos, mas pelo que represento na história da esquerda, do PT e do governo Lula. (...)

Se a Folha considera que nada será suficiente para apagar a convicção preconcebida de que exerci

(16)

‘papel ativo na trama de corrupção’, é porque o processo está contaminado pelo pré-julgamento próprio dos regimes autoritários. Neste caso, a imprensa perde a legitimidade para formar a opinião da sociedade.

O julgamento é político. Mas se não houver uma constatação inequívoca da quebra de decoro parlamentar, qualquer eventual condenação será ilegítima. Condenar pelas aparências, especialmente se o conjunto de indicações estiver distorcido, é romper a linha que separa a autoridade da tirania”.

Digno Relator, a defesa, durante todo o processo que tramitou no Conselho de Ética, ouviu de vários parlamentares que o julgamento era político. (...)

A defesa quer registrar que confia na Corte Maior de seu país que confia na serenidade, na tranqüilidade, na sabedoria dos integrantes do Poder Judiciário, que saberão afastar o jogo político das provas, que saberão afastar ilações, delírio, de provas e circunstâncias cabais.

A defesa conhece o presente feito, examinou todas as provas aqui trazidas e tem a tranqüilidade de que nada, nada, incrimina o ex-Ministro Chefe da Casa Civil, requerendo, desde logo, a rejeição da peça exordial.

(...)

Existem políticos, e não são poucos, que usurpam o mandato popular e se valem da vida pública como meio de enriquecimento. Esses merecem a resposta penal. Há outros que possuem vocação, ideal e projetos para o país. Políticos desta linhagem, como o ex-Ministro José Dirceu, devem ser julgados no plano das idéias pela sociedade nas urnas.”

Assim, senhor Presidente, tendo a defesa tratado da matéria em dois capítulos da resposta preliminar do réu JOSÉ DIRCEU, insinuando a ‘hipótese’ de um julgamento político, e diante do pedido – travestido de ‘voto de confiança’ – no sentido de que esta Corte não realize,

(17)

também, um julgamento político, a exemplo do que teria ocorrido na Câmara dos Deputados, eu não poderia deixar de apreciar a matéria em meu voto e afastar qualquer suspeita de que o Supremo Tribunal Federal realizaria um julgamento político, influenciado pela mídia e divorciado das provas.

Por tais razões, rejeito os embargos do réu JOSÉ DIRCEU.

ROBERTO JEFFERSON (fls. 13.840/13.842)

Relativamente aos embargos de declaração opostos por ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO, também não merecem acolhida.

Em primeiro lugar, quanto à designação dos interrogatórios para datas que possibilitassem a participação das defesas dos co-réus, saliento que o pedido foi devidamente atendido pelos juízos delegados. Assim, tendo sido observado o disposto no referido art. 188 durante a realização dos interrogatórios dos réus, os embargos estão prejudicados nesta parte.

O embargante alega, ainda, que o aresto nada dispôs sobre a igual prática do crime de corrupção passiva “pelo próprio Presidente”. Ora, não houve qualquer imputação de crime ao Presidente da República. O acórdão não teria como se pronunciar sobre o que não consta da denúncia.

(18)

Do exposto, não há qualquer omissão na matéria, sanável na via dos embargos de declaração.

JOÃ PAULO CUNHA (fls. 13.846/13.855)

Os embargos de declaração opostos pelo réu JOÃO PAULO CUNHA sustentam, em primeiro lugar, a existência de contradição no recebimento da denúncia pelo crime de corrupção passiva, tendo em vista que teriam sido levados em consideração fatos narrados para a imputação do crime de peculato para acolher, também, a imputação de corrupção passiva.

Ora, não há qualquer pertinência na referida alegação. Em primeiro lugar, porque não se trata de qualquer contradição. Na definição doutrinária, a contradição é uma “incoerência entre uma afirmação anterior e outra posterior, referentes ao mesmo tema e no mesmo contexto, gerando a impossibilidade de compreensão do julgado. (...) É preciso existir confronto entre afirmações interiores ao julgado. Nessa linha: ‘A contradição que enseja embargos de declaração é a contradição do acórdão consigo próprio, nunca com a prova dos autos”1. Assim, nota-se claramente que o embargante não apontou qualquer contradição passível de embargos, trazendo mera irresignação contra o recebimento da denúncia.

1

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 5ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. p. 981.

(19)

Ademais, é cediço que o réu se defende dos fatos, e não da qualificação dada a eles na denúncia. Portanto, ainda que houvesse algum fundamento nas alegações do embargante, nenhuma nulidade haveria, pois as condutas pelas quais a imputação de corrupção passiva foi recebida estão expostas na denúncia (em concurso com o crime de peculato), e delas é que se defende o acusado, não de sua classificação típica.

No caso em análise, o réu, além de ter sido acusado de receber R$ 50.000,00 em espécie do denominado “núcleo publicitário-financeiro” da suposta organização criminosa, em razão da função por ele ocupada (Presidente da Câmara dos Deputados) – configurando, em tese, o crime de corrupção passiva -, teria ainda retribuído com a prática de “atos de ofício” que vieram a configurar, também, em tese, o delito de peculato (pagamento de milhares de reais à SMP&B Propaganda Ltda., ‘para nada fazer’, nos termos da denúncia).

Além disso, o embargante alega que teria havido contradição neste mesmo ponto do acórdão (recebimento da denúncia pelo crime de corrupção passiva), porque teriam sido considerados, para o recebimento da denúncia, fatos não constantes do relatório, o que é evidentemente desprovido de qualquer fundamento jurídico. O Relatório, como peça meramente descritiva, não precisa de fundamentos,

(20)

razão pela qual nem tudo que o acórdão adota como razões de decidir precisa ter constado do Relatório.

De outro lado, o embargante alega que referidos fatos que embasaram o recebimento da acusação também não teriam constado da própria denúncia. Salienta que, verbis (fls. 13.849, vol. 64):

“Enquanto o v. acórdão embargado, fugindo completamente na denúncia, invoca dois fatos não imputados na inicial para justificar a presença do elemento essencial do tipo e recebê-la pelo crime de corrupção passiva – ‘tanto a autorização para a subcontratação do objeto dos contratos firmados com a SMPB quanto a designação de comissão especial de licitação para acompanhar o mencionado processo de licitação são exemplos de ato de ofício efetivamente praticados pelo denunciado João Paulo Cunha na qualidade de Presidente da Câmara dos Deputados’ (fls. 011812) -, paradoxalmente, diz para afastar a inépcia perquirida pela defesa que ‘tampouco impõe a descrição minuciosa, cabal e antecipada de cada um dos ‘atos de ofício’ praticados pelo funcionário público corrompido’ (fls. 011813)”.

Contudo, a alegação não tem qualquer procedência. O embargante simplesmente pretende a reforma do julgado, por não se conformar com o recebimento da denúncia. Não aponta, contudo – ou por isso mesmo -, qualquer vício passível de declaração. Apenas para demonstrar a completa impertinência dos embargos, neste ponto, transcrevo trecho do acórdão em que se tratou da imputação de corrupção passiva ao réu JOÃO PAULO CUNHA, verbis:

“Narra a denúncia que JOÃO PAULO CUNHA se valeu do poder de que dispunha como

(21)

autoridade máxima da Câmara dos Deputados para beneficiar a empresa SMP&B Propaganda Ltda., através, entre outros meios, da nomeação da Comissão Especial que elaborou o edital e julgou as propostas apresentadas. Importante destacar o seguinte trecho da inicial acusatória, para deixar bem clara a obediência ao art. 41 do Código de Processo Penal (fls. 5666, volume 27):

‘A empresa SMP&B, com o aval de João Paulo Cunha, subcontratou 99,9% do objeto licitado. De uma soma total de R$ 10.745.902,17, somente R$ 17.091,00 foram pagos por serviços prestados diretamente pela SMP&B, representando 0,01%.

A SMP&B, do núcleo Marcos Valério, participou do contrato apenas para intermediar subcontratações, recebendo honorários de 5% por isso. Referida situação caracteriza grave lesão ao erário, além de crime de peculato.

Com efeito, João Paulo Cunha desviou R$ 536.440,55 do contrato n° 2003/204.0 em proveito do núcleo Marcos Valério da organização criminosa. Explica-se.

O núcleo Marcos Valério, por meio da empresa SMP&B, assinou o contrato 2003/204.0 para não prestar qualquer serviço. Nessa linha, subcontratou 99,99% do objeto contratual.

Por conta disso, recebeu gratuitamente R$ 536.440,55, valor dos honorários fixados na avença.

Foi remunerado para nada fazer.

João Paulo Cunha viabilizou o repasse indevido desse montante em razão da subcontratação total do objeto, pois autorizava

expressamente todas as

subcontratações.

O desvio favoreceu o núcleo Marcos Valério, tendo em vista que o recurso ingressou em seu patrimônio. A razão para essa liberalidade com o dinheiro público é

(22)

o serviço prestado para o núcleo central da organização criminosa. Além disso, repita-se, passou a existir um íntimo vínculo entre Marcos Valério e João Paulo Cunha, com inúmeras trocas de favores.

Importante destacar que, com a saída de João Paulo Cunha da Presidência da Câmara dos Deputados, a partir de 15 de fevereiro de 2005, os valores da execução contratual com a empresa SMP&B despencaram vertiginosamente.’

Ou seja, está bem claro o ato de ofício em tese praticado pelo acusado. A circunstância de JOÃO PAULO CUNHA ocupar a Presidência da Câmara dos Deputados, aliada aos elementos constantes dos autos no sentido de que ele, de fato, teria recebido quantia proveniente da SMP&B, constituem indícios idôneos de materialidade e autoria do delito capitulado no art. 317 do Código Penal, aptos a ensejar o recebimento da inicial para posterior apuração dos fatos em instrução criminal.”

Assim, senhor Presidente, rejeito os embargos de JOÃO PAULO CUNHA, relativamente à parte do acórdão que recebeu contra ele a denúncia de corrupção passiva.

O mesmo réu alega, também, que o acórdão não estaria devidamente fundamentado para o recebimento da denúncia pelo crime de lavagem de dinheiro. Assim, aponta omissão, neste particular, salientando que “o embargante, Presidente da Câmara dos Deputados, figura absolutamente conhecida, mandou sua mulher, possuidora de seu sobrenome, para que, de forma absolutamente identificada, ou seja, entregando seu documento de identidade, fosse sacar R$ 50.000,00 no banco Rural, seguindo a orientação do

(23)

tesoureiro de seu partido, Delúbio Soares” (fls. 13.852, vol. 64).

Em primeiro lugar, o conceito de omissão adotado pelo embargante é equivocado. O que o embargante sustenta, em verdade, é um vício de fundamentação do julgado, e não a falta de abordagem de algum argumento relevante formulado pela defesa.

Ademais, o embargante pretende, com seu recurso, discutir o mérito da ação penal, sendo que, por ora, trata-se de uma mera decisão de recebimento da denúncia, em que os fundamentos não devem se aprofundar de modo que antecipe o provimento jurisdicional final. Nesta fase, a dúvida sobre a possibilidade de o acusado ter praticado o crime, e a constatação da existência de indícios de autoria e de materialidade, autorizam a instauração da ação penal, como concluímos no acórdão embargado.

De mais a mais, não consta, em nenhum momento, que a esposa do réu JOÃO PAULO CUNHA, a senhora MÁRCIA REGINA MILANÉSIO CUNHA, tenha se identificado formalmente como recebedora do valor sacado (R$ 50.000,00). Em verdade, todos os sacadores do suposto esquema apresentavam apenas informalmente sua identidade às pessoas indicadas pelo chamado “núcleo financeiro”, para que pudessem receber os elevados valores, em espécie, destinados ao beneficiário final que representavam. O funcionário incumbido de receber a pessoa sacadora tirava uma xérox da identidade para

(24)

apresentar aos seus superiores (seja do núcleo financeiro, seja do núcleo publicitário), que assim tinham um controle interno dos repasses que já haviam sido feitos.

Como destaquei em meu voto, embora esses pagamentos em espécie tivessem um beneficiário final conhecido pelo Banco Rural, referida instituição financeira informava “ao Banco Central que os valores dos saques suspeitos destinavam-se ao pagamento de fornecedores da SMP&B Comunicação Ltda (cf. Relatório de Análise 191/2006, p. 388-397 do Apenso 81)” (fls. 127 do acórdão).

Diante destes dados, o acórdão embargado destacou:

“Transcrevo trecho do RA 191/2006, em que são descritos os passos finais do modus operandi supostamente seguido nas referidas operações de lavagem de dinheiro:

’(...)

4º) Fac-símile, enviado pela agência do Banco Rural de Belo Horizonte à agência do Banco Rural de Brasília, autorizando o pagamento àquelas pessoas indicadas pela funcionária da SMPB no e-mail;

5º) Saque na ‘boca do caixa’ realizado pela pessoa autorizada, contra recibo, muitas vezes mediante uma rubrica em papel improvisado, e em outras situações, mediante o registro da pessoa que efetuou o saque no documento emitido pelo Banco Rural, denominado ‘Automação de Retaguarda Contabilidade’;

6º) O Banco Rural, embora tivesse conhecimento dos verdadeiros sacadores/beneficiários dos recursos sacados da ‘boca do caixa’, registrou no Sistema do Banco Central (Sisbacen = opção PCAF 500, que registra

(25)

operações e situações com indícios de crime de lavagem de dinheiro) que os saques foram efetuados pela empresa SMP&B Comunicação Ltda. e que se destinavam a pagamento de fornecedores” (p. 389 do apenso 81). Examinando os autos, verifico que deles constam documentos que demonstram que o saque efetuado pela esposa do Sr. JOÃO PAULO CUNHA seguiu as etapas finais do modus operandi do suposto esquema de lavagem de dinheiro, exatamente como descrito pelo Procurador-Geral da República.

Neles, pode-se localizar a cópia do fac-símile remetido pela agência ‘Assembléia’ do Banco Rural (Belo Horizonte) para sua sucursal ‘Brasília’, autorizando à Sra. Márcia Regina Milanésio Cunha receber quantia no valor de cinqüenta mil reais, referente ao ‘cheque SMP&B Propaganda Ltda. que se encontra em nosso poder’ (fls. 726 do apenso n° 7).

Menciono, também, cópia do documento de ‘automação de retaguarda – contabilidade’, com a identificação da sacadora Maria Regina, acompanhada de cópia de sua carteira de identidade (p. 243/246 do apenso 84).

Por outro lado, existem evidências de que, em casos semelhantes (ver item IV da denúncia), o Banco Rural escondeu a identidade dos verdadeiros beneficiários, informando falsamente ao Banco Central que os valores movimentados destinavam-se ao pagamento de fornecedores da SMP&B.”

Assim, o acórdão está plenamente fundamentado, não incorrendo no vício de fundamentação apontado nos embargos.

Por fim, o réu JOÃO PAULO CUNHA alega omissão “quanto à indicação da existência dos elementos do tipo do crime de peculato”. Salienta que “o embargante, como Presidente da Câmara, insista-se, não detinha a posse dos

(26)

recursos para que pudesse, querendo, desviá-lo” (fls. 13.854).

Senhor Presidente, não há omissão alguma quanto ao referido argumento da defesa. O voto condutor do acórdão embargado é claro ao salientar que, verbis:

“Segundo a denúncia, JOÃO PAULO CUNHA teria se valido do poder de autorizar subcontratações no âmbito do contrato 2003/204.0 para desviar verbas públicas em proveito próprio, de forma a remunerar a assessoria pessoal prestada por Luís Costa Pinto (p. 856 do apenso 84)”.

Através da subcontratação em exame, a IFT se comprometeu a produzir, entre outras coisas (fls. 5663):

(...)

Segundo a denúncia, os serviços mencionados jamais foram prestados, nem foram apresentados os boletins mensais prometidos, configurando esse fato o crime de peculato previsto no art. 312, caput, do Código Penal.

(...)

O Sr. JOÃO PAULO CUNHA argúi, em sua resposta (Apenso 96) (...): (ii) o denunciado não poderia interceder em favor da IFT, pois não detinha a posse dos recursos supostamente desviados, tendo sido o contrato celebrado exclusivamente com a agência de publicidade SMP&B; (...).

(...) verifico que não conduz à rejeição da denúncia o argumento de que o denunciado não poderia influenciar na subcontratação da IFT. Com efeito, o denunciado tinha poder para autorizar, ou não, a subcontratação, tendo a proposta de subcontratação em exame – assim como todas as demais sobre as quais pesam suspeitas de irregularidades – sido submetida diretamente ao Sr. JOÃO PAULO CUNHA,por meio de ofício expedido por órgão da Câmara dos Deputados. Transcrevo o ato de autorização assinado pelo denunciado em 30 de janeiro de 2004, constante do anexo à denúncia (Apenso n° 84, documento 44):

‘Isto posto, e tendo em vista ter sido esta a melhor das três propostas apresentadas, AUTORIZO a

(27)

contratação da empresa IFT Consultoria em Comunicação & Estratégia para a prestação de serviço de consultoria em comunicação, pelo período de 6 meses, no valor total de R$ 126.000,00 (cento e vinte e seis mil reais) (...)’.

Há, no mesmo volume dos autos, outra autorização subscrita pelo acusado para a subcontratação da empresa IFT, pertencente ao seu assessor, também pelo valor de R$ 126.000,00, datada de 30 de junho de 2004, cinco meses depois da acima transcrita.

Assim, não procede a alegação de que faltaria tipicidade à conduta, por não dispor o denunciado da posse dos recursos supostamente desviados. Na verdade, a ‘posse em razão do cargo’ a que faz referência o tipo penal do art. 312 do Código Penal se satisfaz com o mero poder atribuído ao superior hierárquico de dispor indiretamente dos bens, mediante ordens ou requisições. Nesse sentido, colho a seguinte preleção doutrinária:

(...)

O denunciado, na condição de presidente da Câmara, era o responsável pela autorização de todas as subcontratações referentes ao contrato 2003/204.0 e, conseqüentemente, detinha a posse dos recursos repassados à IFT. Assim, não se sustenta a afirmação de que o Sr. JOÃO PAULO CUNHA não teria tido qualquer responsabilidade sobre o hipotético desvio de verba pública.

(...)”

Do exposto, senhor Presidente, não incorrendo o acórdão na alegada omissão, rejeito integralmente os embargos de declaração opostos pelo réu JOÃO PAULO CUNHA.

KÁTIA RABELLO, JOSÉ ROBERTO SALGADO, VINÍCIUS SAMARANE e AYANNA TENÓRIO (fls. 13.858/13.868) e MARCOS VALÉRIO (fls. 13.870/13.883)

(28)

Os embargos de declaração opostos por MARCOS VALÉRIO (fls. 13.870/13.883) e por KÁTIA RABELLO, JOSÉ ROBERTO SALGADO, VINÍCIUS SAMARANE e AYANNA TENÓRIO (Fls. 13.858/13.868) têm o mesmo objeto, qual seja:

1) a alteração da ementa e do acórdão, para que deles conste que o Tribunal, incidentalmente, por 6 votos a 4, considerou ilícita a obtenção direta de provas pelo Ministério Público Federal junto ao Banco Central, muito embora referida preliminar tenha sido julgada prejudicada, tendo em vista que “os documentos não foram obtidos exclusivamente por essa fonte, mas, ao contrário, por formas regulares de quebra de sigilo, ou seja, por meio da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, de autorização judicial do Presidente do Supremo Tribunal Federal e do próprio relator”;

2) o desentranhamento dos documentos que teriam sido obtidos pelo meio acima referido, considerado ilícito; 3) a declaração de contradição do acórdão, no que tange à conclusão de que não seria ilícita a utilização das provas emprestadas do caso Banestado, tendo em vista que teria havido violação da restrição de uso imposta pela Autoridade Americana. Com isto, os embargos teriam efeitos infringentes também neste particular, no sentido de impor o desentranhamento das referidas provas.

Relativamente à alegação de que o acórdão foi omisso quanto à declaração de ilegalidade da prova obtida

(29)

diretamente pelo Ministério Público Federal junto ao Banco Central, em suposta violação ao sigilo bancário, considero que não deve ser acolhida.

O argumento em questão, embora tenha sido debatido no plenário, não veio a ser objeto de julgamento, não surtindo qualquer efeito no caso dos autos, em que os relatórios de fiscalização do Banco Central foram solicitados pela CPMI dos correios, em requerimento de autoria do Senador Álvaro Dias (Requerimento n° 91), aprovado no dia 21 de junho de 2005, tudo nos termos da LC 105/2001, cujo art. 4º, §1º, dispõe:

§1º. As comissões parlamentares de inquérito, no exercício de sua competência constitucional e legal de ampla investigação, obterão as informações e documentos sigilosos de que necessitarem, diretamente das instituições financeiras ou por intermédio do Banco Central do Brasil ou da Comissão de Valores Mobiliários. Em anexo ao meu voto, trago a “Tabela de Requerimentos da CPMI”, que pode ser obtida no sítio da Câmara dos Deputados na internet, revelando todos os requerimentos ali aprovados, dentre os quais a “transferência” do sigilo bancário e fiscal do acusado MARCOS VALÉRIO, requisição ao Banco Rural para identificar todos os saques realizados em dinheiro nas Agências de Belo Horizonte, desde janeiro de 2003, superiores a R$ 100 mil, a partir das contas da SMP&B e suas coligadas e sócios, dentre os mais de 1800 atos praticados pela referida Comissão e listados na referida tabela.

(30)

Como vimos em meu voto, “o Ministro NELSON JOBIM, então Presidente desta Corte, autorizou ‘o compartilhamento de todas as informações bancárias já obtidas pela CPMI dos ‘Correios’ para análise em conjunto com os dados constantes destes autos’ (fls. 408, volume 2), decisão esta proferida em 25 de julho de 2005.

Assim, reafirmo que os documentos apontados pelos embargantes, enviados pelo Presidente do BACEN ao PGR a partir de 16 de agosto de 2005 (v. embargos de MARCOS VALÉRIO, fls. 13.875) não estavam mais protegidos pelo sigilo. Menos ainda aqueles documentos enviados em 17.11.05, quando eu mesmo havia determinado o afastamento do sigilo bancário, a partir de janeiro de 1998, de todas as contas mantidas pelo réu MARCOS VALÉRIO e demais pessoas físicas e jurídicas apontadas pelo Procurador-Geral da República, que com ele cooperam ou por ele são controladas.

Aliás, importante destacar o teor do Ofício encaminhado pelo Presidente do Banco Central, Henrique de Campos Meirelles, protocolado em 10 de novembro de 2005 (v. fls. 3397, vol. 15), comunicando que “a documentação obtida por esta Autarquia, relacionada com diligências requisitadas pelo Ministério Público nos autos do Inquérito n° 2245-STF, será, doravante, remetida diretamente ao senhor Procurador-Geral da República. Venho, a esse propósito, remeter a Vossa Excelência, para efeito de

(31)

conhecimento da providência já adotada por parte do Banco Central, cópia do Aviso n° 00102/BCB-Presi, desta data, por meio do qual encaminhei ao Procurador-Geral da República documentos e informações relativos a diligências requisitadas nos autos do Inquérito 2245-STF, objeto do Ofício n° 3848/R, de 31 de agosto de 2005”.

Assim, senhor Presidente, referida providência, como já analisado por este Plenário, somente foi adotada como forma de racionalizar os trabalhos, tendo em vista que o envio dos documentos a este relator, que já havia deferido a realização da diligência, somente retardaria o bom andamento do processo.

Portanto, como assinalei em meu voto, “o fato é que houve regular quebra de sigilo de todas as contas do acusado MARCOS VALÉRIO e suas empresas, autorizada tanto pela CPMI dos Correios como por este Tribunal”, razão pela qual o pedido contido nos embargos de declaração - no sentido da complementação do acórdão para fazer constar a ilegalidade declarada “em abstrato” da obtenção das provas em questão diretamente pelo Ministério Público Federal – cai completamente no vazio e não traz qualquer contribuição para a compreensão do acórdão. Ao contrário: confundiria as coisas.

Do exposto, rejeito a alegada omissão, afastando a possibilidade de desentranhamento das referidas provas.

(32)

Por fim, resta a análise da alegada contradição do acórdão, referente à conclusão de que seria lícita a utilização dos documentos bancários obtidos junto às autoridades americanas por ocasião do Caso Banestado. Os embargantes sustentam ter havido “flagrante contradição com o texto do dispositivo do Acordo” de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre Brasil e Estados Unidos, no que diz respeito às restrições de uso.

Senhor Presidente, claramente os embargantes pretendem a reforma do acórdão no que tange à declaração de legalidade da utilização daquelas provas, e invocam uma “contradição” que claramente não coincide com o conceito exato que ensejaria embargos de declaração.

De todo modo, saliento que não há qualquer incongruência no acórdão embargado, no ponto em análise. Nós analisamos os termos em que os documentos foram fornecidos pela autoridade norte-americana e constatamos que a única restrição de uso se referiu à pessoa – somente o Ministério Público Federal e a Polícia Federal poderiam utilizar referidos dados -, e não ao processo.

Em verdade, a defesa não interpretou corretamente o Decreto n° 3.810/2001, que promulgou o Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América.

(33)

Veja-se que o Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal prevê, realmente, a possibilidade de restrição de uso pela Autoridade Central do Estado Requerido, como consta do Artigo VII, 1, do Decreto n° 3.810/2001, verbis:

Artigo VII Restrições ao Uso

1. A Autoridade Central do Estado Requerido pode solicitar que o Estado Requerente deixe de usar qualquer informação ou prova obtida por força deste Acordo em investigação, inquérito, ação penal ou procedimentos outros que não aqueles descritos na solicitação, sem o prévio consentimento da Autoridade Central do Estado Requerido. Nestes casos, o Estado Requerente deverá respeitar as condições estabelecidas.

Referido dispositivo legal não estabelece que o uso dos documentos enviados deverá, sempre, se restringir ao inquérito que deu origem ao pedido. Ao contrário, ele apenas autoriza que a Autoridade Central do Estado Requerido estabeleça essa restrição de uso, o que não ocorreu no caso concreto.

Neste sentido, a Autoridade Americana utilizou-se, somente, da prerrogativa prevista no artigo VII, n° 2, do Acordo, cujo teor é o seguinte:

2. A Autoridade Central do Estado Requerido poderá requerer que as informações ou provas produzidas por força do presente Acordo sejam mantidas confidenciais ou usadas sob os termos ou condições por ela especificados. Caso o Estado Requerente aceite as informações ou provas sujeitas a essas condições, ele deverá respeitar tais condições.”

(34)

In casu, a única restrição imposta referiu-se ao órgão que utilizaria as provas, tendo a Autoridade Americana solicitado que os documentos fossem utilizados apenas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, vedando sua utilização por outras entidades ou autoridades brasileiras.

Repito ainda uma vez: a Autoridade Americana não impôs, em momento algum, restrição de uso das provas em outros inquéritos ou ações penais! A condição foi redigida nos seguintes termos, no ofício de encaminhamento remetido pelo Governo dos Estados Unidos:

“O Escritório do Procurador Distrital do Condado de Nova Iorque obteve os registros bancários como parte de sua própria investigação criminal e obteve ordens judiciais para abrir os documentos apenas para os Procuradores Federais brasileiros e para a Polícia Federal brasileira, que fizeram os acima referidos pedidos nos termos do tratado de assistência mútua.

Portanto, neste momento, por favor, não compartilhe as provas anexadas com quaisquer outras entidades ou autoridades no Brasil (...)”.

Foi, aliás, o que este plenário salientou no acórdão embargado, não havendo, portanto, qualquer mácula ou contradição no acórdão, quanto a esta matéria.

A defesa se apóia em trecho do ofício encaminhado pelo Ministério da Justiça para o Delegado de Polícia Federal que solicitara a documentação, em que ficou disposto:

“O Estado brasileiro, ao aceitar a assistência fornecida, obriga-se a respeitar a

(35)

reserva de especialidade feita pelos Estados Unidos quanto à utilização e compartilhamento dos documentos. Ressaltamos que o compartilhamento, divulgação ou descumprimento às reservas estabelecidas poderá comprometer a continuidade da cooperação internacional em outros casos.

Qualquer outra utilização dos documentos fornecidos, distinta da finalidade que consta nos pedidos de cooperação, deverá ser precedida de autorização do Estado requerido, formalmente solicitada por meio desta Autoridade Central, nos termos do Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre o Brasil e os Estados Unidos da América.”

Contudo, o Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre o Brasil e os Estados Unidos não prevê a possibilidade de o próprio Estado Requerente – no caso, o Brasil – ampliar a restrição de uso imposta pelo Estado Requerido – os Estados Unidos.

Até porque, se fosse permitido ao Ministro da Justiça impor outros limites ao uso das provas, além daqueles estabelecidos pelos Estados Unidos da América, estaria comprometida a efetividade e a própria finalidade da Assistência Judiciária em questão, principalmente considerando uma investigação como a presente, em que muitos dos investigados são ou foram membros do Legislativo e do próprio Executivo, de que faz parte o Ministério da Justiça.

Portanto, não há de se vislumbrar, no ofício do Ministério da Justiça antes mencionado, qualquer vedação ao aproveitamento das provas ditas ilícitas. Pode-se, inclusive, considerar que a alusão à “finalidade distinta

(36)

da que consta nos pedidos de cooperação” refira-se a um eventual desvio de finalidade na utilização dos documentos, como sua divulgação para órgãos da imprensa. Não remete, contudo, à impossibilidade de seu aproveitamento em outros inquéritos, restrição que só poderia ser imposta pela Autoridade Norte-Americana.

Em verdade, estas cláusulas estabelecidas pelo Ministério da Justiça Brasileiro são colocadas em abstrato, independentemente dos termos em que a Autoridade Norte-Americana fez a remessa das provas. Aparentemente, fazem parte da própria praxe burocrática do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, estando sempre inscrita na parte final de todos os “ofícios de encaminhamento de documentos”, como se nota, por exemplo, nos ofícios de fls. 3796 e 3822, vol. 17 dos autos.

Assim, considero que a cláusula constante do ofício do Ministério da Justiça é de todo irrelevante, não tendo criado qualquer impossibilidade do aproveitamento dos documentos em outros inquéritos e ações penais.

Por fim, senhor Presidente, eu destaco um dado que constou apenas en passant no meu voto, mas que merece relevo, para suplantar qualquer dúvida eventualmente remanescente.

Houve, nestes autos, outras solicitações de assistência judiciária internacional em matéria penal às

(37)

Autoridades Norte-Americanas, dentre as quais aquela constante às fls. 3788/3794 (volume 17), que foi atendida nos mesmos termos daquela oferecida no caso BANESTADO. Eis o que constou do pedido, acolhido pelos Estados Unidos da América (fls. 3791, vol. 17):

I – ASSUNTO

Requerimento de assistência judiciária em matéria penal para a obtenção de registros bancários das seguintes contas bancárias, em razão da prática de crime de evasão de divisas e sonegação fiscal:

1. conta 00 100 12 977 titularizada pela empresa DUSSELDORF COMPANY LTDA e mantida no Bank Boston International, Flórida/EUA;

2. conta n° 61122642 titularizada por JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE MENDONÇA e mantida no Bank Boston International, NY;

3. conta n° 61028540 titularizada por ZILMAR FERNANDES DA SILVEIRA e mantida no Bank Boston International, NY;

4. conta n° 37694200, mantida no BAC FLORIDA BANK e titularizada por G. D. INTERNATIONAL CORP.;

5. conta n° 37020471, mantida no BAC FLORIDA BANK e titularizada por DEAL FINANCIAL CORP.;

6. conta n° 0832915, mantida no ISRAEL DISCOUNT BANK OF NY e titularizada por KANTON BUSINESS CORP.;

7. conta em nome do Banco Rural Europa S/A mantida no WACHOVIA BANK NA (New York International BRanch, New York, NY, US);

8. conta em nome do TRADE LINK BANK, Grand Cayman e mantida no banco STANDARD CHARTERED;

Referências

Documentos relacionados

Laekenois: Pelo muito longo, sedoso, ondulado, frisado ou curto; cheio de pelos finos, espalhados por mechas entre os pelos duros; pelos longos ao redor dos olhos ou ao redor

• Para cada questão existe apenas uma resposta correta que deverá ser marcada no em que o candidato deverá usar.. transparente, preenchendo todo o resposta. qualquer

O Vendedor terá direito de revender o animal, pelo preço alcançado no leilão e demais despesas, ou à sua opção, executar o Comprador, se este não efetuar o

5- A empresa é obrigada a entregar aos seus trabalhadores, no acto do pagamento da retribuição, um recibo, preenchi- do de forma indelével, no qual figurem o nome completo

IC’s. Interessada: 2ª PJDC de Garanhuns. Encaminha cópia das portarias referentes às conversões dos PP’s em IC’s. Interessada: 26ª PJDC da Capital – Promoção e Defesa

RESOLVE CONVERTER o referido procedimento em INQUÉRITO CIVIL, determinando: 1) autue-se o Inquérito Civil, com registro no Sistema Arquimedes; 2) encaminhe-se cópia desta

Dando início aos trabalhos o Presidente do Conselho, em exercício, Dr. Renato da Silva Filho, cumprimentou todos os presentes. Solicitou que o Secretário desse prosseguimento com

André Silvani da Silva Carneiro, e o requerimento de licença especial para estudo no exterior (Lisboa) da Promotora de Justiça Dra.. prorrogação do prazo para a conclusão do IC