• Nenhum resultado encontrado

O pátio como espaço de aprendizagens, com o olhar da criança e a influência das novas tecnologias

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O pátio como espaço de aprendizagens, com o olhar da criança e a influência das novas tecnologias"

Copied!
36
0
0

Texto

(1)

CRISTIANI ISABEL BURG

O PÁTIO COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGENS, COM O OLHAR DA CRIANÇA E A INFLUÊNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS

Santa Rosa 2014

(2)

CRISTIANI ISABEL BURG

O PÁTIO COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGENS, COM O OLHAR DA CRIANÇA E A INFLUÊNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS

Monografia apresentada ao curso de Graduação em Pedagogia, Departamento de Humanidades e Educação da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI).

Orientadora: Ms. Cláudia Maria Seger

Santa Rosa 2014

(3)

CRISTIANI ISABEL BURG

O PÁTIO COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGENS, COM O OLHAR DA CRIANÇA E A INFLUÊNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS

Monografia apresentada para obtenção do titulo de graduada em Pedagogia na Universidade Regional Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

Banca Examinadora:

... Profa. Ms. Cláudia Maria Seger – UNIJUÍ

... Profa. Ms. Cléia Inês Rigon Dorneles – UNIJUÍ

Nota: ...

(4)

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, em primeiro lugar, por ter me propiciado este momento em minha vida, pelo fato de estar sempre ao meu lado me ajudando, me iluminando, dando forças nesta caminhada para que não desistisse dos meus sonhos.

À minha mãe Alice Maria, por ter estado sempre ao meu lado durante esses quatro anos e meio, me incentivando em todos os momentos e me fazendo acreditar que sou capaz de atingir meus objetivos.

Ao meu pai Carlos Danilo (em memória), por ter me incentivado a iniciar o curso de Pedagogia, acreditando que minha vocação era ser professora. Esse era seu grande sonho me ver formada e realizada em minha profissão.

Ao meu noivo Aécio, pelo carinho, incentivo, aconchego, compreensão, paciência e dedicação durante a realização desta monografia.

Quero fazer um agradecimento especial a minha orientadora Mestre Cláudia Maria Seger que com atenção, paciência e competência me orientou, passando confiança, encorajando, cobrando e incentivando para que eu seguisse o trabalho.

Agradeço às crianças da escola, que foram os sujeitos da pesquisa, que com muito carinho, amabilidade e confiança me ajudaram e enriqueceram o meu trabalho.

Grata às professoras e à orientadora da escola pesquisada, que dedicaram alguns minutos do seu dia para responder às entrevistas contribuindo ainda mais para o êxito da mesma.

Ao diretor e à administradora da escola, que colaboraram aceitando realizar a coleta de dados, bem como emprestando materiais de leitura.

As colegas e amigas pela amizade, pelas manifestações de bem querer, colaborando e apoiando nos momentos mais difíceis.

(5)

A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: O livro fala e a alma responde. André Maurois

(6)

RESUMO

Este trabalho tem como tema “O pátio escolar nas dimensões como espaço de trocas e aprendizagens, com o olhar e a significação da criança e a influência das novas tecnologias”. Neste estudo buscou-se conhecer o que as crianças gostam de fazer no pátio da escola, como elas vêem e organizam esse espaço. Está caracterizado metodologicamente como um estudo bibliográfico e de campo, baseado em coleta de dados, realizado nos momentos em que as crianças estavam no pátio de uma escola de ensino fundamental, da rede privada, em Santa Rosa-RS. Percebendo como lidam com as diferenças sociais, culturais, de gênero e como afloram as lideranças nesse espaço de convívio diário. Estes acabam sendo alguns fatores que geram conflitos entre elas. Estudar o pátio da escola, por ser o único lugar que as crianças exploram e vivem o brincar de forma livre, espontânea e se desenvolvem de forma integral. O brincar está sempre presente na vida das crianças e se faz necessário para a construção de sua personalidade, pois é por meio do brincar que a criança manifesta seus sentimentos, desenvolve seu pensamento crítico, sua autonomia, ou seja, a criança passa por um processo de desenvolvimento. Nesse sentido, buscou-se também entender como as tecnologias têm influenciado as brincadeiras no pátio. Ficou evidente que algumas crianças acabam ficando mais acomodadas, individualizadas, fascinadas por jogos e tecnologia como o celular, tablet, smartfone e etc. Compreender como essas tecnologias tem influenciado, na escola, na sala de aula e como os professores tem lidado com as inúmeras informações trazidas pelas crianças é um dos objetivos dessa monografia. As novas tecnologias se bem utilizadas no pátio poderão servir de aliadas para tornar as crianças conscientes da realidade que estão inseridas, tornando-as humanizadas.

(7)

ABSTRACT

This monograph has as its theme "The schoolyard in dimensions such as space for exchange and learning, with the child´s look and understanding and the influence of new technologies." In this study we sought to know what children like to do in the schoolyard, how they see and organize this space. It Is characterized as a methodological literature and field study, based on observations, interviews and data collection, carried out at times when children were in the courtyard of an elementary school, private school, in Santa Rosa-RS. Realizing how to deal with social, cultural, gender and emerge as leaders in this space daily living differences. These end up being some factors that generate conflict between them. Studying the schoolyard, being the only place that children explore and they live the play freely, spontaneous and they develop holistically. Playing is always present in the lives of children and it is necessary for the construction of their personality, because it is through the play that the children express their feelings, develop their critical thinking, their autonomy, on the other words, the child goes through a process of development. In this sense, we sought to understand how the technologies have influenced the games in the courtyard. It was evident that some children end up getting accommodated, individualized, fascinated by games and technology as the mobile, tablet, smartphone and etc. Understanding how these technologies have influenced, at school, in the classroom and how teachers have dealt with numerous information brought by the children it is one of the goals of this monograph. New Technologies if they are well used in the courtyard, they can serve as allies to make children aware of the reality that they are inserted, making them humanized.

(8)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...8

1 O PÁTIO DA ESCOLA: ESPAÇO DE TROCAS E DE APRENDIZAGENS, SEU VALOR E ORGANIZAÇÃO...10

2 O QUE ACONTECE NESSE ESPAÇO ESCOLAR E COMO AS CRIANÇAS VÊEM O PÁTIO...15

3 O QUE OUVIMOS E APRENDEMOS NESSES NOVOS PÁTIOS COM A INFLUÊNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS ...25

CONSIDERAÇÕES FINAIS...31

REFERÊNCIAS...33

(9)

INTRODUÇÃO

A vontade de pesquisar e escrever sobre o pátio surgiu no momento em que comecei a trabalhar em uma escola privada do município de Santa Rosa situada no Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, no ano de 2012 quando estava no 5º semestre do curso de Pedagogia. Circular pelo Pátio, como professora auxiliar sempre foi prazeroso, muitas vezes desafiador e um tanto instigante. Despertando um desejo de conhecer um mundo ainda não explorado. Saliento ainda que o pátio da escola sempre me fascinou como estudante por ser um lugar alegre, livre, no qual fiz várias amizades. Recordando esse tempo de infância me traz a certeza de que este era o momento mais esperado e feliz do dia.

Este trabalho está fundamentado em uma pesquisa, na qual observei os espaços explorados pelas crianças no pátio, a sua organização e as brincadeiras realizadas. Os sujeitos participantes desta pesquisa são as crianças do 2º ao 5º ano do ensino fundamental, com idades entre sete e dez anos, de uma escola privada, do município de Santa Rosa - RS. As crianças na sua maioria pertencem à classe social média alta. Tendo também algumas crianças bolsistas. Residem na área urbana do município, crianças alegres, felizes, cheias de atividades no turno inverso a escola, com pouco tempo para brincadeiras livres. O instrumento utilizado foi uma entrevista com quatro perguntas abertas referente ao pátio. São também sujeitos desta pesquisa a orientadora educacional e quatro professoras sendo uma de cada turma. A escola na qual foi realizada a pesquisa é de cunho religioso. Prima por uma educação fundada em valores que consideram essenciais como: Casa que acolhe em que todos se sintam como se estivessem em casa; uma Igreja que evangeliza, na qual são transmitidos valores decorrentes do Evangelho; escola que educa, usando todos os elementos que dispõe e um pátio para fazer amigos, local para boas amizades informais, para completar as relações formais da sala de aula. Além disso, a escola tem um sistema preventivo que é uma experiência de vida que consiste na Razão, Religião e o Carinho são elementos indispensáveis à ação educativa e preciosos para dar vida a uma sociedade mais humana, em resposta às expectativas das novas gerações.

Ressaltando que, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, ocorre uma redução nas brincadeiras durante as aulas. As tarefas escolares e o estudo passam a ser encarados de modo diferente da Educação Infantil. De certa forma, entende se que o pátio é um espaço muito admirável na vida escolar da criança por ser o momento em que a criança desfruta e vive em seu imaginário, emoções e anseios de forma livre, criando e recriando através das

(10)

brincadeiras. Para tanto, é inegável a valor do pátio escolar como local de atividades e interação, pois é nele que as crianças desenvolvem habilidades sociais, intelectuais, físicas, afetivas e cognitivas, ou seja, a criança passa por um intenso processo de desenvolvimento, no qual são construídas as bases de sua personalidade e aprendizados futuros.

O pátio é um dos lugares em que as culturas se encontram, se conhecem, é o momento de interação entre os diferentes. Esse é um dos melhores espaços para se trabalhar conceitos que serão necessários para o convívio saudável em sociedade, tais como o respeito, a liberdade de expressão e a solidariedade. Afinal, o pátio é considerado riquíssimo para conhecer, observar melhor o comportamento das crianças, suas atividades, decisões, opiniões, o mundo do faz de conta. Neste sentido, o brincar no pátio da escola marca a criança positivamente. É algo que faz parte da sua história. Impedi-la de brincar nesse espaço, é tirar-lhe o essencial de sua vida.

O trabalho apresenta-se dividido em capítulos. O primeiro capítulo constitui-se numa fundamentação teórica sobre o espaço do pátio, sua organização e o valor que o mesmo tem na vida da criança. O segundo capítulo é baseado em relatos, falas das crianças em relação ao pátio, percebendo o que acontece nesse espaço. O terceiro capítulo apresenta a influência das tecnologias no pátio da escola e como as crianças vêm lidando com essas novidades.

(11)

1 O PÁTIO DA ESCOLA: ESPAÇO DE TROCAS E DE APRENDIZAGENS, SEU VALOR E ORGANIZAÇÃO

Quando as crianças escutam da professora vamos para o pátio, elas vibram, comemoram, deseja sair correndo, elas necessitam desse momento de liberdade, para extravasar. Afinal, à hora do pátio é uma quebra de rotina, um período em que as crianças não estão sendo controladas pelos adultos. Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, ocorre uma redução nas brincadeiras durante as aulas. As tarefas escolares e o estudo passam a ser encarados de modo diferente da Educação Infantil. Agora tudo é mais sério, pois tem se a preocupação com a aprendizagem dos conteúdos específicos de cada área do conhecimento.

ALei de Diretrizes e Bases para da Educação Nacional nº 9.394\96,em seu artigo 22, dispõe que “a educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer- lhe meios para progredir no trabalho e nos estudos posteriores.” Essa é a função da escola, ou seja, permitir e proporcionar situações para que a criança avance em seus estudos e adquira novos conhecimentos.

Muitas crianças passam a maior parte do tempo nas salas de aula sentadas aprendendo os conteúdos. O que as deixa mais sedentárias, sem a realização de movimentos mais livres, sendo que nessa fase a condição natural de seu desenvolvimento exige atividades motoras. Ressaltando que se a criança permanece muito tempo em sala de aula sem ter um tempo para exercer alguma atividade lúdica, certamente ela não irá conseguir assimilar ou compreender todo o conteúdo transmitido em sala.

Por isso, um pátio espaçoso e atrativo é tudo o que as crianças querem para liberar energias acumuladas, pois estavam sentadas prestando atenção, lendo, escrevendo, pintando e desenhando. Afinal é no pátio que as divisões de salas e classes são eliminadas, as crianças estão livres dessas barreiras físicas. Entende-se que é através do pátio que as crianças expressam suas necessidades e buscam, nesse momento, estabelecer suas realizações pessoais. Para Quinteiro; Carvalho (2007, p.110)

...precisamos repensar a construção, organização e ocupação dos edifícios escolares, para permitir que seus usuários se apropriarem desse espaço e vivenciem as práticas ali desenvolvidas de modo a transformá-lo em lugar. Um lugar cheio de sentido, que desperte o gosto pelo saber e que permita as crianças vivenciarem sua infância juntamente com os seus pares.

(12)

O espaço do pátio da escola pesquisada compõe-se de uma área aberta com duas quadras de futebol, voleibol, basquete e uma área coberta. Este espaço é utilizado pelas crianças dos 2º e 3º anos do Ensino Fundamental. O 4º e 5º ano do Ensino Fundamental utiliza outro espaço com duas quadras de espiribol, uma quadra de futebol, o campo e o ginásio. O pátio da escola é grande e deixam as crianças, muitas vezes, perdidas em relação à turma de colegas. Por isso, a escola faz essa separação de turmas. Além de ter o cuidado para que os menores não sejam machucados pelos maiores com chutes de bola, cordas e outros brinquedos enquanto estão no pátio.

Isso pode ser denominado como o mapa do pátio, ou seja, é a distribuição das diferentes turmas no espaço físico da escola. Estes não podem ser fixos nem permanentes, mas possuem uma regularidade, vinculada a diversos aspectos, como proximidade de interesses, idade, afeição e gênero. Muitos deles são constituídos por crianças das mesmas turmas e ou por relações de parentesco. Conforme Almeida e Passini (2008, p.30) “As crianças em idade escolar preferem brincadeiras que limitam a parte do pátio da escola porque não conseguem ocupar um espaço tão grande. Na verdade não conseguem concebê-lo para poderem organizá-lo.” Por isso é fundamental essa divisão dos pátios entre as turmas.

As crianças maiores ainda têm como opção, o contato com a natureza durante o momento do recreio. Esse é um espaço localizado nos fundos da escola e está rodeado de árvores, gramado e pássaros, pois com o estilo de vida urbano da maioria das famílias de hoje, elas sentem falta desse contato com a terra, a água, o ar, as árvores. Essa relação com a natureza é algo indispensável para o seu desenvolvimento físico e emocional. O ambiente natural dá às crianças acesso a aventuras e permite que assumam riscos e que façam experiências desafiadoras. Ficar ao ar livre é um maravilhoso trampolim para a aprendizagem.

O espaço da escola foi organizado e mapeado de forma a criar espaços distintos para o desenvolvimento das brincadeiras e dos jogos. Essa organização oferece às crianças mais opções de espaços e proporciona a elas a liberdade para correr, saltar e jogar, enquanto outros ficam conversando, olhando álbuns de figurinhas, lendo, etc. Essas diferenças tornam o espaço do pátio maravilhoso aos olhos das crianças. Segundo Ferreira et al. (2004, p.162)

... um espaço nunca é neutro, pois a presença ( ou ausência) de determinados elementos e sua organização sempre estão comunicando alguma mensagem para os usuários... A dimensão física engloba (a) todos os espaços disponíveis usados pelas crianças (sala, pátio, área ao ar livre, refeitório, banheiro, etc.), (b) seus elementos estruturais (tamanho, tipo de piso, janelas, teto, etc.), (c) objetos

disponíveis (materiais, mobiliário, decoração,

equipamentos, etc.) e (d) as diferentes formas de distribuição do mobiliário e dos materiais dentro do espaço.

(13)

Vive-se hoje uma realidade em que as brincadeiras de rua, a diminuição do espaço nas residências, as diversões na vizinhança quase não existem mais. Este é mais um fator que contribui para o pátio escolar se tornar ainda mais imprescindível para a criança se desenvolver e se socializar. É no período escolar que a socialização começa a se apresentar como um elemento fundamental do desenvolvimento humano. A interação das crianças com os lugares, com os objetos e com as pessoas proporciona algumas de suas primeiras construções sobre habilidades, relações com os outros e conhecimentos a respeito do mundo em que vivem. Segundo Almeida e Passini (2008, p.29)

À medida que a criança for crescendo, reconstruirá o espaço próprio dos adultos, pois estará constantemente voltada para o espaço exterior – com móveis, casas, ruas, praças, campos e montanhas. Esse espaço não corresponde às pequenas dimensões físicas e à sua pouca vivência do mundo. A reconstrução desse mundo será feita, inicialmente, a partir de suas próprias dimensões e capacidades de percebê-lo, adaptando-se a ele através de uma imaginação das coisas.

Dessa forma, o horizonte de espacialidade de uma criança se expande à medida que ela cresce, construindo gradativamente as diversas dimensões do espaço em que ela está inserida. Assim ela dá início à constituição de sua identidade a partir do momento em que entra em contato com o mundo, transforma a natureza e produz diferentes culturas. As suas características próprias, o modo de pensar, ser e agir desenvolve-se no decorrer das suas ações cotidianas em meio à realidade cultural em que se insere. Segundo Morin (2002, p. 64) “A cultura constitui a herança social do ser humano: as culturas alimentam as identidades individuais e sociais no que elas têm de mais específico. Por isso, as culturas podem mostrar-se incompreensíveis ao olhar das outras culturas, incompreensíveis umas para as outras”.

No pátio, é onde acabam ocorrendo essas vivências além das vivências de valores. Pode-se perceber que no pátio a vida afetiva, intelectual, física, moral, social e cognitiva das crianças é uma adaptação contínua do organismo ao meio. Ressaltando que os sentimentos estão ligados aos valores que são atribuídos para si e para os outros. Nisso, a criança no pátio defende esses valores por ser preciosos para ela. Uma vez afetados esses valores a criança manifesta seu sentimento em relação ao que lhe descontentou. São compreensíveis esses sentimentos entre as crianças maiores que se envolvem em atividades grupais e competições, pois elas já têm certa maturidade para verbalizar o que sentem, sendo que também são mais criativas com relação ao uso do espaço e inventando novos usos para os objetos encontrados.

(14)

É nesse espaço que as culturas se encontram, se conhecem, é o momento de interação entre os diferentes. Esse é um dos melhores espaços para se trabalhar conceitos que serão necessários para o convívio saudável em sociedade, tais como o respeito, a liberdade de expressão e a solidariedade. Para que isso aconteça, as crianças precisam sentir-se integrantes dessa cultura e estar abertos à influência de outras culturas, procurando compreendê-las, pois essa diversidade está presente diariamente no contexto escolar. Como por exemplo, na música, na dança, na culinária, na língua e em inúmeras atividades do cotidiano.

Para tanto, é inegável a importância do pátio escolar como local de atividade e interação, pois é nele que as crianças desenvolvem habilidades sociais, intelectuais, físicas, afetivas e, cognitivas, ou seja, a criança passa por um intenso processo de desenvolvimento, no qual são construídas as bases de sua personalidade e aprendizados futuros. Segundo Ferreira et al. (2004, p.27) “Todo conhecimento é sempre situado em um contexto espaço-temporal e, por isso a análise dos processos de desenvolvimento deve sempre considerar o lugar e o momento que ocorrem tais processos.” Por isso a escola oferece diversos espaços que ajudam a criança a se desenvolver.

Nesses espaços as crianças criam as mais variadas brincadeiras. Dentre elas está a amarelinha. Ao brincar de amarelinha, uma das primeiras aprendizagens da criança é a questão do senso espacial, ela precisa se situar no espaço e se utilizar do próprio corpo, pois o corpo é o primeiro espaço que ela conhece e reconhece. O desenvolvimento da noção de espaço está envolvido em atividades que propiciem movimento para a criança. Segundo Smole, Diniz e Cândido (2000, p.16) “O espaço é o lugar no qual o corpo pode mover-se. O corpo é o ponto em torno do qual se organiza o espaço.” A criança testa os limite do seu corpo, adquirindo assim a consciência corporal, usa seu corpo para a comunicação consigo mesma e com o grupo.

A consciência corporal ajuda a criança, a saber, quais são os limites do próprio corpo. Portanto, é por meio do corpo que transmitem as mais diversas impressões. É como se falassem algo, representam intenções, revelam sentimentos, como amor, ódio, poder, socialização, amizade, etc. O espaço é para a criança um mundo quase impenetrável, pois ela vai conquistando-o aos poucos enquanto vai adquirindo confiança e liberdade no lugar a ela reservado. Segundo Almeida e Passini (2008, p.30) “A análise do espaço, deve ser iniciada com a criança primeiramente com o corpo, em seguida apenas com os olhos e finalmente com a mente.” O aprendizado referente ao espaço ocorre através de brincadeiras ou enquanto caminham pelo pátio, organizando-o de acordo com o interesse de cada um.

(15)

A organização do espaço escolar pode causar comportamentos positivos e negativos nas crianças. O que pode provocar esses diversos sentimentos são as diferenças de idades que se expressam nos conhecimentos, nos saberes e nas experiências. Por isso, é perceptível que essas diferenças geram entre as crianças conflitos como ofensas, empurrões, desentendimentos. Que são resolvidos na medida do possível entre eles, por quem geralmente demonstra exercer liderança no grupo.

Após os sete anos, as crianças são capazes de cooperar mais, pois conseguem diferenciar o seu ponto de vista com o do colega. De acordo com Piaget (1993), que procurou compreender as etapas pelas quais as crianças passam durante seu desenvolvimento, é possível perceber no pátio a fase na qual a criança se encontra. Segundo Faria (1993, p.55)

Piaget acredita que, a partir do período operacional concreto, a existência de interesses comuns, verificada nas conversas entre as crianças de idades aproximadas, favorece a tomada de consciência do pensamento e a expressão verbalizada, portanto leva ao declínio do egocentrismo.

O momento do pátio parece ser um espaço que precisa ser encarado como único e especial na vida escolar das crianças, por ser este o espaço em que a criança se relaciona consigo mesma e com o outro. Por isso não pode ser entendido como um descanso ou simplesmente um passatempo para as crianças. Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000, p. 67) “As crianças se movimentam não só em função de respostas funcionais, mas pelo prazer do exercício, para explorar o meio ambiente, adquirir melhor mobilidade e se expressar com liberdade.” Afinal esse tempo é um momento riquíssimo para conhecer, observar melhor o comportamento das crianças, suas atividades, decisões, opiniões, o mundo do faz de conta. É deslumbrante perceber como tudo se transforma, até seus corpos, os jogos coletivos com ou sem regras, que são, muitas vezes, improvisadas por eles mesmos.

Neste sentido, o brincar no pátio da escola marca a criança positivamente. É algo que faz parte da sua história. Impedi-la de brincar nesse espaço, é tirar-lhe o essencial de sua vida. Para compreender melhor o pátio é preciso ouvir as crianças, deixá-las relatar o que gostam de fazer nesse espaço, bem como, observá-las nos momentos das brincadeiras livres. É por meio da fala delas que se pode entender o porquê do pátio ser tão essencial na sua vida.

(16)

2 O QUE ACONTECE NESSE ESPAÇO ESCOLAR E COMO AS CRIANÇAS VÊEM O PÁTIO

O pátio é um dos locais preferido das crianças por ser um espaço grande que possibilita a realização de diversas brincadeiras. É um espaço no qual podem conversar com os colegas e se divertir. Percebe-se isso na fala de Júlia1 (7 anos) que diz “ Profe a gente sempre brinca aqui nas mesinhas, porque a gente pode sentar e conversar, e ainda a gente faz maquiagem em nós e nas gurias que querem.”A partir dessa fala é possível afirmar que as crianças gostam do pátio, pelo fato de poder estar com os colegas para conversar e brincar. Sendo que durante as aulas precisam estar atentas aos conteúdos que estão sendo ensinados. Isso também é possível perceber na fala de uma professora do (4º e 5º ano) que diz: “O pátio é um espaço muito importante para a criança, pois é o lugar da interação, do encontro entre colegas.”

De fato isso é perceptível perceber, pois não se vê crianças isoladas, brincando sozinhas nesse espaço. Sempre procuram estar em grupos brincando juntos, interagindo umas com as outras. Na pesquisa percebeu-se que as crianças maiores só brincam com os colegas da mesma turma, ou seja, não se misturam com as outras turmas. Isso fica evidente quando Eduarda (9 anos) diz: “A gente não brinca com as meninas do 5º ano e elas também não brincam com a gente.” Isso mostra que não tem nenhum motivo real, elas apenas preferem brincar com as colegas da turma, com as quais tem mais afinidade e os assuntos combinam.

Diferentemente das meninas, os meninos interagem, pois essa interação tem um objetivo específico à troca de figurinhas. Na entrevista com o João (10 anos) quando perguntado sobre o brinquedo que gosta de trazer para a escola ele disse: “Gosto de trazer meu álbum de figurinhas para trocar com meus amigos.” Ressalto que essa interação só ocorre por esses motivos, pois no momento do futebol são rivais e raramente a turma do 5º ano joga futebol, pois preferem jogar espiriboll. Como constata-se na fala do André (10 anos) “O 4º ano não deixa a gente jogar futebol com eles, porque o Marcos, da nossa turma arruma muita confusão. Ele quer mandar em tudo.” Isso também é a opinião dos meninos do 4º ano eles confirmam que tem uns que só querem mandar. A orientadora educacional lida diariamente com essas situações e destaca que:

(17)

Algumas crianças trazem um comportamento muito agressivo, onde pensam que o que eles dizem é necessário ser realizado. Na verdade isso pode ocorrer em casa, mas na escola é bem diferente, pois precisamos trabalhar com estas situações. As crianças precisam perceber e valorizar algumas atitudes, principalmente o respeito, o saber ouvir, o compartilhar.

Este é um dos trabalhos realizados na escola para ajudar a amenizar esses comportamentos agressivos na hora do pátio. Observando as brincadeiras que aconteceram em grupos, no pátio, uma das questões importantes a ser comentada é a presença e a influência do líder para a brincadeira. Sendo assim, é possível afirmar que algumas crianças se destacam nesse papel e essa situação é percebida tanto na escolha da brincadeira quanto na localização e na determinação das normas. Essa criança não é escolhida pelo grupo, ela vai se mostrando, adotando seu papel de líder.

Em um dos casos observados, o líder desempenhava este papel por ser o dono do brinquedo, assim como “o dono da bola”. Em outro momento, a menina era líder, mas não havia nenhum motivo visível para explicar este fato, o que me leva a crer que a liderança é uma característica própria daquela criança. A presença do líder na brincadeira é fundamental para manter a organização da mesma e também para que ela continue, pois se o líder sair e não ser substituído logo, as chances de a brincadeira continuar serão muito poucas.

Durante as observações no pátio, é interessante destacar que todos os meninos se revezavam no papel de líder, o que fez com que a brincadeira ficasse sem um líder “principal”. Todos estavam em igualdade, mesmo um sendo mais alto ou mais habilidoso. Vale ressaltar, contudo, que as regras da atividade em questão eram muito simples, e consistiam na imitação do colega. Talvez em casos em que as regras sejam mais complexas, a presença do líder se faça mais importante. O nome da brincadeira segundo Igor (8 anos) “Brincar de sombras. A gente imita o colega, mas não é bem assim, é a sombra dele.”

Outra questão observada enquanto as crianças estavam no pátio foi a presença das regras. Circulando em meio às crianças do 2º e 3º anos percebeu-se que as regras principais eram escolhidas pelos líderes, por exemplo, cada um só tinha direito a uma chance de jogar o aviãozinho de cada vez. O Matheus (8 anos) quando perguntado sobre as regras falou: “É profe, senão todos querem jogar ao mesmo tempo, aí não dá, vira uma bagunça.” No decorrer da brincadeira, outras regras foram aparecendo, massem a necessidade de combinação. Nesse caso, o próprio brinquedo determinava o que deveria ser feito, e esta atividade ficou muito centrada no objeto.

(18)

Diante disso, é possível perceber que entre as crianças se tem muita liderança, ou seja, tem aquelas que gostam de mandar, estar no comando para ditar regras e normas do jogo. Por meio do jogo a criança compreende o mundo a sua volta, aprendem regras, testa suas habilidades, aprendem a ganhar e a perder. O desenvolvimento da criança e seu aprendizado ocorrem quando participa dos jogos, seja discutindo as regras do jogo, seja propondo soluções para resolvê-los. De acordo com a escola pesquisada, que tem por base os princípios e a filosofia de Dom Bosco, destaca-se a ideia que ele defendia de que é preciso viver com as crianças, brincar com elas, conversar, se comunicar, buscando compreendê-las, ajudando-as, bem como aprender com elas. Afirma Perini (2012, p.16)

João Bosco, portanto participava dos jogos, encontrando neles prazer e oportunidade para educar: - É exatamente por isso que eu vou. Comportam-se melhor, não dizem certas palavras e não brigam. Eles fazem como eu quero. Era essa a única coisa que precisava ser feita.

Nestes momentos é necessário que o professor participe e que proponha desafios em busca de uma solução e de participação coletiva, ou seja, o papel do professor neste caso será de incentivador da atividade. A intervenção dele neste espaço é conveniente no processo de ensino-aprendizagem. De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998, p. 23):

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.

Por isso, a presença do professor no pátio é fundamental por ser aquele que irá mediar às diversas situações que ocorrem nesse processo. Educar não se limita em repassar informações ou mostrar apenas um caminho, mas ajudar a criança a tomar consciência de si mesmo e do local ao qual está inserida. É oferecer várias ferramentas para que ela possa escolher caminhos, aquele que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias que se encontra. Além do aprendizado em sala de aula o professor precisa aproveitar os momentos no pátio para ser o mediador entre as crianças. Nessa perspectiva,

(19)

O professor é mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento, organizando e propiciando espaços e situações de aprendizagens que articulem os recursos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança aos seus conhecimentos prévios e aos conteúdos referentes aos diferentes campos de conhecimento humano.(BRASIL, 1998, p. 30)

As brincadeiras em grupo favorecem alguns princípios como o participar e a cooperação. Isso é possível perceber entre as crianças que se envolvem com outras turmas, dividem o espaço da escola em diversas brincadeiras como: pular corda, pular elástico, pega-pega, bonecas, carrinhos, etc. Observando-as enquanto estão no pátio é possível perceber disciplina e organização por parte delas.

No pátio da escola, as crianças conseguem se organizar melhor e livremente como, por exemplo, na hora de pular corda ou elástico conseguem fazer uma fila sem o auxílio de um adulto e dentro da sala de aula muitas vezes a professora demora em organizar uma fila. Isso acorre por que no pátio as crianças não têm a autoridade do professor e a fila está incluída na brincadeira criada por eles mesmos. Brinca quem quer, mas tem que aceitar as condições para brincar. Se escuta muito entre as crianças: “Você pode brincar, mas precisa ir para o final da fila” e o que geralmente acontece, a criança aceita as condições e espera com calma chegar a sua vez. Caso alguém tente violar a regra, acaba por gerar conflitos entre eles. Conforme Freire (2010, p.125) em suas reflexões diz

Não há disciplina no imobilismo, na autoridade indiferente, distante, que entrega à liberdade os destinos de si mesma. De outra parte, não há também disciplina no imobilismo da liberdade, à qual a autoridade impõe (...) suas preferências como sendo as melhores. Em síntese, assume a sua concepção de disciplina: Só há disciplina (...) no momento contraditório entre coercibilidade necessária da autoridade e a busca desperta da liberdade para assumir-se.

É no pátio da escola que a brincadeira se torna uma das atividades de aprendizagens imprescindíveis na vida das crianças, pois é por meio dela que a criança irá resolver a maioria de seus conflitos. Pois, a criança pode utilizar da atividade lúdica, no caso a brincadeira para mediar, tornar aceitável uma realidade. Como por exemplo, aceitar que perdeu o jogo, ou até mesmo que está fora da brincadeira. Isso é possível perceber na fala da orientadora educacional quando diz que

(20)

Não podemos deixar de observar que no pátio também ocorrem conflitos, em diferentes situações. Alguns podem ser considerados construtivos, onde a criança acaba discutindo com outros colegas sobre algumas regras e brincadeiras que o grupo estará realizando, muitas vezes as crianças conseguem entrar em um acordo e estipular as regras e brincam sem demonstrar desentendimento. Desta forma podemos destacar que é um conflito construtivo. Não podemos deixar de relatar que existem conflitos que muitas vezes os professores precisam intervir, para que não haja agressões físicas e verbais. Isso ocorre devido a falta de socialização, compreensão e respeito. Algumas crianças tem dificuldade de entender a importância de escutar o outro e de tentar resolver os problemas através da conversa.

Neste sentido o pátio além de provocar o prazer físico e emocional, de certa forma também, faz com que a criança domine os impulsos agressivos naturais, os quais precisam ser controlados para que não sofra uma carga de angústia. As agressões entre crianças geralmente são uma resposta a uma frustração. Essas reações são normais acontecerem no pátio da escola e são consideradas saudáveis, pois leva a criança à independência pessoal.

Essas reflexões nos mostram que é por meio do universo lúdico, que ela começa a expressar-se com maior facilidade, ouvir, respeitar e discordar de opiniões, despertando para o senso crítico, exercendo sua liderança, compartilhando sua alegria de brincar. No pátio, de uma escola salesiana a função do professor e orientador, de acordo com Dom Bosco é conversar com a criança procurando dirigir-lhe palavras de orientação e correção, de maneira personalizada e com naturalidade. Palavras que são aceitas mais facilmente porque o coração da criança está repleto de alegria e euforia. Segundo Perini (2012, p. 104)

Em lugar de castigos, Dom Bosco dizia que ele preferia usar os jogos e a presença constante do educador. Este, no pátio, torna-se, portanto, um amigo benfeitor, que ajuda o educando a descobrir suas qualidades ocultas, olha para ele com simpatia, corrige-o para que possa melhorar.

Educar é ir muito, além disso, é conviver, é amar. O professor que vai para o meio das crianças no pátio consegue muito mais das crianças, educa-as melhor que com mil palavras. Para Perini (2012, p.100)

(21)

... é no pátio que os caracteres se revelam. A vida do pátio, com uma alegria vivaz, aberta e até barulhenta, compartilhada pelo educador, é o lugar mais apropriado para um oportuno trabalho de pesquisa. Também daqui nasce o dever profissional de passar no meio dos jovens todo o tempo da recreação. Se não existissem momentos recreativos, o próprio educador deveria criá-los, porque é neles que se conhecem os jovens. Na vida do pátio o educador tem a disposição, praticamente, dois métodos de observação: o estudo as manifestações espontâneas e o

dialogo que podemos denominar de diagnostico

exploratório.

Por isso, na escola pesquisada tem o dia do brinquedo para as crianças aprenderem a dividir, socializar e compartilhar os seus pertences com os colegas. Sendo que, muitas vezes, nem todos trazem brinquedos. Percebe-se isso na fala da Maria (10 anos)que diz “Não gosto de trazer brinquedos porque não pode e a minha mãe não deixa.” Está é uma justificativa dada por várias crianças para não dividir os seus brinquedos com outras, pois tem medo de estragar seu brinquedo. Segundo Maluf (2003, p. 94)

A criança através do brincar e da brincadeira e do jogo assimila valores, assume comportamentos, desenvolve diversas áreas do conhecimento. No convívio com outras crianças aprende a dar e receber ordens, a esperar sua vez de brincar, emprestar ou tomar emprestado, a compartilhar momentos bons e ruins, a ter tolerância e respeito, em fim seu raciocínio é desenvolvido de forma prazerosa.

Sendo assim, o fazer barulho ao brincar é causado por trocas que se desenrolam ao longo das vivências. Rir, pular, vibrar, contagiar, sentir medo, chorar, ficar bravo, reclamar, entristecer-se faz parte do processo de aprendizagem da criança. Conforme a fala da professora (3º ano): “É nas brincadeiras livres que a criança manifesta seu comportamento e suas atitudes de forma espontânea.” No pátio,elas não só interagem entre si, como também uma aprende com a outra, o que acaba por estimular a escrita, a fala e o raciocínio lógico. Segundo a professora (2º ano): “O pátio para a criança, é de fundamental importância para o seu desenvolvimento social e psicomotor. É o espaço onde a criança pode brincar livremente, fazer novos amigos, descansar a cabecinha das atividades de sala de aula.”

O pátio é um espaço que proporciona às crianças momento de prazer, lugar esse de invenção, recreação e de experimentar várias situações sem se amedrontar ou se sentir repreendido por alguém. Tendo como objetivo satisfazer os desejos e fazer novas descobertas,

(22)

possibilitando crescimento e conhecimento do mundo para ajudar no desenvolvimento do mundo de forma integral.

Além disso, o pátio é um espaço que possibilita as crianças desfrutar e viver seu imaginário, emoções e anseios de forma livre, ou seja, neste espaço que elas são as protagonistas de suas próprias brincadeiras, falas, modos de ser e agir. Segundo Quinteiro; Carvalho (2007, p. 191) “Quando a escola disponibiliza às crianças tempos, espaços e materiais para brincar, permite-lhes oportunidades de vivenciar essa atividade como a atividade central da infância.”

As diferenças entre os pátios, deixa nas crianças menores curiosidades, mas o pátio que é destinado para as turmas maiores é considerado deles. Ouve-se muito “Profe, olha lá os pequenos na escada eles querem descer.” “Ai profe não deixa eles descer, aqui é o lugar da gente brincar.” Temem a invasão do seu espaço e procuram ajuda para impedir a entradados menores. Acredito que a causa desse receio são as diferenças de idades. Durante a pesquisa escutei bastante: “Os pequenos só incomodam a gente.” Observando as crianças na hora em que estão no pátio, é perceptível que gostam de ficar chateando os grandes, sendo que estes acabam se irritando com as brincadeiras e não tendo muita paciência. Segundo Streck (2010, p.298)

Paciência também é vista como respeito ao contexto cultural e como tolerância e a busca social da transformação social. Significa o respeito com a liberdade do outro e o reconhecimento de sua alteridade tanto no ser antológico como no ser histórico. Paciência para esperar o outro desenvolver-se e abrir-se para a leitura da totalidade. Paciência como respeito aos diferentes contextos culturais. Paciência que aceita o processo do outro.

Uma das causas dessa impaciência é que as crianças ainda não têm a consciência de que seus pensamentos entram em conflito com seus pares. Com está consciência, elas começam a se acomodar aos outro e com isso, o egocentrismo começa a ceder às pressões sociais. O egocentrismo é um aspecto sempre presente no desenvolvimento cognitivo. Sendo assim, o ato de brincar possibilita o processo de aprendizagem da criança, pois conforme a fala de uma professora (4º ano): “No pátio elas também aprendem novas brincadeiras com os colegas.” Sendo que estas brincadeiras ajudam na construção da reflexão e da autonomia. Conforme Perini (2012, p.100)

(23)

A vida do pátio contribui para que os educandos ajam sem inibição, pois a eles se dá ampla liberdade para saltar, correr e gritar à vontade: vive-se em clima de festa. A liberdade na escolha dos jogos, a liberdade de inventar e criar, e a liberdade de movimentar-se à vontade despertam, com efeito, no sujeito que joga, um comportamento tal que o impele a manifestar-se livremente em suas ações. O clima do pátio é um clima de festa espontânea e alegre.

Assim, a autonomia é um processo de decisão e humanização que as crianças vão construindo aos poucos com base nas experiências de tomadas de decisões. Muitas vezes a criança, que na sala de aula tem dificuldade de se expressar e de se comunicar, poderá melhorar participando de atividades livres, criadas pelas próprias crianças, repletas de novidades e interesse. Em um ambiente sério e sem motivações, as crianças acabam evitando expressar seus pensamentos e sentimentos e realizam outras atitudes com medo de ser constrangidos.Isso, via de regra, não acontece no espaço do pátio.

No pátio da escola, a criança precisa fazer escolhas em suas ações, tornando-a uma pessoa coerente na vida social. Enfatizando descobertas ainda estruturadas no padrão educacional que ela mesma vivenciou, mediante atividades recreativas, como brincadeiras e jogos lúdicos. Isso se percebe na fala do André “Não vou jogar espiribol hoje, vou jogar futebol. Vocês podem ficar bravos que eu não to nem aí. Amanhã eu jogo com vocês.” A criança tem o direito de fazer certas escolhas em relação ao que quer fazer, enquanto está no pátio. Escolhas que muitas vezes trazem consequências. Freire (2010, p. 41) afirma que

uma das tarefas mais importantes da prática educativa- crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto.

Algumas crianças em especial as do 4º e 5º ano procuram lugares mais calmos para brincar e conversar. Sendo esse lugar geralmente no bosque ou no alto, no morro. Isso é notável na fala da Carla (9 anos) “ Eu gosto de sentar no morro. Porque não tem muito barulho, é calmo. Fico sentada conversando com minhas colegas, e assistindo os colegas jogar.” E a Marina ( 8 anos) quando perguntada sobre o seu lugar preferido de brincar no pátio ela diz: “Tipo naquela florestinha aí. Porque sinto que tô numa floresta de verdade.” As crianças são muito curiosas em relação a natureza, gostam desse contato direto com a mesma, se envolvem e se encantam, como na fala da Camila ( 9 anos) “ Meu Deus, essa árvore da

(24)

duas de nós de tão grossa que ela é.” Conversando com as meninas do 4º e 5º anos elas falaram que “adoram fazer a trilha que tem no meio da floresta, segundo elas, as professoras não deixam ir lá, mas nós vamos igual porque é bem legal e ninguém nos vê fazendo.”

Observando a turma do 3º ano, enquanto estavam no pátio se organizando para jogar futebol, me chamaram a atenção algumas meninas paradas ao lado do campo esperando a resposta dos meninos. De repente o Arthur (8 anos) “As meninas vão jogar com nós, só porque elas querem.” Começa o jogo e as meninas comentam entre si. “Os meninos gostam de jogar e muito.” As meninas correm, tentam encostar-se à bola, estão sempre correndo em direção da bola, geralmente num bolinho quando de repente a bola toca na mão de uma das meninas. Alguns gritam: “Foi mão da Amanda”. Mas o capitão do time diz: “Foi não, ela é menina, ela só se protegeu.” Todos concordam e continuam o jogo. Quando terminou, o João Pedro (8 anos) falou: “ Profe as meninas não gostam de ficar suadas e a gente é muito mais ágil que elas. Elas só correm.”

É pertinente ressaltar que os meninos geralmente pensam que as meninas não são capazes ou habilidosas para os esportes. A participação conjunta tem colaborado para a mudança deste conceito. Isso é algo relativo, pois existem meninos que não gostam de futebol e vice-versa. Percebe-se que hoje muito se mudou, e tem se buscado desconstruir estereótipos de gênero ligados ao esporte.

Em relação ao cuidado dos meninos com as meninas, sua fragilidade e a mudança de regras das atividades, avalio que, embora existam diferenças físicas, essas não podem ser naturalizadas com o grave risco de generalizar, ou seja, rotular meninos e meninas em categorias distintas. Adaptar as regras de algum jogo ou esporte como recurso para evitar a exclusão de meninas, desconsidera a articulação do gênero a outras categorias. Determinar que um gol, só possa ser efetuado após todas as meninas terem tocado a bola, ou autorizar apenas as meninas a marcá-los são exemplos dessas adaptações que são percebidos nos jogos de futebol em que as meninas jogam.

Nas turmas do 2º ano o brinquedo que predomina entre as meninas é o Furby, as bonecas Monster High, as Barbie e os fones de ouvido de personagens infantis que são conectados aos celulares para escutar música. Os meninos são poucos os que trazem brinquedos, pois a maioria prefere jogar futebol. Os que trazem preferem os Max Stell que são bonecos de luta ou os hott whels que é uma coleção de carrinhos.

O brincar permite que a criança conheça a si próprio e compreenda o mundo que a rodeia vivendo e compartilhando situações e estimulando a criatividade e abrindo caminhos,

(25)

bem como permite entrar em contato com os colegas e com o espaço. Como na fala do Leonardo (8 anos) “O meu Max stell é muito massa. João você quer trocar comigo.” Os brinquedos quando trazidos para a escola são socializados no pátio, que é o lugar em que a criança brinca ou expõe as suas formas de brincadeiras.

Neste sentido, ressalto que algumas crianças aprendem muito no pátio e atribuem significado às aprendizagens por serem feitas de forma prazerosa, com os colegas e com o auxilio dos brinquedos que gostam. Sendo assim, não podemos dizer que é somente na sala de aula que ocorrem as aprendizagens. Ainda na concepção de Libâneo (1994, p. 178)

[...] o termo aula não se aplica somente à aula expositiva, mas a todas às formas didáticas organizadas e dirigidas direta ou indiretamente pelo professor, tendo em vista realizar o ensino e a aprendizagem. Em outras palavras, a aula é toda situação didática na qual se põem objetivos, conhecimentos, problemas, desafios, com fins instrutivos e formativos que incitam as crianças e jovens a aprender.

O pátio da escola é um ambiente rico em aprendizagens, é o espaço em que ocorrem inúmeras novas descobertas. Necessitaria ser um espaço muito mais explorado e observado, pois é nele que se conhece a criança de outro jeito. Isso acaba gerando aprendizagens diferentes das da sala de aula, o que é bastante significativo. Sendo assim, quando as crianças estão no pátio não deixa de ser uma aula. O momento do pátio precisaria ser tão respeitável quanto uma aula de Língua Portuguesa, matemática, entre outras, pois são inúmeros os conhecimentos adquiridos nesse espaço e que marcam a vida das crianças efetivamente.

(26)

3 O QUE OUVIMOS E APRENDEMOS NESSES NOVOS PÁTIOS COM A INFLUÊNCIA DAS NOVAS TECNOLOGIAS

Atualmente, as crianças estão inseridas em um espaço de constantes transformações. Uma época de abundância de informações, de complexidade crescente, de criação de novas linguagens e de novas relações sociais. “É preciso considerar que os sujeitos aprendem mais e melhor o que tem significado para eles. Aí está a chave e o motivo da inserção da realidade da criança no ambiente escolar. O mundo da escola tem que ser tão significativo e concreto quanto o mundo da vida.” (CALLAI, 1996, p.22).

O universo das crianças é repleto de culturas, uma vez que ao observar a realidade escolar de hoje, os percebo cercados por vários cenários de produção da cultura: jogos de computador, celulares, brinquedos tecnológicos, vídeo games, filmes, acesso a internet, carrinhos de controle, alimentação sedentária baseada em alimentos industrializados como chips, salgadinhos, refrigerantes, etc; um “agir e se vestir como mini-adultos”, o que pode fazer com que algumas crianças possam vir a apresentar problemas comportamentais em alguns momentos, pois em meio a estas mudanças culturais muitas não conseguirão lidar com o número de informações que recebem. Para Gabriel (2013, p.99)

Em função da aceleração no ritmo da mudança das últimas décadas, o ambiente tem se modificado muito rapidamente, e isso cria a necessidade da constante atualização, aprendizado e educação para que as pessoas consigam atuar em meio às rápidas transformações. Isso muda completamente a cultura e a educação.

Chama à atenção a fala do Marcelo (10 anos) enquanto conversava com a colega no pátio. “Não consigo mais viver sem meu notebook e meu tablet”. Isso significa que essa criança vive numa cultura totalmente informatizada. Por isso, é pertinente dizer que essa cultura digital que as crianças utilizam para brincar, jogar e se divertir enquanto estão no pátio, tem respaldo dentro da sala de aula quando elas dizem que é muito mais fácil fazer trabalhos nesses aparelhos.

Não há dúvidas de que a internet mudou nossa vida e a vida das crianças. Com ela nos comunicamos muito mais rápido com as pessoas. Temos a nossa disposição um universo de informações sobre os mais diferentes assuntos, nos conectamos com o mundo todo em um só lugar, ficamos sabendo dos fatos quase no instante em que eles acontecem. São inúmeras as horas que as pessoas ficam conectadas ao “WWW”. Essa nova forma de comunicação e

(27)

interação está mudando o jeito de pensar, de agir, de sentir, de viver e de se relacionar com o outro. Afinal são tantos links e hiperlinks que o cérebro está aprendendo uma nova forma de viver. Segundo Gabriel (2013, p.3)

Inquestionavelmente estamos vivendo uma nova revolução, a revolução digital, que está nos levando a uma nova era: a era Digital. Os impactos das tecnologias digitais em nossa vida são sem precedentes na história da humanidade, pois, diferentemente de qualquer outra revolução tecnológica do passado, a atual tem causado uma modificação acentuada na velocidade da informação e do desenvolvimento tecnológico, acelerando em um ritmo vertiginoso o ambiente em que vivemos. Essa aceleração tem causado efeitos profundos na sociedade e na educação, e está nos levando para a Era do crescimento exponencial.

As crianças da geração internet vivem um novo estilo de vida, um novo modo de viver e de fazer escolhas, sejam elas na individualidade, nos gostos e nas preferências. O que se percebe muitas vezes entre elas no pátio da escola enquanto conversam é que elas mesmas não sabem o que fazer com tanta tecnologia. Como na conversa da Paula (9 anos) com a Amanda (9 anos): “Meu pai viajou para a China e me pediu o que quero de presente de eletrônico?” A Amanda ao lado responde: “Pede um ipad”. A Paula diz: “Eu já tenho e meu irmão também. Eu nem sei o que pedir. Deixa ele trazer. Há meu pai é bem moderno pra essas coisas”.

É possível perceber que as opções de aparelhos tecnológicos são tantos, que acabam gerando certa angústia em relação ao que escolher. Quando o número de opções aumenta, as crianças tendem a sentir angústia. Na dúvida, acabam deixando os adultos escolherem por elas. Isso não promove a autonomia.

Além disso, vive-se hoje com a super valorização da aparência, do corpo, da saúde, do lazer, da alimentação. O estilo de vida está diretamente relacionado aos valores que cada um traz. Na concepção de alguns pais e educadores, estamos vivendo uma crise de valores. Embora tenha contradições de alguns que dizem que há uma nova maneira das pessoas colocarem-se diante da vida. As crianças tem cada vez mais cedo acesso aos meios de comunicação e muitas vezes os pais nem controlam as redes sociais de seus filhos. Conforme Gabriel (2013, p.33)

Hoje qualquer aluno pode ter um smarthfone e acessar a qualquer conteúdo... No entanto, o volume de informações disponíveis para os alunos é gigantesco e, como vimos o ser humano não consegue operar nesse tipo de ambiente sem utilização de sistemas adequados que filtram o que interessa.

(28)

Nesse sentido, é preocupante a falta de filtro de alguns pais em relação ao o que as crianças acessam. Para muitas crianças, o mundo virtual confunde-se com o mundo real do cotidiano. Isso se observa em algumas atitudes e situações que ocorrem no pátio da escola pesquisada, na qual as crianças agem como se não fossem crianças. A fala do Alex (8 anos) revela isso: “ Eu sou um minotauro, aquele igual do jogo que cospe fogo, ta?.” Diante desta fala é evidente que as crianças vivem os personagens do jogos em diversos momentos. Portanto, a internet, o telefone celular, o tablet e outros equipamentos, estão mudando os comportamentos das crianças, bem como as formas de se relacionar com os outros.

A pesquisa revelou que de 40 crianças entrevistadas do 2º ao 5º ano 88% gostam de trazer o tablet para a escola. Saliento também que todas afirmaram que trazem o celular todos os dias na mochila mesmo que esteja desligado. A grande maioria diz que traz o celular para no final da aula ligar para os pais ou amigos. Algumas meninas disseram que utilizam o celular na hora do recreio para tirar fotos para postar no facebook ou para fazer vídeos dos colegas. Chama a atenção a fala do José (10 anos): “Eu gosto de trazer e a minha mãe prefere que eu traga o tablet ao menos assim eu não me machuco enquanto eu brinco.” Ele acaba ficando sentado, jogando ou assistindo seus amigos jogar enquanto estão no pátio. Sendo que este deveria ser um momento descontraído para ele brincar, correr, caminhar livremente pelo pátio.

Outro fator perceptível enquanto conversava e observava as crianças, é a deficiência do sono, ou seja, ficam horas e horas na frente do computador jogando, vão dormir tarde e quando chegam à escola estão cansadas, com sono, e a consequência disso é a queda no rendimento escolar. Conforme Gabriel (2013, p.155)

Considerando-se que os vícios se originam de hábitos que não conseguimos controlar, nossos hábitos trazem a possibilidade de novos vícios... Alguns dos hábitos negativos que foram intensificados pelas observações digitais e tem afetado e prejudicado a saúde ou a vida das pessoas são: - Diminuição das horas de sono em função do aumento da quantidade de atividades disponíveis constantemente; - Aumento do tempo que se permanece sentado trabalhando praticando atividades digitais; - Slacktivismo em prol de causas cuja veracidade e legitimidade não foram verificadas e validadas, mas que aliviam a consciência do participante...; - Automedicação baseada em informações obtidas na internet; - Não validação baseada em informação antes de utilizá-la para os mais diversos fins.

(29)

O ideal seria que as crianças dormissem oito horas diárias, mas nem sempre isso acontece. Com as novas tecnologias, algumas não sabem mais as brincadeiras que fazem parte da cultura popular, como o jogar bolita, peteca, boliche, pular corda, amarelinha, etc. Muitas brincadeiras se transformaram em jogos eletrônicos. Acaba sendo muito mais interessante jogar boliche no celular ou tablet, afinal exige movimento, coordenação motora, enquanto no tablet basta movimentar um dedo que tudo acontece como no jogo real. Além disso, os jogos nos tablets tem uma motivação, pois a cada fase que passam tem uma recompensa. Por isso que os jogos são tão envolventes e atraentes. Conforme a fala da Luiza (7 anos) “Eu preciso passar de fase hoje, sem falta, porque só eu da turma ainda não passei. Se eu não conseguir vou pedir pra alguém passar pra mim.”

Se pararmos para pensar as crianças desde pequenas são atraídas para brincar com brinquedos tecnológicos, ou seja, é muito mais atraente ter um celular que imite som e luz do que com um chocalho que apenas tem a função de fazer barulho.Os meios de comunicação, juntamente com o computador, cumprem o papel de “babá eletrônica”, entretendo as crianças com jogos e desenhos animados. Conforme Hoffmann (2007, p.69)

As crianças apresentam maneiras peculiares e diferenciadas de vivenciar as situações, de interagir com os objetos do mundo físico. O seu desenvolvimento acontece de forma aceleradíssima. A cada minuto realizam novas conquistas, ultrapassando nossas expectativas e causando muitas surpresas.

Somos seres sociais. É impossível nos imaginar fora do contexto da sociedade em que vivemos. A criança vem para a escola trazendo muitas informações da realidade em que vive. Isso é notável na conversa com a professora Maria (2º ano) “Algumas crianças são viciadas nas redes sociais, pois durante as aulas comentam sobre as novidades tecnológicas mais recentes e os sites mais acessados.” As professoras relataram que utilizam durante suas aulas alguns sites, obtendo com isso uma relação muito positiva por parte dos alunos, que vivem esta realidade digital cotidianamente. Para Marques (1999, p. 182) “essas linguagens rearticuladas e interferentes trazem consigo os desafios de outra educação em escola, outra com suas salas de aulas revitalizadas por professores e alunos à busca de se entenderem sobre si e seus mundos.”

O avanço tecnológico está presente em todos os momentos da vida das pessoas. Na educação não poderá ser diferente, pois o impacto desse avanço se efetiva como processo social e cultural, atingindo todas as instituições de ensino, invadindo a vida das crianças, em

(30)

suas casas, na rua onde moram, nas salas de aulas com colegas, etc. Como percebe-se na pergunta de José (9 anos): “ Profe, me passa a senha do Wi - Fi da escola pra eu acessar a internet, preciso urgente ver uma coisa.” Para as crianças não importa o local, elas querem mesmo é estar conectadas. Desta forma, os aparelhos tecnológicos dirigem suas atividades e condicionam seu pensar, seu agir, seu sentir, seu raciocínio e sua relação com as pessoas.

O uso das tecnologias pode ser visto também de uma forma positiva, pois tem aberto as portas para novas formas de ensino e aprendizado, além de ser uma nova forma de interação entre pais e filhos, e mesmo entre professores e alunos. O acesso a mais recursos tecnológicos, sobretudo a internet, proporcionou o desenvolvimento de novas capacidades e processos cognitivos nas crianças. Segundo Freire (1997, p.12) “A atual geração infantil de apartamento movimenta mais os dedos num videojogo e num sintonizador de televisão do que um corpo como um todo” Cada vez mais cedo as crianças têm a disposição às tecnologias e com isso se alfabetizando, muitas vezes, com a ajuda dessas ferramentas. É preciso compreender a internet como um laboratório para múltiplas experiências, em que as crianças partilham conhecimentos. Segundo Kalinke (1999, p. 15)

Os avanços tecnológicos estão sendo utilizados praticamente por todos os ramos do conhecimento. As descobertas são extremamente rápidas e estão a nossa disposição com uma velocidade nunca antes imaginada. A Internet, os canais de televisão a cabo e aberta, os recursos de multimídia estão presentes e disponíveis na sociedade. Estamos sempre a um passo de qualquer novidade. Em contrapartida, a realidade mundial faz com que nossos alunos estejam cada vez mais informados, atualizados, e participantes deste mundo globalizado.

Diante dessa realidade, a escola tem por desafio a tentativa de responder como ela poderá contribuir para que a criança se torne usuário criativo e crítico dessas ferramentas, evitando que se tornem meros consumidores compulsivos. É isso que muitas vezes acontece, as crianças ficam repetindo frases ou palavras que viram nas redes sociais que elas mais têm acesso como o facebook e o WhatsApp. Observando as crianças no pátio, os assuntos estavam voltados àquilo que viram nas redes sociais como: “Quantos amigos cada um tem, se viram a fotos que postaram, se curtiram, comentaram as fotos das colegas, etc.”

Neste cenário, é possível notar o elevado grau de conectividade das crianças que muitas vezes se deixam influenciar pelo ambiente virtual em sua identidade, ainda em formação, entusiasmadas por múltiplas informações do mundo virtual, incapazes de dar substância a uma identidade pessoal.

(31)

A influência das novas tecnologias no espaço escolar, especificamente no pátio, tem sido um dos desafios para professores atualmente, pois as crianças vêm para a escola com inúmeros conhecimentos adquiridos nas redes sociais. Daí me vem à pergunta: “O que resta para a escola ensinar, sendo que na internet tem tudo, ou quase tudo?”

A resposta está nos quatro pilares da Educação, fundamentados no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors. Na qual se propõe uma educação direcionada para os quatro conceitos de fundamento da Educação: Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Mesmo com tantas inovações, somos sujeitos do coletivo e aprendemos na relação com o outro e a criança sente essa necessidade. Conforme Almeida (1987, p.195)

A esperança de uma criança, ao caminhar para a escola é encontrar um amigo, um guia, um animador, um líder- alguém muito consciente e que se preocupe com ela e que a faça pensar, tomar consciência de si e do mundo e que seja capaz de dar-lhe as mãos para construir com ela uma nova história e uma sociedade melhor.

Com isso fica evidente que o professor exerce um papel fundamental no desenvolvimento das crianças, mesmo elas estando rodeadas de inúmeras tecnologias e informações, ele nunca deixará de ser o portador do conhecimento.

(32)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final desse estudo pontuo algumas considerações que se fazem necessárias. Primeiramente relato sobre os espaços da escola que são organizados de tal forma que ajudam as crianças a se desenvolver de uma forma integral, brincando livremente sem a influência de um adulto. Sendo assim, o pátio tem um valor significativo na vida das crianças, pois ele marca esse tempo da infância.

Parar e olhar o brincar no pátio me fez refletir um pouco sobre nossa própria sociedade, culturalmente determinada, porque as brincadeiras nos mostram crianças interagindo e agindo a seu modo e de acordo com a sua percepção da realidade. Nota-se que todas as crianças brincam, pois é uma atividade básica e fundamental para elas. A linguagem das brincadeiras e os significados que elas provocam, são necessários serem percebidas, pois nos fazem reconhecer que as crianças não são adultos em miniatura, mas são seres únicos, com características próprias e ativas na construção do seu conhecimento.

As vivências que as crianças têm no pátio são lembradas por muitas delas pelo resto de suas vidas. Por isso, é necessária uma atenção especial, a esse espaço da escola esquecido muitas vezes por alguns professores, sendo visto sem muito valor, dando se mais destaque aos conteúdos que precisam ser aprendidos dentro da sala de aula. Esquecendo que a criança aprende nos diferentes espaços da escola.

A maneira como as crianças interagem, socializam e se relacionam com as outras no espaço do pátio refletem para as possíveis relações que terá no futuro. Se hoje algumas delas preferem ficar jogando no tablet, isoladas das outras, sem interação, podem futuramente sentir falta desses momentos de sua infância.

O que chama a atenção nesta pesquisa é a disponibilidade e confiança das crianças em falar sobre si mesmas. O que me surpreendeu e proporcionou um material rico para a construção de um diálogo com os registros de campo. Tive a impressão de que as entrevistas foram, para as crianças, um momento de reflexão sobre o que vivem no pátio. Nas falas delas foi possível perceber a diversidade de situações que acontecem no pátio, que, muitas vezes, não são notáveis. A autonomia, a criticidade, o espírito de liderança, as relações de gêneros, as brincadeiras, a diversidade cultural, os conflitos, a natureza, entre outros, são meios necessários para o desenvolvimento moral, social, físico e cognitivo da criança. Isso acontece com frequência no pátio da escola.

(33)

As crianças estão repletas de tecnologias que são trazidas de casa para serem utilizadas no pátio. Acredito que se estas forem utilizadas de forma equilibrada e na intenção de socializar, interagir não será um problema; mas caso contrário a criança ficará isolada das demais. Isso acaba por prejudicar sua vida social e o desenvolvimento de sua personalidade. O conhecimento e a formação intelectual não são suficientes para a construção de novas relações sociais e de convívio. Por isso, o pátio se torna o espaço adequado para que aconteçam essas relações de boa convivência, partilha e cooperação tornando a criança capaz de conviver na sociedade, consciente de seus direitos e deveres.

As novas tecnologias utilizadas no pátio poderão servir de aliadas para tornar as crianças conscientes da realidade que estão inseridas, tornando-as humanizadas. Que saibam aproveitar as ferramentas tecnológicas para a construção de um mundo, onde se vivencie os valores de justiça, igualdade, fraternidade, respeito às diferenças e tantos outros valores que vem se perdendo a cada dia.

Sugiro que a escola e a família avaliem como estão ocorrendo às influências das tecnologias no pátio, procurando perceber como as crianças estão aproveitando o pátio para a interação e desenvolvimento. As tecnologias trazem benefícios, mas ao mesmo tempo poderão estar prejudicando a criança. É necessário analisar as tecnologias que elas trazem para a escola, os alertando dos benefícios e dos malefícios que seriam os vícios e a falta de interação com as outras crianças. A escola e a família precisam se unir e procurar novos meios de utilizar o pátio para que este não perca a sua essência.

Referências

Documentos relacionados

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

Além do teste de força isométrica que foi realiza- do a cada duas semanas, foram realizados testes de salto vertical (squat jump e countermovement jump), verificação da

A par disso, analisa-se o papel da tecnologia dentro da escola, o potencial dos recursos tecnológicos como instrumento de trabalho articulado ao desenvolvimento do currículo, e

A tem á tica dos jornais mudou com o progresso social e é cada vez maior a variação de assuntos con- sumidos pelo homem, o que conduz também à especialização dos jor- nais,

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

QUANDO TIVER BANHEIRA LIGADA À CAIXA SIFONADA É CONVENIENTE ADOTAR A SAÍDA DA CAIXA SIFONADA COM DIÂMTRO DE 75 mm, PARA EVITAR O TRANSBORDAMENTO DA ESPUMA FORMADA DENTRO DA

Este estudo apresenta como tema central a análise sobre os processos de inclusão social de jovens e adultos com deficiência, alunos da APAE , assim, percorrendo