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Rescisão indireta do contrato de trabalho e a dignidade do trabalhador na indústria têxtil brasileira

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

NARA FATIMA MACIEL DA SILVA

RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO E A DIGNIDADE DO TRABALHADOR NA INDÚSTRIA TÊXTIL BRASILEIRA

Ijuí (RS) 2017

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NARA FATIMA MACIEL DA SILVA

RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO E A DIGNIDADE DO TRABALHADOR NA INDÚSTRIA TÊXTIL BRASILEIRA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Paulo Marcelo Scherer

Ijuí (RS) 2017

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo pela vida, força e coragem, a minha família, que sempre esteve presente e me incentivou com apoio e confiança nas batalhas da vida e com quem aprendi que os desafios são as molas propulsoras para a evolução e o desenvolvimento.

Ao meu orientador Paulo Marcelo Scherer, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, guiando-me pelos caminhos do conhecimento.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra, durante a trajetória de construção deste trabalho, obrigada.

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“O direito deve ser um ativo promotor de mudança social tanto no domínio material como no da cultura e das mentalidades.”

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise das primeiras formas de trabalho e sua história evolutiva, a fim de propiciar uma investigação em busca de esclarecimentos acerca da concepção do trabalho. O trabalho no Brasil demorou acontecer, as normas eram tratadas apenas sobre a forma de Estado e de governo e não de forma específica do trabalho, isso aconteceu muito depois com a criação das primeiras Constituições. Com o passar dos tempos, os trabalhadores criaram movimentos em busca de direitos e condições de trabalho, fato que culminou com o aparecimento das primeiras Leis trabalhistas, as quais passaram a estabelecer normas mínimas sobre as condições de trabalho que o empregador deve respeitar. Dentro desse contexto se estuda a dignidade do ser humano, as suas características próprias, a qual é inerente a pessoa, e o quão é importante no ambiente laboral. Aborda a rescisão indireta do contrato de trabalho como forma de solução dos conflitos, quando a permanência no trabalho não é mais viável é a forma de pôr fim a esse desrespeito com o trabalhador. Investiga a crescente exploração do trabalho na indústria têxtil. Faz uma breve análise sobre as condições análogas desses trabalhadores que são submetidos a trabalhos degradantes e tece considerações sobre o mesmo. Finaliza concluindo que se deve priorizar o combate dessas práticas feitas por empregadores e aumentar a fiscalização do governo.

Palavras-Chave: Primeiras formas de trabalho. Dignidade do ser humano. Rescisão indireta do contrato de trabalho. Indústria Têxtil.

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ABSTRACT

The present work of course conclusion makes an analysis of the first forms of work and its evolutionary history, in order to provide an investigation in search of clarifications about the conception of the work. The work in Brazil was slow to happen, norms were dealt with only on the form of state and government and not on a specific form of work, this happened much later with the creation of the first Constitutions. Over time, workers created movements in search of rights and working conditions, which culminated in the appearance of the first Labor Laws, which established minimum standards on working conditions that the employer must respect. Within this context one studies the dignity of the human being, its own characteristics, which is inherent to the person, and how important it is in the work environment. It addresses the indirect termination of the employment contract as a way of solving conflicts, when the permanence in the work is no longer viable is the way to end this disrespect with the worker. It investigates the increasing exploitation of labor in the textile industry. It gives a brief analysis of the analogous conditions of these workers who are subjected to degrading work and weaves considerations on it. He concluded by concluding that priority should be given to combating these practices by employers and increasing government oversight.

Keywords: First forms of work. Dignity of the human being. Indirect termination of

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 O TRABALHO E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ... 11

1.1 O trabalho na história da humanidade ... 12

1.2 A regulamentação do trabalho no Brasil ... 16

1.3 A concepção e o reconhecimento da dignidade da pessoa ... 18

1.4 O direito a liberdade no trabalho: O contraponto ao trabalho escravo e a permanência forçada ... 22

2 O TRABALHO DIGNO, A INDÚSTRIA TÊXTIL E A RESCISÃO INDIRETA 27 2.1 O direito ao trabalho digno ... 28

2.2 As formas de término do contrato de trabalho ... 31

2.3 O direito ao término do contrato pelo trabalhador, a rescisão indireta ... 33

2.4 As condições de trabalho na indústria têxtil brasileira ... 36

2.5 Decisões jurisprudenciais ... 39

CONCLUSÃO ... 42

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa apresenta um estudo acerca do trabalho e a dignidade da pessoa humana e as primeiras noções sobre o trabalho, efetua uma investigação a respeito da dignidade da pessoa humana, o quanto ela é importante de forma inerente a cada pessoa. Nesse contexto, está inserido o trabalho na indústria têxtil, nessa atividade laboral se concentra a base deste estudo, o qual tem por objetivo verificar as condições de trabalho do empregado, de modo que, se o mesmo estiver insatisfeito com as condições impostas pelo empregador, ou sendo desrespeitadas as condições mínimas na relação de trabalho, o trabalhador possa por fim a essa relação por meio da rescisão indireta e manter seus direitos rescisórios como preconiza o artigo 483 da CLT.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, a fim de enriquecer a coleta de informações e permitir um aprofundamento no estudo acerca da dignidade da pessoa humana, revelar a importância das condições de trabalho, como forma da construção da paz social e apontar novas perspectivas para a problemática.

Inicialmente, no primeiro capítulo, aborda-se sobre o surgimento do trabalho e como se desenvolveu ao longo do tempo na sociedade. Segue uma análise sobre as primeiras constituições brasileiras e também sobre a CLT, uma das mais importantes referências para as leis trabalhistas existentes. Além disso, reflete sobre a importância e o reconhecimento da dignidade da pessoa humana algo pertencente, próprio de cada pessoa, dando destaque a relevância do direito a liberdade no trabalho. Como o indivíduo tem autonomia de vontade e sendo a liberdade o fundamento da dignidade humana, analisa-se também o conceito de trabalho escravo e forçado.

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No segundo capítulo, faz-se uma análise sobre o trabalho digno, como ponto importante para o trabalhador, no ambiente onde ele labora suas atividades, conceitos, princípios, direitos e a aplicação da lei como garantidora desse direito. Aborda-se ainda sobra a rescisão indireta como pacificadora, como o fim da atividade e da relação entre empregado e empregador e isso incorre nas sanções inseridas na CLT que dão ao trabalhador garantias rescisórias no momento de se retirar do ambiente em que ele é explorado física e psicologicamente pelo empregador.

A partir desse estudo verifica-se que a indústria têxtil é um hospedeiro dessa prática de escravidão moderna, que desenfreadamente cresce no nosso país, aproveitando-se de pessoas pobres, na maioria das vezes, semianalfabetas, e mal sabem assinar seu nome. São pessoas frágeis do ponto de vista social e econômico nas mãos de um grupo capitalista que utiliza esse método para ganhar mais e aumentar sua fortuna, tal procedimento que contraria a Constituição de 1988 em seu artigo 5º e incisos de modo geral, afrontando também paz social do país.

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1 O TRABALHO E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O trabalho de forma contínua está associado a uma percepção de contraprestação pecuniária porque é entendido como um valor social que dignifica a pessoa e que dá honradez ao ser humano. Assim, entende-se que a remuneração dele decorre de uma visão de sustento do trabalhador e sua família. Sem a contraprestação pecuniária o trabalho não alcançaria o seu objetivo social. Destarte, pode-se afirmar que havendo necessidade de sustento próprio e/ou familiar, existirá trabalho e que existindo trabalho, terá de ser atribuída uma contraprestação por força dele.

É através do trabalho que o indivíduo consegue desenvolver suas capacidades, convive em sociedade de maneira positiva e atinge assim de modo satisfatório a sua realização como pessoa, o trabalho deve ser visto como um direito e ao mesmo tempo um dever de todo o ser humano.

A regulamentação do trabalho no Brasil demorou a acontecer, pois as normas eram tratadas apenas sobre a forma de Estado e de governo e não de forma específica acerca do trabalho, isso só aconteceu mais tarde com as primeiras Constituições. Segundo Nascimento (2009) as regulamentações do trabalho nasceram com a sociedade industrial e o trabalho assalariado, as constantes lutas de classes que surgiram através de movimentos sociais e com o surgimento dos sindicatos, resultaram no aparecimento das primeiras leis de proteção ao trabalho e na criação da OIT.

O princípio da dignidade da pessoa humana determina limites à ação do Estado e demais envolvidos, protege a liberdade humana contra eventuais violações, para que o indivíduo não sofra injustiças quaisquer que sejam. Dessa maneira, se houver respeito ao ser humano, assegurando-se condições mínimas para a sua existência, com destaque na tutela e efetividade dos direitos fundamentais de liberdade e igualdade, pode-se falar em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana.

A dignidade é uma qualidade inerente e irrenunciável da própria condição humana, precisa ser reconhecida, respeitada, e protegida por todos, tendo em vista que o ser humano deve ser tratado como um fim e nunca como um meio. Desse modo, não há o que se falar em conflito existente entre a liberdade de trabalho e a dignidade. Compreende-se, então, a

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supremacia do princípio da dignidade, atuando como um direito indiscutível, o qual nunca deverá ser desrespeitado.

Feitas essas primeiras colocações sobre trabalho e a dignidade da pessoa humana, esclarece-se que o presente capítulo tem por objetivo analisar o trabalho historicamente, a origem do trabalho e sua contextualização, objeto deste estudo.

1.1 O trabalho na história da humanidade

O trabalho teve seu início quando o homem buscou satisfazer necessidades e meios para sua sobrevivência. Em se tratando de labor humano pode-se dizer que ao longo de sua história se mostrou de maneiras distintas e possui várias conceituações que foram aparecendo ao longo do tempo, no geral o trabalho é entendido como sendo a atividade humana realizada com objetivo de atingir metas e produzir riquezas e os meios de subsistência (OLIVEIRA, 1987).

A palavra trabalho, conforme o autor relata em seu livro, tem o seguinte significado “Trabalho vem do latim tripalium, que era uma espécie de instrumento de tortura de três paus ou uma canga que pesava sobre os animais.” (MARTINS, 2009, p. 4).

Nos primórdios da história em contexto bíblico aqui apresentado, demostra que o trabalho sempre existiu, portanto o trabalho naquela época não era relacionado como forma de cansaço físico ou de fadiga, mas tão só de criar algo para dar continuidade a obra de Deus.

Conforme Alice Monteiro de Barros (2010, p. 53):

Sustenta-se que os primeiros trabalhos foram os da Criação. É o que se infere do Pentauteuco, mais precisamente do livro Gênesis, que narra à origem do mundo: “Deus acabou no sétimo dia a obra que tinha feito; e descansou...” (Gen. 2, 2). O Trabalho não tem aqui conotação de fadiga e o repouso é desprovido do sentido de recuperação de esforços gastos. Do mesmo livro Gênesis consta que “o Senhor Deus tomou o homem e o colocou no paraíso de delícias para que o cultivasse e guardasse...” (Gen. 2; 15). Verifica-se dessa passagem que, mesmo antes do pecado original, Adão já trabalhava. O trabalho é uma possibilidade de continuar a obra criadora de Deus.

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Conforme Luciano Martinez (2010, p. 34) referenciando a professora paranaense Aldacy Rachid Coutinho (1999), sobre a origem do pecado original:

A própria história bíblica da criação do homem retrata, no Gênesis, o sentimento aviltante do trabalho. Na primeira sentença de que se tem noticia, Adão foi punido pelo descumprimento das leis divinais até então estabelecidas. A terra, então, foi tornada maldita por força de sua desobediência, e lhe foi imposta a obtenção de seu sustento à força do próprio trabalho, sendo imensamente simbólica a seguinte passagem: “Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás...” (Gen.3; 19). Esse trecho bíblico revela maximamente o trabalho como pena.

Num segundo momento do contexto bíblico revela-se que o trabalho era considerado um castigo, algo penoso, tendo em vista a atitude de Adão, por conta da desobediência a Deus o mesmo teve que trabalhar para prover o seu sustento com seu trabalho.

Naantiguidade a primeira forma de trabalho foi em regime de escravidão, os escravos eram considerados “coisas”, sem nenhum direito trabalhista, realizavam trabalhos pesados e eram forçados a cumprir as tarefas sob pena de castigo, nessa época o trabalho era considerado punição justa e necessária.

Nas palavras de Sérgio Pinto Martins (2009, p. 4):

A primeira forma de trabalho foi à escravidão, em que o escravo era considerado apenas uma coisa, não tendo qualquer direito, muito menos trabalhista. O escravo, portanto, não era considerado sujeito de direito, pois era proprietário do dominus. Nesse período, constatamos que o trabalho do escravo continuava no tempo, até de modo indefinido, ou mais precisamente até o momento em que oescravo vivesse ou deixasse de ter essa condição. Entretanto, não tinha nenhum direito, apenas o de trabalhar.

De acordo com o mesmo autor, evidencia-se que a primeira forma de trabalho foi a escravidão, e que o trabalho escravo não tinha nenhum valor em relação ao indivíduo, pois os escravos não tinham vida própria eram vistos como mercadorias de seus senhores a partir do momento em que entravam em seu domínio, trabalhavam muito sem dignidade e sem qualquer direito.

Logo após essa época da escravidão iniciou-se o período em que o homem começa a ser visto como servo, começa o período da servidão.

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O período feudal nas palavras da Barros (2011, p. 47):

No período feudal, de economia predominantemente agrária, o trabalho era confiado ao servo da gleba, a quem se reconhecia a natureza de pessoa e não de coisa, ao contrário do que ocorria com os escravos. Não obstante, a situação do servo, pelo menos no Baixo Império Romano, era muito próxima à dos escravos. Eles eram escravos alforriados ou homens livres que, diante da invasão de suas terras pelo Estado e, posteriormente, pelos bárbaros, tiveram que recorrer aos senhores feudais em busca de proteção. Em contrapartida, os servos estavam obrigados a pesadas cargas de trabalho e poderiam ser maltratados ou encarcerados pelo senhor, que desfrutava até mesmo do chamado jus primae noctis, ou seja, direito à noite de núpcias com a serva da gleba que se casasse.

Conforme a autora no período feudal, os servos passaram a ser consideradas pessoas em quem era confiado o trabalho, mas suas situações também se pareciam com a de escravo, tendo em vista que em troca de proteção eram obrigados a trabalhar muito e eram maltratados pelos seus senhores feudais.

Após o período feudal, surgiu às corporações de ofício, formada pelos mestres, companheirose os aprendizes.

Para Nascimento (2009, p. 43) nas corporações de ofício:

Os mestres eram proprietários das oficinas, que chegavam a essa condição depois de aprovados, segundo os regulamentos da corporação, na confecção de uma obra mestra. Equivalem aos empregados de hoje. Os companheiros eram os trabalhadores livres que ganhavam salários dos mestres. Os aprendizes eram menores que recebiam dos mestres ensinamentos metódicos de um ofício ou profissão. [...]. As corporações mantinham com os trabalhadores uma relação de tipo bastante autoritário e que se destinava mais a realização dos seus interesses do que a proteção dos trabalhadores.

A Revolução Industrial foi muito importante para os trabalhadores, pois, a partir dela surgiu o marco do emprego, mudou a cultura da época, e passou a fazer parte das relações de trabalho em relação ao emprego. A partir desse momento os trabalhadores começaram a receber salário pelo serviço que era prestado. Destaca-se que foi a partir da Revolução Industrial que o Direito do trabalho e o contrato de trabalho começaram a se desenvolver. “A Revolução Industrial acabou transformando o trabalho em emprego. Os trabalhadores, de maneira geral, passaram a trabalhar por salários.” (MARTINEZ, 2009, p. 5).

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Os trabalhadores começaram a perceber que seus serviços eram de grande relevância para o empregador, pelo fato que este dependia da mão de obra de cada um dos funcionários para conseguir ter o lucro almejado. Diante disso, os trabalhadores começaram a se reunir com o propósito de conseguirem melhores salários e condições de trabalho bem como a diminuição das jornadas excessivas de trabalho.

Conforme Martins (2003, p. 36) evidencia:

Daí nasce uma causa jurídica, pois os trabalhadores começaram a reunir-se, a associar-se, para reivindicar melhores condições de trabalho e de salários, diminuição das jornadas excessivas (os trabalhadores prestavam serviços por 12, 14 ou 16 horas diárias) e contra a exploração de menores e mulheres. Substituía-se o trabalho adulto pelo das mulheres e menores, que trabalhavam mais horas, percebendo salários inferiores. A partir desse momento, surge uma liberdade na contratação das condições de trabalho. O Estado, por sua vez, deixa de ser abstencionista, para se tornar intervencionista, interferindo nas relações de trabalho.

Desse modo, ficou evidente que a partir dos movimentos dos trabalhadores reivindicando melhores condições de trabalho, o Estado começa a se preocupar com a situação dos mesmos e passa a intervir com o objetivo de melhorar as condições de trabalho e proteger juridicamente e economicamente o trabalhador.

Sobre trabalho é o entendimento de Dallari (2004, p. 57):

O trabalho permite a pessoa humana desenvolver sua capacidade física e intelectual, conviver de modo positivo com os outros seres humanos e realizar-se integralmente como pessoa. Por isso o trabalho deve ser visto como um direito de todo o ser humano. Mas o trabalho é, ao mesmo tempo, o modo pela qual cada pessoa expressa a solidariedade devida ás demais pessoas, é o meio através do qual cada um da a sua retribuição por tudo o que recebe dos demais. Visto desse ângulo, o trabalho é um dever de toda pessoa humana.

A partir dos movimentos dos trabalhadores em busca de direitos e condições de trabalho surgiram às primeiras Leis trabalhistas que passam a estabelecer normas mínimas sobre as condições de trabalho que o empregador deveria respeitar. Destaca-se aqui a Lei de

Peel que surgiu na Inglaterra, em 1802 com o objetivo de proteger os trabalhadores, os

aprendizes nos moinhos. Eles deveriam trabalhar no máximo 12 horas diárias, sempre após as 6 horas da manhã e antes das 21 horas. Também era observada a higiene e educação. Na

França, em 1813, houve a proibição do trabalho de menores nas minas. Em 1839 na Alemanha, teve início as leis sobre o trabalho da mulher e do menor. Encíclica Rerum

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Novarum de 1981, que significa coisas novas, do Papa Leão XIII, a igreja também

contribuiu para a defesa dos trabalhadores em questões de caráter social as Encíclicas serviam de fundamento para alteração das leis dos países (MARTINS, 2003, grifo nosso).

Segundo destaca Alice Monteiro de Barros, as primeiras Constituições que a trataram do direito do trabalho foi a do México em 1917, e a Constituição de Weimar de 1919 que também tratou de questões relacionadas às condições de trabalho (BARROS, 2011).

Conforme evidencia Martins (2003, p. 38):

Daí em diante, as constituições dos países passaram a tratar do Direito do Trabalho e, portanto, a constitucionalizar os direitos trabalhistas. Surge o Tratado de Versalhes, de 1919, prevendo a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que iria incumbir-se de proteger as relações entre empregados e empregadores no âmbito internacional, expedindo convenções e recomendações nesse sentido.

Nesse sentido, Corrêa (2002) destaca o surgimento da OIT, Organização Internacional do Trabalho em 1919, e ressalta que, no Brasil, a primeira Constituição a prever os direitos sociais e trabalhistas foi a de 1934.

Desse modo, demonstrada à história do trabalho na humanidade, passa-se a analisá-lo a regulamentação do trabalho no Brasil.

1.2 A regulamentação do trabalho no Brasil

As primeiras Constituições brasileiras não tratavam especificamente do direito do trabalho, observavam apenas sobre a forma de estado e o sistema de governo. Mais tarde as Constituições foram dando atenção especifica, e passaram a tratar todos os ramos do direito e dando atenção especial do Direito do Trabalho.

Nesse sentido, seguindo a ideia do autor é importante destacar uma breve análise das Constituições brasileiras começando pela Constituição de 1824, que apenas aboliu as corporações de ofício em seu artigo 179, XXV, assegurando liberdade de exercício de

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profissões. Cabe ressaltar a presença do trabalho escravo, até a Lei Áurea de 1888, que aboliu a escravidão no Brasil segundo (MARTINS, 2003).

Em se tratando da Constituição de 1891 reconheceu a liberdade de associação no artigo 72, § 8º, de forma genérica reconhece (BARROS, 2011).

Já em 1934 surge a primeira Constituição brasileira a ter normas específicas de Direito do Trabalho, na qual é previsto o reconhecimento dos sindicatos e pluralidade sindical; jornada diária de 8 horas; salário-maternidade, entre outros direitos vigentes em nossa Constituição atual (FILHO, 2010).

A Constituição de 1937 expõe a concepção política do estado Novo e as restrições que criou o movimento sindical, essa proibia a greve, vista como recurso anti-social e nocivo ao trabalho e a economia e o seguimento de elaborações de leis trabalhistas, conforme afirma (NASCIMENTO, 2009).

A presença de várias leis esparsas sobre Direito do Trabalho forçou a necessidade de sua sistematização, por meio da Consolidação das Leis do Trabalho, (CLT) aprovada pelo Decreto-lei 5.452, de 1943, que não é um código propriamente, pois sua principal função foi apenas de reunir as leis trabalhistas existentes. Sendo, portanto a CLT, a mais importante referência para as leis trabalhistas, tem por função reger relações as de trabalho individuais e coletivas (MARTINS, 2003).

Por sua vez a Constituição de 1946, considerada lei democrática, rompe com o corporativismo da Constituição de 1937. A Constituição de 1946 prevê participação dos trabalhadores nos lucros, repouso semanal remunerado, estabilidade, direito de greve e outros (NASCIMENTO, 2009).

Conforme destaca o autor houve uma determinação mais eficiente dos direitos dos trabalhadores que se estabeleceram com a criação da Constituição de 1967, uma vez que a mesma manteve as conquistas anteriores, preservou os direitos trabalhistas e faz apenas algumas modificações. Merece ainda destaque o fato de que o Brasil não ratificou a Convenção n. 87 que previa o pluralismo sindical representativo (DUARTE, 1998).

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Sobre a Constituição de 1988 Martins (2003, p. 40) destaca que:

Em 5-10-1988, foi aprovada a atual Constituição, que trata de direitos trabalhistas nos arts. 7º a 11. Na Norma Magna, os direitos trabalhistas foram incluídos no Capítulo II, “Dos Direitos Sociais”, do Título II, Constituições anteriores os direitos trabalhistas sempre eram inseridos no âmbito da ordem econômica e social. Para alguns autores, o art. 7º da Lei Maior vem a ser uma verdadeira CLT, tantos os direitos trabalhistas nele albergados.

Trata o art. 7º da Constituição de direitos individuais e tutelares do trabalho. O art. 8º versa sobre o sindicato e suas relações. O art.9º especifica regras greve. O art.10 determina disposição sobre a participação dos trabalhadores em colegiados. Menciona o art. 11 que nas empresas com mais de 200 empregados é assegurada a eleição de um representante dos trabalhadores para entendimentos com o empregador.

Dessa forma, finaliza-se a trajetória das primeiras Constituições e passa-se a verificar a concepções acerca do reconhecimento da dignidade da pessoa.

1.3 A concepção e o reconhecimento da dignidade da pessoa

Para tratar sobre a dignidade da pessoa humana é importante destacar o entendimento de alguns autores a respeito da dignidade para conseguir alcançar uma definição ou a interpretação da palavra dignidade. Incluiu uma análise do ponto de vista histórico e filosófico, por não ser fácil e nem definido o seu conceito.

A respeito da dignidade da pessoa humana é o que leciona Sarlet, Ingo Wolfgang (2012, p. 34):

O problema do significado que se pode hoje atribuir à dignidade da pessoa humana, cumpre ressaltar, de início, que a ideia do valor intrínseco da pessoa humana deita raízes já no pensamento clássico e no ideário cristão. Muito embora não nos pareça correto, inclusive por faltar dados seguros quanto a este aspecto, reivindicar – no contexto das diversas religiões professadas pelo ser humano ao longo dos tempos – para a religião cristã a exclusividade e originalidade quanto à elaboração de uma concepção de dignidade da pessoa, o fato é que tanto no Antigo quanto no Novo Testamento podemos encontrar referências no sentido de que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus, premissa da qual o cristianismo extraiu a consequência – lamentavelmente renegada por muito tempo por parte das instituições cristãs e seus integrantes (basta lembrar as crueldades praticadas pela “Santa Inquisição”) – de que o ser humano – e não apenas os cristãos – é dotado de um valor próprio e que lhe é intrínseco, não podendo ser transformado em mero objeto ou instrumento.

O autor supracitado afirma que a ideia inicial de dignidade da pessoa humana teve por base as referências do cristianismo, e conforme sua visão o homem foi criado à imagem e

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semelhança deDeus, o que quer dizer que somos parecidos com Deus. Conclui por formar o conceito de que o ser humano, e não só os cristãos, são beneficiados de valor pessoal e íntimo, e que jamais poderão servir de meio para alguém, por ser um fim em si mesmo não podendo ser tratados como objetos.

Na concepção de Morais, Alexandre (2003, p. 41) a dignidade da pessoa humana:

[...] A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.

Destarte, o autor explica que a dignidade da pessoa humana, por ser algo ligado à pessoa tem valor espiritual e moral que é próprio de cada ser humano, tal princípio esta previsto em lei devendo ser assegurado o respeito que todas as pessoas merecem, por parte de todos os envolvidos.

O princípio da dignidade da pessoa humana está previsto na Constituição Federal, como sendo princípio fundamental, passando o ser humano, a ser um ponto principal do direito e da sociedade. Razão pela qual, estabeleceram juntamente direitos e garantias a todos os seres humanos. Portanto, com a consagração dos direitos do homem, como pessoa humana, este deve ter sua dignidade respeitada acima de tudo e de todos.

Sarlet (2012, p. 50) destaca sobre a dignidade:

A dignidade da pessoa humana é uma qualidade tida como inerente ou, atribuída a todo e qualquer ser humano, de tal sorte que a dignidade passou a ser habitualmente definida como constituindo o valor próprio que identifica o ser humano como tal, definição esta que, todavia, acaba por não contribuir muito para a compreensão satisfatória do que efetivamente é o âmbito de proteção da dignidade, na sua condição jurídico-normativa.

Conforme, evidencia Sarlet não restam dúvidas de que a dignidade é algo que pertence a cada ser humano, existe e é real. O autor afirma que estamos a nos deparar com um conceito em permanente processo de construção e desenvolvimento, contudo, não significa que se deva renunciar à busca de uma fundamentação e legitimação da noção de dignidade da pessoa

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humana. Pela sua relevância, não se abandona assim a tarefa constante de conceituá-la para que sirva de referência e concretização.

O princípio da dignidade da pessoa humana está previsto no artigo 1º, inciso III da CF/88:

Art. 1º: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

[...]

III - a dignidade da pessoa humana. [...]

O Princípio da dignidade é de grande relevância para todos, também está previsto em outros artigos na nossa Constituição Federal. Como por exemplo, no artigo 170, caput, ficou declarado que, quanto à ordem econômica, é assegurado a todos os seres humanos uma existência digna. No artigo 227, também foi assegurado esse direito as crianças e adolescentes. No que tange aos idosos também atribui-se essa garantia, no artigo 230, caput, da CF foi consolidado que “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.”

Nas palavras de Sarlet (2012, p. 76):

[...] Apenas ao longo século XX e, ressalvada uma e outra exceção, tão somente a partir da Segunda Guerra Mundial, a dignidade da pessoa humana passou a ser reconhecida expressamente nas Constituições, notadamente após ter sido consagrada pela Declaração Universal da ONU de 1948.

Sendo assim os princípios previstos no artigo primeiro da CF/88 têm influência da Convenção Americana Sobre os Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969, Convenção que foi promulgada pelo Decreto Presidencial nº 678 de 6 de novembro de 1992.

A Convenção Americana Sobre os Direitos Humanos consagrou vários direitos civis e políticos, mas em especial trouxe o reconhecimento à dignidade da pessoa humana em seu artigo 11, que destaca:

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1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade.

2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, na de sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação.

3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas.

Com a promulgação da Emenda Constitucional 45/2004, os tratados referentes aos direitos humanos começaram a vigorar e foram equiparados às normas constitucionais.

Importante destacar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos exerceu uma grande influência no mundo inteiro, sendo aprovada pela ONU em 10 de dezembro de 1948, apontando algumas condições que devem ser atendidas para que a dignidade da pessoa humana seja respeitada.

O princípio da dignidade da pessoa humana está ligado a cada ser humano e aos direitos e deveres fundamentais que garantem condições dignas de bem estar para todos os seres humanos, pois a dignidade da pessoa humana tem valor supremo e deve ser garantida pelo Estado e respeitado por todos, por ser um valor individual de cada indivíduo.

No entendimento de Barroso (2009, p. 336) o princípio da dignidade:

O princípio da dignidade da pessoa humana identifica um espaço de integridade moral a ser assegurado a todas as pessoas por sua só existência no mundo. É um respeito à criação, independente da crença que se professe quanto à sua origem.

Desse modo, a dignidade é condição da pessoa simplesmente por sua existência no mundo, em respeito à criação.

Sobre a dignidade da pessoa humana também Sarlet (2012, p. 52) leciona:

Na tentativa, portanto, de rastrear argumentos que possam contribuir para uma compreensão não necessariamente arbitrária e, portanto, apta a servir de baliza para uma concretização também âmbito do Direito, cumpre salientar, inicialmente e retomando a ideia nuclear que já se fazia presente até mesmo no pensamento clássico – que a dignidade, como qualidade intrínseca da pessoa humana, é irrenunciável e inalienável, constituindo elemento que qualifica o ser humano como tal e dele não pode ser destacado, de tal sorte que não se pode cogitar na possibilidade de determinada pessoa ser titular de uma pretensão a que lhe seja concedida a dignidade.

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Constata-se, que a dignidade por ser algo próprio, inerente da pessoa humana não podendo ser renunciada e nem dado em garantia por ser uma especificidade de cada ser humano. Desta forma a dignidade aparece como sendo algo extremamente relevante para cada um, uma vez que sem ela uma pessoa perderia algo muito importante, sua identidade interior.

Feitas essas considerações a respeito da dignidade da pessoa humana, conclui-se esta seção deste estudo e passa-se para uma abordagem sobre o direito à liberdade no trabalho: O contraponto ao trabalho escravo e a permanência forçada.

1.4 O direito a liberdade no trabalho: O contraponto ao trabalho escravo e a permanência forçada

A liberdade de modo geral entende-se como o direito de agir de acordo com a exclusiva vontade, ou seja, de não sofrer interferências de qualquer modo ou no exercício de uma atividade, por exemplo, é atuar conforme lhe convém, desde que não acometa o direito de outrem, é sentir-se livre definitivamente sem necessitar de alguém para ter a liberdade concretizada.

Assim contempla Dallari (2004, p. 42 - 43):

A Declaração dos Direitos Humanos diz que todas as pessoas nascem livres. A mesma coisa foi dita por muitos filósofos e estudiosos da natureza e do comportamento dos seres humanos. [...], pois quer dizer que a liberdade faz parte da natureza humana. Por esse motivo o direito a liberdade não pode ser tirado dos seres humanos, porque sem liberdade a pessoa humana não esta completa. Para que se diga que uma pessoa tem o direito de ser livre, é indispensável que essa pessoa possa tomar suas próprias decisões sobre o que pensar e fazer e que seus sentimentos sejam respeitados pelas outras. [...] Mas o direito de ser livre não deve ser limitado apenas ao pensamento e ao sentimento das pessoas. É preciso que também em assuntos de ordem prática, naquilo que as pessoas fazem em sua vida diária, esse direito seja respeitado.

Portanto destaca-se que a liberdade é essencial para vida do ser humano, uma vez sem essa liberdade a pessoa se tornaria incompleta. A liberdade faz parte da vida de cada ser humano, em sentido amplo não se pode limitá-la, mas sim ser preservada e respeitada. Desse modo, o direito de liberdade nada mais é do que reconhecimento de que o indivíduo possui autonomia de vontade a qual se manifesta na possibilidade de querer ou não alguma coisa.

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Para Borges, (2015):

A liberdade é o fundamento da dignidade humana. Perante alguém livre, impõe-se o respeito [...] o ser humano não é coisa, não é meio, por isso, não tem preço. Embora a liberdade humana seja finita e sempre em situação, a pessoa pertence ao reino dos fins. Immanuel Kant viu isso bem: as coisas têm um preço, porque são meios; o homem não é meio, mas fim e, por isso, tem dignidade. A dignidade co-implica direitos fundamentais, que se impõe reconhecer. As constituições democráticas reconhecem direitos fundamentais, inalienáveis, não os concedem.

Desse modo, pelo fato do ser humano não ser considerado meio, constata-se que para o mesmo alcançar sua dignidade é fundamental que ele seja independente, e como a independência subentende a liberdade através do agir, ser livre. Somente dessa maneira o ser humano atingirá a moralidade e, posteriormente, a dignidade como pessoa humana.

A Constituição Federal de 1988 no caput do artigo 5º evidencia garantias para todos os indivíduos. “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.” [...] entre vários dispositivos que garantem a liberdade em todos os sentidos. (BRASIL, 1988).

a) a liberdade da manifestação de pensamento (artigo 5º, inciso IV e V), uma vez que é vedado o anonimato;

b) a liberdade de consciência, crença e culto (artigo 5º, inciso VI a VIII), sendo que ninguém será privado de direitos por motivos de crenças religiosas, bem como, é assegurado o livre exercício de cultos religiosos, liberdade de consciência e crença;

c) a liberdade da atividade intelectual, artística, científica, ou de comunicação e indenização em caso de dano (artigo 5º, IX e X), sendo vedado qualquer tipo de censura de natureza política, ideológica, artística;

d) liberdade de profissão (artigo 5º, XIII), pois é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. Trata-se, portanto, de norma constitucional de eficácia contida, podendo a lei

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infraconstitucional limitar o seu alcance, fixando condições ou requisitos para o pelo exercício da profissão;

e) liberdade de informação (artigo 5º, XIV e XXXIII), aqui se fala sobre o direito de informar e de ser informado, uma vez que é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte quando necessário ao exercício profissional;

f) liberdade de locomoção (artigo 5º, XV e LXI), a locomoção no território nacional em tempo de paz é livre, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. Esse direito poderá ser restringido na vigência do estado de defesa, e de sítio;

g) direito de reunião (artigo 5º, XVI), garante-se o direito de reunião, de forma pacífica, em armas em locais abertos ao público, não sendo necessário a previa autorização do poder público;

h) direito de associação (artigo 5º, XVII, XVIII, XIX, XX e XXI) é permitida a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a associação de caráter paramilitar. Ninguém poderá sem compelido de se associar, e uma vez associado, será livre também para decidir se permanece associado ou não (LENZA, 2008).

No entanto, percebe-se, que muitas vezes a liberdade pode ser restringida, pois dos direitos garantidos supracitados, praticamente nenhum é absoluto, existem ressalvas quando à sua aplicação. Mesmo, com tantos dispositivos que asseguram a liberdade, várias classes sociais, incluindo o trabalhador, muitas vezes tem o direito de liberdade suprimido, ou seja, desrespeitado como ser humano.

Assim, a Convenção 29 da OIT define o trabalho escravo em seu artigo 2º:

1. “Para os fins da presente convenção, a expressão trabalho forçado ou obrigatório designará todo trabalho ou serviço exigido de um indivíduo sob ameaça de qualquer penalidade e para o qual ele não se ofereceu de espontânea vontade.” (OIT, 2017).

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Para Rios (2017) o trabalho escravo:

[...] Seria qualquer trabalho que não reúna as mínimas condições necessárias para garantir os direitos ao trabalhador, cerceie sua liberdade, avilte sua dignidade, o sujeite a condições degradantes, inclusive com relação ao meio ambiente de trabalho. No Brasil o trabalho escravo advém do trabalho degradante com a privação de liberdade, onde o trabalhador em muitos casos fica atrelado a uma dívida, tem seus documentos retidos, trabalha em lugares geograficamente isolados. A degradação vai desde o constrangimento físico e/ou moral a que é submetido o trabalhador, alojamentos sem condições de habitação, falta de instalações sanitárias, falta de água potável, péssimas condições de trabalho e remuneração, ausência de condições de segurança do trabalho, jornadas exaustivas, promoção de endividamento pela venda de mercadorias, remuneração irregular, dentre outros.

Destarte, pode se afirmar que o trabalho escravo é uma grave violação de direitos humanos, que tem levado muitos seres humanos a serem explorados e submetidos a condições desumanas, causando o enriquecimento ilícito de outras.

Trabalho forçado segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2017):

O trabalho forçado é um fenômeno global e dinâmico, que pode assumir diversas formas, incluindo a servidão por dívidas, o tráfico de pessoas e outras formas de escravidão moderna. Ele está presente em todas as regiões do mundo e em todos os tipos de economia, até mesmo nas de países desenvolvidos e em cadeias produtivas de grandes e modernas empresas atuantes no mercado internacional. Acabar com o problema exige não só o comprometimento das autoridades dos governos, como também um engajamento multifacetado de trabalhadores, empregadores, organismos internacionais e sociedade civil.

O Trabalho forçado está presente em todo o mundo, e para acabar com esse problema é necessário maior envolvimento por parte do Estado, trabalhadores, empregadores e da sociedade em geral, cada um fazendo a sua parte, para alcançar eficácia no sentido de acabar com esse tipo trabalho.

Conforme o entendimento de Rios (2017) o trabalho forçado:

O trabalho forçado seria o exigido sob ameaça de qualquer penalidade e para o qual o trabalhador não se ofereceu espontaneamente. O trabalhador não pode decidir sobre sua aceitação e sua permanência, mesmo inicialmente sendo consentido e depois se tornando forçado. Nele se fere a dignidade da pessoa humana, a liberdade, tirando do trabalhador o seu direito de escolha. Na maioria dos casos as próprias condições de vida do trabalhador já é um elemento coercitivo, como o caso do empregado que é obrigado a permanecer no trabalho para saldar uma dívida seja lícita ou não; em decorrência de violência ostensiva, ameaças, represálias, cerceamento de sua locomoção ou coação.

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Desse modo, o trabalho forçado se refere a situações em que as pessoas são coagidas a trabalhar através do uso de violência ou intimidação, ou até mesmo por meios mais sutis, como a servidão por dívidas, a retenção de documentos de identidade ou ameaças.

Assim, encerra-se esse capítulo, enfatizando a importância da liberdade como fundamento da dignidade da pessoa humana, feita as devidas considerações e conceito de trabalho escravo, no capítulo seguinte passa-se analisar o trabalho digno, a indústria têxtil e a rescisão indireta.

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2 O TRABALHO DIGNO, A INDÚSTRIA TÊXTIL E A RESCISÃO INDIRETA

Trabalho digno é estabelecer condições para que todo o ser humano obtenha oportunidades de realização pessoal e profissional e ao mesmo tempo, em contrapartida um trabalho digno necessita de uma retribuição, de um ambiente que lhe dê segurança e que desenvolva a integração social.

Para alcançar uma dignidade satisfatória também se faz necessário ter um trabalho digno, o qual permita a pessoa ter uma boa qualidade de vida, satisfazer as necessidades essenciais, ou seja, ter o mínimo de condições de trabalho sem qualquer tipo de constrangimentos, discriminações, independente de sexo, etnia, religião, e ter garantido todos os direitos inerentes à pessoa humana como a estabilidade de emprego, proteção à saúde e segurança social entre outros. Segundo a OIT, o trabalho digno consiste em emprego, direitos, proteção e diálogo, sendo esses componentes necessários para promover melhores perspectivas de progresso social e desenvolvimento.

A indústria têxtil foi uma das primeiras fábricas a surgir na revolução industrial, fato que proporcionou um desenvolvimento no início da mecanização com as máquinas de tear, usadas para formar as tramas dos tecidos, que por sua vez são beneficiadas de tecnologias. Com o desenvolvimento e os avanços tecnológicos que ocorreram nesse período, surge a produção em grande escala, padronizada, acarretando uma nova forma de organização da produção e consumo, e trazendo consigo as mazelas do trabalho em condições indevidas.

No momento em que o trabalho deixa de ser digno o empregado poderá solicitar judicialmente, por rescisão indireta, o fim do contrato de trabalho, e a garantia de seus direitos rescisórios. Isso acontece quando o empregador comete alguma das faltas graves previstas no artigo 483 e incisos da CLT, que gere prejuízo ou desconforto a dignidade do trabalhador.

Feitas essas breves considerações passa-se a analisar o direito ao trabalho digno e sua relevância na vida de cada ser humano.

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2.1 O direito ao trabalho digno

O trabalho digno é um direito de todos os trabalhadores, sendo necessário que o ambiente ofereça condições de trabalho saudável e protegido, pois trabalhar é um direito fundamental que permite a realização pessoal e profissional dos cidadãos, homens e mulheres com oportunidades e garantias iguais.

Dessa forma, tem-se o conceito de trabalho digno segundo a (OIT, 2017):

Resume as aspirações do ser humano no domínio profissional e abrange vários elementos: oportunidade para realizar um trabalho produtivo com uma remuneração equitativa; segurança no local de trabalho e proteção social às suas famílias; melhores expectativas de desenvolvimento pessoal e integração social; liberdade para expressar as suas preocupações; organização e participação nas decisões que afetam as suas vidas; e igualdade de oportunidades e de tratamento para todas as mulheres e homens.

Dentre os objetivos para se alcançar o trabalho digno convém destacar que o ambiente de trabalho é imprescindível, assim como a liberdade e a igualdade entre os trabalhadores devem ser respeitados, pois cada um é sujeito favorecido de autonomia, um trabalho digno reduz as desigualdades e o resultado de um emprego digno colabora para construir e manter a paz

social de todos.

Nesse sentido afirma Dallari (2004, p. 57):

O trabalho permite a pessoa humana desenvolver sua capacidade física e intelectual, conviver de modo positivo com os outros seres humanos e realizar-se integralmente como pessoa. Por isso o trabalho deve ser visto como um direito de todo o ser humano. Mas o trabalho é, ao mesmo tempo, o modo pela qual cada pessoa expressa solidariedade devida às demais pessoas, é o meio através do qual cada um dá a sua retribuição por tudo o que recebe dos demais. Visto desse ângulo, o trabalho é um dever de toda a pessoa humana.

Destarte, o autor supracitado observa que o trabalho proporciona condição ao ser humano de crescer em todas as áreas de sua vida, seja intelectual ou fisicamente, e ainda gera oportunidades de se ter uma convivência coletiva. Afirma também que o trabalho deve ser considerado como um direito fundamental e ao mesmo tempo um dever de todos os seres humanos, pois é também através do trabalho que a pessoa humana consegue se incluir na sociedade.

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Tem-se “o trabalho, como elemento que concretiza a identidade social do homem, possibilitando-lhe autoconhecimento e plena socialização, é da essência humana.” (DELGADO, 2006, p.26).

Conforme o entendimento de Barzotto, Luciane (2017):

Trabalho digno é o que promove a dignidade da pessoa humana trabalhadora. [...]. A dignidade da pessoa humana se expressa na noção de que "o ser humano é sempre um valor em si e por si, e exige ser considerado e tratado como tal, e nunca ser considerado e tratado como um objeto que se usa, um instrumento, uma coisa” e, mais, "tudo o que existe sobre a terra deve ser ordenado em função do homem, como seu centro e seu termo". [...]. Do ponto de vista jurídico, a pessoa é sujeito e fim do direito. O direito protege atributos da personalidade do homem, negando o domínio de uma pessoa sobre a outra. A dignidade humana é pressuposto da determinação do direito, como é também o seu limite, visto que introduz no ordenamento jurídico o respeito recíproco, que restringe a esfera de ação de cada indivíduo. [...]. O trabalho digno é aquele em que há a defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana como trabalhadora. Do ponto de vista da dignidade jurídica, o trabalhador é sujeito de direitos que o protegem na sua autonomia e nas exigências do bem-estar no ambiente laboral.

Sendo assim, percebe-se que também pelo trabalho digno o ser humano desenvolve a sua dignidade que é requisito de definição do direito e respeito, observa que para gozar de um trabalho digno deve haver constantemente a proteção de todos os direitos fundamentais do trabalhador.

Para obter a completa realização da personalidade social de uma pessoa deve haver uma ligação direta com a execução de um trabalho digno e as devidas, ou seja, as mínimas condições para o que seu desempenho seja efetuado com a dignidade que é assegurada a todos os trabalhadores.

Contudo, é importante destacar algumas evoluções que se teve nesse período com o objetivo de proteger os trabalhadores no que diz respeito ao direito trabalho digno, o qual exterioriza as garantias mínimas para a obtenção de uma vida digna de todos os trabalhadores. Destaca-se a Organização Internacional do Trabalho (OIT) que tem por objetivo garantir e proteger os direitos do trabalhador.

(30)

A Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2017) foi criada:

OIT foi criada em 1919, como parte do Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Fundou-se sobre a convicção primordial de que a paz universal e permanente somente pode estar baseada na justiça social. [...] A OIT é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho (convenções e recomendações) As convenções, uma vez ratificadas por decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico.

Nesse sentido, observa-se que é através da OIT que as garantias e direitos fundamentais necessários, para que os trabalhadores possam ter condições de trabalho digno, foram idealizadas. A entidade também serve como fiscalizadora para que essas medidas sejam respeitadas, os trabalhadores consigam desenvolver os seus trabalhos com qualidade e dignidade, pois a OIT é a defensora dos direitos e garantias e interesses dos trabalhadores.

Relevante ainda destacar a Declaração Universal dos Direitos dos Homens - DUDH, que teve seu surgimento no ano de 1948, sendo referência no que diz respeito aos direitos do trabalhador, conforme dispõe em seu artigo 23 que “Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.” (DUDH, 1948).

Ainda sobre a Declaração Universal dos Direitos dos Homens destaca Nascimento que a DUDH, proclama “o direito a condições justas e favoráveis de trabalho, remuneração satisfatória, direito de organização de sindicatos, limitação diária de trabalho, de férias e de seguros sociais.” (NASCIMENTO, 2009, p. 141).

Cabe ressaltar que diante desses marcos relevantes observa-se uma ligação entre eles, nos quais o intuito fundamental é a preservação da dignidade e dos direitos dos trabalhadores, sendo necessário valorizar os trabalhadores para ser possível alcançar o sucesso, conjuntamente com as condições indispensáveis e dignas para obter a realização da função desenvolvida.

Também se faz necessário pontuar que as empresas apresentam um fundamental dever em relação à elaboração do trabalho, tendo em vista que cada empresa deve cumprir com suas devidas obrigações diante de cada trabalhador, fornecendo condições de trabalho digno, acesso a saúde, a segurança entre outras condições essenciais para local de trabalho.

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O trabalho tem um importante papel na vida de cada pessoa, pois é através dele que cada trabalhador vislumbra seus sonhos e objetivos, alcança melhorias em todos os sentidos e contribui para o referenciamento de cada ser humano. Por meio do trabalho cada pessoa conquista uma posição diante da sociedade na qual está inserida.

Nesse sentido é o entendimento de Cecato, (2017):

O trabalho é um dos direitos essenciais. Sua supressão significa também privação de dignidade. Em primeiro lugar, porque o salário dele resultante é o instrumento de acesso às condições materiais indispensáveis a uma vida digna. Em segundo, porque a sua ausência gera sentimento de diminuição moral e repercute na inserção social do trabalhador, visto que se tem disseminada a cultura do trabalho como valor ético e social.

Encerra-se esta seção com destaque a relevância do direito ao trabalho digno na vida do ser humano e consequentemente para a sociedade e ressaltando ainda que os direitos e garantias fundamentais do trabalhador devem ser preservados e respeitados, caso contrário, o trabalhador tem o direito de buscar o fim do contrato por meio de uma das formas de término de contrato de trabalho, o qual se analisa na sequência.

2.2 As formas de término do contrato de trabalho

O contrato de trabalho é um acordo feito entre as partes, um negócio jurídico bilateral entre empregado e empregador através de uma relação de subordinação e de confiança entre ambos, devendo ser respeitados os direitos e deveres de cada parte sob pena de resultar em extinção do contrato de trabalho, conforme a Consolidação das Leis do Trabalho, artigo 442, “Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego.” (CLT).

O conceito de contrato de trabalho para Barros (2011, p. 185, grifo da autora):

O contrato é o acordo expresso (escrito ou verbal) ou tácito firmado entre uma pessoa física (empregado) e outra pessoa física, jurídica ou entidade (empregador), por meio do qual o primeiro se compromete a executar, pessoalmente, em favor do segundo um serviço de natureza não eventual, mediante salário e subordinação jurídica.

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A autora supracitada evidencia que o contrato de trabalho é um acordo de vontades celebradas entre as partes, o qual gera manifestação destinada a gerar efeitos jurídicos, feita o acordo o empregado se compromete a executar o serviço mediante pagamento de salário.

Conforme destaca o autor em seu livro Direito do Trabalho, “A cessação do contrato de trabalho é a terminação do vínculo de emprego, com a extinção das obrigações para os contratantes.” (MARTINS, 2003, p. 341).

Cabe ressaltar que através do contrato de trabalho as partes envolvidas têm entre si direitos e deveres, e em havendo descumprimento de deveres ou violação de alguns dos direitos por falta de observância ocorrerá a término do contrato de trabalho, o qual pode se dar por resilição, resolução, rescisão ou a extinção do mesmo.

Sobre a resilição Barros, (2011, p. 753) destaca:

A resilição do contrato implica a sua terminação, sem que as partes tenham cometido falta. Situam-se entre as hipótese de resilição a despedida sem justa causa, a qual a jurisprudência atribui a natureza de um direito potestativo; a demissão ou saída espontânea do empregado, a aposentadoria por tempo de serviço ou por idade, requerida pelo empregado, o acordo firmado entre as partes, o encerramento das atividades da empresa ou o fechamento de um dos estabelecimentos, voluntariamente.

Desse modo conclui-se que a resilição do contrato é o seu término sem que tenha ocorrido alguma falta, ou seja, é o desfazimento do contrato por uma ou de ambas as partes.

Em se tratando de resolução ocorre o término do contrato quando há culpa de uma ou ambas as partes em relação ao que foi pactuado no contrato de trabalho. “A resolução contratual corresponderia a todas as modalidades de ruptura do contrato de trabalho por descumprimento faltoso do pacto por qualquer das partes [...].” (DELGADO, 2007, p. 1125).

A rescisão contratual é à ruptura do contrato de trabalho por nulidade, como por exemplo, no caso de entidades estatais pactuarem contrato de trabalho sem realizar concurso público ou ainda em contratos, cuja atividade seja considerada ilícita. “A rescisão independe da natureza do contrato e se verifica no caso de nulidade.” (MARTINS, 2003, p. 340).

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Referente à extinção do contrato Barros (2011, p.753, grifo da autora) afirma:

A extinção do contrato, que é a cessação do pacto laboral por circunstâncias alheias à vontade das partes, como morte do empregado, força maior (acontecimento imprevisível para o qual o empregador não concorreu direta ou indiretamente) e implemento de contrato por prazo determinado. O factum principis (fato do príncipe), como modalidade de força maior, poderá ser incluído entre as hipóteses de extinção do contrato de trabalho. Ele traduz todo o ato de autoridade pública que implique alteração nas condições contratuais capaz de impossibilitar a execução do pacto laboral [...]

De acordo com a autora a modalidade extinção do contrato de trabalho, nada mais é que o término do contrato de trabalho por circunstâncias alheias a vontade dos contratantes, com é o caso de falecimento do empregado e também pelo motivo de força maior, o chamado de fato do príncipe que é ato de autoridade pública.

Feitas essas explanações a respeito das formas de término do contrato de trabalho aborda-se o direito ao término do contrato pelo trabalhador, quando por ato do empregador, no caso, e o estudo empregadores do ramo têxtil, denominado de rescisão indireta.

2.3 O direito ao término do contrato do trabalho pelo trabalhador, a rescisão indireta

Frente às distintas formas de extinção do contrato de trabalho já mencionadas, o empregado inconformado com a postura do empregador que incorrer em algumas das infrações elencadas no artigo 483 da CLT, gerando prejuízo ou desconforto a dignidade do empregado, poderá por fim na relação empregatícia por meio da rescisão indireta.

No que se refere ao conceito de rescisão indireta Martins (2003, p. 362) afirma:

A rescisão indireta é a forma de cessação do contrato de trabalho por decisão do empregado em virtude de justa causa praticada pelo empregador (art. 483 da CLT) [...] A única maneira de se verificar a justa causa cometida pelo empregador é o empregado ajuizar ação na Justiça do trabalho, postulando a rescisão indireta de seu contrato de trabalho.

Destaca o autor que a rescisão indireta do contrato de trabalho é de iniciativa do empregado em relação ao empregador quando esse praticar algum ato faltoso dos que estão previsto no artigo 483 da CLT.

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Nesse sentido é o entendimento de Nascimento (2009, p. 407):

O conceito de rescisão indireta em nosso direito não é difícil, entendendo se como tal a rescisão do contrato de trabalho por decisão do empregado, tendo em vista justa causa que o atingiu praticada pelo empregador (CLT, art. 483). Impõe-se a imediata ruptura do vínculo, o que equivale à necessidade de cessar o trabalho por ato do empregado. A CLT não prevê forma para esse ato. Pode traduzir-se em comunicação verbal ou escrita. Pode nem haver comunicação, mas simples afastamento do serviço, com um risco. O empregador não terá ciência oficial do motivo que levou o empregado a deixar de trabalhar. Interpretará suas ausências como quiser, inclusive como abandono de emprego. Portanto convém que o empregado faça uma comunicação de alguma forma. Terá o direito a reparações econômicas. Dificilmente o empregador reconhecerá que praticou contra o empregado justa causa. Assim, é parte complementar e indispensável da figura o processo judicial para a definição dos fatos e decisão da justiça do Trabalho. O emprego, qualquer que venha a ser a sentença judicial, estará determinado. Tudo quanto se discutirá no processo serão as reparações econômicas. Julgada improcedente a ação, o empregado não às terá.

Conforme evidencia o autor citado a cima em havendo algum ato faltoso praticado pelo empregador em relação ao empregado, este poderá dar fim na relação de emprego por meio da rescisão indireta que deverá ser pleiteada por ação judicial na Vara de Trabalho, local em que haverá a elucidação dos fatos e a decisão da justiça, com a sentença favorável terá garantido todos os seus direitos rescisórios.

Os direitos rescisórios do empregado conforme Delgado (2007, p.1224):

No contexto desse processo, por meio de sentença prolatada, é que irá firmar-se a data de resolução culposa do contrato como o consequente pagamento das verbas rescisórias que lhe são próprias: aviso prévio, com projeção no período contratual; férias proporcionais com 1/3; 13º salário proporcional; liberação do FGTS, com acréscimo pecuniário de 40% em favor do empregado; indenizações rescisórias especiais se houver. Tudo isso acrescido das parcelas já vencidas anteriormente à ruptura (férias vencidas, com 1/3) ou cujo vencimento foi antecipado com a rescisão (férias simples, saldo de salário, etc.) se for o caso.

O autor deixa claro, evidenciados os direitos que o empregado recebe com a efetivação da rescisão indireta como tivesse sido demitido imotivadamente.

Na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) está previsto:

Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; c) correr perigo manifesto de mal considerável; d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato; e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama; f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;

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g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários. § 1º - O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o contrato, quando tiver de desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a continuação do serviço. § 2º - No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é facultado ao empregado rescindir o contrato de trabalho. § 3º - Nas hipóteses das letras "d" e "g", poderá o empregado pleitear a rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizações, permanecendo ou não no serviço até final decisão do processo.

Baseado num viés da proteção do empregado, o qual se apresenta como parte mais frágil na seara laboral, entende-se que a nossa Constituição e a CLT, se encarregaram de dar garantias fundamentais, ou infraconstitucionais.

Assim a esse respeito observa Giglio, Wagner (1996, p. 372):

Para justificar a rescisão contratual por iniciativa do empregado, o ato faltoso praticado pelo empregador deve ser grave, a ponto de tornar insuportável a manutenção do vínculo empregatício. Isso é tanto mais verdade quando se sabe que o emprego, regra generalíssima, é o único meio de subsistência do empregado: para se dispor a perdê-lo, deve o trabalhador se encontrar diante de uma situação sem alternativa.

Como observa o autor, somente em últimos casos o trabalhador irá pedir a rescisão indireta porque ao mesmo tempo em que ele usa do direito, estará abrindo mão de seu emprego, algo tão valioso para o trabalhador. Percebe-se então a gravidade da situação em si, pois só tomou a decisão porque outra certamente não haveria de ser tomada.

Desse modo está demonstrada a rescisão indireta do contrato de trabalho, possibilidade acessível ao trabalhador quando o empregador lhe impõe condições indevidas ou insuportáveis. No estudo em questão observa-se que é possível que os trabalhadores da Indústria Têxtil, cujas condições de trabalho serão objeto de análise a seguir, utilizem-se desse expediente quando enquadrados em situação de perda do emprego. Por outro lado faz-se necessário destacar que além da dificuldade que se impõe pela necessidade de abdicar do emprego, existem muitos trabalhadores, quando na condição análoga a de escravo, não conhecem e não procuram seus direitos.

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2.4 As condições de trabalho na indústria têxtil brasileira

A indústria têxtil é um dos ramos da economia que mais cresce no Brasil, o setor têxtil gera muitos empregos e mais de 80% da produção ocorre utilizando-semão de obra brasileira, segundo associação brasileira da indústria têxtil, 75% da mão de obra é feita por mulheres (GALILEU, 2017).

“A indústria têxtil vive um ambiente extremamente competitivo depois da liberalização econômica da década de 1980, pressionada pelos baixos preços praticados internacionalmente, especialmente pelos produtos chineses.” (SENADO, 2017).

Conforme a Revista Galileu (2017):

De acordo com informações da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), quase 85% do vestuário consumido no país é produzido por fábricas instaladas aqui mesmo. Com faturamento de US$ 55,4 bilhões em 2014, o Brasil é o quarto maior produtor de roupas do mundo, gerando 1,6 milhão de empregos [...].

Salienta-se que na atividade têxtil o desrespeito à legislação trabalhista é significativa, inclusive com relatos de casos em condição análoga ao de escravo, demonstrado através da mídia gerando impacto na sociedade. Algumas vezes são casos de trabalhadores imigrantes em busca de melhores condições de vida se sujeitam a situações degradantes e de humilhação.

Assim evidencia Mattos (2015):

Nos últimos anos a imprensa começou a relatar casos de trabalho escravo em diversos setores da economia, utilizando de mão de obra de países vizinhos como a Bolívia. A indústria têxtil é um dos setores da economia que mais crescem no país, além de viver em ambiente competitivo devido ao baixo preço praticado no mercado internacional. Além disto, a crise econômica gerou a imigração para o Brasil, especialmente para São Paulo, onde esses imigrantes são explorados na indústria têxtil.

Como exemplo disso, a imprensa tem relatado casos de trabalho escravo em diversos setores da economia, evidencia que a indústria têxtil tem se utilizado de mão de obra de países vizinhos como é o caso de bolivianos que são explorados nesse ramo de atividade.

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