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DE ALEXANDRIA AO CAIRO. PRÁTICAS ERUDITAS. Por uma nova história urbana.

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3 . D E A L E X A N D R I A A O C A I R O . P R Á T I C A S E R U D I T A S E I D E N -T I F I C A Ç Ã O D O S E S P A Ç O S N O F I N A L D O S É C U L O X V I I I *

\ . No início de 1787, uma obra de Volney intitulada Voyage en Syrie et

en Egypte] foi publicada em Paris, com aprovação e privilégio real.^b livro foi

um sucesso imediato2. Como quase sempre, ignora-se o número de exemplares

distribuídos, mas a edição de 1787 teve duas novas tiragens, em 1789 e 1790, e uma reedição em 1792. Publicou-se uma terceira edição, revista e ampliada, em 1799, por ocasião da expedição francesa ao Egito, e houve duas outras edições ainda em vida do autor, em 1808 e 1820. O livro foi traduzido para o inglês em 1787, para o alemão em 1788, para o holandês em 1789, para o ita-liano em 1799.

A edição francesa de 1799 acrescentou peças novas ao texto revisado da

Voyage: a tradução de dois manuscritos árabes inéditos, um quadro do

comér-* "D'Alexandrie au Caire. Pratiques savantes et identification des espaces à la fin du XVIII1 siècle". O original em francês foi enviado à organizadora desta coletânea antes que fosse publicado em italiano em 1995, sob o título "In Prescnza dei Luogo Stesso... Praticlie Dottc e Idcntificazione degli Spazi alia Fine dei XVIII Secolo", em Quaderni Storici, 3, dez. 1995.

1. M . C. F. Volney, Voyage en Syrie et en Egyptependant les années 1783, 1784 et 1785, Paris, 1987, 2 vols.

2.J. Gaulmier, 1'idéologueVolney, 1757-1820. Contribution à ihistoire de l'orientalhme en Frnnce, Beirute, 1951 (reimpressão em Genebra, 1980).

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cio oriental extraído dos registros da câmara do comércio de Marselha, as

Considérations sur la guerre entre les Russes et les Turcs publicadas por Volney em

1788/Associando relato de viagem, filologia, estatística do comércio e reflexões que hoje seriam consideradas de natureza geopolítica, esse livro apresenta uma configuração editorial cuja estranheza nos chama a atenção/o conhecimento do Oriente, na virada dos séculos XVIII e XIX, organiza-se de acordo com modali-dades que não são as de agora3/í>ara o autor, o editor e os leitores que, segundo

o testemunho da Décade Philosophique, logo esgotaram a edição por sua atuali-dade política, esses textos voluntariamente reunidos fazem sentido juntos.

A mesma proposição valeria para cada peça, isoladamente, e em particu-lar para a Voyage, que é a principal delas? De início, nem parece necessário fazer essa pergunta. Voltemos à edição de 1787. Guidi, o censor encarregado de ler o manuscrito de Volney para conceder a autorização real para impressão, escreve-ra, em 1783, Lettres contenant le journald!un voyage à Rome. Na qualidade de entendido, assim ele julga o livro de seu confrade: "o autor parece-me não haver nada negligenciado para conhecer bem o país que descreve. Creio que essa obra interessará tanto pelos detalhes curiosos que contém quanto pelo tom de verda-de com que foi escrita"^Conhecer bem é verda-descrever; verda-descrever é verda-desenvolver um discurso verídico em que as curiosidades, além de suscitarem interesse, consti-tuem o conjunto do espaço exótico. Dessa forma, o mérito do relato de viagem reside na força de evidência que ele manifesta4. Se obtém adesão, não há mais

nada a dizer. Organizado como quadro de fatos reais, desafia o comentário, convida à reprodução, fornece todos os elementos necessários e suficientes para

3. É o que não percebe, apesar da utilidade de suas análises, H. Laurens, Les origines intellectuelles deiexpédition d'Egypte. Lorientalisme islamisant en France, 1698-1798, Istambul e Paris, 1987.

4. B. Lepetit, "Voyages en France", em O. Mareei (dir.), Composer le paysage. Construetions et crises de 1'espace (1789-1992), Paris, 1989, pp. 111-130.

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um saber positivo sobre o mundo. Mesmo que a força heurística das descrições geográficas hoje pareça esmaecida, o expediente da Voyagenão se caracteriza pela singularidade: conhecer o Oriente ainda é fornecer a respeito dele imagens ve-rossímeis./

/^Deveríamos acreditar, por causa disso, que o livro de Volney nos mos-tra a verdadeira condição do Egito e do Levante no fim do século XVIII, quando as potências européias se interrogavam sobre a oportunidade de uma intervenção militar? Rejeitamos o que há muito tempo nos parece fraqueza ou - ingenuidade. A desconfiança é tão velha quanto o relato de viagem cuja vera-c i d a d e é relativa aos meios de informação, à saeavera-cidade e ao interesse do

ii viajant eJf

//Talvez se tenha na lembrança o quadro que abre a Voyage en Egypte et en

Syrie: ele pinta a cidade de Alexandria em que Volney acaba de desembarcar no

início de janeiro de 1783. A emoção impera. Mal o viajante desce em terra, uma "profusão de objetos desconhecidos o assalta por todos os seus sentidos... Nesse tumulto... Seu espírito está nulo para a reflexão". A reflexão analítica, a que ele se entrega quando já instalado, a respeito do "ar geral de miséria que ele vê nos homens e o mistério que ronda as casas", tem curta duração: o vasto terreno todo coberto de ruínas que se percebe por trás da cidade moderna logo atrai seus passos. Então, de novo, o sentimento o arrebata, e o viajante "experimenta uma emoção que freqüentemente leva às lágrimas, ou que dá lugar a reflexões cuja tristeza invade tanto o coração quanto sua majestade eleva a alma"5^(Essas

poucas linhas abrem para a crítica dois caminhos iniciais. Um deles, percorrido sobretudo pela análise literária, sublinha os aspectos pré-românticos de uma

5. Volney, Voyage en Egypte et en Syrie, publicado com introdução e notas de J. Gaulmier, Paris, 1959, pp. 25-26 (as citações seguintes da Voyageloram feitas a partir dessa edição, que retoma o texto de 1799).

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parte que conjuga o pitoresco do bazar e a melancolia das ruínas. O outro, destacando o princípio de seleção dos detalhes que fazem sentido (trata-se do animado debate que se trava na Europa sobre o despotismo oriental), conduz à denúncia da ideologia que sustenta um texto por ela transformado numa das armas do imperialismo europeu6^Volney apresenta-se como um sábio

inteira-mente ocupado em descrever o estado do mundo? Então ilude a si mesmo, ou engana seu leitor; aliás, todos os índices concorrem para fazer dele um agente secreto do ministro francês das Relações Exteriores7.

vl)

/Jk apreciação oscila, assim, entre dois extremos. Ou a Voyage, em sua

impessoalidade quase opressora, é o lugar de registro puro e simples da evidên-cia do mundo - sobre o relato de viagem não há nada a dizer - % u então essa evidência, sendo governada pelos cânones literários ou pelas categorias da ideo-logia, é pura ilusão - sobre o Egito e a Síria, a Voyage não permite dizer nada que seja verdadeiro. No primeiro caso, a verdade da representação reveste-se com a transparência do método; no segundo, ao contrário, o objeto desaparece nas sinuosidades de sua descrição. '/

/A análise que segue repousa em proposições um pouco diferentes. As representações do mundo não são projeções, mais ou menos boas ou mais ou menos fiéis, de realidades que se encontrariam por trás delas". Isso é um postur

lado. Ele implica que o problema de saber o que era o verdadeiro Egito nos anos de 1780 admite um grande número de soluções: a Voyage de Volney é uma delas.// /Eis agora duas hipóteses. A primeira é que os procedimentos de elaboração das

6. E. Said, Orientalism, New York, 1978. (N. da Org.: trad. port., Orientalismo, São 1'aiilo, Companhia das Letras, 1990).

7. J. Gaiilmier, 1951.

8. M. Merleaii-1'onty, Le visible etJ'invisible, Paris, 1964, pp. 279-280.

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diferentes formas de memórias descritivas só são transparentes porque não sabe-mos percebê-los. Buscaresabe-mos na descrição de Alexandria feita por Volney os elementos para apoiar essa hipótese. A secunda é que os procedimentos não são homogêneos e que sua heterogeneidade está na origem das características atri-buídas ao mundo. Tentaremos demonstrá-lo deslocando ligeiramente o lugar de observação (de Alexandria ao Cairo e da Voyage en Egypte et en Syrie à Description

de 1'Egypte) e organizando a análise a partir da questão de que nos ocupamos

aqui: a do espaço/

/2. Da descrição de Alexandria contida em algumas poucas folhas (sete parágrafos, no total), pode-se retirar todas as indicações esperadas, em vários registros, de um saber positivo sobre o mundo'. A extensa planície de areia, as palmeiras como guarda-sóis, o alinhamento dos tetos em plataforma, as setas dos minaretes: eis os elementos de uma paisagem em que as horizontais domi-nam. Em terra, o viajante é confrontado com a multidão. Tipos humanos defi-nidos por sua linguagem, seu traje e sua fisionomia, cenas de rua - os camelos transportadores de água, os balcões do mercado, os cães errantes, esse "cavaleiro de pantufas" montado num asno selado e esses "fantasmas ambulantes" que são as mulheres - compõem um quadro agressivo inscrito nos registros da estranhe-za, da feiúra e da miséria. Ainda encontramos aí, exceto pelos produtos envolvi-dos nas transações, os elementos de uma geografia comercial: a situação da cidade nas correntes de troca de raio amplo, as características e os perigos dos sítios denominados Porto Novo, destinado aos cristãos e varrido por tempesta-des, e Porto Velho, reservado aos muçulmanos e atulhado de destroços^

9. Volney, 1959 (1799), pp. 25-28.

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Mas o quadro da cidade, explicitamente iniciado como uma cena a cons-truir, inscrita no vocabulário do "espetáculo" (a palavra é empregada três vezes), do "efeito" (duas vezes) e do "pitoresco" (uma vez), completa-se no registro da precisão requerida. Então, enumera-se (as perdas de navios ancorados, por causa das tempestades; os canhões que defendem o farol; os janízaros que compõem a guarniçâo) e mede-se (a extensão do canal que abastece a cidade com água doce)/ /Como foram destacados os efeitos de estilo e as cenas^e gênero, seria fácil

apontar os interesses que estruturam essas abordagens. O primeiro é o debate teórico sobre a natureza e os efeitos do despotismo, em relação ao qual se interpretam tanto as cores sombrias da cidade - "o ar geral de miséria que ele vê nos homens e o mistério que ronda as casas já o fazem suspeitar da rapacidade da tirania"10 - quanto o mau estado dos equipamentos portuários - "é do

espírito turco arruinar os trabalhos do passado e a esperança no fyftiro; porque, na barbárie de um despotismo ignorante, não existe amanhã""/A~avaliaçâo das possibilidades de um desembarque é a segunda questão de que o texto constitui a resposta: fácil de invadir, a cidade seria difícil de dominar^k^as é o vestígio "dos modelos de conhecimento utilizados que eu procuro, e não o das

problemá-ticas em que a imagem de Alexandria se insere. Pode-se reconhecer aí dois modelos, e dos mais bem estruturados, entre os que se apresentavam no final do século XVIII./

/3. "Sem o tempo, não se pode julg ar sadiamente; pois o primeiro aspecto dos objetos novos nos surpreende e lança a desordem em nosso espírito; é

10. Ibid., p. 26. 11. Ibid., p. 28.

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preciso esperar que o primeiro tumulto seja acalmado, e é preciso voltar mais de -uma vez à observação para assegurar-se de sua justeza. Ver bem é uma arte que requer mais exercício do que se pensa." Ver bem_e reportar o que se viu- o méiodo tle Volney é baseado na observação direta. Às falsas imagens pintadas pelos relatos enganadores, ele opõe a experiência sensorial do mundo12. Toda a

descrição de Alexandria é conduzida do ponto de vista do observador que se desloca, desembarcando, percorrendo as ruelas da cidade moderna, contornando as ruínas, deixando a cidade pelo canal. Poucos sons, nada de odores: a visão é de longe, o sentido mais solicitado, e o quadro de Alexandria é desenhado com base no ponto de vista do olho que observa (limite à impessoalidade - aliás mal compreendida pela maioria dos comentaristas - da Voyage de Volney). Olho pouco sensível às cores (encontram-se aqui apenas três, que destoam porque estão concentradas em poucas palavras: povo "escuro", camisa azul, cinto ver-•melho), mas atento às formas, à individualização delas, a sua dimensão, a sua

enumeração, a sua caracterização comparada. A lógica do quadro é a do inventá-rio dos obieroi g.ue.nele se agrupam, a de uma física do mundo/

/Em 1749,

Étienne Bonnot de Condillac havia publicado o Traité des

systèmes. Ele denomina sistema a disposição das diferentes partes de uma arte ou

de uma ciência, disposição tal que todas as partes se sustentam mutuamente e que o valor das conclusões depende do valor dos princípios. Apologia do méto-do experimental, o Traité distingue três tipos de princípios: as abstrações, as hipóteses e os fatos, e sustenta que os únicos sistemas verdadeiros são os que se elaboram com base em fatos. No volume intitulado "Art de raisonner" do Conrs

d'éti(despour 1'instruction du Prince de Parme, publicado em 1776, desenvolve a

12. S. Moravia, UPemiero âegtí ldeolagues. Scieuza e Filosofia en Francia (1780-1815), I lorcnça, 1974, estuda agudamente o método volneiano de acesso à realidade (pp. 594 et seqq).

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mesma epistemologia e conclui: "a evidência de fato, Excelência, fornece todos os materiais desta ciência que se denomina física e cujo objeto é o tratamento dos corpos"13.

/Volney tem o mesmo objetivo: contribuir para a elaboração de uma espé-cie de física dos e s p a ç o s sociopolíticos. Seu método, que ele explicitará nas

Questions de statistiques à 1'usage des voyageurs, escritas em 1795 a pedido do

governo da República, baseadas em sua experiência oriental, é indutivo. Ele conduz da acumulação das observações precisas, reunidas a partir de um

ques-tionário que faima um_sjstema, e de^sua comparação, para um conhecimento verdadeiro: "o ministério decidiu reunir um número de fatos bastante grande para retirar de sua comparação, maduramente meditada, sejam verdades novas, seja a confirmação de verdades conhecidas, seja enfim a refinação de erros come-tidos"1,4 .//Uma epistemologia sustenta esse método para observar e descrever o

mundo. Ela atribui qualidades particulares aos objetos por conhecer e aos sujei-tos conhecedores. Os objesujei-tos são homogêneos, o que significa que pertencem à mesma realidade, unitária e material, mas são também fragmentos dessa realida-de, independentes uns dos outros. Os sujeitos são privados de qualquer acesso intuitivo ou sintético ao mundo. Fora de toda metafísica, sua abordagem dos objetos e a elaboração do conhecimento operam-se unicamente por intermédio dos sentidos./^

Disso resulta um método fundado na descrição da aparência sensível das coisas e na decomposição analítica da realidade. A observação sensível encontra sua justificativa na filosofia sensorialista do conhecimento, tal como Condillac a

'• 13. E. Bonnot de Condillac, Traitédes systemes (1749), Paris, 1821 (reimpressão em Genebra, 1970), Ari de rãisontier(\776), Paris, 1821 (reimpressão em Genebra, 1970), citação na p. 57 desta última edição. 14. Questions de statistiques à 1'usage des voyageurs, Paris, ano III, reeditadas com uma introdução, Paris, 1813.

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exprime em 1754, quando, munido apenas da hipótese de domínio dos sentidos, descreve a estrutura lógica das faculdades cognitivas. A reflexão, assim, ou "não é, em seu princípio, mais do que a própria sensação", ou "é menos a fonte das idéias do que o canal pelo qual elas decorrem dos sentidos"15. Quanto à análise,

no fim do século XVIII, é uma chave universal de inteligibilidade (como serão, mais tarde, a evolução, a dialética ou a estrutura). Mascarando diferenças de concepção e de aplicação importantes (em seu sentido mais amplamente aceito, ela é definida como "a decomposição inteira de um objeto e a distribuição das partes na ordem em que a reprodução se torna fácil"16), a análise permite reunir

os saberes na ficção de um paradigma unificado. Espécie de caixa preta intelectual, ela designa, na verdade, em algumas dessas aplicações, um problema mal resolvido: o da relação entre a estrutura do mundo e a estrutura do conhecimento.^

/É preciso ler a descrição de Alexandria que abre a Voyage como uma

.mlir.irnn rianrosa do método. O conhecimento livresco de um esoaco exótico é inicialmente depreciado pela falta da contribuição dos sentidos ("sempre haverá distância entre o efeito sobre o espírito e o efeito dos objetos sobre os senti-dos") e pela falta de um apoio heurístico para a reflexão analítica ("a imagina-ção... é obrigada a reunir os membros esparsos para com eles compor corpos novos; e com esse trabalho prescrito vagamente e feito às pressas, é difícil que ela não confunda as características e não altere as formas'VVolney, por sua vez, em quatro seqüências, faz o contrário: desembarcado em terra, imita a totalida-de do processo cognitivo sensorialista. O primeiro momento da experiência sensível dissolve de imediato a representação livresca sintética da cidade oriental

15. E. UonnotdeConJilIac, TraitéJessem.uiom(\7iA). Paris, 1821 (reimpressão em Genebra, 1970), citação na p. 10.

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de que o viajante dispunha. Disso resulta uma reavaliação instantânea da expe-riência sensível: é pelos sentidos que o mundo impõe, agressivamente, suas características. Realidade global? Não, pois é sob a forma de fragmentos consti-tuídos de objetos individualizados que a realidade urbana se apresenta e que a audição e a visão a apreendem: a descrição enumerativa dos elementos do qua-dro que atingem o olhar forma o terceiro momento desse processo acelerado de aquisição do saber. Um último elo vê recompor-se a totalidade em sua unidade ("um povo magro e escuro"); as formas espontâneas de sua decomposição já haviam permitido a suspeita sobre sua gênese: a violência, a escravidão, a tirania estão em sua fonte//

Não possuímos os cadernos com as anotações feitas por Volney durante a viagem. O texto que temos sob os olhos é o produto de um longo trabalho de escritura. Antes de partir para o Oriente, Volney havia se aproximado, em Paris, do grupo de Holbach e havia freqüentado os salões de Madame Helvétius, dois focos de expressão, naquele momento, da filosofia racionalista e sensorialista. Em seu retorno, foi acolhido em Auteuil na casa de campo de Madame Helvétius e dedicou dezoito meses à redação de seu livro. Neste não se encontram referên-cias senão aos protagonistas do debate sobre o despotismo oriental e a alguns de seus predecessores na viagem ao Oriente. O conteúdo das bibliotecas à disposi-ção de Volney, suas leituras, suas conversas deveriam ser reconstituídos. Nós nos limitaremos, por necessidade, aos índices formais.

/Estes permitem ainda apontar um outro modelo cognitivo utilizado na descrição de Alexandria. As observações (sobre a aparência das mulheres ou sobre a qualidade da guarnição) têm dois estatutos diferentes. De fato, como ^dissemos, duas questões se mesclam: a natureza do regime turco e as

possibili-dades de uma intervenção européia no Egito. O despotismo oriental é uma das chaves da descrição da cidade: constitui a lei dessa física dos povos que explica a

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disposição local, particular, do corpo social//Pelo bom método indutivo, é ao fim da pesquisa que a lei deve aparecer (e o último capítulo da Voyage, o mais longo, "Dos Hábitos e do Caráter dos Habitantes da Síria", é totalmente dedi-cado a isso). Entretanto, o despotismo aparece já nas primeiras páginas, a título de hipótese explicativa. E sua própria presença modifica o estatuto das observa-ções/Elas não se agenciam mais para formar um quadro exaustivo da realidade do mundo, mas como sintoma: o ar geral de miséria denuncia a tirania, assim como a negligência com que são tratadas as instalações portuárias remete à barbárie do despotismo. Dessa forma, se o mundo impõe aos sentidos a evidên-cia dos objetos que o compõem, a descrição pode apoiar-se num princípio seletivo: deve-se buscar menos a exaustividade do que a exemplaridade do traço que constitui indício. Nesse ponto, a um método analítico acrescenta-se um procedimento artístico, porque é também o princípio do pitoresco que retém -de uma paisagem, -de uma cena -de rua ou -de um tipo humano - os -detalhes que fazem sentido no âmago de uma imagem.//

Quando se trata de decidir sobre as possibilidades técnicas de uma intervenção militar, as observações são fornecidas de outro modo. A infor-mação é dada sob a forma muito característica da ponderação. O Porto Novo? Nele sempre se encontram navios, mas a invernada é perigosa. O Porto Velho? Não está sujeito a esse tipo de perigo, mas há duzentos anos o atulham com o lastro das construções. A guarnição? É formada de quinhen-tos janízaros, mas na verdade eles não passam de "operários que só sabem fumar c a c h i m b o " Í O saber positivo assim reunido visa a permitir a

forma-ção do julgamento. Desenha um espaço de deliberaforma-ção preliminar à aforma-ção. Seus elementos não aparecem como índices, mas como dados de um proble-ma que se pode apreciar de forproble-ma quantificativa (quatro canhões defendem o porto) ou qualitativa (os canhoneiros não sabem mirar) e para cuja

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ção se pode contribuir com uma estatística descritiva (sabendo-se que o canal de fornecimento de água doce mede 12 léguas de extensão, que efetivo será necessário para controlá-lo?) ou um cálculo de probabilidade (sabendo-se que, há 16 ou 18 anos, 4 2 barcos ancorados no Porto Velho foram destru-ídos e que nos anos seguintes se perderam 14, 8, 6, qual é a probabilidade, no tempo t, de perder n barcos?). A s observações que constam no texto não são apresentadas como índices, mas como dados pertinentes da questão a ser resolvida. O ideal da descrição, aqui, não é mais a representatividade, e sim a exaustividade com vistas ao problema considerado: esqueça-se de mencio-nar o canal de abastecimento de água, e corre-se o risco de promover em bases erradas um desembarque militar/Pois a decisão final resulta de uma arbitragem entre um benefício (controlar Alexandria) e um custo cujos ele-mentos todos (uma fragata para "reduzir a cinzas" a guarnição, mais n navios para dominar o ancoradouro, mais n soldados para controlar o canal...) precisam ser avaliados a partir das informações fornec i d a s i o modelo cogni-tivo aqui é nitidamente diferente: associando problematização e cálculo num processo de auxílio à decisão, ele resulta de um saber de engenheiro. Essa "inteligência do fazer" toma forma, a partir do século XVI, nos tratados e relatórios para a defesa das praças militares e, a partir do século XVII, nas previsões de despesas e trabalhos redigidas para a lortificação, a construção dos navios de guerra, os canteiros de obras das estradas e dos canais ou a exploração das florestas reais17| Ela é empregada secretamente n u m texto que talvez tenha acompanhado um relatório redigido para o ministério fran-cês das Relações Exteriores.

17. H. Verin, Lagloire des ingénieun. Lmtelligence technique duXVt auXVltt «'«•/<•, Paris, 1993.

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/4. O mesmo cuidado de observação, o mesmo aguçamento do olhar sustenta, portanto, duas formas distintas de apresentação do saber inscritas num mesmo registro do mundo. O olho, que permanece na superfície das coisas, individualiza, registra as qualidades sensíveis, enumera. São os proces-sos de abstração que diferem em suas modalidades. A seleção dos objetos que a descrição retém resulta, no primeiro caso, de uma espécie de sondagem do real. Ela se ajusta ao caminhar na cidade, já que a perambulação aleatória ou planejada do viajante, fazendo no tecido urbano uma espécie de recorte que permite a acumulação de numerosos fatos, dá-lhe acesso aos princípios regula-dores do corpo social. No segundo caso, a escolha das observações resulta do inventário parcial: o mundo não se mostra mais em sua unidade fundamental e em sua diversidade fenomenal, mas de acordo com o princípio de seleção constituído pelo problema a ser resolvido. A primeira atitude inscreve-se numa lógica da olhadela, a ser entendida no sentido literal18, enquanto a segunda é a

do ponto de vista, a ser entendido metaforicamente.

^Cada um desses dois fragmentos de texto poderia ser traduzido em for-mas geográficas diferentes. Ao segundo correspondem as colunas de uma tabela, apresentando à esquerda a lista dos objetos pertinentes e capazes de se desenvol-ver, rumo à direita, até a estimativa das despesas necessárias a uma operação militar bem-sucedida. Reduzida a um custo, a configuração dos espaços desapa-rece. Ao primeiro corresponde um mapa, registrando na superfície plana do papel os deslocamentos do viajante nas ruas da cidade moderna e entre as ruínas: não um mapa mental, mas um mapa da experiência individual de um espaço./

18. M. Quaini, "Appunti per una Archeologia dei 'Colpo d'Occhio\ Mediei, Soldati e 1'ittori alie Origini delTOsservazione sul Terreno in Liguria", em L. Coveri e D. Moreno (dir.), Studi di Etnografia e Dialettologia Ligure in Memória di Hugo l'lomleux, Gênova, 1983.

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Essa representação gráfica, entretanto, não consta no livro. Numa outra escala, apenas a edição de 1959 traz uma representação do trajeto percorrido em 28 meses por Volney no Egito e na Síria - e por obra do editor de então, que realizou uma reconstituição difícil e de resultados incertos (há apenas dois ma-pas na edição do século XVIII: o do paxalato de Alep e um mapa rudimentar do Baixo Egito)^bois motivos explicam esse déficit figurativo.

Nessa metodologia do ver bem, por um lado, os olhares sucessivos não têm por função dar acesso à particularidade dos locais, mas aos princípios da organização social. Bem-sucedida, a viagem em terras já exploradas não tem de exibir as marcas de sua singularidade: o autor busca mais princípios de generalização do que efeitos de realidade. Por outro, a epistemologia materia-lista de Volney estabelece, entre a configuração sensível dos espaços e as regras da física do mundo social, uma correspondência direta. "Assim é para as ques-tões sobre o estado físico de um país, sobre a natureza de suas produções, sobre os alimentos de seu povo e sobre suas ocupações. Há muito tempo, observadores profundos tiveram de reconhecer que todos esses objetos tinham uma forte influência sobre os hábitos, os costumes, o caráter das nações, e por conseqüência sobre a natureza dos governos e sobre o tipo das leis"19. Sendo a legislação política uma expressão das leis naturais, a ordem dos determinantes conduz da configuração dos solos e dos climas à natureza dos governos. Sendo as leis naturais pervertidas, como acontece sob o regime do despotismo orien-tal, a ordem das causalidades se inverte, e a organização sensível do mundo torna-se um vestígio do mau governo. Nos dois casos, a organização do espa-ço (qualquer que seja a definição que lhe seja dada: física, antropológica, eco-nômica...) e a organização da sociedade são exatamente redutíveis uma à

ou-19. Questions destatistiques..., op. cit.

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tra. Dizer uma é dizer a outra, e o mapa é exatamente uma redundância da descrição analítica da sociedade. Portanto ele não tem razão de ser.'

5. Lembremos que o caderno de tarefas que me atribuí comporta um segundo capítulo. Trata-se de uma aplicação particular do programa de análise das tecnologias intelectuais outrora definido por Jack Goody e recentemente retomado por Jean-Claude Perrot a propósito dos dispositivos materiais em que se apóia a invenção da economia política, do século XVI ao XVIII20.-Essa etapa supõe, para que se analisem seus efeitos, uma articulação mais complexa das modalidades diversas de representação do mundo. O breve episódio da expedi-ção francesa ao ligito fornece uma oportunidade quase experimental para isso. O episódio é curto: a armada comandada por Bonaparte desembarcou em Alexandria dia 2 de julho de 1798 e capitulou em 31 de agosto de 1801, após trinta e oito meses de presença no país21. Apesar das belas carreiras que muitos participantes da campanha construíram depois, a experiência egípcia surge menos como uma antecipação do governo imperial do que como o desenvolvimento, característico das Luzes, de uma associação entre a ciência e o poder. De fato, os militares não partiram sozinhos. Foram acompanhados por uma comissão das Ciências e das Artes, formada por 150 membros, sendo um terço composto de engenheiros (geógrafos, ou das Ponts et Chaussées, ou da Marinha), um terço de eruditos cujas disciplinas pertenciam à primeira classe do Instituto fundado em 1795 em Paris para o desenvolvimento do saber (matemática, artes mecânicas, astronomia, física experimental, química,

20. J. Goody, lhe Doiriesliauion ofthe SatiigeMind, Cambridge, 1977. J.-C. Perrot, Unehistoire inlellectuellede léconomiepoliliijue, XVf XVIIf siècles, Paris, 1992.

21. H. l.aurens, l'exp(dition dEgypte, 1798-1801, Paris, 1989.

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história natural e mineralogia, botânica, zoologia), distribuindo-se o último terço entre pintores, desenhistas, arquitetos, literatos, intérpretes etc. Em 22 de agosto de 1798, fundou-se no Cairo o Instituto do Egito, formado de quatro seções (matemática, física, economia política, literatura e artes), com-preendendo doze membros cada uma. Como o modelo da instituição parisiense irmã, ou o modelo anterior da Academia das Ciências, o Instituto do Egito realiza sessões regulares, ao longo das quais relatórios são lidos e discutidos; publica um jornal, o Décade Egyptienne\ atribui dois prêmios anuais, um para uma questão relativa ao progresso da civilização do país, outro para uma questão referente ao avanço da indústria. A expedição reúne então, numa extrema proximidade, ligada ao exotismo e à hostilidade do país, um grupo de pessoas cujo objetivo principal, entre outros, relaciona-se às modalidades do controle, da organização ou do conhecimento de um território. Por isso, em razão de sua formação ou de sua preocupação primordial, os meios inte-lectuais que elas mobilizam com essa finalidade diferem. A expedição ao Egito constitui, assim, um momento inevitável de circulação e de confronto das técnicas acadêmicas de apreensão do mundo.

//A Description de iEgypte constitui um dos espaços privilegiados dessas aproximações22. Tj3Í2ise de u m conjunto complexo, formado de quatro

ele-mentos: relatórios, figuras ou pranchas, comentários sobre as pranchas e enfim - adiado durante muito tempo, por razoes estratégicas - um atlas desenhado segundo o modelo do mapa de Cassini. O formato dos volumes, fólio ou in-grande-fólio, torna difícil consultá-los concomitantemente. Entretanto, eles or-ganizam um sistema de referências mútuas: os comentários sobre as pranchas

22. Deicription de l'Egypte ou recueildes observatiom et des recherches qui ont êtéfaitespendam lexpédition de l'armée française, 20 volumes, Paris, 1809-1822. As referências remeterão a essa primeira edição.

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repetem o desenho, acompanhando-o de uma nomenclatura; os relatórios reme-tem às pranchas, geralmente em notas infra-espanholas. A complexidade atinge também a elaboração do texto23. Uma decisão de Kleber, em novembro de

1799, havia inaugurado o projeto, mas as dificuldades militares, as peripécias para o repatriamento dos eruditos e o peso editorial da operação adiaram longamente a publicação, cujos volumes são datados de 1809 a 1822. A produ-ção dos textos que constituem a Description de l'Egypte é individual, mas a formalidade para a aprovação é coletiva. Uma portaria de abril de 1802 havia criado uma "comissão do Egito", com oito membros, encarregada de receber as contribuições, julgar sua adequação ao projeto geral e ajustá-las mutuamente. O secretário da comissão - Lancret e, depois de sua morte, Jomard - representa o papel principal no processo/

/Imbuídas do espírito enciclopédico do final do século XVIII, as pesqui-sas que fundamentam o projeto respondem a um método, a observação, e a dois critérios, a fidelidade e a utilidade.-O "Prefácio Histórico" que abre a Description

de l'Egypteespecifica: "a Academia do Cairo propunha-se, como as da Europa, a

cultivar as ciências e as artes, aperfeiçoá-las e buscar todas as suas aplicações úteis. Devia empenhar-se principalmente em distinguir as obras próprias ao Egito e os meios de obtê-las; era necessário, portanto, observar, com muito cuidado, o país que ia ser submetido a uma nova administração: tais foram os motivos que levaram a empreender as pesquisas cujos resultados hoje se publi-cam"24. Por seu cuidado com a objetivação e pela contribuição que pretende dar

a uma ciência empírica do governo dos homens, essa vasta publicação mostra a

23. M.W. Albin, "Napoleons Description de 1'Egypte: Problems ofCorporate Authorship", PublishingHistory, n. 8, 1980, pp. 65-85.

24. Description... 1'rêfaceHistoriqtte, p. VI.

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mesma configuração intelectual que a Voyage en Egypte et en Syrie. ' É num quadro de pensamento idêntico que se pode estabelecer o sistema de diferenças e semelhanças ligadas ao uso de dispositivos cognitivos distintos.

6. Para conduzir a análise a bom termo, uma mudança de escala se im-põe. Então, assim como consideramos a descrição de Alexandria feita por Volney, "examinemos apenas a descrição do Cairo e as pranchas correspondentes25.

Vá-rios motivos nos levam a essa escolha. O relatório está entre os mais longos e »detalhados. Seu título extenso mostra que ele apresenta a característica de

com-posição que se buscava: intitula-se precisamente "Descrição abreviada da cidade e cidadela do Cairo seguida da explicação da planta dessa cidade e de seus arredores, contendo informações sobre sua distribuição, seus monumentos, sua população, seu comércio e sua indústria"./Veremos que ele fornece as indicações necessárias sobre a prática de aquisição e organização do saber na qual se baseia. Enfim, seu autor pertence a uma formação acadêmica diferente da de Volney.^ Este último, depois de fazer estudos de direito, havia seguido por certo tempo, em Paris, cursos de medicina. Edme-François Jomard, por sua vez, é

engenhei-ro Nascido em 1777 em Veisalhes, numa família de comerciantes cuja atividade era ligada à presença da Corte, entra na École des Ponts et Chaussées em

feve-reiro de 1794, na École Polytechnique em dezembro e na École d'Application du Génie em dezembro de 1796. Em abril de 1798, é incorporado à expedição do Egito como engenheiro geógrafo. De volta à França, é enviado ao Alto Palatinado para supervisionar as operações topográficas, antes de ser nomeado secretário da comissão editorial da Description ( 1 8 0 3 ) , depois comissário do

25. Description... État moderne, tomo II, 2' parte, pp. 579-778 para o texto; para as pranchas, État moderne, vol. I, pranchas 26 a 73.

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governo para a direção dos trabalhos de gravura e impressão desde o início da publicação, em 180926./

Dois termos permitem caracterizar as cidades orientais, segundo Jomard e, de forma geral, segundo os engenheiros que redigiram os relatórios referen-tes a elas: a complexidade e a opacidade. A complexidade refere-se à antropo-l o g i a urbana. Veja-se a minuciosa decomposição da popuantropo-lação do Cairo. Sen-do a distinção entre homens livres e escravos julgada "quase supérflua", já que "o estado de escravidão no Egito é bem diferente do que era para os antigos ou do que é ainda nas colônias", Jomard divide os 260 000 habitantes que compõem, por projeção, a população do Cairo "segundo quatro critérios":

• A religião - e enumera: 5 000 gregos ortodoxos, 10 000 cristãos jacobitas, ' 5 000 gregos da Síria e maronitas, 2 000 cristãos da Armênia, 3 000 judeus

("esse número me parece muito pequeno", acrescenta Jomard numa nota), 400 cristãos francos tanto católicos quanto protestantes, "o resto maometanos".

• A nação - egípcios coptas 10000; judeus 3 000; sírios 5 000; armênios 2000; gregos 5000; francos ou europeus 1 000; mamelucos e odjaklis* AQ0\ turcos ou osmanlis 10 000; africanos, negros, bérberes, núbios e etíopes dos dois sexos 12 000; egípcios muçulmanos e árabes por volta de 20 000.

• O sexo e a idade - distinguindo, de um lado, homens e mulheres; de outro, adultos e crianças.

• "As condições" - isto é, o conjunto das dignidades, funções e profissões entre as quais se pode distribuir a parte ativa, essencialmente masculina, da

26. E. Houch, "Edme Jomard égyptien", Bulletin de ilmthut iTEgypte, 1933, pp. 259-266.

* Os termos em itálico, nesta página e nas cinco seguintes, não estão dicionarizados. Segundo Nabila Oulebsir, trata-se de transliterações feitas por Volney do árabe ou do turco falados no fim do século XVIII, remetendo respectivamente a militares de alta patente, inspetores, guardas e notáveis civis. (N. da Org.)

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população: "militares: cerca de 10400; ordem civil, assim dividida: ulemás, xeiques, homens da lei, efêndis, etc., número desconhecido, mas que se pode somar aos proprietários e moultezims num total de 5 000; comerciantes ataca-distas 3 500; comerciantes varejistas 4 500; proprietários de cafés 1 500; artesãos estabelecidos 21 800 (incluindo os almocreves e cameleiros); operários, jornalei-ros e freteijornalei-ros 4 300; manufatureijornalei-ros que têm dificuldade para viver de seu trabalho 8 600; servidores homens, a saber, bastonários, says, valetes, carregado-res 26400: ao todo 86000 indivíduos, além das crianças e das mulhecarregado-res. Quan-to aos empregados domésticos do sexo feminino, grande número compõe-se de negras e núbias"27./

/A complexidade da população da cidade, que resulta da posição geográfica do Egito e da complexidade da história regional das ondas migratórias, pode, portanto, ser colocada numa ordem. Princípios analíticos, uma decomposição em categorias, a quantificação de cada um dos grupos assim isolados, uma totalização implícita fornecem os elementos para uma compreensão satisfatória da sociedade urbana. Esse quadro com diversas entradas sucessivas verifica-se pela observação do mundo; ele é portador de uma antropologia social que se confirma no local. A diversidade dos interesses e a variedade dos usos aí manifestam a pluralidade das atribuições de identidade analiticamente construídas. Em Alexandria (mas a descrição vale também para o Cairo), "é à sombra dos bazares ou bairros comerciais... que é curioso observar a reunião de tantos indivíduos de nações diversas, os quais o interesse das relações comerciais agrupa em paz e divide ruidosamente dez e vinte vezes num único dia. É lá que, como num quadro móvel, pode-se julgar as nuanças infinitas que a natureza imprime

27. "Description... du Kaire", pp. 694-695.

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tanto no rosto como em todo o hábito do corpo do homem, assim como as diferentes morais que os climas, a educação e a religião trazem a seu caráter, suas opiniões e sua existência"28. A confusão das sociedades orientais, que se manifesta

aos olhos do observador europeu, não é irredutível. O quadro analítico, a enumeração estatística, a configuração observada do espaço social aí se ratificam . mutuamente para descrever a diversidade urbana.,'

7A opacidade, por outro lado, caracteriza a morfologia das cidades. A ausência de organização geral da íede viária é o que primeiro chama a atenção. No Cairo, a dificuldade para localizar as artérias principais vem do fato de que "as ruas, mesmo as mais longas, em vez de terem um nome único, mudam de denominação a cada instante"29. Jomard acaba se restringindo a oito artérias,

número que não corresponde ao das portas monumentais, que são setenta e uma, das quais algumas estão compreendidas no tecido urbano. A configuração geográfica adotada para a planta geral do Cairo e de seus arredores sublinha retoricamente com um traço contínuo e quase retilíneo essas aberturas hipotéti-cas30. A mesma incerteza vale para o conjunto das vias que o engenheiro

classifi-ca numa hierarquia de quatro níveis: as grandes comuniclassifi-cações, as ruas, as tra-

,

1

vessas, as ruelas e becos que ele tenta enumerar.

À essa aparente falta de hierarquia dos espaços se acrescenta, por contraste com o ideal urbano dos engenheiros franceses, sua irregularidade e sua estreiteza. No Cairo, "a distribuição interior da cidade não se assemelha à das cidades da Europa: não apenas suas ruas e praças públicas são extremamente irregulares, como também a cidade, exceto por diversas grandes vias de comunicação, é quase toda

28. "Mémoire sur Ia ville d'Alexandre", Description... État modeme, tomo II, 2' parte, p. 297. 29. "Description... du Kaire", p. 581.

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composta de ruas muito curtas e de passagens em ziguezague que terminam em becos inumeráveis". Esse espaço labiríntico é, além disso, um território fracionado. Trata-se menos de um espaço em que é possível perder-se do que de um espaço em que não se pode penetrar. "Cada uma dessas ramificações é fechada por uma porta, que os habitantes abrem quando lhes apraz; daí resulta que é muito difícil conhecer inteiramente o interior do Cairo"3'/A retórica gráfica também acusa essa

caracte-rística/Á planta em escala 1:5 000, no volume das pranchas referente ao Cairo, reproduz uma massa compacta e escura em que o pequeno tamanho dos aglomera-dos de casas - ilhotas que parecem mal penetradas por estreitas galerias, sem equi-valente na realidade européia - contradiz o ideal de abertura que caracteriza desde os anos de 1750 o urbanismo dos engenheiros das Ponts et Chaussées32.

rO mesmo sentimento de confusão vale para a arquitetura doméstica. As

diferenças sociais não geram, nas cidades orientais, tipos arquiteturais de fácil identificação, como as residências aristocráticas em Paris, por exemplo. Parece que as diferenças sociais inscritas na pedra não são de natureza, mas apenas de grau- "os palácios dos beis e dos kâchefs e as casas dos primeiros xeiques ou chefes religiosos, do agá, do uale, do cádi e dos outros funcionários distinguem-se à primeira vista das casas dos habitantes comuns por uma construção menos viciosa, um aspecto mais ornado, uma maior extensão"33. Espaços fechados, as

casas só mostram ao passante fachadas nuas, em que todos os balcões, as janelas e as clarabóias são fechados por gradeados cerrados, feitos de madeira. Espaços pouco penetrados, elas em geral não oferecem ao visitante mais do que seu indefectível centro vazio, o pátio central34./Quando podem ser medidas e

repre-31. "Description... du Kaire", p. 580, como a citação precedente. 32. Planches, État modeme, vol. I, prancha 26.

33- "Description... du Kaire", p. 584.

34. Ver as vistas da casa de Osman Bey, do palácio deQasim Bey (Planches, État.moderne, vol. I, pranchas 50 e 51).

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sentadas em planta baixa e em elevação, como se fez com a casa de Hassan Kâchef ocupada pelo Instituto do Egito35, elas criam o mesmo sentimento de

desordem: "seria muito extenso e mesmo difícil descrever a distribuição interior das casas do Cairo; muito poucas delas são dispostas regularmente: os cômodos de um mesmo apartamento raramente são nivelados; é sempre necessário descer ou subir alguns degraus para ir de um a outro"36.

/Assim, em qualquer escala que seja, nem a indicação de elementos arquiteturais ou urbanísticos simples, nem a identificação de combinações regu-lares permite que os engenheiros acompanhantes de Bonaparte dêem um senti-do à cidadeAs atividades profissionais, imediatamente acessíveis a uma leitura técnica, introduzem distinções claras: "no Cairo e nas principais cidades do Egito, cada espécie de indústria está concentrada num bairro específico, como acontecia outrora em nossas cidades da Europa: assim, há ruas inteiras onde só se encontram caldeireiros, outras em que só se encontram confeiteiros e outros comerciantes de doces, outras que são ocupadas exclusivamente por seleiros e fabricantes de charretes; enfim, os ourives, os joalheiros, os lapidadores etc. têm suas oficinas num bairro especial que é vigiado e fechado com mais precauções que os demais"37. Eis que se funda uma divisão do espaço, nada mais.?Além

disso, apenas a natureza constitui um princípio explicativo, capaz de dar senti-do à morfologia urbana. As ruas estreitas e tortuosas e os mucharabis, elementos característicos do urbanismo e da arquitetura da cidade egípcia moderna, reme-tem apenas à mesma necessidade de proteger as casas e os homens contra a luz do sol e o calor extremo. Mas esse princípio tem limites impostos por suas

35. Planebes, Étalmoderne, vol. I, pranchas 54 e 55. 36. "Description... du Kaire", p. 584.

37. "Mémoire sur 1'agriculture, 1'industrie et le commerce de 1'Egypte", Description... État modeme, t. II, p. 618.

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próprias vantagens: assim como os raios solares, ele se aplica uniformemente. Perde toda capacidade ordenadora num espaço urbano cujas hierarquias e estru-turas permanecem, no essencial, despercebidas.

47. Falta compreender esse fracasso particular. Se supomos que ele não ;'pertence à natureza das coisas (por que o espaço da cidade muçulmana seria menos legível que o da cidade européia?), é preciso buscar sua razão no olhar dirigido a elas, isto é, nas práticas e nas categorias empregadas para observá-las e "Descrição... do Cairo" origina-se numa iniciativa militar. Em setem-bro de 1897, os engenheiros geógrafos foram encarregados, para o serviço do exército, de traçar, com trena e prancheta, um plano sumário para estabelecer o sistema de defesa contra os ataques internos e externos. Aproveitaram a oportu-nidade para determinar 54 pontos (montes de escombros, torres e sobretudo minaretes) destinados a estabelecer, por triangulação, a planta geométrica deta-lhada da cidadC//A escolha da escala, 1:2 000, resulta da particularidade do obje-to: "nessa escala, pôde-se exprimir os menores detalhes e todas as características que se encontram a cada passo nas cidades do Oriente"38. Jomard é encarregado da verificação da planta que resulta dessas operações, antes de redigir o longo relatório descritivo sobre a cidade. "As noções que se pôde ler são, na maioria, resultado de um trabalho de que fui encarregado pelo chefe dos engenheiros geógrafos, para completar a planta geométrica do Cairo e ampliar sua utilidade. ^Trata-se de inscrever em todas as partes dessa planta os nomes exatos dos

estabe-lecimentos públicos e dos monumentos de todos os tipos, ao mesmo tempo

38. "Mémoire sur la conscruccion de la carte de 1'Egypte", Description... État moderne, t. II, 2' parte, pp. 1-118 para todo esse parágrafo (citação na p. 63).

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que os dos bairros e das ruas da cidade. Eu devia também colher informações sobre o comércio e a indústria, a população e os costumes dos habitantes.^ viagem que fiz no Cairo começou em 19 frimário do ano VIII e durou dois meses inteiros, sem nenhum dia de interrupção; eu estava acompanhado de um escrivão, de um intérprete de odabâchy que conhecia perfeitamente a cidade e de três ou quatro guias. Os cavalos seguiam atrás com os empregados. A cada indicação obtida, os nomes eram escritos em árabe na planta original pelo escri-vão, copta, grego ou muçulmano, e por mim mesmo em letras francesas. As descrições eram anotadas ao mesmo tempo e no próprio local, num caderno de informações. Aqui, não faço senão acrescentar a esses detalhes várias circunstân-cias históricas para quebrar a monotonia e a aridez da nomenclatura"39.

/Essa prática sistemática de agrimensura e de identificação dos lugares cria uma série de dispositivos. Alguns se relacionam a uma política de contro-le: a planta do Cairo e sua explicação reproduzem a divisão da cidade em oito seções militares submetidas a igual número de comandantes, e "essa divisão começava a introduzir uma vigilância e um policiamento salutar nos bairros insalubres e infectos"40. Mas o comentário não nos conduzirá para esse lado: o o b i e r i v o dessas análises não.é.nos levar a Michel Foucaulr. Os outros são de

natureza cognitiva: têm por finalidade a comgartimentação do espaço e to-mam a forma de quatro dispositivos gráficos que remetem uns aos outros:

A planta. É a redução à escala 1:5000 da planta trigonométrica em 1:2000 em catorze folhas. Os limites das seções são indicados por pontilhados. ' Ela se inscreve num quadriculado formado pela interseção de linhas numeradas de 1 a 16 e de colunas identificadas com letras, de A a Z. Na planta, cada lugar

39. "Description... du Kaire", p. 658. 40. Ibid., p. 585.

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(quer se trate de praça, rua, mesquita ou objeto mais comum, como cisterna, poço etc.) é designado por um número (interno a cada uma das seções), e às vezes (no caso dos lugares principais) por um número e um nome.

. A nomenclatura. Ela ocupa o centro (pp. 589-657) da "Descrição... do Cairo" e reproduz em colunas as menções nominais do caderno de informações de Jomard. A lista dos nomes de lugares, ruas, praças e monumentos, escrita em francês e árabe emparelhados, é indexada de um lado aos "números gravados na planta" e do outro aos "quadrados". São fornecidas listas sucessivas sobre cada uma das oito seções que dividem a cidade, depois sobre a cidadela.

. A descrição dos lugares, por sua vez, ocupa em seguida quase quarenta páginas do relatório (pp. 658-6l3)(«c). A ordem é temática (as praças públicas, depois os portos, depois as mesquitas etc.), e o que prevalece, em cada rubrica, é uma lógica da enumeração. E dado o número total das portas, por exemplo, depois algumas delas são nomeadas, por fim as mais importantes são nomeadas e descritas.

. As pranchas. Como destaca uma nota de rodapé do texto de Jomard41,

elas repetem a fragmentação do relatório: "consultem as pranchas deste volume para acompanhar a descrição do Cairo; a saber: para as pontes, a prancha 27; para as mesquitas, as pranchas 27 a 38; para as praças públicas, as pranchas 39 a

43 etc.

/A "Descrição... do Cairo" e a descrição de Alexandria pertencem à mes-ma família epistemológica: umes-ma vez que a realidade é feita de objetos distintos e diferenciáveis, o conhecimento do mundo passa por sua decomposição em ele-mentos indicáveis e identificáveis. Ao fim dessas distribuições retóricas reitera-das, cada lugar do Cairo, cada objeto urbano está caracterizado por um nome 41. Ibid., p. 663.

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(em dois sistemas de denominação, um francês e outro árabe), por uma localiza-ção (em dois espaços, um geométrico e outro de administralocaliza-ção militar), por uma descrição (em duas modalidades, uma em linguagem natural e outra Í£onográfica) e assim conta com uma identificação completa./Entretanto, a compreensão do espaço urbano da capital egípcia aparentemente fez poucos progressos. A realidade da cidade oriental pode ser expressa segundo as mesmas categorias de objetos que a realidade da cidade européia. Mas, uma vez decom-posta em elementos de natureza idêntica (embora variem na forma ou na deno-minação), é impossível recompõ-la num sistema em que se perceba a coerência originalHk decomposição do espaço urbano em elementos identificados é acom-panhada de uma conseqüência tripla. Em primeiro lugarf^la apaga a especificidade /do espaço das ruas, das lojas, dos caminhos semifechados dos espaços residenciais. Em segundo lugar, ao representar,_por exemplo, a mesquita do sultão Hassan como se fosse uma catedral medieval e a ponte sobre o canal de derivação do Nilo como o Pont Neuf sobre, o Sena, ela lhes confere um estatuto de monu-mento idêntico ao que estes elemonu-mentos possuem nas capitais do Ocidente. En-fim^extraindo-os de seu espaço próximo, ela dota sua articulação ao tecido urbano de um caráter imaginado. "Sua entrada na rua chamada Souk el Selah é muito importante, embora irregular", observa a descrição do Cairo a propósito da mesquita do sultão Hassan, antes de acrescentar: "o^efeito seria bem maior se houvesse uma praça deste lado"/Á.s pranchas a que ele remete em notas têm por resultado justamente produzir esse efeito42. Apesar de terem um sistema

co-mum de referências, a planta do Cairo em escala 1:5 000 e as vistas dos monu-mentos da cidade publicadas no mesmo volume de pranchas da Description de

l'Egypte não poderiam ser mais incoerentes/o processo pelo qual o engenheiro

42. lbià, p. 666, e 1'lanches, État moderne, vol. I, pranchas 32 a 38.

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geógrafo passa da realidade concreta do mundo para sua representação encontra seu limite precisamente na forma que assume: trabalho de abstração, ou seja, de levantamento de partes sucessivas do real, com objetivos de caracterização. O procedimento esgota-se no ato de registrar, no quadriculado das plantas, nas colunas dos quadros, nas rubricas de relatórios enumerativos ou em séries de imagens, o que não deixa de ser uma coleção de objetos./

//s. Um breve retorno à descrição de Alexandria permitiria compreender as razões desse fracasso. Em seus desdobramentos finais, o método do topó-grafo combina a conduta deambulatória e o projeto de exaustividade. Volney, como vimos, conduzia separadamente os dois projetos. O percurso fornecia os índices de uma descrição do espaço social organizada a partir da questão do despotismo; a enumeração completa fornecia os elementos selecionados para a solução de um problema enunciado (a intervenção militar européia). Dois pontos de vista sobre o mundo organizavam, de acordo com duas modalidades distintas, a mesma arte de ver bem. Ao contrário,jio princípio da descrição da morfologia do Cairo, não há nenhum ponto de vista unificador, que permiti-ria recompor o que o primeiro movimento da análise tinha dissociado.yi\io que se refere à composição populacional, as totalizações em colunas das diferentes categorias analíticas asseguram a síntese buscada segundo pontos de vista su-cessivos: a religião, a etnia, a designação social.. No que se refere à composição dos lugares, ao contrário, o mapa que apresenta ao olhar a disposição relativa dos elementos, dissociados do espaço urbano, fracassa numa eventual função sintetizadora. Ele não fundamenta a apresentação racional dos resultados. Não revela as contradições mal resolvidas que constituem obstáculo à compreensão dos princípios de organização da cidade. Ao leitor de hoje, na verdade, o mesmo mapa fornece os elementos para uma crítica do texto de ontem. É que

1 1 4

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e ve

não está em causa apenas a retórica gráfica empregada nas diferentes tecnologi-as do saber. O valor atribuído a cada uma na formação do saber é igualmente ^ importante.ÍÁ incapacidade para dar sentido ao espaço da cidade árabe é, as-sim, o sinal da desvalorização relativa de que o mapa ainda sofre quando se trata de uma abordagem sintética do mundo. O verbete "Reconhecer" da

En-cyclopédie dizia isso uma geração mais cedo: "Acreditamos, comumente, nada

haver omitido para reconhecer bem um país quando obtivemos mapas, ou quando mandamos elaborá-los; mas, se nos apegarmos aos conhecimentos que les podem dar, só conheceremos o país muito imperfeitamente. Para terem rdadeira utilidade, é preciso que eles sejam acompanhados de um relatório particular que explique todas as circunstâncias do terreno cujo conhecimento é necessário às ações e aos movimentos dos exércitos; trabalho que não pode ser feito senão por um homem inteligente, muito versado na teoria e na prática da guerra, e não por um simples geógrafo ,

Aliás, no Egito, sábios, engenheiros e militares sentem em sua experiên-cia cotidiana essa incapacidade do desenho em reconstituir a organização com-plexa do que não é um espaço, mas um território. Os relatórios que compõem a

Description de l'Egypte ecoam isso fracamente: "não é permitido aos francos

entrar nas mesquitas; só depois da ocupação militar dos franceses nos foi permi-tido penetrar nelas, anotar sua disposição e suas dimensões, desenhar os princi-pais ornamentos da arquitetura. E enquanto isso os muçulmanos reunidos nas mesquitas protestavam bem alto por ver os cristãos calçados conspurcarem o lugar santo, enquanto eles são obrigados a tirar suas sandálias" "44

43. "Reconnaitre", Encyclopédieou Dictionnaire raisonné..., Neufchâtel, 1765, t. XIII, p. 862. 44. "Description... du Kaire", p. 665.

Referências

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