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Biblioteca Digital do IPG: Relatório de Estágio Curricular – ASTA – Associação Sócio-Terapêutica (Almeida)

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Página | i Salomé Filipa Magalhães Ferreira

Número

6385

Estabelecimento de ensino

Instituto Politécnico da Guarda

Escola Superior de Educação Comunicação e Desporto

Organização

ASTA – Associação Sócio-Terapêutica de Almeida Alto da Fonte Salgueira 6355-030 Cabreira, Almeida

Data de início de estágio curricular

20 de Setembro de 2010

Data de fim de estágio curricular

20 de Dezembro de 2010

Nome e grau académico do tutor

Cristina Maria Martins Monteiro Animadora Cultural

Nome do orientador da ESECD

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Página | ii Queremos navegar neste mar da Vida Nós temos connosco a força do vento E a força de um tempo que esteve escondida Acendemos archotes e alumiámos caminhos Pintámos as ruas com risos e cores Abraçámos o Mundo, colhemos esperança Semeámos encontros e jardins de flores Que acabem os medos Olhem para NÓS! P'ra poder seguir, precisamos de vós (voz)

Escutem silêncios cheios de clamor Nós temos cá dentro um Mundo de encanto Uma ALMA INTEIRA Mil formas de AMOR!

(Poema feito, na ASTA, para o Ano Europeu da Pessoas com Deficiência)

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Página | iii APIE Associação Portuguesa de Investigação Educacional

CAO Centro de actividades ocupacionais

CDC Carta de direitos dos clientes ASTA / Carta da Qualidade IPSS Instituição Particular de Solidariedade Social

RI Regulamento Interno (ASTA) SAB Sociedade Antroposófica do Brasil SPAT Sociedade Portuguesa de Arte Terapia

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Agradecimentos

Guarda, cidade desconhecida e distante fez-me crescer e aprender um sentido de vida diferente e que é fundamental neste processo evolutivo que é a vida. Para que tal fosse possível esteve muita gente envolvida no desencadeamento desta oportunidade, por isso sinto que seja necessário agradecer a todas as pessoas que de uma forma directa ou indirecta contribuíram para o meu bem-estar ao longo destes três anos de estudo e de folia. Como tal, há muito que agradecer e a quem agradecer, sendo o mais sensato agradecer acima de tudo aos meus progenitores por me terem incutido valores e por me terem criado e educado de uma forma humilde e calorosa que me fez ter sempre os pés assentes na terra. O esforço psicológico e físico que fizeram para me terem numa cidade tão distante não foi em vão, por isso espero ter correspondido às vossas expectativas e ser motivo de orgulho. Às minhas irmãs pela compreensão, apoio e ajuda incondicional, às minhas sobrinhas que inconscientemente serviam de meu motor de arranque muitas vezes…enfim…à minha família, pela confiança e carinho que depositam em mim.

Agradeço a toda a gente que conheci nesta cidade alta e fria, minha segunda família! Às minhas companheiras de casa, pessoas com quem vivi todos estes anos e que agradeço o facto de terem aparecido na minha vida! A todas as pessoas que se foram juntando à minha segunda família, com quem fui compartilhando momentos, alegrias, melancolias, ensinamentos, reflexões e acima de tudo muitas cumplicidades...o meu sincero reconhecimento pois foi com vocês que tudo se tornou muito mais simples. Agradeço também a todos os professores que ajudaram na minha formação, principalmente os mais exigentes, pois é deles que levo ensinamentos e vontade de me superar! Á minha orientadora de estágio Maria de Fátima Gonçalves e a todos os professores que contribuíram para a realização deste relatório.

A oportunidade de estágio neste local fantástico faz-me agradecer à Dr. Maria José Dinis que aceitou a proposta de estágio, a todos os funcionários e companheiros da ASTA, a vós, dirijo o meu sincero agradecimento pela forma como me integraram e fizeram perceber um sentido de vida luminoso e simples. Não esquecendo também da minha companheira de estágio…sozinha seria mais difícil!

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Página | vi

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Introdução

No âmbito do curso de Animação Sociocultural encontra-se planificada a realização de um estágio curricular no final deste terceiro ano a fim de concluir a licenciatura do mesmo. A presente escolha de estágio estava já há algum tempo definida, o que facilitou a força de vontade de o realizar. A ASTA- Associação Sócio-Terapêutica de Almeida foi, assim, a escolha pessoal uma vez que reunia todos os requisitos da nossa preferência a nível do futuro profissional. O trabalho com pessoas portadoras de deficiência mental sempre foi algo que suscitou interesse sendo esta oportunidade de estágio uma mais-valia considerando que foi possível adquirir novas metodologias de trabalho. A oportunidade de ficar a habitar na aldeia junto da comunidade e de alguns companheiros (utentes da ASTA) reforçou o estímulo à entrega de aprendizagem e de exposição dos conhecimentos adquiridos. O entusiasmo deparava-se com o receio de não conseguir estar a altura do que íamos enfrentar; novas pessoas, pessoas diferentes, um mundo de paz (definido como tal por várias pessoas que conhecem esta instituição). A ASTA utiliza como base do seu trabalho a Pedagogia Curativa e a Sócio-Terapia, conceitos que foram perceptíveis através de algumas pesquisas e observação onde encaramos integrado o papel da Animação Sociocultural.

Este relatório de estágio será dividido em três capítulos sendo que no Capítulo I será feita a localização e a caracterização da instituição fazendo referência aos valores, políticas, espaços de intervenção, missão e visão, direitos e deveres dos companheiros e ateliês existentes na ASTA. No Capítulo II irá constar o enquadramento teórico abordando as diferenças entre deficiente mental/doente mental seguido do contexto da Animação na Terapia, terminando com uma breve exposição das pedagogias utilizadas nesta instituição. O Capítulo III irá conter o plano de estágio, presente no (Anexo1), e descrição de actividades realizadas durante o estágio juntamente com as dificuldades e/ou facilidades de trabalho ao longo destes últimos três meses. Por fim, a reflexão crítica onde estará feita a relação do estágio realizado com a Animação Sociocultural fazendo referência à importância do curso para a execução do mesmo.

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Capítulo I

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1. Caracterização da instituição

A ASTA situa-se no Alto da Fonte Salgueira na Cabreira, pertence ao concelho de Almeida, distrito da Guarda. A Cabreira é uma das 29 freguesias deste concelho e dista 26 km da vila e está localizada numa encosta bastante íngreme e acidentada na margem direita da ribeira das Cabras.

Como Instituição Particular de Solidariedade Social (RI- ASTA, 2010) destina-se

a oferecer às pessoas necessitadas de cuidados especiais (essencialmente jovens a partir dos 16 anos de idade e portadores de deficiência mental e multideficiência), uma alternativa de vida válida e plena de sentido, contribuindo para a sua integração social, humana e económica, criando condições de vida as mais normais e autênticas possíveis. Mais do que normalizar, visa sobretudo individualizar, para que cada um encontre o caminho mais adequado criando um projecto de vida e construindo um sentido de SER.

A ASTA foi criada a 2 de Outubro de 1998, por iniciativa Maria José Dinis da Fonseca, Directora de Serviços. Iniciou as suas actividades como Instituição Particular de Solidariedade Social, em Outubro de 2000, na casa da própria fundadora. Actualmente é composta por um grupo de 31 jovens (internos e externos) e 21 colaboradores, conforme a seguinte tabela:

Tabela 1 - Quadro de Colaboradores da ASTA, (ASTA 2010)

Colaborador Categoria

Andreia Cristina Gonçalves Cordeiro Técnica Superior de Serviço Social Conceição Maria Monteiro da Silva Monitor

Cristina Maria Martins Monteiro Animador Cultural

Cristina Maria Monteiro Fernandes Fonseca Ajudante estabelecimento apoio pessoa deficiência Elisabete Lucas Martins Fonseca Monitor

Filomena Neves Dias Rito Escriturária Principal Imelda Quinás Pereira da Fonseca Cozinheira

Joana Vitoria Trabalhador Auxiliar de Serviços Gerais

Jorge Amaro Dos Santos Pires Técnico Superior de Educação Especial e Reabilitação José Diniz Trabalhador Auxiliar de Serviços Gerais

Lucas Sorrentino Voluntário

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Colaborador Categoria

Manuel Monteiro Pinheiro Chefe de Compras

Maria Alice Morgado dos Santos Inácio Ajudante estabelecimento apoio pessoa deficiência Maria de la Soledade Durán de Carvalho Psicóloga

Maria Helena de Oliveira Pereira Miguel Trabalhador Auxiliar de Serviços Gerais Maria José Dinis da Fonseca Directora de Serviços

Marilene Elza das Chagas Ajudante estabelecimento apoio pessoa deficiência Pedro Carlos Lopes Pimentel Monitor

Regina Maria da Costa Silva Fonseca Professora EBC/Hab. Profissional/ nível 9-0anos Silvia Quináz da Fonseca Firmino Trabalhador Hortiflorícola

A estrutura humana está hierarquizada de acordo com o cronograma que a seguir se apresenta:

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Página | 5 Esta instituição (RI-ASTA, 2010) baseia-se nos princípios da Pedagogia Curativa

e Sócio-Terapia, cujo papel é o de orientar e produzir uma vivência rítmica e estruturante, dignificadora e geradora de auto-estima e respeito mútuo entre as pessoas que aqui se encontram numa vivência o mais comunitária possível. Mais do que ocupar quer, através da convivência e do trabalho Pedagógico e Sócio-Terapêutico num contexto comunitário de cariz rural, contribuir para a autonomia, auto-suficiência e auto-estima, por forma a que cada um se converta num membro social digno, útil e produtivo (respeitando sempre os potenciais e características de cada um), tendo em conta as três condições indispensáveis para que um ser humano/cidadão se sinta verdadeiramente incluído: uma família, um trabalho e um grupo social. A ASTA não tem a intenção directa de normalizar mas sobretudo de individualizar, para que cada um encontre o caminho mais adequado. As relações interpessoais têm um permanente

carácter pedagógico e terapêutico, isto é, os companheiros/clientes e colaboradores deverão estar continuamente em situação de formação cívica, moral e socializante (CDC ASTA, 2010).

A Directora da ASTA comenta, num vídeo à Localvisão (Dinis, 2010) que se criou uma sociedade harmoniosa de respeito pelo outro, sendo que esta mesma sociedade só assim o é devido a todos os seus colaboradores e companheiros.

1.1 Valores da ASTA

Os valores da ASTA estipulados na Carta de Qualidade (CDC) e dos direitos dos clientes são acima de tudo princípios que se prezam e que se tentam transmitir não só entre quem nela trabalha e os utentes como também a quem a visita, sendo estes (CDC ASTA, 2010):

1. Rigor; 2. Confidencialidade; 3. Integridade ; 4. Privacidade ; 5. Solidariedade 6. Respeito; 7. Igualdade; 8. Individualidade; 9. Dignidade; 10. Espiritualidade 11. Companheirismo; 12. Cidadania e 13. Criatividade.

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1.2 Política da Qualidade da ASTA

Segundo a CDC da ASTA, a organização define, implementa e controla o seu compromisso com a satisfação das necessidades e expectativas legítimas dos clientes e de outras entidades interessadas. Para garantir a execução da política da qualidade, a organização deve controlar a conformidade dos processos. A gestão da qualidade deve melhorar a sustentabilidade da organização.

A direcção da ASTA considera que a implementação de um sistema de Gestão da Qualidade é fundamental no alcance de uma imagem de excelência, nomeadamente no que diz respeito às boas práticas de todos os colaboradores nela envolvidos. Para tal, baseia-se nas seguintes linhas de acção (CDC ASTA, 2010):

 criar e equipar espaços físicos adequados, susceptíveis de responder às necessidades terapêuticas e sociais dos utentes, incluindo núcleos habitacionais com ambiência familiar dentro da própria aldeia, (já existem três: Casa Cristalina e Casa da Oliveira e Casa São Miguel,) aproveitando casas degradadas que pudessem ser doadas ou adquiridas a baixo preço. Realiza-se assim a intenção de uma verdadeira inserção e interacção na comunidade;

 responsabilizar e valorizar, através da repartição de tarefas caseiras (olhando sempre às potencialidades individuais) entre utentes e educadores-colaboradores, sem privilégios, além de inserir, co-responsabilizando, nas actividades cívicas da própria aldeia;

 interagir com as famílias, para apoio e maior compreensão da globalidade de cada utente dando apoio individualizado, através de um acompanhamento biográfico, ocupacional/utilitário e terapêutico;

 desenvolver actividades artesanais e artísticas, estimulando terapeuticamente as potencialidades criativas e promovendo as competências através da carpintaria, cerâmica & barro, tecelagem, música…;

 estabelecer um contacto rítmico com a terra e a natureza aproveitando todo o espaço rural circundante, através da jardinagem, agro-pecuária e agricultura biológica;

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 promover manifestações culturais, exposições, congressos e conferências, susceptíveis de contribuir para uma maior socialização e para o reconhecimento e dignificação da diferença;

 utilizar a Pedagogia Curativa e a Sócio-Terapia como base de trabalho e convivência.

1.3 Espaços de intervenção

Diariamente distinguem-se os seguintes espaços de intervenção (RI- ASTA, 2010):

 antes das actividades ocupacionais, o dia inicia-se sempre com uma Abertura conjunta de reflexão, exercícios rítmicos e canto terminando de igual forma.

 as refeições são sempre momentos de especial significado distinguindo-se das restantes actividades pelo seu carácter de pausa, socialização com o grupo e satisfação pessoal, marcados também pelos ritmos iniciais e finais de agradecimento pelos alimentos.

1.4 Visão e Missão da ASTA

De acordo com o definido na CDC a visão da ASTA passa por promover um espaço sustentável dentro de uma ambiência rural e sócio-terapêutica, onde as pessoas com deficiência mental/intelectual possam encontrar o seu caminho numa perspectiva bio-psico-social e espiritual.

Relativamente à missão da instituição a CDC remete para apoio e integração de pessoas com deficiência ou multideficiência, num contexto terapêutico de cariz comunitário e familiar, promotor de um desenvolvimento holístico e dignificador.

Os objectivos definidos na instituição são os seguintes (RI-ASTA, 2010):

 desenvolver actividades artesanais e artísticas levadas a cabo nos ateliês de carpintaria, olaria, agricultura biológica, lavandaria e costura, tecelagem e

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Página | 8 reciclagem de papel entre outras, tendo em vista o desenvolvimento psico-motor e cognitivo, a responsabilização a auto-estima e o sentido utilitário do trabalho;

 estabelecer um contacto rítmico com a terra e a natureza através da jardinagem, agro-pecuária e horticultura por forma a despistar ansiedades e harmonizar humores e ainda criar uma envolvência holística com o mundo mineral, vegetal e animal;

 dar apoio individualizado através de um acompanhamento biográfico, ocupacional e fisioterapêutico;

 estimular terapeuticamente as potencialidades criativas e socializantes através da pintura, do teatro, da música, da dança e outras actividades artísticas;

 promover manifestações culturais, exposições, congressos e conferências susceptíveis de contribuir para uma maior socialização e para o reconhecimento e dignificação da diferença.

A instituição (CDC- ASTA, 2010) acredita que toda a pessoa, qualquer que seja o seu estado mental, é mais do que a sua aparência física e que todo o ser humano está dotado de uma existência individual. Nenhuma deficiência física ou mental é um acaso ou uma desgraça, ela tem um sentido e uma finalidade: transformar o curso de uma vida. Como qualquer ser humano, obrigado a lutar contra diferentes obstáculos e doenças, a pessoa necessitada de cuidados especiais deverá aprender a viver com as suas dificuldades e a dominá-las, procurando o possível. O grande objectivo/missão da ASTA é ajudar nessa aprendizagem e nessa procura, dando-lhe sentido.

1.5 Direitos e Deveres

Relativamente aos direitos dos companheiros definidos pela instituição, salientamos os seguintes (CDC-ASTA, 2010):

 encaminhamento e acompanhamento terapêutico e pedagógico segundo as suas apetências e necessidades;

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 exposição e defesa das suas opiniões e apresentação de reclamações, proporcionando-se-lhes a possibilidade de o fazerem em sessões periódicas, em auto-representações ou em gabinete de apoio individualizado;

 respeito pela sua identidade pessoal e reserva de intimidade privada e familiar, bem como pelos seus usos e costumes;

 prestação dos serviços solicitados e contratados para a cobertura das suas necessidades, tendo em vista manter ou melhorar a sua autonomia;

 educação e reabilitação física, social e psicológica;

 Animação Sociocultural;

 fruição das áreas inerentes ao CAO (Centro de Actividades Ocupacionais) como: Refeitório; Sala de Convívio e Wc’s, num espírito familiar de partilha e de co-responsabilização.

São deveres dos companheiros (CDC-ASTA, 2010):

 respeitar os horários estabelecidos internamente;

 executar as tarefas, tendo sempre em conta as suas capacidades, para as quais sejam solicitados pelos colaboradores na manutenção da vida colectiva da ASTA – limpeza e arrumação dos espaços dos ateliês;

 preservar as instalações ou objectos que sejam de utilização colectiva ou pessoal;

 colaborar com as diversas equipas que lhe estão ligadas, no intuito de os apoiar na satisfação dos seus interesses;

 respeitar os colegas e colaboradores;

 cumprir as regras estabelecidas pela Direcção, no sentido de um funcionamento harmonioso e estabilizador;

 cumprir regras da instituição, entre elas a proibição de:

o consumir qualquer tipo de estupefacientes ou medicamentos não sujeitos a prescrição médica;

o fumar nas instalações da Instituição; o consumir bebidas alcoólicas;

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Página | 10 o utilizar telemóvel e computador fora dos tempos devidamente

estipulados;

o usar chapéu no interior das instalações.

Estes direitos e deveres dos companheiros/utentes da ASTA são fundamentais para ter uma percepção de como trabalhar com eles.

1.6 Ateliês ou Oficinas Terapêuticas existentes na ASTA

A ASTA possui vários ateliês de actividades para que os seus utentes possam desenvolver as suas capacidades sensoriais e motoras. O trabalho sócio-terapêutico desenvolve-se nas seguintes áreas/espaços (ASTA, 2008):

Tecelagem, Carpintaria, Terapias de (Re)habilitação, Olaria & Cerâmica, Agricultura Biológica e Animação aqui denominado por ateliê de Movimento e Comunicação.

De seguida iremos descrever de forma sucinta cada ateliê/oficina.

1.6.1 Tecelagem

A tecelagem é um ateliê frequentado por jovens que precisam de um contacto continuado com o calor, onde os materiais utilizados são essencialmente a lã, o algodão, e o linho a trabalhar nos teares de madeira. O trabalho neste ateliê permite

(particularmente nos teares) a nível terapêutico uma estimulação da psicomotricidade global; à aprendizagem do sentido estético na conjugação de cores e formas e também do sentido utilitário (ASTA 2008).

1.6.2 Carpintaria

Este ateliê trabalha, a madeira que, nos seus diversos estados, constitui um

elemento terapêutico por excelência. Um dos objectivos psicoterapêuticos do trabalho com a madeira, é o de criar resistência e estabelecer limites a companheiros com carácter mais impetuoso e/ou permitir para alguns mais introvertidos e “sismáticos”

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uma relação (quase dialogo) de trabalho evolutivo com esta matéria quente e afável mas também forte e determinante (ASTA 2008).

1.6.3 Terapias e (Re)habilitação

Este ateliê subdivide-se em alguns como: Hidroterapia, Massagem, Arte-Terapia (Pintura) e Desporto.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

1.6.4 Agricultura Biológica

Este ateliê é desenvolvido no espaço circundante da ASTA, na horta A

Sementinha e Quinta da Ribeira na aldeia da Cabreira. Este trabalho permite e promove competências motoras e sensoriais, dissolve bloqueios neurológicos além de desenvolver uma sensibilidade rítmica de acordo com a natureza e as estações do ano

(ASTA 2008).

1.6.5 Animação/Movimento e Comunicação

O ateliê de animação pretende despistar comportamentos, gerar autoconfiança e impulsionar potenciais a nível dramático, musical, auto representativo e expressivo. Na

“exploração” das referidas vertentes dentro de um contexto “bio-psico-social”, trabalha-se o sentido da responsabilidade, do respeito pelos outros e por si próprio; treina-se a atenção, a concentração, a memória e o espírito de grupo. Á lei de todas as componentes pedagógicas e terapêuticas, este ateliê possui um grande sentido de cidadania e trabalho sociocultural que, tem também como objectivo, a apresentação a diversos públicos, dos resultados finais (ASTA 2008).

1.6.6 Olaria & Cerâmica

A “olaria & cerâmica” é um ateliê de apoio onde os companheiros elementos que o frequentam saem apenas para actividades individuais, terapêuticas e/ou

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Página | 12 complementares. É um ateliê que utiliza como matéria-prima, o barro, moldável e

transformável, permitindo assim uma acção de despistagem diagnóstica, além de trabalhar a motricidade fina, o conceito de forma, as polaridades (quente/frio; duro/mole; seco/húmido; suave/rogoso; etc.) estimulando a criatividade plástica e o sentido rítmico, estético e utilitário. Este ateliê tem um ritmo diário de continuidade (das 9:30 às 17h, toda a semana) o que permite adquirir um espírito de trabalho e responsabilização no sentido da criação de peças com intuito de serem adquiridas e utilizadas (ASTA 2008).

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Capítulo II

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2. Deficiente mental/ doente mental

O termo Reabilitar na Doença Mental e o Habilitar na Deficiência Mental (Pinheiro, 2008) expressam bem as diferenças entre estes conceitos tão distintos e tão frequentemente confundidos. Quando nos referimos a Deficiência Mental e a Doença Mental devemos ter presente que o termo Deficiência Mental se refere a problemas no funcionamento intelectual e ao nível do comportamento adaptativo ao passo que a Doença Mental está relacionada com perturbações do foro psiquiátrico.

Segundo Miguel Jorge (1995 p.39), no DSM IV (Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais, edição de 1994), a deficiência mental é caracterizada essencialmente por um funcionamento intelectual significativamente inferior à média, baseando-se em sintomas quantitativos de ordem orgânica e que dizem respeito também à comunicação, as actividades de vida diária, aos relacionamentos interpessoais e às habilidades académicas, de trabalho, lazer, saúde e segurança. Segundo este autor, referindo-se a este manual, a deficiência mental consiste no anteriormente referido funcionamento intelectual abaixo da média, incluindo também o comprometimento das habilidades adaptativas, presentes antes dos 18 anos de idade (p.40). Esses comprometimentos são influenciados por factores genéticos, ambientais e psicológicos, enfatizando os factores biológicos subtis, a saber: pequenas anormalidades cromossomáticas, síndromes genéticos e várias exposições tóxicas pré-natais (1995).

Na deficiência mental, a área mais afectada é a inteligência e existem diagnósticos quantitativos que definem diferentes graus de deficiência mental. A Associação Americana para a Deficiência Mental (AADM) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) define níveis como está esclarecido na seguinte tabela:

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Tabela 3- Níveis de deficiência segundo a Organização Mundial de Saúde

Esta definição não pretende que se considere apenas o Q.I. uma vez que é necessário dar importância ao apoio relativamente à pessoa com deficiência mental no que diz respeito às suas habilidades de comunicação, autonomia, integração social, auto-cuidado, desenvolvimento autónomo, responsabilidade, colaboração e respeito pelos outros, bem como favorecer na formação de um auto-conceito e uma auto-imagem positivos. Posto isto e verificando o Princípio VI relativamente aos Direitos do Cidadão Deficiente Mental, este cidadão tem direito à educação que deve contribuir para a sua mais alargada autonomia e inserção social permitindo-lhe desenvolver as suas aptidões, o juízo pessoal, potenciar o sentido das responsabilidades morais e sociais, e tornar-se um membro útil à sociedade.

Voltando ao início desta pequena caracterização Reabilitar na Doença Mental e

o Habilitar na Deficiência Mental são conceitos que dizem respeito também ao

trabalho do Animador Sociocultural enquanto agente dinamizador, educador e de integrador de grupos sociais.

O cidadão com necessidades educativas especiais requer uma inclusão por parte da sociedade no sentido grupal e é imprescindível referir que (Albuquerque, 2009) a

inclusão da criança com necessidades educativas especiais num grupo típico de crianças é uma mais-valia para todos. Entende-se o conceito de “Grupo”como um conjunto de pessoas que estão em interacção durante um período de tempo

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considerável e que consigam desenvolver uma actividade colectiva com objectivos mútuos para atingirem um fim. Um grupo tem a importância de desempenhar papéis decisivos na vida humana já que é nele que se processa a socialização do indivíduo imprescindível à sua formação, enquanto, pessoa. Assim, ao longo da vida do indivíduo, uma adequada integração em grupos é indispensável para a formação de um ser humano completo e equilibrado emocional e socialmente. Quando falamos em grupo e em crianças com necessidades educativas especiais, falamos em interacção, seja numa escola ou num jardim-de-infância. Esse grupo é o “Grande Grupo” onde a criança com necessidades educativas especiais deverá ser inserida. No contexto das

crianças com Necessidades Educativas Especiais, estas considerações aplicam-se igualmente aos adultos portadores de deficiência mental cuja integração não esteve presente desde os seus inícios de vida. Na ASTA, a integração destes jovens e adultos provém de uma necessidade que não está muito desenvolvida nos nossos dias. Assim, cabe ao Animador Sociocultural trabalhar a nível da integração destes indivíduos numa ambiência social dando-lhe o devido apoio cultural de que necessita todo o ser humano assistindo também de uma forma terapêutica e pedagógica.

2.1 A Animação Sociocultural na Terapia

A Animação é uma metodologia de intervenção e pertence ao âmbito de acção quer seja este social, cultural ou educativo. Por sua vez, as terapias relacionam-se mais com a psicologia, a psiquiatria ou a medicina.

Segundo Ezequiel Ander Egg (Lopes, 2007, p.41) quando expressamos carinho a

outra pessoa, e quando a sabemos escutar, com compreensão e empatia, estes gestos e estas formas de nos relacionarmos, podem ser mais efectivas para “curar” o mal dos outros que fazer um bom diagnóstico médico. O olhar, o sorriso, o abraço, os beijos têm mais relevância e significado sobre o estado de ânimo de outra pessoa que o acto de “passar receitas”, recomendando medicamentos, que são a ultima descoberta da industria farmacêutica. Algumas Terapias Alternativas tais como a saudoterapia, a miradoterapia, a sorrisoterapia, a caricioterapia, a alegroterapia e beijoterapia

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ajudam o indivíduo a libertar a sua espontaneidade pois, ao libertar as suas repressões, acrescenta a sua capacidade de se expressar, ajuda a curar feridas emocionais e, sobretudo, fazem-no mais feliz, pois dá mais acrescentos na vontade de viver.

Marcelino de Sousa Lopes (p.77 2007). afirma que a Animação Terapêutica

apoia-se no contributo que as diferentes artes e as diferentes práticas sociais, culturais e educativas podem trazer no sentido de levar o ser humano ao humanismo, permitindo que a pessoa seja actor e não espectador; cidadão com cidadania plena e isto significa a projecção de um ser autónomo, dialogante, participante, militante das causas nobres, solidário, político e homem comprometido com o outro homem. Deste modo, a animação requer não o produto artístico mas o processo gerado pelas diferentes artes, suplica por um indivíduo que faça das suas práticas sociais uma via para o encontro, a interacção e uma participação que implica desenvolvimento, reclama uma educação, não apenas centralizada e assente unicamente no edifício escolar mas que investiga propósitos novos, práticas partilhadas pela chamada educação comunitária. Na

perspectiva deste autor, a intervenção de programas de animação, artes e terapias podem igualmente constituir um assinalável contributo para um vasto número de seres dispersos por todas as faixas etárias que recorrendo a este tipo de metodologia podem encontrar respostas satisfatórias para um conjunto de males, nomeadamente: marginalização, exclusão, agressividade, violência, depressões, angústias, tensões, toxicodependência, inibições, temores, alcoolismo, stress, etc.

A Animação deve então aliar-se a programas terapêuticos e começa hoje a emergir uma nova forma de fazer política que vê na animação uma eficaz metodologia no sentido de diminuir a violência, a delinquência juvenil, a agressividade, a toxicodependência, o alcoolismo, isto é, uma animação terapêutica ao serviço de politicas sociais, culturais e educativas promotoras de um novo conceito de educação para a saúde, educação para o ambiente, educação para os valores, educação para o ócio e o tempo livre, educação para a cidadania, educação para a participação e também uma educação assente na prevenção (LOPES, Marcelino p.78 2007).

Por sua vez Animador é considerado aquele que anima, que faz alimentar esperanças (do latim que dá vida). A relação entre estes dois conceitos faz todo o

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Página | 18 sentido também na área da Saúde Mental. A Animação Sociocultural nasce como forma de promoção de actividades destinadas a preencher criativamente o tempo livre. Aqui é novamente apresentado um outro conceito inteiramente ligado à temática do tempo livre. Dumazedier (1962) atribui ao Tempo Livre três funções a função de

Passatempo, Divertimento e Desenvolvimento. Segundo este autor enquanto passatempo, este é visto como “reparador” das deteriorações físicas e psíquicas provocadas pela tensão quotidiana. Se enquanto passatempo é derivado do cansaço, enquanto divertimento advém sobretudo do aborrecimento. A função de desenvolvimento é que permite uma participação social mais ampla, mais dinâmica e mais livre. A Animação enquanto “Ciência”, se assim a podemos definir, envolve todos estes conceitos e definições. E na área da Saúde Mental ela não é diferente, apenas congrega outras especificidades da área (FERREIRA, Dídia 2007). Américo Nunes

define o tempo como vida e afirma que a vida é tomar partido nos projectos em que

acreditamos, quer em tempo de trabalho quer em tempos livres ou de ócio. Por isso, urge animar a animação. Neste mundo complexo, não existe uma animação, mas, face à diversidade humana, às diferentes vivências e realizações pessoais e comunitárias, existem múltiplos âmbitos da animação, que vão fazendo caminho, como, por exemplo: animação da terceira idade, animação de adultos, animação juvenil e animação infantil, em função da idade; animação rural e animação urbana, de acordo com o espaço de intervenção; animação para a inclusão social, animação para as minorias étnicas, animação para grupos com comportamentos de risco, animação sociolaboral e de empresas, animação sanitária e hospitalar, animação turística, animação e desenvolvimento comunitário, etc., em função de problemáticas e temas específicos. Decorrente da mundividência destes âmbitos, urge desenvolver programas de formação que proporcionem conhecimentos, praticas e recurso, que habilitem os animadores a lançar no terreno projectos de intervenção nas diferentes áreas da animação. Recorrer à pedagogia do ócio para melhorar a qualidade de vida e a realização pessoal do ser humano é um dos grandes desafios da Animação Sociocultural. Assim, as desigualdades e injustiças, a pobreza e a exclusão exigem uma luta sem tréguas a favor da dignidade da pessoa humana, fundamento ético dos valores e dos direitos humanos

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Página | 19 O papel multifacetado do Animador Sociocultural faz então com que este trabalhe a nível do ócio dando ao grupo com quem trabalha uma maior dignificação e gosto pelo trabalho. Posto isto, a Animação Sociocultural deverá abordar, numa visão pessoal, novas metodologias de trabalho relativamente à forma como trabalhar com o cidadão portador de alguma deficiência mental uma vez que este necessita de ser encarado na sociedade como um ser considerado “normal”, possuidor de habilidades de trabalho e de percepção da realidade, cabendo assim ao Animador Sociocultural o papel de fazer com que tal se concretize a nível social.

2.2 Pedagogias aplicadas na ASTA 2.2.1 Antroposofia

O termo Antroposofia vem do grego e significa “conhecimento do ser humano”. Esta está directamente ligada às actividades do austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) que esteve algum tempo ligado á Sociedade Teosófica. A definição desta diz que se trata

então de um método de conhecimento da natureza, do ser humano e do universo que amplia o conhecimento obtido pelo método científico convencional, bem como trata da aplicação desse conhecimento em praticamente todas as áreas da vida humana (SAB

2009). Para Rudolf Steiner, considerando os cinco sentidos, o “oculto” é aquilo que não está acessível aos nossos sentidos físicos. Segundo Valdemar W. Setzer, estudioso da Antroposofia desde 1961, e membro desde 1971, com os sentidos conhecidos não é possível observar certas actividades interiores do ser humano tais como, como os sentimentos e os pensamentos. Os nossos sentimentos e pensamentos não são perceptíveis pelas pessoas nem por máquinas, portanto, estes são ocultos no sentido que Steiner quis dar à palavra sendo que Stezer afirma que o que dá vida ao ser vivo é oculto na medida em que as manifestações deste são perceptíveis através do seu próprio ser, contudo a essência da vida não é perceptível relativamente aos nossos sentidos físicos.

Assim, diz-se que uma contribuição fundamental de Steiner foi chamar a atenção para o facto de que esse “oculto” pode ser investigado com a mesma clareza com que se

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investigam os fenómenos físicos, ainda que essa investigação seja realizada com outros métodos e com outros órgãos de percepção, que também são “ocultos” (SAB, 2009).

Existem itens que distinguem a Antroposofia de outros conjuntos de ideias, filosofias e práticas sendo que um deles é a abrangência uma vez que a Antroposofia cobre toda a vida humana e a natureza, podendo ser aplicada em todas as áreas da vida. A realização prática desta dirige-se à Pedagogia Waldorf, existente desde 1919, e hoje aplicada em mais de 800 escolas no mundo, 13 delas no Brasil onde é encarado do ponto de vista físico, anímico e espiritual, e o desabrochar progressivo desses três constituintes bem como da sua organização. Assim, cultiva-se o querer (agir) através da actividade corpórea dos alunos em praticamente quase todas as aulas; o sentir é incentivado por meio de abordagem artística constante em todas as matérias, além de actividades artísticas e artesanais, específicas para cada idade. Outro aspecto, ligado ao espiritualismo, é que o seu método propicia-se se chegar ao facto de que o universo não

é constituído apenas de matéria e energia física, mas descobre um mundo espiritual estruturado de maneira complexa em vários níveis. Por exemplo, a Antroposofia diz que os seres humanos têm um nível de “substância” espiritual, não-física, mais complexa do que a das plantas e dos animais, e também descreve seres puramente espirituais, sem expressão física e que actuam em diferentes níveis de espiritualidade. Entende que alguns desses seres estão em níveis acima dos níveis da constituição humana, mas ainda assim são compreensíveis por meio de uma observação directa “supra-sensorial”. Dessa forma, diz que a substância física é uma condensação da “substância” espiritual, não-física e para ela não existe o paradoxo do espírito actuar na matéria, uma vez que o espírito é a origem de tudo (SAB 2009).

2.2.2 Terapia Social ou Terapia de convívio

Segundo a Sociedade Antroposófica do Brasil é importante salientar que as

necessidades dos seres humanos não são apenas físicas, como as de alimentação, vestuário, moradia, transporte, etc. Há necessidades culturais, como a educação e a auto educação, o contacto com obras artísticas e científicas, a obtenção de informação

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e conhecimento, etc. Há ainda necessidades essencialmente individuais, como a possibilidade de perseguir e concretizar um ideal, realizar-se na vida, etc. Também existem habilidades que não são puramente físicas, como resolver conflitos entre pessoas, ter novas ideias, ser criativo (SAB 2009). É a este nível que actua a terapia

social ou terapia de convívio, integrada na Antroposofia uma vez que destina-se a

assistir pessoas já adultas que precisam de cuidados. Em 1939 o Dr. Karl König fundou,

por meio das chamadas Comunidades Camphill, diversos centros residenciais e aldeias para pessoas com e sem problemas, criando assim uma forma de sociedade, na qual não haveria discriminação e sim uma verdadeira sociabilidade e integração de todos. Isso tornou-se, no "primeiro mundo", particularmente para os adultos especiais, uma alternativa digna às instituições terapêuticas, nas quais eles eram tratados como doentes ou deficientes. Na terapia social não se trata de educar o outro uma vez que todos são adultos, esta ocorre por meio do ajustamento mútuo, orgânico e respeitoso libertando a pessoa especial do rótulo de "coitadinho" e incapaz, dando-lhe não somente auto-estima, mas uma verdadeira e valiosa função no mundo (SAB 2010). A

SAB refere que, na Terapia Social vive-se o outro lado do trabalho pois a alegria de

poder servir o outro, o gosto de poder fornecer ao outro o que ele precisa e de receber esse serviço de maneira recíproca (SAB 2009). É basicamente por isso que as oficinas

ou ateliês são também chamadas de Oficinas Terapêuticas.

2.2.3 A Arte-Terapia

A Arte-Terapia está também aqui integrada uma vez que esta é um método de tratamento psicológico, que visa integrar no contexto psicoterapêutico mediadores artísticos. Tal origina uma relação terapêutica particular, assente na interacção entre o sujeito (criador), o objecto de arte (criação) e o terapeuta (receptor) sendo que o recurso à imaginação, ao simbolismo e a metáforas enriquece e incrementa o processo (SPAT 2004). A Arte-Terapia intervém a nível psicoterapêutico por meio de Desenho, Colagens, Pintura, Modelagem, Escultura, Drama e Jogos Dramáticos, Marionetas, Expressão Corporal, Música, Canto, Poesia, Escrita Livre Criativa e Contos. O

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entendimento do fenómeno psicológico em Arte-Terapia deverá ter em conta as perspectivas afectiva-relacional, existencial e cognitiva (SPAT 2004). A expressão

artística é central nesta psicoterapia pois é através do objecto de criação que é possível o acesso não só ao valor informativo, ou mesmo estético, mas sim pelo seu valor como mediador da expressão, como veículo de elaboração e como ensaio do processo criativo. Segundo a Sociedade Portuguesa de Arte Terapia, a função do imaginário é fundamental em Arte-Terapia para aceder a pensamentos, sentimentos, memórias, aspectos da personalidade e do self, alguns dos quais sem representação mental consciente e carecendo se serem integrados; para uma mais intensa e profunda compreensão do sentimento ou situação e para desenvolver a capacidade de ver e agir através de opções criativas, evitando o recurso a uma cognição prematura e limitada.

A experiência artística pode intensificar a expressão de vivências, bem como incrementar a consciencialização do sensorial e do equilíbrio estético. No contexto da Arte-Terapia, a facilitação de tal tomada de consciência pode ser importante para promover a riqueza, a vitalidade e a qualidade de vida. A expressão mediada possibilita também a mobilização de pulsões reprimidas, facilitando assim uma vida psicológica mais livre. Imagens de transformação e mudança, representadas nas criações artísticas, dão expressão à função reparadora, no decurso do processo terapêutico (SPAT 2004).

2.2.4 A Euritmia Curativa

O nome Euritmia foi proposto por Marie Steiner para a nova dança que surgia, mas existe como palavra e como conceito desde a Época Clássica na Grécia. Na sua

obra de nome "Kanon", o conceituado escultor de Argos, Polykleitos (440 A.C.), define extensamente o conceito eurythmia como o equilíbrio de forças actuantes no corpo humano; eu-rhythmós – o ritmo equilibrado, belo, harmonioso é uma categoria estética oculta das Artes Plásticas. Também o arquitecto romano Vitruv (25 A.C.) utiliza o conceito "euritmia", relacionando-o com a harmonia na arte de construir. Na Época Clássica de Weimar (1786-1832) surge novamente o nome Eurythmie, cujo conceito é

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definido por Herder como a "ordem benfazeja de um centro em relação a dois extremos

(BARRETO, Marília 1998).

A Euritmia é uma nova forma de dança que vem sendo amplamente desenvolvida, especialmente na Europa (Alemanha, Holanda, Suíça e Inglaterra), desde o início deste século. Inúmeras pesquisas nas áreas da Educação e da Medicina de inspiração antroposófica levaram à sua adopção no currículo das mais de 400 Escolas Waldorf em todos os continentes e como complemento terapêutico em diversos países. Como arte ela propõe-se a pesquisar o movimento intrínseco da linguagem poética e da música, como ele se configura no fluxo da fala e no desenvolvimento dos sons, com todos os seus matizes de sentimento, levando também em consideração o conteúdo específico expresso pelo poeta ou pelo compositor. Esse elemento artístico-plástico da fala e da música é transposto para o espaço cénico através do movimento coreográfico, complementado pelas cores das indumentárias e da iluminação. Simultaneamente com recitação ou música ao vivo a Euritmia dança, assim, o desenvolvimento dos sons de poesias e músicas, em toda sua complexidade (BARRETO, Marília 1998).

Estas noções de Euritmia foram essenciais na participação e monitorização, quando solicitada do ateliê de Movimento e Comunicação.

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Capítulo III

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3. Objectivos de trabalho

De acordo com o estabelecido no plano de estágio (Anexo1), foram determinados alguns objectivos, os quais passamos a apresentar:

 observar as dinâmicas da instituição;

 assistir nos ateliês e aulas, dentro do contexto lúdico-expressivo, nomeadamente: Papel Reciclado, Olaria, Tecelagem, Movimento e Comunicação (Animação), Pé Coxinho, Agricultura Biológica, Carpintaria, Manutenção e Piscina;

 participar e intervir na organização e coordenação de eventos que constam no programa de actividades da instituição e nas tardes culturais semanais;

 apoiar o ateliê de Olaria, de segunda a sexta-feira todas as manhãs;

 participar no ateliê de movimento e comunicação, de Terça e quinta-feira à tarde;

Inserido no programa de actividades da ASTA (Anexo2), a participação e apoio nestas seriam nas seguintes datas:

 29 de Setembro – Comemoração do São Miguel com jogos de coragem nas instalações da ASTA;

 11 de Novembro – Festejo de S. Martinho com dramatização da lenda na aldeia e cortejo de lanternas com a povoação e crianças das proximidades;

 2 de Outubro – Comemoração do 10º aniversário da ASTA, marcando este ano a “Arte da ruralidade”;

 2 de Dezembro – “O jardim do Advento” na ASTA;

 15 de Dezembro – Representação do “Auto dos Pastores”

Os objectivos mencionados no plano de actividades concretizaram-se a todos os níveis. A Olaria foi a actividade mais desenvolvida durante o período de estágio, uma

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Página | 26 vez que a instituição definiu a participação neste ateliê dando a possibilidade de ambas as estagiárias de Animação Sociocultural trabalharem em ateliês diferentes.

Relativamente à Tecelagem, foram realizadas actividades conjuntas no ateliê de olaria a fim de integrar novos companheiros. Na ausência Animadora Sociocultural foi-nos solicitada a dinamização do ateliê de Movimento e Comunicação, no entanto todas as terças e quintas-feiras à tarde participávamos nas actividades desenvolvidas pela Animadora.

Durante o estágio demos apoio ao grupo musical da ASTA, Pé Coxinho, essencialmente a nível vocal, durante os ensaios.

Na Carpintaria, até meados do mês de Outubro, dois dos companheiros pertencentes a este ateliê permaneceram na Olaria e foram desenvolvidos trabalhos com eles no contexto do seu ateliê (Anexo em suporte informático). Durante o mês de Dezembro, por decisão da ASTA, os almoços passaram a ser servidos na Casa da Oliveira, na aldeia da Cabreira. Neste período realizamos o transporte da alimentação da Instituição para a Cabreira. Esta actividade enquadrou-se no âmbito da Agricultura Biológica. Também foram pintados os novos azulejos para a Quinta da Ribeira, com os nomes dos animais (Anexo 4). Relativamente à Manutenção, a pintura dos planetas existentes no exterior da instituição resultam também do apoio dado. Quanto à Piscina Terapêutica as tarefas resumiram-se ao transporte de companheiros para almoço ou à substituição do monitor.

4. Actividades realizadas

O dia começava às 9:30h com a abertura do salão onde companheiros e colaboradores reunidos faziam exercícios de Euritmia, seguido com o canto de músicas alusivas à estação do ano e à época em questão, fazendo, por fim, a oração da manhã. Estes exercícios visam não só a trabalhar a noção de presença terrestre, no sentido grupal, mas também a abertura para um novo dia onde o “A” e o “E” eurítmicos significam o erradicar da terra e tudo o que esta possui, dando ao mundo o que nos é susceptível. A oração é praticada com o objectivo de inspirar uma predisposição para o

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Página | 27 novo dia que se inicia, mas também vocacionada para o desenvolvimento das capacidades existentes em cada companheiro, como por exemplo:

O dia começa e minha alma acorda e depois do acordar eu preparo-me para agir, disponho-me a trabalhar. Eu faço parte do mundo e tenho muito para dar! Farei tudo o que puder, farei tudo o que souber, para ter uma forma de vida, para ter uma forma de amar.

De seguida, cada companheiro ia para o seu ateliê, local de trabalho, onde realizavam inúmeras tarefas, tendo uma pausa às 10:30 para comer uma peça de fruta e uma bolacha, entregue pelo monitor. Perto das 11:50 dava-mos auxílio a algumas companheiras à casa de banho, as que se deslocam em cadeira de rodas ou, no caso da companheira Fátima, que tem epilepsia e a qualquer momento poderia ter um ataque.

Perto do meio-dia, deslocávamo-nos para almoço, onde das quatro mesas ocupadas, em cada mesa de cinco lugares existiam dois monitores ou colaboradores para distribuir a refeição e manter uma ambiência harmoniosa auxiliando nas dificuldades de cada um. Esta ambiência resultava também de um respeito pelo ritmo de inicio e de fim das refeições, a oração. Esta oração não tem cariz religioso e pretende acima de tudo incutir através deste ritmo, a percepção do sentido grupal. A tarefa de monitorização da mesa também ficou a nosso cargo e do outro monitor presente, excepto nas semanas entre 1 e 17 de Dezembro em que a monitorização da mesa era realizada por nós, ou por outra monitora.

Durante este mês, o transporte da refeição à aldeia da Cabreira para o grupo que trabalha na Agricultura Biológica que passou a almoçar na Casa da Oliveira. Este transporte era realizado intercalando os dias com a colega também estagiária. O regresso aos ateliês era às 14:30h, sendo assim o tempo desde o fim do almoço (13h) até essa hora, momentos de convívio, de conhecimento e “brincadeira” com os companheiros.

Por volta das 16:45h os companheiros arrumavam o ateliê e o monitor distribuía o lanche para regressarem a suas casas às 17h.

Às sextas-feiras à tarde, todos os companheiros e monitores juntavam-se no salão das instalações da ASTA para as “Tardes Culturais” onde se realizavam tardes de cinema, cânticos, exercícios e danças que envolvam todos os companheiros num sentido

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Página | 28 grupal e de libertação pessoal. Foi elaborado um calendário pessoal onde exponho datas e actividades realizadas (Anexo3).

4.1 Olaria & Cerâmica

Na olaria, trabalham cerca de 12 companheiros e a monitora Elisabete Fonseca. Aqui, o trabalho iniciava-se com a escrita da data que continha a localização espacial, temporal e identificação do planeta referente ao dia. Todos os companheiros possuem um caderno e escrevem essa data com ou sem ajuda, dependendo das suas limitações.

Fazendo parte deste ateliê, o trabalho como animadora foi essencialmente pedagógico e educacional ajudando cada um a criar dentro das suas limitações. Foi nosso objectivo promover a interacção entre o sujeito (criador), o objecto de arte (criação) e o terapeuta (receptor). O trabalho neste ateliê foi sobretudo individual, onde cada um foi estimulado a realizar actividades assistindo no desenvolvimento não só das suas aptidões pessoais como também dando apoio relativamente à forma como a sua patologia poderá ser cuidada e amplificada. Reconhecemos que seja pertinente relatar alguns casos em que o nosso trabalho foi algo de recompensador não só para a integração do companheiro na instituição como também para o nosso crescimento e enaltecimento enquanto Animadora Sociocultural.

A chegada de dois novos companheiros à ASTA e ao ateliê de Olaria deu-nos a possibilidade iniciar o trabalho com eles de acordo com a sua patologia, exigindo portanto uma concentração, estudo, observação e dedicação maiores do que é necessário com qualquer outro grupo que não portador de deficiência. Iremos debruçar-nos sobre estes dois companheiros em particular pois permitem demonstrar o trabalho real do Animador Sociocultural neste contexto.

Estes novos companheiros são a Marta de 32 anos (caso A) e o Paulo de 45 anos (caso B) que apresentam as seguintes patologias: o Défice de Atenção e Hiperactividade (TDAH) e Síndrome de Down ou Trissomia 21 respectivamente, ambos com repugna à sujidade1.

1

Esta característica foi, a mais difícil de controlar uma vez que no ateliê em questão têm que trabalhar o barro, logo, há contacto com “sujidade”.

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Página | 29 No caso A, ou seja, no companheiro portador do Défice de Atenção e Hiperactividade, recorremos aos critérios de diagnóstico elaborados por Jiménez, 1991 sendo estes: para perceber a patologia

a) Falta de atenção (pelo menos 3 dos seguintes sintomas):

 frequentemente não consegue acabar as actividades que inicia;

 frequentemente parece não estar a ouvir o que se lhe diz;

 distrai-se facilmente;

 tem dificuldades em concentrar-se no trabalho escolar ou em actividades que exijam atenção focalizada (capacidade de manter o foco da atenção ao longo do tempo);

 tem dificuldades para se concentrar no jogo. b) Impulsividade (pelo menos 3 dos seguintes sintomas):

 frequentemente actua antes de pensar;

 muda com excessiva frequência de uma actividade para outra;

 Tem dificuldades para se organizar no trabalho;

 Necessita de constante supervisão;

 Há necessidade de o chamar frequentemente à atenção;

 Custa-lhe aguardar pela sua vez em jogos ou noutras situações grupais. c) Hiperactividade (pelo menos 2 dos seguintes sintomas):

 Corre de um lado para o outro de forma excessiva (sobe os móveis por exemplo);

 Custa-lhe muito manter-se quieto num sítio e move-se excessivamente;

 Move-se muito durante o sono;

 Está sempre em «movimento» ou actua como se fosse «movido por um motor».

Ao longo dos dois meses em contacto com este caso constatamos que a hiperactividade pode então ser de certa forma superada com acções que chamem a atenção de quem tem esta patologia. Através da observação dos factos verificamos que a velha máxima “se não o consegues vencer, junta-te a ele” predomina uma vez que o

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Página | 30 cansaço físico acaba por compensar o cansaço psicológico. Aqui, o facto de compactuar com certos momentos de euforia serviu para desenraizar por parte da companheira o gosto pelo trabalho e uma maior focalização no local de trabalho, algo que inicialmente era impossível. Aquando da sua chegada, a Marta corria de um lado para o outro de forma excessiva por vezes subindo os móveis e não queria estar no ateliê estando sempre a “testar” de modo a perceber qual o ponto fraco do monitor a fim de o saturar para conseguir fazer prevalecer a sua vontade (atitude permanente em mais patologias).

Inicialmente a permanência no ateliê só era possível através da utilização de material não pertencente à olaria uma vez que, como referimos, o facto de tocar no barro implicava sujar as mãos, factor de repugna por parte da companheira. Dobar era a actividade que a fazia manter então no local de trabalho pois realizava algo que gostava sem ter que se sujar.

A primeira etapa estava então concluída, a Marta já permanecia no ateliê e sentia-se pertencente ao mesmo, sendo o meu objectivo seguinte, fazer com que se interessasse pelo barro. Assim, através da observação de criações dos colegas, a companheira começou então a interessar-se por este material tentando tocá-lo mas sempre com receio, sendo que para que esta fase fosse ultrapassada cabia-me, através de gestos simples, tocar nas suas mãos com as minhas revestidas de barro. Cada peça que seja produzida tem que ter uma finalidade e uma vez que o primeiro objecto criado pela Marta foi um pequeno cilindro que por iniciativa própria foi transformado em círculo. A ideia de tornar esses círculos proveitosos (Ilustração 1) foi a utilização destes para realizar um suporte para velas sendo que a base foi realizada pela monitora mas a pintura foi a própria Marta a faze-lo não tendo ainda concluído pois falta a cozedura do barro no forno.

O segundo trabalho realizado com esta companheira foi o da pintura de azulejos, (efectuado com todos os outros companheiros deste ateliê) trabalho este efectuado em aproximadamente um minuto, sintoma completamente normal da sua patologia.

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Página | 31 Seguidamente, a Marta passou a fazer bolas com barro, passando a ter assim um maior contacto com o mesmo. Destas bolas achatava um dos lados fazendo assim uma base onde na parte superior efectuou desenhos dando forma a colares, também estes ainda não finalizados uma vez que necessitam de ir ao forno. Por fim, o trabalho mais elaborado começado pela Marta foi um pote que devido ao excesso de água que esta depositava no barro, fez com que este se quebrasse de um lado. Outros objectos realizados por esta companheira eram pequenos potes ou bacios em miniatura que eram feitos rapidamente e com muita facilidade. Tendo estes dois materiais ocorreu-me realizar com eles um presépio, sendo que o primeiro pote grande serviu de estábulo e o pequeno serviu de manjedoura. As bolas para as cabeças bem como as mantas foram por mim pedidas à Marta que as efectuasse a fim de ajudar nesta montagem chamando assim a sua atenção para a época em questão, bem como da utilidade do que criou, apesar de um dos objectos ter rachado.

Ilustração 1- Suporte de velas Marta

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Página | 32 Deste modo, o trabalho desenvolvido com esta companheira foi elucidativo uma vez que nos fez ter a percepção de como lidar com situações deste género em que provavelmente me irei deparar mais vezes. Foi perceptível a criatividade que o Animador Sociocultural deve ter para que de uma forma simples consiga veicular o indivíduo contribuindo a nível do seu tratamento comportamental fazendo-o desenvolver a sua concentração e dedicação pelo que é capaz de realizar.

Relativamente ao caso B, segundo NEE, o Síndrome de Down implica problemas

cerebrais, de desenvolvimento físico e fisiológico e da saúde em geral do indivíduo. A maioria das alterações orgânicas produzem-se durante o desenvolvimento fetal e o diagnóstico pode-se realizar no momento do nascimento. Alguns autores consideram que os maus resultados e os problemas na aprendizagem e na memorização são devidos a dificuldades na categorização conceptual e na codificação simbólica. Desta forma, segundo esta teoria, a criança com Síndrome de Down, apesar de não dispor de um mecanismo de estruturas mentais de assimilação como as outras crianças, aprende sobretudo através de imagens (o concreto) e não por conceitos (o abstracto); (Jiménez,1991) .

O trabalho com o Paulo foi desenvolvido sobretudo através de imagens sendo que os trabalhos por ele elaborados apenas foram por tentativa de observação da minha parte. O Paulo chegou no dia 13 de Outubro após a morte dos seus pais com quem viveu toda a sua vida. Este passou o seu primeiro dia a deambular pela ASTA fugindo do contacto social e do interior das instalações sendo que ao saber que ia permanecer no

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Página | 33 ateliê de olaria deveria tentar fazer com que ele se integrasse. Para que tal acontecesse e para que percebêssemos o modo de como poderia trabalhar com ele efectuávamos todos os dias caminhadas em redor das instalações da ASTA. Durante estas caminhadas tentei perceber melhor a linguagem do “Paulinho” bem como o seu modo de reagir ao pisar diferentes tipos de piso, pegar em plantas ou objectos pelo caminho. Nada que implicasse sujar era realizado por ele e o facto de pronunciar pouco vocabulário exigiu uma maior concentração para perceber sinais de positivos ou negativos relativamente ao proposto. Como maior relativamente ao trabalho com este companheiro defini a fadiga e certas teimosias da sua parte sendo que com a empatia criada entre nós fez com que estes momentos fossem menos frequentes e ajudassem na realização de certas tarefas.

Assim, as actividades que o Paulo realizou foram inicialmente a escrita da data no seu caderno, actividade que inicialmente era impossível pois o facto de agarrar a sua mão para escrever a data era correspondido em modo de rejeição. Passando assim esta etapa o Paulo começou pintar diariamente no seu caderno modificando a intensidade e a diversidade das cores que utilizava, o que fazia com que fosse mais fácil a percepção do seu estado de espírito. De seguida começou a pegar em bolas de barro (já pintadas), enfileirando estas no fio, contactando já com este material, na última semana do mês de Novembro. Por fim, no decorrer de pinturas de azulejos, através da referida empatia entre monitor e companheiro, começou a pintar azulejos fazendo os seus característicos “riscos em linha recta”.

Tendo estes dois casos que muito contribuíram para a complementar a nossa formação enquanto Animadora Sociocultural e acima de tudo enquanto ser humano. Com estes trabalhos desenvolvidos, especificamente com estes companheiros, foram também concretizados outros trabalhos com todos os que pertencem a este ateliê, sendo pertinente abordar um outro caso, o da Maria.

Outro caso que convém salientar, No caso da companheira Maria, o seu autismo fazia com que não conseguisse sequer fazer uma bola com o barro. A formação de uma bola não só ia ajudar a Maria a criar algo mas também ia ajudar na formação da sua personalidade, uma vez que possui vários “eus”. A simplicidade desta tarefa não lembra o objectivo que esta tem. Como aqui o trabalho se faz “ombro a ombro”, ambas

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Página | 34 passamos algumas semanas simplesmente a fazer bolas que ao longo do tempo foram sendo aperfeiçoadas e sempre realizadas com um objectivo. O propósito de cada objecto é que faz com que os companheiros trabalhem com lucidez e sobriedade de pensamento, ou seja, “eu faço porque vai ser utilizado para isto” havendo assim uma maior motivação de trabalho. No caso da Maria, as suas bolas foram aproveitadas para vários fins tais como bolas para os espanta-espíritos que são muito requisitados na olaria, bem como para base de velas. O aperfeiçoamento foi se dando e o gosto pelo trabalho realizado por parte da companheira fez com que o resultado fosse positivo uma vez que a Maria já fizesse as bolas e as juntasse de modo a fazer assim o suporte para as velas. Aqui está o resultado quase final do trabalho elaborado pela Maria, uma vez que ainda falta ir ao forno para cozer, seguindo-se da pintura e nova ida ao forno para ficar com o vidrado final.

Outros casos Um outro companheiro cujo trabalho desenvolvido com este foi extremamente esclarecedor do modo como lidar com um indivíduo com deficiência visual cujo seu ateliê terapêutico é a Carpintaria. Este companheiro permaneceu no ateliê de Olaria até meados do mês de Outubro e a preparação de um tronco para futuras utilidades. (Anexo X).

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Página | 35 Uma nova actividade desenvolvida com os companheiros deste ateliê foi a pintura de azulejos em que cada companheiro pintou um ou mais azulejos com um corante que com a posterior ida ao forno ficavam com um aspecto vidrado. Este procedimento realizava-se da seguinte forma: inicialmente pintavam-se nos azulejos em branco mas já com vidrado (Ilustração 6) onde posteriormente este azulejo ia ao forno2 e depois deixar a temperatura baixar desde os 1098º até aproximadamente 95º. De seguida retirar as tampas para a temperatura ir baixando mais perto dos 150º. Quando o forno marcar cerca dos 75º, abrir a porta e deixar arrefecer, tirando de seguida o “produto final”3

.

Ilustração 6- Pintura previa do azulejo

Ilustração 7- Forno fechado Ilustração 8- Azulejos, resultado final

1

Ilustração 5 – Trabalho desenvolvido com o Luís

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Página | 36 Actividades paralelas a esta foram as caminhadas realizadas às sextas-feiras de manhã juntamente com os companheiros pertencentes ao ateliê de Tecelagem e monitoras. Estas caminhadas tinham como finalidade verificar os efeitos da caminhada a alguns companheiros e despertar para a caminhada a outros (Anexo 5), actividades estas que tiveram que ser abandonadas devido ao mau tempo.

4.2 Movimento e Comunicação

As actividades realizadas neste ateliê aconteceram poucas vezes dado que já existia Animadora Cultural na ASTA, sendo que a observação e participação da minha parte foram as metodologias aqui utilizadas. Eram realizados exercícios eurítmicos (através da dança e exercícios de respiração), “Conta-me Histórias”, e jogos de descontracção, comunicação e de expressividade ao “público”. Nos dias 21 de Outubro e 12 de Novembro de 2010 foram realizadas as actividades deste ateliê pelas estagiárias de Animação Sociocultural e o Musicoterapeuta uma vez que a Animadora estava ausente. Estas actividades tinham uma duração de cerca 2h e foram a continuidade do ateliê dado a outro grupo (ao grupo de companheiros da terça-feira anterior, grupo mais autónomo). Numa primeira sessão, todos sentados nas cadeiras dispostas em círculo realizamos actividades rítmicas onde cada companheiro batia uma vez na perna direita e duas vezes na perna esquerda. Seguidamente, enquanto dois companheiros faziam este ritmo, outros 3 batiam com os pés no chão ao ritmo das batidas nas pernas e das palmas que o outro grupo de 2 companheiros estava a fazer. Esta noção de ritmo ia sendo trocada pelos grupos e enquanto que o monitor ia fazendo ritmos no bombo acelerando e diminuindo o ritmo a fim de perceber a noção rítmica de cada um.

O “Conta-me histórias” que tinha sido proposto pela Animadora no ateliê de terça-feira anterior a esta, foi contar uma historia que fizesse lembrar algo ou que lhe desse uma lição de vida ou que fizesse recordar algo como por exemplo, a história do “Patinho feio” pode fazer lembrar a história que os nossos pais nos contavam em pequenos mas também nos pode transmitir um carácter de positivismo relativamente à vida e à aparência física. Esta tarefa visava acima de tudo conhecer o companheiro,

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