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4. Actividades realizadas

4.1 Olaria & Cerâmica

grupal e de libertação pessoal. Foi elaborado um calendário pessoal onde exponho datas e actividades realizadas (Anexo3).

4.1 Olaria & Cerâmica

Na olaria, trabalham cerca de 12 companheiros e a monitora Elisabete Fonseca. Aqui, o trabalho iniciava-se com a escrita da data que continha a localização espacial, temporal e identificação do planeta referente ao dia. Todos os companheiros possuem um caderno e escrevem essa data com ou sem ajuda, dependendo das suas limitações.

Fazendo parte deste ateliê, o trabalho como animadora foi essencialmente pedagógico e educacional ajudando cada um a criar dentro das suas limitações. Foi nosso objectivo promover a interacção entre o sujeito (criador), o objecto de arte (criação) e o terapeuta (receptor). O trabalho neste ateliê foi sobretudo individual, onde cada um foi estimulado a realizar actividades assistindo no desenvolvimento não só das suas aptidões pessoais como também dando apoio relativamente à forma como a sua patologia poderá ser cuidada e amplificada. Reconhecemos que seja pertinente relatar alguns casos em que o nosso trabalho foi algo de recompensador não só para a integração do companheiro na instituição como também para o nosso crescimento e enaltecimento enquanto Animadora Sociocultural.

A chegada de dois novos companheiros à ASTA e ao ateliê de Olaria deu-nos a possibilidade iniciar o trabalho com eles de acordo com a sua patologia, exigindo portanto uma concentração, estudo, observação e dedicação maiores do que é necessário com qualquer outro grupo que não portador de deficiência. Iremos debruçar-nos sobre estes dois companheiros em particular pois permitem demonstrar o trabalho real do Animador Sociocultural neste contexto.

Estes novos companheiros são a Marta de 32 anos (caso A) e o Paulo de 45 anos (caso B) que apresentam as seguintes patologias: o Défice de Atenção e Hiperactividade (TDAH) e Síndrome de Down ou Trissomia 21 respectivamente, ambos com repugna à sujidade1.

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Esta característica foi, a mais difícil de controlar uma vez que no ateliê em questão têm que trabalhar o barro, logo, há contacto com “sujidade”.

Página | 29 No caso A, ou seja, no companheiro portador do Défice de Atenção e Hiperactividade, recorremos aos critérios de diagnóstico elaborados por Jiménez, 1991 sendo estes: para perceber a patologia

a) Falta de atenção (pelo menos 3 dos seguintes sintomas):

 frequentemente não consegue acabar as actividades que inicia;

 frequentemente parece não estar a ouvir o que se lhe diz;

 distrai-se facilmente;

 tem dificuldades em concentrar-se no trabalho escolar ou em actividades que exijam atenção focalizada (capacidade de manter o foco da atenção ao longo do tempo);

 tem dificuldades para se concentrar no jogo. b) Impulsividade (pelo menos 3 dos seguintes sintomas):

 frequentemente actua antes de pensar;

 muda com excessiva frequência de uma actividade para outra;

 Tem dificuldades para se organizar no trabalho;

 Necessita de constante supervisão;

 Há necessidade de o chamar frequentemente à atenção;

 Custa-lhe aguardar pela sua vez em jogos ou noutras situações grupais. c) Hiperactividade (pelo menos 2 dos seguintes sintomas):

 Corre de um lado para o outro de forma excessiva (sobe os móveis por exemplo);

 Custa-lhe muito manter-se quieto num sítio e move-se excessivamente;

 Move-se muito durante o sono;

 Está sempre em «movimento» ou actua como se fosse «movido por um motor».

Ao longo dos dois meses em contacto com este caso constatamos que a hiperactividade pode então ser de certa forma superada com acções que chamem a atenção de quem tem esta patologia. Através da observação dos factos verificamos que a velha máxima “se não o consegues vencer, junta-te a ele” predomina uma vez que o

Página | 30 cansaço físico acaba por compensar o cansaço psicológico. Aqui, o facto de compactuar com certos momentos de euforia serviu para desenraizar por parte da companheira o gosto pelo trabalho e uma maior focalização no local de trabalho, algo que inicialmente era impossível. Aquando da sua chegada, a Marta corria de um lado para o outro de forma excessiva por vezes subindo os móveis e não queria estar no ateliê estando sempre a “testar” de modo a perceber qual o ponto fraco do monitor a fim de o saturar para conseguir fazer prevalecer a sua vontade (atitude permanente em mais patologias).

Inicialmente a permanência no ateliê só era possível através da utilização de material não pertencente à olaria uma vez que, como referimos, o facto de tocar no barro implicava sujar as mãos, factor de repugna por parte da companheira. Dobar era a actividade que a fazia manter então no local de trabalho pois realizava algo que gostava sem ter que se sujar.

A primeira etapa estava então concluída, a Marta já permanecia no ateliê e sentia-se pertencente ao mesmo, sendo o meu objectivo seguinte, fazer com que se interessasse pelo barro. Assim, através da observação de criações dos colegas, a companheira começou então a interessar-se por este material tentando tocá-lo mas sempre com receio, sendo que para que esta fase fosse ultrapassada cabia-me, através de gestos simples, tocar nas suas mãos com as minhas revestidas de barro. Cada peça que seja produzida tem que ter uma finalidade e uma vez que o primeiro objecto criado pela Marta foi um pequeno cilindro que por iniciativa própria foi transformado em círculo. A ideia de tornar esses círculos proveitosos (Ilustração 1) foi a utilização destes para realizar um suporte para velas sendo que a base foi realizada pela monitora mas a pintura foi a própria Marta a faze-lo não tendo ainda concluído pois falta a cozedura do barro no forno.

O segundo trabalho realizado com esta companheira foi o da pintura de azulejos, (efectuado com todos os outros companheiros deste ateliê) trabalho este efectuado em aproximadamente um minuto, sintoma completamente normal da sua patologia.

Página | 31 Seguidamente, a Marta passou a fazer bolas com barro, passando a ter assim um maior contacto com o mesmo. Destas bolas achatava um dos lados fazendo assim uma base onde na parte superior efectuou desenhos dando forma a colares, também estes ainda não finalizados uma vez que necessitam de ir ao forno. Por fim, o trabalho mais elaborado começado pela Marta foi um pote que devido ao excesso de água que esta depositava no barro, fez com que este se quebrasse de um lado. Outros objectos realizados por esta companheira eram pequenos potes ou bacios em miniatura que eram feitos rapidamente e com muita facilidade. Tendo estes dois materiais ocorreu-me realizar com eles um presépio, sendo que o primeiro pote grande serviu de estábulo e o pequeno serviu de manjedoura. As bolas para as cabeças bem como as mantas foram por mim pedidas à Marta que as efectuasse a fim de ajudar nesta montagem chamando assim a sua atenção para a época em questão, bem como da utilidade do que criou, apesar de um dos objectos ter rachado.

Ilustração 1- Suporte de velas Marta

Página | 32 Deste modo, o trabalho desenvolvido com esta companheira foi elucidativo uma vez que nos fez ter a percepção de como lidar com situações deste género em que provavelmente me irei deparar mais vezes. Foi perceptível a criatividade que o Animador Sociocultural deve ter para que de uma forma simples consiga veicular o indivíduo contribuindo a nível do seu tratamento comportamental fazendo-o desenvolver a sua concentração e dedicação pelo que é capaz de realizar.

Relativamente ao caso B, segundo NEE, o Síndrome de Down implica problemas

cerebrais, de desenvolvimento físico e fisiológico e da saúde em geral do indivíduo. A maioria das alterações orgânicas produzem-se durante o desenvolvimento fetal e o diagnóstico pode-se realizar no momento do nascimento. Alguns autores consideram que os maus resultados e os problemas na aprendizagem e na memorização são devidos a dificuldades na categorização conceptual e na codificação simbólica. Desta forma, segundo esta teoria, a criança com Síndrome de Down, apesar de não dispor de um mecanismo de estruturas mentais de assimilação como as outras crianças, aprende sobretudo através de imagens (o concreto) e não por conceitos (o abstracto); (Jiménez,1991) .

O trabalho com o Paulo foi desenvolvido sobretudo através de imagens sendo que os trabalhos por ele elaborados apenas foram por tentativa de observação da minha parte. O Paulo chegou no dia 13 de Outubro após a morte dos seus pais com quem viveu toda a sua vida. Este passou o seu primeiro dia a deambular pela ASTA fugindo do contacto social e do interior das instalações sendo que ao saber que ia permanecer no

Página | 33 ateliê de olaria deveria tentar fazer com que ele se integrasse. Para que tal acontecesse e para que percebêssemos o modo de como poderia trabalhar com ele efectuávamos todos os dias caminhadas em redor das instalações da ASTA. Durante estas caminhadas tentei perceber melhor a linguagem do “Paulinho” bem como o seu modo de reagir ao pisar diferentes tipos de piso, pegar em plantas ou objectos pelo caminho. Nada que implicasse sujar era realizado por ele e o facto de pronunciar pouco vocabulário exigiu uma maior concentração para perceber sinais de positivos ou negativos relativamente ao proposto. Como maior relativamente ao trabalho com este companheiro defini a fadiga e certas teimosias da sua parte sendo que com a empatia criada entre nós fez com que estes momentos fossem menos frequentes e ajudassem na realização de certas tarefas.

Assim, as actividades que o Paulo realizou foram inicialmente a escrita da data no seu caderno, actividade que inicialmente era impossível pois o facto de agarrar a sua mão para escrever a data era correspondido em modo de rejeição. Passando assim esta etapa o Paulo começou pintar diariamente no seu caderno modificando a intensidade e a diversidade das cores que utilizava, o que fazia com que fosse mais fácil a percepção do seu estado de espírito. De seguida começou a pegar em bolas de barro (já pintadas), enfileirando estas no fio, contactando já com este material, na última semana do mês de Novembro. Por fim, no decorrer de pinturas de azulejos, através da referida empatia entre monitor e companheiro, começou a pintar azulejos fazendo os seus característicos “riscos em linha recta”.

Tendo estes dois casos que muito contribuíram para a complementar a nossa formação enquanto Animadora Sociocultural e acima de tudo enquanto ser humano. Com estes trabalhos desenvolvidos, especificamente com estes companheiros, foram também concretizados outros trabalhos com todos os que pertencem a este ateliê, sendo pertinente abordar um outro caso, o da Maria.

Outro caso que convém salientar, No caso da companheira Maria, o seu autismo fazia com que não conseguisse sequer fazer uma bola com o barro. A formação de uma bola não só ia ajudar a Maria a criar algo mas também ia ajudar na formação da sua personalidade, uma vez que possui vários “eus”. A simplicidade desta tarefa não lembra o objectivo que esta tem. Como aqui o trabalho se faz “ombro a ombro”, ambas

Página | 34 passamos algumas semanas simplesmente a fazer bolas que ao longo do tempo foram sendo aperfeiçoadas e sempre realizadas com um objectivo. O propósito de cada objecto é que faz com que os companheiros trabalhem com lucidez e sobriedade de pensamento, ou seja, “eu faço porque vai ser utilizado para isto” havendo assim uma maior motivação de trabalho. No caso da Maria, as suas bolas foram aproveitadas para vários fins tais como bolas para os espanta-espíritos que são muito requisitados na olaria, bem como para base de velas. O aperfeiçoamento foi se dando e o gosto pelo trabalho realizado por parte da companheira fez com que o resultado fosse positivo uma vez que a Maria já fizesse as bolas e as juntasse de modo a fazer assim o suporte para as velas. Aqui está o resultado quase final do trabalho elaborado pela Maria, uma vez que ainda falta ir ao forno para cozer, seguindo-se da pintura e nova ida ao forno para ficar com o vidrado final.

Outros casos Um outro companheiro cujo trabalho desenvolvido com este foi extremamente esclarecedor do modo como lidar com um indivíduo com deficiência visual cujo seu ateliê terapêutico é a Carpintaria. Este companheiro permaneceu no ateliê de Olaria até meados do mês de Outubro e a preparação de um tronco para futuras utilidades. (Anexo X).

Página | 35 Uma nova actividade desenvolvida com os companheiros deste ateliê foi a pintura de azulejos em que cada companheiro pintou um ou mais azulejos com um corante que com a posterior ida ao forno ficavam com um aspecto vidrado. Este procedimento realizava-se da seguinte forma: inicialmente pintavam-se nos azulejos em branco mas já com vidrado (Ilustração 6) onde posteriormente este azulejo ia ao forno2 e depois deixar a temperatura baixar desde os 1098º até aproximadamente 95º. De seguida retirar as tampas para a temperatura ir baixando mais perto dos 150º. Quando o forno marcar cerca dos 75º, abrir a porta e deixar arrefecer, tirando de seguida o “produto final”3

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Ilustração 6- Pintura previa do azulejo

Ilustração 7- Forno fechado Ilustração 8- Azulejos, resultado final

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Ilustração 5 – Trabalho desenvolvido com o Luís

Página | 36 Actividades paralelas a esta foram as caminhadas realizadas às sextas-feiras de manhã juntamente com os companheiros pertencentes ao ateliê de Tecelagem e monitoras. Estas caminhadas tinham como finalidade verificar os efeitos da caminhada a alguns companheiros e despertar para a caminhada a outros (Anexo 5), actividades estas que tiveram que ser abandonadas devido ao mau tempo.

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