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As legislações referentes às mulheres pós-constituição federal de 1988: da crítica feminista decolonial diante da nova racionalidade neoliberal

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

Juliana Alice Fernandes Gonçalves

AS LEGISLAÇÕES REFERENTES ÀS MULHERES PÓS-CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: DA CRÍTICA FEMINISTA

DECOLONIAL DIANTE DA NOVA RACIONALIDADE NEOLIBERAL

Florianópolis 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

Juliana Alice Fernandes Gonçalves

AS LEGISLAÇÕES REFERENTES ÀS MULHERES PÓS-CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: DA CRÍTICA

FEMINISTA DECOLONIAL DIANTE DA NOVA RACIONALIDADE NEOLIBERAL

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Título de Mestra em Direito, na área de concentração “Teoria, Filosofia e História do Direito”.

Orientadora: Profª. Dra. Grazielly Alessandra Baggenstoss

Florianópolis 2019

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Às mulheres. Àquelas que vieram antes e se foram, àquelas que aqui estão, àquelas que vierem depois. Àquelas que não são vistas. À todas nós, mulheres.

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AGRADECIMENTOS

Inauguro este momento afirmando que esta pesquisa se trata de um trabalho coletivo. Muitas são as pessoas que colaboraram direta ou indiretamente para que o desenvolvimento desta dissertação fosse possível. Por ser inviável nomear cada uma e cada um destes sujeitos, de forma generalizada, agradeço pela contribuição que talvez inconscientemente se configurou de maneira entrelaçada.

Não seria sem motivo o meu reconhecimento destinado mais diretamente às mulheres. Através de experiências vividas pela ótica e corpo desta parcela de seres humanos me foi possível vislumbrar distintas perspectivas diante do todo. Visualizando em cada mulher suas particularidades, se tornou viável para mim mergulhar na multiplicidade que é o nosso universo, das mulheres, e assim conceber o fato de que somos variadas, existimos e resistimos. Esse trabalho é sobre e para nós. Todas nós. Muito obrigada à todas vocês.

Em especial, à Isolete Fernandes, que dentre tantas coisas, também é minha mãe, e que por sua existência iniciei a jornada pelos estudos de gênero e feministas, e pude olhar para os lados com mais cuidado e responsabilidade. Isolete, minha mãe, é um dos principais motivos que impulsionaram para a concretização deste trabalho. Igualmente as mulheres das minhas famílias que em meio às adversidades, me encorajaram, acreditando e apoiando. Obrigada!

Como se trata de um trabalho feito a várias mãos, é importante que se destaque o apoio das amigas e dos amigos. Da faculdade para a vida: Pâmela Santos, Solano Rosso dos Reis e Anny Lima de Souza. Iniciamos juntos uma caminhada e permanecemos juntos aqui também. As colegas de PPGD, que de forma mágica, se tornaram amigas e parceiras destas horas complexas vividas na Pós-Graduação: Naína Tumelero, Juliana Müller e Karine Grassi. Obrigada pela oitiva nos momentos de tensão e pelo fortalecimento dos laços. Em tempos obscuros, contar com o suporte daquelas e daqueles que torcem verdadeiramente é um privilégio.

Às mulheres do grupo Lilith, Núcleo de estudos em Direito e Feminismos, coordenada pela minha orientadora, muito obrigada. Todos os momentos compartilhados serviram de forma potente para prosseguir com este intento. Admiro a força que individualmente vocês apresentam, culminando em nosso coletivo resistente. Ainda, às alunas e aos alunos da disciplina “Direito e Feminismos”, também encabeçada pela minha orientadora, cresci e experimentei uma pontinha do que

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serão os próximos anos de minha vida, agradeço por ter sido com vocês e nesta disciplina tão linda e necessária!

Privilégio também é poder seguir por esta caminhada inspirada e encorajada pelas mulheres da academia. O espaço que, novamente, de forma privilegiada, escolhi estar. É a potência destas mulheres que muitas vezes me incentiva a prosseguir. Desta forma, agradeço à professora Mara Coelho de Souza Lago, que me abriu as portas em suas disciplina no Doutorado Interdisciplinar da UFSC, e aceitou fazer parte da minha banca de qualificação, onde competente e sensivelmente contribuiu de forma gigantesca para este trabalho. Agradeço do mesmo modo a professora Jeanine Nicolazzi Philippi, que em suas disciplinas, no programa de Pós-Graduação no qual estou inserida, despontou inquietudes que estão presentes neste trabalho.

Agradeço a professora Janyne Sattler, que contribuiu brilhantemente para esta pesquisa no momento de sua qualificação, fazendo parte então daquela banca, e por novamente aceitar o convite, agora para esta etapa final. À professora Fernanda Lima, que vem da minha primeira casa acadêmica, UNESC, e por aceitar fazer parte deste momento, é de suma importância para mim sua presença nesta fase, de forma que já vem contribuindo há algum tempo. Nesta oportunidade estendo os agradecimentos às professoras e aos professores da citada universidade por me apoiarem na decisão de seguir a carreira acadêmica. Agradeço também Amanda Muniz, pelas parcerias e diálogos enriquecedores, e em certa medida, por fazer parte deste momento. As trajetórias profissionais de todas vocês me motivam e me enchem de orgulho. Obrigada!

Por fim, não por ser menos importante, ao contrário, por não encontrar palavras que sejam suficientes, agradeço a minha orientadora, professora Grazielly Alessandra Baggenstoss. Obrigada pela confiança e liberdade que me foram concedidas, assim como pela compreensão nos momentos complicados, afinal, a vida não cabe no lattes e nem dá uma pausa para que a gente elabore uma pesquisa como essas sem contratempos. Sou muito grata, pois nossos caminhos se cruzaram, e mesmo sem nos conhecermos, naquele primeiro momento, tudo fluiu da maneira mais acertada possível e fui premiada com uma orientadora como você, Grazy. Obrigada pelo apoio e por me assistir de forma a melhor conduzir a pesquisa, você com certeza foi essencial.

Agradeço à CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pois sem este auxílio encontraria dificuldades para o desenvolvimento desta pesquisa. Agradeço pela possibilidade de poder realizar uma Pós-Graduação Strictu Senso num Programa de

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Excelência numa Universidade pública, gratuita e de qualidade, que é a UFSC. Que todas e todos, se assim o quiserem, disponham dessa oportunidade um dia.

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“Chora a nossa pátria, mãe gentil Choram Marias e Clarices no solo do Brasil Mas sei, que uma dor assim pungente Não há de ser inutilmente, a esperança Dança na corda bamba de sombrinha E em cada passo dessa linha pode se machucar Azar, a esperança equilibrista Sabe que o show de todo artista tem que continuar”.

REGINA, Elis. Artista. Letra de O bêbado e a equilibrista. Álbum: Essa Mulher. Data de lançamento: 1979. Compositores: Aldir Blanc e Joao Bosco.

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RESUMO: Diante da nova dinâmica social, política e econômica do mundo globalizado, intelectuais de diversas áreas começam a apontar para uma nova racionalidade de mundo, que aos poucos se instala, reformulando o que se entende por neoliberalismo. A partir do anos 1980, autores “subalternos” buscam construir conhecimento voltado para as realidades marginalizadas dos países periféricos, na tentativa de compreender tais cenários contados não exclusivamente por aqueles de onde seu local de fala e epistemologia seja o do norte global. Estes se encaixam nos estudos pós-coloniais. Nos anos de 1990, surgem os autores de(s)coloniais, que seguindo o nexo dos primeiros visam a discorrer sobre o colonialismo e colonialidade, aferindo-nos ainda como espaço colonial. A perspectiva dos estudos de(s)coloniais é a de que possamos discernir sobre a nossa própria realidade, que, para além dessa produção do conhecimento vista de fora, elaboremo-nos pela ótica de dentro. No interior deste viés, surge o feminismo decolonial, e aqui se insere a questão das mulheres. Dão-se, em certas conjunturas e pontos do globo, manifestações de mulheres de todo tipo buscando reivindicar direitos e espaços. Erguem-se as feministas. De mulher passa-se a mulheres. Existem contextos, realidades, e mulheres diferentes, portanto, feminismos diferentes. Esse é um dos pontos do feminismo decolonial. Dentro de toda esta tela, existe o campo do Direito, que perpassa todos os outros. Configurando-se como uma área endurecida e um campo conservador, desenvolve-se na lógica autoritária e colonial – não poderia ser ao contrário. Deste modo, o objetivo geral da pesquisa é o de analisar as legislações referentes às mulheres no Brasil após a promulgação da Constituição Federal de 1988 até 2018, no intuito de verificar se correspondem a uma perspectiva feminista decolonial, tendo em vista a nova racionalidade neoliberal. Pesando o recorte temporal proposto e as categorias elencadas pela teoria feminista decolonial, o tema se delimita na análise de um conjunto de legislações federais elaboradas e direcionadas principalmente para as mulheres no país, concomitantemente com aquelas materiais codificadas, quais sejam: Constituição Federal de 1988; Código Penal; Códigos Civis de 1916 e 2002; e Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. A pesquisa tem como tem como objetivos específicos: (a) estudar a crítica ao neoliberalismo aliada aos estudos de(s)coloniais e à perspectiva dos feminismos, sobretudo pelo viés feminista decolonial; (b) explorar as legislações referentes às mulheres no recorte temporal entre 1988 e 2018; (c) analisar as teorias propostas correlacionando com as legislações levantadas. Expondo os limites e características próprias de nosso país, verifica-se a insuficiência do ordenamento jurídico estudado

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para responder a pluralidade de mulheres, entretanto, tendo em vista a facticidade que nos toma, infere-se a necessidade de conservar aquilo que já está garantido.

Palavras-chave: Direito. De(s)colonialidade. Feminismos. Mulheres. Neoliberalismo. Teoria Feminista Decolonial.

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RESUMEN: Ante la nueva dinámica social, política y económica del mundo globalizado, intelectuales de diversas áreas comienzan a apuntar hacia una nueva racionalidad de mundo, que poco a poco se instala, reformulando lo que se entiende por neoliberalismo. A partir de los años 1980, autores "subalternos" buscan construir conocimiento orientado hacia las realidades marginadas de los países periféricos, en el intento de comprender tales escenarios contados no exclusivamente por aquellos de donde su lugar de habla y epistemología sea el del norte global. Estos se encajan en los estudios post-coloniales. En los años 1990, surgen los autores de(s)coloniales, que siguiendo el nexo de los primeros apuntan a discurrir sobre el colonialismo y la colonialidad, aferéndonos aún como espacio colonial. La perspectiva de los estudios de(s)coloniales es la de que podamos discernir sobre nuestra propia realidad, que, más allá de esa producción del conocimiento vista desde afuera, nos elaboramos por la óptica de dentro. En el interior de este sesgo, surge el feminismo decolonial, y aquí se inserta la cuestión de las mujeres. Se dan, en ciertas coyunturas y puntos del globo, manifestaciones de mujeres de todo tipo buscando reivindicar derechos y espacios. Se levantan las feministas. De mujer se pasa a las mujeres. Hay contextos, realidades, y mujeres diferentes, por lo tanto, diferentes feminismos. Este es uno de los puntos del feminismo decolonial. Dentro de toda esta pantalla, existe el campo del Derecho, que atravesa a todos los demás. Al configurarse como un área endurecida y un campo conservador, se desarrolla en la lógica autoritaria y colonial - no podría ser al revés. De este modo, el objetivo general de la investigación es el de analizar las legislaciones referentes a las mujeres en Brasil tras la promulgación de la Constitución Federal de 1988 hasta 2018, con el fin de verificar si corresponden a una perspectiva feminista decolonial, teniendo en vista la nueva racionalidad neoliberal. El tema se delimita en el análisis de un conjunto de legislaciones federales elaboradas y dirigidas principalmente a las mujeres en el país, concomitantemente con aquellas materiales codificadas, que sean: Constitución Federal de 1988; Código Penal; Códigos Civil de 1916 y 2002; y Consolidación de las Leyes del Trabajo - CLT. La investigación tiene como objetivos específicos: (a) estudiar la crítica al neoliberalismo aliada a los estudios de(s)coloniales y la perspectiva de los feminismos, sobre todo por el sesgo feminista decolonial; (b) explorar las legislaciones referentes a las mujeres en el recorte temporal entre 1988 y 2018; (c) analizar las teorías propuestas correlacionando con las legislaciones planteadas. Exponiendo los límites y características propias de nuestro país, se verifica la insuficiencia del ordenamiento jurídico estudiado para responder a la pluralidad de

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mujeres, sin embargo, teniendo en cuenta la facticidad que nos toma, se infiere la necesidad de conservar aquello que ya está garantizado. Palabras clave: Derecho. De(s)colonialidad. Feminismos. Mujeres. Neoliberalismo. Teoría Feminista Decolonial.

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ABSTRACT: Faced with the new social, political and economic dynamics of the globalized world, intellectuals from different areas begin to point to a new rationality of the world, which gradually establishes itself, reformulating what is meant by neoliberalism. From the 1980s, "subaltern" authors seek to build knowledge geared to the marginalized realities of the peripheral countries, in an attempt to understand such scenarios counted not exclusively by those from which their place of speech and epistemology is the global north. These fit into postcolonial studies. In the years of 1990, the de(s)colonials authors, who following the nexus of the first are aimed at discussing colonialism and coloniality, are still seen as colonial space. The perspective of de(s)colonials studies is that we can discern about our own reality, which, beyond this production of knowledge seen from the outside, let us elaborate from the perspective of the inside. Within this bias, decolonial feminism arises, and here the question of women is inserted. There are manifestations of women of all kinds, seeking to claim rights and spaces, at certain times and places on the globe. Feminists rise. From woman to woman. There are contexts, realities, and different women, therefore, different feminisms. This is one of the points of decolonial feminism. Within this whole canvas, there is the field of Law, which runs through all the others. Configuring itself as a hardened area and a conservative field, it develops in authoritarian and colonial logic - it could not be otherwise. In this way, the general objective of the research is to analyze the legislations referring to women in Brazil after the promulgation of the Federal Constitution from 1988 to 2018, in order to verify if they correspond to a decolonial feminist perspective, in view of the new neoliberal rationality. Weighing the proposed temporal cut and categories listed by decolonial feminist theory, the theme is delimited in the analysis of a set of federal legislations elaborated and directed mainly for the women in the country, concomitantly with those codified materials, such as: Federal Constitution of 1988; Criminal Code; Civil codes of 1916 and 2002; and Consolidation of Labor Laws - CLT. The research has as its specific objectives: (a) to study the critique of neoliberalism combined with the studies de(s)colonials and the perspective of feminisms, especially by the feminist decolonial bias; (b) to explore the legislation concerning women in the temporal cut between 1988 and 2018; (c) analyze the proposed theories correlating with the legislations raised. Exposing the limits and characteristics of our country, there is insufficient legal system studied to respond to the plurality of women, however, given the facticity that takes us, inferred the need to preserve what is already guaranteed.

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Keywords: Decolonial Feminist Theory. De(s)scoloniality. Feminisms. Law. Women. Neoliberalism.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACD – Análise Crítica do Discurso

ANC – Assembleia Nacional Constituinte CES – Câmara de Educação Superior CF/88 – Constituição Federal de 1988 CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNDM – Conselho Nacional dos Direitos da Mulher CNE – Conselho Nacional da Educação

CNPIR – Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial DAS – Grupo-Direção e Assessoramento Superiores

EUA – Estados Unidos da América

LGBTQI – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros, queer e Intersexual.

OEA – Organização dos Estados Americanos OIT – Organização Internacional do Trabalho ONU – Organização das Nações Unidas

PAISM – Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher PNPM – Plano Nacional de Políticas para as Mulheres SUS – Sistema Único de Saúde

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Constituição Federal de 1988... 81 Tabela 1.1 - Constituição Federal de 1988. Categorias...84 Tabela 1.2 - Constituição Federal de 1988. Artigos que citam especificamente as categorias...84 Tabela 2 - Código Penal Brasileiro...86 Tabela 2.1 - Código Penal Brasileiro – 1940. Análises após 1988. Categorias...87 Tabela 2.2 - Código Penal Brasileiro – 1940. Análises após 1988. Artigos que citam especificamente as categorias...87 Tabela 3 - Código Civil Brasileiro – 1916...89 Tabela 3.1 - Código Civil Brasileiro – 1916. Categorias...97 Tabela 3.2 - Código Civil Brasileiro – 1916. Artigos que citam especificamente as categorias... 97 Tabela 4 - Código Civil Brasileiro – 2002...100 Tabela 4.1 - Código Civil Brasileiro – 2002. Categorias...103 Tabela 4.2 - Código Civil Brasileiro – 2002. Artigos que citam especificamente as categorias...103 Tabela 5 - Consolidação das Leis do Trabalho – 1943. Análises após 1988...104 Tabela 5.1 - Consolidação das Leis do Trabalho – 1943. Análises após 1988. Categorias...108 Tabela 5.2 - Consolidação das Leis do Trabalho – 1943. Análises após 1988. Artigos que citam especificamente as categorias...108 Tabela 6 - Legislações federais temáticas. Questão da maternidade....112 Tabela 6.1 - Legislações federais temáticas. Questão da maternidade. (Artigos que citam especificamente as categorias)...112 Tabela 7 - Legislações federais temáticas. Questão dos alimentos...113 Tabela 7.1 - Legislações federais temáticas. Questão dos alimentos. (Artigos que citam especificamente as categorias)...113 Tabela 8 - Legislações federais temáticas. Questão da violência...115 Tabela 8.1 - Legislações federais temáticas. Questão da violência. (Artigos que citam especificamente as categorias)...115 Tabela 9 - Legislações federais temáticas. Questão da saúde...119 Tabela 9.1 - Legislações federais temáticas. Questão da saúde. (Artigos que citam especificamente as categorias)...120 Tabela 10 - Legislações federais temáticas. Questão da educação...122 Tabela 10.1 - Legislações federais temáticas. Questão da educação. (Artigos que citam especificamente as categorias)...123

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Tabela 11 - Legislações federais temáticas. Questão de trabalho e renda...123 Tabela 11.1 - Legislações federais temáticas. Questão de trabalho e renda. (Artigos que citam especificamente as categorias)...124 Tabela 12 - Legislações federais temáticas. Questão das políticas públicas federais...126 Tabela 12.1 Legislações federais temáticas. Questão das políticas públicas federais. (Artigos que citam especificamente as categorias)...126

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... p. 27 2 A CRÍTICA FEMINISTA E DECOLONIAL OBSERVADA A NOVA RACIONALIDADE NEOLIBERAL...33 2.1 Neoliberalismo como racionalidade política...33 2.1.1 As mutações subjetivas promovidas pelo sistema neoliberal...36 2.2 O novo padrão de poder mundial e a realidade de um país periférico no mundo capitalista...40 2.2.1 As teorias decoloniais como reconstrutoras da história...43 2.2.2 Colonialismo e Colonialidade: dos estudos pós-coloniais à de(s)colonialidade...44 2.3 A voz das mulheres: perspectivas feministas...49 2.3.1 A peculiaridade do feminismo brasileiro...54 2.3.2 A(s) mudança(s) do(s) olhar(e) feminista(s)...57 2.4 O feminismo decolonial: uma opção medular...61 2.4.1 Um viés aproximado: a categoria da interseccionalidade e as teorias das feministas negras norte-americanas...69 2.4.2 Considerações sobre um feminismo neoliberal...72 3 AS LEGISLAÇÕES BRASILEIRAS REFERENTES ÀS MULHERES NO PERÍODO ENTRE 1988 E 2018: UMA QUESTÃO DE (AUSÊNCIA DE) PLURALIDADE...77

3.1 Trinta anos de direitos das mulheres: Considerações Iniciais...77 3.1.1 A análise das legislações que versam sobre as mulheres no Brasil após a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: Codificações e Leis Federais Temáticas...79 3.2 A Constituição Federal de 1988 e as Legislações Codificadas...80 3.2.1 Direito Constitucional: A Constituição da República Federativa de 1988...80 3.2.2 Direito Penal: O Código Penal Brasileiro (decreto-lei n. 2.848, de 07 de dezembro de 1940)...85 3.2.3 Direito Civil: O Código Civil Brasileiro: (Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916 e Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002)...88

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3.2.3.1 Código Civil de 1916. Lei n. 3.71, de 1º de janeiro de 1916 (Revogada pela lei nº 10.406, de 2002)...89 3.2.3.2 Código Civil de 2002. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002...99 3.2.4 Direito do Trabalho: Consolidação das Leis do Trabalho (decreto-lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943)...104 3.3 Legislações Federais Temáticas: A Influência dos Atos e Acordos Internacionais...109 3.3.1 A Análise das Legislações Federais Temáticas: Mulheres Como Foco...111 3.4 O arcabouço das legislações apresentadas...127 4 O DIREITO PRECISA DE UMA SACUDIDA: A OPÇÃO

FEMINISTA DECOLONIAL PARA O ASPECTO

JURÍDICO...129 4.1 Os pontos que (não) se tocam da teoria feminista decolonial e neoliberalismo...129 4.1.1 Últimos trinta anos das legislações referentes às mulheres no Brasil pelas categorias feministas decoloniais...133 4.2 O Direito como construção cultural: repensando o legalismo...143 4.2.1 Uma contribuição da Análise (Crítica) do Discurso Jurídico...147 4.3 Um compilado temático, temporal e espacial e suas significâncias...152 4.3.1 A (in)compatibilidade das legislações referentes às mulheres no Brasil com a teoria feminista decolonial observando as influências neoliberais...157 4.4 A crítica jurídica latino-americana: construção deste tipo de pensamento através das margens...160 4.4.1 Mulheres juristas e feministas: abordagens refinadas no Direito...164 4.5 A discussão feminista e o âmbito jurídico sem recuos...176 4.5.1 Manifesto pelo não apagamento...176 CONSIDERAÇÕES FINAIS...179 REFERÊNCIAS...185

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INTRODUÇÃO

O neoliberalismo que fartamente foi alvo de debate durante os anos 2000 é aquele que ainda se enxerga como uma nova roupagem do liberalismo. As análises1 dizem respeito à nova forma de implantação

econômica ao nível global, a partir dos anos 1970/1980. Aqui no Brasil, buscava-se compreender os fenômenos referentes ao governo de Fernando Collor de Mello, e, posteriormente, de Fernando Henrique Cardoso. A globalização seguia sua agenda neoliberal nos anos 1980, enquanto que no Brasil consistia o furor da “redemocratização”, resultando na Constituição Federal de 1988, e na promessa dos direitos fundamentais.

Durante a interação constituinte, a lógica deste novo plano econômico e político ia se materializando e, cada vez mais, incorporando-se ao contexto interno, de forma que, durante os anos de 19902, a prática de governo foi a de seguir a construção desse citado

ideário global. Em 2002, diante do cenário que se desenrolava, um diferente programa de governo se estabeleceu no país, a partir da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, desenvolvendo práticas distintas daquelas exclusivamente neoliberalistas, em verdade, em termos gerais, culminando numa democracia liberal. Em 2008 o mundo, globalizado, sofreu com uma grande crise, que respinga no Brasil, contudo este consegue manter-se de certa forma estabilizado.

Na presença desta nova dinâmica social, intelectuais de diversas áreas começam a apontar para uma nova racionalidade de mundo, que aos poucos se instala, reformulando o que se entende por neoliberalismo e os resultados que dele viriam para as sociedades. De acordo com Dardot e Laval, essa nova razão de mundo não mais se limita a planos econômicos, mas também políticos no âmbito amplo, e filia-se a uma lógica do mercado, em que as pessoas são vistas como empresas.

1 Para saber mais: SANTOS, Marlene de Jesus Silva. Da reforma democrática

à reversão neoliberal: mudanças na estrutura administrativa brasileira e as

potencialidades da crise econômica. SER Social, Brasília, v. 12, n. 26, p. 88-115, jan/jul. 2010.

2 Para saber mais: GODOIS, Leandro. Direitos fundamentais sociais e

neoliberalismo no brasil: as contradições entre a promessa emancipatória e

a(s) política(s) de estado dos anos 1990 e seu impacto na judicialização da saúde. XII Seminário Nacional Demandas Sociais e Políticas Públicas na Sociedade Contemporânea e Mostra Nacional de Trabalhos Científicos. UNISC. ISSN 2447-8229. Edição 2016.

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Fragmenta-se e se individualiza no nível máximo. O neoliberalismo, observado e desenhado a partir principalmente da crise de 2008, atinge o íntimo de cada pessoa, individualizando as relações sociais. Espalha-se primeiramente pelos Estados Unidos e Europa, para então, de maneira contextualizada, atingir as periferias do mundo. Em nossa análise, primordialmente Brasil. O cenário atual brasileiro não poderia refletir mais nitidamente o que algumas autoras e alguns autores já vêm alertando há alguns anos e, dentro de toda esta tela, existe o campo do Direito, que perpassa todos os outros.

A partir do anos 19803, autores “subalternos” buscam construir

conhecimento voltado para as realidades marginalizadas dos países periféricos, na tentativa de compreender tais contextos contados não exclusivamente por aqueles de onde seu local de fala e epistemologia fosse o do norte global. Estes encaixam-se nos estudos pós-coloniais, que buscam verificar as consequências da administração colonial sofrida por países que foram invadidos há séculos atrás. Tal produção de conhecimento surge a partir de autores vindos da subalternidade, contudo, geradas pela localidade do norte global, fundamentalmente Estados Unidos.

Assim, nos anos de 1990, surgem os autores descoloniais, que seguindo o nexo dos primeiros visam a discorrer sobre o colonialismo, posteriormente o que se entende por colonialidade, quando dos resultados, presentes da colonização, aferindo-nos ainda, como espaço colonial. Dentre este podem ser citados Aníbal Quijano, Walter Mignolo, Ramón Grosfoguel etc., sendo que os escritos de Enrique Dussel muito contribuíram para esta escola do pensamento. A perspectiva dos estudos descoloniais é a de que possamos discernir sobre a nossa própria realidade, mas além dessa produção do conhecimento vista de fora, se elabore pela ótica de dentro. Ou seja, que aquelas pessoas que experimentam a vivência diária do que é viver num país, por exemplo, latino-americano, possam relatar e melhor observar em suas pesquisas, quais são os reais problemas enfrentados pela colonização/colonialidade. A transição de estudos descoloniais para decoloniais surge com a concepção de que além de nos desconectarmos

3 “Na década de 80, os Subaltern Studies se tornaram conhecidos fora da Índia, especialmente através dos autores Partha Chatterjee, Dipesh Chakrabarty e Gayatri Chakrabarty Spivak. O termo “subalterno” fora tomado emprestado de Antonio Gramsci, entendido como classe ou grupo desagregado e episódico que tem uma tendência histórica a uma unificação sempre provisória pela obliteração das classes dominantes” (BALLESTRIN, 2012, p. 4-5).

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dessas hierarquias globais às quais estamos submetidas e submetidos, tendo em vista a herança colonial, devemos nos insurgir diante delas. Dentro desta perspectiva, surge o feminismo decolonial, apontado originalmente por Maria Lugones, inserindo portanto a questão das mulheres.

Durante grande parte da história, o grupo que se entende e foi construído como mulheres foi levado à subjugação, submissão, opressões de toda ordem. Surgem, em certos contextos e pontos do globo, manifestações de mulheres de todo tipo buscando reivindicar espaços e direitos, desde os mais básicos. Erguem-se as feministas. Erguem-se os estudos e as manifestações feministas. Hoje, olhamos para trás com ressalvas, entretanto reconhecendo os feitos destas mulheres.

Fala-se nas ondas dos feminismos. A primeira, que se refere aos direitos básicos, como o voto, a segunda, que questiona a origem da condição feminina, onde o pessoal é político e a terceira, que muitas e muitos entendem ser a que vivenciamos no momento. Há então, um ponto de discussão, levando em consideração que as ondas do feminismo são contestadas no momento presente, pois muito do que se entendia por feminismo e pela construção intelectual feminista veio do norte global, isto é, questiona-se o fato de que o que se afirmava dizia respeito à realidade de determinados grupos de mulheres, mas não de todas. O universalismo do feminismo não mais é considerado plausível. De mulher passa-se a mulheres. Existem contextos, realidades, e mulheres diferentes, portanto, feminismos diferentes. Esse é um dos pontos do feminismo decolonial.

O Direito é uma área endurecida. Um campo conservador. Surge no país de forma atrasada e limitada. Desenvolve-se na lógica colonial – não poderia ser ao contrário. A nossa herança, levando em conta a colonização, perpassando a escravidão, é a do autoritarismo. Isto é, sendo o nosso país o último a abolir a escravidão nas Américas, foi superada essa lógica colonizadora escravista? A construção do que é o Direito no Brasil é frágil. Teorias foram importadas – principalmente da Europa – sem as lentes adaptadas para a realidade brasileira. Ainda se discutem alegorias quando o plano fático desmorona.

O contexto jurídico durante parte esmagadora de todo o seu tempo foi ocupado por homens de classes privilegiadas, e, diante deste cenário, se excluem diversas outras pessoas que não condizem com este perfil. Quando as mulheres adentram este meio, no começo, tratam-se, também, daquelas vindas de classes privilegiadas. Muito recentemente, outros grupos tiveram acesso a este curso tão tradicional no país, portanto é inimaginável afirmar que as condições de representatividade

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nestes espaços são as mesmas para todas e todos. Quais são os resultados para todo o aporte social que entra em contato com o âmbito jurídico? O Direito ainda tem cara? É a brasileira? É sem gênero? É sem raça? É sem classe?

O presente trabalho tem por objetivo analisar as legislações referentes às mulheres no Brasil após a promulgação da Constituição Federal de 1988, no intuito de verificar se correspondem a uma perspectiva feminista decolonial, tendo em vista a nova racionalidade neoliberal. O problema que a pesquisa visa responder é se as legislações específicas trazidas neste trabalho têm se dedicado à multiplicidade de mulheres brasileiras tendo em vista o que o feminismo decolonial aponta. Diante de tal indagação, buscamos examinar o próprio direito pelo viés do suporte dado pelos estudos de gênero e feministas, principalmente pelo feminismo decolonial, para, destarte, levantarmos os pontos críticos frente a nossa própria realidade, e reconhecermos os arranjos sociais, políticos e econômicos, e o que eles podem representar nos dias atuais. Desse modo, delimitamos a pesquisa na análise destas legislações, num espaço temporal de 1988-2018, explorando os últimos trintas anos destes direitos das mulheres no Brasil.

O recorte de conteúdo é pensando para que este estudo seja desenvolvido e concluído de forma satisfatória, no sentido de alcançar e responder os objetivos da pesquisa. Assim, as legislações4 passíveis de

exploração correspondem à Constituição Federal de 1988, e às legislações materiais codificadas, quais sejam: Código Penal, Códigos Civis de 1916 e de 2002, e a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Além destas, também fazem parte do recorte de pesquisa, separadas por áreas, as legislações temáticas que versem prioritariamente sobre mulheres, observando a influência dos atos e acordos internacionais. As áreas correspondem às questões de maternidade, alimentos, violência, saúde, educação, trabalho e renda, e políticas públicas federais.

Para observância desta coleta de dados, recorremos à análise do discurso jurídico, sobretudo, pela teoria feminista decolonial. Para isso, foram pensadas e separadas palavras-chave que correspondem às categorias trabalhadas pela teoria em questão, são elas: (i) mulher/mulheres/sexo/gênero, (ii) classe (e similares, como trabalhadora, empregada e operária), (iii) raça e cor, e (iv) sexualidade.

4 A metodologia para manejo das legislações se deu através do acesso ao site do Planalto, órgão oficial responsável para divulgar este tipo de conteúdo, neste momento, as legislações. Disponível em: < http://www2.planalto.gov.br/ >

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Portanto, diante destes quatro grupos de categorias, buscamos chegar a um diagnóstico, compreendendo o objetivo geral da pesquisa.

A dissertação tem como objetivos específicos: (a) estudar a crítica ao neoliberalismo aliada aos estudos de(s)coloniais e à perspectiva dos feminismos, sobretudo pelo viés feminista decolonial; (b) explorar as legislações referentes às mulheres no recorte temporal entre 1988 e 2018; (c) analisar as teorias propostas correlacionando com as legislações levantadas.

Para atender aos objetivos descritos, convém elucidar a metodologia de trabalho, ou seja, o caminho percorrido no desenvolvimento da presente dissertação. Assim, como método de abordagem, centramos a pesquisa no método dedutivo, pelo viés qualitativo, pautado em técnicas de procedimento eminentemente bibliográfica, no primeiro e também no terceiro momentos, documental, tendo em vista a coleta de dados do segundo capítulo, e, por fim, análise do discurso jurídico no terceiro capítulo. Deslindando, desta forma, que o trabalho se divide em três partes, por consequência, três capítulos.

A motivação de tal pesquisa está na contribuição intelectual em uma área ainda tão inexplorada como a da relação mulheres-feminismos-gênero-direito, pois se levando em consideração outros campos, estamos apenas iniciando um caminho que se apresenta longo. A discussão é urgente por motivos de toda a disparidade que vem sendo alertada entre homens e mulheres no âmbito do próprio direito, ou seja, entre aquelas e aqueles que trabalham com a instrumentalização jurídica em diversos seguimentos, bem como do que resulta disto para as mulheres do contexto em geral. A pretensão de análise apresentada visa a colaborar, dentro da perspectiva aqui elencada, com a concepção sobre o que é o direito, pois, analisando a relação das mulheres com o direito e de tudo que é englobado neste conceito, reflete-se sobre o todo. Pois fazemos parte dele e, de alguma forma, isso tem sido negligenciado – para dizer o mínimo – em toda essa trajetória.

Este trabalho apresenta caráter inovador, pela novidade da temática trabalhada no Programa de Pós-Graduação em que está vinculado, bem como por ser o primeiro resultado proveniente do mestrado acadêmico em consequência das contribuições teóricas do “Lilith”: Núcleo de Pesquisas em Direito e Feminismos da UFSC/CNPq, coordenado pela minha orientadora, Profª Dra. Grazielly Baggenstoss. Desta forma, compromete-se esta produção de conhecimento com sua relevância social e aporte nos processos de superação das injustiças.

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A discursiva desta pesquisa se dá predominantemente pela primeira pessoa do plural. Foi pensada desta maneira pois, para a realização deste trabalho, foram necessárias leituras de diversos autores e autoras. As teorias trazidas foram elaboradas por alguém, deste modo, em certa medida, é um trabalho coletivo. A intenção não é a de falar por estas e estes intelectuais, mas de demonstrar que por causa delas e deles, também e não somente, este conteúdo foi possível. Algumas vivências igualmente foram reconhecidas e a própria realidade fática de sujeitos, considerando seus marcadores sociais. Diversas pessoas contribuíram direta ou indiretamente para a construção do que se apresenta. Isto posto, é um trajeto feito em conjunto, não descolado do todo.

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2 A CRÍTICA FEMINISTA E DECOLONIAL OBSERVADA A NOVA RACIONALIDADE NEOLIBERAL

Trabalhar as perspectivas feminista, decolonial e antineoliberal no campo do Direito representa uma prática distinta, para dizer o mínimo. São categorias e teorias geralmente advindas de outras áreas e trazer para o corpo jurídico pode ser desafiador. Entretanto, o direito não se basta e, para melhor examiná-lo, compreendê-lo e praticá-lo, é necessário que circulemos por outros ramos para que possamos pensar para além das respostas prontas e não tão bem acabadas que a estrutura jurídica proporciona. Não se trata de abandonarmos o direito em si, mas em refiná-lo, e torná-lo um instrumento para alcance e garantia da justiça social, dos direitos humanos, e etc. Podemos considerar como uma dinâmica em que olhe para dentro e para fora, e vice e versa. 2.1 Neoliberalismo como racionalidade política

Quando buscamos refletir sobre aspectos jurídicos, sociais, econômicos, políticos e culturais do hoje, não somente, mas também, é importante realizar determinado percurso para então, em certa medida, compreendermos a realidade que nos cerca. Se queremos alcançar percepções sobre as mulheres numa perspectiva feminista (e decolonial) do/no direito brasileiro, através de análises quanto às legislações brasileiras referentes a este público, é valoroso conectarmos alguns pontos, pois a (des)construção do que se tem hoje, foi alicerçada por mecanismos de poder no decorrer dos tempos. É preciso que busquemos desvelar o sistema no qual estamos inseridas, como chegamos a ele, analisando os marcadores sociais dos sujeitos aqui averiguados – mulheres – bem como a que tipo de Direito estamos submetidas.

Para se chegar ao que entendemos hoje como neoliberalismo, um considerável trajeto foi percorrido. A fim de melhor analisar, utilizamos teorias elaboradas por distintas autoras e distintos autores sobre o tema. Em recente obra, Pierre Dardot e Christian Laval buscam explorar essa conjuntura. Tal trabalho foi escrito no período de gestação da crise financeira mundial de 2008. Trata-se de um aspecto que deve ser levado em consideração pelo fato de que, desde aquele cenário, vislumbra-se um novo olhar sobre o neoliberalismo, e a forma como este foi atingindo os países do globo, com o tempo e a dinâmica observados de acordo com as peculiaridades de cada localidade. Muito do que foi trabalhado

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no livro, publicado pela primeira vez em 2009, é com o olhar voltado para os Estados Unidos e Europa.

Trazem, os autores, a reflexão de que é fundamental nos desconectarmos dessa percepção imediata e simples de que foram os mercados que atraíram, a partir de fora, os Estados e, assim, “ditam a política que estes devem seguir, foram antes os Estados, e os mais poderosos em primeiro lugar, que introduziram e universalizaram na economia, as sociedades e até neles próprios a lógica da concorrência e o modelo de empresa5” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 19). Aqui já é

possível trazer a questão de como se dá relação hierarquizante de poder entre o que foi construído como centro e periferia no globo.

De forma a contextualizar brevemente, considerado como o “primeiro liberalismo”, o projeto se caracteriza pela composição da questão dos limites do governo, tudo isto que toma forma no século XVIII. De acordo com os autores, o governo liberal é atrelado por “leis”, que estão mais ou menos interligadas: “leis naturais que fazem do homem o que ele é “naturalmente” e devem servir de marco para a ação pública; leis econômicas, igualmente “naturais”, que devem circunscrever e regular a decisão política” (2016, p. 33). Para agregar às concepções quanto aos liberalismos e neoliberalismos, descrevendo a conjuntura do século XIX referindo-se à realidade brasileira, trazemos o que pontua Jessé de Souza:

O liberalismo tem esse sentido de recobrir com palavras bonitas, como “liberdade” e “autonomia”, o que era simplesmente uma reação ao Estado nascente e sua necessidade de impor a lei e proteger os mais frágeis do simples abuso do poder sob a forma da força ou do dinheiro. O interregno liberal de dominação política dos liberais no século XIX teve esse sentido não de liberar o poder local das amarras do incipiente Estado, mas, sim, de usar a máquina do Estado para o mandonismo e privatismo sem peias e limites dos já poderosos (SOUZA, 2017, p. 112). As abordagens teóricas de Jessé de Souza e Dardot e Laval, não são necessariamente idênticas, mas visam analisar fenômenos em comum. Há também que se levar em consideração, seus espaços de observação. A atenção do primeiro, no material estudado, é voltada precipuamente para as problemáticas brasileiras, enquanto que dos

5 Importante destacar que tal tese talvez não seja pacífica, é possível que hajam interpretações distintas.

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segundos, para Europa e EUA, ou para um viés mais macro, internacional. Seguindo ainda de acordo com Jessé de Souza, o novo século pedia um liberalismo revisado e habilitado para além de oprimir, convencer. Novamente, fazendo referência à realidade brasileira, pontua que o moralismo serviu como instrumento para a nova classe média adaptar os novos tempos, pintando, nas palavras do autor, com “cores de liberdade e decência”. Para ele, “o que estava em jogo aqui era a captura da classe média letrada pela elite do dinheiro, formando a aliança de classe dominante que marcaria o Brasil daí em diante” (SOUZA, 2017, p. 112).

Observando outra realidade, na grande crise de 1930, vem o “neoliberalismo”, que busca introduzir uma distância, ou até mesmo romper com a versão dogmática do liberalismo que se impôs no século XIX. Diante da crise econômica, política e doutrinal é que se opera uma refundação “neoliberal” da doutrina, que não mais se apresenta como unificada6. O neoliberalismo, de acordo com Dardot e Laval, não deve

ser considerado o herdeiro natural do primeiro liberalismo, pois este novo “modelo”, se pergunta agora sobre “como fazer do mercado tanto do princípio do governo dos homens como o governo de si” (2016, p. 34). Como racionalidade global, “o neoliberalismo é precisamente o desenvolvimento da lógica do mercado como lógica normativa generalizada, desde o Estado até o mais íntimo da subjetividade” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 34).

Nesse sentido que elenca o neoliberalismo como nova racionalidade, a análise marxista deste fenômeno se apresenta estreita demais, de acordo com os autores, pois ao averiguar a crise dos anos 1960-1970, limita-se todo o quadro a uma crise “econômica”. Em suas palavras, é necessário captar “a extensão das transformações sociais, culturais e subjetivas introduzidas pela difusão das normas neoliberais em toda a sociedade” (2016, p. 26), ou seja, compreender as especificidades da sociedade em termos estruturais, não guiar-se apenas pelo plano econômico. Importante ressaltar que o conceito de “racionalidade política” foi elaborado por Michel Foucault, autor que serve de grande apoio para pesquisa e reflexão de Dardot e Laval. Este conceito tem relação direta com o termo da “governamentalidade”,

6 “Duas grandes correntes vão se esboçar a partir do Colóquio Walter Lippman, em 1938: a corrente do ordoliberalismo alemão, representada sobretudo por Walter Eucken e Wilhelm Röpke, e a corrente austro-americana, representada por Ludwing von Mises e Friedrich A. Hakyek” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 33).

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também elaborado por Foucault. Nestes termos, a racionalidade política é uma racionalidade governamental, ou seja, “dos tipos de racionalidade que são empregados nos procedimentos pelos quais se dirige, através de uma administração de Estado, a conduta dos homens” (FOUCAULT, 2001, p. 338).

Conforme Dardot e Laval, “o neoliberalismo é um sistema de normas que hoje estão profundamente inscritas nas práticas governamentais, nas políticas institucionais, nos estilos gerenciais” (2016, p. 30), e seguem afirmando que “o que está em jogo nesses exemplos é a construção de uma nova subjetividade, o que chamamos de “subjetivação contábil e financeira”, que nada mais é do que a forma mais bem-acabada da subjetivação capitalista” (2016, p. 31). No decorrer do trabalho, observar-se-á que não somente estes autores têm chegado a tais conclusões, mas pesquisadores e pesquisadoras têm refletido sobre essa individualização e fragmentação máximas provocadas pelo neoliberalismo e das consequências disto em diversas áreas, planos e no íntimo de cada uma e de cada um. Bem como nos resultados para os próprios grupos progressistas e suas práticas.

2.1.1 As mutações subjetivas promovidas pelo sistema neoliberal

No desenvolvimento desta razão neoliberal surge o que Dardot e Laval chamam de “o homem7 empresarial”, que representa a relação

entre as instituições e a ação individual, pontuando que enquanto os ordoliberais alemães, Rougier e Lippman – os principais responsáveis pelo “renascimento neoliberal” – “destacam a necessidade governamental, Von Mises se recusa a definir a função das instituições em termos de intervencionismo” (2016, p. 143). Para este último, o grande passo consistia em rediscutir a concorrência no mercado de modo a radicalizar e sistematizar uma teoria coerente da ação humana que unisse alguns aspectos já existentes no pensamento liberal clássico, como desejo de melhora da própria sorte e fazer melhor do que o outro, conjuntamente com uma dimensão de competição e rivalidade. A doutrina austríaca busca trabalhar uma nova concepção de mercado, este que “é concebido portanto, como um processo de autoformação do sujeito econômico, um processo subjetivo autoeducador e autodisciplinador, pelo qual o indivíduo aprende a conduzir”

7 Já é de se questionar o sujeito utilizado pelos autores para discorrerem sobre sua teoria.

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(DARDOT; LAVAL, 2016, p. 140). Tudo isto com um Estado forte, guardião do direito privado.

É importante trazer estas questões para que se compreenda o percurso realizado e que influenciou no desenrolar dos diferentes neoliberalismos apontados pelos autores, tendo em vista que tal lógica neoliberalista é o horizonte que consiste em promover o ideário de “liberdade de escolher”. Em 1980 no Ocidente ocorre a grande virada, triunfando uma política qualificada que ao mesmo tempo se configurava em “conservadora” e “neoliberal”. Ronald Reagan e Margaret Tatcher são os nomes que simbolizam a quebra com o “welfarismo” da social democracia e propiciam a implementação de novas políticas, questionando principalmente matérias como as de direito trabalhista e representação dos assalariados (DARDOT; LAVAL, 2016).

O espírito da concorrência continua a ser trabalhado, na ideia de um “capitalismo livre”, de desmoralização dos indivíduos, num discurso e ar de meritocracia. É estabelecido um novo sistema de disciplinas, construindo novas exigências que colocam o indivíduo em posições em que são obrigados a escolher. Aparece a gestão neoliberal de empresa. “Em resumo, a grande vitória8 ideológica do neoliberalismo consistiu

em “desideologizar” as políticas seguidas, a ponto de não serem sequer objeto de debate” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 243).

As localidades observadas pelos autores giram em torno da Europa e Estados Unidos, assim, as realidades analisadas são estas, prioritariamente. O governo empresarial que se espalha a partir destes

8 “O mais importante não é tanto o triunfo da vulgata neoliberal, mas a maneira como o neoliberalismo é traduzido em políticas concretas, às quais afinal é submetida uma parte da população assalariada, e esta às vezes até as aceita, mesmo quando essas políticas visam explicitamente ao retrocesso de direitos adquiridos, de solidariedade entre grupos e entre gerações, e levam grande parte dos sujeitos sociais a dificuldades e ameaças crescentes, inserindo-os sistemática e explicitamente numa lógica de “riscos”. O neoliberalismo é muito mais do que uma ideologia partidária. Aliás, em geral as autoridades políticas que adotam as práticas neoliberais recusam-se a admitir qualquer ideologia. O neoliberalismo, quando inspira políticas concretas, nega-se como ideologia, porque ele é a própria razão. Assim, políticas muito semelhantes podem moldar-se nas mais diversas retóricas (conmoldar-servadoras, tradicionalistas, modernistas, republicanas, conforme a situação o caso), manifestando desse modo sua extrema plasticidade. Dito de outra maneira, a dogmática neoliberal apresenta-se como uma pragmática geral, indiferente às origens partidárias. A modernidade ou a eficácia não são nem de direita nem de esquerda, segundo dizem os que “não fazem política” (DARDOT, LAVAL, 2016, p. 242).

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locais e dos anos 1980 visa a uma transformação da ação pública, “tornando o Estado uma esfera que também é regida por regras de concorrência e submetida a exigências de eficácia semelhantes àquelas a que se sujeitam as empresas privadas” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 272).

Trazendo para a realidade brasileira, pode-se dizer, por exemplo, que este Estado gerencial se aplica durante os anos 1990, pós promulgação da Constituição Federal de 1988, com os governos de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso. A agenda global corre, mas é importante observarmos as especificidades do nosso próprio contexto, e como os acontecimentos externos afetam o interno, bem como a que tempo isto ocorre. A obra extensamente analisada destes autores foi escrita na gestação da crise de 2008, mas muito do que apontado por eles naquela época, se observa mais facilmente no cenário atual brasileiro, onde o neoliberalismo pós crise situada, empregou-se ferozmente a partir de 2016.

A fábrica do sujeito neoliberal baseia-se muito na incerteza do dia de amanhã, no risco e na individualização, em que cada um conta cada vez menos com formas mútuas de seus meios de pertencimento, perde-se a coletividade e as escolhas são guiadas pelas situações que são impostas9. As “escolhas” já têm opções pré-definidas. Aqueles que

alcançam seus objetivos o fizeram por merecer, pois questões que envolvem o ser humano, levando em consideração a sociedade em que está inserido, não são observadas. O mito da meritocracia. Há uma individualização da responsabilidade na realização dos objetivos, “o enfraquecimento dos coletivos de trabalho reforça esse isolamento” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 363), os laços, valores e referências se perdem. Por conta do risco profissional, o indivíduo se encontra numa situação de vulnerabilidade constante pois “a gestão exige dele um comprometimento integral da sua subjetividade” (2016, p. 363).

A destruição dos laços sociais acarreta no questionamento daquilo que faz parte da reciprocidade social e simbólica. Os autores afirmam que a identidade se tornou um produto consumível e, de certa maneira, esse é um dos pontos que será refletido no trabalho.

9 “Em outras palavras, a implantação de um dispositivo informacional de tipo comercial ou legal permite uma transferência do risco para o doente que “escolhe” determinado tratamento ou operação, para o estudante ou “desempregado” que “escolhem” certo curso de formação, o futuro aposentado que “escolhe” uma modalidade de poupança, o turista que aceita as condições do percurso etc” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 349).

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Argumentam, Dardot e Laval, que há um esgotamento da democracia liberal e que alguns traços caracterizam a razão neoliberal. Quais sejam: (a) o mercado não se apresenta como um dado natural, mas como um realidade construída que precisa de uma intervenção ativa do Estado e de um sistema de direito específico; (b) a essência da ordem do mercado reside agora na concorrência, não mais na troca, fazendo dela – a concorrência – como norma geral das práticas econômicas: (c) o próprio Estado é submetido à norma da concorrência; (d) cada indivíduo é uma empresa, “a exigência de uma universalização da norma da concorrência ultrapassa largamente as fronteiras do Estado, atingindo diretamente até mesmo os indivíduos em sua relação consigo mesmos” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 378). Do que buscou ser explanado até aqui de forma ainda mais resumida qualificam os autores

Da construção do mercado à concorrência como norma dessa construção, da concorrência como norma da atividade dos agentes econômicos à concorrência como norma da construção do Estado e de sua ação e, por fim, da concorrência como norma do Estado-empresa à concorrência como norma da conduta do sujeito-empresa, essas são as etapas pelas quais se realiza a extensão da racionalidade mercantil a todas as esferas da existência humana e que fazem da razão neoliberal uma verdadeira razão-mundo (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 379).

Toda essa discussão é trazida para que possamos refletir sobre a forma como as legislações têm sido pensadas e conduzidas quando seus objetivos são as mulheres brasileiras. Como o desenrolar do neoliberalismo tem afetado grupos que secularmente tiveram seus direitos restringidos? Ainda mais, tendo em vista que, da esfera econômica como pauta principal, essa nova razão passou a interferir na subjetividade das pessoas, individualizando-as e enfraquecendo seus coletivos com o Estado como garantidor de tais medidas. Tendo em vista a atual condição política do país, o que resulta de tudo isto? Teriam as legislações se aliado a lógica neoliberal? Essa que se desenvolve nos anos 1980 até hoje, passando por uma modificação com a crise de 2008? Isto no âmbito global, quando, da análise do contexto doméstico, é preciso que se tenha um cuidado diferenciado. Neste sentido, trazendo o que alertam os autores: “não devemos ignorar as mutações subjetivas provocadas pelo neoliberalismo que operam no sentido do egoísmo social, da negação da solidariedade e da redistribuição e que podem

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desembocar em movimentos reacionários ou até mesmo neofascitas” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 9).

2.2 O novo padrão de poder mundial e a realidade de um país periférico no mundo capitalista

Para David Ibarra, professor de economia mexicano, existem distinções sobre o neoliberalismo quando observada a realidade da América Latina, mas, ainda assim, aposta na questão da racionalidade10.

Pontua, o autor, que ocorrem as relações de dominação entre os países centrais e a periferia, contudo há acordos que restam subtendidos no sentido de manter a ordem das transações econômicas entre as nações. Aqui, o neoliberalismo age não somente no campo das relações internacionais, como também na direção e conteúdo das políticas e instituições internas. “Por isso, se integram em normas e regras, que auspiciam determinadas políticas e eliminam os conteúdos em outros modelos, inspirados em planejamentos ideológicos racionalizadores” (2011, p. 238).

De acordo com Ibarra, o projeto neoliberal busca moldar as economias nacionais aos ditados do mercado global, utilizando-se – quase sempre – de práticas políticas autoritárias, para que se alcance suas pretensões. Tudo isto contando com câmbios legais e institucionais que o garantam com ar de normalidade. Neste tipo de arranjo, onde os mercados estão abertos e submersos numa ordem econômica internacional, a democracia resta órfã, pois instala-se um ideário sem a

10 A racionalidade é a capacidade de exercermos a própria razão. De acordo com o que trazem Dardot e Laval (2016) é possível inferir que o neoliberalismo como nova racionalidade, se caracteriza como a própria racionalidade, ou seja, a nossa razão, a nossa subjetividade, é guiada por este ideal neoliberal, que não apenas nos afeta economicamente, mas politicamente, e em vários outros sentidos, modificando a forma como nos comportamos no tecido social. A nossa capacidade de exercemos a nossa própria razão está submetida a este sistema que fragmenta as relações sociais, os laços, e nos influencia a gerirmos as nossas vidas conforme uma empresa. Em Ibarra se identifica o fator da racionalidade neoliberal, quando, por exemplo, ele afirma que “em síntese, a utopia neoliberal exalta as virtudes abstratas dos mercados, dos prêmios aos mais aptos, da competitividade, da eficiência, das ganâncias, dos direitos de propriedade, e da liberdade de contratação” (2011, p. 239). Ainda, cumpre destacar que o conceito de “racionalidade” enfrenta árduos debates na filosofia, portanto, neste momento, o objetivo não é o de entrar neste tipo de debate conceitual.

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política, e resta sem respaldo e observância de um estado de direito. “Se suas normas nascem da imposição autoritária ou de mecanismos legislativos excluídos, formaram um pseudo-estado de direito carente de legitimidade, por violentar o princípio básico de toda democracia, a soberania popular” (IBARRA, 2011, p. 240). As economias neoliberais instituem na subjetividade uma quebra de esperança coletiva. A juventude se insere num mundo competitivo e cada vez mais individualista.

Analisa, o autor mexicano, a respeito da necessária reflexão sobre o paradoxo da globalização e do neoliberalismo, que apesar de terem ido juntos, não significam a mesma coisa, que não refletem as mesmas respostas para todas as nacionalidades (2011). Isto é, a depender da localidade do globo, as consequências podem ser distintas, e o tempo de aplicação desta lógica pode ser diverso. A verificação do autor é referente ao neoliberalismo que veio se alastrando desde a década de 1970, e, assim, faz as consequências pontuais à América Latina, novamente, observando as especificidades. Traz a informação de que em solo latino americano, voltamos para a antiga “especialização na venda de artigos primários — produtos agropecuários, minerais, energéticos, máquinas simples —, enquanto se perde terreno e competitividade, na colocação de manufaturas ou serviços, em que se encontra um avanço tecnológico de caráter mundial” (IBARRA, 2011, p. 242).

Fica evidenciado o que leciona Grosfoguel, quando baseando-se em produção de conhecimento conjunta com outros autores latino-americanos, sobre as hierarquias globais, e o nosso papel de servir mão de obra aos centros11 (2008). Outra consequência apontada por Ibarra, é

a que diz respeito ao alargamento quanto a escala universal da brecha entre os países marginalizados e abastados, ou seja, os primeiros são ainda mais empurrados para as margens, enquanto que os segundos crescem em vantagem. Em uma passagem de sua pesquisa, fica claro o

11 “Entre 1975 e 2003, período típico do predomínio neoliberal, a taxa de crescimento per capita mundial, além de polarizar-se entre as zonas prósperas e regiões atrasadas, caiu, em média, mais da metade em relação ao período de 1950-1975. O desenvolvimento não só tem sido estreitado, mas tem-se tornado mais volátil, mais propenso a contágios, mais inclinado a alargar os anos depressivos e a encurtar os de bonança. Ao mesmo tempo, se amplia a brecha do atraso da África e da América Latina. Desde a década de 1970, os países da OCDE cresceram a um ritmo médio de 2% anual, enquanto a América Latina apenas o fez a 0.6% e os países africanos subsaarianos, a -0,7%” (IBARRA, 2011, p. 242).

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ponto da interseccionalidade – que será um dos conceitos chaves deste trabalho – apesar de não nomeado pelo autor.

A escala universal dos custos gerados pela acomodação do neoliberalismo tem sido colocada nos ombros dos trabalhadores, mulheres e marginalizados. Os pactos sociais se estreitam ou se convertem em letra morta. Os sindicatos se debilitam, as afiliações diminuem, muitos são alvos da corrupção. Em termos econômicos e políticos se insiste (com sucesso) na instauração de políticas de desregularização e flexibilidade das normas protetoras do trabalho, sem oferecer quase nada em troca da supressão dos direitos adquiridos (IBARRA, 2011, p. 243).

Essa é uma das perspectivas da pesquisa. Reconhecendo as nossas especificidades, desde um local que sofreu com a colonização, e ainda sofre, localizando-se nas marginalidades do mundo. A tradição conservadora/fascista na qual estamos inseridos/as mascarada de (neo)liberal pode estar atrelada ao colonialismo/colonialidade sofrido(s), primeiramente por parte dos europeus (eurocentrismo), e, posteriormente, pelos norte-americanos (imperialismo). Como não reconhecer que isto interfere diretamente em nosso Direito? Em nossa condição de seres humanos (latino-americanos) Em nossa condição de mulheres? Nesta perspectiva é significativo trazer o que pontuam Dardot e Laval

Ao contrário de certa percepção imediata, e de certa ideia demasiado simples, de que os mercados conquistaram a partir de fora os Estados e ditam a política que estes devem seguir, foram

antes os Estados, e os mais poderosos em

primeiro lugar que introduziram e

universalizaram na economia, na sociedade e até neles próprios a lógica da concorrência e o modelo de empresa (2016, p. 19). Grifo nosso. Essa é uma interpretação que pode ser estendida para o conceito de colonialidade, em que os Estados mais poderosos, ditam sua política para outros Estados, introduzindo e universalizando, a partir deles próprios, suas ideologias e políticas econômicas. Assim nos transportamos para Maria Lugones, quando se propõe a fazer uma releitura da modernidade capitalista colonial moderna (2014). A filósofa argentina busca destacar a importância de conceituar e reconhecer o gênero como uma das formas de opressão colonial e daí construir um feminismo que questione os padrões eurocêntricos e/ou dominantes.

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Busca pesquisar a intersecção entre raça, classe, gênero e sexualidade para entender a indiferença com que são tratadas as violências que sistematicamente são infringidas contra as mulheres negras, contra as mulheres não brancas vítimas da colonialidade do poder e, inseparavelmente, da colonialidade de gênero (LUGONES, 2014). Antes disto ainda, é preciso que entendamos a construção e o caminho percorrido para o que se tem hoje como feminismo decolonial, ou estudos decoloniais, e decolonidade.

2.2.1 As teorias decoloniais como reconstrutoras da história

A partir do anos 1980, autores “subalternos” buscam construir conhecimento voltado para as realidades marginalizadas dos países periféricos, na tentativa de compreender tais contextos contados não exclusivamente por aqueles de onde seu local de fala e epistemologia fosse o do norte global. Estes se encaixam nos estudos pós-coloniais que buscam verificar as consequências da administração colonial sofrida por países que foram invadidos há séculos atrás. Tal produção de conhecimento surge a partir de autores vindos da subalternidade de outras áreas que não a do Direito, contudo, geradas pela localidade do norte global, fundamentalmente Estados Unidos. Assim, nos anos de 1990, surgem os autores descoloniais, que seguindo o nexo dos primeiros visam discorrer sobre o colonialismo, posteriormente o que se entende por colonialidade, quando dos resultados ainda persistentes da colonização, aferindo-nos ainda como espaço colonial. Nisto, cabe pontuar o que diz Jessé de Souza

Que os latino-americanos em geral e os brasileiros em particular tenham se deixado e ainda se deixem, até os dias de hoje, colonizar por uma concepção racista e arbitrária que os inferioriza e lhes retira a autoconfiança e a autoestima não é apenas lamentável. É uma catástrofe social de grandes proporções (2017, p. 23).

A perspectiva dos estudos descoloniais é a de que possamos discernir sobre a nossa própria realidade, mas além dessa produção do conhecimento vista de fora, que se elabore pela ótica de dentro, através de documentos, estudos e pesquisas. Ou seja, que aquelas pessoas que experimentam a vivência diária do que é viver num país

Referências

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