A DICOTOMIA ENTRE O
PENSAMENTO
TIPOLÓGICO E O
PENSAMENTO
POPULACIONAL
Pensamento tipológico
Anterior a Darwin.
Possui raízes na filosofia de Platão.
Ideia de tipo: conjunto de características básicas comum a
um grupo de indivíduos.
Pensamento populacional
Surgiu com Darwin, mas o termo “pensamento
populacional” é cunhado por Mayr.
A publicação de A origem das espécies foi um marco e
trouxe três contribuições:
-
Evidências da ocorrência da evolução.
-Seleção natural.
-
Substituição do pensamento tipológico.
Singularidade dos indivíduos.
As espécies são formadas a partir de médias aritméticas das
semelhanças dos indivíduos.
“O populacionista enfatiza a singularidade de tudo no
mundo orgânico. O que vale para espécie humana – a
ideia de que não há dois indivíduos iguais – também
vale para as outras espécies de animais e plantas.
Inclusive, o mesmo indivíduo muda continuamente
durante sua vida quando é colocado em ambientes
diferentes. Todos os organismos e fenômenos
orgânicos são compostos de características únicas e
só podem ser descritas coletivamente em termos
estatísticos. Os indivíduos, ou qualquer tipo de
entidade orgânica, formam populações das quais se
podem determinar a média aritmética e a estatística
das variações. As médias são simplesmente
abstrações estatísticas, e apenas os indivíduos que
compõem as populações tem realidade.” (Mayr, 2006,
p. 326-327)
Oposição entre o pensamento tipológico e o
pensamento populacional
Enquanto para o tipologista o tipo (forma, ideia,
essência, conjunto de características comum a todos
os indivíduos) é real, a variação é uma ilusão.
Diferentemente para o populacionista a variação é real
e o tipo (abstrações aritméticas das semelhanças entre
os indivíduos) é uma ilusão.
Espécie
Pensamento tipológico
Os membros de uma espécie possuem características
típicas da espécie.
Pensamento populacional
Indivíduos de espécies diferentes não podem se
reproduzir.
Seleção Natural
Pensamento tipológico
Um tipo é selecionado se for superior e rejeitado se for inferior.
1. Seleção natural não funciona.
2. Algumas outras forças devem estar em funcionamento para assegurar o
processo evolutivos.
Pensamento populacional
Cada indivíduo possui dezenas de milhares de traços, os quais podem estar sob um dado conjunto de condições seletivamente superiores ou inferiores se comparados a média da população. Quanto maior o número de
características superiores um indivíduo tiver, é maior a probabilidade que ele não só sobreviva, mas também se reproduza. No entanto isso é apenas uma probabilidade, pois esse indivíduo se encontra sob determinadas
condições ambientais e circunstâncias temporais. Esse ponto de vista estatístico da seleção natural permite uma definição operacional de
“superioridade seletiva”, em termos de contribuição para a carga genética da próxima geração.
Pensamento tipológico
Tipos.
Tipologistas não ignoravam a noção de variabilidade.
Vincula o pensamento tipológico á tradição Aristotélica
:
-
Modelo de estado natural: tendência do organismo de ser de tal
modelo.
-
Forças de interferências: interferências do meio ambiente
.
Pensamento populacional
Indivíduos singulares.
A ideia de evolução minou com o modelo de variação do
essencialista e também com a necessidade de encontrar
uma essência para cada espécie.
aspecto inovador do caráter populacionista: a seleção
natural explicaria a persistência, a difusão e a
porcentagem particular dos indivíduos e seus traços em
uma população, não sua origem.
Mayr ao cunhar o termo, pensamento
populacional, não pretendia tratar como algo
novo, mas sim capturar como esse foi tratado
ao longo da metade do século XX na
sistemática (ciência que tem o dever de
descrever a biodiversidade e as relações
filogenéticas, isto é, relações evolutivas, entre
os organismos) e na biologia evolutiva.
Pensamento tipológico
Vê a variação como um erro.
“há, na natureza, um protótipo geral em cada espécie em que cada indivíduo é modelado, mas que parece, ser alterado ou
aperfeiçoado conforme as circunstâncias. De modo que, parentes por certas características, existe uma variação que é incomum nos indivíduos em cada espécie, e ao mesmo tempo uma
constância na espécie como um todo que parece notável. O primeiro animal, o primeiro cavalo, por exemplo, tem sido o
modelo externo e o modelo interno sobre o qual todos os cavalos que já nasceram, todos aqueles que agora existem, e que
existirão, tem sido formados. Mas este modelo, que conhecemos apenas por suas copias, tem sido capaz de ser alterado ou
aperfeiçoado na comunicação ou multiplicação de suas formas. A impressão original subsiste, na sua totalidade, em cada
indivíduo, mas embora possa haver milhões desses, nenhum indivíduo, é semelhante, em conjunto, com qualquer outro, nem o modelo de um conjunto de indivíduos é semelhante com o modelo de outro conjunto” Buffon (1753 apud O'HARA, 1998, p. 2)
Pensamento populacional
Rejeita a ideia de tipos ou estados naturais.
A variação individual dentro de uma espécie é
resultado de um processo contínuo de mutação e
recombinação, a produção dos fenótipos
(características observáveis de um organismo) nos
ambientes disponíveis, e em seguida uma seleção
desses fenótipos de geração em geração.
Características primárias (estruturais).
Características secundárias (adaptativa).
Lamarck
Características primárias obedecem a um plano da natureza
que é modificado a partir de progressão ascendente ou
aumento da complexidade.
Características secundárias são suscetíveis a modificação
através da influência do meio ambiente.
Aceita que haja transformação em uma espécie, pois não
seria mais do que uma modificação secundária que deixaria
intacto o tipo original, esse que seria gerado conforme uma
determinação imposta pelas leis físicas em um processo
Darwin
Não há um plano natural que orientasse a variação de uma
espécie para o seu aumento de complexidade.
Dessa forma, para Darwin, as características secundárias, que
são produzidas pelo hábito, podiam chegar a se transformar em
características primárias, ou parte do Blaupan (plano corporal).
Darwin não eliminou o pensamento tipológico, mas sim o
colocou em uma perspectiva histórica, pois as modificações
secundárias, as variações, poderiam ser retidas em um ancestral
e posteriormente apareceriam no Blaupan de um filo.
Podemos explicar o Blaupan, como o estado embrionário em
que as classes ou espécies de um filo(reino) possuem a
aparência muito semelhante, ou seja, nesse estado embrionário,
que também é conhecido como estado filotípico, as
características dos embriões de todas espécies do reino dos
vertebrados são muito semelhantes. O Blaupan retém as
características de um ancestral comum que foram retidas a
partir da adaptação ao ambiente.
Darwin ao estudar as leis do desenvolvimento, em Von Baer, percebeu que no estágio precoce da ontogenia, isto é, do desenvolvimento do indivíduo desde sua fase embrionária até a sua fase adulta, ocorria a construção do Blaupan ou plano corporal dos filos, e a partir desse plano corporal
diferenciavam as ontogenias de cada classe pertencente a um phyla, isto é, o desenvolvimento de cada uma das espécies que pertencem a um filo. No entanto Darwin, ao observar isso, concluiu que essa estrutura era a
reminiscência, isto é, era a memória de alguma característica de um ancestral que deveria ter existido em vida livre, e essa característica foi
memorizada, ou melhor, retida, pela adaptação desse ancestral às condições locais existentes nas quais viveu. Mas para que tais características pudessem ser para que as características secundárias pudessem ser adicionadas ao
plano corporal ou Blaupan, era necessário que essas seguissem o princípio de Haeckel, que afirma que um ancestral x na vida adulta teve uma
característica y retida através da adaptação ao meio, essa característica y aparecera uma fase mais cedo no seu descendente w, aparecerá na infância, esse descendente w que gerou tal característica x na infância, gerara outro descendente z que terá a característica x anexada ao plano corporal.
“Para poder fazer depender a variabilidade evolutiva de mínimas variações secundárias é necessário aceitar o princípio da
recapitulação, que, para Haeckel, iria adquiria, posteriormente, o caráter de lei. A distinção entre propriedades primárias e
secundárias é superada completamente quando se transforma na distinção entre etapas precoces e tardias na ontogenia. A
recapitulação haeckeliana supõe a possibilidade de acrescentar etapas ou passos de maior diferenciação e, ao mesmo, uma atividade compressora, que faz com que as características na descendência apareçam em uma etapa anterior à que apareceram pela primeira vez no ancestral. Dessa maneira, a adição de
etapas não implica um alongamento excessivo das ontogenias; ela traz como consequência a diluição da distinção entre
características primárias e secundárias. De acordo com a recapitulação, as formas ancestrais de vida em suas etapas
juvenis determinaram tendências evolutivas mediante mudança de hábito e comportamento diante das exigências do ambiente e, na medida em que algumas dessas modificações foram
aparecendo em estágios de desenvolvimento mais precoces, transformaram-se em parte do plano corporal das espécies
Bibliografia
MAYR, E. Typological versus population thinking. In:
SOBER, E. (Ed.). Conceptual issues in evolutionary biology.
London: The MIT press, 2006. p. 325-328.
SOBER, E. Evolution, population thinking, and essencialism.
In: SOBER, E. (Ed.). Conceptual issues in evolutionary
biology. London: The MIT press, 2006. p. 329-359.
MARTÍNEZ, M. A contingência dos padrões de organização
biológica: superando a dicotomia entre pensamento tipológico
e populacional. In: ABRANTES, P. C. Filosofia da biologia.
Porto Alegre: Artmed, 2011.