• Nenhum resultado encontrado

Percepção Socioambiental da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis do Município de Pinheiros - ES

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Percepção Socioambiental da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis do Município de Pinheiros - ES"

Copied!
53
0
0

Texto

(1)

INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM GESTÃO AMBIENTAL

THIELEN MARTINS DOS SANTOS BRANDÃO

PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA ASSOCIAÇÃO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DO MUNICÍPIO DE PINHEIROS - ES

Nova Venécia 2019

(2)

THIELEN MARTINS DOS SANTOS BRANDÃO

PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA ASSOCIAÇÃO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DO MUNICÍPIO DE PINHEIROS - ES

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Gestão Ambiental do Programa de Pós-Graduação do Instituto Federal do Espírito Santo como requisito parcial para obtenção do certificado de Especialista em Gestão Ambiental.

Orientadora: Professora Dra. Talita Aparecida Pletsch

Nova Venécia 2019

(3)
(4)
(5)

THIELEN MARTINS DOS SANTOS BRANDÃO

PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA ASSOCIAÇÃO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS DO MUNICÍPIO DE PINHEIROS - ES

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Gestão Ambiental do Programa de Pós-Graduação do Instituto Federal do Espírito Santo como requisito parcial para obtenção do certificado de Especialista em Gestão Ambiental.

Aprovado em 24 de Setembro de 2019.

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof.ª Dra. Talita Aparecida Pletsch Instituto Federal do Espírito Santo

Orientador

Prof. Dr. Waylson Zancanella Quartezani Instituto Federal do Espírito Santo

Membro Interno

Profª. Dra. Veridiana Basoni Silva Instituto Federal do Espírito Santo

(6)

AGRADECIMENTOS

A Deus, o meu louvor pela minha saúde física, emocional e espiritual que me possibilitaram condições para chegar até aqui. Sem Ele eu nada sou!

A minha amada família, em especial, ao meu esposo e aos meus pais, uma vez que me compreenderam nos momentos de ausência, sempre me apoiando. São eles os meus incentivadores!

A minha orientadora, Talita Aparecida Pletsch, por quem tenho um carinho especial! Ela, por sua vez, me atendeu prontamente desde o primeiro contato, ajudando-me com todo o seu conhecimento e experiência nessa fase tão importante.

Aos irmãos em Cristo, em razão das constantes orações no decorrer do curso e da elaboração da pesquisa. Eis aqui a vitória!

Sem menos importância, aos maravilhosos catadores entrevistados, pois foram fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa e por realizarem um trabalho árduo diariamente, que nos traz tantos benefícios enquanto cidadãos desse planeta.

(7)

RESUMO

Os resíduos sólidos urbanos devem ter uma disposição final adequada, visando minimizar impactos ao meio ambiente, portanto, sua produção deve ser reduzida e, à medida do possível, reutilizados e reciclados. Dessa forma, surge a atividade da catação de material reciclável na qual, cada vez mais, muitas pessoas têm ingressado em busca de sobrevivência. Embora, por meio da reciclagem, o catador seja indispensável para a reintegração dos resíduos ao ciclo produtivo, trata-se de uma atividade segundo a qual os trabalhadores são comumente excluídos pela comunidade. Além disso, passam por diversas privações e se encontram expostos a riscos e danos à saúde. Nesse contexto, o presente estudo de caso busca analisar a realidade dos profissionais catadores de material reciclável, ora organizados em associação, por intermédio do levantamento do perfil sociodemográfico, dos riscos à saúde coletiva e da percepção quanto à função de agentes ambientais no município de Pinheiros (ES). Foram entrevistados treze catadores, sendo aplicado um questionário semiestruturado, dividido em três grupos: dados sociodemográficos; dados sobre o ambiente de trabalho e segurança; percepção sobre as atividades exercidas e a sua relação com o meio ambiente. O primeiro e o segundo grupo, foram tabulados e elaborados tabelas e gráficos e, para o último grupo, foi utilizado a Análise de Conteúdo para examinar os dados da abordagem qualitativa. Os catadores demonstraram conhecer o que é reciclagem e a importância do seu trabalho por meio da coleta seletiva, estando conscientes de que são agentes colaboradores com a preservação ambiental, mas se sentem excluídos e humilhados e, por fim, queixam a falta de colaboração da comunidade no sentido de realizar a separação dos resíduos já nas próprias residências. Os resultados desta pesquisa são fundamentais para aumentar as reflexões e discussões, a fim de que os distintos setores da sociedade se mobilizem em apoiar efetivamente as associações de catadores, possibilitando minimizar os danos à saúde e a valorização do trabalho dos mesmos.

(8)

ABSTRACT

Municipal solid waste should be adequately disposed to minimize impacts on the environment. Therefore, their production should be reduced and, as far as possible, reused and recycled. Thus, the activity of collecting recyclable material emerges, which, increasingly, many people have been seeking for survival. Although through recycling, the collector is indispensable for the reintegration of waste into the production cycle, it is an activity in which workers are commonly excluded by the community. Besides going through many deprivations and their heath is exposed to risks and damages. In this context, the present case study seeks to analyze the reality of professionals who collect recyclable material, now organized in an association, through the survey of the sociodemographic profile, the risks to collective health and their perception of their role as an environmental agent in the municipality of Pinheiros-ES. It was interviewed thirteen waste pickers and applied a semi-structured questionnaire divided into three groups: sociodemographic data; data about the environment work and safety; perception about the activities performed and their relationship with the environment. The first and second groups were tabulated with the elaboration of tables and graphs, and for the last one the Content Analysis was used to examine the data from the qualitative approach. Waste pickers have shown to know what recycling is and the importance of their work through the selective collection, being aware that they are collaborating agents with environmental preservation. However, they feel excluded and humiliated, and complain about the lack of community collaboration in separating waste still in their homes. The results of this research are fundamental to increase reflections and discussions so that the different sectors of society can mobilize to effectively support the associations of waste pickers, enabling minimize the damage to health and the appreciation of their work.

(9)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localização do munícipio de Pinheiros em referência as escalas nacional

e estadual ... 18

Figura 2 - Distribuição da área geográfica da UTC por imagem de satélite ... 20

Figura 3 - Visão panorâmica da UTC ... 20

Figura 4 - Catadores exercendo a atividade de triagem ... 21

Figura 5 - Enfardamento dos materiais recicláveis após prensagem ... 22

Figura 6 - Leiras formadas no pátio de compostagem ... 22

Figura 7 - Resíduos recicláveis após triagem, material: PET ... 23

Figura 8 - Resíduos recicláveis após triagem, material: PEAD (A) e (B) ... 24

(10)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Utilização do equipamento de proteção individual ... 31

Gráfico 2 - Tipos de acidentes de trabalho ... 33

Gráfico 3 - Riscos identificados pelos catadores no exercício da profissão ... 34

Gráfico 4 - Riscos identificados pelos catadores no exercício da profissão ... 35

Gráfico 5 - Tipos de materiais que os catadores manuseiam ... 36

Gráfico 6 - Situações enfrentadas durante o trabalho ... 37

(11)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dados sociodemográficos ... 27 Tabela 2 - Percepção dos catadores acerca das atividades desenvolvidas ... 40 Tabela 3 - Percepção e conhecimento dos catadores acerca da relação existente o trabalho e o meio ambiente ... 43

(12)

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 11 1.1OBJETIVOS ... 12 1.1.1 Objetivo geral ... 12 1.1.2 Objetivos Específicos ... 12 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 12 2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS ... 12

2.2 CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS ... 15

2.3 RISCOS OCUPACIONAIS ... 16 3 METODOLOGIA ... 17 3.1 TIPO DE ESTUDO ... 17 3.2 ÁREA DE ESTUDO ... 18 3.3 COLETA DE DADOS ... 24 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 27 4.1 DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS ... 27

4.2 DADOS SOBRE O AMBIENTE DE TRABALHO E SEGURANÇA... 30

4.3 PERCEPÇÃO SOBRE AS ATIVIDADES EXERCIDAS E A RELAÇÃO QUE ELAS EXCERCEM COM O MEIO AMBIENTE ... 39

5 CONCLUSÃO ... 45

REFERÊNCIAS ... 46

(13)

1 INTRODUÇÃO

O aumento populacional aliado ao consumo desordenado tem proporcionado a enorme geração de resíduos sólidos nos centros urbanos. O gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos – RSUs – é uma problemática enfrentada na atualidade, pois a destinação final inadequada dos mesmos desencadeiam riscos à saúde pública e impactos ambientais, principalmente, devido à grande variedade e periculosidade presente na composição desses materiais.

Essa crescente produção de materiais descartados de forma inapropriada está gerando um ciclo agressivo ao meio ambiente. É possível a reintegração desses resíduos como matéria prima para a formação de novos produtos, dando aos mesmos um novo ciclo de vida (GOUVEIA, 2012).

Por meio da triagem dos materiais descartados, os mesmos poderão ser reutilizados, iniciando-se, assim, novos ciclos de produção, possibilitando-se, também, a promoção de trabalho e, consequentemente, de renda, para indivíduos que não estão inseridos no modelo formal de mercado de trabalho (LOPES, 2006).

Também é sabido que a reciclagem proporciona redução no consumo de água e energia, de retirada de matéria prima, diminui a área utilizada na deposição dos rejeitos e na necessidade em se utilizar incineradores, além da minimização de problemas de qualidade ambiental (MOREIRA, 2017).

Nesse rumo, a atividade da catação é fundamental para a sobrevivência e a fonte de renda de muitas famílias, além de ser indispensável para a reintegração dos resíduos ao ciclo produtivo, por meio da reciclagem, embora, comumente, estes profissionais são excluídos pela sociedade, uma vez que os mesmos trabalham com materiais oriundos de descarte, passam por diversas privações e possuem baixo nível escolar.

No intuito de diminuir a exclusão, os catadores se organizam em associações ou cooperativas para a realização das tarefas, entretanto, ainda assim, estão expostos à riscos de acidentes e doenças por trabalharem em condições insalubres, principalmente, pela ausência de conhecimento quanto à necessidade de utilizar meios de proteção ou minimização dos danos à saúde.

(14)

Portanto, justifica-se o presente trabalho, pois a crescente produção de resíduos pela sociedade faz com que, em conseguinte, expanda o número de indivíduos ligados a essa atividade que, por sua vez, é discriminada e tão pouco estudada. Desse modo, faz-se necessário aguçar a atenção da comunidade para essa classe que, lamentavelmente, passa tão despercebida e que carece de políticas públicas que a torne respeitada, segura e rentável, afinal, exerce um trabalho de tão grande relevância ambiental.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo geral

Compreender e analisar a percepção dos profissionais da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis do município de Pinheiros (ES) – ASCAP –, mediante o levantamento de dados sociodemográficos, dos riscos à saúde coletiva e da percepção quanto à função de agentes ambientais na cidade de Pinheiros (ES).

1.1.2 Objetivos Específicos

 Identificar o perfil sociodemográfico dos catadores;

 Compreender o conhecimento desses trabalhadores em relação à exposição dos riscos e perigos que se submetem em meio ao exercício da atividade de catação;

 Entender como os associados se sentem, enquanto catadores, perante à sociedade e ao meio ambiente;

 Anunciar a realidade dos catadores, objetivando a valorização da classe profissional diante da comunidade.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS

A Associação Brasileira de Normas Técnica – ABNT –, por meio da NBR 10.004/2004, classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à

(15)

saúde pública, a fim de que possam ser gerenciados adequadamente. Sendo assim, essa norma aplica aos resíduos sólidos a seguinte definição:

Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.

Um dos tipos de resíduos sólidos são os Resíduos Sólidos Urbanos – RSUs –, ainda em consonância a NBR 10.004/2004, os mesmos são provenientes da atividade doméstica e comercial dos centros urbanos, usualmente denominados como lixo urbano. Tais resíduos podem ser classificados como: matéria orgânica, papel e papelão, plásticos, vidro, metais e outros.

O advento da Lei nº 12.305/2010, ora responsável pela instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS –, representou um marco legal de grande importância para o gerenciamento de resíduos sólidos urbanos – RSUs –, eis que prevê os seus respectivos princípios, objetivos e instrumentos, bem como as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo-se, ainda, os perigos, as responsabilidades dos geradores, do poder público e dos instrumentos econômicos aplicáveis (BRASIL, 2010). O artigo 3º, XVI, define os resíduos sólidos como:

[...] material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

Outrossim, o artigo 3º, XV, da Lei acima, define rejeito:

Resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada.

Já a norma NBR 10004/2004 classifica os resíduos quanto às suas respectivas periculosidades em classe I – perigosos e classe II – não perigosos, sendo a classe II

(16)

subdivididas em classe II A – não inertes e classe II B – inertes (ABNT, 2004). Aplica-se a Aplica-seguinte definição à periculosidade:

Característica apresentada por um resíduo que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou infecto-contagiosas, pode apresentar: a) risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando o seu índice; b) riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada.

Assim sendo, atualmente, as instâncias envolvidas deveriam demonstrar uma maior preocupação com os resíduos, pois em virtude do consumo desordenado que é influenciado pelos padrões da modernidade, eleva-se o volume e diversidade desses materiais descartados, e, consequentemente, a periculosidade dos mesmos, uma vez que são inúmeras as substâncias utilizadas na fabricação desses materiais presentes no nosso cotidiano e nas indústrias (SISINNO, 2002).

A disposição final inadequada dos resíduos produzidos nos centros urbanos, provocam impactos no ar, via efluentes gasosos e particulados que vão para a atmosfera, nas águas superficiais e subterrâneas, via processos naturais como percolação, lixiviação, dentre outros; e, por conseguinte, no solo (SIQUEIRA e MORAES, 2009). Em complemento a essa ideia, Gouveia (2012) afirma que há, também, impactos diretamente ligados à saúde da população.

A PNRS, por meio da definição em como deve-se agir com tal problemática, colabora com essa questão, além de dar ênfase a inclusão social. Ainda, levando-se em consideração as poucas opções para a correta disposição final dos resíduos, é inevitável, mediante a redução, reutilização e reciclagem, diminuir as quantidades de produtos descartados (GOUVEIA, 2012).

Para Silva (2014), levando em consideração os impactos causados pelo gerenciamento inadequado à saúde pública e ao meio ambiente, como citados anteriormente, a PNRS surge como um “agente de transformação”, pois coage os municípios à ela se adequarem com o intento de reduzir os impactos gerados provocados pelo consumismo exasperado.

Se não bastasse, a lei supramencionada, por meio de ganhos de escala e redução de custos no caso de compartilhamento de sistemas de coleta, tratamento e destinação

(17)

de resíduos sólidos, estabelece medidas de incentivo à formação de consórcios públicos para a gestão regionalizada com vistas a ampliar a capacidade de gestão das administrações municipais.

Por derradeiro, estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e a logística reversa de retorno de produtos; a prevenção, precaução, redução, reutilização e reciclagem; metas de redução de disposição final de resíduos em aterros sanitários e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos em aterros sanitários. No que tange ao aspecto de sustentabilidade socioambiental urbana, cria mecanismos de inserção de organizações de catadores nos sistemas municipais de coleta seletiva e possibilita o fortalecimento das redes de organizações de catadores e a criação de centrais de estocagem e comercialização regionais (JACOBI e BESEN, 2011).

2.2 CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

Conforme a PNRS, catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis são definidos como pessoas físicas de baixa renda que se dedicam à atividade de coleta, triagem, beneficiamento, processamento, transformação e comercialização de materiais reutilizáveis e recicláveis (BRASIL, 2010).

No Brasil, no final da década de 90, os catadores deram o passo inicial para se organizarem socialmente e economicamente, buscando por direitos. A partir de então, aconteceram encontros e congressos e, no ano de 2006, ultrapassou o número de 1.200 catadores que levaram demandas – a exemplo de alimentação, moradia e inclusão no processo de gestão dos resíduos sólidos – para o governo federal, em Brasília, exigindo ainda a criação de ambientes de trabalho em associações e cooperativas. (BORTOLI, 2009).

Em 2002, por meio do Ministério do Trabalho a Classificação Brasileira de Ocupações – CBO –, reconheceu e oficializou a profissão de catador de material reciclável. Pela descrição sumária, os catadores “catam, selecionam e vendem materiais recicláveis como papel, papelão e vidro, bem como materiais ferrosos e não ferrosos e outros materiais re-aproveitaveis” (MEDEIROS e MACEDO, 2006).

(18)

Entretanto, esse fato não proporcionou mudanças nas condições de vida e de trabalho dos catadores, pois atuam sem vínculo empregatício e sem os direitos de um trabalhador integrado no mercado formal, sobrevivem normalmente com menos de um salário-mínimo, além de enfrentar a exploração da indústria da reciclagem (BORTOLI, 2009).

Para Alencar, Cardoso e Antunes (2009), os catadores transformam o lixo descartado por uma parte da população em um meio de sustento, de sobrevivência. Estão vulneráveis a situações climáticas, à violência, doenças e riscos de diversas ordens, a atividade é cansativa e realizada em condições precárias, com pouco reconhecimento, fazendo com que o trabalhador se sinta inútil.

2.3 RISCOS OCUPACIONAIS

O risco está presente no ambiente de trabalho de qualquer pessoa, em qualquer atividade ou profissão, e todos os trabalhadores devem enfrentá-lo no desenvolvimento de suas atividades laborais. Os riscos no trabalho são múltiplos – acidentes, doenças, sofrimento dos trabalhadores – sendo variáveis conforme a execução de cada atividade e/ou profissão (AEROSA, 2012).

O desenvolvimento de atividades insalubres e perigosas causam danos à saúde dos trabalhadores por meio dos agentes biológicos, químicos, físicos e mecânicos presentes nos locais de trabalho (MAURO et al, 2004). Como agentes mecânicos, segundo Guardabassio et. al (2013), entende-se como riscos ergonômicos e riscos de acidentes no ambiente laboral.

Ferreira e Anjos (2001) consideram como:

 Os agentes físicos são provenientes de equipamentos e/ou processos produtivos, podendo ser: barulho (ruído), vibrações, temperaturas extremas, pressões anormais – tendo como referência a pressão atmosférica –, radiações ionizantes e/ou não ionizantes;

 Os agentes químicos são decorrentes do processamento e manipulação de matérias primas, destacam-se: fumos, névoas, neblinas, poeiras, gases e vapores;

(19)

 Os agentes biológicos são os provenientes do contato com microrganismos, como: fungos, bactérias, vírus, dentre outros;

 Os riscos ergonômicos são aqueles associados a fatores do ambiente (externos) e ao emocional (internos), quando há uma perturbação entre o indivíduo e o trabalho;

 Os riscos de acidentes, são aqueles gerados pelas condições físicas do trabalho, capazes de pôr em perigo o trabalhador em sua totalidade.

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo de caso descritivo de abordagem mista.

Inicialmente, definiram-se as informações importantes para a elaboração de um formulário e posterior tratamento e avaliação dos dados.

Optou-se como fonte de coleta de dados a entrevista por ser a mais utilizada no trabalho de campo, possibilitando ao entrevistador coletar dados objetivos e subjetivos. Embora, somente por meio da mesma, é possível obter dados subjetivos como as opiniões, os valores e as atitudes dos entrevistados (BONI e QUARESMA, 2005).

Em complemento a esta ideia, Ribeiro (2008) entende por entrevista:

Técnica mais apropriada quando o entrevistador visa obter dados acerca do entrevistado, que possibilite conhecer sobre atitudes, sentimentos e valores subjacentes ao comportamento, o que significa que se pode ir além das descrições das ações, incorporando novas fontes para a interpretação dos resultados pelos próprios entrevistadores.

Para Lakatos e Marconi (2003), uma entrevista consiste em uma conversa de caráter técnico entre duas pessoas, com a finalidade do entrevistador obter informações sobre determinado assunto através da resposta de perguntas feitas ao entrevistado.

A forma da entrevista deve ser escolhida conforme o objetivo do entrevistador. Portanto, decidiu pela semiestruturada, pois é aquela à qual o entrevistador faz ao participante, perguntas previamente elaboradas em um formulário.

(20)

A padronização visa captar dos entrevistados, as respostas das mesmas perguntas, diz Lodi (1974 apud LAKATOS e MARCONI, 2003):

A padronização assegura não haver divergência na análise das respostas, uma vez que, todas serão averiguadas e comparadas entre a mesma questão, logo, a heterogeneidade devem divulgar diferenças entre os participantes, e não entre as perguntas.

A entrevista semiestruturada por ser feita por meio de um formulário com questões abertas e fechadas, previamente definidas, permite ao entrevistador maior compreensão e captação das perspectivas dos entrevistados, uma vez que, pode ser realizada em um contexto parecido a de uma conversa informal, onde há a interação entre as duas partes com respostas espontâneas. Dessa forma, por meio deste tipo de entrevista, é possível investigar e compreender as atitudes, os comportamentos e os sentimentos dos participantes (BONI e QUARESMA, 2005).

3.2 ÁREA DE ESTUDO

O município de Pinheiros está localizado no extremo Norte do Estado do Espírito Santo, conforme dados do IBGE (2018), possui uma área territorial de 973,136 km² e 26.763 habitantes estimados (FIGURA 1).

Figura 1 - Localização do munícipio de Pinheiros em referência as escalas nacional e estadual

(21)

A sede do munícipio está a uma distância de 286 km de Vítória - capital do estado -, sendo as coordenadas geográficas de 18º 24’ 44” latitude sul e 40º 12’ 55 longitude oeste (W. Gr.). Os municípios limítrofes são Montanha, Pedro Canário, Conceição da Barra, São Mateus e Boa Esperança. As principais vias de acesso a Pinheiros são a BR 101 – norte.

Como caracterização edafoclimática, 77,6 % da área territorial do município é caracterizada por terras quentes, planas e secas, oscilando de férteis a pouco férteis, nos meses de outubro a janeiro ocorre o período chuvoso com média anual de 900 mm. Está inserido na Bacia Hidrográfica do Rio Itaúnas, destacando o Rio Itauninhas e o Rio do Sul como os principais. (INCAPER, 2011).

Os solos predominantes no município são o Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico, cerca de 78% do território, caracterizado como textura argilosa e coeso, relevo plano e suavemente ondulado e, o Podzólico Vermelho Amarelo (16%), em menor proporção encontra-se o Latossolo Vermelho Escuro Eutrófico (6%).

Possui como base da economia a atividade agropecuária. Na agricultura, destaca-se o cultivo de culturas como mamão, café conilon, feijão, mandioca, abóbora, goiaba, coco, maracujá e seringueira. Na pecuária se destacam as criações intensivas de gado de corte e de leite.

No ano de 2010, por meio de um projeto piloto da prefeitura municipal, foi lançado um programa de coleta seletiva em alguns espaços públicos da Sede e no bairro Canário, em 2013 expandiu-se para os demais bairros e, atualmente, beneficia 100% do município.

Pinheiros (ES) possui o seu próprio aterro controlado, localizado a 2 km da sede em uma região da zona rural denominada Cabeceira do Palmeira, ao lado está estabelecida a Usina de Triagem e Compostagem de Resíduos Sólidos Urbanos, somando 10.000 m² de área.

A UTC é constituída por galpão de recebimento, galpão de estocagem (baias), pátio de compostagem e pela sede (casa de administração), como ilustrado na Figura 2 e Figura 3.

(22)

Figura 2 - Distribuição da área geográfica da UTC por imagem de satélite

Fonte: Google Earth, adaptado pela autora.

Figura 3 - Visão panorâmica da UTC

Fonte: Secretaria Municipal de Agricultura, Meio Ambiente, Obras e Transportes (2018).

Por meio da formalização da relação entre a Prefeitura Municipal com as organizações de catadores de material reciclável, conforme previsto no conjunto de exigências da PNRS, a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis do município de

(23)

Pinheiros – ASCAP - foi fundada em 01 de julho de 2015, e iniciou as atividades em 2016 após ser formalizada a sua criação, em cumprimento a legislação ambiental vigente e ao Termo de Compromisso Ambiental 001/2013, sendo a responsável pelo o gerenciamento da UTC.

Dentro das instalações da UTC, 16 associados realizam atividades tais como: triagem na mesa de catação dos materiais recicláveis e reutilizáveis - vidro, metal, plásticos e papel - como demonstrado na Figura 4; pesagem, prensagem e enfardamento (Figura 5); formação e monitoramento de leiras no pátio de compostagem, peneiramento e acondicionamento orgânico (Figura 6); e, operacionalizam o aterro controlado, a Unidade de Transbordo de Resíduos da Construção Civil – RCC – e o Pátio de Galhagem.

Figura 4 - Catadores exercendo a atividade de triagem

(24)

Figura 5 - Enfardamento dos materiais recicláveis após prensagem

Fonte: Secretaria Municipal de Agricultura, Meio Ambiente, Obras e Transportes (2018).

Figura 6 - Leiras formadas no pátio de compostagem

(25)

Para a realização da coleta seletiva, externamente, 8 associados percorrem toda a zona urbana do munícipio, coletando os resíduos sólidos urbanos – RSUs - e domiciliares.

Os RSU e domiciliares são coletados na modalidade porta-a-porta e/ou Ponto de Entrega Voluntária (PEV), diferenciados em duas categorias: resíduo orgânico – também conhecido por resíduo úmido ou lixo úmido, e os resíduos recicláveis – também conhecidos por resíduos seco ou lixo seco. Em dias alternados, ocorrem a coleta de cada tipo de resíduo, todo o material é triado de forma manual pelos catadores associados, e a comercialização dos mesmos são feitos diretamente pela associação em um intervalo aproximado de 3 em 3 meses.

Quanto ao valor final obtido na comercialização dos materiais triados, 80% é destinado às melhorias da usina e 20% é rateado igualmente entre os 24 associados, resultando em um valor extra ao salário fixo mensal. Portanto, a cada venda realizada, todos os associados recebem, individualmente, aproximadamente R$ 350,00.

Em 2017, aproximadamente 183,14 toneladas de material reciclável foram vendidos em: papel, sacolas do tipo filme, plástico do tipo sucatão, embalagens do tipo PET (Figura 7), polietileno de alta densidade – PEAD - branco colorido (Figura 8), embalagens Tetra Pak, vidro e alumínio (Figura 9), ferro e sucata. Em 2018, esse número elevou-se para aproximadamente o total de 183,28 toneladas vendidas.

Figura 7 - Resíduos recicláveis após triagem, material: PET

(26)

Figura 8 - Resíduos recicláveis após triagem, material: PEAD (A) e (B)

Fonte: Secretaria Municipal de Agricultura, Meio Ambiente, Obras e Transportes (2018).

Figura 9 - Resíduos recicláveis após triagem, material: (A) Vidro e (B) alumínio

Fonte: Secretaria Municipal de Agricultura, Meio Ambiente, Obras e Transportes (2018).

3.3 COLETA DE DADOS

Para o levantamento dos dados sociodemográficos, foram abordados os aspectos: sexo, idade, estado civil, escolaridade, renda e configuração familiar. Ainda, pesquisou-se: dados sobre o trabalho, dos riscos à saúde coletiva - segurança no

A A B A A A B A

(27)

trabalho, e questões relacionadas a perspectiva e percepção dos catadores quanto a importância da sua função e acerca da relação que tais atividades exercem sobre o meio ambiente, bem como, do modo como a sociedade vê o seu trabalho.

Para identificação dos indivíduos à serem entrevistados e reconhecimento de área, no decorrer do mês de dezembro de 2018, foram realizadas 02 visitas à Usina de Triagem e Compostagem de Resíduos Sólidos Urbanos no município de Pinheiros - ES, local onde os participantes exercem as atividades de triagem.

Perfazem o total de 24 associados, dos quais 16 trabalham internamente na UTC e 8 atuam externamente, na coleta de RSUs dentro do perímetro urbano do município. Para as mulheres, é dada a prioridade em trabalhar na UTC, somente sob necessidade, as mesmas trabalham na coleta. No demais, os associados trabalham em todas as funções, obedecendo uma escala de 1 semana em cada atividade.

Na realização da pesquisa, 13 associados frequentavam a UTC, dos 16 que trabalham na usina, sendo que, 01 estava hospitalizado por acidente de motocicleta e 02 se recusaram em participar.

As entrevistas foram realizadas com os 13 associados na sede da ASCAP, anexo a UTC, em janeiro de 2019 sob a autorização do presidente associado. As entrevistas foram respondidas individualmente na sala da presidência, ambiente reservado, visando deixá-los à vontade e obter assim maior confiabilidade nos dados através de suas realidades, uma vez que as mesmas ocorreram em horário de trabalho, de modo à não incomodá-los em horário de descanso.

Quanto ao registro das respostas, foi utilizado um gravador de voz sob autorização dos entrevistados e posteriormente transcritas todas as informações para o questionário impresso, cuidadosamente. Lakatos e Marconi (2003), orientam que, a utilização dessa ferramenta é ideal pois permite o registro com as mesmas palavras que o entrevistado utilizou, evitando assim a sintetização e a falha de memória e/ou distorção do fato.

O questionário semiestruturado (apêndice A), possui 27 questões divididas em três grupos: dados sociodemográficos; dados sobre o ambiente de trabalho e segurança;

(28)

e percepção sobre as atividades exercidas e a relação com o meio ambiente. Os dados coletados, como as características sociodemográficas, ambiente de trabalho e segurança, foram transformados em frequências absolutas e relativas e, posteriormente, foram tabulados e elaborados tabelas e gráficos.

Para a abordagem qualitativa, usou-se a técnica análise de conteúdo por ser a mais citada em estudos desta natureza. Para Moraes (1999), a análise de conteúdo é utilizada para descrever todo o conteúdo que contém no texto, de modo que as mensagens sejam classificadas por temas fundamentais pela interpretação das mesmas.

É importante citar que para realização desta pesquisa, adotou-se a sequência de passos preconizada por Bardin (1977), na qual a mesma deve ser organizada em três diferentes fases, sendo: a pré-análise; a exploração do material; e, por último, o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

A pré-análise, concisamente, organiza o material à ser investigado por meio da: leitura flutuante, fase a qual constitui e estabelece o primeiro contato com o corpus de análise (conjunto de documentos que serão analisados, como entrevistas, registros, relatos de informantes-chaves, observações, entre outros.); formulação das hipóteses e objetivos, a começar da leitura inicial dos dados; e, elaboração de indicadores que embasem, ao final, a interpretação de todo o material coletado. Ainda no que concerne o corpus de análise, vale salientar que as notas realizadas pelo pesquisador melhoram a análise textual e agregam mais confiabilidade a mesma (SILVA e FOSSÁ, 2015).

Inicia-se a segunda fase - exploração do material -, Caregnato e Mutti (2006) sucintamente, descrevem essa etapa como “os dados são codificados a partir das unidades de registro”, Silva e Fossá (2015) complementam, considerando que a mesma se dá por meio de recortes dos textos, esses dados são classificados e agregados em conteúdos semânticos.

Na terceira e última fase, abrange o tratamento dos resultados, inferência e interpretação, equivale em analisar os dados obtidos e classificá-los em categorias por aspectos semelhantes e diferentes (CAREGNATO e MUTTI, 2006).

(29)

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados e discussão estão subdivididos em três partes: dados sociodemográficos; dados sobre o ambiente de trabalho e segurança; e percepção sobre as atividades exercidas e a relação com o meio ambiente.

4.1 DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS

Para levantamento do perfil dos catadores de materiais recicláveis, buscou-se compreender os dados sociodemográficos, expressos na Tabela 1.

Tabela 1 - Dados sociodemográficos

Dados sociodemográficos Variáveis Quantidade

N %

Sexo Masculino 7 53,8

Feminino 6 47,2

Total 13 100

Estado civil Casado ou mora com companheiro 11 84,6 Solteiro Separado ou divorciado 1 1 7,7 7,7 Total 13 100

N° de pessoas que vivem no seu domicílio 3 pessoas 5 38,5 4 pessoas 5 38,5 Acima de 4 pessoas 2 15,4 2 pessoas 1 7,7 Total 13 100

Faixa etária Adulto: De 20 a 59 anos Idoso: 60 anos ou mais

Jovem: Até 19 anos

13 0 0 100 0 0 Total 13 100

Renda mensal individual

Renda mensal familiar

De 2 a 3 salários-mínimos 8 62 Total De 2 a 3 salários-mínimos Acima de 3 salários-mínimos Total 13 8 5 13 100 62 38 100 Fonte: A autora.

Percebe-se que dos 13 entrevistados, 53,8% eram do gênero masculino (n = 7) e 46,2 % do gênero feminino (n = 6). Chama-se atenção para o fato de se ter o gênero feminino bem representado, essa situação, segundo Neves et al (2017), demonstra uma inclusão da mulher no mercado de trabalho, mesmo que ocupem atividades de menor

(30)

renda, como é o caso da catação, já que, em geral, essa parcela da população é a principal responsável em cuidar de crianças e idosos que moram em suas casas. Ainda, Costa (2016) alega que as mulheres vem se destacando por serem determinadas e corajosas, e com qualidade e eficiência, têm mostrado que são capazes de realizar as mesmas funções que os homens.

No que tange ao estado civil, 84,6% (n = 11) eram casados ou vivem com o companheiro, 7,7% (n = 1) eram solteiros, 7,7% (n = 1) eram separados ou divorciados, e nenhum viúvo (n = 0). Na mesma casa, 38,5% moravam em 4 pessoas (n = 5), 38,5% em 3 pessoas (n = 5), 15,4% moravam com acima de 4 pessoas (n = 2), 7,7% moravam em duas pessoas (n = 1) e, nenhum entrevistado morava sozinho (n = 0).

Destaca-se, nesse estudo, que a maioria dos catadores apresenta uma configuração familiar diferente do apresentado em outros estudos, como por Alencar et al (2009), no qual, apenas 27,3% eram casados ou moravam junto com companheiro e, por Jesus et al (2017), 58,3% dos catadores vivem sem companheiro.

A média de idade foi de 39 anos, já a divisão populacional conforme a faixa etária, não houve nenhum entrevistado jovem com até 19 anos (n = 0), 100% adultos, de 20 a 59 anos (n = 13), e nenhum idoso que apresente idade de 60 anos ou mais (n = 0). A maioria dos catadores serem casados, pode estar relacionado à média de idade dos mesmos, ora vista, todos são adultos.

Quanto a escolaridade, 61,5% com ensino fundamental incompleto (n = 8), 23,1%, ensino fundamental completo (n = 3), 7,7%, ensino médio incompleto (n = 1) e também 7,7%, ensino médio completo (n = 1), nenhum entrevistado com outra opção de escolaridade (n = 0).

Os dados corroboram com os observados por Jesus et al (2012) e Neves et al (2017), notou-se elevado percentual de catadores com idade aproximada de 40 anos e, quanto a escolaridade, a maioria não concluíram o ensino fundamental. Essa situação demonstra o fato social da dificuldade encontrada por esse grupo etário em estar inserido no mercado de trabalho formal em outras profissões, uma vez que o mesmo é mais favorável a contratação de jovens. Ainda, a pouca escolaridade e a ausência

(31)

de qualificação profissional, atrapalham ainda mais o ingresso dos mesmos no mercado de trabalho formal.

Segundo Kirchner, Saidelles e Stumm (2009), na atividade de catação não ocorrem esses critérios de seleção – idade e escolaridade -. Para Virgem, Sena e Vargas (2014), o processo admissional em cooperativas e/ou associações não é burocrático, seguindo como critério a indicação realizada por um próprio cooperado, visando diminuir a troca de membros e colaborando assim, com a segurança do grupo. Logo, justifica-se a presença desses indivíduos, nessas condições, agrupados em cooperativas e associações.

A renda mensal individual dos entrevistados provenientes da ASCAP em 100% (n = 13) é entre 2 e 3 salários mínimos, levando em consideração o salário-mínimo vigente de R$ 998,00. Foi informado que, por trabalharem em regime de associação, todos os associados recebem o valor de R$ 2.095,13 ao mês, referente ao salário e o auxílio insalubridade. Conforme dados do IBGE, a renda mensal per capita no estado do Espírito Santo no ano de 2018 são de R$ 1.295,00.

Moreira (2017), ao realizar uma pesquisa com trabalhadores em centrais de triagem do município de São Paulo, notou que a renda mensal retirada, por cooperado, era aproximadamente R$ 800,00, sendo que o salário-mínimo vigente na mesma época era R$ 724,00, por outro lado, Virgem, Sena e Vargas (2014), identificou uma renda mensal dos separadores de RSU em duas cooperativas no município de Maceió no ano de 2012, menor de um salário mínimo vigente na época do estudo.

É importante salientar que não foi identificada nenhuma pesquisa com uma renda mensal superior ao do presente estudo. Deste modo, quando comparado às outras realidades, é razoável considerar a renda mensal dos catadores da associação do município de Pinheiros satisfatória.

A renda mensal familiar 62% (n = 8) é entre 2 e 3 salários-mínimos, no entanto, vale salientar que a única renda da família desses entrevistados é a mesma que a renda individual acima apresentada (R$ 2.095,13), pois é com esse valor que garantem a sobrevivência do grupo familiar. Já em 38% (n = 5), a família possui renda acima de 3 salários-mínimos, nesses casos, trata-se de outro salário-mínimo que os

(32)

companheiros (as) recebem em outra atividade, somando uma renda média para esse grupo de R$ 3.093,13.

4.2 DADOS SOBRE O AMBIENTE DE TRABALHO E SEGURANÇA

A grande parte dos catadores começaram a trabalhar em UTC há no máximo, 5 anos (76,9%, n = 10), enquanto 23,1% possuem acima de 7 anos de atividade (n = 3), sendo a média de tempo na função de 4 anos.

A carga horária semanal cumprida são de 43 horas e 30 minutos, distribuídas de segunda a sexta-feira (8 h/dia) e aos sábados (3h30min/dia). Como rotina, cumprem as atividades de segunda a sexta das 7h30min às 11h30min, e das 13h às 17h, reservado um intervalo para almoço com duração de 1h30min, aos sábados, trabalham das 7h30min às 11 h. Ainda em relação a essa situação, vale mencionar que em determinadas situações, os associados trabalham além da carga horária estabelecida.

Como principais razões que os levaram a procurarem trabalho no setor, foi relatado o desemprego. Trabalhar como catador de material reciclável foi visto como uma oportunidade, como exemplificam as falas: “foi a oportunidade de emprego que eu tive

e eu gostei.” e, “eu tinha uma vontade imensa de trabalhar na reciclagem porque já que eu não tinha estudo, e hoje eles pedem muito estudo, aí dava para eu trabalhar aqui, foi uma oportunidade.” e, ainda, “estava parada, é uma oportunidade de serviço digno, foi graças à aqui que eu consegui terminar de criar os meus filhos. Então é bom, não é ruim não!”

Os resultados alcançados nessa pesquisa coincidem com os apontados por Bosi (2008) e Kirchner, Saidelles e Stumm (2009)que apontarama “necessidade” e por ser esta a “única oportunidade” que os levaram a trabalhar como catadores; para Bosi, a grande maioria dos catadores são provenientes da população desempregada, que estão excluídos do mercado de trabalho formal seja por condição social, baixa escolaridade e/ou pela idade, e nessa condição, também o ingresso na atividade da catação deu-se pela “necessidade” e por ser a “única oportunidade” para garantir a sobrevivência.

(33)

Ao ingressarem na atividade de catador de material reciclável, 69% não recebeu treinamento (n = 9), apenas 31% participaram de treinamento ou qualquer forma de preparo para as condições insalubres no início das atividades (n = 4). Por outro lado, essa parcela referente ao grupo que se preparou, é importante salientar que receberam os treinamentos em outras empresas prestadoras de serviços que atuavam anteriormente a fundação da ASCAP. Os dados se correlacionam, uma vez que 100% dos catadores alegaram não terem recebido treinamentos posteriormente ao ingresso na associação, situação equivalente já apresentada em estudo similar apresentado por Gonçalves et al (2013).

No Gráfico 1 são apresentados os resultados sobre a frequente utilização dos Equipamento de Proteção Individual - EPIs.

Gráfico 1 - Utilização do equipamento de proteção individual

Fonte: A autora.

Nota-se, que os mais utilizados são: camisa de manga longa, calça comprida, bota e luva, ambos citados por 100% dos entrevistados (n = 13), como segundo lugar

100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 92,31% 53,85% 46,15% 30,77% 15,38%

Camisa de manga longa Calça comprida Luva Bota Avental impermeável Capa de chuva Máscara Óculos Sapato impermeável 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%

(34)

apresenta o uso do avental impermeável, 92,3% (n = 12), e qualificando em terceiro percentual a capa de chuva com 53,8% (n = 7), bem próximo a utilização da máscara, 46,2% (n = 6). Essa proporção demonstra um equilíbrio entre a valoração desses EPIs pelos trabalhadores, em menor proporção nomeou-se os óculos com 30,8% (n = 4), o sapato impermeável com 15,4% (n = 2) e o protetor auricular com 0% (n = 0).

No que se refere a utilização da máscara, foi percebido in loco que há divergência com a informação passada, uma vez que foi constatado alguns catadores com o equipamento amarrado no cós da calça jeans. Em conversa, foi recolhido relatos que a máscara gera muito incômodo, sendo utilizada somente em casos de extrema necessidade, como em dias do lixo úmido, principalmente nas segundas-feiras, e quando chega visita. Essa informação justificou o ato de, ao chegar na primeira visita, o autor presenciou os catadores colocando esse EPI no rosto.

Ainda no que tange ao EPI, por meio dos relatos, percebe-se que há uma variação no uso dos mesmos conforme a estação. No verão, esses equipamentos são menos utilizados, pois os catadores se sentem mais incomodados quando comparados as temperaturas do inverno.

Quanto a utilização dos óculos, salienta-se que, esse equipamento é utilizado somente na atividade de prensagem, devido a medo de estilhaços ou pequenas pontas de resíduos atingirem os olhos. É importante enfatizar que quanto aos EPIs citados no Gráfico 1, apenas a camisa de monga longa (uniforme), luva, avental impermeável, máscara e óculos são disponibilizados pela ASCAP para todos os catadores, conforme se verificou in loco.

Foi constatado que os catadores que realizam a triagem dos resíduos sólidos, pela ausência de conhecimento, estão sujeitos a doenças ocupacionais e riscos de acidentes, tendo em vista a inexistência da prática em usar corretamente os equipamentos de proteção individual, que são fornecidos a eles para o trabalho, negligenciando o uso dos mesmos.

Quanto aos acidentes de trabalho sofridos pelos participantes, o Gráfico 2 retrata os principais tipos e suas proporções.

(35)

Gráfico 2 - Tipos de acidentes de trabalho

Fonte: A autora.

Em massa (84,6%, n = 11) disseram já ter sofrido acidente no trabalho e 15,38% alegam não ter sofrido nenhum acidente (n = 2). No meio dos casos citados, destacam-se: corte e/ou perfuração da pele, com 69,2% (n = 9), escorregão ou tropeço, com 61,5% (n = 8), queda, com 15,38% (n = 2), lesão de pele por substâncias químicas, 7,7% (n = 1). Ainda, a questão apresentava outras opções de acidentes, como: atropelamento; esmagamento ou amputação de dedo, mão ou braço; mordida ou picada de animal; choque elétrico e agressão física; mas nenhum entrevistado alegou haver sofrido os mesmos (n = 0).

Os acidentes mais comuns são perfurações e/ou cortes por materiais perfurocortantes (agulhas, lâminas e sucatas e cacos de vidro), fato comum em outros estudos, como Barbosa (2011) e Nogueira, Silveira e Fernandes (2017).

Ainda conforme Barbosa (2011), é constante o risco de acidentes na atividade de prensagem; quedas e atropelamentos; ferimentos nos olhos; e, lesão de pele com produto químico. Estes resultados, evidenciam, a necessidade em executar campanhas para evitar os acidentes de trabalho e de vacinação juntamente aos catadores.

Ferreira e Anjos (2001) afirmam que, o principal causador desta classe de acidentes – corte e/ou perfuração - é a ausência de informação e a omissão da população em geral, que não se atentam em acondicionar os perfurocortantes separados ou isolados

(36)

dos resíduos sólidos urbanos dispostos à coleta domiciliar. Lamentavelmente, os materiais que provocam esses acidentes estando escondidos, consequentemente, o trabalhador está desprotegido, pois o uso constante das luvas não impede a grande parte dos acidentes, somente minimiza os riscos, visto que, as pernas e os braços também podem ser atingidos.

Quando questionados sobre as situações de perigo e riscos que os mesmos identificam no local de trabalho, os entrevistados demonstraram preocupação com apenas 4 situações de riscos, que, por unanimidade, elegeu o corte com cacos de vidro (n = 13), 69,2% a perfuração com seringa e/ou agulha (n = 9), 7,7% acidentes na prensagem (n = 1) e de igual forma, 7,7% o contato com fezes de cães (n = 1), conforme demonstrado no Gráfico 3.

Gráfico 3 - Riscos identificados pelos catadores no exercício da profissão

Fonte: A autora.

Intencionalmente, a presente questão foi subjetiva, onde os itens foram relatados pelos próprios entrevistados, buscou-se elencar as situações de perigo que os catadores conseguem identificar presentes no ambiente de trabalho e, posteriormente, foi possível compreender o conhecimento quanto a diversidade de riscos ambientais que os mesmos estão susceptíveis ao desenvolverem as atividades.

É importante ressaltar que os dados expostos na presente questão (Gráfico 3) foram confrontados com a realidade constatada in loco, portanto, ao elencarem apenas 4 situações de riscos, notou-se que, quanto aos riscos ambientais existentes na zona de trabalho, os associados demonstraram pouco conhecimento de quão grande o

(37)

desenvolvimento da atividade de triagem de resíduos sólidos é danosa à saúde e propícia riscos de acidentes. Essa pequena noção dos riscos, Guardabassio et al., (2013) afirma que é consequência do modo de vida e da pouca condição econômico-financeira dos catadores, os quais não tiveram condições em aprofundar os estudos.

Essas situações supracitadas revelam a necessidade urgente em intervenção de especialistas. Também é sabido que os profissionais da área médica e da engenharia de segurança do trabalho não podem garantir a qualidade da saúde desses trabalhadores nessa profissão tão insalubre, mas é importante considerar que, na medida em que o conhecimento seja repassado aos catadores, contribuirão de maneira valiosa para a minimização dos danos sobre a saúde dos mesmos.

O Gráfico 4 evidencia as situações incômodas que os catadores apontam estarem presentes na rotina do trabalho.

Gráfico 4 - Riscos identificados pelos catadores no exercício da profissão

Fonte: A autora.

Destacam-se, 76,9% o calor (n = 10), 38,5% a limpeza e a exposição ao sol (n = 5), 30,8% a poeira (n = 4), 23,1% a exposição a chuva, 15,4% o odor desagradável – mau cheiro (n = 2), 7,7% a ventilação e o ruído (n = 1).

Analisando as condições de trabalho de catadores de materiais recicláveis em Curitiba, Alencar, Cardoso e Antunes (2009) observaram que a situação de maior incômodo relatada trata-se do calor e da exposição ao sol. Os catadores que fazem a coleta seletiva dos resíduos ficam expostos ao sol e a chuva. Embora, como relatado

(38)

pelos entrevistados, sentem-se menos incomodados com a chuva, pois as temperaturas ficam mais amenas do que em dias ensolarados, fazendo o dia ser mais agradável.

Para facilitar a locomoção nas ruas ao coletar os resíduos porta a porta, os entrevistados alegaram que nos dias chuvosos é comum o uso da capa de chuva feita para motocicletas (jaqueta e calça), ao invés da capa de chuva convencional. Os demais catadores que trabalham apenas dentro das instalações da usina, como preferencialmente as mulheres, alegaram não estar expostos ao sol ou chuva, devido a cobertura existente no galpão de triagem. Entretanto, mesmo o galpão de triagem sendo aberto o que possibilita a ventilação natural, em dias de altas temperaturas, se sentem incomodados devido ao uso de uniforme de mangas longas e botinas.

É importante enfatizar que, no que diz respeito ao cheiro desagradável existente na UTC, ao perguntar sobre o item, os participantes responderam com falas adicionais:

“já estou acostumado”, “no começo sim, hoje já me acostumei” ou, ainda, “às vezes”,

dados semelhantes foram observados por Almeida et al (2009), o qual a maioria dos catadores em uma associação de Governador Valadares/MG, alegaram não sentir nenhum incômodo com o cheiro do lixo, com falas sinônimas ao da presente pesquisa, como “a gente acaba acostumando”.

Através da Gráfico 5, buscou-se evidenciar os materiais e/ou substâncias que os catadores manuseiam ou possuem contato direto.

Gráfico 5 - Tipos de materiais que os catadores manuseiam

Fonte: A autora. 92,30% 84,60% 84,60% 76,90% 46,20% 38,50% Objetos cortantes Resíduos de serviços da saúde (agulha, … Restos de alimentos em decomposição.

Papéis sanitários e fraldas descartáveis … Lâmpadas fluorescentes, pilhas, baterias.

Substâncias e vapores tóxicos.

(39)

O Gráfico 5 retrata quais são os materiais, em maior prevalência, que os trabalhadores relataram haver contato direto ou manusear, sendo: objetos cortantes em 92,3% (n = 12), resíduos de serviços da saúde (n = 11), restos de alimentos em decomposição (n = 11), papéis sanitários e fraldas descartáveis usados (n = 10), lâmpadas fluorescentes, pilhas e baterias (n = 6) e substâncias e vapores tóxicos (n = 5).

Por meio das respostas, identificou-se como exemplos de agentes biológicos: restos de alimentos em decomposição, resíduos de serviços da saúde (agulha, seringa, etc.), papel higiênico e fraldas descartáveis. Ferreira e Anjos (2001) ao analisar aspectos de saúde coletiva e ocupacional associados à gestão dos resíduos municipais, afirmam que, nos resíduos sólidos os microrganismos patogênicos ocorrem mediante a presença de materiais como curativos, preservativos, dentre outros, e, comumente, em resíduos hospitalares que são coletados adicionados aos resíduos domiciliares” (apud Collins & Kenedy, 1992).

Como exemplos de riscos químicos, foram citados substâncias e vapores tóxicos, lâmpadas fluorescentes, pilhas e baterias. Mas além desses, merecem destaque: produtos de limpeza, cosméticos, solventes, remédios, graxas e óleos, pesticidas, aerossóis, dentre outros gases. É importante ainda mencionar os riscos de acidentes, evidenciou-se o contato direto com objetos cortantes, risco de quedas, topadas, picadas ou mordidas de animais peçonhentos, dentre outros não citados.

O Gráfico 6, exibe as situações enfrentadas pelos catadores durante o seu trabalho. Gráfico 6 - Situações enfrentadas durante o trabalho

(40)

Aduziu-se as situações mais explicitadas pelos entrevistados, permanecem em pé por tempo prolongado, 92,3% (n = 12), fazem movimentos repetitivos e ritmo de trabalho cansativo, ambos cada um com 61,5% (n = 8), sentem irritação das vias aéreas, com 38,5% (n = 5), sentem irritação ou coceira na pele, com 23,1% (n = 3) e, 15,4% permanece muito tempo sentado (n = 2).

O resultado alcançado coincide com os de Gonçalves (2004), ao estudar a trajetória de vida, trabalho e saúde dos catadores de materiais recicláveis dos lixões de Iguaba Grande e Rio das Ostras, bem como dos catadores das usinas de reciclagem de resíduos sólidos de Arraial do Cabo e Casimiro de Abreu (Rio de Janeiro), donde os catadores reconhecem que as situações enfrentadas na rotina de trabalho são exaustivas, se queixando de dores pelo corpo e dores de cabeça.

Em consonância, Castilhos Junior et al (2013) afirma que a atividade da catação exige esforço físico com movimentos repetitivos. Ainda, as queixas relatadas na questão como cansaço físico, erupções cutâneas (micoses), dores no corpo (pernas e costas), dentre outros, demonstram sinais de sobrecarga e consequências de um conjunto de fatores no trabalho dos catadores que englobam a falta ou o mal uso de EPI com a ausência de adequação ergonômica.

Por meio do Gráfico 7, buscou-se demonstrar quais são os materiais descartados que os trabalhadores já aproveitaram ou aproveitam.

Gráfico 7 - Materiais descartados reaproveitados pelos catadores

(41)

Com relação ao reaproveitamento de objetos encontrados na coleta seletiva, resultou-se em maiores proporções as roupas (53,8%, n = 7) e os sapatos (38,5%, n = 5), seguidos pelo aproveitamento de alimentos, medicamentos, cosméticos, e outros citados pelos participantes, como acessórios, mochilas, dentre outros, cada um com 7,7% (n = 1).

Almeida et al (2009) por meio da observação direta, em pesquisa com catadores de Governador Valadares/MG, constatou que muitos destes retiram do lixo materiais como roupas, utensílios para uso pessoal e para casa, eletrodomésticos e também restos de alimentos, contudo, omitem o fato de reaproveitarem alimentos retirados do lixo. Tal fato também foi notado na presente pesquisa, ora vista que alguns catadores responderam nunca terem retirado nenhum objeto do lixo para reutilização, enquanto em outras falas, por meio de relatos controversos, revelaram que todos sempre aproveitam algum item. Percebeu-se o sentimento de vergonha, justificando a omissão da realidade.

Muitos dos relatos expressavam o entendimento de não haver nenhum problema em reaproveitar objetos que cheguem em bom estado, por outro lado, para Dall’Agnol e Fernandes (2007) o ato de reutilizar materiais encontrados no lixo como os acima apontados é uma situação potencialmente nociva à saúde desses trabalhadores.

4.3 PERCEPÇÃO SOBRE AS ATIVIDADES EXERCIDAS E A RELAÇÃO QUE ELAS EXCERCEM COM O MEIO AMBIENTE

As respostas das últimas 6 perguntas do questionário aplicado (ver apêndice), geraram variados discursos. Para realizar a análise, os discursos foram agrupados em ideais centrais ou expressões-chaves contidas no depoimento dos participantes das entrevistas. Enfatiza-se que na transcrição das falas, elas foram adequadas à norma culta brasileira, não havendo outros tipos de interferências.

Na Tabela 2 são expostas as categorias analisadas no decorrer das entrevistas com a finalidade de investigar a percepção dos catadores acerca da atividade desenvolvida, bem como as ideias centrais que foram expostas pelo grupo e a frequência que se assemelharam, respectivamente.

(42)

Tabela 2 - Percepção dos catadores acerca das atividades desenvolvidas

Categorias analisadas Ideias centrais Total

N %

Importância do trabalho desenvolvido Importância para subsistência 9 47,4 Relação de afetividade 6 31,6 Importância ambiental 4 21,0

Total 19 100

Mudanças após se tornar um associado Aumento do poder aquisitivo 10 76,9 Inclusão social 1 7,7 Descarte correto dos RSU 2 15,4

Total 13 100

Percepção dos associados quanto as atitudes da comunidade face à trabalho

com os RSU Valorização 7 43,8 Pouco reconhecimento 5 31,2 Falta de cooperação 4 25,0 Total 16 100 Fonte: A autora.

É importante salientar que conforme o método utilizado, a análise de conteúdo possibilita respostas cumulativas e não obrigatoriamente devem corresponder ao tamanho da amostra.

Em relação a importância do trabalho desenvolvido, as respostas foram agrupadas em três ideias centrais presentes citadas nas respostas das entrevistas: demonstração de importância para a subsistência, demonstração de afetividade com o trabalho e demonstração de importância ambiental.

Com 47,4%, demonstração de importância para a subsistência (n = 9), com falas como, “é importante, sustento a minha família […] trabalho aqui, mas tenho vontade de ter

outra coisa.” ou ainda “é o ganha pão, nós almejamos coisa melhor, estamos expostos a seringa […] se arrumamos coisa melhor, não ficamos exposto a isso.” Percebe-se,

através dessas falas, o quanto o trabalho é importante para garantir a subsistência das famílias dos catadores de materiais recicláveis.

Enquanto 31,6% das respostas demonstraram uma relação de afetividade com o trabalho (n = 6), através de discursos como, “eu gosto, já me acostumei, mas não

quero ficar em um serviço desse o resto da minha vida, queria dar um jeito de arrumar um serviço melhor. Velha eu já estou ficando! Prejudica muito a nossa saúde, estamos

(43)

pela precisão.”, ou ainda, “é importante, eu gosto, acho bom. Trabalho aqui mas tenho vontade de ter outra coisa melhor.”

Observa-se por meio desses discursos, que houve uma necessidade em aprender a gostar do trabalho exercido por meio da necessidade em estar inserido nesse contexto. As atividades e o ambiente já se tornaram comuns e, por saberem que é desse universo que provém uma renda melhor a qual eles não conseguem em outro trabalho, os fazem desenvolver uma relação de afetividade com o trabalho. Virgem, Sena e Vargas (2014) apontam essa relação de afetividade como uma forma suave de enfrentar a dura realidade na triagem dos resíduos sólidos urbanos.

E, ainda, com um percentual de 21%, demonstram a importância ambiental (n = 4), por meio das falas, “eu acho que é de grande importância porque a gente deixa de

enterrar tanta coisa que tem valor, vários materiais que pode voltar para casa da gente sem precisar virar aquele volume que a gente tem hoje [...] acho muito bom.” Ou ainda,

“a gente limpa a cidade inteira e contribui com o meio ambiente. Eu acho muito

importante, agente recicla e ajuda a natureza.” Nota-se uma demonstração de

importância ambiental, no entanto, pode-se verificar uma ausência de vínculo afetivo e/ou de prazer na atividade desenvolvida.

Como exposto ainda na Tabela 2, após se tornarem um associado, os catadores notaram como principais mudanças a condição de subsistência, a inclusão social e, melhoras nos hábitos quanto ao descarte correto do lixo.

Em 76,9% o aumento do poder aquisitivo e consequentemente, a melhora na condição de subsistência são exemplificados por falas como: “Ah, melhorou!

Devagarzinho eu estou conseguindo minhas coisas, antes estava difícil porque não tinha salário fixo.” e, ainda, “eu pude dar uma vida melhor para os meus filhos, pude comprar uma moto, mas me roubaram. Sou mãe, pai e avó, mas acredito que se eu ainda estivesse trabalhando em casa de família, não teria o que eu tenho hoje. Graças a Deus não tenho muita coisa, mas o que tenho veio daqui.” (n = 10).

Enquanto a inclusão social foi apontada em 15,4%, mediante respostas tais como,

(44)

ninguém.” e “é importante, aqui a gente é como uma família, hoje tenho muitos amigos, conheci tanta gente!” (n = 2).

E, não menos importante, um percentual de 7,7% relataram melhoras no hábito quanto à forma correta em descartar os resíduos sólidos, por intermédio de expressões como, “aqui eu aprendi muita coisa, a separar o meu lixo, quanto mais

agente separa é melhor, menos lixo enterrado.” e, “aprendi a fazer lá em casa a triagem do lixo, porque hoje eu sei os benefícios que isso traz.” (n = 1)

Um outro ponto a evidenciar, trata-se da forma a qual os associados percebem a comunidade face o trabalho da coleta seletiva. Grande parte julgaram a atividade ser valorizada pela comunidade (43,8%, n = 7), tal como demonstra as falas: “Muitos

quando nos veem, nos dão parabéns, ficam felizes. Nós ficamos muito orgulhosos quando eles separam o lixo todo direitinho, quando a gente vê isso dá uma honra em nós.” e, “a maioria valoriza, tem uma contribuição boa, eu acho que está sendo bem aceito, eles gostam. O povo do comércio então, eles juntam o material e ligam, aí não ficam sujeira na cidade, né!”.

Em controvérsia ao supracitado, através de um percentual de 31,2%, notou-se uma percepção dos catadores em a atividade ser pouco reconhecida pela comunidade, sentimento notório expresso nas falas, como: “Difícil! O pessoal abusa, não todos,

mas o povo acha que a gente está aqui e é sujeito a tudo. Essa semana mandaram fezes em um litro de pet, não nos respeitam!” e, “algumas pessoas acham que estamos aqui só por dinheiro, nos criticam, não vê o outro lado. Lá fora eles acham que a gente fica no lixão catando as coisas”. (n = 5).

Como falta de cooperação por parte da comunidade, foi citado em 25% com discursos,

“muita gente não ajuda, não separa o lixo, outros ajudam. Falta muito ainda! Separando o lixo eles ajudarão a eles mesmos.” (n = 4)

Ainda nesse sentido, exprimiu-se, por meio da Tabela 3, a percepção e conhecimento dos catadores acerca da ligação entre o meio ambiente com o trabalho, agrupadas em ideias centrais e expostas na frequência a qual se assemelharam, respectivamente.

(45)

Tabela 3 - Percepção e conhecimento dos catadores acerca da relação existente o trabalho e o meio ambiente

Classe analisada Ideias centrais Total

% Percepção da relação existente entre o

trabalho e a preservação ambiental

Demonstra possuir relação 12 92,3 Não demonstra relação 1 7,7

Total 13 100

Compreensão do conceito de reciclagem Não sabe conceituar 2 15,4 Conceito: modificação do lixo 11 84,6

Total 13 100

Importância da reciclagem para o meio ambiente

Proteção do meio ambiente 10 76,9 Inclusão social 2 15,4 Complemento de limpeza pública 1 7,7 Total 13 100 Fonte: A autora.

No tocante a percepção dos catadores quanto a ligação existente entre o trabalho e a preservação do meio ambiente, identificou-se 2 ideias centrais. Em 92,3% das respostas, demonstraram percepção em possuir ligação entre os dois itens (trabalho e meio ambiente), notadas em discursos como: “Quando a gente recolhe o lixo na

coleta seletiva e ele está sendo reciclado lá fora, fica menos para ser enterrado. A gente ajuda o meio ambiente porque estamos triando e vai voltar tudo de novo para as casas das pessoas, reciclados, em outros produtos, poluindo menos os rios, os mares.” e, “tem relação sim, porque quando a gente separa o lixo, o descarte é menor no meio ambiente, o rejeito, e aí polui menos porque o que era lixo vira produto que a indústria usa de novo”, (n = 12). Apenas 7,7% não demonstrou perceber uma relação

existente, ao não saberem responder à pergunta (n = 1).

Os resultados obtidos estão em concórdia com os achados por Virgem, Sena e Vargas (2014), ao se pesquisar o trabalho em cooperativas de lixo, apontam que, a compreensão dos trabalhadores quanto a ligação existente entre a atividade e a preservação ambiental foi relacionada, em grande parte dos discursos, à coleta seletiva e à redução do impacto ambiental.

Sobre a reciclagem, 84,6% atribuíram o conceito a modificação do lixo, como verificado nas falas: “reciclar é aproveitar tudo o eu uso em outra coisa, o que seria

Referências

Documentos relacionados

hospitalizados, ou de lactantes que queiram solicitar tratamento especial deverão enviar a solicitação pelo Fale Conosco, no site da FACINE , até 72 horas antes da realização

Artur A. Endoscopia Bariátrica Terapêutica. SOBED, 2103 Role of endoscopy in the bariatric surgery of patients, World J Gastroenterol.. Endoscopia Bariátrica Terapêutica. The role

Thus, the central objective of this investigation was to understand, from the perspective of Critical Analysis of Discourse (CAD), the students’ discursive

Na última terça-feira, dia 20 de junho, a Embaixada dos Estados Unidos da América no Brasil abriu as inscrições para a décima sexta edição do Programa Jovens

No código abaixo, foi atribuída a string “power” à variável do tipo string my_probe, que será usada como sonda para busca na string atribuída à variável my_string.. O

Ou seja, ainda que a frase “Suje-se gordo!” vá aparecer logo mais abaixo no texto do conto e vá aparecer como sendo de tal modo enigmática que, mesmo quando o conto se conclui,

Ficam os participantes, cientes, desde já, que não poderão utilizar de meios escusos para adquirir as notas ou cupons fiscais ou comprovantes de compra para participar

Assim sendo, o trabalho aborda os procedimentos realizados em 2004 para reabilitação da cobertura do edifício Rio Paraná, então com quase sessenta anos de