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Centralização do capital e especialização regional : o setor sucroenergético e o mercado de trabalho em Piracicaba (SP)

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Academic year: 2021

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INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

BRUNO REZENDE SPADOTTO

CENTRALIZAÇÃO DO CAPITAL E ESPECIALIZAÇÃO TERRITORIAL: O SETOR SUCROENERGÉTICO E O MERCADO DE TRABALHO EM PIRACICABA (SP)

CAMPINAS 2016

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BRUNO REZENDE SPADOTTO

“CENTRALIZAÇÃO DO CAPITAL E ESPECIALIZAÇÃO TERRITORIAL: O SETOR SUCROENERGÉTICO E O MERCADO DE TRABALHO EM PIRACICABA (SP)”

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNICAMP PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

ORIENTADOR: PROF. DR. SAMUEL FREDERICO

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO BRUNO REZENDE SPADOTTO E ORIENTADA PELO PROF. DR. SAMUEL FREDERICO.

CAMPINAS 2016

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Geociências Cássia Raquel da Silva - CRB 8/5752

e o mercado de trabalho em Piracicaba (SP) / Bruno Rezende Spadotto. – Campinas, SP : [s.n.], 2016.

Spadotto, Bruno Rezende,

1989-Sp11c SpaCentralização do capital e especialização territorial : o setor sucroenergético

SpaOrientador: Samuel Frederico.

SpaDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

Spa1. Agroindústria. 2. Mercado de trabalho. 3. Geografia econômica. 4. Planejamento territorial. 5. Piracicaba (SP). I. Frederico, Samuel,1979-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Centralization of capital and territorial specialization : the sugarcaneindustry and labour market in Piracicaba (SP)

Palavras-chave em inglês: Agribusiness Labour market Economic geography Territorial planning Piracicaba (SP)

Área de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica Territorial Titulação: Mestre em Geografia

Banca examinadora:

Vicente Eudes Lemos Alves Fabio Betioli Contel

Fabrício Gallo

Data de defesa: 29-02-2016

Programa de Pós-Graduação: Geografia

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INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

AUTOR: Bruno Rezende Spadotto

“Centralização do capital e especialização territorial: o setor sucroenergético e o mercado de trabalho em Piracicaba (SP).)”.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Samuel Frederico

Aprovado em: 29 / 02 / 2016

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Vicente Eudes Lemos Alves - Presidente Prof. Dr. Fabio Betioli Contel

Prof. Dr. Fabricio Gallo

A Ata de Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

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D

EDICATÓRIA

Primeiramente, dedico essa dissertação ao carinho e confiança dos meus pais. Em segundo plano, mas não menos importante, dedico aos trabalhadores da agroindústria canavieira, principalmente, aos que já foram desrespeitados em seus direitos trabalhistas.

(6)

A

GRADECIMENTOS

Todo trabalho, sendo intelectual ou material, constrói-se a partir de um esforço coletivo. Assim, mesmo que a tarefa principal desta dissertação concentre méritos individuais, ela foi auxiliada por uma infinita cooperação coletiva.

Assim, primeiramente, agradeço, imensamente, o amor e confiança de meus pais, Vaine Regina Rezende Spadotto e Benedito Spadotto.

Da mesma forma, agradeço a todos os professore(a)s que passaram em minha vida. Agradeço a orientação “revolucionária” do professor e amigo Samuel Frederico, que, como poucos, se dedica fielmente à orientação de seus alunos. Também agradeço aos professores membros da banca de qualificação e de defesa, Ricardo Abid Castillo, Fábio Betioli Contel, Vicente Eudes Lemos Alves e Fabrício Gallo.

Agradeço à pós-graduação do Instituto de Geociências da Unicamp. Particularmente à equipe da secretaria, nas pessoas de Valdirene Pinotti, Maria Gorete Bernardelli, Valdir Olivieri e Ana Beatriz Silva pela atenção e dedicação que sempre demonstram aos pós-graduandos. É importante ampliarmos o acesso à educação superior no Brasil.

Da mesma maneira, agradeço à “Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)” pelo financiamento da pesquisa no Brasil e do meu “Estágio de Pesquisa no Exterior” no “The Graduate Center of City University of New

York (CUNY)”, onde, entre outras atividades, pude realizar uma entrevista com o

geógrafo britânico David Harvey. Agradeço a esse excelentíssimo professor pela disponibilidade que demonstrou ao ser entrevistado.

Agradeço imensamente à professora Cindi Katz pela receptividade, carinho e atenção dedicados, que me fizeram sentir muito acolhido na CUNY. Também agradeço à professora Ruth Gilmore, que permitiu minha participação nas reuniões do “Center for Place, Culture and Politics” – grupo de debates criado pelo honrado professor Neil Smith – onde, no outono de 2014, o tema central dos debates concentrou-se no conceito de “dívida” (ou “debt”, em inglês).

Também agradeço à boa companhia dos amigos que estiveram presentes nos quatro meses que estive em Nova Iorque, como Vernon, Robin, Marlene, Rakhee, Hamid, Olivia, Hélene e Karl. Obrigado pela companhia pessoal e espero que possamos fortalecer nossa cooperação em novos trabalhos.

(7)

Agradeço a todas as pessoas entrevistadas nessa pesquisa, das Universidades, da Prefeitura de Piracicaba, de Instituições vinculadas, ou não, ao setor sucroenergético (sindicatos e associações de classe) e demais agentes do setor produtivo (industriais, representantes comerciais e trabalhadores) que puderam contribuir com informações muito importantes para a conclusão desse trabalho. Um agradecimento especial à Vitor Pires Vencovsky do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP).

Agradeço aos amigos e colegas que colaboraram com trabalhos adicionais de redação desta dissertação, como meu primo, Carlos Eduardo da Silva Spadotto, que graças a seu ótimo conhecimento no software “Corel Draw”, pôde-me ajudar na elaboração dos organogramas. Também agradeço à Lívia Tonelli pela inspiração quanto a epigrafe dessa dissertação.

Agradeço aos amigos “do coração” que participaram destes últimos anos de vida “acadêmica”, entre eles: Andressa Adame, Vernon Caldwell, Débora Assumpção e Lima, Abbul Mahmebb Said, Vinicius Regitano, Renan Rivaben Pereira, Renato Peres, Alan Peterson Lopes, Jeferson Rodrigo Correa, Marcela Barone, Carlos Eduardo Nobre, Evaldo Gomes Junior, Marcelo Alves Teodoro, Rodrigo Cavalcanti do Nascimento, Jaqueline Vigo Cogueto, Anderson Akio Shishito (Mizu), Carlos Alberto Fernandes, Pedro Henrique Ferreira Costa (BH) e Delcio Fernandes Domingos.

Finalmente, peço desculpas se omiti alguém importante e, enfim, agradeço a todas as pessoas que estiveram presentes, em minha vida, nos últimos anos aos quais me dediquei nessa “empreitada acadêmica” e que contribuíram, materialmente ou sentimentalmente para a conclusão da mesma! Sei que todos vocês estão presentes nas esperanças e nas lutas de minha vida!

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E

PÍGRAFE

"[...] o capital é como uma praga de gafanhotos. Eles se estabelecem em um lugar, devoram-no e então se deslocam para praguejar outro lugar. E, melhor dizendo, no processo de sua recuperação após uma praga, a região fica pronta para outra."

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CENTRALIZAÇÃO DO CAPITAL E ESPECIALIZAÇÃO TERRITORIAL: O SETOR SUCROENERGÉTICO E O MERCADO DE TRABALHO EM PIRACICABA (SP) –

RESUMO

Dissertação de Mestrado – Bruno Rezende Spadotto

O objetivo desta dissertação é analisar as consequências da atual centralização do capital no segmento agroindustrial do setor sucroenergético brasileiro para o mercado de trabalho da cidade de Piracicaba. Durante o trabalho, realizamos uma revisão bibliográfica sobre a história desse município e seus principais aspectos econômicos, visando realizar uma periodização dos meios geográficos. Examinamos, também, a conformação de um circuito produtivo, no município, especializado no setor sucroenergético, tipificando as diferentes empresas componentes desse circuito, com base na teoria dos dois circuitos da economia urbana. Por fim, analisamos a centralização do capital (em curso no segmento agroindustrial do setor sucroenergético brasileiro) com o objetivo de compreender seus impactos para o mercado de trabalho dependente desse setor em Piracicaba. Esta cidade média paulista é historicamente especializada na produção de bens e serviços para o referenciado setor e, desde a chamada “Crise de 2008”, a empregabilidade dos ramos produtivos, vinculados ao setor sucroenergético, diminuiu consideravelmente. Partimos de duas hipóteses centrais: a primeira é baseada no atual desenvolvimento do período técnico-cientifico-informacional, que sobrepõe novas solidariedades organizacionais às antigas solidariedades orgânicas nas regiões produtivas. A segunda hipótese aborda a redução da demanda por capital constante em setores econômicos impactados por centralizações do capital concomitantes a crises econômicas globais. Em suma, dissertamos uma “geografia do presente”, um “materialismo histórico e geográfico” sobre as contradições da produção sucroenergética brasileira e a vulnerabilidade do emprego no município de Piracicaba.

Palavras-chave: Agroindústria; Mercado de trabalho; Geografia econômica; Planejamento territorial; Piracicaba (SP).

(10)

CENTRALIZATION OF CAPITAL AND TERRITORIAL SPECIALIZATION: THE SUGARCANE INDUSTRY AND LABOUR MARKET IN PIRACICABA (SP)

ABSTRACT

Masters Degree – Bruno Rezende Spadotto

The objective of this dissertation is to analyze the consequences of the current centralization of capital in the Brazilian sugarcane industry for the labor market in the city of Piracicaba. During the work, we conducted a literature review on the history of this city and its main economic aspects, aimed performing a periodization of differents geographical environments. We have also examined the formation of a production circuit in the city, specialized in sugarcane industry, typifying the different companies of this circuit based on the theory of the two circuits of urban economy. Finally, we analyzed the centralization of capital in the agribusiness segment of the Brazilian sugarcane industry in order to understand their impact on the labor market dependent on this sector in Piracicaba. This average São Paulo State city is historically specialized in producing equipments and services for the referenced sector and since the so-called "2008 crisis", the employability of productive branches, linked to the sugarcane industry, decreased considerably. Thus, we show two central hypotheses that explain the influence of that centralization of capital for productive circuit of equipments and services located in Piracicaba. The first is based on the current development of technical-scientific-informational period that overlaps organizational solidarities to organic solidarities of the territories. The second central hypothesis addresses the devaluation of constant capital in centralizations that occurs concomitantly on a global economic crisis. In short, we wrote a "geography of present” or a “historical geographical materialism” about the contradictions of the Brazilian sugarcane industry and the productive structure of labour market in Piracicaba.

Keywords: Agribusiness; Labour Market; Economic geography; Territorial planning; Piracicaba (SP).

(11)

L

ISTAS Fotos

Foto 1.1. Grupo Dedini: barracão da década de 1950 ... 31

Foto 1.2. Grupo Dedini: antigo prédio administrativo... 41

Foto 2.1. Vista aérea da usina sucroenergética Costa Pinto (Raízen) ... 72

Foto 2.2. Prédio principal da Dedini S/A “Indústrias de Base”...64

Foto 3.1. Grupo Dedini: greve dos trabalhadores no ano de 2014... 92

Foto 3.2. Grupo Dedini: prédio da seção de mecânica, arrematado em leilão público no mês de novembro de 2014 ... 93

(12)

Gráficos

Gráfico 1.2. Piracicaba: empregos formais da indústria e participação percentual (%) no total de empregos formais (1991 – 2013)...42 Gráfico 2.1. Piracicaba, estado de São Paulo e Brasil: participação (em %) da indústria no total do valor adicionado ao PIB (1999-2012) ...48 Gráfico 2.2. Americana, Itu, Limeira, Piracicaba, Rio Claro e Sta. Barbara do Oeste: valor adicionado pela Indústria, em milhões de reais (1999-2012) ...49 Gráfico 3.1. Açúcar: variação do preço anual (1985 a 2014) ... (Unidade: centavos de dólar (US$) por libra de peso) ...85 Gráfico 3.2. BNDES: desembolsos para o setor sucroenergético, ... em milhões de reais (1999-2014)...86 Gráfico 3.3. Setor Sucroenergético: Fusões e Aquisições (1996-2014)...87 Gráfico 3.4. Brasil: evolução da produção de cana-de-açúcar, em toneladas moídas (Anos-safras: 2001-2002 a 2014-2015) ...92 Gráfico 3.5. Piracicaba: Total de vínculos empregatícios, em milhares de empregos (2000 a 2014) ...95 Gráfico 3.6. Piracicaba: Total de vínculos empregatícios no subsetor metalmecânico, em milhares de empregos (2000 a 2014) ...96 Gráfico 3.7. Piracicaba: movimentação total de admissões e desligamentos, entre os anos de 2002 a 2015 ...97 Gráfico 3.8. Piracicaba: movimentação dos empregos metalmecânicos, admissões e desligamentos, entre os anos de 2002 a 2015 ...98 Gráfico 3.9. Grupo Dedini: variação do número de trabalhadores ... (2006 a agosto de 2015) ... 105 Gráfico 3.10. Grupo Dedini: faturamento, em milhões de reais ... (2006 até agosto de 2015) ... 105

(13)

Quadros

Quadro 2.1. Empresas do Circuito Superior no fornecimento de bens e serviços ao setor sucroenergético, situados em Piracicaba ... ..528 Quadro 2.2. Empresas do Circuito Superior Marginal no fornecimento de bens e serviços ao setor sucroenergético em Piracicaba ... 584 Quadro 2.3. Empresas do Circuito Inferior no fornecimento de bens e serviços ao setor sucroenergético em Piracicaba ... 684

(14)

Organogramas

Organograma 2.1. Círculos de cooperação para a construção, produção e manutenção de uma usina sucroenergética...74 Organograma 2.2. Estrutura organizacional do Grupo Dedini ...78 Organograma 2.3. Círculos de cooperação do Grupo Dedini ...80

(15)

S

UMÁRIO

INTRODUÇÃO 17

CAPÍTULO 1 Metamorfoses do setor sucroenergético e o

município de Piracicaba 20

1.1. Período “pré-técnico”: fundação de Piracicaba, primeiros

proprietários de terra e imigrantes (1767-1881) 21

1.2.

Período técnico a vapor: acumulação primitiva dos

engenhos-centrais, ferrovias e os “novos” imigrantes (1881-1933)

24

1.2.1. Acumulação primitiva e crescimento inicial do Grupo Dedini 26

1.3.

Período técnico agroindustrial: reestruturação canavieira na Região Concentrada e a formação do complexo agroindustrial (CAI) de Piracicaba (1933-1964)

29

1.4.

Período técnico-científico: os planos nacionais do açúcar e do álcool e a modernização conservadora da agroindústria canavieira (1964-1990)

33

1.5

Período técnico-científico-informacional: as políticas de desconcentração industrial, o neoliberalismo e a centralização do capital na agroindústria canavieira (1990-2016)

38

CAPÍTULO 2

Os círculos de cooperação entre os fornecedores de bens e serviços para o setor sucroenergético em Piracicaba (SP)

46

2.1

Os circuitos da economia urbana e as empresas fornecedoras de bens e serviços para o setor sucroenergético em Piracicaba

50

2.1.1. Empresas do Circuito Superior no fornecimento de bens e serviços ao setor sucroenergético em Piracicaba 52 2.1.2. Empresas do Circuito Superior Marginal no fornecimento de

bens e serviços ao setor sucroenergético em Piracicaba 58 2.1.3. Empresas do Circuito Inferior no fornecimento de bens e

serviços ao setor sucroenergético em Piracicaba 68

2.2.

As relações produtivas entre as indústrias de bens de capital, os prestadores de serviços e o setor sucroenergético em Piracicaba (SP)

72

2.2.1. Um caso especifico de círculos de cooperação: o Grupo

(16)

CAPÍTULO 3

CONSOLIDAÇÃO DO SETOR SUCROENERGÉTICO BRASILEIRO (VIA CENTRALIZAÇÃO DO CAPITAL) E A CRISE NO MERCADO DE TRABALHO DOS PRODUTORES DE EQUIPAMENTOS

82

3.1. Centralização do capital e imperativo da competitividade na

agroindústria canavieira brasileira 84

3.2. O mercado de trabalho metalmecânico especializado no

setor sucroenergético em Piracicaba (SP) 94

3.2.1

Das solidariedades orgânicas às solidariedades organizacionais: a metamorfose nas relações de produção regionais

99

3.2.2 A Recuperação Judicial do Grupo Dedini: contradições do

capitalismo dependente do agronegócio global 104

CONSIDERAÇÕES

FINAIS 117

(17)

I

NTRODUÇÃO

O controle da produção de açúcar e etanol é estratégico no atual período técnico-científico-informacional (SANTOS, 1994; 2000; 2009). Além da importância da produção do açúcar, o aprofundamento da transição energética mundial – de uma matriz baseada em combustíveis fósseis, para outra, baseada em combustíveis renováveis1 (PIRES DO RIO, 2011; 2013; EGLER, 2013) – conferiu centralidade à produção do etanol, alternativa denominada “sustentável” pelos agentes do setor e pelo Estado (CASTILLO, 2008; PORTO-GONÇALVES, 2012), com o objetivo de geração de combustíveis e, também, eletricidade.

Neste contexto, analisaremos de que maneira a centralização do capital, em expansão no segmento agroindustrial do setor sucroenergético2 brasileiro, gerou consequências para o mercado de trabalho da cidade de Piracicaba (SP), essencialmente para os serviços e as indústrias de equipamentos para o setor.

Para Neil Smith (1988, p.178), baseado em Marx (2013), enquanto a concentração do capital expressa uma acumulação individual gerada pelo reinvestimento em novos meios de produção, a centralização de capital “ocorre

quando dois ou mais capitalistas, anteriormente independentes, se combinam num único capital”, através de incorporações, fusões e aquisições.

Dentre o número crescente de regiões brasileiras especializadas na produção de cana-de-açúcar, Piracicaba (SP) destaca-se não apenas pela extensão de suas plantações, mas, principalmente, pela significativa concentração de indústri as de bens de capital e empresas prestadoras de serviços para o setor sucroenergético.

1

Por transição energética compreendemos o atual movimento de ampliação na utilização de novos recursos naturais para geração de energia. Há uma grande imprevisibilidade sobre os caminhos que essa transição pode percorrer. Isso decorre da impossibilidade de antever o descobrimento de novas jazidas ou a invenção de novas técnicas de extração que permitam, ou não, a permanência de nossa atual matriz energética, baseada em combustíveis fósseis (PIRES DO RIO, 2011; 2013; EGLER, 2013).

2 O termo “sucroenergético” é utilizado, ultimamente, pelos agentes do setor, em substituição ao antigo termo “sucroalcooleiro”. A mudança corresponde à ênfase atribuída ao processo de geração de geração de energia obtida a partir do bagaço da cana-de-açúcar na produção de cana-de-açúcar e Etanol. (CAMELINI, 2011). Utilizaremos esse termo em nossa dissertação, muito embora, empregaremos, também, o termo “agroindústria canavieira”, pois, este último enfatiza o segmento agroindustrial do setor, que é tema central nesse estudo.

(18)

A primazia da cidade de Piracicaba na produção de equipamentos e serviços ao setor sucroenergético brasileiro, pode ser verificada pelos seguintes dados: 1) cerca de 60% dos equipamentos utilizados pelo setor no território brasileiro são produzidos por empresas localizadas no município; 2) Piracicaba abriga as principais indústrias de bens de capital do setor, como os exemplos da “Dedini S/A Indústrias de Base” e da “Mausa”; e 3) O município é, ao lado de Sertãozinho (SP), o principal centro deste ramo industrial no território brasileiro (EBC, 2012).

Em nossa pesquisa, dedicamos uma atenção considerável aos trabalhos de

campo. Primeiramente, visitamos as indústrias de equipamentos mais especializadas no setor (como: Cooperativa São José, Mausa e Dedini), buscando, a partir de entrevistas com seus respectivos gerentes de vendas, administração e engenharia, entender como as atuais transformações do setor sucroenergético impactaram tais indústrias. Também tivemos o cuidado de comparecer em feiras de exposições e simpósios do setor produtivo (como: Fenasucro e Simpósio de Tecnologia de Produção de Açúcar) com o objetivo de, novamente, averiguar o funcionamento mercadológico do setor produtivo, por meio de novas entrevistas, caracterizando o atual funcionamento comercial do setor. Em outra vertente, também visitamos órgãos públicos (secretaria do trabalho, renda e do desenvolvimento econômico de Piracicaba) para averiguar o funcionamento do planejamento estatal sobre o mercado de trabalho no município estudado. Também entrevistamos sindicatos e associações de classe – como: Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba, Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) e Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Mecânicas de Piracicaba (SIMESPI) – e outros agentes do setor produtivo e trabalhista. Desta maneira, compreendemos que uma de nossas principais fontes de dados foram os trabalhos de campos e as entrevistas (descritas, principalmente, no item “2.1.” do terceiro capítulo) que foram realizadas no município de Piracicaba.

A especialização histórica da cidade Piracicaba na produção de equipamentos para a agroindústria canavieira será tratada no primeiro capítulo. Faremos uma periodização dos meios geográficos implantados sobre o que hoje é conhecido como município de Piracicaba. Este recorte tem o intuito de auxiliar na análise da atual divisão territorial do trabalho inserida sobre a determinada porção do espaço geográfico (SILVEIRA, 2007; SANTOS, 1985, 1988).

(19)

Devido à grande concentração de indústrias de bens de capital e prestadores de serviços para o setor sucroenergético, o município abriga diversos círculos de

cooperação entre as empresas destes ramos, conformando etapas de um circuito espacial produtivo (SANTOS, 1986; 1988; CASTILLO; FREDERICO, 2010)

especializado na produção de equipamentos e serviços especializados. Trataremos da concentração destas empresas no segundo capítulo da dissertação, a partir da elaboração da tipologia das empresas do setor, baseada na proposição teórica de Milton Santos (2008) sobre os dois circuitos da economia urbana nos países

subdesenvolvidos. Elaboramos quadros e fluxogramas que auxiliam na compreensão da conformação da referenciada rede de empresas, compreendendo fornecedores de equipamentos, insumos e serviços especializados no setor.

Finalmente, a centralização do capital no segmento agroindustrial do setor sucroenergético é tratada no terceiro capítulo. Abordaremos a centralização como a expressão econômica evidente do atual movimento de consolidação do setor

sucroenergético brasileiro. Assim, na conclusão da dissertação, analisaremos como

o processo de centralização do capital impactou o circuito produtivo de bens e serviços situados em Piracicaba, compreendendo, assim, quais foram as principais influências deste processo para o mercado de trabalho desta cidade.

(20)

C

APÍTULO

1

M

ETAMORFOSES DO SETOR SUCROENERGÉTICO E O MUNICÍPIO DE

P

IRACICABA

“A geografia não é outra coisa senão a história do espaço, assim como a história é a geografia do tempo.” (RECLUS, L`homme et la Terre, 1905).

A história pode ser considerada como a sucessão de diferentes meios geográficos, sobrepostos em diferentes tempos, sobre a superfície terrestre (SANTOS, 2009). Com base nesse pressuposto, elaboramos uma periodização baseada na sucessão dos meios geográficos, implantados sobre o que hoje é conhecido como município de Piracicaba. A noção de sucessão dos meios geográficos é compreendida como um método analítico para compreender as transformações técnicas e político-organizacionais de determinada sociedade no tempo. Este recorte tem o intuito de auxiliar na análise da atual divisão territorial do trabalho inserida sobre determinada porção do espaço geográfico (SILVEIRA, 2007; SANTOS, 1985, 1988).

É interessante salientar que quando determinado autor – um geógrafo, neste caso – depara-se com a elaboração de uma periodização, defronta-se também com o risco de se apaixonar pela história do lugar que escolheu para analisar. Tomando este devido cuidado, não realizaremos uma descrição minuciosa dos fatos históricos que ocorreram em tempos passados no município de Piracicaba. Deveras, esta tarefa já foi realizada por historiadores, como Mário Neme (2009 [1943; 1974]), Maria Celestina Teixeira Mendes Torres (2009), Leandro Guerrini (2009 [1970]), assim como pela geógrafa Silvia Selingardi Sampaio (1976), entre outros.

A singularidade de nossa periodização, baseada na sucessão dos meios geográficos, é a de compreender as variáveis-chave de cada período, as quais possibilitaram a formação das indústrias de bens de capital em Piracicaba. Desta maneira, nosso objetivo é demonstrar os principais eventos, de cada período histórico, nas escalas global, nacional e local, que influenciaram a atual formação deste município, como fornecedor de bens de capital para a agroindústria canavieira.

(21)

1.1. Período “pré-técnico”: fundação de Piracicaba, primeiros proprietários de terra e imigrantes (1767-1881)

A fundação do município de Piracicaba é contemporânea ao final do primeiro ciclo da cana-de-açúcar no Brasil (NEME, 2009). As plantações de cana e os engenhos de açúcar na porção territorial que hoje corresponde ao município de Piracicaba iniciaram-se no final do século XVIII. Foi naquela época que surgiram as primeiras propriedades privadas que propiciaram uma acumulação primitiva de capital3 historicamente associada à agricultura da cana-de-açúcar (PRADO JR, 2011; NEME, 2009).

Tomamos o cuidado de advertir ao leitor, desinteressado pela história da urbanização pretérita da cidade de Piracicaba, a pular a leitura deste primeiro período, se dirigindo ao segundo, caso esteja mais interessado em fatos históricos mais conexos com o espaço geográfico atual da cidade de Piracicaba. Este primeiro período pode ser desinteressante devido às particularidades da história inicial da cidade estudada. O leitor não terá prejuízo algum, caso escolha pelo caminho sugerido. No caso oposto, se o leitor se interessa pela história mencionada, o convidamos a adentrar o enredo inicial dessa dissertação, presente nos parágrafos seguintes.

A formação de Piracicaba (SP) iniciou-se com o movimento externo da colonização portuguesa que se interiorizou pelo continente sul-americano buscando a extração de riquezas naturais, principalmente, o ouro (PRADO JR, 2011; MORAES, 2002). A oficialização do povoado, realizada em 1° de agosto de 1767, foi concretizada por duas razões: primeiro, pela necessidade de um posto de fiscalização do tráfico de ouro originado nas minas dos Goyases e de Cuiabá e; segundo, pela necessidade de um núcleo agrícola colonial que fosse capaz de abastecer o Forte de Iguatemi, localizado no extremo Oeste da colônia brasileira, na divisa com o Paraguai, fronteira que delimitava os territórios portugueses e espanhóis na época (NEME, 2009; TORRES, 2009).

3

Nos termos de Marx (2013, p. 634): “A assim chamada acumulação primitiva não é, por conseguinte, mais do que o processo histórico de separação entre produtor e meio de produção. Ela aparece como “primitiva” porque constitui a pré-história do capital e do modo de produção que lhe corresponde”. No caso do estado de São Paulo, este ciclo canavieiro foi responsável pelos primeiros latifúndios regionais, distribuídos pela coroa portuguesa e, também, surgidos a partir da grilagem de terras.

(22)

A decadência do ouro nos finais do século XVIII e a queda do Forte de Iguatemi em poder dos espanhóis favoreceram as primeiras plantações de cana-de-açúcar na região. Naquele momento, ocorreu a substituição das pequenas economias atreladas à extração de ouro para a produção de produtos agrícolas na colônia brasileira, principalmente na capitania de São Paulo (SAMPAIO, 1976; PRADO JR, 2011).

É neste contexto que se enquadra uma importante fase de acumulação primitiva do capital no território paulista. A acumulação original esteve vinculada ao comércio do açúcar e deu origem às primeiras formações econômicas no interior da capitania de São Paulo. A região de maior ocupação territorial foi denominada de “O Quadrilátero do Açúcar”, correspondentes, em seus vértices, aos municípios de Jundiaí (à Leste), Sorocaba (ao Sul), Piracicaba (à Oeste) e Mogi Guaçu (ao Norte) (PETRONE, 1968).

Esse foi o primeiro movimento de territorialização4 das terras paulistas, isto é, uma urbanização pretérita que serviu de base territorial para a posterior expansão cafeeira paulista (PETRONE, 1968). Em Piracicaba, o ciclo açucareiro colonial se manifestou concretamente com o desenvolvimento de pequenos engenhos de produção de açúcar e por um bucólico centro urbano. Entretanto, aquele primeiro ciclo canavieiro regional entrou em crise já na segunda metade do século XIX.

Segundo Torres (2009) e Sampaio (1976), com a crise açucareira, a estrutura fundiária do município passou a ser menos concentrada do que nas regi ões vizinhas, devido aos parcelamentos agrários realizados após a década de 1860. Nesta segunda metade do século XIX, a renda da terra do município foi continuamente desvalorizada pelo crescente interesse em terras de maior altitude, propícias ao latifúndio cafeeiro. É nesta linha de raciocínio que é possível explicar a desconcentração fundiária naquele período e a leve prosperidade de imigrantes europeus menos capitalizados nesta região.

4 Quando mencionamos o termo “territorialização” referimo-nos ao processo de formação de espaço geográfico, assim como se refere Raffestin (1993). Esse termo é utilizado aqui para ser correspondente à afirmação do trabalho clássico de Maria Thereza Schorer Petrone (1968), quando a autora afirma que: “Na realidade, o açúcar teve de organizar toda a infraestrutura indispensável à sua comercialização. As estradas, o porto, o comércio, tudo se desenvolveu em consequência da nova atividade econômica dos paulistas e se adequou a essa função, Santos antes de ser porte do café, foi porto de açúcar” (p. 223).

(23)

A primeira chegada expressiva de imigrantes no município foi registrada na década 1860. Os citados imigrantes eram originários do leste europeu5. A maioria dos trabalhadores “livres” chegou a Piracicaba após a “Revolta dos Parceiros”6 que escancarou as péssimas condições de trabalho da Fazenda Ibicaba, localizada em Limeira (SP) e de propriedade do Senador Nicolau de Campos Vergueiro. As famílias originárias destes pioneiros tornaram-se importantes no período de crescimento das indústrias de bens de capital na cidade, tanto como fornecedoras de mão de obra, como proprietárias de indústrias e comércios (SAMPAIO, 1976; TORRES, 2009, NEME, 2009).

Este primeiro ciclo canavieiro regional entrou em crise na segunda metade do século XIX. Após a safra recorde de 1846/47, onde foram exportadas mais de 590 mil arrobas de açúcar pelo porto de Santos, houve uma crescente desvalorização do produto brasileiro. A perda do “monopólio brasileiro” no mercado colonial de açúcar teve seus motivos ligados à: 1) obsolescência dos antigos engenhos, com produtividade muito inferior à das Antilhas; 2) canaviais que também possuíam baixa produtividade para a época, utilizando a mesma variedade desde o século XVIII e 3) a inserção no mercado europeu do açúcar de beterraba (SAMPAIO, 1976).

Na fase mais pujante do açúcar na região naquele período, Piracicaba chegou a possuir 78 pequenos engenhos, os quais eram responsáveis por 20% da produção de açúcar da província de São Paulo7. Estes engenhos foram a herança sócio-espacial mais significante daquela época, servindo também de caracterização para o próximo período, de 1881 a 1930, onde uma ampla bibliografia denomina-o de “fase dos engenhos de fogo morto” (TORRES, 2009; NEME, 2009), dada as inatividades

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Como, naquele período, a Alemanha e outros países germânicos não haviam se unificado plenamente (nos traços como conhecemos hoje), é difícil delimitar as nacionalidades exatas destes imigrantes pioneiros. Em Piracicaba, por exemplo, acabaram por possuir o adjetivo comum de “Alemães” e de mesma forma, a porção de terra que a maior parte destes trabalhadores ocupou é conhecida atualmente como “Bairro dos Alemães” (NEME, 2009; TORRES, 2009).

6 A “Revolta dos Parceiros” foi a revolta realizada por imigrantes europeus em 1856, após as cruéis condições de exploração que enfrentaram na Fazenda Ibicaba. O melhor relato da revolta é narrado pelo seu líder, o suíço Thomas Davatz, que ao voltar à Suíça, escreveu o livro “Memórias de um Colono no Brasil”, traduzido por Sérgio Buarque de Holanda, no ano de 1951.

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Em relação à quantidade de engenhos dos municípios paulistas na metade do século XIX, o número em Piracicaba só era inferior à Itu (mais de 90 engenhos) e Campinas (mais de 80 engenhos) (NEME, 2009).

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dos pequenos engenhos, provocada pelo baixo preço do açúcar no mercado internacional (principalmente no final do século XIX).

1.2. Período técnico a vapor: acumulação primitiva dos engenhos-centrais, ferrovias e os “novos” imigrantes (1881-1933)

Este segundo período inicia-se no final do século XIX e se alonga até as transformações políticas e técnicas da década de 1930, referentes à institucionalização do Estado Novo, à criação do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e à primeira fase de modernização da agroindústria canavieira brasileira (RAMOS, 1999; FERREIRA; ALVEZ, 2009). É também o período de uma lenta transição da economia piracicabana atrelada somente à produção agrícola, sob o domínio das oligarquias agrárias, para a transformação industrial que ocorreu no período após a Segunda Guerra Mundial.

A principal transformação técnica do período foi a introdução da máquina à vapor nos engenhos de açúcar. Em relação às técnicas rudimentares, associadas aos pequenos engenhos, impulsionados pela força motriz das águas, pela força animal (dos cavalos e bois) e pela força humana do negro escravizado, ainda eram residuais e aprimoradas lentamente. Os melhoramentos eram esporádicos e associados às particularidades de cada propriedade, não havendo uma política institucional de aumento da produtividade (SAMPAIO, 1976).

Esta situação começou a se alterar quando um programa de modernização da produção de açúcar, ainda da época do Império brasileiro, iniciou a construção dos denominados “Engenhos Centrais”. Esta medida foi tomada devido à perda de monopólio brasileiro no mercado internacional de açúcar.

Sobre os “Engenhos Centrais”, é interessante resgatar uma definição de Manuel Correia de Andrade (1963, p. 86):

Os engenhos centrais seriam maquinismos possantes, capazes de esmagar canas de vários engenhos banguês e de fabricar açúcar de melhor qualidade e que, de acordo com os estadistas que os idealizaram, separariam a atividade agrícola da industrial. Estes engenhos que seriam montados com garantia da obtenção de juros dos capitais empregados – garantia esta dada pelo Governo – pertenciam a companhias estrangeiras, não poderiam cultivar cana, não usariam o braço escravo e como iriam receber matéria-prima de áreas muito amplas, muito mais extensas que a de um engenho banguê, deveriam construir estradas de ferro (...)

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Em Piracicaba, a medida Imperial favoreceu a fusão de capitais no final do século XIX. De maneira mais significativa, a fusão de capitais nacionais (representados pelos Barões de Rezende e de Serra Negra, que haviam fundado o “Engenho Central de Piracicaba”, em 1881) e capitais franceses, conformando a

Societé Sucrérie Brésilienne, controladora da produção do Engenho Central de

Piracicaba. Outro grande favorecido por este financiamento foi o Engenho do Monte Alegre, o qual realizou uma grande ampliação de sua estrutura produtiva (SAMPAIO, 1976; MEIRA, 2007).

É importante destacar que a política de modernização não buscou dar condições para que os pequenos engenhos se modernizassem. O desenvolvimento dos Engenhos Centrais regionais foi contemporâneo à fase de crise do açúcar brasileiro no mercado internacional. Assim, os pequenos engenhos que não faliram, foram incorporados aos maiores, engendrando a primeira grande centralização do capital na produção açucareira local, sendo também uma forma de acumulação primitiva.

Neste mesmo período, o território paulista se equipou com sistemas de objetos (ferrovias, armazéns, etc.) atrelados à produção cafeeira. A expansão cafeeira favoreceu a entrada das ferrovias no interior, o que difundiu o fenômeno urbano no estado. Todavia, para Piracicaba, a contribuição das ferrovias e da cafeicultura para a urbanização foi distinta de outros lugares. A razão para esta distinção é que o município não pertencia às regiões de maior altitude (com condições edafoclimáticas mais propícias à cafeicultura), correspondentes aos espigões, onde se desenvolveram as maiores plantações cafeeiras e por onde a maior parte das ferrovias paulistas tomou caminho (MONBEIG, 1984).

Os trilhos que ali chegaram apenas ligavam Piracicaba ao Porto de Santos. Ou seja, eles não se estendiam no sentido Oeste pelos vales dos rios Piracicaba e Tietê, dificultando, por décadas, o intercâmbio e as trocas econômicas entre Piracicaba e as demais cidades do interior paulista8. As indústrias de bens de capital que surgiram na cidade nos anos posteriores, como a Dedini, por exemplo, viram-se,

8 Piracicaba era conhecida pelo adjetivo de “fim de linha”. Segundo Sampaio (1976, p. 69) “a linha da Cia. Paulista permaneceu como simples ramal que ligava Piracicaba à Jundiaí, enquanto a Sorocabana (que em 1892 absorveu a Ytuana, sendo durante algum tempo denominada Sorocabytuana) avançou apenas, em sentido Oeste, até o município vizinho de São Pedro, em 1893”.

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muitas vezes, impedidas de transportar seus equipamentos pelos trilhos (SAMPAIO, 1976).

Em relação à estrutura fundiária do município, Muller (1966, p. 91) demonstra que houve uma grande desconcentração fundiária no período de 1900 a 1930. Isto ocorreu, sobretudo, devido ao desinteresse, por parte da elite cafeeira paulista, nas terras de baixa altitude do município, desfavoráveis ao latifúndio cafeeiro. Desta maneira, a renda da terra no município tornou-se menos capitalizada em relação às localidades vizinhas, fato que favoreceu parcelamentos fundiários e a comercialização de lotes.

A renda da terra menos capitalizada, decorrente de sua inadequação para a produção cafeeira, beneficiou a atração de imigrantes europeus. Desta vez, em sua maioria, de italianos. Dentre estes, os que possuíam pequeno capital transferiram-se das moradias em colônias (das grandes fazendas regionais) para propriedades de menores dimensões nas regiões circundantes do município. Esta caracterização é importante, dado que tais imigrantes (ao lado dos alemães) foram os principais responsáveis (tanto como mão de obra, quanto como proprietários) para o desenvolvimento das indústrias de bens de capital, correspondente à fase de reestruturação da produção de açúcar paulista, nas décadas de 1940 e 1950.

1.2.1. Acumulação primitiva e crescimento inicial do Grupo Dedini

É neste contexto que se enquadra a ampliação da oficina mecânica, fundada na década de 1920, por um imigrante italiano, chamado Mário Dedini. Os fatores que transformaram a M. Dedini Metalúrgica em uma grande empresa nacional são de naturezas diversas e já foram descritos por outros autores, como Negri (2010) e Sampaio (1976). Entretanto, em nosso caso, não nos arriscaremos a determinar apenas uma parte dos fatores (como por exemplo: o “espírito empreendedor” de Mario Dedini) como o principal fio condutor do desenvolvimento. Para tanto, faremos uma análise a partir da “situação geográfica” (SANTOS, 1996; SILVEIRA, 1999), isto é, o conjunto de eventos que contribuíram em diversas escalas para o desenvolvimento das indústrias Dedini.

Primeiramente, o seu desenvolvimento ocorreu no mesmo período de intensificação industrial no estado de São Paulo, datado dos anos posteriores à década de 1930, especialmente, no Pós-Segunda Guerra Mundial. Isso condiz com

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a argumentação de Szmrecsányi (1979) e Ramos (1999) sobre o desenvolvimento da agroindústria canavieira. Segundo os autores, ele foi reflexo e condição de fases de intensificação industrial brasileira, principalmente nos “Governos Vargas” e na realização do “Plano de Metas”, de Juscelino Kubitschek, quando o Grupo Dedini aproveitou para ampliar seus lucros.

Do ponto de vista da técnica, o conhecimento detido por Mário Dedini, fundador do Grupo, em relação à engenharia mecânica (desenhos, projetos e metalurgia) que envolve o saber sobre a construção e manutenção de uma usina de açúcar foi oriundo da educação que o mesmo obteve na região de onde emigrava, do Nordeste da Itália (cidade de Lendinara, região de Vêneto, próxima aos distritos industriais de Pádua). Esta região já havia presenciado uma intensa fase de industrialização, que propiciou a modernização das usinas de produção de açúcar a partir da beterraba, no inicio do século XX. Naquele período, Mario Dedini (que trabalhou como técnico nessas usinas) pôde trazer o referido saber ao Brasil, o que lhe foi muito lucrativo no período de modernização e ampliação dos engenhos paulistas de açúcar (na década de 1930) dessa vez a partir da cana-de-açúcar, plantada em latifúndios brasileiros (SAMPAIO, 1976; NEGRI, 2010).

Por fim, destacam-se também as relações estabelecidas por Mário Dedini, principalmente, com Pedro Ometto, um grande latifundiário da região na época. Esta relação pessoal, que se originou a partir da Società Italiana di Piracicaba, concretizou a primeira usina montada completamente pela metalúrgica Dedini, em Iracemápolis, no ano 1932 – a qual Negri (2010, p. 35) denominou de “A Grande Experiência” para o Grupo Dedini.

É importante caracterizarmos muito bem esse último quesito. Primeiro, pelo cuidado que devemos ter ao relatar a História e, segundo, pelo vinculo que essa particularidade regional tem com o desenvolvimento industrial brasileiro. Esse vínculo é respaldado nas análises de autores como Cano (1998), Furtado (1996) e Fernandes (2006) quando os mesmos argumentam que uma das características centrais da modernização industrial brasileira é a relação que o “novo capital burguês industrial” estabeleceu com o “antigo capital rentista agrário”, utilizando-se dos excedentes da agricultura (principalmente da produção cafeeira paulista, mas, no caso de Mario Dedini e Pedro Ometto, dos excedentes da produção de açúcar).

A aliança entre “capital burguês industrial” e “capital rentista agrário” tem, no caso de Piracicaba, uma situação bem característica (como também ocorreu em

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outros casos no estado de São Paulo). Mario Dedini, visando fixar a relação com Pedro Ometto, casou sua filha mais velha com o filho mais velho de Pedro Ometto, que se tornou herdeiro, tanto dos latifúndios do pai, como das fábricas do Grupo Dedini. Tal herdeiro, pessoa de Dovílio Ometto, assumiu a presidência da empresa em 1970, quando Mario Dedini faleceu, estando no cargo até 2007, data de seu falecimento.

A caracterização político-econômica dessa relação é muito importante, já que a mesma explica a acumulação primitiva de capital do Grupo Dedini. As propriedades privadas herdadas da família Ometto, que se tornaram parte da família Dedini, possibilitaram a obtenção de crédito suficiente (nesse caso, vindo da renda da terra) para que o Grupo Dedini ampliasse seu capital industrial nas décadas seguintes.

Voltando para a caracterização de nossa periodização, o encerramento daquele período histórico que narramos por hora (delimitado entre o final do século XIX até a década de 1930) ocorreu no final da Primeira Guerra Mundial, já que, após o conflito, a maior parte dos circuitos produtivos globais foram surpreendidos com uma sobreacumulação de mercadorias9. Como é de conhecimento amplo, o grande choque se deu no debacle da bolsa de valores de Nova York em 1929, quando todo o consumo mundial foi deprimido, levando os preços das mercadorias/commodities a níveis baixíssimos.

Naquele período, a produção de açúcar brasileiro não ficou imune. Após as constantes crises, a mesma passou a contar com um planejamento amplo provindo do Estado brasileiro, visando o controle de especulações e novas superproduções. Com base nessas premissas, foi criado, em 1933, o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) para gerir, fiscalizar e organizar a produção da agroindústria canavieira brasileira.

Assim, a década de 1930 marcou o início da transição para um novo paradigma produtivo, ou, em outras palavras, um novo período técnico. A partir daquela década, devido à depressão econômica mundial, os Estados-Nações passaram a adotar medidas anticíclicas, de inspiração keynesiana, para o controle financeiro das economias nacionais (GALBRAITH, 1972).

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No caso do açúcar, a crise de superprodução esteve relacionada ao reestabelecimento da produção de açúcar provindo de beterraba, que é produzido pelos países europeus.

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No caso brasileiro, a criação do Estado Novo, na década de 1930 – surgido de um período conturbado de crise institucional – seguiu o alinhamento dessas mudanças. Foi naquele contexto que se criou, além do já citado Instituto do Açúcar e do Álcool, outros diversos órgãos para o controle da produção agrícola (BELLUZZO; COUTINHO, 1983). Também foram a partir destes pressupostos que o Estado brasileiro passou a favorecer a exponencial industrialização e urbanização do território, fenômeno que, reservado ao nosso objeto de estudo, abordaremos a seguir.

1.3. Período técnico agroindustrial: reestruturação canavieira na Região Concentrada e a formação do complexo agroindustrial (CAI) de Piracicaba

(1933-1964)

A agroindústria canavieira no Brasil iniciou uma grande reestruturação produtiva durante os percursos da Segunda Guerra Mundial. Esta foi uma primeira e importante fase de “modernização” do setor e durou até meados da década de 1950. Nesta reestruturação, grande parte da produção de açúcar, que era localizada na região Nordeste do Brasil e no Norte do estado do Rio de Janeiro (região de Campos dos Goytacazes), foi transferida para o estado de São Paulo (SZMRECSÁNYI; MOREIRA, 1991; RAMOS, 1999; FERREIRA; ALVES, 2009).

A razão para esta reestruturação esteve ligada às dificuldades de transporte marítimo por cabotagem (devido à guerra submarina) e à necessidade de realocar a produção, realizada nas regiões tradicionais (litoral nordestino e norte fluminense) para outras regiões, visando atender ao aumento do consumo doméstico, dada a crescente urbanização na Região Concentrada10 do Brasil (Sudeste e Sul)

(SANTOS; RIBEIRO, 1979; SZMRECSÁNYI; MOREIRA, 1991).

Devido à crescente urbanização na Região Concentrada, o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) – fundado em 1933 – iniciou uma política de aprovações para implantação de novas unidades e aumento das cotas de produção para as usinas em São Paulo, em detrimento das antigas regiões produtivas. Desta maneira, a quantidade de usinas no estado de São Paulo, que não era superior a trinta,

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Por Região Concentrada compreendemos a porção territorial brasileira correspondente às macrorregiões Sul e Sudeste. O termo “concentrada” deve-se à maior reunião de sistemas de objetos e ações nesta região em relação às demais regiões brasileiras (SANTOS; RIBEIRO, 1979; SANTOS; SILVEIRA, 2001).

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começou a aumentar, assim como também aumentou a produtividade por unidade (SZMRECSÁNYI, 1979; RAMOS, 1999; FERREIRA; ALVES, 2009).

É importante salientar que uma grande parte destas usinas instaladas representou apenas uma ampliação de antigos engenhos que passaram a utilizar técnicas mais modernas (RAMOS, 1999). Uma das principais consequências desta reestruturação produtiva foi a concentração de terras e a substituição completa dos antigos engenhos, produtores de açúcar mascavo, por usinas, com maiores capacidades produtivas. Outra característica foi que as novas usinas se instalaram tanto em antigas áreas canavieiras (como Piracicaba), quanto se consolidaram em novas regiões, como: Jaú, Vale do Paranapanema, Araraquara e Ribeirão Preto (SAMPAIO, 1976; SEC/IAA apud NEGRI, 2010)11.

Foi durante essa fase, de construção de usinas pelo estado de São Paulo, que se deu a transformação da pequena oficina de Mário Dedini em uma grande indústria nacional. A Dedini Metalúrgica cresceu na mesma intensidade que a agroindústria canavieira paulista. A maior parte das 70 usinas instaladas, entre 1946 e 1952, foi construída pela empresa, em parceria com as filiais do grupo (Codistil e Mausa). (SAMPAIO, 1976; NEGRI, 2010).

Na década de 1950, a empresa (transformada em M. Dedini S/A Metalúrgica - Foto 1.1), já havia criado seu monopólio na produção de bens de capital para usinas brasileiras. As poucas firmas que lhe faziam concorrência foram incorporadas à Dedini ou faliram. Essa centralização do capital na indústria de equipamentos foi propiciada pela forte e veloz especialização das regiões próximas à Piracicaba na produção de açúcar e álcool. Foi desta maneira, que a cidade de Piracicaba se tornou referência latino-americana na produção de equipamentos para usinas e destilarias de álcool (SAMPAIO, 1976; NEGRI, 2010).

11

No município de Piracicaba, as usinas construídas foram: 1) Usina Costa Pinto (atualmente umas das maiores usinas do Brasil); 2) Usina Modelo de Açúcar e Álcool (desativada na década de 1990) e 3) Usina Santo Antonio (desativada também na década de 1990). Além destas, foram modernizados o Engenho Central de Piracicaba (desativado em 71), o Engenho Monte Alegre (desativado em 1982) e o Engenho Capuava (ainda sobrevivente, produzindo álcool anidro e gás carbônico).

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Foto 1.1. Grupo Dedini: barracão da década de 1950 12

Fonte: Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP)

A M. Dedini S.A – Metalúrgica também criou uma indústria de bens de capital e participou da composição acionária de outra, na fase de intensificação de construção de novas usinas no estado de São Paulo, visando atender à crescente demanda por equipamentos entre 1940 e 1950. Primeiramente, em 1943, criou a Codistil, que teve grande participação na construção das destilarias de álcool anidro. Posteriormente, com a participação de distintos capitalistas, fundou-se a Mausa, em 1948, visando a produção de outros equipamentos industriais necessários para as usinas (centrífugas, redutores de velocidade, pontes rolantes, bombas, etc.) (SAMPAIO, 1976; NEGRI, 2010).

Outra grande indústria construída pelo Grupo Dedini foi a Siderúrgica Dedini, em 1955. Inicialmente, ela fornecia os metais necessários para as metalúrgicas da Dedini e, posteriormente, tornou-se a primeira indústria brasileira na exportação de lingotes e vergalhões de aço para concreto armado. Esta fábrica fortaleceu-se a partir do crescimento econômico impulsinado pelo “Plano de Metas”, do governo de Juscelino Kubstichek, no final da década de 1950 (SZMRECSÁNYI; MOREIRA, 1991; NEGRI, 2010).

12 O barracão industrial da “Foto 1.1.” atualmente pertence à “NG Metalúrgica”, empresa criada após o desmembramento do Grupo Dedini, na década de 1990, quando Narciso Gobin saiu da sociedade retendo algumas propriedades em direito.

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Nesta Siderúrgica, a Dedini ambicionava produzir aço diretamente do minério de ferro. Entretanto, a situação precária das ferrovias que chegavam à Piracicaba tornou-se um grande entrave logístico (SAMPAIO, 1976). A única solução viável foi produzir vergalhões de aço para a construção civil, obtidos através de sucata de ferro, produto que até hoje é elaborado pela planta industrial em atividade, mas que atualmente é controlada pela multinacional ArcelorMittal 13.

Outras empresas fundadas pelo Grupo Dedini foram: 1) a Cerâmica Dedini Ltda (especializada na produção de material refratário para a siderurgia em geral); 2) a Dedini-Capellari S.A., em 1957, com o objetivo de fabricar transformadores de tensão e de corrente elétrica e que posteriormente teve seu nome modificado para Superkaveá S.A. e 3) a Motocana S.A. Máquinas e Implementos Agrícolas, fundada em 1959, objetivando a mecanização do preparo e colheita canavieira14.

Da mesma forma que a M. Dedini Metalúrgica especializou-se no fornecimento de bens de capital para a agroindústria canavieira, outras fábricas também foram fundadas com objetivos similares. Os principais exemplos destas firmas, em Piracicaba, são: 1) Caldeiraria Morlet, fundada em 1935 (comprada pela Dedini em 1960); 2) Metalúrgica Santa Cruz Ltda (Mescli), fundada em 1938 (falida em 1966 e reaberta em 1967 por ex-funcionários com o nome de “Equipe”); 3) Santin S.A, fundada em 1948; 4) Mário Mantoni Metalúrgica Ltda, fundada em 1952; 5) Metalúrgica Piracicabana (Mepir), fundada em 1952 (anexada à Mausa em 1968); 6) Metalúrgica Conger S.A., fundada em 1962; 7) Metalúrgica & Fundição Santo Antonio Ltda (Mefsa), fundada em 1967; 8) Metalúrgica São Carlos, fundada em 1968; 9) Fundição Bom Jesus, fundada em 1969; 10) Hima S.A. Indústria & Comércio, fundada em 1969; e 11) Indústria & Comércio Fazanaro Ltda, fundada em 1970 (SAMPAIO, 1976).

Além destas indústrias, como afirma Sampaio (1976), desenvolveu-se também em Piracicaba uma série de outras empresas vinculadas direta e indiretamente à agroindústria canavieira, como: 1) indústria têxtil – sacaria para o açúcar; 2) indústria alimentícia – as próprias usinas, fábricas de balas e doces; 3)

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Esta siderúrgica aumentou o seu volume de produção recentemente, quando foi incorporada pela, já citada, ArcellorMittal, o maior conglomerado mundial na produção de aço.

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A única empresa destas três que ainda permanece no Grupo Dedini é a Cerâmica Dedini Ltda. A Motocana S.A. foi vendida durante a década de 1990 e a Superkaveá S.A. foi fechada também na mesma década.

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indústria de celulose e papel (utilizando a celulose da cana para a produção de papel, processo realizado no passado pela fábrica pioneira da “Refinadora Paulista S/A”); 4) a indústria de bebidas – aguardente; 5) indústria química – fornecendo adubos e insumos químicos; e 6) indústria mecânica e metalúrgica – fornecendo equipamentos para usinas, implementos agrícolas e peças para máquinas e tratores, utilizados no corte e no transporte da cana-de-açúcar.

Tal complexo agroindustrial manteve um crescimento progressivo durante toda a década de 1950, mas, como demonstrou Negri (2010), a partir da década de 1960 começaram a aparecer os indícios do principal problema do setor industrial do município: sua característica ciclica, dependente dos altos e baixos da agroindústria canavieira. É assim que a partir de 1964, muitas indústrias faliram devido à recessão que agroindústria canavieira enfrentou naquela época.

A partir desse ponto, evidenciamos a estruturação de um novo periodo técnico e politico. Durante a década de 1960, o Estado brasileiro, capitaneado por um governo autocrático, elaborou diversos planos que objetivaram a “recuperação” da agroindústria canavieira, que se encontrava em crise. Os planos de recuperação trataram-se de pacotes tecnológicos, que visavam aumentar a produtividade do setor. Como veremos a seguir, o aumento da produção apenas intensificou as crises cíclicas de superprodução e sobreacumulação da agroindústria canavieria brasileira.

1.4. Período tecnico-cientifico: os planos nacionais do açúcar e do álcool e a modernização conservadora da agroindustria canavieira (1964-1990)

Segundo Szmrecsányi; Moreira (1991), no início da década de 1960, as oligarquias canavieras iniciaram uma crescente pressão para que o Estado aumentasse as cotas de produção. Em 1962, com a abertura do “Mercado Preferencial dos Estados Unidos”– devido ao embargo ecônomico a Cuba, que era, até então, seu principal fornecedor de açúcar – o I.A.A. (Instituto do Açúcar e do Álcool), seguindo a pressão das oligarquias da época, decidiu colocar em prática o “Plano de Expansão da Indústria Açucareira”.

Sobre as circunstâncias políticas em que foram tomadas essas decisões, é interessante ler a narrativa de Szmrecsányi; Moreira (1991, p. 66):

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(...) as lideranças empresariais da agroindústria canavieira elaboraram, em 1962, um documento endereçado à presidência do IAA, no qual projetavam uma demanda (interna e externa) de 80 a 90 milhões de sacos de açúcar para 1970, e solicitavam ao Governo a autorização e os meios financeiros necessários para expandirem em mais de 50% a capacidade produtiva, então instalada. Tais reivindicações foram integralmente acolhidas pelas autoridades governamentais, e se transformaram em componentes fundamentais da orientação do próprio Instituto. (...) Todos estes projetos foram, porém, abruptamente interrompidos pela eclosão de uma nova e intensa crise de superprodução, cujo impacto atingiu a agroindústria canavieira do Brasil na segunda metade dos anos 60. Os primeiros sintomas dessa crise já haviam surgido em 1964 (...).

O Plano de Expansão da Indústria Açucareira gerou constantes crises de superprodução de açúcar nos anos posteriores (em 1964, 1967 e 1974) amenizadas somente em 1975 e 1979, com o programa governamental de apoio a produção de álcool - o Proálcool (SZMRECSÁNYI; MOREIRA, 1991).

Os prejuízos surgidos pela superprodução só foram superados pela elite do setor graças ao excedente de capital acumulado nos anos anteriores. Mesmo assim, como ocorre em todas as crises, o lado mais vulnerável do circuito produtivo sofreu intensamente seus impactos. Neste caso, muitos fornecedores de cana-de-açúcar foram obrigados a vender suas terras para saldar as dívidas acumuladas. É assim que ocorreu uma grande concentração fundiária entre as décadas de 1960 e 1970 (SZMRECSÁNYI; MOREIRA, 1991; RAMOS, 1999; BORGES; COSTA, 2013).

Tratando-se das indústrias de equipamentos de Piracicaba, houve, por exemplo, o caso de duas indústrias, de dimensões médias, que fecharam suas portas devido ao acúmulo de dívidas no final da década de 1960. Essas foram a Mescli (falida em 1966 e reaberta em 1967 por ex-funcionários com o nome “Equipe”) e a Mepir (falida em 1967 e vendida a Mausa em 1968). Além destas duas empresas menores, o Grupo Dedini também sentiu os efeitos da crise e teve o primeiro ano de prejuízo em 1967, além de um ano de baixa produção em 1968 (NEGRI, 2010).

Já no ano de 1969, quando os mercados internos e externos começaram a se recuperar, a Ditadura Militar brasileira financiou o “Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar” (Planalsucar) de 1971 e o “Programa de Apoio à Indústria Açucareira” de 1973, ambos componentes presentes no primeiro Plano Nacional do Desenvolvimento (PND I). Estes dois planos açucareiros foram os principais projetos estatais da “Revolução Verde” (KAGEYAMA, et al., 1990) para a

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produção da cana-de-açúcar. Desta maneira, o Planalsucar realizou, ao longo da década de 1970, seu principal objetivo: desenvolver novas variedades de cana adaptadas aos diferentes solos e climas das diversas regiões do país15.

As indústrias de bens de capital de Piracicaba voltaram a crescer entre 1969 a 1973, usufruindo da modernização do setor e impulsionadas pelos programas de “racionalização e apoio” da indústria açucareira. Entretanto, a Primeira Crise do Petróleo, de 1973, causou uma grande redução dos mercados e muitas indústrias de bens de capital registraram prejuízos, enquanto outras, apenas conseguiram recuperar-se devido a um novo programa de apoio estatal: o Programa Nacional do Álcool (Proálcool).

O Proálcool, como já citado, foi criado, primeiramente, para conter as constantes crises de superprodução recorrentes no setor canavieiro, que se aprofundaram drasticamente com a mencionada “Crise do Petróleo”. O Programa garantiu certa expansão da indústria de bens de capital do interior paulista (Piracicaba e Sertãozinho) e um relativo desenvolvimento tecnológico para combustíveis não fósseis. Mesmo assim, ainda hoje, restam debates pertinentes quanto às suas virtudes. Szmrecsányi (1991, p. 71), por exemplo, deixou clara sua visão crítica sobre o assunto, quando dissertou que:

(...) o Programa do Álcool fora formulado e estabelecido menos como uma solução para a "crise energética" do Brasil, do que como uma alternativa para a previsível capacidade ociosa da sua agroindústria canavieira.

Cabe-nos descrever quais foram os principais resultados de tais políticas econômicas, circundantes ao Proálcool e como, as mesmas, influenciaram na atual configuração das indústrias de bens de capital de Piracicaba.

O Proálcool pode ser dividido em três fases: a primeira foi a de implantação de destilarias de álcool anexas às usinas de açúcar, aumentando a produção de álcool do tipo anidro (para a mistura com a gasolina), medida tomada a partir de 1975. A segunda fase refere-se à implantação de destilarias autônomas em novas áreas de produção de álcool, a partir de 1979, iniciando a produção do álcool

15 Quanto ao “Programa de Apoio à Indústria Açucareira”, tratou-se, na realidade, de um programa de apoio financeiro aos usineiros que substituiu, em 1973, o “Programa de Racionalização da Indústria Açucareira”, que era datado de 1971. Este último, por sua vez, havia objetivado a modernização de usinas, mas, foi interrompido pela conjuntura da Primeira Crise do Petróleo de 1973, a mesma que provocou uma abrupta diminuição de demanda açucareira mundial (SZMRECSÁNYI & MOREIRA, 1991).

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hidratado destinado ao uso direto nos automóveis. Já o terceiro momento, corresponde à diminuição progressiva da efetividade do programa devido à redução do preço do petróleo internacional, a partir de 1985, e pela descoberta de novas reservas petrolíferas no Brasil (RAMOS, 1999).

A maior parte das destilarias anexas, construídas no Proálcool, foi produzida com os equipamentos das fábricas de destilarias de Piracicaba, essencialmente da Codistil (do Grupo Dedini) e da Conger, que produziram 471 novas destilari as entre 1977 e 1981. Novamente, o Grupo Dedini demonstrou sua monopolização do setor, chegando a participar em 75% dos projetos de destilarias negociadas no país (MALUF, 1984).

Desta maneira, o Proálcool auxiliou, de certa maneira, a manutenção do número de empregos relacionados às indústrias de bens de capital de Piracicaba. Entretanto, com a diminuição de sua efetividade, no final da década de 1980, as indústrias piracicabanas, que produziam equipamentos para o Proálcool, entraram em depressão, assim como todo o circuito produtivo. A redução da demanda por equipamentos e serviços no setor sucroalcooleiro se aprofundou na década de 1990, causando desemprego e aumento percentual de trabalhos informais na cidade (MALUF, 1984).

Tratando-se da relação entre o Grupo Dedini e o Proálcool na década de 1980, uma pesquisa da prefeitura do município de Piracicaba, na época, revelou que o Grupo Dedini (isto é, todas as empresas componentes do Grupo) reunia aproximadamente dez mil trabalhadores no período do boom do referenciado plano tecnológico. Entretanto, com o posterior crash do programa, no final da década de 1980, a empresa acabou acumulando grandes dívidas e entrou na década de 1990 com inúmeros prejuízos, com processos de falência, reestruturação e demissão em massa de trabalhadores (LEÃO, 2005).

As razões pelas quais o Proálcool perdeu sua efetividade e acabou sendo interrompido foram: 1) a diminuição dos preços do petróleo no mercado internacional, a partir de 1985; 2) a descoberta de novas reservas petrolíferas brasileiras na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro; e 3) a redução da capacidade de investimento do Estado16.

16

O início da explosão da dívida externa brasileira tem sua raiz nos contratos de empréstimos firmados entre os governos militares brasileiros e os bancos privados globais, durante a ocorrência dos PND I, II e III na década de 1970 (MONCAU, 2013). Esta dívida e

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