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Depressão: o sofrimento contemporâneo

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Academic year: 2021

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Emilie Rodrigues Viana

DEPRESSÃO: O SOFRIMENTO CONTEMPORÂNEO

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Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

Departamento de Humanidade e Educação

Curso de Psicologia

Emilie Rodrigues Viana

DEPRESSÃO: O SOFRIMENTO CONTEMPORÂNEO

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de formação de Psicólogo.

Orientadora: Cristian Giles

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Emilie Rodrigues Viana

Depressão: O sofrimento Contemporâneo

Banca Examinadora:

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AGRADECIMENTOS

Durante esta jornada que se finda, inúmeras vezes deparei-me com situações de dificuldade que por hora achava que não conseguiria enfrentar, nestes momentos contei com pessoas especiais que foram suportes durante essa caminhada acadêmica.

Aos meus pais que me possibilitaram a oportunidade de cursar uma faculdade, agradeço pela paciência, pelo investimento emocional e financeiro e por terem permanecido ao meu lado mesmo nos momentos que nossas ideias não eram as mesmas, deles levo valores que faculdade nenhuma ensinará com a certeza de que tudo que fizeram foi sempre para o meu bem.

A minha irmã que sempre me incentivou a buscar novos caminhos e novas escolhas e que ao seu modo foi uma das pessoas mais presentes durante esses cinco anos, obrigada pelo apoio e em especial pelos lembretes “Emilie sai do Facebook e vai escrever o TCC”.

Família, obrigada por vezes terem aberto mão de seus sonhos em favor dos meus, amo vocês mais do que tudo.

Ao meu namorado Gustavo que com sua paciência e atenção infinita preencheu o espacinho que faltava na minha vida e que por quatro anos e meio suportou muitas crises, choros, ameaças de desistir de tudo e partir para novos rumos, com certeza tudo teria sido mais complicado sem você do meu lado. Amo você gordinho!

Aos amigos que compartilharam momentos de alegria, de festa, de cervejas no bar, mas que também deram seu apoio nos momentos difíceis, tenham certeza que cada um ao seu modo tem um lugar especial no meu coração. Muito Obrigada por tudo.

"Quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado, com certeza vai mais longe." Autor Desconhecido

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RESUMO

O presente trabalho aborda a temática da depressão. Busca-se trabalhar a depressão enquanto produção do discurso contemporâneo e, neste sentido, como sintoma social. A partir do estudo a respeito da depressão no discurso social, é trabalhada a clínica da depressão e sua diferença da melancolia, ambas como efeitos do discurso de cada época. Dentro da clínica da depressão é estudada ainda a estruturação psíquica do sujeito depressivo e os demais elementos que constituem a depressão enquanto patologia contemporânea.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 5

DISCURSO SOCIAL E DEPRESSÃO ... 7

PATOLOGIAS DO DESEJO: MELANCOLIA E DEPRESSÃO ... 17

CONCLUSÃO ... 28

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo trabalhar a temática da depressão. A questão que orienta esta escrita é: Seria a depressão expressão do sofrimento contemporâneo? Partindo desta primeira questão, como se apresentaria a depressão no discurso social e como se estruturaria enquanto patologia?

O interesse em discutir a respeito da depressão surge de inquietações ante os atendimentos clínicos. Percebe-se, na clínica, por intermédio do discurso de pacientes, que a depressão circula de maneira considerável atualmente, sendo, muitas vezes, utilizada para nomear os distintos tipos de mal-estar do sujeito diante das demandas que se colocam a ele.

Sendo assim, torna-se importante estudar a depressão sob dois pontos. O primeiro seria a depressão enquanto produção do discurso social e também como resposta do sujeito ante as demandas do Outro. O segundo ponto seria a depressão em sua forma clínica, como se estrutura e quais os conceitos envolvidos na sua formação.

O primeiro capítulo buscará estudar a depressão enquanto produção do discurso social e também como manifestação do mal-estar contemporâneo. O sujeito, na contemporaneidade, depara-se frequentemente com condições propiciadoras de mal-estar que revelam, de algum modo, certa fragilidade deste em responder àquilo que lhe é solicitado.

Os efeitos da transição entre tradição e contemporaneidade produzem neste sujeito diversas maneiras de se posicionar diante das solicitações do meio social. Neste sentido, torna-se necessário identificar os pontos fundamentais desta transição, de que maneira o sujeito a recebe e como responde a isso.

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Partindo do estudo de alguns autores, será traçado de que maneira a depressão se estabelece como sintoma contemporâneo, e o que busca simbolizar por meio de sua manifestação sintomática. O trabalho propõe identificar os aspectos que possam confirmar a depressão enquanto sintoma social e como se institui no discurso atual.

O segundo capítulo abordará a depressão em sua forma clínica. Onde é estudada a estruturação do sujeito desde o seu início, tentando identificar a partir de que momento a depressão começaria a se instalar.

Para trabalhar com a depressão enquanto patologia, o estudo parte do conceito de melancolia, uma vez que esta é citada por muitos autores como manifestação de mal-estar social que antecede a depressão. Além de ser considerada como manifestação sintomática antecessora da depressão, é possível dizer que muitos dos estudos a respeito da depressão partiram de pesquisas sobre melancolia. Deste modo, o texto busca marcar as diferenças entre melancolia e depressão, apontando as disparidades, em especial estruturais, entre as duas patologias.

A clínica da depressão desperta muitas dúvidas e questionamentos a todos que, de algum modo, buscam estudá-la. Tem-se no discurso do paciente depressivo algumas especificidades que levam a questionamentos a respeito de em qual estrutura estaria a depressão – se em uma estrutura neurótica ou psicótica. É necessário estabelecer o complexo de Édipo como fator determinante na constituição das estruturas psíquicas. Assim, o estudo basear-se-á neste elemento para discutir a respeito desta estruturação.

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DISCURSO SOCIAL E DEPRESSÃO

Este trabalho aborda a depressão como sintoma social. A questão que orienta a investigação é o que entendemos por depressão e como esta se apresenta na atualidade. Neste primeiro capítulo serão trabalhadas as condições discursivas, portanto os laços sociais nos quais surge a depressão. Para tanto, nos apoiamos na leitura de autores que trabalham, a partir da Psicanálise, sobre este assunto. Este capítulo nos permitirá entrar posteriormente na clínica da depressão.

O sujeito, na contemporaneidade, apresenta diversas maneiras de responder ao discurso social. É possível perceber uma mudança na posição que os sujeitos ocupam hoje da que ocupavam em épocas anteriores. Os sujeitos buscam posicionar-se no mundo tentando desatar os laços que os ligam às tradições e à cultura em que estão inseridos, não compreendendo que, como sujeitos da cultura, oportunamente seremos influenciados pelo contexto cultural que nos cerca.

Na modernidade, o sentido da vida não é dado por nenhuma verdade transcendental que preceda a existência individual; entretanto, é ilusório pensar que a criação de sentido para a existência possa ser um ato individual. É uma tarefa coletiva, uma tarefa da cultura, da qual cada sujeito participa com seu grão de invenção. É uma tarefa simbólica que se dá por meio da produção de discursos e narrativas sobre “o que a vida é” ou “o que a vida deve ser” (KEHL, 2002, p. 10).

Na modernidade, o pensamento sobre o sentido da vida apresenta-se como uma questão individual. O sentido da vida, porém, não pode ser uma construção individual. Esta é uma tarefa coletiva, uma tarefa da cultura, em que cada sujeito contribui de seu modo. É uma tarefa simbólica que se dá por intermédio de discursos sobre o sentido da vida.

Nas últimas décadas os discursos que apresentam o sentido da vida têm se empobrecido gradativamente, uma vez que se apoiam menos em razões filosóficas e do

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conhecimento e mais em razões de mercado. 1O grande ponto em que se sustenta esse empobrecimento se encontra no fato de que as áreas que se ocupavam anteriormente das discussões a respeito do sentido da vida, como a Filosofia e a Religião, perderam espaço para as razões de mercado.

Essas áreas buscavam um esclarecimento sobre as coisas e suas origens. Seu propósito não se baseava nas questões cotidianas e na banalidade do dia a dia, mas em ir além dos conceitos já postos e determinados, buscando, desse modo, dar sentido à vida e às experiências dos sujeitos. Já as razões de mercado se consomem por si mesmas na medida em que, cada vez que suas razões são satisfeitas, a mesma se esgota. Sua satisfação não propõe nada além do uso do objeto.

O mercado de consumo só oferecem a repetição daquilo que já é conhecido por todos. Propõem um “saber viver” que somente é eficaz na medida em que o sujeito reduz sua vida a uma busca de satisfação de suas necessidades. Essa busca e essa satisfação se colocam em uma espécie de circuito, que aparece como uma agitação de um desejo insaciável, mas não é, posto que os objetos oferecidos para a saciedade das necessidades são comuns e equivalentes a qualquer mercadoria.

Chemama (2007) destaca que na atualidade temos a economia de mercado como reguladora dos objetos de satisfação e gozo¹ para os sujeitos. Todo objeto torna-se disponível e deve ser um direito de todos, quando não se consegue mais distinguir o objeto de satisfação do objeto de necessidade. O objeto se torna tão acessível que fica difícil encontrar nele algum valor psíquico.

Se por um lado, no contexto atual, as razões filosóficas, religiosas e tradicionais não dão mais conta da construção de “destinos”, por outro temos as questões relativas ao mercado e ao consumo assumindo importante papel na vida dos sujeitos. A partir disso é possível considerar que há na vida dos sujeitos uma redução da esfera da subjetividade para um um plano de satisfação de necessidades.

Nas sociedades tradicionais a entrada dos sujeitos no mundo obedecia a questões relativas à filiação, à organização familiar e se constituía também por meio daquilo que circulava pelo discurso – como os mitos e as restrições morais – que se encontrava

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prescrito no código da cultura da época. Dentro desse contexto os sujeitos tinham demarcadas as permições e restrições da época, sendo responsabilizados por suas condutas, caso essas não se encaixassem no que havia sido demandado pelo meio social.

Maria Rita Kehl, em seu livro Sobre ética e psicanálise (2002), assevera que

o advento do cristianismo foi o início de um longo processo de internalização do conflito, ao propor aos fiéis que se dedicassem a minuciosos exames de consciência e exigir uma vigilância absoluta sobre a devoção que deveria revelar em pensamentos, palavras e ações (p. 50-51).

Esse sistema social tem seu declínio na medida em que a Reforma protestante propõe uma individualização dos homens e da fé, pondo os sujeitos como responsáveis por sua salvação. Desse modo é retirado da igreja o poder absoluto até então exercido por religiosos católicos.

O capitalismo substituiu a ideia que durante muito tempo foi sustentada pela igreja católica: a de um bem supremo. Nessa nova configuração o sujeito começa a encontrar outras formas de satisfazer o seu desejo. Nesta mudança, na qual o poder exercido pela fé perdeu espaço, as configurações e representações de bem e de mal também se modificaram na medida em que começaram a se apoiar na ideia apresentada pelo mercado capitalista, que principiou a oferecer aos sujeitos uma intensa variedade de mercadorias como forma de satisfação do seu desejo.

Jean Pierre Lebrun, em sua obra O mal-estar na subjetivação (2010), aduz a ideia de que no funcionamento da nossa vida social é possível perceber o enfraquecimento de referenciais que se encontravam presentes na vida do sujeito. Estes referenciais eram transmitidos pela tradição e se apresentavam desde o nascimento do sujeito acompanhando-o durante toda a vida.

Para Kehl (2002), a passagem da tradição para a modernidade provocou no homem moderno uma crise; não uma crise subjetiva, mas sim, uma crise que abalou as certezas do ser como um todo. A autora analisa o surgimento dessa crise sob duas maneiras: o primeiro ponto seria a respeito da relação dos homens com o saber e a verdade e o outro seria a relação dos homens com os demais sujeitos.

Buscando explicar os pontos que acredita serem precursores nessa crise do homem moderno, a autora expõe aquilo que chama de face contemporânea do

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desamparo, resultado de uma perda das relações do homem com o saber e a verdade. A partir da Renascença a sociedade assistiu a uma passagem de um mundo medieval para um mundo que se encontra em constante mudança, onde os indivíduos se tornam particulares, com experiências particulares em épocas e lugares particulares.

Toda essa nova configuração de indivíduo particular aplica uma quebra no discurso do Outro, até então único. Essa quebra expõe ao sujeito uma necessidade de autofundar suas escolhas, a partir de onde pudesse se enunciar algum tipo de verdade que viesse a dar conta do desamparo no qual o sujeito se confronta na modernidade.

O desamparo faz parte da condição humana. As formações culturais têm a função de proporcionar estruturas sólidas nas quais os seres possam se apoiar. A tradição situa as pessoas na sociedade, estabelecendo o que se espera de cada um e qual o lugar que os sujeitos irão ocupar.

Na modernidade há uma quebra no poder exercido pela igreja. O efeito disso é uma multiplicidade de saberes que emergem, o que faz com que os sujeitos tenham de buscar e escolher sua filiação simbólica, uma vez que a instituição que detinha, até então, a verdadeira palavra do pai como representação simbólica, tem um declínio em sua função.

O declínio do pai na vida social constitui-se como estrutura das mudanças com as quais nos deparamos. Trata-se de tomar a medida desse enfraquecimento e dos seus efeitos para fazer um inventário dessas mudanças, possibilitando entender as modificações sociais e individuais que ele produz.

O enfraquecimento do lugar do pai no social, dito, de outro modo, do patriarcado, abre caminho para questionar a forma como esse lugar é ocupado. O declínio do patriarcado, entretanto, não equivale ao declínio da função paterna. Mesmo a função do pai colocando-se de maneira reduzida na atualidade, não é possível fazer coincidir a função patriarcal e a paterna.

Lebrun (2010) expõe que o sujeito contemporâneo se encontra mais suscetível a situações propiciadoras de mal-estar, pois não encontrou uma família que lhe propusesse as proibições necessárias, que lhe aplicasse o interdito. Dessa maneira, o enfraquecimento do patriarcado apresenta-se como debilidade do próprio poder que, para o sujeito, até então era o que sustentava suas ações e a sua própria existência.

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Para Rosane Monteiro Ramalho, em seu artigo A vida por um fio (2001), o sujeito contemporâneo assume características individualistas e narcísicas, frutos de uma mudança na organização sociocultural da sociedade; um sujeito que perde as referências que existiam na tradição e que na falta de ideais para construir sua vida vê no “fazer sozinho” o único caminho.

Eduardo Mendes Ribeiro, em seu artigo Existe remédio “de pressão?” (2001), destaca que a sociedade como um todo se torna narcísica devido à precariedade das imagens que o sujeito tem para se representar, quando a fragilização das referências simbólicas faz com que o imaginário também perca a eficácia.

Com essa quebra nas tradições, os modelos que até então conduziam o sujeito para o caminho das possibilidades abre espaço para que ele próprio defina suas escolhas. O enfraquecimento dos papéis sociais e familiares, bem como da imagem de um pai simbolicamente forte, da religião como referência de poder e fé juntamente com o capitalismo como parte do discurso social, formam as novas configurações socioculturais, o que põe o sujeito diante de condições propiciadoras de mal-estar.

O homem moderno começa a surgir a partir da reforma protestante, quando as novas configurações sociais que se estabelecem permitem a este sujeito movimentos que o leve à construção do seu próprio destino. Nessa mudança, o sujeito torna-se responsável por suas decisões e começa a conviver, a partir daí, com condições que lhe produzem mal-estar, posto que começa a se posicionar sempre alerta para conseguir atender às demandas do Outro.

O conceito de “mal-estar” referido aqui foi formulado por Freud em seu texto O

mal-estar na civilização (2010). Freud reconhece que o homem ocupa um lugar de

eterna incompatibilidade entre suas necessidades individuais ante as exigências sociais e culturais. Esse mal-estar, apresentado há anos por Freud, é próprio do ser humano, próprio do sujeito na cultura. Dessa forma, na atualidade estamos expostos a condições que nos colocam diante de sentimentos de “mal-estar” característicos de nosso tempo.

Diante da emergência das novas manifestações de mal-estar, frutos de uma subjetividade que surge a partir dessa nova posição do sujeito, deram-se início os estudos sobre os efeitos dessas manifestações na vida dos sujeitos e do cenário social. A melancolia, antes de ser tratada como um distúrbio psiquiátrico era considerada uma forma de mal-estar. Maria Rita Kehl (2009) afirma que “a melancolia era vista como

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uma forma de mal-estar que denunciava o desajuste entre alguns membros de uma determinada sociedade e as condições do laço social” (p. 44).

Tanto a melancolia em seu auge quanto a depressão atualmente, representam, de alguma forma, um mal-estar social devido a sua presença no discurso, assim como nos diagnósticos mais frequentes. Entre elas, entretanto, há grandes diferenças.No campo clínico, em relação à constituição do sujeito e também aos sintomas descritos, embora possam parecer comuns entre si, possuem diferença em sua constituição e função.

Na Antiguidade, a melancolia tinha como função expressar o mal-estar que a organização social da época manifestava nos sujeitos. Com o passar dos anos, com essa mudança da tradição para a modernidade e com os efeitos dessa transição aparecendo também na atualidade, é possível afirmar que o lugar ocupado pela melancolia na Antiguidade se torna um espaço similar ao que as depressões ocupam na contemporaneidade.

A depressão manifesta-se como uma das formas de mal-estar na atualidade. Mediante o discurso do depressivo e dos próprios sintomas que este quadro apresenta, é possível perceber que a variedade dos discursos, saberes e valores que caracterizam a contemporaneidade deixam o sujeito em uma condição de desamparo, em que as razões de mercado assumem lugar no discurso social. Kehl (2009) destaca que situar a depressão como sintoma social na contemporaneidade corresponde a uma forma de mal-estar que, ao se expandir contra as crenças, valores e práticas corriqueiras, coloca em interrogação os valores que se tem no laço social.

A nova configuração de tempo e espaço, presente nos dias de hoje, diminui a possibilidade de que acontecimentos do passado consigam ser fixados na vida dos sujeitos. Em virtude da instantaneidade dos acontecimentos atuais, valorizando, constitui-se desse modo, um presente praticamente vazio de referenciais.

A sociedade contemporânea segue as linhas do discurso social. Tem-se hoje o discurso capitalista como um dos que mais influencia os dizeres que circulam socialmente, sendo este também um dos articuladores dos laços sociais. Para Ramalho (2001), vive-se em uma sociedade na qual a tristeza é malvista, daí a necessidade em consumir, uma tentativa de aniquilar a dor de existir e também de responder às demandas da sociedade.

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Elizabeth Roudinesco (2000) destaca que a sociedade contemporânea quer banir de sua constituição a ideia de sofrimento, da morte, da violência; busca exterminar os conflitos sociais, e isso ocorre, em grande parte, pelo avanço econômico, que, cada vez mais, se busca ter. Na tentativa de resgatar sua subjetividade, contrapondo-se às ideias sociais de coletividade, o sujeito perde-se ante as tantas possibilidades conquistadas. Dessa maneira, é possível analisar que a contemporaneidade põe o sujeito na condição de indivíduo, deixando de considerar questões referentes a sua constituição. Para Roudinesco (2000, p. 14), “a era da individualidade substituiu a da subjetividade, dando a si mesmo a ilusão de uma liberdade irrestrita, de uma independência sem desejo e historicidade sem história”.

Para Ribeiro (2001), a sociedade contemporânea revela um sujeito cujas práticas e valores se mostram individualistas e narcisistas. Dessa forma, o pensar e vivenciar as relações sociais promove o surgimento de uma nova concepção de sujeito, baseado nos ideais de racionalidade e liberdade. A sociedade contemporânea, direcionada por uma subjetividade definida pelos ideais de racionalidade e liberdade, convive com um impasse que acaba gerando tensão: se por um lado os ideais liberais e racionais têm possibilitado um maior desenvolvimento e propagação de conhecimentos e tecnologias, por outro, a subjetividade se apresenta sem referências capazes de sustentar tais ideias, pois, da mesma maneira que o sujeito adquire estes ideais, o mesmo não consegue sustentá-los.

A atualidade apresenta características próprias que se diferenciam das épocas anteriores. Diante das novas configurações socioculturais, entre elas um enfraquecimento nas estruturas familiares, os sujeitos direcionam suas vidas de acordo com as regras da sociedade e do discurso social atual, caracterizando, assim, estilos e modos de subjetivação específicos da atualidade.

As características da atualidade revelam um discurso direcionado para os ideais de felicidade. Como efeito disso, temos a dificuldade dos sujeitos em lidar com as formas de sofrimento que se apresentam para ele. Os modos de subjetivação que levavam sentido ao sofrimento na Antiguidade desapareceram das formações sociais atuais. O sujeito moderno sofre da sua própria culpa; sofre por estar sofrendo.

Diante das infinitas possibilidades e ofertas de todos os tipos, a tarefa de escolher torna-se angustiante em razão da quantidade de alternativas e possibilidades

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que aparecem. O momento da escolha é, então, uma das condições propiciadoras de “mal-estar” aos sujeitos na atualidade, uma vez que eles conquistam liberdade para fazer suas próprias escolhas.

Essa liberdade conquistada pelo sujeito, em que ele se torna independente para decidir sobre seu próprio destino, livre do peso das tradições, coloca-o em posicionamentos contraditórios. Se por um lado essa liberdade proporciona independência na construção de sua vida, por outro gera insegurança e desamparo. Na luta em busca da realização pessoal, o conflito gerado e o sentimento de insuficiência e culpa por não obter sucesso, quando este não vem de forma total, traduzem-se em um discurso de autorrecriminação, um dos pontos presentes em um estado depressivo.

O ser humano conquista a liberdade para tornar-se artífice de seu próprio destino, livre do peso das tradições e poderes arbitrários e garantido por uma série de direitos. Ele tem a liberdade de construir a sua própria vida. Contudo essa liberdade, se por um lado garante a possibilidade de construção de uma vida independente, também gera insegurança e desamparo. Confrontando com a sua capacidade para “vencer na vida”, todo insucesso joga o homem em profundo sentimento de insuficiência. A liberdade de pensamento e garantias para agir não se deixam acontecer sem produzir o peso de sua responsabilidade de construir-se e encontrar um sentido para a própria existência. Na luta para conseguir a sua realização pessoal, o conflito gerado pela própria insuficiência e culpa pelo não-sucesso se traduzem em um discurso de auto recriminação – ponto nuclear de um estado depressivo (PERES, 2003, p. 24).

O sujeito na atualidade depara-se com inúmeras ofertas, possibilidades e estilos de vida. Para Ribeiro (2001), a tentativa de ser amado e reconhecido a partir de sua singularidade leva o sujeito a esbarrar na dificuldade de encontrar um lugar no mundo. Não havendo esse lugar garantido, a única alternativa para que o sujeito consiga ser incluído é tornar-se portador dos valores demandados pelo grupo social do qual ele almeja participar. Desse modo, a inserção social constitui-se como fonte de sofrimento psíquico, sendo, para o autor, uma das causas do aumento nos casos de depressão.

A depressão e suas variadas formas e classificações ocupam lugar de destaque nos dias de hoje. Devido ao aumento no número de diagnósticos, tornou-se comum ouvirmos que a depressão é considerada o “mal do século”. Desta forma, o termo “depressão” tornou-se uma maneira de discutir, identificar e rotular as mais variadas formas de “mal-estar” na atualidade.

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Podemos concluir que a depressão é o nome dado ao sofrimento do sujeito contemporâneo; sofrimento produzido pela perda de lugar do sujeito junto a versão imaginária do Outro. O sofrimento, decorrente dessa perda de lugar, atinge todas as certezas que davam ao sujeito uma condição de ser.

Ramalho (2001) expõe a depressão como um sintoma social juntamente com as tentativas de o sujeito abrandar uma dor; dor que, para a autora, refere-se à dor de existir. Essa dor de existir seria de certa forma, constitutiva da subjetividade, pois apontaria a insuficiência do sujeito, algo que demonstra que o objeto está desde cedo perdido.

Kehl (2002) identifica a depressão como resultado de um modelo de subjetividade que fracassou. Este fracasso se apresenta na medida em que a ideia do conflito é recusada pelo sujeito, recusa oriunda de uma posição de não se colocar frente a situações que lhe possam causar mal-estar.

A outra consequência desse modelo é a depressão advinda justamente do empobrecimento subjetivo que a recusa do conflito produz. É como se fossemos condenados, sem saber disso (ou seja, a partir apenas dos efeitos inconscientes), a sofrer todos os avatares, todo o peso da nossa condição moderna, sem desfrutar daquilo que ela nos concedeu (KEHL, 2002, p. 79-80).

Peres (2003) acredita que a depressão estaria ligada a um vazio da existência (p. 57). Esse vazio referir-se-ia a uma perda de sentido da vida diante de uma nova configuração da cultura, na qual a singularidade do sujeito encontra pouco espaço para advir.

As problemáticas subjetivas são singulares de cada sujeito e derivam dos conflitos inconscientes que marcam a constituição psíquica. Em uma sociedade como a nossa, no entanto, as situações são permanentemente atualizadas, o que exige do sujeito um esforço a fim de conciliar os referenciais, a partir dos quais nos constituímos como sujeitos com aqueles que nos são postos por meio do convívio social.

A complexidade com que se apresentam as chamadas doenças mentais impõe que se busquem estudos que possam tratá-las sem que seja preciso recorrer à Medicina. O termo depressão é expressão dominante em nossos dias, porém há ainda dificuldades quanto ao diagnóstico exato a respeito dela. Se o diagnóstico da depressão se posiciona

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como um desafio no tratamento desse quadro, a discussão a respeito da depressão e seu quadro clínico se faz necessária.

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PATOLOGIAS DO DESEJO:

MELANCOLIA E DEPRESSÃO

Sendo a depressão considerada sintoma social na contemporaneidade, é necessário estudar a clínica da depressão para conseguirmos entender o que tal manifestação sintomática pretende mostrar. Para falar da depressão e dos elementos que compõem sua estruturação clínica, é importante discorrer inicialmente a respeito da melancolia, pois assim como a depressão, esta também foi, em sua época, considerada manifestação de mal-estar, sendo o estudo sobre a clínica da melancolia importante na discussão da depressão.

Se melancolia e depressão se encontram, de alguma maneira, articuladas no campo social, no campo clínico também há uma ligação entre os dois conceitos, pois os estudos a respeito da melancolia foram e ainda são muito usados para discorrer sobre a depressão, embora muito mais para mostrar suas diferenças do que suas aproximações. Neste sentido, é importante destacar as diferenças clínicas. Mesmo havendo sintomas que aparecem comumente nos dois quadros, depressão e melancolia não se configuram como um mesmo conceito.

A melancolia teria o início de sua estruturação no primeiro momento do Édipo. Neste sentido, partiremos do Édipo e de seus três tempos para poder situar tanto a melancolia quanto a depressão e as especificidades de cada estrutura.

No primeiro momento do Édipo a criança se posiciona como objeto de desejo de sua mãe, e também supõe ser o que completaria a falta da mãe. Ao constituir-se como o falo materno, a criança se coloca como único objeto de desejo da mãe e sujeita o seu desejo ao dela. Inicialmente a problemática fálica se apresenta sob a dialética da criança de ser ou não ser o falo da mãe.

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Este momento do complexo de Édipo, na melancolia, seria marcado pelo lugar que a mãe não concede à criança, o lugar de objeto de satisfação do seu desejo. Essa posição em que a mãe não coloca a criança, tira do melancólico a primeira experiência de relação com o Outro, impedindo, assim, que o pai entre nessa relação mãe-bebê, uma vez que o mesmo não participa do discurso materno.

Ao trabalhar a melancolia e a questão do objeto, Freud assemelha a melancolia ao processo de luto, pois o estado melancólico poderia ser uma reação à perda de um objeto amado. A melancolia estaria relacionada a uma perda de objeto retirada da consciência, pois o melancólico sabe que houve esta perda, porém não sabe o que estava posto nela. Esta perda desconhecida resultará em um trabalho interno responsável pela constituição da inibição melancólica.

Na melancolia, a duração do “mal-estar” não tem o caráter passageiro e finito do trabalho de luto. Este “mal-estar” está evidenciado pelo discurso do melancólico, quando o sentimento de autorrecriminação e de tristeza “consome” o eu do sujeito colocando a este as mais diversas inibições. Segundo Freud, este fato ocorre devido ao processo de identificação com o objeto perdido. Esta identificação é responsável por manter ou tentar manter o vínculo com o objeto.

Urania Peres (2003) expõe que a questão do objeto na melancolia não estaria ligada a uma perda, mas, sim,a uma falha na representação do objeto e no investimento que o melancólico dá a este objeto. Esta falha na representação seria, para a autora, uma das dificuldades encontradas na melancolia, quando a fragilidade nas representações teria suas consequências postas no investimento do objeto; o objeto não se constituiria a partir de uma satisfação experimentada, mas de uma realidade vazia de experiências.

Maria Rita Kehl (2009) aborda a questão da falta do objeto na melancolia como algo que se problematizaria no primeiro tempo edípico. Esta falta se apresentaria no início da constituição do sujeito, quando os sentimentos de ambivalência e indiferenciação entre mãe e infans fariam com que não fosse atribuído ao bebê o lugar de objeto de desejo da mãe. A falta do objeto na melancolia corresponderia então ao momento em que o infans deveria ter sido colocado como objeto do desejo da mãe e não foi, quando a mãe não consegue simbolizá-lo como forma de satisfazê-la por completo.

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Essa mãe que não dá à criança o lugar de um dos representantes do seu desejo será percebida pela criança como um ser sem falta. A mãe do melancólico será vista como um sujeito não barrado, pois não necessita do bebê para obter a satisfação do seu desejo e para a qual o bebê não tem nenhum valor.

Na melancolia, a experiência que o bebê vivencia não possibilita a ele a operação de separar-se da mãe, posto que ele não passou pelo momento em que mãe e bebê se colocam como sendo um só. Essa posição que a mãe assume – a de não conceder a criança como objeto de seu desejo – definira a vida psíquica do bebê e sua posição ante a uma estrutura.

Partimos da tese de alguns autores, além de Freud, de que a melancolia estaria ligada às neuroses narcísicas, ao grupo das psicoses. Segundo Laplanche e Pontalis (2008), Freud fez uso do termo neurose narcísica como o oposto das neuroses de transferência. O grupo das neuroses narcísicas abrangia o conjunto das psicoses funcionais, cujos sintomas não são efeitos de uma lesão somática.

Peres (2003) situa a melancolia como pertencente ao campo das neuroses narcísicas, seguindo assim a proposta de Freud. Para a autora, a melancolia se apresentaria como uma psicose, pois o que estaria posto na estruturação da melancolia é a falta da falta do objeto perdido. Não havendo essa falta, o objeto permaneceria para o sujeito como completo.

Kehl (2009) define a entrada do sujeito em uma estrutura melancólica em três aspectos. O primeiro é a falta que o melancólico tem de não ter sido o significante do falo materno. Essa falta de objeto se inscreve como um buraco na constituição do psiquismo do sujeito. O segundo aspecto seria a questão da relação do sujeito com o Outro, quando o Outro ou se apresentou tardiamente ou se retirou cedo demais, impossibilitando, assim, a identificação fálica, que é o que marca a experiência do sujeito junto ao falo. O terceiro aspecto traz o nome do pai como forcluído, ou seja, a mãe não insere o pai em seu discurso e, não fazendo isso, a metáfora paterna não advém, sendo esse um dos motivos de a melancolia se encontrar no campo das psicoses.

Em relação ao estudo a respeito da formação da melancolia enquanto estrutura e das etapas envolvidas nesse processo: Édipo, relação do sujeito com o objeto e melancolia enquanto estrutura psicótica, o trabalho apresentará posteriormente a clínica da depressão bem como os elementos estruturantes dessa patologia do desejo.

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A depressão é apresentada por alguns autores como decorrente de uma escolha e se estruturaria no segundo momento do complexo de Édipo. O segundo momento do Édipo surge da dialetização da criança de ser ou não ser o falo, em que a interdição paterna na relação mãe-criança-falo se dará sob a forma da privação. O pai interdita a satisfação da criança na medida em que ela percebe que é para o pai que a mãe se dirige.

A entrada do pai na relação da mãe com a criança, como portador daquilo que diz respeito à mãe, é vivido pela criança como frustrante, porém não é só ela que se depara com isso, a mãe também se vê privada de seu suposto falo (a criança como seu objeto de desejo). A criança é castrada pela entrada do pai na sua relação com a mãe.

O que faz com que a criança entre na dialética de ser ou não ser o falo é o aparecimento do pai na sua relação com a mãe. O pai surge como terceiro nesta relação e se apresenta como o que captura o desejo da mãe. A ele a criança atribui imaginariamente o falo. Supondo que o falo se encontra na figura do pai, a criança depara-se com a lei paterna e é confrontada com essa lei na medida em que descobre que a mãe depende dela para satisfazer as suas próprias demandas, ou seja, para responder às demandas da criança. É preciso que, por meio da mãe, esse desejo passe necessariamente pela lei do Outro (pai).

A posição do depressivo enquanto escolha se dá no momento em que o pai imaginário se coloca como rival da criança, no segundo momento do Édipo. A escolha do depressivo seria a de se retirar do campo da rivalidade fálica, se acovardando ante ao pai e não disputando com ele o lugar de falo materno. Se a posição do neurótico diante do pai, que será visto como o dono do falo, é a de desafiar o mestre no caso da histeria ou o de tentar equilibrar-se entre a obediência e a transgressão no caso da neurose obsessiva, fica possível afirmar que o depressivo recua ante a essa decisão.

A posição do depressivo se definiria a partir de um recuo da criança em relação à rivalidade fálica. Essa é a escolha subjetiva que define a posição do sujeito na estrutura como uma posição depressiva: recuar da rivalidade com o pai equivale a recusar a entrada da dimensão conflitiva que marca a vida psíquica do neurótico. A “escolha” se dá nesse ponto; ao invés de avançar em direção ao conflito, o depressivo regride para a posição anterior de dependência em relação à mãe, da qual ele já teria condições de se distanciar (KEHL, 2009, p. 251-252).

A consequência dessa retirada do depressivo perante o pai é que o mesmo se defende mal da castração. Ao invés de enfrentar a rivalidade fálica como uma tentativa

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de recuperar aquilo que perdeu, no caso o lugar de falo materno, ele fica na condição de castrado mesmo não tendo simbolizado por completo a castração.

Não enfrentando o pai, o depressivo fica em uma posição de objeto à proteção da mãe. O prazer que tal condição dá ao sujeito – a de estar protegido pela mãe – tem a consequência da impotência, do abatimento que se coloca a ele, fazendo com que o mesmo tenha dificuldade em enfrentar os desafios que a vida irá lhe impor.

A posição de indefeso assumida pelo sujeito, quando se faz necessária a proteção do Outro, torna-se um engano na medida em que o depressivo não desenvolve recursos para se proteger da ameaça de ser objeto da satisfação de uma mãe forte e onipresente. Esse lugar, de ser objeto passivo da Mãe, não se coloca equivalente ao lugar do pai como aquele que faz a lei, pois o depressivo já é castrado.

Na origem da constituição do sujeito depressivo, a mãe se apresenta com aquilo que Kehl chama de insuficiência da ausência (2009, p. 238). A mãe se mostra insistentemente presente na vida do bebê, não permitindo que a criança desenvolva a capacidade de suportar o vazio da ausência materna e a capacidade de convocar o Outro como forma de atender as suas satisfações.

A posição do depressivo é consequência da tentativa de recuo ante ao saber da castração. Esse saber é fonte de sofrimento para o sujeito depressivo, uma vez que se deparar com a castração é se deparar com o seu fracasso diante do pai. Em neuróticos mais bem sustentados pelos mecanismos próprios da estrutura, esse saber pode aparecer via sonho, lapso ou sintoma, posto que o saber da castração põe-se como um saber inconsciente. Para o depressivo isso também ocorre, porém busca não ter conhecimento disso, não permitindo que aquilo que diz respeito a sua constituição apareça, aniquilando, assim, a sua subjetividade.

Kehl (2009) traz a depressão como pertencente ao campo das neuroses com algumas especificidades. A depressão não deve ser confundida com episódios de tristeza, abatimento e desânimo, mesmo estes fazendo parte do sofrimento depressivo. Do mesmo modo, não pode ser confundida com episódios depressivos esporádicos, pois estes se apresentam em todo neurótico em razão de perdas e de outras situações que produzem sofrimento.

O que faz com que a depressão não seja tratada como uma histeria ou como uma neurose obsessiva, é a maneira pela qual o depressivo atravessa o complexo de Édipo e

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a forma como ele se defende da castração. Kehl (2009) não coloca a depressão como uma quarta estrutura neurótica, mas a situa como uma escolha. Significa dizer que a diferença entre os que se apresentam cronicamente depressivos e os neuróticos mais bem sustentados pelos mecanismos de sua neurose e que enfrentam episódios depressivos ao longo da vida, estaria situada no início da constituição do sujeito, quando a “escolha” da neurose teria sido comprometida precocemente.

[...] O tipo de endereçamento transferencial de suas interrogações ante o analista nos leva a concluir que essas pessoas são neuróticas; mas o sentimento de vazio que as abate, a lentidão mental e corporal, o abatimento profundo em que se encontram, exigem um pouco mais de cautela em sua avaliação. [...] Entendemos, então, que aquele que se apresentou como cronicamente deprimido participa de uma histeria, ou de uma neurose obsessiva, mas sua depressão teria comprometido desde o início a estrutura, no que concerne tanto à posição do sujeito quanto à formação dos mecanismos de defesa característico de cada neurose (KEHL, 2009, p. 15).

Chemama (2007) faz um paralelo entre os casos clínicos de Freud que tratavam da neurose histérica e obsessiva e a depressão. Essa relação entre a depressão e os casos de neurose de Freud se apresenta como uma tentativa de traçar algo que particularize a depressão, colocando-a no campo das neuroses, mas de forma distinta das existentes. Para o autor, o que caracterizaria uma posição depressiva é a condição de não agir do sujeito, quando a realidade somente pode ser constituída pela repetição da mesma.

A depressão participa das neuroses não como um sintoma ou um mecanismo de defesa, mas como uma posição ocupada pelo sujeito. Se para neuróticos histéricos e obsessivos a posição na estrutura se organiza após a rivalidade fálica, em que a criança é “derrotada” pelo pai, o depressivo seria aquele que recuou antes de entrar na rivalidade fálica. Se a queda do neurótico é inevitável quando este entra em disputa com o pai pelo lugar de desejo da mãe, o depressivo é aquele que escolheu antecipadamente permanecer junto à mãe não lutando com o pai por esse lugar de desejo.

O sujeito depressivo revela uma pobreza em suas construções fantasmáticas, resultado de um vazio de sentido no que se refere às defesas imaginárias contra a castração. A produção imaginária dos depressivos é pouca. Essa pobreza de construções imaginárias deixa o depressivo suscetível ao vazio psíquico. Ao contrário dos neuróticos “comuns”, o depressivo imagina pouco e quando imagina logo descrê da

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fantasia. É dessa recusa em fantasiar que o vazio com o qual o depressivo se depara se estabelece.

O depressivo, embora demonstre que consegue lidar com a sua castração, não reconhece que é por meio dela que o seu desejo pode se estabelecer. Para ele, a castração é motivo de vergonha e dor, o que explicaria a dor moral bastante presente na depressão. Embora o depressivo reconheça a castração, não é capaz de simbolizá-la.

O depressivo é mais acessível ao seu saber inconsciente do que os neuróticos mais bem sustentados pelos mecanismos e recursos próprios da estrutura. Como já se encontra instalado um vazio de sentido no que se refere às defesas imaginárias contra a castração e, consequentemente, revela uma pobreza tanto na produção de fantasias quanto nos recursos defensivos próprios das neuroses, o depressivo pode confundir o analista com o que parece, desde o início da análise, efeito do atravessamento do fantasma. Não é. O depressivo, embora pareça “conformado” com a sua castração, não conhece o valor dela como motor e causa do seu desejo. A castração para ele é uma ferida aberta que, além de envergonhá-lo, não para de doer. Nisso consiste a dor moral do depressivo, prova de que ele, embora conheça a castração, não é capaz de simbolizá-la (KEHL, 2009, p. 19).

Roland Chemama (2007) explica a depressão não como um estado de tristeza qualquer, ela representaria um desinvestimento que vai além de questões referentes ao comportamento dos sujeitos. Seu início pode ser dado ou representado pela carência ou até mesmo ausência de um endereçamento.

O endereçamento, ou a ausência deste na depressão, pressupõe que o sujeito, ao se encontrar neste estado, não consiga nomear as causas de seu sofrimento, buscando como ponto para tratar disto pequenas situações cotidianas que, de alguma maneira, produzem mal-estar. Essa dificuldade em nomear suas próprias emoções chega ao momento da análise, quando cria obstáculos no momento transferencial.

É necessário que, enquanto sujeitos, tenhamos um ponto fixo e um comportamento de algum modo ritualizado, fatores que de alguma maneira possibilitem que adquiramos uma identidade. Mesmo que alguns de nossos comportamentos não sejam totalmente desejados por nós, ao repeti-los não o fazemos como um simples ritual, há algo nesse comportamento, uma satisfação talvez, que nos leve à repetição.

O depressivo não se apega somente às situações que irão se repetir, mesmo estas podendo ser um tanto desastrosas. O que se apresenta para ele não é a situação, mas o

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ato da repetição. O depressivo se apega àquilo que, de alguma forma particular, ritualiza as situações, àquilo que indica que tal situação é de um jeito e que não poderá ser diferente. Esse ritual de situações se coloca em uma espécie de lógica que organiza tudo, e é esta lógica que constitui a relação do depressivo com o tempo.

O tempo, para o sujeito deprimido, cria-se de uma forma particular. Não há contornos definidos, não há futuro e nem passado, pois no momento em que se dá alguma importância a um acontecimento do passado se abre a possibilidade de outros acontecimentos surgirem daqueles que foram vivenciados e, então, se teria uma alteração no rumo das coisas. A questão que se coloca aí é a dificuldade que o depressivo tem em conseguir subjetivar os acontecimentos; como ele não se implica subjetivamente nos acontecimentos de sua vida, não permite que se instale nenhuma história.

A questão, certamente, é menos a do acontecimento do que a da possibilidade de subjetivá-lo. Para explicar seu estado, o sujeito deprimido pode dizer que foi vítima de um traumatismo. Mas, como ele não se implica subjetivamente no que declara, esse acidente, que se mantém para ele totalmente estranho, não permite qualquer instalação de uma história, ou pelo menos de uma história que seria verdadeiramente a sua. O que eu tentava dizer naquela intervenção é que, na depressão, ali onde há uma história, não há sujeito e ali onde há um sujeito não há história (CHEMAMA, 2007, p. 32).

Para Lacan (1996 apud Chemama, 2007), a Psicanálise poderia ser definida como aquilo que permitia “reordenar as contingências passadas ao lhes dar o sentido das necessidades vindouras”. Chemama (2007) coloca a depressão, assim, como aquilo que obstaculiza esse encaminhamento, na medida em que o depressivo não quer dar um sentido ao passado em função do futuro, porém o futuro ele se recusa a imaginar. A depressão apresenta-se como uma rejeição a mudanças, em especial às mudanças favoráveis ao sujeito.

Chemama (2007) chama a atenção para a tirania do tempo no qual vivemos hoje, em que o sujeito precisa estar incessantemente disponível. Assevera que esta total disposição dos sujeitos às demandas sociais produz uma problematização na constituição do simbólico, quando nem os referenciais que há um tempo eram considerados sagrados conseguem mais serem seguidos.

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Simbólico o autor define como próprio da ordem da linguagem, uma vez que este tem um funcionamento próprio e comanda o sujeito. A divisão do tempo pode constituir um aspecto não negligenciável do simbólico, na medida em que o sujeito consegue distinguir seus momentos de produção dos seus momentos de lazer, por exemplo. Quando esta organização encontra-se de maneira desregulada há então uma quebra no simbólico, o sujeito não encontraria mais onde se fixar.

A esse respeito, é permitido pensar que a divisão do tempo pode constituir um aspecto não negligenciável do simbólico. Isso já é verdade no que tange ao social. Em um sistema de organização da produção que distingue claramente os momentos de trabalho e os de não-trabalho, o trabalhador sabe ao que ele renuncia, mas, também do que ele pode dispor. Isto fornece um quadro, uma referência, em relação ao que adquire sentido e também à aplicação em seu trabalho e sua busca de uma satisfação exterior àquele (CHEMAMA, 2007, p. 43).

Essa divisão simbólica do tempo se parece muito com a formulação das proibições postas à criança, quando o menino, por exemplo, não tem acesso imediato a sua mãe, porém tem nessa interdição a promessa de firmar seus desejos posteriormente com outra mulher. Essa leitura do Édipo que Chemama (2007) propõe não busca discutir o amor da criança pela mãe ou sua rivalidade com o pai, mas sim, argumentar que por intermédio do Édipo a criança é introduzida na questão da temporalidade como elemento simbólico. O simbólico tomado nesse sentido implica dimensão do tempo.

Você me acompanha quando afirmo que a divisão simbólica do tempo de trabalho e do tempo de não trabalho é, no fundo, bem vizinha das proibições formuladas à criança? O menino não tem acesso, de imediato, a essa mulher especial que é a sua mãe. Mas essa proibição comporta uma promessa, a de poder mais tarde afirmar um desejo masculino com uma outra mulher.[...] Assim, pode-se, sem dúvida, fazer um paralelo entre o que desregula a organização do trabalho e o que desregula a relação particular com o tempo de existência subjetiva tal como se elabora no quadro familiar (CHEMAMA, 2007, p. 43-44).

Por meio da interpretação edipiana, Freud apresenta a organização de uma ordem temporal na qual as coisas não estão situadas em um mesmo tempo, quando há um “depois”, necessitando que algo se coloque anteriormente. Essa estruturação

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temporal tem muitos efeitos. Ela permite entender que nada no mundo tem um caráter de imediatismo, em que tudo pode acontecer ao mesmo tempo, isso é essencial ao sujeito. A estrutura temporal faz-se necessária na medida em que participa da dimensão do Outro em relação à qual o sujeito possa se situa, assim ela se torna parte integrante do simbólico.

O sujeito não se encontra forçosamente à vontade no tempo da modernidade, tempo que se apresenta quase sem referências simbólicas e, muitas vezes, precipitado, e coloca o sujeito em uma posição de possível recusa. Nessa perspectiva, seria possível pensar a depressão como uma rejeição da temporalidade própria ao mundo contemporâneo (CHEMAMA, 2007, p. 69).

Kehl (2009) traz a temporalidade como forma de organização e percepção subjetiva do tempo e também como um dos modos de regulação social da pulsão. A regulação do circuito pulsional não seria neste caso dirigido a questões do corpo que foram marcadas pela experiência de satisfação, mas sim ao ritmo que se imprime às modalidades de satisfação.

O tempo é uma construção social e também se apresenta como característica do psiquismo, quando o sujeito não advém de um lugar em relação ao espaço, mas sim de um intervalo, ou seja, uma lógica temporal. O tempo é instituído para o sujeito no intervalo entre a necessidade e a satisfação. Para obter a satisfação da necessidade é necessário que um Outro ocupe esse lugar.

Esse intervalo entre necessidade e satisfação apresenta-se como um tempo que separa a demanda do Outro da possibilidade de o sujeito responder a ela. O sujeito do desejo é um intervalo entre o tempo próprio da pulsão e o tempo urgente da demanda do Outro. O uso do termo depressão permite agrupar perturbações nas quais os sintomas não fazem aparecer nada específico; por isso, o diagnóstico da depressão pode designar um estado que dura há algum tempo ou uma reação às dificuldades da vida.

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CONCLUSÃO

Atualmente o sofrimento psíquico manifesta-se pela depressão. Sendo a depressão expressão contemporânea de mal-estar, é preciso levar em conta dois aspectos de tal manifestação sintomática. O primeiro se refere aos sintomas da depressão que surgem como forma de denunciar os desajustes sociais; o outro leva em consideração o sintoma como um endereçamento ao Outro, na tentativa de encontrar mediante o mesmo um suporte para a verdade do seu desejo.

Durante a realização deste trabalho percebeu-se que grande parte da manifestação sintomática na depressão surge da recusa do sujeito ante os ideais de felicidade que o discurso social atual lhe propõe. Mais do que recusar os ideais de felicidade, o sujeito depressivo recusa a ideia do conflito que se coloca para ele.

Essa posição que o depressivo assume – a de recusar a ideia do conflito – tem relação com a sua própria posição ante a castração. Recusar-se a entrar em confronto com aquilo que de alguma maneira possa lhe trazer mal-estar, é o mesmo que não querer saber da castração como forma que se coloca como constitutiva do sujeito.

Na mudança que houve entre os referenciais que conduziam o sujeito em épocas passadas e o modo de vida que se estabelece hoje, nota-se que este sempre se deparou com situações propiciadoras de mal-estar.A questão que se coloca é que na tradição não restava ao sujeito outras formas de viver a não ser aquela que a estrutura social na qual ele estava inserido demandava. Desse modo, os sintomas apareciam para dar conta de simbolizar aquilo que não poderia aparecer de outro modo. Já na contemporaneidade o sujeito adquiriu a possibilidade de construir seu próprio caminho sem precisar dos referenciais antes colocados a ele, porém se depara com desamparo ante as tomadas de decisão.

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O sujeito sempre esteve diante de condições que lhe causavam sofrimento. O que mudou de uma época para a outra foi a maneira como este sujeito passou a expressar seu sofrimento. A depressão se coloca como manifestação do sofrimento contemporâneo do mesmo modo que a melancolia na época de Freud.

Durante a escrita do segundo capítulo deste trabalho, buscou-se marcar as diferenças entre a clínica da melancolia e a clínica da depressão, partindo do Édipo como base estrutural de ambas. Têm-se a identificação fálica como uma das diferenças entre os quadros, assim como a dor moral e a relação do sujeito com a temporalidade.

A identificação fálica se apresenta como uma das diferenças entre os quadros, pois, para perder a posição de significante do objeto de desejo daquilo que falta à mãe, no momento em que o pai se coloca como terceiro nessa relação, é necessário ter ocupado esse lugar antes. Na melancolia a mãe não concede à criança o lugar simbólico, não permitindo assim, que a criança se identifique com o objeto de desejo daquilo que supostamente falta à mãe. No caso do depressivo a identificação fálica aconteceu, ele representou para sua mãe ser o falo e também está marcado pela queda desta posição.

A dor moral na melancolia é tributária de um sentimento de desvalorização do eu. A origem da dor no melancólico se desenvolve a partir da não valorização que o eu tem em relação ao Outro materno. Na depressão essa dor é o resultado de uma dor narcísica e vergonha ante a castração sofrida.

A relação com a temporalidade se apresenta de maneira distinta na melancolia e na depressão, pois na melancolia tem-se uma mãe que demora a responder as solicitações da criança, e quando faz é sempre de maneira forçosa. Na depressão, pelo contrário, o Outro materno está sempre presente na vida do bebê, respondendo às solicitações da criança muito antes de as necessidades serem expostas para essa mãe. A mãe não deixa a criança expressar sua insatisfação.

A insatisfação, o desprazer, aquilo que o bebê manifesta como forma de atender sua necessidade, constitui um primeiro trabalho na vida psíquica deste sujeito. Na melancolia este trabalho se apresenta em vão, pois, mesmo quando o Outro se coloca de corpo presente para atender às necessidades do sujeito, o bebê sente que sua demanda não será atendida. O valor de uma demanda respondida para o bebê vai além de satisfazer necessidades como fome e frio. Ele necessita que esse Outro esteja disponível para atender os seus chamados.

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Na depressão esse trabalho que busca uma representação de um objeto faltante torna-se quase dispensável. O depressivo é poupado pelo Outro do tempo de espera para obter seu objeto de satisfação, uma vez que ele não precisa fazer quase nada para que suas demandas sejam atendidas.

Uma das problemáticas enfrentadas nas clínicas de depressão é o vazio de significações trazidas pelos pacientes. O depressivo tentaexplicar a origem do seu mal, mas não consegue produzir nada que leve a uma justificativa de tal posição.

É possível concluir com este trabalho que melancolia e depressão foram, cada uma em sua respectiva época, manifestações do sofrimento do sujeito diante das demandas que vinham do social. Na clínica há pouco em comum entre as duas patologias, pois suas estruturas partem de formações distintas, o que impede que melancolia e depressão sejam tratadas da mesma maneira.

Finalmente, podemos afirmar que a temática da depressão nos trouxe diversas indagações. Algumas ficaram em aberto, como a questão da transferência na depressão, que, certamente, produzirá futuros estudos.

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REFERÊNCIAS

CHEMAMA Roland. Depressão, a grande neurose contemporânea. Porto Alegre: CMC, 2007.

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização – novas conferências introdutórias a Psicanálise e outros textos (1930-1936). São Paulo: Companhia das Letras, 2010. Vol. 18.

______. A história do movimento psicanalítico. Artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos: luto e melancolia (1914-1916). Rio de Janeiro: Imago, 1996. Vol. 14.

KEHL, Maria Rita. Sobre ética e Psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. ______. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009. LAPLANCHE, Jean. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2008. LEBRUN, Jean-Pierre. O mal-estar na subjetivação. Porto Alegre: CMC, 2010. PERES, Urania Tourinho. Depressão e melancolia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. RAMALHO, Rosane Monteiro. A vida por um fio. 2001. Disponível em: <http://www.appoa.com.br/uploads/arquivos/revistas/revista21.pdf>.

RIBEIRO, Eduardo Mendes. Existe remédio “de pressão?” 2001. Disponível em: <http://www.appoa.com.br/uploads/arquivos/revistas/revista21.pdf>.

Referências

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