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Mediação tecnológica na espiritualidade : estudo de caso sobre os Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola on-line

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

Lisa Paula Reis Branquinho

Mediação Tecnológica Digital na Espiritualidade: estudo de caso

sobre os Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola on-line

CAMPINAS

2019

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2

Lisa Paula Reis Branquinho

Mediação Tecnológica Digital na Espiritualidade: estudo de caso

sobre os Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola on-line

Dissertação de mestrado apresentada ao

Instituto de Estudos da Linguagem da

Universidade Estadual de Campinas, para

obtenção do título de Mestra em Linguística

Aplicada, na área de linguagem e sociedade.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo El Khouri Buzato

Este exemplar corresponde à versão final da Dissertação defendida pela aluna Lisa Paula Reis Branquinho e orientada pelo Prof. Dr.

Marcelo El Khouri Buzato

Campinas,

2019

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem

Leandro dos Santos Nascimento - CRB 8/8343

Branquinho, Lisa Paula Reis, 1981-

B735m BraMediação tecnológica na espiritualidade: estudo de caso sobre os

Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola on-line / Lisa Paula Reis Branquinho. – Campinas, SP: [s.n.], 2019.

BraOrientador: Marcelo El Khouri Buzato.

BraDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Estudos da Linguagem.

Bra1. Mediação. 2. Espiritualidade. 3. Exercícios espirituais. 4. Ambiente virtual de aprendizagem. 5. Mídia digital. I. Buzato, Marcelo El Khouri. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Digital technological meditation in spirituality: a case study on

online Spiritual Exercises of Ignatius of Loyola

Palavras-chave em inglês:

Mediation Spirituality

Virtual learning environment Spiritual exercises

Digital media

Área de concentração: Linguagem e Tecnologias Titulação: Mestra em Linguística Aplicada

Banca examinadora:

Marcelo El Khouri Buzato [Orientador] Rodrigo Esteves de Lima Lopes Helena Corazza

Data de defesa: 26-08-2019

Programa de Pós-Graduação: Linguística Aplicada Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)

- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0001-8270-5669 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/1589024109506811

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BANCA EXAMINADORA:

Marcelo El Khouri Buzato

Rodrigo Esteves de Lima Lopes

Helena Corazza

IEL/UNICAMP

2019

Ata da defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora,

consta no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria

de Pós-Graduação do IEL.

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Dedicatória

Dedico este trabalho à memória de meus pais Ângela Maria Reis Branquinho e Sebastião José Branquinho que sempre me ensinaram a aproveitar todas as oportunidades de aprendizado e ter coragem para dar passos ousados.

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Agradecimentos

Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), pela bolsa de estudos e auxílio financeiro (Processo: 133897/2017-6) que possibilitou a dedicação ao programa de pós-graduação e a operacionalização do estudo;

Ao meu orientador, Marcelo Buzato, que se tornou um grande amigo durante essa jornada. Obrigada por cada uma das suas palavras, por toda a sua paciência, pela atenção e dedicação em me guiar passo a passo e expandir o meu nível de desenvolvimento potencial.

Aos professores Rodrigo Lima Lopes e Helena Corazza que compuseram a minha banca e contribuíram significativamente para a melhoria e qualidade desta dissertação.

À Bethania Reis, minha querida irmã de caminhada, que esteve sempre ao meu lado dando-me suporte para seguir em frente.

À Karina Vicentin, responsável pelo meu primeiro passo em direção ao mestrado. Obrigada por incentivar o meu potencial, desde a época da graduação, e por ser exemplo de constante busca de aprimoramento intelectual.

À Profa. Maria de Fátima Amarante por ter me incentivado a seguir em frente, por ter me mostrado o “caminho das pedras”, por se lembrar tão bem de minhas características, mesmo depois de tantos anos da graduação, e me apontar o caminho que tinha tudo a ver comigo. À equipe da EAD Século 21, que trabalhou incansavelmente para que o meu objeto de pesquisa fosse uma realidade possível, em especial a Viviane, Thais, Patrícia e Má Âmbar.

Ao Pe. Ramón Cigoña e à equipe de acompanhantes dos EE on-line que contribuíram voluntariamente para que esse projeto acontecesse e que me auxiliaram na captação de conteúdos extremamente relevantes para o desenvolvimento desta pesquisa.

Aos colegas do Programa de Linguística Aplicada, pelas experiências compartilhadas e pelo companheirismo. Aos funcionários do IEL pelo auxílio sempre pronto e atencioso.

Aos professores que tive durante toda a minha vida que me ensinaram e que me inspiraram a buscar nos estudos um caminho de conhecimento e crescimento constantes.

Aos meus irmãos e cada um de meus familiares pelo apoio, incentivo e por compreenderem a minha ausência nas fases em que precisei me dedicar intensamente a este trabalho.

Às Irmãs de Santo André, em especial à Ir. Mari, que me oportunizou conhecer pela primeira vez os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola e aos padres Luis Quevedo e Adroaldo que me acompanharam em experiências seguintes.

A Deus, amigo, luz, força interior, inspiração, companheiro diário, que me capacita dia a dia a seguir em frente em meus projetos e desafios e que me chama a ir ao encontro dos irmãos.

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Resumo

O objetivo desta dissertação em Linguística Aplicada, pertencente à linha de pesquisa "linguagens e tecnologias" foi estudar como os praticantes de um projeto de adaptação dos Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola para a modalidade on-line, com o uso de um ambiente virtual de aprendizagem, Moodle, representaram sua relação com as mídias utilizadas e a relação com o sagrado estabelecidas por meio da proposta vivenciada. Partiu-se do princípio de que essas representações fornecem uma aproximação para as experiências de fato vivenciadas do processo, não havendo, contudo, a pretensão de que tais representações funcionem como uma descrição objetiva e generalizada. De fato, os Exercícios Espirituais têm por finalidade exatamente o trabalho subjetivo do participante em exercitar-se na busca de conexão com Deus, por autoconhecimento e por uma melhor vivência de sua fé. Com vistas a organizar e sistematizar essas representações, utilizou-se a Linguística Sistêmico Funcional, mais especificamente, uma fração dessa teoria que focaliza as experiências dos sujeitos no mundo tal qual representadas no discurso verbal. O processo dos EE foi conceituado, a partir do trabalho de Roland Barthes como a busca pelo praticante de uma língua pessoal para a interlocução com Deus. A teoria da remidiação de Jay David Bolter embasa esta pesquisa, como também os modos de interação previstos na teoria de John B. Thompson. A mediação tecnológica em si foi concebida como uma forma de remidiação e referida nas falas dos participantes pela menção às tecnologias utilizadas na proposta. Foi analisado um corpus de 380.000 palavras constituído de mensagens trocadas no fórum virtual. Os achados principais podem ser resumidos da seguinte maneira: A mediação tecnológica digital na maior parte dos aspectos analisados, não chega a influenciar a proposta de maneira importante, deixando a mediação quase transparente. No entanto, em outros aspectos, interfere na experiência dos EE causando hipermidiação, isto é, torna as próprias mídias mais salientes na experiência do que o processo subjetivo de diálogo com Deus, descaracterizando parcialmente a experiência dos EE. Por isso, é possível afirmar que tal mediação não é neutra, trazendo perdas e ganhos semióticos e práticos nas diferentes etapas do processo. Espera-se que estes resultados forneçam subsídios para futuras propostas de adaptação de práticas de espiritualidade para a modalidade on-line.

Palavras-chave: mediação tecnológica; espiritualidade; ambiente virtual de aprendizagem, remidiação; exercícios espirituais de Inácio de Loyola; mídias digitais.

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Abstract

The purpose of this dissertation in Applied Linguistics, which belongs to the research line "languages and technologies", was to know how practitioners of a project to adapt the Spiritual Exercises of Ignatius of Loyola to the online modality, using a virtual learning environment, Moodle, represented their relationship with the media used and the relationship with the sacred established through the proposal experienced. It was assumed that these representations provide an approximation to the actual lived experiences of the process, but there is no pretense that such representations function as an objective and generalized description. In fact, the Spiritual Exercises (SE) aim precisely at the participant's subjective work of exercising in search of connection with God, self-knowledge and a better experience of one's faith. In order to organize and systematize these representations, Systemic -Functional Linguistics was used, more specifically, a fraction of this theory that focuses on the experiences of the subjects in the world as represented in verbal discourse. The process of SE was conceptualized, based on the theory of Roland Barthes as the search by the practitioner of a personal language for dialogue with God. Jay David Bolter's theory of remediation underlies this research, as well as the modes of interaction predicted in John B. Thompson's theory. Technological mediation itself was conceived as a form of remediation and referred to in the participants' statements by mentioning the technologies used in the proposal. A corpus of 380,000 words consisting of messages exchanged in the virtual forum was analyzed. The main findings can be summarized as follows: Digital technological mediation in most aspects analyzed does not influence the proposal significantly, leaving mediation almost transparent. However, in other aspects, it interferes with the experience of SE causing hypermediation, that is, it makes the media themselves more salient in the experience than the subjective process of dialogue with God, partially disregarding the experience of the SE. Therefore, it is possible to state that such mediation is not neutral, bringing semiotic and practical losses and gains in the different stages of the process. These results are expected to provide input for future proposals to adapt spirituality practices to the online modality.

Keywords: technological mediation; spirituality; virtual learning environment, remediation; Spiritual Exercises of Ignatius of Loyola; digital media.

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Lista de Figuras

Figura 1 - Fluxograma do roteiro dos Exercícios Espirituais ... 43

Figura 2 - Diário de oração do exercitante ... 56

Figura 3 - Processo dos Exercícios Espirituais ... 57

Figura 4 - Remidiação do portador na escrita ... 81

Figura 5 - Remidiação do texto dentro dos EE ... 83

Figura 6 - Remidiação do espaço dentro dos EE ... 85

Figura 7 - Processo de remidiação dos EE on-line ... 86

Figura 8 - Representação sexos feminino e masculino ... 98

Figura 9 - Representação da faixa etária dos participantes ... 99

Figura 10 - Texto e contextos de situação e cultura ... 106

Figura 11 - Disco de Processos ... 111

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Lista de Tabelas

Tabela 1 - Número total de inscritos em todas as turmas dos EE on-line... 97 Tabela 2 - Número de inscritos divididos por estados ... 98 Tabela 3 - Organização do Corpus ... 104

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Lista de Quadros

Quadro 1 – Recursos e Mídias utilizados nos EE ... 28

Quadro 2 - Elementos espaciais ... 29

Quadro 3 - O texto múltiplo ... 65

Quadro 4 - Síntese de "unidades recortadas por Inácio" ... 71

Quadro 5 - Tipos de interação ... 74

Quadro 6 – Processo de Remidiação: perdas e ganhos ... 89

Quadro 7 - Exemplo de processo, participantes e circunstância ... 110

Quadro 8 - Exemplos de processos materiais ... 112

Quadro 9 - Exemplos de subprocessos criativos e transformativos ... 113

Quadro 10 - Sub-tipos de processos mentais ... 114

Quadro 11 - Exemplos de processos mentais... 114

Quadro 12 - Exemplos de processos relacionais ... 115

Quadro 13 - Exemplos de processos de fronteira ... 116

Quadro 14 - Tipos de processos, significados, exemplos e participantes ... 116

Quadro 15 - Plano de análise ... 119

Quadro 16 - Siglas utilizadas para classificação dos processos experienciais ... 121

Quadro 17 - Verbos mais frequentes no corpus / classificação de processos e subprocessos. ... 122

Quadro 18 - Verbo "sentir" e elementos que compõem as orações ... 123

Quadro 19 - Substantivos relacionados à mediação tecnológica ... 124

Quadro 20 - Substantivos relacionados à mediação tecnológica divididos por categorias ... 125

Quadro 21 - Mapa de calor do total de verbos frequentes em cada um dos processos ... 128

Quadro 22 - Verbo "ser" - expectativa dos participantes e incentivo dos acompanhantes ... 129

Quadro 23 - Verbo "ser" em postagens dos acompanhantes nos fóruns ... 130

Quadro 24 - Verbo "ser" em postagens dos exercitantes nos fóruns de partilhas ... 131

Quadro 25 - Verbo "sentir" em postagens dos exercitantes nos fóruns de partilhas ... 133

Quadro 26 - Verbo "sentir" nos dilemas dos exercitantes... 134

Quadro 27 - Exemplos de processos em que aparece o substantivo vídeo ... 137

Quadro 28 - Alguns exemplos de orações em que o substantivo "vídeo" aparece de modo personificado ... 139

Quadro 29 - Exemplos de menção aos nomes dos orientadores ... 140

Quadro 30 - Exemplos em que exercitantes mencionam os orientadores, juntamente com o substantivo "vídeo" ... 140

Quadro 31 - Substantivo "curso" sendo negado pelos acompanhantes... 143

Quadro 32 - Substantivo "curso" sendo adotado pelos acompanhantes ... 143

Quadro 33 - Substantivo "curso" sendo adotado pelos exercitantes ... 145

Quadro 34 - “Escrita” como recurso de midiação... 147

Quadro 35 - “Escrita” como hipermidiação na experiência on-line ... 147

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Lista de Siglas e Abreviações

Ac - Acompanhantes

Ap - Fórum de Apresentações

ANEC - Associação Nacional de Educação Católica AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem CMC - Comunicação mediada por Computador EAD - Educação a distância

EE - Exercícios Espirituais Ex - Exercitantes

EVC - Exercícios na vida cotidiana

HTML - HyperText Markup Language (Linguagem de Marcação de Hipertexto) ID - Identity – sigla utilizada para identificar o código de usuário em um sistema LA - Linguística Aplicada

LC - Linguística de Corpus

LSF- Linguística Sistêmico Funcional

M1 - Módulo 1 dos Exercícios Espirituais on-line (Módulos de 1 a 4)

MOODLE - Modular Object-Oriented Distance Learning Pt - Fórum de Partilhas

SEPAC – Serviço à Pastoral da Comunicação

T3 - Turma 3 dos Exercícios Espirituais on-line (Turmas de 1 a 6)

TDIC - Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação

TV - Televisão

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Sumário

1 - Introdução ... 15

1.1 - Trajetória da Pesquisadora ... 16

1.2 - A questão prática ... 17

1.2.1 - Gênese do Design dos EE on-line ... 19

1.2.2 - Minha participação na proposta ... 20

1.2.3 - Resistências... 21

1.3 - O Problema ... 22

1.3.1 - Experiência Versus Conteúdo... 23

1.3.2 - Formas de mediação ... 24

1.4 - Fundamentação Teórica ... 25

1.4.1 - Exercícios Espirituais como nova linguagem ... 25

1.4.2 – Mediação, Midiação, Remidiação, Hipermidiação, Mídia e Tecnologia... 26

1.4.3 - Significados experienciais na Linguística Sistêmico Funcional ... 30

1.5 – Revisão Teórica... 30

1.6 - Perguntas e método ... 32

1.7 – Hipótese e Resultados da Pesquisa ... 33

1.8 - Organização da dissertação... 33

2 - Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola e a tentativa da sua adaptação para a internet ... 34

2.1 - Igreja Católica e Educação ... 34

2.2 – Educação a distância na Igreja Católica ... 37

2.3 – O que é Espiritualidade ... 39

2.4 - Os Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola ... 41

2.4.1 - História ... 41

2.4.2 - O que são os Exercícios Espirituais ... 42

2.4.3 - Regras de Discernimento ... 46

2.4.4 - Propósito dos Exercícios Espirituais ... 48

2.4.5 - Papéis adotados nos EE ... 49

2.4.6 - Como os Exercícios Espirituais são oferecidos ... 52

2.4.7 - Metodologia para cada período de oração ... 55

2.4.8 - Efeitos dos Exercícios Espirituais ... 56

2.5 - A adaptação da experiência inaciana para a internet ... 58

2.5.1- O ambiente ... 59

2.5.2 - A presença do orientador ... 59

2.5.3 - A presença do acompanhante ... 60

2.5.4 - O local de oração ... 61

2.6 - Conclusão do Capítulo ... 62

3 - Exercícios Espirituais, linguagem e remidiação ... 63

3.1 - Os EE como uma linguagem criada por Inácio de Loyola ... 63

3.1.1 - O texto múltiplo ... 65

3.1.2 - As incertezas ... 67

3.1.3 - A preparação do exercício da língua ... 68

3.1.4 - Características da linguagem de Inácio ... 69

3.1.5 - A pergunta ... 71

3.1.6 - A resposta ... 72

3.2 - Interações Mediadas e espaços de interlocução... 73

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3.4 – Remidiação digital on-line e os espaços público e privado ... 78

3.5 - Os EE on-line e o conceito de remidiação ... 79

3.5.1 - Mídias digitais ... 79

3.5.2 - Remidiação e Hipermidiação ... 80

3.5.2.1 - A remidiação da escrita e do texto ... 81

3.5.2.2 – A remidiação do espaço ... 84

3.6 - Os EE on-line e a remidiação da linguagem de Inácio ... 85

3.6.1 - Os desafios da prática on-line ... 91

3.6.2 - A mediação tecnológica e os tipos de interação na versão on-line ... 93

3.6.3 - Um novo modo de pensar a experiência dos EE ... 94

3.7 - Conclusão do Capítulo ... 95

4 - Metodologia ... 96

4.1- Paradigma de pesquisa e inserção no campo da Linguística Aplicada ... 96

4.2 - Contexto e participantes da pesquisa ... 97

4.2.1 - Dados demográficos e Sexo... 98

4.2.2 - Faixa etária... 99

4.3 - Perguntas de pesquisa ... 99

4.4 - Abordagem qualitativa-quantitativa ... 100

4.4.1 - Linguística do Corpus ... 101

4.5 - Constituição, organização e estratificação do corpus ... 102

4.6 - Fundamentação e técnica de análise dos dados ... 105

4.6.1 - Linguística Sistêmico Funcional... 105

4.6.2 - Software utilizado para análise ... 117

4.6.3 - Quadro guia da análise... 119

4.7 – Levantamento de Dados para a análise ... 120

4.7.1 – Verbos mais frequentes ... 120

4.7.2 – Complementos do processo mental mais frequente ... 122

4.7.3 – Substantivos relacionados às mediações tecnológicas ... 123

4.8 - Conclusão do Capítulo ... 126

5 - Análise dos dados ... 127

5.1 - De que forma os participantes representaram sua experiência nos EE realizadas no ambiente digital? ... 127

5.1.1 - Análise do processo relacional mais frequente ... 129

5.1.2 - Análise do processo mental mais frequente... 132

5.2 - Como a mediação tecnológica aparece nas representações dos participantes. ... 135

5.2.1 - Análise da palavra "vídeo" ... 137

5.2.2 - Análise da palavra "curso" ... 141

5.2.3 - Análise das menções à tecnologia da "escrita" ... 146

5.3 – Conclusão do capítulo ... 148

6 - Considerações Finais ... 150

6.1 – Uma nova experiência ... 150

6.2 – Formação para os meios ... 153

6.3 – Limitações da pesquisa e possibilidades de estudos futuros na mesma linha ... 154

7 - Referências Bibliográficas ... 157

8 - Anexos ... 164

8.1 - Anexo 1 - Números relacionados a cada turma dos EE on-line ... 164

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1 - Introdução

“Não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear as coisas.”

(Inácio de Loyola) Como uma dissertação da área de Linguística Aplicada, na linha de linguagens e tecnologias, o intuito do estudo foi compreender como o sujeito representa a experiência dos Exercícios Espirituais (doravante EE) realizados no ambiente digital e o papel das mediações tecnológicas tal qual percebidos por ele. Parti do princípio de que essas representações fornecem uma aproximação para as experiências vivenciadas do processo, não havendo, contudo, a pretensão de que tais representações funcionem como uma descrição objetiva e generalizada. De fato, são justamente as experiências subjetivas que nos interessam, uma vez que os EE têm por finalidade exatamente o trabalho subjetivo do participante em exercitar-se na busca de conexão com Deus, por autoconhecimento e por uma melhor vivência de sua fé.

Com vistas a organizar e sistematizar essas representações, lancei mão da Linguística Sistêmico Funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004 e THOMPSON, G., 2014), mais especificamente, uma fração dessa teoria que focaliza especificamente as experiências dos sujeitos no mundo, tal qual representadas no discurso verbal. O processo dos EE foi conceituado, a partir do trabalho de Barthes (1990) como a busca pelo praticante de uma língua pessoal específica para a interlocução com Deus. A mediação tecnológica em si foi concebida como uma forma de remidiação (BOLTER, 2000) dos EE tradicionais presenciais para o digital (on-line). Foi analisado um corpus de 380.000 palavras constituído de mensagens trocadas no fórum virtual do Ambiente Virtual de Aprendizagem1 (doravante AVA) entre os participantes e os acompanhantes em diferentes momentos de duas turmas dos EE on-line realizados entre os anos 2016 e 2018.

O resultado final desta pesquisa pode ser resumido da seguinte maneira: A mediação tecnológica digital não interfere de maneira importante na experiência dos EE no sentido de causar hipermidiação (BOLTER 2000), isto é, de tornar as próprias mídias mais salientes na experiência do que o processo subjetivo de diálogo com Deus. Contudo, tal mediação não é neutra, trazendo perdas e ganhos semióticos e práticos nas diferentes etapas do processo.

1 AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem – trata-se da plataforma que hospeda os cursos a distância. Existem

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O desejo de me aprofundar nesta pesquisa surgiu a partir da busca por saber e conhecer o sentido mais profundo das coisas e, além disso, sentir e saborear o efeito causado por elas. É por essa razão que me envolvi profissionalmente com o oferecimento de cursos de espiritualidade e a criação dos EE em sua versão on-line.

No entanto, este não se pretende ser um estudo teológico, mas tem o seu foco central no uso de mídias digitais2 para a construção da versão on-line de uma prática religiosa tradicionalmente feita presencialmente e sua contribuição para o campo da EAD3.

Apesar de minha trajetória pessoal cristã-católica, busco manter uma clara demarcação entre minha prática religiosa, parte constitutiva de minha identidade, e a minha prática científica/investigativa, que é uma outra faceta identitária que desenvolvi a partir deste trabalho em seu caráter laico. Conforme afirma Barthes (1990, p.42) "Não é preciso ser jesuíta, nem católico, nem cristão, nem crente, nem humanista para interessar-se por eles" (os Exercícios Espirituais4).

Neste capítulo de introdução, apresento o caminho que percorri até chegar a esta pesquisa, passando também pela questão prática do percurso de criação da EAD Século 21 e dos Exercícios Espirituais on-line.

Em seguida, vou delinear o problema e qual foi a fundamentação teórica a que recorri para responder às perguntas da pesquisa. Ao final, apresentarei a metodologia adotada e explicitarei a organização dos capítulos desenvolvidos nesta dissertação.

1.1 - Trajetória da Pesquisadora

Nasci em uma família católica, mas só a partir de minha adolescência, participando de retiros de oração, foi que tomei gosto pelas práticas religiosas. Aos 14 anos, tive uma experiência muito profunda com Deus e, a partir daí, passei a dedicar minha vida a Ele.

Em 1999, comecei a trabalhar na Rede Século 21, que é uma emissora católica, como operadora de câmera e editora de vídeos. Também atuei como produtora e diretora de programas, além de apresentar um programa de TV periodicamente. Nessa mesma época, cursei a faculdade de Letras e tive desejo de me dedicar à área da educação. Com o passar dos anos,

2 Este processo será abordado como um processo de remidiação, conceito de Bolter (2000), que será explicitado

na seção 3.5.

3 Educação a Distância

4 Os Exercícios Espirituais foram escritos e ensinados por Inácio de Loyola não só como um método, mas como

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surgiu o projeto de transformar os vídeos de séries de programas da TV em cursos de Educação a Distância e assim foi idealizada a EAD Século 21. Fui convidada a dar forma à ideia de EAD que se tinha, pois, inicialmente, o objetivo era apenas produzir videoaulas. Passei a me aprofundar cada vez mais no conhecimento da plataforma de gerenciamento de aprendizagem

on-line sugerida e demandas que foram surgindo, até me especializar em Educação a Distância.

No projeto inicial, os vídeos eram oferecidos em uma plataforma de streaming5. Depois que fiz várias pesquisas sobre ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), projetei como os cursos poderiam ser disponibilizados no MOODLE6 e, a partir da programação feita pelo departamento de informática, o site oficial da EAD Século 21 foi publicado em dezembro de 2010. Mais de 300 cursos foram produzidos e disponibilizados no site desde então. Alguns foram feitos especificamente para EAD e alguns foram adaptados a partir de séries de vídeos com ensinamentos gravados para a TV.

1.2 - A questão prática

Como o idealizador da Rede Século 21, Padre Eduardo Dougherty, é jesuíta7, ele sempre teve o desejo de que os padres de sua ordem estivessem mais próximos da Rede de TV, e essa aproximação foi possível com a EAD, a partir de algumas reuniões feitas para apresentação do projeto.

A primeira iniciativa foi a partir do "Retiro do Advento", que tem sua base em textos de meditação e reflexão para cada dia do tempo do Advento8, impressos em um folheto que é publicado anualmente por padres jesuítas e que é distribuído também por e-mail, pelo portal dos jesuítas na internet e pelas redes sociais. A cada ano são feitas meditações9 diferentes

5 streaming - transferência de dados na internet com o intuito de enviar informações multimídia de servidores

para clientes. Ex: Youtube, Netflix, Spotify

6 Moodle é uma sigla que significa Objeto Orientado para Ambiente Dinâmico de Aprendizagem Modular

(Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment). É um tipo de AVA baseado em software gratuito e de código aberto.

7 Ser jesuíta é pertencer à Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola. No capítulo 2, apresento um

histórico sobre a Companhia de Jesus e Inácio de Loyola, criador do método dos Exercícios Espirituais.

8 Tempo litúrgico com duração de 4 semanas instituído pela Igreja Católica como período de preparação para o

Natal.

9 Ao longo deste trabalho, as palavras oração, meditação, reflexão, contemplação são utilizadas por muitas vezes.

Para o leitor não familiarizado com essa terminologia, apresento aqui uma síntese do que será explicitado com mais detalhes na seção 2.4.2:

Oração - Movimento de busca por interlocução com Deus que também pode estar contida dentro de um

momento reservado para a oração pessoal.

Meditação - Trata-se de um exercício de leitura e reflexão de um texto, diferente do conceito de meditação em

tradições orientais.

Contemplação - Dentro do método de Inácio, o exercitante é convidado a contemplar a cena do Evangelho,

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18

que seguem os textos da liturgia do Advento e citam também os acontecimentos da atualidade. Cada pessoa que busca participar dessa iniciativa deve se comprometer com 30 minutos de oração por dia, que poderá ser feita em sua própria casa ou em local que preferir. Nesses 30 minutos, ela fará uma leitura bíblica, a leitura da meditação do folheto, alguns minutos de reflexão e um tempo de oração ou prece dirigida a Deus. Ao final, é convidada a anotar o que meditou, o que refletiu e pensar sobre os sentimentos que se manifestaram durante esse momento.

Apesar de esses procedimentos poderem ser seguidos por cada pessoa de forma privada, em sua própria residência, o folheto sugere que os interessados procurem um grupo em sua igreja, comunidade ou mesmo em sua vizinhança para que possam partilhar, ao menos uma vez por semana, as anotações que fizeram e, assim, poderem buscar um contínuo processo de crescimento humano e espiritual, amadurecimento e autoconhecimento, tanto pessoal quanto do grupo. Além disso, à medida do possível, que o grupo seja acompanhado por um orientador experiente nos Exercícios Espirituais.

O objetivo da EAD Século 21 foi divulgar essa iniciativa e permitir aos interessados uma maneira diferente de partilharem suas meditações. Pela plataforma da EAD, além de terem acesso aos textos das leituras bíblicas e das reflexões divididos para cada dia da semana, como no folheto do Retiro do Advento, também teriam um fórum de partilhas em que cada um poderia descrever como foi seu momento de oração, suas meditações, reflexões e anotações.

Essa primeira proposta não foi, de fato, uma remidiação, mas a transposição de uma mídia para dentro de outra mídia. O mesmo folheto que já era distribuído de modo impresso, por e-mail ou pelo site, foi inserido dentro de uma plataforma de EAD. No entanto, trazia a novidade de oferecer um espaço de partilha para aqueles que não tinham a possibilidade de fazê-la presencialmente com um grupo, o que pode ser considerado um início de remidiação, visto que as propriedades de uma conversa presencial são diferentes de uma conversa via fórum, como o fato de ser um evento assíncrono, em que cada participante pode entrar no dia e horário que quiser e fazer a sua interação com os outros, além da possibilidade de complementar a sua mensagem com imagens, áudios e vídeos.

A divulgação foi realizada como um retiro espiritual de Advento via EAD. Um retiro de oração costuma ser proposto em uma casa de retiros para a qual a pessoa interessada se distancia de suas obrigações diárias e deixa de lado as distrações e barulhos cotidianos para estar imersa em um ambiente de paz e tranquilidade onde poderá refletir sobre a sua vida,

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experimentando várias formas de oração e meditação. Alguns retiros são também acompanhados de palestras ou pregações sobre temas específicos, proferidos por padres, religiosos ou leigos que possuem uma vivência no assunto.

Logo após a primeira divulgação, centenas de pessoas se inscreveram no Retiro do Advento on-line e até o último dia, havia mais de 1.000 inscritos. O resultado da iniciativa superou as expectativas da equipe. Havia no grupo de participantes tanto quem nunca tivera a experiência de um retiro presencial, quanto os que já tinham participado de retiros e até mesmo dos Exercícios Espirituais. Aqueles que estavam com dificuldades no início, por não terem familiaridade com a proposta e não saberem como fazer seu momento de oração, entendiam melhor o seu propósito a partir das partilhas que os mais experientes faziam. Depois, eles testemunhavam no fórum como haviam conseguido dar os primeiros passos, graças ao auxílio da experiência compartilhada pelos colegas.

Nos anos seguintes, o Retiro de Advento continuou a ser oferecido, tendo desempenho semelhante a cada ano.

1.2.1 - Gênese do Design dos EE on-line

A partir dos resultados obtidos no Retiro do Advento, foi feito um convite aos padres jesuítas para trazerem para a EAD os Exercícios Espirituais, criados por Inácio de Loyola no século XVI e vivenciados até os tempos atuais.

Quando o projeto começou a ser planejado, a equipe de padres jesuítas e de leigos que assumiu a participação ativa no processo de desenvolvimento ainda não entendia ao certo como seria o desenho final dos EE em ambiente EAD. Apesar de terem participado de uma apresentação sobre como foi a realização do Retiro do Advento em ambiente on-line e visto os resultados obtidos pelos participantes, ainda era difícil para eles enxergarem a remidiação dessa proposta acrescentando toda a estrutura de orientação e acompanhamento que existe na versão presencial dos EE, além do oferecimento de suporte on-line aos exercitantes. No entanto, eles aderiram ao projeto com muito ânimo e começaram a gravar os mais de 120 vídeos com as orientações de exercícios para cada dia. Depois que o ambiente virtual já estava preparado e os EE on-line começaram a ser oferecidos, eles conseguiram então visualizar como a execução seria possível.

Mesmo sendo uma prática tão antiga, os EE estão disponíveis apenas aos que têm acesso presencial aos seus locais de oferecimento, como casas de retiro e comunidades religiosas. A proposta dos EE on-line é que eles possam se expandir no espaço geográfico via

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tecnologia da EAD, remidiando-se para chegar aos lugares mais longínquos. Segundo afirma a teóloga Silva (2015), em sua obra “Cibergraça: fé, evangelização e comunhão nos tempos da rede”, Deus pode habitar no ciberespaço e se relacionar com os seres humanos, transbordando a sua cibergraça. Além disso, Martin (2012) recorda que Inácio sempre desejou que seus métodos se tornassem acessíveis a todos e não ficassem restritos apenas à comunidade jesuíta.

1.2.2 - Minha participação na proposta

Eu fiz a experiência dos Exercícios Espirituais de oito dias10 em uma casa religiosa no ano de 2009. Apesar de já ter participado de diversos outros retiros de oração, esse, em particular, foi muito marcante em minha vida e me auxiliou a tomar decisões importantes. Essa minha experiência, e também de outra pessoa da equipe da EAD Século 21, foi fundamental para que conseguíssemos planejar a adaptação da proposta para os meios digitais. Eu sempre tive o desejo de fazer a experiência ainda mais profunda, dos 30 dias de Exercícios Espirituais, a qual explicarei adiante. Pouco antes de finalizar esta dissertação, iniciei a experiência por meio da modalidade "30 dias em etapas", oferecida na casa de retiros Vila Kostka.11

Apesar de estar envolvida no projeto inicial e no treinamento dos voluntários que se disponibilizaram a acompanhar os participantes - função semelhante a de tutores na EAD - percebi ser interessante trazer esse tema para a pesquisa pelo fato de ser um projeto inovador, para compartilhar os dados com outros pesquisadores, para analisar a iniciativa sob outros aspectos, para verificar quais desafios são apontados para o futuro da proposta e para oferecer contribuições tanto para o campo da espiritualidade quanto para os campos da Comunicação e da Educação a Distância em sentido mais amplo.

Participar desse projeto como Designer Instrucional trouxe para mim uma grande realização, tanto pessoal quanto profissional. Porém, ao trazer este tema para a pesquisa, procurei deixar de lado todo esse meu envolvimento para olhar a proposta com visão crítica, o que me permitiu também verificar algumas falhas no processo, alguns pontos que podem ser aperfeiçoados e até mesmo as vantagens de escolher a prática presencial.

Como pesquisadora, minha participação, tanto on-line como off-line, corresponde a um tipo de imersão na cultura e nas práticas dos exercitantes, o que me permitiu compartilhar, em alguma medida, a concepção de mundo dos participantes, ao menos no que tange a sua relação

10 Trata-se de um período em que uma pessoa se retira para se dedicar apenas à reflexão e oração. Esta

modalidade de oito dias traz um resumo da proposta inicial feita por Inácio de Loyola que compreende 30 dias. Na seção 2.4.6 essa explicação está detalhada.

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com a experiência religiosa e com a mediação tecnológica digital de suas práticas espirituais. Por esse motivo, algumas impressões pessoais minhas farão parte da descrição do processo e sempre apontarei quando este for o caso.

1.2.3 - Resistências

De forma geral, a proposta foi bem acolhida pelos padres jesuítas, pelos religiosos e pelos leigos que estão habituados a acompanhar a prática dos EE em suas diversas modalidades. Para alguns, o desafio foi maior do que para outros. Muitos se sentiram frustrados ao longo do percurso, seja pelas dificuldades técnicas enfrentadas, porque eles, como acompanhantes, não tinham letramentos digitais12 suficientes para se adaptar aos recursos oferecidos pela plataforma, seja pelo alto índice de evasão dos exercitantes. Houve uma acompanhante que preferiu não continuar no projeto e recomendou não chamar esta proposta de Exercícios Espirituais por ser diferente daquilo que Inácio propôs originalmente, apesar de ser uma iniciativa louvável. Um padre jesuíta, apesar de muito apoiar as práticas em EAD, também comentou que a modalidade on-line jamais poderia substituir sua versão presencial, mas que deveria ser usada apenas como uma atividade introdutória, para que depois a pessoa interessada buscasse sua versão tradicional. Seria algum tipo de "tecnofobia"? Seria apenas uma rejeição a conteúdos on-line, sendo considerados inferiores aos presenciais? Ou haveria, de fato, uma incompatibilidade entre espiritualidade e mídias digitais?

Em tempos passados, existia grande resistência para que as tecnologias digitais adentrassem o espaço da escola, como ainda há, em certos casos, e o raciocínio associado a essa resistência é basicamente o mesmo. Contudo, atualmente, as tecnologias digitais já são importantes aliadas às mais diversas possibilidades de metodologias ativas13. O percurso pode ser o mesmo para a espiritualidade ou não?

O próprio Inácio de Loyola14 passou por questionamentos semelhantes quando começou a difundir a prática dos Exercícios Espirituais. Apesar de ter deixado claro para seus seguidores que o modo de oferecimento precisaria ser adaptado a cada pessoa de acordo com seu estilo de vida e condições, ele teve também dificuldades em deixar as orientações referentes

12 Verificar definição de letramentos digitais na seção 2.2, página 36

13 "Os métodos ativos colocam em primeiro plano o estudante, mais autodidata, buscando trilhar seu caminho na

aprendizagem por meios como, a sala de aula invertida, PBL (aprendizagem baseada em problemas), jogos, estudo Híbrido, simuladores e tecnologias baseadas em realidade virtual, realidade aumentada, Learning Analytics, entre outras. O impacto desses novos caminhos envolve a ruptura de elementos tradicionais funcionais, como disciplinas e espaços físicos lineares." XANTHOPOYLOS, 2017

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aos EE pela tecnologia da escrita. Atualmente temos muito mais acesso à leitura e escrita do que no século XVI e consideramos a escrita como algo tão natural que muitas vezes esquecemos que ela também é uma tecnologia15.

Apesar de reconhecer que Inácio criou uma nova língua16 com os EE, Barthes (1990) cita que a exposição em texto deixada por ele foi considerada literalmente pobre, estranha e desconcertante. Não porque Inácio não tivesse capacidade para isso, mas porque seguia um mito da época de que a literatura tem função mundana e é incompatível com a espiritualidade. Por isso, "o descrédito da forma serve para exaltar a importância do fundo; dizer: escrevo mal quer dizer: penso bem" (BARTHES, 1990, p. 41).

Vê-se nesse dilema da escrita, que era a nova tecnologia da época, em tempos de oralidade, o incômodo que ela causava e o perigo que parecia impor a quem buscava o encontro com Deus sem mediações. Poucos anos após o texto de Inácio, esse mito parece ter sido ultrapassado, visto que os padres jesuítas contribuíram significativamente para os fundamentos da literatura, propagaram a retórica latina e a ideia do bem escrever (BARTHES, 1990 e WOODS, 2015).

Na atualidade, a escrita é uma parte quase imprescindível para a vivência dos EE. Os roteiros para meditação são entregues aos exercitantes em folhetos impressos, diferente da época de Inácio em que os textos eram narrados pelo orientador e memorizados pelo exercitante. Além disso, recomenda-se com veemência que o exercitante faça suas anotações para a revisão de sua oração, para a posterior partilha com o acompanhante e também para que, futuramente, em ocasiões de desolação17, ele possa reviver esses momentos a partir de suas anotações.

As mídias digitais, que hoje ainda são consideradas como novas, talvez representem o mesmo incômodo que a escrita representava naquela época. Mas, como a escrita, elas têm o potencial de se tornarem parte do dia a dia do exercitante, como já o são em diversas situações.

1.3 - O Problema

Nos capítulos do livro Religião e Tecnologia (LAGREE, 2002), são detalhadas as

15 O conceito de tecnologia define tudo o que não é de nossa natureza e que foi criado para facilitar alguma

atividade humana. Ver explicação mais detalhada na seção 1.4.2

16 No capítulo 3, trago uma seção (3.1) específica para a explicação dessa nova língua/ linguagem.

17 Inácio chama de consolação e de desolação os sentimentos experienciados no momento de oração. Na desolação,

quando o exercitante passar por dificuldades e não conseguir ouvir a voz de Deus, poderá se lembrar dos momentos de consolação para se sentir reconfortado (ver seção 2.4.3.1).

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diversas incertezas que surgiram com a chegada das mais diversas tecnologias que hoje nos são muito comuns. As perguntas da época eram:

podia-se eletrificar os órgãos, substituir nas igrejas a luz das velas pela iluminação a gás e depois elétrica? Seria lícito usar microfones no santuário? Seria necessário cristianizar as projeções luminosas? Podia-se confessar por telefone? Como conciliar batina e a bicicleta? Devia-se autorizá-la às mulheres? (DELUMENAU, 2002 apud LAGREE 2002, p. 14).

Hoje, as tecnologias são outras, mas as dúvidas são parecidas. Em minha experiência pessoal como católica praticante há mais de 30 anos, percebo que muitos católicos já utilizam diariamente os aplicativos para smartphones que trazem os livros da Bíblia, as leituras da missa, meditações e reflexões para cada dia, mas eles não se sentem muito à vontade para utilizar seus dispositivos dentro da celebração da Missa, ou durante um retiro, em que a utilização de smartphones não é recomendada. Já os músicos católicos, nas celebrações da missa e outros eventos religiosos, têm utilizado cada vez mais os seus smartphones e tablets com aplicativos de músicas, para substituir ou complementar os livros com cantos e suas partituras.

Do mesmo modo como os smartphones e aplicativos não vieram substituir os papéis e livros, como a televisão não suprimiu o rádio, o e-book não anulou o livro, mas cada uma dessas mídias subsiste concomitantemente e estão sempre remidiando umas às outras, essa pesquisa busca descobrir se o mesmo caminho será percorrido pelos EE on-line. Se esse foi o percurso das antigas e novas mídias, poderia também ser um caminho natural para a oferta dos EE? Seria possível que, com o passar dos anos, essa modalidade de EE seja reconhecida como mais uma das possibilidades oferecidas por todo o mundo? Seria provável que, como acontece com as mídias digitais, exista uma constante remidiação de forma que até mesmo a modalidade tradicional possa tirar proveito da versão on-line?18 Essas foram algumas das inquietações que me instigaram a fazer este estudo de caso.

1.3.1 - Experiência Versus Conteúdo

É importante destacar que um curso via EAD geralmente tem seu foco no oferecimento de conteúdos e disseminação de conhecimentos. Em alguns casos, pode até mesmo dar ênfase a atividades práticas. Mas, seria possível utilizar esta plataforma tão dedicada ao desenvolvimento do raciocínio para promover uma experiência transcendente?

O objetivo principal dos Exercícios Espirituais é que o exercitante tenha uma

18 Na seção 3.4.2, trato sobre o modo como as novas mídias homenageiam as antigas e vice-versa no processo de

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experiência de oração, buscando um encontro com Deus para dialogar com ele sobre sua vida e ações do dia-a-dia, que tenha atitudes de mudança para se tornar uma pessoa cada vez melhor a partir de um encontro consigo mesma e com sua história. Assim, os EE têm foco em uma experiência que será realizada fora do ambiente virtual. Apesar de se utilizar de diversas mídias19 para ensinar, propor e acompanhar o exercitante, o objetivo da prática dos EE via EAD é que ele tenha uma real experiência com Deus no momento em que deixa de lado todas as mídias para estar a sós com Ele, em oração, e fazer a sua própria experiência20.

No entanto, há vários desafios inerentes a esse processo, a maior parte dos quais motivou a realização desta pesquisa. Quando uma pessoa se retira para um local afastado para passar dias em silêncio, isolada das distrações do dia a dia, para que tudo auxilie a contemplação e o encontro com Deus, geralmente ela também deixa de lado qualquer contato com a internet e com as mídias digitais. Por esse motivo, o oferecimento da experiência via EAD é paradoxal, pois, ao contrário do que acontece na casa de retiros, aqui o exercitante precisa acessar o computador, smartphone ou tablet para que tenha acesso ao ambiente virtual. Ou seja, os EE

on-line (como os EE tradicionais) têm o intuito de levar o participante a uma imidiação21 (BOLTER, 2000), um caminho de despojamento e encontro com Deus, com o objetivo de transparência diante de Deus, mas, para que o ambiente on-line faça a mediação desse processo, foi necessário inserir no caminho do exercitante diversas mídias, que compõem o ambiente de EAD, o que pode ser considerado uma contradição.

1.3.2 - Formas de mediação

O desafio também é lidar com os contextos interacionais múltiplos (LEANDER, 2008) e simultâneos (o ambiente EAD, o ambiente físico e o ambiente interno da reflexão e contato com Deus). Quando os exercícios são vivenciados em uma casa de retiros, o local e todo o contexto ao redor – silêncio, natureza, afastamento das preocupações cotidianas – auxiliam na experiência espiritual sugerida. No meio digital, há uma multiplicidade enorme de atividades comunicativas concorrentes que podem dispersar o exercitante do objetivo final. Ao abrir a página web que faz a mediação da proposta de exercício espiritual do dia, haverá também ao seu redor as comunicações via redes sociais, os sites de informações, notícias, vídeos, entretenimento e também as distrações que poderão envolvê-lo no espaço físico em que está.

19 Conferir na seção 1.4.2 a definição de mídias.

20 Na seção 2.4.8, descrevo em detalhes qual a experiência esperada nos EE e quais os seus efeitos.

21 Imidiação é a experimentação totalmente isenta de mídias, o que Bolter (2000) diz ser impossível. A discussão

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Além disso, há a mediação do AVA, dos fóruns, dos acompanhantes, por isso, precisei recorrer à teoria para me fundamentar em relação aos Exercícios Espirituais, no que se refere à criação de uma língua (BARTHES, 1990), para analisar a questão da mediação tecnológica (THOMPSON, J., 2002), para verificar a apropriação das técnicas, formas e significados sociais dos EE tradicionais remodelando-os para a versão on-line, em um processo de remidiação (BOLTER, 2000; BOLTER; GRUSIN, 2000) e, finalmente, uma teoria que me permitisse escolher que elementos dos discursos registrados no AVA apontariam mais diretamente para a experiência que o participante teve, que é a Linguística Sistêmico Funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004 e THOMPSON, G., 2014)

1.4 - Fundamentação Teórica

A partir do problema levantado, procurei apoio nas seguintes teorias:

1.4.1 - Exercícios Espirituais como nova linguagem

Barthes (1990) analisa os Exercícios Espirituais como uma nova língua/linguagem criada por Inácio de Loyola, a língua da interrogação, articulada em pergunta e resposta, da interlocução que circula entre a divindade22 e o exercitante, uma língua que faz a mediação entre o humano e o divino.

A teofania23 que ele busca metodicamente é na realidade uma semiofania24; o que trabalha para obter é o signo de Deus, mais do que o seu conhecimento ou presença; a linguagem é o seu horizonte definitivo; e a articulação, uma operação que jamais pode abandonar em proveito de estados indistintos - inefáveis (Barthes, 1990, p. 53).

Recorri à teoria de Barthes porque essa língua descrita por ele, que faz a mediação entre o exercitante e a divindade, traz uma fundamentação para o estudo que fiz dos textos escritos nos fóruns da versão on-line dos EE. Além disso, como um importante linguista, pesquisador da semiologia e da hermenêutica, o estudo de Barthes e seu interesse pelos textos de Inácio de Loyola fazem uma aproximação entre esse universo cristão específico e os Estudos da Linguagem, e portanto, da Linguística Aplicada.

22 A palavra “divindade” como substantivo, adotada por Barthes, não é comumente utilizada no contexto

cristão-católico, a não ser para fazer referência às crenças de outras denominações religiosas. Contudo, adotarei aqui esta grafia respeitando o uso feito por ele, no contexto de menções à sua teoria. Nas outras referências a este campo semântico, manterei o substantivo “Deus” grafado com letra maiúscula, modo comumente utilizado no âmbito cristão-católico.

23 Teofania = manifestação de Deus, revelação da divindade.

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1.4.2 – Mediação, Midiação, Remidiação, Hipermidiação, Mídia e Tecnologia O título do meu trabalho traz a expressão mediação tecnológica e no corpo do texto aparecerão os conceitos de midiação, remidiação e hipermidiação, cujo entendimento está baseado nos conceitos de mídia e tecnologia.

Por mediação, pura e simplesmente, entendo o sentido sociológico, enunciativo, discursivo e interacional de algo ou alguém que se coloca como intermediário (MARTÍN-BARBERO, 1987). Nesse sentido, como afirma Silverstone (2002, p. 42), “todos somos mediadores”, inclusive aqueles que implementam uma proposta de adaptação de uma prática presencial para o contexto on-line. Da perspectiva da relação entre interlocutores em uma situação de prática sociodiscursiva que pode ou não envolver meios técnicos, J. Thompson (2002) diferencia a interação face a face, que prevaleceu durante a maior parte da história humana, dos outros tipos de interação que surgiram na modernidade, chamados por ele de interação mediada e quase interação mediada, os quais explicitarei com mais detalhes no capítulo 3, seção 3.2.

Já a midiação tem o sentido técnico da inserção de mídias com as suas formas dentro de um contexto, sem considerar a relação entre os interlocutores. Bolter (2000) aponta para a nossa como uma cultura que deseja igualmente multiplicar suas mídias e apagar os traços de midiação, ou seja, quer apagar as mídias que separam o intérprete da experiência, no próprio ato de multiplicá-las, o que ele chama de hipermidiação.

E aqui se faz necessário conceituar o que são mídias, apesar de não existir um conceito único sobre elas, pois são as concepções históricas que ajudam a entender o que foi relatado como mídia em cada época (GITELMAN, 2006). A discussão sobre o que é mídia, desde a mais rudimentar até a mais complexa, caminha junto da concepção sobre o que é tecnologia, e é também semelhante às discussões linguísticas relacionadas a diferença entre linguagem verbal e não verbal ou mesmo sobre a diferenciação entre coisas e não coisas, como questiona Flusser:

Essa hera na parede de minha casa, por exemplo, é uma coisa natural simplesmente porque cresce e porque é objeto de estudo da botânica, uma ciência natural? Ou será uma coisa artificial por ter sido cultivada por meu jardineiro conforme um modelo estético? (FLUSSER, 2007 p. 52).

Assim, apesar de podermos considerar que um jardim é composto por "coisas naturais", ao pensarmos no jardim de uma casa de retiros manipulado por um jardineiro, ele não deixa de ser uma tecnologia, nesse caso, uma mídia, porque é constituído pela manipulação de plantas e foi projetado com a finalidade de estabelecer uma mediação com Deus.

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extensões de nossos sentidos (MCLUHAN, 1995), como um conjunto de meios de comunicação e de transmissão de informação que podem ser analógicas, eletrônicas e digitais, e que variam em relação ao suporte que usam, possibilidade de interação que propiciam e tipo de informação que podem veicular (BUZATO e LIMA-LOPES, 2017), mas também podem incluir as mídias naturais, como o corpo e a voz, consideradas mídias primárias (BAITELLO JÚNIOR, 2001).

Por mediação tecnológica, entendo as maneiras como cada mídia ou tecnologia propicia novas possibilidades expressivas ao mesmo tempo em que impõe novas restrições à produção de discursos em quaisquer modalidades (HERRING, 2007).

O conceito de tecnologia define tudo o que não é de nossa natureza e que foi criado para facilitar, regular, disciplinar, controlar ou aprimorar alguma atividade humana. Utiliza-se desse meio para chegar a um fim. Inicialmente, cada nova tecnologia criada é um bem acessível a um número reduzido de pessoas. Aos poucos, ela vai ficando acessível à população como um todo e virando um produto de consumo que pode ter os seus usos alterados de acordo com cada indivíduo ou grupo cultural - este processo é chamado de apropriação tecnológica (BUZATO, 2010). É a partir dessas diferenças que surgem novos usos da mesma tecnologia para os que dela se apropriaram. No entanto, a tecnologia não se resume ao artefato: ela inclui os modos de pensar, os tipos de interação e, por conseguinte, as relações sociais e os efeitos físicos e cognitivos que o uso do artefato motiva. Por essa razão, as mediações tecnológicas não são totalmente previsíveis tampouco neutras:

Uma tecnologia não é meramente um instrumento eficaz em mãos de sujeitos racionais capaz de delimitar seus efeitos no mundo e em si mesmos, tampouco a tecnologia determina mudanças sociais ou pessoais por força do seu design ou das bases ideológicas inscritas em seu design; as tecnologias cujo funcionamento podemos dar como transparente e garantido são, em verdade, redes heterogêneas em que performances humanas e não-humanas vinculadas entre si produzem um efeito de unidade e objetividade (BUZATO, 2018 p.11).

Na versão on-line dos EE, o ambiente virtual (um software, uma tecnologia) faz uma mediação digital da proposta que a diferencia das interações face a face. Além disso, recorre-se também a diversas mídias que nada mais são do que remidiações das mídias utilizadas nas modalidades presenciais dos EE. Nos Exercícios Espirituais tradicionais, existe a utilização de mídias como a Bíblia, o caderno de anotações, a caneta, as ornamentações da capela e do jardim etc. No processo de recriação dos materiais para a versão on-line, a conversa face a face é substituída por um fórum em grupo ou um chat entre exercitante e acompanhante; o que estava em folhetos de orientações ou que era oferecido em forma de uma palestra, é transmitido por meio de um vídeo on-line, além disso, são acrescentados outros arquivos de

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texto, o próprio AVA, a internet, o computador, os cabos de rede e de energia etc.

No entanto, os Exercícios Espirituais buscam trazer uma experiência transcendente, uma imidiação e, conforme a teoria de Bolter (2000), no processo de remidiação, ao mesmo tempo em que estou aproximando a pessoa da oportunidade de fazer o exercício, estou complicando esse caminho porque estou enchendo de mídias digitais, ou seja, hipermidiando.

No capítulo 5, apresentarei uma análise sobre as perdas e ganhos que acontecem no processo de remidiação/hipermidiação dos EE on-line, mas já trago aqui o quadro 1 com a lista dos recursos e mídias disponíveis em cada uma das principais modalidades25 dos EE, tendo em vista que a forma tradicional dos EE acontece em uma casa de retiros, dentro de um ambiente de imersão por 30 dias seguidos. Os Exercícios na Vida Cotidiana (doravante EVC) são uma adaptação dos EE para serem feitos fora das casas de retiro, em conciliação com as atividades do dia a dia, ao longo de vários meses. Os EE on-line tiveram como referência para sua criação a proposta do EVC.

Quadro 1 – Recursos e Mídias utilizados nos EE

Mídia EE – Casa de retiros EVC EE on-line

Para auxiliar a apresentação da

orientação 26

Corpo e voz / Lousa e giz / Flip Chart e caneta / slides, notebook e retroprojetor / microfone e caixa de som

Corpo e voz / Lousa e giz / Flip Chart e caneta / slides, notebook e retroprojetor

Corpo e voz / Slides no notebook / equipamentos e

estúdio de televisão para gravação dos vídeos / vídeos

gravados

Para identificação

do exercitante crachá crachá Foto no perfil do AVA

Para fazer

anotações Caderno e caneta Caderno e caneta

Caderno e caneta / teclado e

mouse / software de texto /

aplicativo de anotações /

smartphone / tablet

Para meditação Bíblia em livro Bíblia em livro ou on-line Bíblia em livro ou on-line

Para meditação Folhas impressas Livro impresso Arquivo digital que pode ser impresso

Para a partilha com o acompanhante

Corpo e voz Corpo e voz Escrita / teclado e mouse /

computador/smartphone/tablet /

Fonte: Autoria própria

É possível constatar que existem mídias presentes em cada uma das modalidades, que existe um processo de remidiação ao criar ou adaptar uma diferente mídia para reproduzir

25 As modalidades dos EE são apresentadas com mais detalhes na seção 2.4.6.

26 Apresento aqui as mídias possíveis e comumente usadas para auxiliar a apresentação da orientação, mas nem

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a experiência da modalidade anterior e há também um processo de hipermidiação nos EE

on-line, em que mídias digitais são acrescentadas para que a experiência seja possível no novo

ambiente.

A remidiação não acontece simplesmente porque uma mídia foi substituída por outra, não é simplesmente o fato de colocar um texto, antes impresso, em ambiente virtual que caracteriza a remidiação, a questão é que as propriedades dessas novas mídias inseridas na vivência dos EE transformam a relação do exercitante com a experiência. A utilização do vídeo está transformando a relação do sujeito com o conteúdo. Nas modalidades presenciais, o orientador faz a apresentação dos pontos e o exercitante não conseguirá recuperar o que ele falou, pois o conteúdo da fala termina naquele momento. Já com a utilização do vídeo, é possível voltar quantas vezes quiser para uma nova reflexão sobre o conteúdo abordado.

Apresento também no quadro 2 os elementos espaciais presentes em cada um dos ambientes, verificando em todos eles a presença de tecnologias e mídias.

Quadro 2 - Elementos espaciais

Modalidade EE – Casa de retiros EVC EE on-line

Local físico Casa de Retiros Sala comunitária

Ambiente misto (qualquer local de acesso) + Ambiente virtual

(AVA) Para que o ambiente seja agradável Ventilador / Ar Condicionado / janelas / iluminação adequada Ventilador / janelas / Ar Condicionado

Design visual, acessibilidade usabilidade, arquitetura de

informação e navegação, pensados para não causar

hipermidiação.

Para se acomodar Cadeiras enfileiradas Cadeiras em círculo Livre escolha individual

Para acolher os

participantes Jardins, cartazes, cartões Jardins, cartazes, cartões Vídeos e banners Para gerar

inspiração

Velas, símbolos religiosos, música, incenso, outros

Velas, símbolos religiosos, música, incenso, outros

Velas, símbolos religiosos, música, incenso, outros

Fonte: Autoria própria

É importante destacar aqui que a remidiação não acontece no momento pessoal de oração, pois tal momento deve acontecer fora do ambiente virtual. Assim, as mídias disponíveis para a meditação, bem como os elementos espaciais para gerar inspiração são os mesmos para as três modalidades. O momento da oração pessoal é feito em um local silencioso, em que o exercitante se coloca na presença de Deus sem mediação, apesar de ser possível a midiação.

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1.4.3 - Significados experienciais na Linguística Sistêmico Funcional

Para a Linguística Sistêmico Funcional (doravante LSF), a língua e a gramática são expressões do contexto e da cultura (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004). A gramática não é apenas uma série de regras, mas uma série de recursos para descrever, interpretar, fazer e significar a cultura. A LSF inclui em sua análise o propósito do evento da fala, seus participantes e seu contexto discursivo. E a metafunção experiencial apresenta a possibilidade que a linguagem oferece de falar sobre o mundo, representá-lo, transmitir e expressar ideias, o que inclui tanto o mundo externo – eventos, elementos – como o mundo interno – pensamentos, crenças, sentimentos (LIMA-LOPES e VENTURA, 2008).

Nesta pesquisa, a LSF será utilizada como recurso de análise para resgatar no discurso dos praticantes os índices de sua experiência pessoal visando verificar quanto a hipermidiação afetou ou não a experiência realizada por meio dos EE on-line.

1.5 – Revisão Teórica

Os Exercícios Espirituais são práticas antigas que antecedem Inácio de Loyola. Por isso, é possível encontrar diversos trabalhos que tratam sobre os EE em dois eixos.

No primeiro eixo, as investigações trazem discussões sobre os exercícios espirituais fora do contexto cristão e religioso. Elas estão situadas no âmbito da Filosofia (ALMEIDA, 2011; GENIS, 2015 e NASCIMENTO E RODRIGUES, 2014), da Literatura (CATALAO, 2013 e CARNEIRO, 2009) e da Metafísica (CARVALHO, 2018) e se fundamentam na teoria elaborada por Pierre Hadot acerca do pensamento antigo, relacionando os EE a filósofos como Sócrates, Foucault, Nietzche e Montaigne.

No segundo eixo, estão os trabalhos sobre os Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola dentro da perspectiva cristã e, portanto, estão situados na área da Teologia (KNAPP, 2007; CODINA, 1987; ALMEIDA JUNIOR, 2018; QUEVEDO, 2003; CUSTÓDIO FILHO, 2004; GIULIANI, 1983; PLAZA E BOISVERT, 1991), estando também em diálogo com a Filosofia (LIMA JUNIOR, 2018), com a História (SANTOS, 2017) e com a Psicologia (ALMEIDA, 1977). Há diversas outras dissertações que não foram aqui citadas por uma questão de concisão, além de livros impressos pelas Edições Loyola e outras editoras, revistas e periódicos como os que estão disponíveis no site da Faculdade Jesuíta (FAJE, 2019) que tratam sobre os EE e a espiritualidade inaciana.

Nesta dissertação, eu utilizei como referência os livros (CUSTÓDIO FILHO, 2004; GIULIANI, 1983 e PLAZA E BOISVERT, 1991) que tratam sobre uma modalidade específica dos EE que é chamada de EVC (Exercícios na Vida Cotidiana) a qual foi utilizada como

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referência para a criação dos EE on-line. Também utilizei como referência a dissertação de mestrado de Knapp (2007), que traz um resgate histórico da experiência de Inácio, sua biografia, o surgimento dos EE e sua sistematização. Ele ainda apresenta alguns relatos de pessoas que participaram dos EE em suas diversas modalidades presenciais.

Em se tratando de mediação na espiritualidade, dentro do contexto específico da Igreja Católica, no qual esta pesquisa se insere, há uma extensa bibliografia, pois como afirma Gomes (2010), esta é a confissão que mais refletiu e escreveu sobre comunicação e sobre os meios de comunicação. Nessa perspectiva, Puntel (2010) faz uma revisão dos principais documentos e mensagens oficiais da Igreja sobre as mídias de comunicação, incluindo uma discussão sobre o processo de midiatização como um novo patamar a ser vivido. Mas, é ainda Puntel (1994) que apresenta um histórico das diversas resistências da Igreja às mídias de comunicação, principalmente pelo receio de perder o poder ante à realidade de ser detentora do conhecimento.

Gomes (2010) questiona o fato de as Igrejas (ele inclui também outras denominações religiosas) se preocuparem mais em potencializar o anúncio de sua mensagem do que com a comunicação em si, sem compreender o fenômeno da midiatização que modifica as relações sociais. Spadaro (2012) contribui com essa problematização, afirmando que as recentes tecnologias digitais não devem ser vistas apenas como instrumentos, pois elas criam um novo espaço antropológico que está mudando o nosso modo de pensar, de conhecer a realidade e de manter relações humanas, sendo necessária uma Ciberteologia para pensar o cristianismo nos tempos da rede. Essa reflexão converge com os estudos da remidiação, em que a nova mídia é vista também como algo novo, que cria novos modos de interação e abre novas possibilidades. E para responder a isso, existem trabalhos como da CNBB (2014) e de Corazza (2016) que se propõem a oferecer formação aos membros da Igreja que trabalham diretamente com as mídias de comunicação ante aos desafios da cultura digital.

Diante de todo esse contexto dos Exercícios Espirituais vivenciados há séculos e de uma Igreja que procura utilizar e compreender as mídias, esta pesquisa traz uma temática inédita que busca entender se a mídia afeta a experiência do exercitante dentro de uma proposta nova, que ainda não havia sido estudada, que é o oferecimento dos EE de forma on-line e interativa, em uma plataforma de educação a distância. Além disso, na área da Linguística Sistêmico Funcional este é o único trabalho em Língua Portuguesa que faz uma análise, a partir da metafunção experiencial, de textos relacionados a espiritualidade cristã-católica. Há uma única outra pesquisa que trabalha com textos religiosos que foi feita por Silva (2000). No entanto, o processo de interação analisado por ela é a partir do sistema pronominal pessoal do discurso.

Referências

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