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2 Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola e a tentativa da sua adaptação para a internet

Neste capítulo apresento os Exercícios Espirituais no contexto da Igreja Católica, trazendo um pequeno histórico da contribuição desta instituição para a educação e seu percurso na Educação a Distância.

Apresento também a história de Inácio de Loyola e da criação dos EE, oferecendo uma explicação pormenorizada do que são os EE, quais seus propósitos, como funcionam, como são oferecidos e quais seus efeitos. A partir desse referencial, explico como foi feita a adaptação dos EE para a modalidade on-line.

A apresentação deste contexto de situação, da história cultural em que ele está inserido e dos tipos de práticas que estão engajados nele (FUZER; CABRAL, 2014), faz-se necessária para que se justifiquem as escolhas linguísticas realizadas no corpus a ser analisado com base na LSF, que será abordada na seção 4.6.1.

2.1 - Igreja Católica e Educação

Pode-se considerar que os EE on-line constituem uma contribuição modesta de uma prática que é historicamente estabelecida na Igreja Católica, que detalharei a seguir: apoiar inovações científicas e tecnológicas e voltá-las para a educação.

Desde os primórdios de sua institucionalização, a Igreja Católica tem sido uma das principais – se não, a principal - instituições responsáveis pela promoção da educação e da ciência. Os mosteiros beneditinos, fundados por Bento de Núrsia no século V, foram por muitos anos o lugar de refúgio para as grandes obras literárias de então. Muitas foram as congregações religiosas que surgiram na Igreja com o intuito de se dedicar à educação, nascendo assim as primeiras escolas. Desde o século XVI até a atualidade, os seus membros continuam em um trabalho árduo de dedicação e doação total de suas vidas para que o conhecimento seja difundido às diversas populações. Meschiatti (2000) destaca que Inácio de Loyola exerceu influência significativa na educação intelectual e moral do século XVI, baseada na relação de amor do educador para com o educando.

O historiador Woods (2015) afirma que os papas católicos estabeleceram, mais do que quaisquer outras pessoas ou instituições, as mais antigas universidades que, hoje, chegam a 800 anos de fundação. Ele considera a Igreja como a matriz que produziu a universidade e ainda afirma que importantes contribuições à Ciência foram dadas pela Companhia de Jesus. Woods (2015) aponta que um em cada vinte dos maiores matemáticos da história fazia parte da

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Companhia de Jesus; trinta e cinco crateras lunares têm nomes de cientistas jesuítas; eles também ajudaram a fundar a sismologia, além de contribuírem com diversos outros conhecimentos de Física (Teoria Atômica) e história antiga (Egiptologia).

Contudo, Puntel (1994) reflete que toda essa concentração de conhecimento também concedia à Igreja um poder que ela tinha receio de perder. Por esse motivo, houve resistência à expansão das tecnologias de informação e comunicação, principalmente com a chegada da imprensa escrita, que era vista pelo Papa Inocêncio VIII, em 1487, como uma ameaça ao controle eclesiástico da produção cultural de seu tempo. Por esse motivo, foi criada a Inquisição30, que condenou muitas pessoas à morte e entrou em conflito com o próprio Galileu Galilei por defender a teoria heliocêntrica.31

Em 1992, 350 anos após a morte de Galileu, o papa João Paulo II reconheceu os enganos cometidos pelo tribunal eclesiástico que o condenou à prisão. E em 1998, o mesmo papa escreveu uma carta encíclica, com o título "Fé e Razão" em que afirmou que "a fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade" (JOÃO PAULO II, 1998, n.1). Na mesma carta, ele cita igualmente um texto de Pio IX, de 1870 em que afirma:

...não poderá existir nunca uma verdadeira divergência entre fé e razão, porque o mesmo Deus que revela os mistérios e comunica a fé, foi quem colocou também, no espírito humano, a luz da razão. E Deus não poderia negar-Se a Si mesmo, pondo a verdade em contradição com a verdade (PIO IX, 1870, DS 3017).

No entanto, Puntel (1994) afirma que somente no final do século XIX, com o Papa Leão XIII é que começa a haver uma abertura da Igreja para os meios de comunicação. Em 1957, apesar de demonstrar preocupação, o Papa Pio XII promulgou uma encíclica32 que trata de assuntos ligados ao cinema, rádio e televisão, reconhecendo-as como dons de Deus. Mas é especialmente durante o Concílio Vaticano II com o decreto Inter Mirifica, que a Igreja assegura a obrigação e o direito de ela utilizar os meios de comunicação social, apontando-os como uma das maravilhosas invenções da tecnologia (CONCÍLIO VATICANO II, 1966 n. 1).

30 Inquisição - nome dado ao tribunal eclesiástico encarregado de punir pessoas consideradas culpadas de

publicar e divulgar conteúdos vistos como ofensivos a fé católica e que de alguma forma se posicionassem contrários ou divergentes aos ensinamentos da Igreja

31 Na época do Renascimento Cultural e Científico (séculos XVI e XVII), a Igreja Católica defendia a teoria do

Geocentrismo (Terra como centro do Universo). Por defender o heliocentrismo (Sol como centro do Universo), Galileu Galilei foi condenado pelo Santo Ofício. Prestes a ser queimado na fogueira da Inquisição, Galileu negou o heliocentrismo diante do tribunal, com o objetivo de se livrar da morte. Porém, continuou pesquisando e acreditando no heliocentrismo.

32 Encíclica – Carta pastoral enviada pelo Papa a todos os fiéis. Neste exemplo, trata-se da encíclica “Miranda

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Mais recentemente, foi lançado o Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (CNBB, 2014), que incentiva a abertura para as mídias sociais digitais apontando-as como meios que favorecem a comunicação e a comunhão com o povo de Deus e o diálogo com a sociedade (CNBB, 2014 p.114). Além disso, no Documento de Aparecida, os bispos católicos da América Latina e do Caribe se comprometeram não somente a apoiar esses meios, mas também a estar presentes neles.

A fim de formar discípulos e missionários neste campo, nós, bispos reunidos na V Conferência, comprometemo-nos a acompanhar os comunicadores, procurando: (...) Apoiar e otimizar, por parte da Igreja, a criação de meios de comunicação social próprios, tanto nos setores televisivos e de rádio, como nos sites de Internet e nos meios impressos; estar presente nos meios de comunicação de massa: imprensa, rádio e TV, cinema digital, sites de Internet, fóruns e tantos outros sistemas para introduzir neles o mistério de Cristo (CNBB, 2007 p. 219).

No Brasil, José de Anchieta foi o primeiro jesuíta a contribuir com a educação, criando para os índios a gramática de sua língua. A Fundação da cidade de São Paulo se deu ao redor do Páteo do Colégio, local administrado pelos jesuítas. E também ao redor de colégios religiosos surgiram outros tipos de prestação de serviços à comunidade:

Entre os carismas e as missões católicas, estava o de pregar por meio da imprensa. Algumas congregações passaram a manter gráficas ao lado de igrejas e de colégios (BITTENCOURT, 2014, p. 120).

Tantos outros jesuítas e religiosos de diversas congregações como salesianos, maristas, claretianos têm dado a sua contribuição para a população brasileira até hoje, seja nos anos iniciais de ensino, na formação técnica, ou no ensino superior.

Além disso, é importante citar a ampla contribuição de Paulo Freire para a educação no Brasil, pois, segundo Dullo (2014), é com base "em sua fé católica que o educador se posiciona para transformar seus interlocutores em sujeitos, isto é, em indivíduos capazes de se reconhecer como agentes no curso da história e, portanto, responsáveis por ele" (DULLO, 2014 p. 50). Além disso, Dullo afirma que a tríade que fundamentou a Ação Católica (ver, julgar, agir) também está na base da pedagogia de Freire, que convida a primeiramente visualizar a realidade histórica em que se vive, para julgá-la fazendo uma reflexão crítica e, a partir daí, desenvolver uma ação sobre essa realidade, ou seja, tornar-se sujeito da trama histórica em um processo de conscientização (DULLO, 2014 p. 56).

Acompanhando o desenvolvimento das tecnologias da própria Educação, a Igreja Católica igualmente se utiliza, há muitos anos, da EAD baseada em tecnologias de internet. Esta, porém, é apenas uma remidiação de outros tipos de EAD nas quais se apoiou desde o seu início.

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2.2 – Educação a distância na Igreja Católica

Ao mencionarmos Educação a Distância na Igreja Católica, primeiramente podemos já citar Paulo de Tarso (São Paulo), apóstolo de Jesus Cristo que, durante o período em que não podia mais visitar fisicamente as primeiras comunidades cristãs, começou a escrever cartas para que seus ensinamentos chegassem até elas. Tais mensagens não somente romperam a distância do espaço, mas também do tempo, pois atravessaram séculos e continuam sendo utilizados como ensinamentos e orientações para a Igreja até hoje.

Puntel (1994 p. 108) destaca que no Brasil, o MEB (Movimento de Educação de Base), com o apoio de Dom Eugênio Sales em Natal - RN, deu início ao projeto das escolas radiofônicas, em 1958. Essas escolas tinham seu modelo nas escolas da rádio Sutatenza da Colômbia. O modelo brasileiro foi além do modelo colombiano, pois aquele tinha caráter doutrinal, ensinando o catecismo e alguns métodos de alfabetização. Já o modelo brasileiro atuava na área de alfabetização com vistas a uma mobilização social de conscientização, com educação integral voltada às populações rurais, fornecendo-lhes noções de seus direitos e de como alcançá-los. Em 1966 mais de 400 mil alunos, distribuídos em 15 estados do Brasil, tinham feito um ou mais cursos por meio das escolas radiofônicas. Além desse movimento específico, ainda pode ser citado o grande ecossistema de Rádios católicas que há anos vêm prestando um serviço de comunicação, informação e educação.

No âmbito televisivo, Do Canto (2011) apresentou o pioneirismo de Pe. Eduardo Dougherty em veicular programas católicos na televisão brasileira. O padre fundou uma produtora de vídeos (a Associação do Senhor Jesus), uma televisão educativa (a TV Século 21) e posteriormente uma plataforma de educação a distância (a EAD Século 21). Depois vieram também as outras TVs católicas de abrangência nacional: Rede Vida, TV Aparecida, TV Canção Nova e diversas outras com alcance regional. A própria TV Cultura tem sua raiz católica, mencionada em seu nome: “Fundação Padre Anchieta”.

Nesse espírito jesuíta, a EAD Século 21 foi idealizada como uma possibilidade de formação integral da pessoa – humana, cristã, profissional, comportamental – para que o conhecimento fosse difundido a um número irrestrito de pessoas. Seguindo esse propósito, a EAD Século 21 surgiu, primeiramente, como uma plataforma de streaming para armazenamento e difusão de conteúdos que antes eram transmitidos apenas pela televisão. Aos poucos, os vídeos passaram a videoaulas e começaram a ser acompanhados de apostilas, questionários de avaliação, fóruns de debates, tutoria e certificados de conclusão.

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Os cursos oferecidos são de caráter livre e de curta duração, havendo também alguns de extensão universitária em parceria com duas universidades: o Centro Universitário Claretiano e a Faculdade Jesuíta. Cada curso oferecido tem duração aproximada de 30 dias e quando o conteúdo do curso é extenso, ele costuma ser dividido em módulos. Os temas são diversos, desde espiritualidade, oração e estudos bíblicos, a culinária, comportamento, administração e negócios. Até o ano de 2018, a maioria dos cursos era oferecida gratuitamente e organizada por professores voluntários, mas havia ainda aqueles que foram produzidos em parcerias com instituições ou empresas. Cerca de 150.000 estudantes passaram pela plataforma desde o final do ano de 2010, quando foi inaugurada, até meados de 2018.

Tendo trabalhado na EAD Século 21 por 10 anos, posso afirmar que, em grande parte das parcerias feitas com empresas e instituições, a busca por esta modalidade de ensino se devia ao fato de terem uma demanda muito grande de pedidos para que seus cursos fossem aplicados por todo o país, porém as limitações de tempo e geográficas eram graves impeditivos para atenderem a todos os pedidos na modalidade presencial. Foi nesse contexto que a EAD se tornou uma facilitadora para a acessibilidade a tais conteúdos.

No entanto, ao se propor a realizar educação a distância pela internet, novos paradigmas são apresentados. Entra-se no mundo da Cultura Digital, em que há uma nova relação com o tempo e o espaço. O público, acostumado a assistir à televisão passivamente, não será o mesmo que conseguirá interagir com as tecnologias da informação e da comunicação propostas nos meios digitais, a não ser que passe por letramentos digitais.

O letramento entra aí como um processo de apropriação e contra-apropriação tecnológicas. O letrado é alguém que se apropriou da tecnologia (...), ou seja, que encontrou formas de torná-la sua em algum sentido. Para isso, contudo, ele foi incluído em alguma outra dinâmica... (BUZATO, 2018 p. 26).

Pensar em inclusão digital não se trata apenas de deixar todos conectados, mas capacitar tais pessoas educacional e culturalmente para utilizar o computador e a internet tendo consciência de suas possibilidades e consequências. Mais do que ser uma pessoa funcional, que conhece os instrumentos, deve ser conduzida a ser uma pessoa crítica, que procura enxergar a quais fins cada uso poderá levá-la (BUZATO, 2009).

Spadaro (2014) reflete sobre isso ao dizer que o uso da internet e das mídias sociais teve um impacto profundo sobre a sua maneira de trabalhar e também de rezar. A partir disso, ele procura compreender qual poderia ser o efeito da internet sobre a vida da Igreja, explicando que o conteúdo da fé e a maneira de crer não mudam, porém, a prática da internet produz um

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impacto sobre a maneira de expressá-la e pensá-la, que vem a partir de uma autêntica experiência de fé na internet. Essa lógica de pensamento vai ao encontro da teoria da remidiação (BOLTER, 2000) sobre a qual tratamos neste trabalho.

Além disso, com a chegada de novas formas, meios e possibilidades de comunicação, especialmente àqueles ligados à internet, a promulgação de conteúdos ligados a fé, ou seja, a mediação do que é considerado sagrado para a Igreja Católica, é disposta não mais de forma linear (vindo apenas da hierarquia da Igreja), os fiéis e seguidores passam a ter a oportunidade de se manifestarem publicamente, criarem e divulgarem seus pensamentos e conteúdos (PIRES, 2014).

Em se tratando de educação a distância pela internet, na mesma época em que houve a criação da EAD Século 21, outras instituições católicas, como o Centro Universitário Claretiano, a Faculdade Jesuíta (FAJE) e a Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS - também jesuíta), que já atuavam na educação formal presencial, passaram a oferecer cursos de graduação a distância.

No início de 2018, a Associação Nacional de Educação Católica (ANEC, 2018) fez parceria com diversas Universidades Católicas do Brasil para oferecer formação continuada a educadores, agentes de pastoral e representantes das entidades do terceiro setor. Porém, são poucas e muito pequenas as iniciativas católicas que oferecem cursos livres33 a distância para formação humana e espiritual, como acontece na EAD Século 21.

Entre as iniciativas que se encaixam no âmbito da EAD Século 21, está a adaptação dos EE para a EAD via Internet, que será descrita em maiores detalhes na seção 2.5. Antes, porém, faz-se necessário explicar o que é espiritualidade e o que são os EE, quais os seus componentes, propósitos, etapas e efeitos, de modo que fique claro o desafio representado pela proposta.

2.3 – O que é Espiritualidade

Para conceituar a espiritualidade em suas diversas dimensões, apresento primeiramente a dimensão humana, que não se confunde com práticas espirituais ou religiosas.

33 Os Cursos Livres, que após a Lei nº 9.394 - Diretrizes e Bases da Educação Nacional passaram a integrar a

Educação Profissional, como Educação Profissional de Nível Básico, caracterizam-se pela modalidade de educação não formal de duração variável, destinada a proporcionar ao trabalhador conhecimentos que lhe permitam reprofissionalizar-se, qualificar-se e atualizar-se para o trabalho. Não há exigência de escolaridade anterior. Fonte: Secretaria de Educação de São Paulo

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Segundo Palaoro (2007a), padre jesuíta especialista em espiritualidade, existe uma espiritualidade comum a todo ser humano, independente de ter fé ou não. A espiritualidade é inerente à pessoa, assim como é sua corporeidade, sua sociabilidade ou sua natureza emocional. Para o autor, nenhum ser humano pode viver sem essa dimensão, especialmente quando lida com profundas motivações e convicções, pois a espiritualidade influi em tudo, afetando todas as ações, os valores, ideais, modo de se relacionar, modo de lidar com os desafios cotidianos. Ela afeta inclusive o modo de interpretar e responder às questões profundas da existência humana.

Vista dessa forma, a espiritualidade não é algo desarraigado dos demais aspectos da vida, ela abrange tudo e a tudo abarca. Seu cultivo pode auxiliar a pessoa a ser mais humana, mais atenta e sensível a tudo que toca a sua vida e, por isso, a espiritualidade não pode ser um aspecto separado das outras dimensões de vida: física, social, intelectual, relacional, afetiva, política (PALAORO, 2007b).

O líder budista tibetano Dalai Lama (2000) afirma que a espiritualidade é o que produz no ser humano a capacidade de mudança interior, estimulando as qualidades próprias do espírito humano, como amor, compaixão, paciência, tolerância, capacidade de perdoar, noção de responsabilidade e harmonia, sendo que essas qualidades trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros com quem ela se relaciona.

Nesta mesma perspectiva, Boff (2001) explica que a espiritualidade vive da gratuidade e da disponibilidade, vive da capacidade de enternecimento e de compaixão, vive da honradez em face da realidade e da escuta da mensagem que vem permanentemente dessa realidade. Ela quebra a relação de posse das coisas para estabelecer uma relação de comunhão com as coisas.

Outra dimensão da espiritualidade é a cristã entendida como a maneira original como Jesus viveu a espiritualidade humana. Palaoro (2007b) apresenta a espiritualidade cristã como totalizante, pois invade a pessoa inteira e afeta não apenas a sua relação com Deus, mas também com os outros e com a sociedade. Segundo ele, uma pessoa espiritual vive o Espírito de Jesus e se deixa levar por Ele de tal maneira que toda a sua vida e o seu ser são invadidos pela força e dinamismo do Espírito de Deus. Assim, a espiritualidade cristã fundamenta-se na Santíssima Trindade, ou seja, no conceito de que Deus é um só em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.

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Ainda, dentro da espiritualidade cristã, especificamente dentro da Igreja Católica, é possível encontrar uma diversidade de expressões, chamadas escolas de espiritualidade (inaciana, beneditina, carmelitana, redentorista, focolarina etc.) que são modos diferentes de viver a espiritualidade cristã. Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola estão na raiz da espiritualidade inaciana.

2.4 - Os Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola

“Aqueles que vivem os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de modo autêntico experimentam a atração e a face de Deus, retornam renovados e transformados ao seu cotidiano, ao seu ministério e às suas relações diárias."

(Papa Francisco)

Como jesuíta, o Papa Francisco vivencia os EE desde sua juventude e mantém essa experiência como um pilar para a sua vida, repetindo-a constantemente, seja em seus momentos de oração pessoal diária, seja em tempos mais intensos de afastamento, como por ocasião do Retiro Quaresmal.

Nos itens seguintes, explicarei como surgiram os EE, quais seus propósitos e como são oferecidos. É nesse contexto que entram os EE on-line, uma nova modalidade de oferecimento que pretende proporcionar o mesmo tipo de experiência ao praticante, como apresentarei a seguir.

2.4.1 - História

Inácio de Loyola nasceu na Espanha em 1491 e viveu até 1556. Ele foi formado como um cavaleiro, para defender o seu país, quando lutando em uma batalha, teve sua perna ferida. Durante o tempo de sua convalescência, leu alguns livros sobre a vida de Cristo e das vidas de várias pessoas consagradas pela Igreja Católica como santas. Ao ler e refletir sobre cada uma dessas histórias, ele vivenciou um processo de autoconhecimento e fez diversas anotações que deram base para os Exercícios Espirituais. A partir dessa experiência, ele decidiu se tornar, de cavaleiro defensor do império a um militante do Reino de Deus.

Depois de curado, Inácio fez uma árdua peregrinação a Roma e a Jerusalém, propósito que estabelecera durante a convalescência, após ler na Vita Christi que contemplar a terra santa de Jerusalém é um santo e piedoso exercício. Sentindo a necessidade de se preparar para as mudanças que aconteciam nessa época da Reforma e do espírito da Renascença, ele foi para a Universidade de Paris, onde estudou gramática e humanidades, artes, filosofia, exercícios

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literários, teologia e concluiu seu mestrado em Artes em 1535 (LOYOLA, 2000, p.93, nota 37). Durante esse tempo em Paris, muitas pessoas se aproximavam de Inácio de Loyola para conversações espirituais e, a partir desses diálogos, elas iam experimentando a